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Encontro marcado com a realidade

Julio Larroyd, Estudante

Diário Secreto de uma Secretária Bilíngue, parceria de Deborah


Finocchiaro com o paulista Vinicius Piedade, tem receita já conhecida:
personagem relata sua vida trágica a partir de uma perspectiva cômica.
A tônica do espetáculo é a ideia de mudança, seja ela fantasiada e
ansiada na forma dos apontamentos que a personagem faz em seu diário, seja
concreta e aterrorizante no fantasma da demissão que acaba se confirmando.
Apesar disso, é forte a presença da letargia que coloca o cotidiano dessa
secretária como enfadonho, de algo que se repete constantemente e outra vez.
Uma obra de arte aceita várias leituras, e se poderia virar o espetáculo ao
avesso, reescrevendo-o totalmente. Mas há algo ali que está além de todas
essas possibilidades de interpretação, que resgata a essência do teatro como
arte presente, viva.
Seja pela catarse, ou pela repulsa, a força do espetáculo está em sua
trama que oferece ao espectador a oportunidade de repensar a sua própria vida.
A protagonista se chama Marjori, reconhecida pela sua profissão, está presa a
uma mesa, a um emprego, a uma rotina, a uma vida insignificante da qual,
paradoxalmente, não deseja se livrar.
O desenrolar da história oferece indícios de mudança inevitável e expõe
a progressiva decadência de alguém que apostou todas as suas fichas em um
só plano − o profissional. No entanto seu sorriso e discurso quase maníaco
sustentam que tudo está bem, em plena ordem e nada de ruim vai acontecer.
No palco e na plateia o riso é farto, e nos tornamos cúmplices dessa
narrativa. Entrando nesse jogo de negação da realidade ocorre o encontro
sinistro entre a personagem e o espectador, e o que não está dado ali no palco
completamos com a nossa narrativa pessoal de tédio, monotonia e melancolia.
O maior desejo da protagonista é registrar sua história no diário, não como
ela aconteceu, mas como poderia ter acontecido, naturalmente com tudo dando
certo. Não é isso que se faz nas redes sociais, nas conversas dos bares? Não
somos nós como atores representando tipos sociais?
Sem cenografia elaborada, sem grandes recursos visuais, a peça se
converte em acontecimento contando com a essência do teatro − o ator, a
palavra e o espectador. Como centelha que surge do choque entre todos que
participam desse encontro único e singular, o Diário Secreto revela, como a
própria personagem diz, “o humano demasiado humano” que há nela e em nós.

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