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VINICIUS FRANCISCO LOPES DALANESI– NOTURNO

ORIENTADOR
Dr. José Adriano Fenerick

TEMA
Analisar a participação das tias baianas na cultura popular da cidade do Rio de Janeiro com
ênfase no aspecto religioso, musical (samba) e carnavalesco (criação dos ranchos) nas décadas
finais do século XIX e iniciais do XX (1850-1930).

RESUMO

INTRODUÇÃO, JUSTIFICATIVA E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.


O espaço encontrado no Rio de Janeiro no fim do século XIX e início do XX pela a cultura
popular era de um ambiente faustoso com uma gama variada de manifestações nos dias de
celebrações religiosas e consequentemente havia uma maior repressão por parte dos policiais
perante as entidades festivas principalmente as negras, porque foi um período de levantes,
revoltas e turbulências no governo regencial ocasionando numa vigilância e controle nos
eventos de escravos. O carnaval era o momento de grande festança e alegria, porém oferecia
oportunidade para o surgimento de outras organizações recreativas, uma vez que, os folguedos,
como por exemplo, o entrudo e os cordões eram enxergados como brincadeiras de baixo nível
cultural, sem organização, desta forma, era importante a criação de uma inovadora maneira de
jubilar carnaval. É nessa lacuna que a participação das tias e de toda a comunidade baiana vai
se fazer mais presente a partir da criação dos ranchos e do ritual em torno do samba, mas no dia
a dia também era observado a sua influência através das suas casas na organização de festas
com muita música, bebida e comida, no preparo do culto de candomblé e pelas ruas do Rio
vendendo quitutes e fantasias carnavalescasi

Oriundas das comunidades terreiros que irromperam a partir das confrarias religiosas
especificamente da Ordem Terceira do Rosário de Nossa Senhora das Portas do Carmo fundada
na Igreja de Nossa Senhora do Rosário do Pelourinho (negros de Angola) e da Irmandade de
Nossa Senhora da Boa Morte da igreja da Barroquinha (mulheres nagôs como Iyá Nassô ii) no
começo do século XIX as mães de santo ou as tias baianas tornaram estes espaços verdadeiros
pilares de identidade afro-brasileira e de formas de comportamento social e individual.iii A
chegada das ialorixásiv e da comunidade baiana a capital federal ainda gera controvérsia na
historiografia, variando de uma possível diáspora a uma quantidade bem mais tímida, pois o
tráfico interprovincial que procurou suprir o fim do tráfico internacional em 1850 trouxe

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escravos nordestinos de vários estados para o Rio, entretanto poucos permaneceram na cidade,
visto que, foram rumo as fazendas de café no Vale do Paraíba e não há certeza de quem eram
realmente baianosv. Todavia outras razões explicam a migração do povo da Bahia, como por
exemplo, pessoas livres em busca da manutenção do contato com seus entes escravizados e/ou
visando uma vida melhor, já que, o poderio econômico começava a ganhar cores no Sudeste e
perdê-las no Nordeste. Negros alforriados, islamizados, vendedores de ervas, adivinhos,
cantadores, ialorixás, babalorixás, artesãos revelam a pluralidade do grupo baiano que faz da
região da Saúdevi, Gamboa e Santo Cristo a primeira grande morada, mas entre 1903 e 1906 o
governo federal de Rodrigues Alves e municipal de Pereira Passos no afã de felicitar os
empresários nacionais e internacionais reformaram a cidade, a partir de obras para melhorar o
porto, alargar as ruas, rever questões higiênicas e habitacionais no Centro, resultando no
chamado “bota abaixo”, que foi a demolição de centenas de casas e cortiços sem planejamento
resultando na busca desorientada da população negra e pobre por novos lares e um imprevisível
desenho geográfico ampliado pelos jovens subúrbios, favelas e outras áreas centraisvii. De
acordo com Roberto Moura a preferência do povo baiano foi a região da Cidade Nova e da
Praça XI e foi neste espaço que as baianas conseguiram desenvolver redes de sociabilidade
possibilitando na interferência na cultura popular carioca, fruto duma liderança adquirida desde
os tempos da escravidão e consolidada no período de migrações para o Rio de Janeiro.

Para Moura de fato existiu uma coesão da comunidade baiana e que conseguiu na “Pequena
África”viii resistir a reforma burguesa no começo do século XX imposta pelo governo federal e
municipal possibilitando no derramamento dos seus costumes e influenciando de forma
contundente a cultura popular da cidade do povo carioca. Somente depois a partir das redes de
relacionamento forjadas pelas mães baianas que acabou proporcionando a circularidade cultural
e desta forma outros grupos sociais (a título de exemplo, sambistas dos morros e subúrbios,
africanos e tias não baianas) também tiveram uma interferência destacável na elaboração da
cultura popular do Rio, o samba carioca e a umbanda seriam alguns frutos desta mistura
cultural. Carolina Vianna Dantas revela que as ialorixás foram uma das responsáveis pela ideia
republicana de um Brasil hegemônico, mestiço e tolerante, ou seja, a sua influência, a sua
participação não está apenas dentro da comunidade, mas através desta política elas alcançam o
paísix.

Maria Clementina Cunha concorda com a importância das baianas, entretanto ele mostra
diferentemente de Moura, que outros grupos sociais interferiram com o mesmo grau de

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importância, logo, não existiu uma força maior no processo e além do mais a comunidade do
povo baiano não era coeso. Ideia similar tem Tiago Melo Gomes e acrescenta que a valorização
das mães de santo perpassa por três pontos relevantes: a liderança destas perante o seu grupo
principalmente no aspecto religioso, do samba ter nascido na casa da Tia Ciata e do rancho uma
inovação no jeito de brincar carnaval ter sido uma criação baiana, apesar dele não ter negado
tais façanhas ao pessoal da terra de São Salvador , critica a historiografia tradicional de exaltar
apenas um lado e visa a partir de uma nova análise histórica revelar a relevância das ialorixás,
mas ao mesmo tempo trazer outras vozes culturais e fragilizar argumentos até então
consolidados como verdades. Podemos perceber que os novos estudos buscam entender a
construção da cultura popular do Rio de Janeiro como algo mais amplo, um intercâmbio de
conjuntos e atores sociais.

Para ser possível a realização desta pesquisa julgo esse conjunto bibliográfico de extrema
importância, pois traz distintas opiniões acerca do tema e oferece uma boa análise em relação
ao recorte espacial e temporal que vai de 1850, (é a partir deste período que principia a vinda
constante de baianos ao Rio), até 1930, (porque depois dessa época os elementos culturais
estudados que são: o samba, a religião e os ranchos, já tiveram a primordial ou não contribuição
das tias e já são reconhecidos como costumes do carioca)x

A obra, Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro publicada em 1983 de Roberto Moura
traz em forma bem detalhada a vida das tias baianas em solo carioca servindo como base para
muitos trabalhos posteriores. Moura busca analisar a vinda e como as baianas desenvolveram
as suas vidas na época que o Rio de Janeiro estava imergido na política modernizadora do
governo federal de Rodrigues Alves e municipal de Pereira Passos que almejavam construir
uma “Europa Possível” respondendo os anseios da burguesia nacional e internacional. O autor
começa contextualizando o cenário político do país revelando o período transitório entre o
segundo reinado e o início da República, que resultou na manutenção dos privilégios da elite e
nas dificuldades do povo negro e pobre que busca algumas alternativas para sobreviver.
Ademais ele narra a chegada dos baianos que primeiramente foram morar na região da Saúde,
Gamboa e Santo Cristo e depois por causa das reformas de Alves e Passos escolhem a região
da Cidade Nova e Praça XI a famosa Pequena África lugar de resistência cultural e difusor da
cultura afro-brasileira mormente dos elementos principais desta pesquisa, ou seja, carnavalesco,
musical e religioso. É um trabalho que mistura história, música e literatura propondo uma
narrativa didática, informativa, ensaística e especulativa. Moura usa como fontes entrevistas,

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depoimentos e obras literárias principalmente de Lima Barreto para descrever regiões centrais
e do subúrbio.

No livro Ecos da Folia da historiadora Maria Clementina Pereira Cunha o objetivo principal é
entender a construção da ideia que fez transformar os préstitos de carnaval em símbolos
nacionais. Para chegar no resultado a autora propõe estudar o carnaval através da história social
da cultura sendo necessário retornar aos conflitos, as mudanças, ao diálogo dos grupos
heterogêneos que colaboraram para a festa de carnaval. Procurando entender algumas
concepções costumeiras e outras novas sobre a folia, Cunha revela que não tentou ousar nos
procedimentos de investigação, foi em arquivos, pesquisou relatos de viajantes, legislação,
manuscritos de polícia, da administração da cidade e de estatutos de agremiações carnavalescas,
crônicas, charges e ilustrações da pequena imprensa carioca. O capítulo que merece ênfase para
o projeto é o terceiro: “Mandirobas, pés espalhados e o ameno carnaval dos resedás”, pois o
foco é analisar as formas de brincar dos trabalhadores pobres (destaque para os baianos), do
Rio de Janeiro em meio ao diálogo e negociação com outras formas de tradições carnavalescas,
a título de exemplo, as Grandes Sociedades.

Na obra Estando com Mano Eloy com seu lindo terno azul, Alessandra Barbosa mostra que a
historiografia brasileira está buscando a ampliação das abordagens referentes as trajetórias e os
processos dos negros libertos no pós abolição resultando numa análise mais detalhada a fim de
compreender a complexa sociedade brasileira depois da Lei Áurea. A autora vai trabalhar com
a figura de Eloy Antero Dias ou simplesmente Mano Eloy, sambista, jongueiro, trabalhador do
porto para evidenciar que diferentes indivíduos da região central do Rio de Janeiro colaboraram
para a construção da cultura popular. Para analisar a vida do sambista Barbosa vai realizar um
diálogo entre a biografia e a história considerando a origem multifacetada do indivíduo e as
possíveis influências sociais e culturais que Eloy possa adquirir através do contexto.

A tese de doutorado Feitiço Decente de Carlos Sandroni tem como objetivo principal investigar
as transformações sofridas pelo samba carioca na virada dos anos de 1930. Para o autor este
estudo já foi realizado muitas vezes, entretanto nenhuma de forma sistemática e ele pretende
associar a sua pesquisa em torno de um dos elementos da música, as fórmulas rítmicas do
acompanhamento, um método que segundo Sandroni ocasionou em informações novas para
entender as mudanças do samba. O capítulo mais interessante para este projeto é o primeiro,
“Do lundu ao samba”, que deseja explicar alguns aspectos da música de salão do século XIX,
diretamente alusivos ao surgimento do samba como por exemplo o lundu, o maxixe, a polca-

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lundu e o tango brasileiro. Entendido o período antecessor do samba o autor vai nos propalar
as primeiras centelhas deste gênero musical no Rio de Janeiro no fim do XIX e começo do XX
a partir dos migrantes baianos com ênfase na figura de Tia Ciata e terminando em 1917 com o
lançamento da música “Pelo Telefone” de Donga e Mauro de Almeida considerado o primeiro
samba como canção. Sandroni tem dificuldade de enquadrar a sua obra, todavia como reserva
principalmente na primeira parte da tese a análise de peças de música impressa, Feitiço Decente,
seria um trabalho da musicologia. Além das peças musicais a obra possuí entrevistas de
sambistas, depoimentos, vídeos, artigos e periódicos da época analisada.

Em Subversão pelo riso da historiadora Rachel Soihet pretende-se entender a participação das
camadas populares do Rio de Janeiro no final do XIX e começo do XX nas festas religiosas e
carnavalescas. Para chegar a tal objetivo ela vai se pautar em alguns conceitos, como por
exemplo, cotidiano e cultura popular:

“Alguns conceitos têm balizado minha investigação. Destaco o de “cotidiano”,


numa perspectiva de realização de uma análise do dia-a-dia que busca a
recuperação de valores, sensações, concepções de justiça, formas de saber,
formas de expressão não só de políticos e intelectuais, mas também das pessoas
comuns. [...]. Embora fale de “cultura popular”, não a vejo isolada e, sim, em
constante interação com a cultura dominante”. (SOIHET,1998,16).

Ela revela que seu trabalho é movido pela história cultural, mas que se aventura no campo da
antropologia e dos folcloristas. Para que essa comunicação entre linhas diferentes do
conhecimento humano fosse sadia, a autora se pauta em Thompson que reconhece a importância
do aproveitamento de outras áreas além da história mormente quando o trabalho estuda uma
sociedade onde se predomina o costume, porém é necessário ter uma atitude crítica para não
encontrar problemas futuros. Por fim ela usa o conceito de circularidade culturalxi para mostrar
que o povo negro. (destaque para a comunidade baiana), conseguiu a partir de um diálogo e
adesões a traços culturais dominantes a ter um grande prestígio no carnaval. As fontes de Soihet
basicamente são entrevistas e depoimentos cedidos pelo Museu de Imagem e do Som (MIS).

Nem no morro e nem na cidade, José Adriano Fenerick procura estudar no seu trabalho
historiográfico amparado em outras áreas do conhecimento como por exemplo a antropologia,
o jornalismo e a música, as transformações enfrentadas pelo samba no período do surgimento
dos modernos meios de comunicação de massa no Brasil, ou melhor, entender a mudança
estética e sociocultural do samba gerada pelas forças modernizantes do capitalismo no início
do século XX. Para Fenerick o samba é entendido como um gênero musical criado pela
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modernidade brasileira, que ao transcorrer do processo se converteu em coisa para poder ser
vendido pela indústria do entretenimento e ao mesmo tempo passou a ser um elemento de
identidade brasileira resultado da política nacionalista do governo republicano. O autor usa
Hobsbawm para mostrar que o samba moderno é um produto de mercado realizado por músicos
e que no período sondado (1920/45) estava principiando o processo de profissionalização e de
organização em torna da luta por direitos autorais. Para a pesquisa acerca das tias baianas vai
ser importante analisar o capítulo II da obra de Fenerick, pois se pretende verificar as práticas
tradicionais do samba no contexto da modernização do Rio de Janeiro, concomitantemente em
que visa entender as relações do samba com o carnaval, portanto é um período importante para
observar a participação das ialorixás tanto na música como na folia de momo. Sobre a
metodologia adotada para o trabalho o autor revela que almejou fugir dos pressupostos teóricos
e/ou metodológicos como por exemplo o compromisso com a pureza do samba, ou o exagero
da demonstração da resistência cultural ou o preconceito ao abordar o samba quando este vira
um produto comercializável para propalar que o gênero musical é resultado dum país que ainda
caminhava para a modernização e ansiava por uma identidade nacional a partir de um bem
cultural atual produzido por diferentes alas da sociedade. O autor usa de diversas fontes e
referências bibliográficas, a título de exemplo ele usa músicas compostas no período estudado,
jornais e revistas da época, depoimentos de sambistas, antigos programas de rádio e teses
acadêmicas.

As obras, Guerreiras do samba de Helena Theodoro e Tias baianas que lavam, cozinham,
dançam, cantam, tocam e compõem: Um exame das relações de gênero no samba da Pequena
África do Rio de Janeiro na primeira metade do século XX de Rodrigo Cantos Savelli Gomes
e As tias baianas tomam conta do pedaço: Espaço e identidade cultural no Rio de Janeiro de
Mônica Pimenta Velloso revelam o protagonismo das mães baianas seja no aspecto religioso,
carnavalesco e musical. Theodoro acredita que a participação das tias e da sua comunidade
provocou uma ampliação cultural e um rearranjo nas formas de relacionamento dos diversos
setores da sociedade, somente com a reforma de Pereira Passos que a Pequena África perde a
centralidade e outras regiões do Rio começam a ter uma maior contribuição na transferência de
práticas e costumes. Gomes mostra que apesar de muitos pesquisadores afirmarem a
importância das tias baianas na construção da cultura popular carioca não há um
aprofundamento em relação a quem e como viviam essas mulheres e para o autor paira um
consenso sobre as matriarcas baianas no surgimento do samba no início do século XX que é de
administradoras do ritual, ou seja, elas protegem, abrigam, preparam a comida e a bebida,
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todavia a parte musical é destinada aos homens, mas no decorrer da pesquisa ele revela que as
baianas foram primordiais na elaboração do samba, transpassando a sua ajuda na cozinha, no
auxilio espiritual e no papel de anfitriãs para adentrar o espaço musical, seja como apreciadoras,
instrumentistas, compositoras e cantoras. Velloso externa que mesmo no cotidiano atarefado as
tias conseguiram mostrar os seus costumes e influências possibilitando na extensão de contatos
e oferecendo mecanismos alternativos de socialização contrariando a classe dominante, ou seja,
elas proveram para o Rio uma cultura popular que a elite não queria, mas que não foi capaz de
aboli-la.

Para além da casa da Tia Ciata: Outras experiências no universo cultural carioca, 1830-1930,
de Tiago de Melo Gomes e Conexões Rio-Bahia: Identidades e dinâmica cultural entre
trabalhadores, 1850-1888, de Gabriela dos Reis Sampaio buscam trazer à tona diferentes atores
na cultura popular da terra de São Sebastião e mostrar que apesar da evidente importância das
tias elas não forjaram um grupo central de influência e sim foram mais um conjunto de vários
que ajudaram na construção do cenário popular carioca entre o fim do XIX e começo do XX.
Gomes revela que um grupo de cronistas e historiadores desde o começo valorizaram o
protagonismo da comunidade baiana na edificação da cultura urbana pública do Rio de Janeiro
e que depois do trabalho de Roberto Moura consolidou-se. O autor então visa propalar que não
existiu uma centralidade, mas sim um diálogo entre turmas diferentes, para neste parecer, ele
vai questionar três pontos, (a liderança das mães baianas na Pequena África e em toda a cidade,
o samba e o carnaval), que serviram para cristalizar a ideia da importância fundamental das
ialorixás. Sampaio confia no pensamento da socialização, do intercâmbio de costumes entre
africanos, baianos e cariocas no fim do século XIX e começo do XX, provocado pelo tráfico
interprovincial estimulando um intenso movimento entre grupos de escravos, negros soltos e
pessoas buscando melhores oportunidades e momentos nas suas vidas.

Com os artigos, A reforma urbana e o subúrbio carioca na historiografia de Cristiane Regina


Miyasaka e A reforma Pereira Passos: Uma tentativa de integração urbana de André Nunes
Azevedo, pretendo analisar as mudanças do Rio de Janeiro no período da vinda e fixação da
ialorixás no centro da cidade e também entender se estas transformações foram importantes
para a fragmentação da influência das tias resultando na participação de outros grupos e
indivíduos na construção da cultura popular.

Assim sendo, podemos perceber que é um tema que traz interessantes informações e ajuda
através dos seus aspectos culturais, sociais e políticos a detalhar um período importante da

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história Brasil. Compreende-se que é um assunto muito analisado, porém sem um consenso em
relação a participação das tias, mães ou ialorixás baianas na cultura popular da cidade do Rio
de Janeiro no fim do XIX e começo do XX, devido talvez a paixão exposta nas palavras contidas
na obra, ou por uma falta de um aprofundamento na pesquisa resultando num destaque maior
para a visão que exalta o protagonismo destas senhoras. Então este trabalho almeja colaborar
sugerindo um debate entre diversas obras com diferentes ideias para assimilar as nuances da
atuação das matriarcas baianas e desta forma evidenciar uma nova opinião.

OBJETIVOS
Mostrar como se desenhou a participação das tias baianas na cultura popular urbana do Rio de
Janeiro nos finais do século XIX e começo do XX.

Independentemente do nível de participação houve por parte das tias uma liderança, portanto é
necessário entender como foi adquirida e como foi realizada.

Compreender

METODOLOGIA

Para entender como os autores abordam a questão da cultura popular pretendo usar a obra,
“Cultura Popular”: Revisitando um conceito historiográfico de Roger Chartier. O historiador
francês acredita que cultura popular é uma categoria erudita, pois os debates e os estudos são
feitos por pessoas fora do espaço público visando enquadrá-la a margem da cultura letrada. Ele
considera que popular não é caracterizar e/ou definir elementos tidos como populares, mas
analisá-los como são utilizados num determinado grupo ou sociedade. O historiador revela
(apesar da desconfortável possibilidade de uma simplificação severa), que há dois grandes
modelos de interpretação e descrição de cultura popular. O primeiro a enxerga como um sistema
simbólico autônomo que atua de maneira isenta e irredutível à cultura culta. A segunda é oposta
ao primeiro modelo, pois acredita nas relações de dominação que organizam o mundo social e,
por isto, a observa como dependente da cultura dos dominantes. Para reforçar o seu argumento,
Chartier cita o historiador Jean-Claude Passeron acerca dos problemas metodológicos dos dois
modelos:

“Da mesma forma que as cegueiras sociológicas do relativismo cultural, quando


aplicado às culturas populares, encorajam o populismo, para quem o sentido das
práticas populares cumpre-se integralmente na felicidade monádica da
autossuficiência simbólica, assim também a teoria da legitimidade cultural corre
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sempre o risco [...] de levar ao legitimismo, que, sob a forma extrema do


miserabilismo, não faz senão descontar, com um ar compungindo, as diferenças,
como se fossem carências, ou as alteridades como se fossem um menos-ser”.
(CHARTIER,1995,180).

Apesar dos métodos apresentados serem bem distintos não existe a certeza de uma tranquila
definição da cultura popular por parte dos pesquisadores, primeiro pelas deficiências mostradas
e segundo pois no decorrer de algumas obras é possível encontrar evidências dos dois
procedimentos sem a preocupação de problematiza-los. Portanto quando um historiador for
estudar a cultura popular a partir dos dois modelos conhecidos é preciso mostrar as práticas que
visam subestimar os elementos populares e as usadas contra os agentes dominantes, ou seja, o
caminho mis prudente não é escolher apenas um, mas os dois esquemas e intrica-los. Desta
forma, julgo esta obra necessária para desenvolver o meu objetivo de entender o porquê da
historiografia tradicional exaltar a participação das mães baianas e a nova fracionar esta
importância com outros atores sociais, pois acredito que além, a aplicação metodológica acerca
da cultura popular pelos pesquisadores pôde resultar nesta diferenciação do protagonismo das
ialorixás.

Para analisar as minhas fontes pretendo trabalhar com a história oral. Segundo a bacharelada
em história Verena Alberti a história oral é uma forma de recuperação do passado conforme
concebido pelos que viveram e é preciso levar o foco de interesse não para aquilo que os
documentos escritos podem dizer em relação ao tema, mas sim para os depoimentos daqueles
que participaram sobre o assunto pesquisadoxii. Então, apesar das minhas fontes não terem
vivenciado o período analisado elas são especialistas no assunto, podendo acrescentar com
informações honestas em relação a participação das tias baianas na cultura popular do Rio de
Janeiro e acima de tudo, visto que, eles presenciaram a mudança, contribuir para o meu objetivo
principal que é entender o motivo de uma historiografia exaltar e a outra reconhecer o valor,
mas apenas dividir a importância das mães de santo com os outros grupos construtores da
cultura popular urbana da até então capital do Brasil. De acordo com Alberti a história oral é
um resíduo de uma ação interativa, pois tanto o entrevistado quanto o entrevistador tentam
provocar ações com o intuito de confirmar, modificar e debater fatos acerca do tema. E a história
oral também resíduo de uma ação específica que é a de interpretar o passado tanto por parte do
entrevistado quanto pelo entrevistador resultando na especificidade deste método que é a
possibilidade de documentar as ações de outrora através da memória, esta entendida não como
um processo cognitivo de rememoração e esquecimento, e sim de transformação da ação em

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objeto de estudoxiii. Portanto, com base em Verena Alberti vejo como possível usar a história
oral como um método para estudar e produzir fontes históricas.

CRONOGRAMA

1° Bimestre 2° Bimestre 3° Bimestre 4° Bimestre 5° Bimestre 6° Bimestre


(Dez. – Jan.) (Fev.– Mar.) (Abr.– Mai.) (Jun. – Jul.) (Ago.– Set.) (Out– Nov.)

Releitura da X
bi Bibliografia

Escrita dos X X X
Capítulos

Reuniões com o X X X X X x
orrientador

Análise da fonte X X X

Leituras X
Complementares

Revisão Final X

FONTE
Entrevista com o Professor de História da rede pública do Rio de Janeiro Luiz Antônio Simas.
Entrevista com o Professor Doutor de História Contemporânea do Campus de Franca José
Adriano Fenerick.

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Entrevista com a Professora Doutora de História da América do Campus de Franca Tânia da


Costa Garcia.

BIBLIOGRAFIA
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tocam e compõem: um exame das relações de gênero no samba da Pequena África do
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SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. 2ªed, Rio de Janeiro: Mauad, 1998.

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i
Ver com mais ênfase nas obras A nação entre sambas, cordões e capoeiras nas primeiras décadas do século XX
de Carolina Vianna Dantas, A Subversão pelo riso: Estudos sobre o carnaval carioca da Belle Époque ao tempo de
Vargas de Rachel Soihet, As tias baianas tomam conta do pedaço: Espaço e identidade cultural no Rio de Janeiro
de Mônica Pimenta Velloso, Ecos da Folia: Uma história social do carnaval carioca entre 1880-1920 de Maria
Clementina Pereira Cunha e Para além da casa da Tia Ciata: Outras experiência no universo carioca, 1830-1930.
ii
Ela foi uma das fundadoras do candomblé da Barroquinha junto com Iá Acalá e Iá Adetá.
iii
Ver na obra Guerreiras do samba de Helena Theodoro, páginas 224-225.
iv
Ialorixás (mães de santo) será um outro termo utilizado para quando a obra citar as tias baianas.
v
Ver com mais detalhes na obra Conexões Rio-Bahia: Identidades e dinâmica cultural entre trabalhadores, 1850-
1888 de Gabriela dos Reis Sampaio.
vi
Um fato curioso sobre a Saúde encontrado no livro Histórias das ruas do Rio de Janeiro de Gerson Brasil é que
no dia 21 de agosto de 1898 ocorreu a assembleia de fundação do Clube de Regatas Vasco da Gama na sede do
Clube Dramático Filhos de Talma, no antigo 293, por determinação de Henrique Francisco Monteiro, Manoel
Teixeira Sousa Júnior, Luis Antônio Rodrigues e José Alexandre de Avelar Rodrigues e outros comerciários.
vii
Guerreiras do samba, p.227.
viii
Termo dado por Heitor dos Prazeres para designar a nova área habitada pelas tias baianas que era a Cidade
Nova e a Praça XI.
ix
Ver a obra: A nação entre sambas, cordões e capoeiras nas primeiras décadas do século XX de Carolina Vianna
Dantas.
x
Ver com mais detalhes na obra Feitiço Decente de Carlos Sandroni e Nem no morro e nem na cidade: As
transformações do samba e a indústria cultural, (1920-1945).
xi
Ela usa a definição de circularidade cultural dada por Carlo Ginzburg.
xii
Ver com mais detalhes no livro Manual de História Oral de Verena Alberti.
xiii
Verena Alberti tem este argumento apoiado no historiador alemão Peter Huttenberger. Ver a obra: O que
documenta a fonte oral? Possibilidades para além da construção do passado.

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