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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV JACOBINA


CURSO DE LETRAS, LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS
CONSTRUÇÃO DO SENTIDO NO TEXTO LITERÁRIO
SEMESTRE 2019.1
DOCENTE: Paulo André Carvalho Correia
DISCENTE: Jobervan Rios Evangelista Filho

ANÁLISE DE POEMA

BRITTO, Paulo Henriques. Nenhuma arte – IV. In: BRITTO, Paulo Henriques. Nenhum
mistério. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 12-13.

No poema IV da seção Nenhuma arte, vê-se exposto por um eu lírico atormentado


pela própria percepção de si a impossibilidade de autopertencimento e de posse de tudo
o que lhe diz respeito. Neste poema marcado por uma temática existencialista e por vezes
niilista, Paulo Henriques Britto tece a contradição e o absurdo da condição humana a
partir de três eixos bem assentados na separação das estrofes: na primeira, determina o
corpo físico como prisão e a consciência cognitiva como tormento inútil; na segunda,
postula o amor como antídoto – apesar de improfícuo – do “sentimento” de
intangibilidade expresso na poesia; e na terceira e última estrofe, reforça a conclusão do
não-pertencimento de si, postulando a contingência como marca da vida e a construção
de um “sentido” particular como alternativa ao presente besta marcado nos últimos versos
(refrão) de cada estrofe do poema.
No que toca à composição gráfica, o poema se organiza em três estrofes de mesma
quantidade de versos (oitavas), sendo estes de tamanho regular; além disso, verifica-se
uma repetição do último verso de cada estrofe, qual seja, nada que te pertence é teu. A
regularidade da disposição espacial do poema passa ao leitor a mesma mensagem contida
na significação dos versos: a de um ser consciente de sua própria existência, consciente
do espaço que ocupa dentro de si mesmo (dentro dos confins de um corpo), assim como
os versos e rimas se completam nos “confins” da composição gráfica do poema. Todavia,
a repetição dos últimos versos de cada estrofe marca o eterno retorno ao mote da poesia:
o não-pertencimento e a impossibilidade de domínio de si. Deste modo, mesmo
preenchidos e percebidos, tanto a consciência do eu lírico quanto a forma do poema se
confundem ciclicamente na busca de uma razão que se sabe inexistente.
Além disso, o poema se constitui de uma cadência rítmica que se repete
incessantemente; a predominância de rimas externas e a constância métrica dos versos
revelam um estado de monotonia, ínsito à própria voz do eu lírico que se expressa. Tal
percepção se fundamenta na escolha do autor pelo uso de redondilhas maiores (versos de
sete sílabas poéticas), o que lhe permite lançar mão de um encadeamento uniforme sem
perder a liberdade de acentuar sílabas métricas diferentes em cada verso. Ademais, vê-se
na sequência rítmica dos versos uma progressão que demanda um arremate ao fim de cada
estrofe, uma conclusão necessária ao que se postula anteriormente; desta forma, Paulo
Henriques Britto repete a fórmula nada que te pertence é teu para conscientemente não
só quebrar o que se espera de óbvio na construção estrófica, mas como artifício que
reforça a inutilidade de perquirir-se pelo sentido de ser.
Em termos de construção léxica, o autor faz uso de palavras correntes da língua
coloquial (besta, desgraça, pé do ouvido) sem perder a formalidade e o emprego preciso
de significados a partir de palavras mais fortes (avara, contingente), demonstrando assim
na própria escolha lexical um reflexo da temática poética que é ao mesmo tempo profunda
e universal – a inquirição do próprio existir. Quanto às escolhas sintáticas, põe-se em
relevo a presença do sinal de pontuação do dois-pontos ao fim dos penúltimos versos
como reforço do que já se disse em relação à cadência monótona que exige uma conclusão
ao fim de cada estrofe. Do mesmo modo, os substantivos postos de forma interrogativa
nos três primeiros versos da última estrofe anunciam conclusões que tão logo serão
frustradas pelo refrão marcado nos últimos versos: nada que te pertence é teu.
Desta forma, Paulo Henriques Britto compõe uma encruzilhada poética de
indagação filosófica universal a partir de três oitavas uniformes encerradas por um refrão
de caráter sentencioso e niilista. Apesar desta afirmação repetida e inconteste (para o
poeta), o tempo verbal dos versos, empregado predominantemente no presente simples,
sugere que as indagações malogradas pelo eu lírico são inafastáveis e persistem, mesmo
que se apresente a sua desrazão. Assim, o pretérito perfeito dos penúltimos versos de cada
estrofe é a intercalação que liga a percepção de fracasso do eu lírico – e também do leitor
– para o presente indelével do não-pertencimento. Da mesma forma, os verbos em modo
indicativo manifestando ações (cochicha, lega, termina) fazem mais que constatar uma
percepção, tornando este poema uma acusação da consciência contra si mesma, mas sem
grandes consequências, dado que o suplício que permeia o existir, talvez, também não
nos pertença no fim das contas.

REFERÊNCIAS
GOLDSTEIN, Norma. Análise do poema. São Paulo: Ática. 1988;
JOUVE, Vincent. Por que estudar literatura. São Paulo. Parábola, 2012

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