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Colunista Andréia Helena

A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA E A PSICOLOGIA DA CRIANÇA

Jean Piaget

Dois fatos paradoxais são capazes de espantar as pessoas habituadas a observar o


desenvolvimento das funções mentais e das aptidões na criança.

O primeiro dos fatos consiste em que, freqüentemente, a criança pequena parece melhor
dotada do que a criança de mais idade, nos domínios do desenho, da expressão simbólica
(representações plásticas, papéis representados nas cenas coletivas organizados
espontaneamente, etc.) e por vezes na música. Quando se estuda as funções intelectuais ou os
sentimentos sociais contata-se um progresso mais ou menos continuado, enquanto que no
domínio da expressão artística, ao contrário, a impressão freqüente é de um recuo.

O segundo fato (e que se reduz em parte ao primeiro) consiste em que é muito mais difícil
estabelecer estágios regulares de desenvolvimento no caso das tendências artísticas do que no
caso das outras funções mentais.

Qualquer destas observações conduzem a uma conclusão evidente: a criança pequena começa
espontaneamente a exteriorizar sua personalidade e suas experiências inter-individuais graças
aos diferentes meios de expressão que estão a sua disposição: desenho e a modelagem, o
simbolismo do jogo, a representação teatral (que procede imperceptivelmente do jogo
simbólico coletivo), do canto, etc.; mas que, sem uma educação artística apropriada que
consiga cultivar estes meios de expressão e encorajar as primeiras manifestações estéticas, a
ação do adulto e os constrangimentos do meio familiar ou escolar tendem em geral a freiar ou
contrapor-se às tendências artísticas ao invés de enriquecê-las.
O problema psicológico, ou melhor, os dois principais problemas psicológicos da educação
artística são portanto compreender, em primeiro lugar, a quais necessidades fundamentais
correspondem as manifestações iniciais da expressão estética infantil e, em segundo lugar,
qual a natureza dos obstáculos que surgem ordinariamente no curso da evolução ulterior.

Sobre o primeiro desses pontos estamos relativamente bem esclarecidos. O estudo do jogo
infantil e especialmente no jogo simbólico (habitualmente chamado jogo de faz-de-conta)
mostra, com efeito, que o pensamento e a vida afetiva da criança são orientadas por dois pólos
opostos.

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Existe, de um lado, a realidade material ou social à qual a criança deve adaptar-se e que lhe
impõe suas leis, regras e meios de expressão: é a essa realidade que se submetem os
sentimentos sociais e morais, o pensamento conceitual ou socializado, com os meios coletivos
de expressão constituídos pela linguagem, etc. Mas existe, de outro lado, aquilo que é vivido
pelo eu: os conflitos, os desejos conscientes ou inconscientes, as preocupações, alegrias e
inquietude e são as realidades individuais, freqüentemente inadaptadas e sempre
inexprimíveis somente pelos instrumentos coletivos de comunicação, que requerem uma
forma particular de expressão. Ora, o jogo simbólico não é outra coisa que não o
procedimento de expressão, criado quase que totalmente por cada sujeito individual, graças ao
emprego de objetos representativos e de imagens mentais que, ambos, complementam a
linguagem. Suas funções essenciais são permitir a realização dos desejos, a compensação com
relação ao real, a livre satisfação das necessidades subjetivas e, enfim, uma expansão tão
completa quanto possível do próprio "eu", enquanto que distinto da realidade material ou
social.

As primeiras manifestações espontâneas do que se pode chamar de arte infantil devem


também ser vistas como tentativas sucessivas de conciliação entre as tendências próprias do
jogo simbólico (ainda que não se constitua em arte em sentido restrito) e aquelas tendências
que caracterizam as formas adaptadas de atividade, ou se preferirmos, como a síntese entre a
expressão do eu e a submissão ao real. Quer no jogo de construções, quer nas representações
teatrais, etc., a criança procura simultaneamente satisfazer seus desejos e adaptar-se aos
objetos e a outros sujeitos. Em certo sentido ela continua a se expressar, mas também ensaia
inserir o que pensa e o que sente no mundo de realidades objetivas e comunicáveis que
constituem o universo material e social.

De onde vem então o obstáculo que freqüentemente esteriliza as primeiras tentativas e às


vezes as interrompe completamente -- ao menos até o novo impulso de expressão estética que
marca a adolescência - quando eles deveriam desenvolver-se de modo contínuo? É um caso
particular desse fenômeno geral que caracteriza infelizmente o sistema tradicional de
educação e ensino. Do ponto de vista intelectual a escola impõe muito freqüentemente o
conhecimento pronto no lugar de encorajar a pesquisa: mas isso se percebe pouco porque os
alunos repetem o que aprenderam apenas para obter um rendimento positivo, sem que se
suspeite quantas atividades espontâneas ou de fecunda curiosidade foram sufocadas. Pelo
contrário, no domínio artístico normalmente nada substitui o que a pressão adulta ameaça
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destruir irremediavelmente, colocando em grande evidência a existência de um problema que


engloba todo nosso sistema usual de educação.

Eis porque é conveniente saudar como uma ação ao mesmo tempo necessária e libertadora
todas as tentativas que visam reintroduzir nas disciplinas escolares a vida estética, que a
lógica de uma educação baseada na autoridade intelectual e moral leva a eliminar totalmente
ou ao menos reduzir.

Mas, aqui novamente -- mais que em outros campos -- é necessário evitar a tentação que
ameaça cada vez que uma nova matéria é introduzida na escola: a educação artística deve ser,
antes de tudo, a educação da espontaneidade estética e da capacidade de criação cuja presença
é manifesta na criança pequena; e ela não pode, menos ainda que outras formas de educação,
se contentar com a transmissão e aceitação passiva de uma verdade ou de um ideal totalmente
elaborado: a beleza, como a verdade, somente tem valor quando recriada pelo sujeito que a
conquista.

Fonte: PIAGET, Jean. L'Education Artistique et la Psychologie de L'Enfant. in Art et


Education: recueil d'essais. Paris: Unesco, 1954. Pág. 22-23.

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