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PAULO, APÓSTOLO DOS HEREGES?

Tarcisio Caixeta de Araujo1

Resumo:
Os escritos paulinos foram usados tanto por cristãos ortodoxos quanto por não ortodoxos. Utilizado
também pelos chamados hereges, Paulo foi denominado de inimigo e “adversário” de Pedro e
apelidado de pseudo-Simão. Paulo é reivindicado por uma corrente não principal de cristãos, como
por exemplo, os Atos de Paulo e Thecla. Entre os heréticos antipaulinos aparecem os ceríntios, os
elkesaitas, os encratistas e os ebionitas, em destaque neste artigo. No Pseudo-Clementino Paulo
aparece como inimigo. Escolhido por Marcião como parte integrante de seu Canon particular das
Escrituras, Paulo achou apoio entre os gnósticos como Basilides e Valentino. Os gnósticos
reivindicavam Paulo como um deles.

Abstract:
The Pauline writings were used by both Orthodox Christians and by unorthodox. Used by the so-called
heretics, Paul was called pseudo-Simon, enemy and “adversary” of Peter. Paul is claimed by a current
of non mainstream Christians, such as the Acts of Paul and Thecla. Among the heretical anti-Pauline
appear Cerinthians, the Elkesites, the Encratites and the Ebionites highlighted in this article. In the
Pseudo-Clementine Paul appears as an enemy. Chosen by Marcion as part of his particular Canon of
Scripture, Paul found support among the Gnostics as Basilides and Valentinus. The Gnostics claimed
Paul as one of them.

Palavras-chave: Apóstolo Paulo; Hereges; Segundo Século; Ortodoxos; Corrente Principal.

1. INTRODUÇÃO

Paulo é o mais polêmico dos apóstolos. Ele mesmo declara que Cristo
morreu, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, e apareceu aos apóstolos e, por
último de todos, apareceu também a ele, como se fosse a um abortivo. Ele
considerava-se como um apóstolo fora do tempo, mas nunca negou o seu
apostolado, ao contrário, o afirmou muitas vezes.2
O apóstolo Paulo é conhecido como o principal escritor e o mais bem
sucedido missionário do Novo Testamento. O Cristianismo e a teologia devem muito
a ele. Contudo, a compreensão de sua utilização pelos hereges pode ampliar o

1
Tarcisio Caixeta de Araujo é Mestre em Teologia pela South Wales Baptist College, País de Gales, licenciado
em Letras pelo UNI-BH, bacharel em Teologia (curso livre) pelo Seminário Teológico Batista Mineiro,
professor da Faculdade Batista de Minas Gerais. Tarcisio é membro do NAPH (The National Association of
Professors of Hebrew), NEJE (Núcleo de Estudos Judaicos da UFMG), OPBB (Ordem dos Pastores Batistas do
Brasil), ABIB (Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica).
2
Ver 1 Cor.9.1; 2 Cor.12.11,12; Gal.2.7,8 etc. Na introdução de todas as cartas assinadas por Paulo, no Novo
Testamento, ele se chama de apóstolo [a)po/stoloj]. As únicas execões são as cartas nas quais ele tem
coautor(s): Filipenses [Timoteo], 1-2 Tessalonissenses, [Silvano e Timoteo] e Filemon [Timoteo].
2

conhecimento de sua rica literatura. Se Paulo, no segundo século, é reivindicado


para apoiar as ideias de personalidades que escolheram uma linha diferente de
Cristianismo, a principal questão é: Até que ponto pode-se dizer que Paulo foi “o
apóstolo dos hereges” no segundo século?
Não existe dúvida quanto a importância de Paulo na formação do pensamento
cristão. Mais de cinquenta por cento dos escritos do Novo Testamento têm a sua
assinatura. Tanto os cristãos ortodoxos quanto os não ortodoxos estão em dívida
com Paulo.
Para responder à principal questão levantada neste artigo, serão tratados os
seguintes temas: a pessoa de Paulo, algumas figuras ortodoxas e não ortodoxas
que usaram seus escritos, e a pessoa de Paulo como inimigo e “adversário” de
Pedro. Este artigo está organizado em dois capítulos: O apóstolo Paulo e suas
cartas e grupos que usaram os escritos de Paulo no segundo século. O método
escolhido para esta tarefa é a pesquisa bibliográfica.

2. O APÓSTOLO PAULO E SUAS CARTAS

Paulo3 é conhecido no Novo Testamento como o apóstolo aos gentios. Em


Gálatas 2:7, lê-se que a ele havia sido confiado o evangelho aos incircuncisos
[pepi/steumai to\ eu)agge/Lion = pepísteumai tó euangelion].
Não há nenhuma descrição física do apóstolo Paulo nos escritos canônicos.
Através do Novo Testamento, o leitor não tem ideia das características físicas de
seus escritores ou dos personagens que compõem as histórias selecionadas. Esse
tipo de interesse é encontrado fora do Novo Testamento. Mesmo no Antigo
Testamento não se tem nenhum interesse em descrever fisicamente suas
personagens ou escritores. Apenas alguns exemplos de descrições físicas podem
ser encontrados no mesmo.4 A preocupação bíblica é direcionada principalmente
para o comportamento ético e espiritual dos seres humanos que escreveram ou que
compuseram a história bíblica.
Se quisermos uma descrição física de Paulo, podemos encontrá-la nos
Atos de Paulo e Tecla. Ali, ele é descrito como “um homem de pequena estatura,

3
Paulo é um nome latino e significa “o pequeno” (A Dictionary of the Bible, 1996, p.286.) Seu antigo nome era
Saulo [heb.lU)f$] e significa “pedido ou emprestado” (DAVIDSON,1997, p.694).
4
Esaú, Lea, Davi, Saul etc.
3

calvo, pernas tortas, em boa forma física, com as sobrancelhas que se encontram e
nariz de tucano, porém, cheio de simpatia, um homem com aspecto de anjo.”5 Além
disso, é dito que ele "só tinha olhos para a bondade de Cristo." O livro os Atos de
Paulo e Tecla está preocupado também com o caráter psicológico e espiritual das
personagens bíblicas.
Paulo foi criado como fariseu, e educado em Jerusalém, aos pés de
Gamaliel, um célebre rabino. Sua língua vernácula era o grego, mas a sua
residência na Palestina deu-lhe conhecimento do sírio-caldeu daquela época, que é
chamado no Novo Testamento de “hebraico”. Dentre suas muitas atividades estão
seus trabalhos evangelísticos em Antioquia, no ano 42 d.C.; sua viagem missionária
à parte oriental da Ásia Menor, onde ele assumiu pela primeira vez o caráter de um
apóstolo aos gentios; sua visita a Jerusalém, no ano 50 d.C., para resolver a questão
da lei de Moisés; sua segunda viagem missionária, quando ele introduziu o
evangelho para a Europa com a sua visita a Filipos, Atenas e Corinto. Em seguida,
vem a sua terceira viagem missionária. Seguiu-se a visita a Jerusalém, no ano 58
d.C., e sua prisão lá, com seu longo confinamento em Cesarea, e sua eventual
prisão em Roma, no ano 61 d.C., quando ele escreveu a maioria de suas outras
epístolas.6
Paulo afirma em Atos 21:39: “Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não
insignificante da Cilícia”. A fama de Tarso é muito antiga. O termo “não
insignificante” é modesto para caracterizá-la. Tarso era, segundo F. F. Bruce,7 uma
espécie de cidade universitária e ultrapassava Atenas e Alexandria na dedicação às
artes, filosofia e a enciclopédia, em geral. Tarso era “uma cidade fortificada e
importante entreposto comercial antes de 2.000 a.C.”8 A Cilícia aparece na Ilíada de
Homero no canto de número VI. Os moradores da Cilícia eram aliados dos troianos.
O nome Paulo aparece mais de 160 vezes no Novo Testamento, e a maioria
das referências ocorre nos Atos dos Apóstolos. Paulo é uma figura dominante e
controversa, no Novo Testamento, e, posteriormente, “a ampla utilização dos seus
escritos por gnósticos e por Marcião fez dele suspeito nos círculos ‘ortodoxos’”.9 O

5
Atos de Paulo e Tecla, p.239.
6
An Analytical Concordance to the Revised Standard Version of the New Testament. p.735.
7
BRUCE, F.F. Paulo, o apóstolo da graça: sua vida, cartas e teologia. São Paulo: Shedd Publicações, 2003. .
8
BRUCE, F.F. Paulo, o apóstolo da graça: sua vida, cartas e teologia. São Paulo: Shedd Publicações, 2003. p.27.
9
ZIESLER, J. A. In: A Dictionary of Biblical Interpretation. 1990, p.524.
4

ponto crucial da polêmica nos escritos de Paulo está na aceitação de gentios


convertidos sem a necessidade de manutenção da Torá.10
Os escritos de Paulo só se tornaram autoritativos pelos cristãos ortodoxos, a
partir do final do segundo século.11 Albert Schweitzer, citado por Ziesler, diz que os
pressupostos do apóstolo Paulo eram judaico-escatológicos “à luz de tudo o que
deve ser visto. O helenismo forneceu apenas o vocabulário, não as ideias”.12
O Novo Testamento atribui a Paulo 13 cartas. Das treze, em nome de Paulo
no Novo Testamento (Hebreus não faz nenhuma reivindicação de ser paulina), os
estudiosos em geral, mas não por unanimidade, distinguem sete como certamente
genuínas (Romanos, 1-2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses,
Filemom) e seis como “deutero-paulinas”. As cartas aos Efésios, Colossenses, 2
Tessalonicenses, 1-2 Timóteo e Tito refletem o pensamento de Paulo de forma
fraca. Portanto, não podem ser determinadas indubitavelmente como escritas por
Paulo.13
Ziesler também entende que 1-2 Timóteo, Tito e Efésios, e talvez
Colossenses e 2 Tessalonicenses “não foram escritas pelo próprio Paulo, mas por
seguidores, os quais perpetuaram sua influência e ideias. Trata-se de, na verdade,
de seus primeiros intérpretes para novas situações e necessidades...”.14
Independente do questionamento de certos estudiosos quanto a autoria paulina de
algumas de suas cartas, prevalecem as cartas e seus ensinos como as recebemos
desde o primeiro século. Não há provas contundentes da não autoria paulina das
seis referidas cartas.
No capítulo dois deste artigo, discute-se como a reputação de Paulo foi usada
e abusada por alguns grupos, no segundo século. Seu uso indiscriminado torna-o
suspeito de pertencer não somente a uma corrente principal de cristãos como
também por cristãos de menor identidade doutrinária e por aqueles classificados
como hereges.

3. GRUPOS QUE USARAM OS ESCRITOS DE PAULO NO SEGUNDO SÉCULO

10
id.ibid.
11
id.ibid.
12
SCHWEITZER, Albert. In: id.ibid. p.527.
13
The Oxford Dictionary of World Religions. 1997, p.741.
14
(1990:524).
5

O apóstolo Paulo é usado indiscriminadamente pelos cristãos do segundo


século, independente de suas convicções doutrinárias. Ortodoxos, grupos sob
suspeição, heréticos convictos ou cristãos não ortodoxos reivindicavam os escritos
de Paulo como parte de seus manuais doutrinários.

3.1. Ortodoxos

Muitos cristãos “ortodoxos”15 mencionaram o apóstolo Paulo em suas obras.


Neste artigo serão citados apenas alguns deles, como exemplo da aceitação
ortodoxa de Paulo e o uso de seus escritos. O primeiro nome mencionado é Inácio
de Antioquia. Em sua carta aos Romanos, Inácio apresenta Paulo como um
apóstolo, e o associa a Pedro.16 Inácio reverencia Paulo. Em sua carta aos
Efésios,17 ele diz: “Vós sois os associados nos mistérios com Paulo, que foi
santificado, que obteve um bom testemunho, que é digno de toda a felicitação, em
cujas pegadas eu, de bom grado, gostaria de ser encontrado pisando, quando eu
alcançar a Deus, que em cada carta faz menção de vós em Cristo Jesus.”
Tertuliano18 associa Paulo com Pedro19 e afirma que Paulo e Pedro “foram
martirizados, ao mesmo tempo em Roma”20 e que Caio fala dos locais onde as
relíquias sagradas dos Apóstolos [Pedro e Paulo] estão depositadas. Paulo é
habitualmente citado por Tertuliano, e chamado por ele de o mais santo dos
apóstolos.21 Ele ressalta22 que,
Vamos ver que tipo de leite os coríntios beberam de Paulo, a que regra de
fé os gálatas foram trazidos para a correção, o que os filipenses, os
tessalonicenses e os efésios leram por ele, o que exprimem também os
romanos, a quem Pedro e Paulo conjuntamente legaram o evangelho
mesmo selado com seu próprio sangue.
Citando Orígenes,23 Eusébio diz que “Paulo cumpriu o evangelho de Cristo de
Jerusalém para Illyria...”. Isto indica a aceitação do ministério de Paulo pelos cristãos
ortodoxos e, consequentemente, a aceitação de seus escritos.

15
Essa forma de Cristianismo (incluindo o desenvolvimento do catolicismo), que se tornou normativa e que
determinou que literatura era canônica e qual não era.
16
The Epistles of S. Ignatius. In: The Apostolic Fathers: 1898, p.151.
17
id.ibid.p.140.
18
Tertullian. In: Eusebius HE ii.xxv.181ss.
19
Dionísio e Clemente de Alexandria, citados por Eusébio, são também associados a Paulo e Pedro. [Ver
Eusebius HE viii.xiii.4.p.177; viii.xxv.14s.p.203, and . iii.xxx.1. p.269.
20
Tertullian. In: Eusebius HE ii.xxv.181ss.
21
TERTULLIAN. In: Ante-Nicene Fathers. Vol.3.p.677.
22
id.ibid.p.350.
23
Orígenes. In: Eusebius HE iii.i.1.p.191.
6

As “treze epístolas paulinas estão firmemente estabelecidas [no Canon


Muratoriano]. As Pastorais são mencionadas apenas no final da série paulina,
depois da carta a Filemon, e como a última, como documentos ‘privados’, exigem
uma justificação especial”.24 O Canon Muratoriano não considera a epístola aos
Hebreus como paulina. Esta lista, no entanto, indica que uma ampla gama de
escritos paulinos estava em uso nos círculos ortodoxos em Roma, provavelmente na
virada do segundo ao terceiro séculos.

3.2. Heréticos
Se os cristãos “ortodoxos” usaram Paulo, também alguns seguidores de
grupos chamados de “heréticos” o usaram para propagar seus pensamentos.
Antes de mencionar qualquer nome, é preciso deixar claro em que sentido a
palavra heréticos será tratada neste artigo. Para entender o significado do termo
heréticos, é necessário saber primeiro o significado de heresia (ai(/resij = háiressis).
Há diferentes significados para heresia (ai(/resij) no desenvolvimento da história
cristã.
Na época do Novo Testamento, o termo heresia não tinha o sentido
pejorativo, como teve mais tarde. Tratava de partidarismo, como se falasse de um
“partido” político. O vocábulo heresia significava escolha, opinião, sentimento.25 Foi
usado por Paulo, em sua Primeira Carta aos Coríntios 11.19,26 em associação com
sxi/smata [skísmata] (v.18), traduzido como divisões.27 Parece que em 2 Pedro 2.1
ai(re/seij é usado com um sentido pejorativo, uma opinião inaceitável, porque está
relacionada com a yeudodida/skaloi (falsos mestres). Para heresia também é
dado o significado de seita, na Concordância Exaustiva da Bíblia,28 uma palavra que
em si deve ser tratada com cuidado, para não dar-lhe conotações negativas
indevidamente. “Das nove ocorrências do substantivo no NT, seis encontram-se em
Atos e referem-se aos saduceus (5,17), fariseus (15:05, 26:5), e nazarenos (24:5,14;

24
CAMPENHAUSEN, Hans von, 1972, pp.233,246.
25
Analytical Concordance to the Holy Bible, p.477.
26
dei= ga\r kai\ ai(re/seij e)n u(mi=n ei)=nai, i(/na [kai\] oi( do/kimoi faneroi\ ge/nwntai e)n u(mi=n.
27
Na Master Study Bible. New America Standard. Nashville: Holman Bible Publishers, 1981.
28
p.274.
7

28:22)... o significado que emerge é doutrina, escola ou partido (religioso), sem


qualquer conotação negativa.... o vb. cognato com ai(/resij significa escolher...”.29
No grego clássico, ai(/(resij é usado para indicar: “a. ‘embargo’, b. ‘escolha’,
‘inclinação’ e ‘acordo’ ou ‘atividade’, ‘esforço direcionado para um objetivo’. O último
significado persiste no helenismo e, ocasionalmente, na literatura cristã...”.30 No
helenismo, o termo ai/(resij desenvolveu-se e passou a denotar “a. ‘doutrina’ e,
especialmente, b. ‘escola’.31 “Na LXX ai/(resij é encontrado ocasionalmente no
sentido geral de ‘escolha’.”32 De acordo com o Novo Dicionário Internacional do
Antigo Testamento, o verbo badfn (qal [nadav]) é: incitar, oferecer livremente, e dar
algo livremente, (hitp.) significa: oferecer o próprio acordo, livremente. O substantivo
hfbfd:n [nedavá] significa oferta voluntária, presente voluntário e livre inclinação.33 É a

escolha que é o tema recorrente, alinhando ai(/(resij com o que viria a ser visto
como um individualismo inaceitável, como cristãos usaram o termo ai/(resij em
desacordo com a autoridade da igreja e, portanto, o termo heréticos (ai/(retiko/j)
significa primariamente uma pessoa opinativa34 ou um aliado a um grupo ou opinião
particular, no tempo do Novo Testamento. A divisão de opinião contrária passou a
ser vista como um fator importante quando cristãos estavam “hereticamente” em
desacordo com outros cristãos.
O equivalente hebraico para ai/(resij é hfbfd:n [nedavá] e o termo

correspondente no judaísmo rabínico é “}yim [min], que pode significar tanto ai/(resij

e ai/(retiko/j.”35 Na Mishná também podemos encontrar o uso do termo heréticos.


No Sanhedrin 10.1 é dito, “Todos os israelitas têm uma parte do mundo vindouro... E
estes são os que não têm parte no mundo vindouro:... aqueles que lêm os livros
heréticos...”.36
Neste contexto, é impossível resolver facilmente os problemas da derivação
do sentido cristão especial dado à palavra heresia. O desenvolvimento do conceito
cristão não é inteiramente análogo àquele usado pelos rabinos, em que, no processo

29
New International Dictionary of Old Testament Theology and Exegesis. Vol. 3. 1997, p.40.
30
SCHLIER, Heinrich. In: Theological Dictionary of the New Testament. Vol. 1. 1976, p.181.
31
id.ibid.
32
id.ibid.
33
New International Dictionary of Old Testament Theology and Exegesis. p.31.
34
Analytical Concordance to the Holy Bible, p.477. Ver Tito 3.10 [ai(retiko\n].
35
SCHLIER, Heinrich, pp.181s.
36
The Mishnah (1977:397). Ver também Megillah 4.8; Hullin 2.9; Rosh Ha-Shanah 2.1Berakoth 9.5.
8

de separação de grupos não ortodoxos, as partes heterodoxas vieram a ser


designadas como heresia.
O apóstolo Paulo foi chamado de “um líder da seita dos nazarenos”
[prwtosta/thn te thj twn Nazwrai/wn ai(re/sewj]37 por Tertuliano, no livro dos
Atos 24,5.38 A suposição de que erro e discórdia caracterizavam a chamada heresia
cristã veio mais tarde. Segundo Schlier, o termo ai(/resij, na igreja primitiva [a partir
do segundo século], está em oposição ao vocábulo e)kklhsia [eklessia]. Para a
Eklessia, ai(/resij sempre denotava sociedades hostis, e o que a Igreja geralmente
tinha em vista era o gnosticismo.39 O termo ai(/resij [háiressis] só se torna técnico
após o período do Novo Testamento.40
Portanto, o vocábulo heréticos é tomado como pessoas ou grupos que
escolheram livremente um corpo de crenças diferente daquele escolhido pelos
cristãos “ortodoxos”. O termo heréticos não se refere aos principais grupos cristãos.

3.2.1. Gnósticos
O gnosticismo era
uma religião sincretista e uma filosofia que floresceram durante cerca de
quatro séculos, ao lado do cristianismo primitivo. ...almas eleitas, sendo
faíscas divinas temporariamente aprisionadas em corpos físicos, como
resultado de uma catástrofe pré-cósmica, podem obter a salvação por meio
de uma gnose especial (γνωοις, ‘conhecimento’).41

A palavra Gnosticismo vem do mundo helênico e significa conhecimento


(gnwsij). O Gnosticismo floresceu a partir do segundo ao quinto séculos d.C.42 Os
gnósticos afirmavam ter a compreensão espiritual do mundo. Seu conhecimento
tinha chegado a eles a partir de um revelador celeste.
Os gnósticos afirmavam ter recebido ensinamentos secretos de Jesus a partir
dos quais foram compostos alguns evangelhos. Grandes variações da mitologia
cristã foram encontradas nos ensinos gnósticos. Basilides (117-138 dC), por
exemplo, ensinou que Simão de Cirene sofreu na cruz no lugar de Jesus.43 No

37
THE NEW TESTAMENT: the Greek text underlying the English authorized version of 1611. 2000.
38
ai(re/sewj é um termo neutron para “escola”( SCHLIER, Heinrich. op.cit. p.182.).
39
SCHLIER, Heinrich. op.cit. p.183.
40
id.ibid.
41
(Metzger, 1997:76).
42
PERKINS, Pheme. In: Encyclopedia of Early Christianity. 1998, p.465.
43
METZGER, 1997, p.79.
9

entanto, o mais influente no desenvolvimento da teologia gnóstica, de acordo com


Metzger,44 foi Valentino.
O Sistema de Valentino é um elaborado épico teogônico e cosmogônico.
Ele descreve em três atos de criação, a queda e a redenção, primeiro no
céu, depois na terra. O mundo espiritual ou ‘pleroma’ compreende trinta
‘eras’ [aeons], formando uma sucessão de pares (syzygies). O mundo
visível deve a sua origem à queda de Sophia (‘sabedoria’), cujos
descendentes, o Demiurgo, é identificado com o Deus do Antigo
Testamento. Os seres humanos pertencem a uma das três classes, as
pessoas espirituais (pneumatikoi, ou verdadeiros gnósticos), aqueles que
apenas possuem uma alma (psychikoi, ou, os ordinários membros da igreja,
os não iluminados), e o restante da humanidade, que são compostas
unicamente de matéria (hylikoi) e são entregues à perdição eterna.

Alguns grupos gnósticos eram mais ascéticos do que outros. Certos grupos
acreditavam que “a sexualidade e a feminilidade eram más e tinham que ser
rejeitadas”.45 Com base em alguns textos na Biblioteca de Nag Hammadi,46 alguns
estudiosos acreditam que “as raízes da especulação gnóstica remontam ao
judaísmo sectário”,47 mas o gnosticismo foi capaz de adotar e adaptar-se às
variedades de ensino e por isso também está relacionado ao cristianismo. “Os
escritores anti-heréticos da igreja ... enfatizaram as doutrinas da criação, redenção e
ressurreição, que eles viram particularmente ameaçados por interpretações
gnósticas”.48
Os gnósticos reivindicavam Paulo como um deles. De acordo com Maccoby,49
Paulo aceitou o Criador como o Deus mais elevado, a Torá e os Profetas como
vindos de Deus, o Altíssimo. Nesses pontos, ele está em oposição ao gnosticismo.
No entanto, Paulo pode ser considerado como um gnóstico moderado. Ele usa uma
linguagem que tem paralelos no uso gnóstico, como “o deus [Satanás] deste
mundo”, “poderes cósmicos”, “potentados deste mundo tenebroso”. Em Efésios 2.2,
afirma Maccoby,50 Paulo chama Satanás de “o comandante das forças espirituais do
ar”, também uma forma gnóstica de se expressar.
A concepção paulina da Torá como uma revelação limitada, parcial, tem sua
correspondência também no “conceito gnóstico da Torá como tendo uma autoridade
limitada”,51 e isto tem paralelo com os escritos gnósticos. Em Gálatas 3.19, de

44
id.ibid.pp.80s.
45
PERKINS, 1998, p.465.
46
Descoberto em 1945 no Egito.
47
PERKINS, Pheme. op.cit. p.466.
48
id.ibid. p.468.
49
MACCOBY, Hyam. Paul and Hellenism. 1991, p.37ss.
50
id.ibid.p.40.
51
id.ibid.
10

acordo com Maccoby,52 Paulo está dizendo: “os anjos, não Deus, foram os autores
da Torá.” Ellis,53 por outro lado, afirma: “A presença de anjos no Sinai é mencionado
ocasionalmente nos escritos judaicos...”. Encontramos a palavra a)/ggeloi [ángueloi]
no texto grego de Deuteronômio 33.2.54 Além disso, “A associação dos anjos com a
santidade de Deus é encontrada ocasionalmente no AT.”55 Fitzmyer56 aponta que,
Gálatas 3.19 é um “eco de uma crença judaica contemporânea que os anjos, e não
o próprio Javé, deu a Lei a Moisés.” Josefo57 também associa a Torah com os anjos.
Roukema58 afirma que, entre os quarenta e cinco textos de Nag Hammadi,59
encontram-se a oração do apóstolo Paulo e o Apocalipse de Paulo. Além disso, a
maioria dos textos, em Nag Hammadi, têm um teor gnóstico.

3.2.2. Marcião
Marcião, filho do bispo de Sinope, em Pontus, foi professor na Ásia Menor.
Eusebius o chama de Marki/wn o( Pontiko\j [Markion hó Pontikós].60 Seu pai, o
bispo de Sinope, o excomungou. Devido a isso, ele foi para Roma.
De acordo com Harrison,61 “Não está claro que Marcião não tenha sido
gnóstico, embora ele estivesse em débito com o gnóstico Cerdo em certas
características de seu ensino, na forma final deste. Mas o Marcionismo foi
vagamente descrito, tanto na antiguidade como nos tempos modernos, como uma
forma de gnosticismo.”
Harrison data a primeira epístola de Paulo a Timóteo no tempo de Marcião.
Ele diz: "Que o escritor [de I Timóteo] tinha Marcião em mente, certamente nunca foi
questionado...”.62 A possível ligação com Marcião se encontra em I Timóteo
6.20,21.63 No entanto, Harrison também está aberto para a sugestão de Harnack64

52
id.ibid. pp.41ss.
53
ELLIS, E. Earle. 1957, p.66.
54
The Old Testament in Greek. 1887.
55
New International Dictionary of Theology & Exegesis. 1996, p.942.
56
FITZMYER, Joseph A.. In: The Letter to the Galatians. In: The New Jerome Biblical Commentary.1990,p.787.
57
Antiquities of the Jews. Xv.v.3. In: The Works of Flavius Josephus. 1892, p.361.
58
ROUKEMA, Riener. Gnosis and Faith in Early Christianity: An Introduction to Gnosticism. 1999, pp.4s.
59
Foi escrito originalmente em Grego e transcritas em Cópico.
60
Eusebius EH iv.xi.2 p.329.
61
HARRISON, P. N. Polycarp’s Two Epistles to the Philippians. 1936, p.243.
62
id.ibid.
63
O termo a)ntiqe/seij (título usado por Marcião para seu livro) aparece em I Timoteo 6.20. A palavra
gnw/sewj é também usada neste verso.
64
HARNACK. In: id.ibid.p.244.
11

de que este versículo é uma adição posterior. Kelly65 não concorda que os
ensinamentos de Timóteo são dirigidas contra Marcião. Não é necessário olhar para
fora do primeiro século, diz ele, para perceber “um amálgama de características
judaicas e gnósticas”. Claro que isto era algo muito mais elementar, admite Kelly, do
que o Gnosticismo ou Marcionismo.
Hooker ressalta que “Quando o debate inicial sobre a admissão dos gentios
foi esquecido, Gálatas e Romanos foram entendidas como ataques contra o
judaísmo, e as próprias raízes judaicas de Paulo foram ignoradas, um processo
incentivado por Marcião.”66 Marcião é a “primeira pessoa conhecida por ter tido uma
coleção de todas as cartas paulinas (com exceção das Pastorais).”67

3.3. Cristãos de uma corrente não principal: Atos de Paulo e Thecla


Não é difícil situar os Atos de Paulo e Tecla na massa dos “escritos cristãos
de uma corrente não principal”, porque não foi considerado um texto herético.
McGinn68 vai mais longe e coloca-o dentro de uma corrente cristã principal.
Os Atos de Tecla, um trabalho anônimo, é também conhecido como os Atos
de Paulo e Tecla. Evidentemente, o nome de Paulo está associado com os Atos
para dar-lhe credibilidade e promover coisas como o ascetismo, o celibato e o direito
das mulheres serem consideradas como líderes na Igreja. De acordo com McGinn,69
no entanto, a inserção dos Atos de Thecla nos Atos de Paulo “tem o efeito de
subordinar a história das mulheres a do homem, certamente um reflexo dos
interesses patriarcais da igreja.”
Os Atos de Paulo foi composto provavelmente na segunda metade do
segundo século.70 É mencionado por Tertuliano em On Batismo 17. Hahneman
acredita em uma data posterior, ou seja, entre 185-195 d.C.
Thecla era uma virgem, filha de Theocleia. O caráter ascético pode ser visto
explicitamente em sua vida. De acordo com os Atos, ela ouvia Paulo durante três
dias e três noites sem comer, e a palavra de Paulo era “a palavra da vida virginal”.71

65
KELLY, 1986 p.12.
66
HOOKER, Morna D. In: The Oxford Companion to Christian Thought. p.523.
67
id.ibid. p.521.
68
McGINN, Sheila E. In: The Acts of Thecla. In: Searching the Scriptures: A Feminist Commentary. 1995, p.804.
69
id.ibid. p.801.
70
id.ibid.p.802.
71
The Acts of Thecla. 1995.[7].p.240.
12

A vida de Onesíforo72 [em cuja casa Paulo ficou hospedado] é outro exemplo de
ascetismo. Ele “tinha deixado as coisas do mundo e seguido Paulo, com toda a sua
casa.” Celibato é também um elemento forte nos Atos de Paulo e Tecla. Thamyris
[que deveria se casar com a virgem Thecla] acusou Paulo de ser um “falso mestre” e
afirmou que Paulo estava enganando “as almas dos jovens e donzelas, que eles não
deveriam se casar, mas permanecem como estavam”.73 Há treze bênçãos proferidas
por Paulo em Atos de Paulo e Tecla, quando ele estava na casa de Onesíforo.74
Quatro delas estão relacionadas com a abstinência [continência], as quais são:75
• Bem-aventurados os que guardam a carne pura, pois passarão a ser o
templo de Deus.
• Bem-aventurados os que abstém-se (ou são continentes), pois a eles Deus
deve falar.
• Bem-aventurados os que possuem suas esposas como se não as
tivessem, porque eles herdarão a Deus.76
• Bem-aventurados os corpos das virgens, pois devem ser bem agradável a
Deus e não devem perder a recompensa de sua continência (castidade), pois a
palavra do Pai lhes será uma obra de salvação no dia de sua Filho, e eles terão um
mundo de descanso sem fim.
Os Atos reivindica também o direito de uma mulher batizar e se tornar
pregadora. Thecla se autobatizou em uma arena,77 e mais tarde tornou-se
pregadora. Paulo disse-lhe: “Vai, e ensina a palavra de Deus.”78 Ela se tornou não
apenas uma pregadora, mas também uma professora. Tertuliano era muito contrário
a essas ideias. De acordo com ele, é o sacerdote principal, ou seja, o bispo, que tem
o direito de batizar. Depois dele, vêm os presbíteros e diáconos, mas eles têm que
ser autorizados pelo bispo. Os leigos também, quando extremamente necessário,
podem batizar, pois batismos "é igualmente propriedade de Deus, e pode ser
administrado por todos.” No entanto, Tertuliano repudia mulher como professora ou

72
id.ibid.[23].p.243.
73
id.ibid.[11].p.241.
74
Nomes tais como Onesíforo, Zena, Demas, Tito são encontrados nos Acts of Paul and Thecla, e nas Pastorais.
75
The Apocryphal New Testament. 1980.p.273.
76
Ver I Coríntios 7.
77
The Acts of Thecla. 1995[34], p.245.
78
id.ibid.[41].p.246.
13

como quem está autorizado a batizar. As mulheres não têm o direito ou autoridade
para ministrar a palavra ou os sacramentos [ordenanças]. Ele afirma,79
Mas, se os escritos que erroneamente vão sob o nome de Paulo,
reivindicam o exemplo de Thecla como licença para as mulheres ensinarem
e batizarem, que se saiba que, após ser condenada, e confessando que ela
tinha feito isso por amor de Paulo, foi removida de sua função. Que
credibilidade teria ela, se Paulo sequer permitiu a uma mulher aprender o
poder de ensinar e de batizar! ‘Estejam caladas’, diz ele, ‘e em casa
consultem seus próprios maridos.’

Ao utilizar Paulo como professor que promoveu o ascetismo e especialmente


a continência sexual, a primeira carta aos Coríntios80 poderia estar na mente do
autor dos Atos. Por outro lado, as cartas pastorais poderiam ser entendidas como
contrárias a tal corpo de ensinos ascéticos. Os “heréticos” são a grande
preocupação do escritor das cartas pastorais.81 Temas tais como a renúncia do
casamento e a abstinência de alguns tipos de alimentos são combatidos nas
pastorais e alguns temas com os mesmos nomes ocorrem nas pastorais e nos Atos
de Paulo e Tecla.

3.4 Pseudo-Clementino: Paulo como inimigo


As cartas de Paulo fazem referência frequente a seus opositores em sua
própria época. Depois de sua morte, ele ainda é odiado por muitos. A literatura do
Pseudo-Clementino é um bom exemplo do comportamento negativo sobre Paulo no
segundo século. O Pseudo-Clementino são “uma série de textos que tratam da vida
de São Clemente de Roma e o nomeia como seu autor.”82
Em uma introdução ao Pseudo-Clementino Strecker aponta que ali “Paulo é
antagonista de Pedro, os dois são mencionados como o último par da série de
syzygies, Paulo como representante da profecia feminina (H II 17,3). ... Pelo fato de
Jesus ter escolhido apenas doze apóstolos, é de se concluir que Paulo não se
chama acertadamente de apóstolo...”.83
No escrito chamado de O Romance de Clemente,84 no capítulo A Doutrina
dos pares de opostos ou syzygies H II.18.1f. Paulo é apresentado como sucessor de
Pedro. Ele aparece lá como “inimigo”, “morte”, “fogo” e “engano”. Seu nome não é

79
On Baptism 17. In: Ante-Nicene Fathers. Vol.3. 1995, p.677.
80
Capítulo 7, especialmente os versos 1, 5, 8, 26, 32, 34, e 38.
81
KELLY, 1986 p.10.
82
STRECKER, George. In: New Testament Apocrypha. Vol.2. 1992, p.484.
83
id.ibid.pp.490s.
84
The Clement Romance. In: New Testament Apocrypha. Vol.2. 1992, p.512.
14

usado de forma clara. Ele recebe o nome de pseudo-Simão. Ele é conhecido como
“Simão” no capítulo Polêmica Contra Paulo H II 17.2.85
Esse Simão é o mesmo Simão, o Mago, que aparece em A História
Eclesiástica de Eusébio como a)rxhgo\n ai(re/sewj prw=ton gene/sqai.86 Segundo
Hultgren e Haggmark,87 chamar Simão de o “pai” de todas as heresias “deve ser
considerada uma afirmação exagerada, mas o comentário dele [referindo-se a Irineu]
é típica do desprezo que os heresiologistas tinham por Simão e seus seguidores.”
Além da literatura do Pseudo-Clementino, há outros nomes heréticas anti-
paulinos e grupos como ceríntios (seguidores de Cerinto), elkesaitas, encratistas e
ebionitas. A título de ilustração, consideraremos apenas os ebionitas.88
Os ebionitas, como os cristãos do Pseudo-Clementino, rejeitaram Paulo e
suas epístolas.89 “Os ebionitas eram uma seita judaico-cristã do segundo século
que, segundo Epiphanius, diziam ter suas raízes na igreja de Jerusalém.”90 Eles
entendiam que “pela fé somente em Cristo, e de uma vida construída sobre essa fé,
eles nunca ganhariam a salvação.”91 Aliado a isso, eles tinham também que
observar cada detalhe da Lei. Na Carta aos Romanos,92 Paulo afirma
categoricamente: (O de\ di/kaioj e)k pi/stewj zh/setai..” [mas o justo pela fé viverá]
Esta declaração de Paulo é totalmente oposta aos crentes entre os ebionitas, e
também [de acordo com alguns intérpretes] de Tiago93 [também da igreja de
Jerusalém], que diz: “ou(/tw kai\ h( pi/stij, e)a\n mh\ e)/rga e)/xv, nekra/ e)sti kaq )
e(auth/n”. “Viver pela fé”, de acordo com o comentário de Lutero sobre Romanos,
significa viver “somente através da crença completa em Deus.”94 O não uso da Lei
pelos gentios foi atribuído especialmente aos que seguem o ensinamento de Paulo.
Isto é o argumento mais forte que levou alguns a odiá-lo.” “...embora a lei estivesse
vinculada a eles mesmos [os judeus cristãos] como judeus nascidos, não era
essencial para o cristianismo gentio observar os seus decretos. Essa concessão foi

85
Kerygmata Petrou. In: id.ibid.p.536.
86
ii.xiii.5.p.138.
87
HULTGREN, Arland J., HAGGMARK, Steven A. 1996, p.15.
88
Essa designação vem da palavra hebraica }Oy:be( (pobre).
89
MERKEL, Helmut. In: The Encyclopedia of Christianity. 2001, p.8.
90
HULTGREN, 1996, p.116.
91
id.ibid.p.120.
92
1.17.
93
2.17.
94
OSWALD (ed.), 1972, p.9.
15

o ato de emancipação da conferência de Jerusalém,95 e foi devido, em grande


medida, aos trabalhos e propaganda de São Paulo.”96 Não é de se estranhar, então,
que os inimigos de Paulo, feitos durante o compartilhamento de seu ministério, se
reflita na continuação do cristianismo para seu legado. Isto é visto no segundo
século.

95
Ver Atos dos Apóstolos 15.
96
Encyclopaedia of Religion and Ethics. 1912, p.140.
16

CONCLUSÃO

A resposta para a pergunta até que ponto foi Paulo “o apóstolo dos hereges”,
no segundo século é tênue. Por um lado, ele era com certeza o apóstolo dos
hereges, porque eles reivindicaram-no como tal. Por outro lado, Paulo foi também o
pai e “o inimigo” para os cristãos de uma corrente secundária. Para os cristãos
ortodoxos e de uma corrente principal de crenças e práticas, Paulo foi e é
considerado o apóstolo, digno de toda reverência e credibilidade. Paulo foi usado
pelos hereges, por uma corrente secundária, e pelos cristãos ortodoxos para
promover seus entendimentos do cristianismo no segundo século. Paulo era, ao
mesmo tempo, amado e odiado, compreendido e incompreendido.
Estudar Paulo apenas em relação aos escritos canônicos é perder a
amplitude de seu trabalho como teólogo. Há muito mais a aprender sobre ele nas
Escrituras e fora delas. A maneira em que escritores pós-bíblicos usaram sua
reputação e legado pode lançar luz sobre a forma como entendemos o registro do
Novo Testamento.
O fato dos escritos do apóstolo Paulo terem sido usados por gnósticos e por
vários grupos heréticos no segundo século, não faz dele um herege. Paulo continua
sendo o maior e o mais respeitado escritor do Novo Testamento, na concepção
cristã.
Todo e qualquer autor está sujeito a interpretações várias, e, muitas dessas
interpretações, em algum momento e contexto, não expressarão a real intenção
desse autor. Dos autores vivos, além de seus textos, propriamente ditos, há a
possibilidade do diálogo, do questionamento oral, do tom vocal, das feições para se
interpretar melhor suas ideias e afirmações. Quanto ao apóstolo Paulo, restam os
textos escritos a ele atribuídos.

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