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& direito
2002–2004
Gustavo Lins Ribeiro presidente
Antonio Carlos de Souza Lima vice-presidente
2004–2006
Miriam Pillar Grossi presidente
Peter Henry Fry vice-presidente
temas antropológicos
para estudos jurídicos
2006–2008
Luís Roberto Cardoso de Oliveira presidente
Roberto Kant de Lima vice-presidente
2008–2010
Carlos Alberto Caroso Soares presidente
Lia Zanotta Machado vice-presidente
apoio
1.
direito à diferença
Coordenação Adriana de Resende Barreto Vianna
Introdução ridas no bojo dos processos de descolonização, bem como a aguda
contestação promovida por diferentes movimentos sociais contribuí-
ram de maneira decisiva para pôr em questão não apenas o que antro-
a antropologia, as diferenças pólogos e antropólogas têm a dizer sobre as realidades sobre as quais
se debruçam, mas também as condições e a legitimidade de tais relatos.
e as desigualdades Trata-se, porém, de questionamentos que, longe de reduzir o escopo
da investigação antropológica, têm permitido ampliar a reflexão sobre
as implicações teóricas e políticas do “fazer etnográfico”.
Ao mesmo tempo que é recorrentemente identificada como “saber
colonial”, em razão tanto do contexto em que surgiu quanto das
condições históricas que viabilizaram seu desenvolvimento durante
certo tempo, a antropologia também pode ser pensada, de maneira
paradoxal, como um campo de conhecimento anticolonial, uma vez
que é capaz de subverter sistemas de classificação e hierarquização
naturalizados, e de uso corrente no senso comum, bem como de re-
velar o quanto esses sistemas são atravessados por relações de poder.
os debates sobre a diferença entre grupos, “culturas” e so- Nesse sentido, uma parte de sua contribuição, ao lado das demais
ciedades têm papel central na constituição da antropologia como ciências sociais, tem sido discutir os processos que possibilitam con-
disciplina. Afastando-se de explicações biologizantes e, em seu extre- verter diferenças de várias ordens em desigualdades. Como Peter Fry
mo, racistas sobre a natureza das diferenças sociais, a antropologia se chama a atenção em seu texto, diferenças, embora não impliquem
consolidou, ao longo do século xx, como uma espécie de saber sobre necessariamente desigualdade, são muitas vezes marcadas por ela.
a alteridade, cabendo-lhe desenvolver formas de compreensão dos Levando adiante o raciocínio, é quase impossível sancionar relações
distintos modos de vida, crenças e concepções sociais. claramente excludentes ou assimétricas, sem que estas sejam respal-
Esse enfoque, no entanto, não impediu que a própria disciplina dadas por desigualdades no plano das representações sociais.
e seus profissionais fossem alvo de críticas profundas sobre a di- Nesses termos, um dos trabalhos relevantes levados a cabo pela an-
mensão de poder constitutiva de todos os saberes autorizados (Asad, tropologia continua a ser o de evitar a reificação ou naturalização da
1973; Said, 2000). Consciente da parcialidade de suas verdades, sem- desigualdade como atributo inerente à diferença, chamando a atenção
pre marcadas pelas próprias condições de pesquisa, em especial na para os mecanismos e as artes sociais que impedem visualizar as con-
segunda metade do século xx, a disciplina se tornou mais e mais in- dições de sua produção. Por exemplo, a percepção da dimensão sócio-
comodada com relação à sua autoridade em descrever (e prescrever) -histórica de atributos como “sexo” ou “raça” permite situar de modo
modos de vida, relações sociais e visões de mundo. mais crítico os processos sociais que os instituem e fazem com que a
O incômodo não nasceu gratuitamente. Foi e continua a ser fruto eles sejam agregados valores específicos que contribuem, de maneira
de processos políticos mais amplos, em que os antropólogos, com e decisiva, na edificação de relações de desigualdade, entre as quais aque-
como “nativos”, tomam parte. As profundas alterações políticas ocor- las instituídas em discursos e atos racistas e sexistas (Stolcke, 1991).
minorias
peter fry
introdução
koppelman, Andrew
(1996) Antidiscrimination, Law and Social Equality. New Haven: Yale Univer-
sity Press.
minow, Martha
(1987) “Foreword [to the Supreme Court 1986 term]: Justice engendered”,
Harvard Law Review, vol. 101, Cambridge, 1987–8.
(1990) Making All the Difference: Inclusion, Exclusion, and American Law.
Ithaca: Cornell University Press.