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Resumo: Muitos trabalhos na área de educação musical utilizam os termos transferência e transmissão
como sinônimos sem antes refletirem sobre suas bases estruturantes e legitimatórias. Pretende-se
diferenciar os processos de transmissão e de transferência a partir de concepções epistemológicas.
Buscou-se na pesquisa de referenciais sobre os processos de ensino, transmissão e transferência nas
áreas de etnografia, sociologia, pedagogia, didática e educação musical. Transmissão se diferencia de
transferência nas ciências que estudam as relações humanas, no sentido de transmissão envolver
diversos processos não apenas vinculados a conteúdos e transferência está relacionada à extensão de
conhecimentos. Destacam-se dois tópicos: a transferência é um momento onde é estendido o
conhecimento para as pessoas; e a transmissão é o fato de construir saberes, valores, significantes
simbólicos, afetividades, visões de mundo, etc.
I. Introdução
1
Tradução nossa.
No processo de aquisição, (re) formulação e (re) adaptação dos saberes a palavra
transmissão é utilizada no sentido de oportunizar e valorizar todos os aspectos relacionados às
trocas de conhecimento. Nesse sentido o termo transmissão
Porque dizemos que o verbo transmitir faz referência a imposição de algo sem que o
indivíduo possa se manifestar ou se relacionar como o processo de ensino? O significado de
transmitir é relacionado a transportar e conduzir. Seguindo essa concepção, os processos de
transmissão são transportes, conduzido a uma aquisição musical, no sentido holístico, dando
ao educando ferramentas para que possam desenvolver e ampliar o conhecimento musical,
transformando-o em apreensão significativa e contextualizada. Assim, transmissão não está
relacionada à imposição e sim a transporte.
Em uma perspectiva marxista, Bernard Charlot concebe a educação como sendo um
conjunto de processos, dos quais a transmissão tem um papel amplo na formação dos
indivíduos. Para ele “a educação transmite à criança os modelos de comportamento que
prevalecem numa sociedade. São modelos de trabalho, de vida, de troca, de relações afetivas,
religiosa, etc.” (CHARLOT, 1983, p. 13).
Para o autor, há duas formas de transmissão: A primeira ocorre por influência difusa
do meio, sem que uma intervenção educativa voluntária e sistemática se faça presente. A
segunda ocorre por influências sistemáticas no qual o adulto, figura representativa da
sociedade, introduz socialmente a criança comunicando-a as regras explícitas e tentando
justificá-las com referências de alguns ideais como liberdade, honestidade, justiça,
solidariedade, etc. (CHARLOT, 1983, p. 14).
Acontecendo nos processos educacionais de/por modelos de comportamento diversos
e de/por sentidos de agir politicamente, a transmissão pode seguir a algumas características,
das quais se destacam:
•
Esse moldar é sempre de acordo com ideais de sociedade, justiça, liberdade,
igualdade que retroalimentam os modelos de comportamento ou criam rupturas
desviantes de tais modelos. As rupturas podem ser desvios de comportamento
tido como ideais, renovação de paradigmas e modelos, ou consciência da
pluralização cultural e aceitação da diversidade.2
2
Para o melhor entendimento dessas rupturas e atitudes desviantes, própria do espírito humano e contestador, ver
Morin, Edgar. O método 4: as idéias. Porto Alegre: Sulina, 2001. p. 37-51.
de informações existentes nos diferentes contextos que se relacionam em todos os momentos
da vida. Com isso,
II - Transferência
II.a. Conceituando
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A tradução livre, feita por nós seria: Vós que nascestes no campo, permaneçam nele: trabalhem no campo de
seus pais; ou se seus pais não deixaram terra para vós, sirvam a um senhor, trabalhem durante a manhã e
aprendam a um ofício; comercializem, se tiverem meios para isso, escolham a profissões que os façam subsistir
honestamente: e deixem os estudos para os que têm tempo (para lazer), que são os ricos, ou não se preocupam
em sê-lo.
Durkheim tem uma visão da sociedade como um organismo e, portanto, para o bom
funcionamento da sociedade é necessário que cada pessoa desempenhe eficientemente seu
papel aprendido nos sistemas educacionais. Logo, nem todos devem ser formados para
refletir, como também nem todos devem ser formados para trabalhar.
A educação deveria ser um processo de transferência no qual as aptidões são
desenvolvidas de acordo com as funções. Nesse sentido ela serve ao propósito do bom
funcionamento da sociedade, pois, “não adianta crer que podemos educar os nossos filhos
como quisermos. Há costumes aos quais somos obrigados a nos conformar; se transgredimos
demais, eles acabam se vingando nos nossos filhos” (DURKHEIM, 2011, p. 48).
Nessa ótica social, surge a necessidade de transferir as concepções e habilidade para o
funcionamento da sociedade-organismo de Durkheim. Isso propicia a criação e legitimação de
um modelo de escola, no qual, o sujeito ao chegar à sala de aula é tabula rasa4 ou uma folha
em branco. Cabe ao professor escrever nessa tábua o conhecimento e cabe ao aluno aceitá-lo e
apreendê-lo.
ora, estas duas condições são realizadas nas relações que o educador mantém
como a criança submetida à sua ação: 1º) A criança se encontra naturalmente
em um estado de passividade comparável com aquele no qual o hipnotizado
se encontra artificialmente mergulhado. Sua consciência ainda não contém
mais do que um pequeno número de representações capazes de lutar contra
as que lhe são sugeridas, sua vontade ainda é rudimentar. É por isso que ela é
tão facilmente sugestionável. Pela mesma razão, ela é bastante permeável ao
exemplo e à imitação. 2º) A primazia que o professor tem naturalmente
sobre o aluno, devido à superioridade de sua experiência cultural, abastece
naturalmente a sua ação com a eficácia que lhe é necessária (DURKHEIM,
2011, p. 69).
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Expressão do latim que significa “tábua raspada”. Esse conceito foi utilizado anteriormente por Aristóteles, mas
no caso em questão nos remetemos ao filósofo do século XVII, John Locke, pai do empirismo inglês. Para ele
todas as pessoas nascem sem conhecimento e são, portanto, iguais. Em contraposição ao inatismo utilizado por
vezes para legitimar o poder político de reis e da nobreza. Assim, para o autor é a partir das experiências que as
pessoas aprendem e passam a escrever na tábua os conhecimentos e ideias, para se passar para as ideias é preciso
antes passar pelos sentidos. Para maior um aprofundamento ver: LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento
humano. Trad. AnoarAiex. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
Dentro desse modelo de escola, para existir transferência são necessários dois agentes
motivadores do movimento: 1º) o agente motivador para o professor é a legitimação da sua
natural superioridade intelectual; 2ª) a do aluno é sua inconsciência de tabula rasa. Então
nesse momento é necessário acontecer o processo de expansão o conhecimento do professor,
transferindo para o aluno as ideias e habilidades necessárias para a sua inserção na sociedade.
Bernard Charlot (1983, p. 153) entende que, dentro da pedagogia tradicional, a cultura,
no sentido de transferência de conhecimento, é um esforço para atualizar em si a natureza
fundamental dos alunos, ou seja, modificar os sujeitos em direção a adaptabilidade de
assunção da função social que lhes é inerente. Também é um esforço para se tornar um
homem e identificar-se dentro do modelo proposto de Homem Ideal que se eleva na direção
do conhecimento superior e absoluto.
IV. Conclusão