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AS FLORES NO CUME DO MONTE

Poemas

Clavio J. Jacinto

Venda proibida.

Material cultural gratuito para semear sensibilidade ao mundo.

1
Simbiose

Pelo esplendor daquela manhã, depois de uma penosa luta


consigo mesma, a minha alma transcendeu a noite.

Eram tantas vertentes de lagrimas, muitos regaços de dores, quais


campos de batalha, onde a humanidade jazia debaixo do império
das perturbações da vida.

O meu anelo era sentir o cálice das flores, já que dos jardins
colheria tais doçuras, em mantos de pétalas que cobririam a
minha tênue esperança

Como as mãos de um épico homem descalço, com as mãos feridas


por colher molhos de espinhos, aos montes foram esses gravetos,
o leito em que tarde adormeci.

Mas que a brisa do ártico soprou, e entre meus molhos colhidos,


os olhos abri, e vi os espinhos que restaram da noite inteira da
existência

Na vida, muitas vezes precisamos colher ramos cheios de


espinhos, e esperar que um dia, eles estejam cheios de rosas.

2
Cálice da Noite
Fantasias percorrem meus pensamentos
Lírios pulsantes no jardim da imaginação
Quais revoadas de agouros perdidos
Abatidos nas sobras desse mais frio chão
Os cais de meus lábios tremem
Os olhos refletem as cintilações dos gritos
Que de pardais na areia do tempo gemem
Nos náufragos póstumos suspiros do infinito
Que em palhas da vida em sais e leveduras
O salitre das pedras em costões que bracejam
Nos troféus das nuvens pálidas que trovejam
A base das sombras e sórdidas arquiteturas
No fim de cada fagulha, o ente do meu lampejo
Por trás do breu noturno mais ao longe vejo
Uma partícula de dó que cai e germina
Antes mesmo do porto do fôlego que termina
Das entranhas da terra que arde se tece
A folha e o tosco do sol que breve aquece
Acordo pra vida arvorando a alma que desperta
Pra por em sentido o meu coração mais alerta
Desse renascer que segue a aragem dos mares
Com séquitos que enxugam os meus pesares
Prossigo nessa terra de todas as tênues flores
A mais doce adormece no meu coração de dores.

3
A Sombra por trás do pessegueiro

Depois que as horas da manhã se desprenderam de meu sono,


despertei-me do barulho causado pelos ventos nas folhas secas e
os pássaros que cantavam. Tal susto eu tomei. Uma sombra que
percorria lentamente a terra devastada por trás de meu rosto,
que sustentava a minha alma na vida, entre as palhas quebradas e
meu corpo estendido, como um tronco sonâmbulo ás margens da
caudalosa noite que feneceu para sempre. E que sombra
nauseante, que invadia meus olhos, como neblinas que vestem
colinas, varrendo o verde da face da relva. Eu fui enganado pela
conspiração de meus sentimentos, como um insensato insensível,
imerso nas formas frontais de tais sombras que invadiam meu
rosto e penetravam em meus olhos. Eu que na fome me contorcia,
nas dores que por dentro se erguiam, no sufoco da falta de pão.
Cedo percebi que as sombras eram meus argueiros, pois na minha
frente, no aroma elegante, na frescura da abundancia, no gotejar
de belo, cheio de frutos adocicados, frente ao sol, estavam alguns
pessegueiros.

4
Porto da Alma

A dor se escoa por ofensas e rasgam a alma que sustenta o


respirar de todas as severas aflições

Por cruas laminas da vida, o pobre coração sofre como um


mendigo que anseia ser coberto por orvalhos, lagrimas das
estrelas.

No fundo do espírito estão naufragados aqueles momentos cruéis


que compõe os poemas de todas as nossas desconsolações

Quem pois nos ajuda a carregar essas algemas de gelo que


congelam o passado, e perpetuam os momentos difíceis da
existência?

Esses trapos memoriais ressoam como musica de rancores, ecos


estridentes das nevoas que obstruem a aurora de nossa felicidade

Precisamos de cura, as mortalhas de todos os sentimentos ruins


precisam ir embora, a lama precisa de limpeza para que o coração
enxergue a esperança.

Nenhuma ferida da alma pode ser fechada e cicatrizada, se antes


de tudo, o coração do homem ferido, não estiver completamente
aberto para o perdão

5
Ressurreição dos Sentimentos.

As flores nascem nos cais de novembro, na aragem do vento e na


seqüência dos meus olhos que observam as cores.

Os que gritam por socorro, são irmãos da terra, filhos do pó, nos
campos encerram seus arados, e eu apenas olho da janela de
minha consciência.

As mãos da nevoa sombria com sua gadanha percorre os vales


para ceifar as almas dessas galáxias verdejantes.

Uma constelação de crisântemos e celósias anseiam por fugir das


laminas cruéis, afiadas com o orgulho da morte

Quando vejo a marcha dessas nuvens armadas, ouço a sinfonia


dos trovões, eu corro assustado para dentro de mim.

Eu irei adormecer entre as chuvas de prata, mas antes preciso ir, o


violino das montanhas choram por cada alma tingida pelas cores
das estações.

As feridas da humanidade são chaga que me atormentam, e


preciso untá-las com o balsamo do amor, porque a cura do meu
coração, pode ser a ressurreição da esperança que já morreu nos
outros.

6
Estrelas

O que estás vendo meu coração? Acaso essas lâmpadas da noite


não alumiam a alma que vagueia em hábitos noturnos?

O silencio é um mistério, não sei para onde vai quando chegam


todos os prantos.

As colinas azuis são celeiros de minhas saudades celestiais, os rios


admiram o gotejar de cada pulso dos olhos assustados com o
mundo

As fabulas de cada reflexo das constelações no lago espelhado, são


fios condutores do espetáculo eterno que me seduz

Será que na minha partida desse pequeno mundo, não há um


lugar na imensidão desse universo infinito aos meus olhos?

Os cravos feridos e os sândalos abertos pelo punhal de aço


aderem ao sacrifício da dileta esperança do perpetuo provir

Os luminares são estrelas, que nos fundamentos dos sorrisos,


jogam para dentro de nossos olhos, a imagem esplendida da
alvura do maravilhoso

Não devemos desanimar na orla da noite, esse manto e teto que


protege o medo e sustenta o susto

Pelas frestas abertas do céu que permanecem após a tarde que


adormece no leito inquieto de todas as nossas intimas
inquietações

A s estrelas que insistem em brilhar no império da escuridão,


nunca serão ternamente admiráveis, se a tristeza e o desanimo
tomarem o timão da travessia desse oceano de sombras

7
Flores e Cinzas

Estou Angustiado nessas cinzas, as brasa se apagam sob meus pés,


a fumaça é a nevoa desse fim da noite, um quase fim do mundo,
uma catástrofe que devora as folhas dos campos.

O sol está vermelho, os grãos da terra seca liberam odores da


roça, estou envolvido nesses torrões, prostrado na face dessas
raízes queimadas, no chão do fogo morto, nos gravetos nus das
arvores tostadas.

Estéril é o vento e as sementes torradas, do pó a alma intrépida


dessa aridez, fomenta o abraço do deserto, eu choro.

Caem minhas lagrimas nesse chão duro, liberando o petrichor e


perfurando o intimo desse apocalipse, barro de Adão. Germina
meus choros sólidos, em explosões de cores de sonhos, o
desabrochar das flores, a primavera da esperança escondida no
meu coração

8
Grata Noite e Preces

Nas pálidas paredes do muro de minha vida

Vou escrevendo meus sentimentos mais errantes

Como se os dias fossem feitos de papel velho

E a vida fosse feita de tantas letras douradas

As palavras pregadas nesses confins de horizontes

Como luzes da aurora em nuvens descarriladas

Os labores dos contos da minha jornada nobre

Registros das epopéias de minhas caminhadas

Apenas eu e Deus, nesse vale atravessando,

Colhendo as rosas que a vida perene me tece

Na pressa de ver as lembranças tão boas voando

No fim da noite esqueço, é inicio da grata prece

9
Estações da vida

As estações pintam as folhas das arvores

As nevoas escondem a doçura das paisagens

Mesmo o ermo recebe as flores da primavera

Os campos recebem as chuvas de verão

A relva verde receber o frescor do orvalho

O cume da face do cansado recebe a brisa do mar

O perfume dos lírios repousa no frescor da aurora

Os frutos na alma da doçura amadurecem no pomar

O ar é um rio que escoa para os pulmões

As estrelas brilham no berço no imenso noturno

Os pássaros apresentam na tarde, breve sinfonia

Cada raio da lua ensaia o brilho de um novo dia

Da essência do silencio dos pinheiros após as chuvas

Das cores avermelhadas das nuvens do entardecer

As folhas quais cálices de cores mais variadas

Do breu suspenso que tinge estrelas no anoitecer

10
Oh grandeza que destila a pura alegria do belo

Na simplicidade das coisas que a vida tece no firmamento

Quando a alma pulsa no amor que tece o singelo

Posso eu amar na paciência de meus tormentos?

Das cordas de cores que as pétalas nutrem as asas belas

Que do céu se estampa reais anelos desse meu querer

Folga minha esperança e a paz que brota de dentro dela

A fé confirma a vida ensina a ser e convida a ver.

Pois quando as luzes desse espetáculo se apagam

Nos montes quais adormecem o fluir de todas as cores

Meu coração alegre aplaude as artes que encerram

Preparada para outra eterna e bem maiores.

11
(Anseios Vitais)
I-
Cravado no meu coração estão todas as saudades, como cravos de
primavera e pregos de ranchos perdidos nas colinas verdejantes
nas ondulações existenciais
II-
Nas cestas dessas neblinas, quais renovos de certas estações que
ressuscitam as rosas depois que elas hibernam no mistério da
natureza ferida pelos arados dos famintos.
III-
Não posso fugir de tais evidencias que fazem minha alma sofrer
de um grande anelo e imensa vontade de atravessar as montanhas
cósmicas.
IV-
Toda minha vida tem sido escrita dessas tinturas de esperanças
que florescem nesses trajetos em que meus olhos repousam
quando o coração está cansado
V-
A vida tem suaves flores de alegrias e chuvas torrenciais de
aflições, mas em tudo isso, que Deus me dê à sabedoria para viver
a vida nas aflições para que eu mesmo não perpetue as aflições
para viver a vida.

12
Príncipe

Lá está ele, o príncipe das campinas verdejante, com flores entre


os dedos, cantando nas nuvens de aromas refrescantes das
florestas

Que dizes príncipe dos campos silvestres? Pois minha alma está
pobre de palavras, e deseja ouvir dos brandos lábios a voz da
sabedoria.

Assim vos digo: Que as lagrimas de um homem que chora de


verdade, ferido na sua sensibilidade, são jóias que nascem do
coração coroado de esperança.

13
Anelos do Coração

Que meu coração não seja claustro do orgulho

Mas que meu arrependimento seja um tumulo para esse pecado


tão vil

Que meu coração não acolha a hipocrisia

Mas que acorde em cada manhã bendita, dessa tão grande


salvação em completa dependência do Senhor.

Que meu coração não se apegue aos apelos do meu ego.

Mas que Deus me dê às forças para desprender-me desse gigante


egoísta: eu mesmo

Que meu coração não seja refugio de desejos profanos

Mas que pela cruz do Salvador, na triunfante e gloriosa


ressurreição do Salvador, olhar para as janelas da eternidade,
para perceber a insignificância das coisas supérfluas e
passageiras

Que meu coração seja um paraíso sem serpentes, um vale sem


ídolos, que seja um Getsemani de humildade, porque chorando
pelas minhas misérias, receba o consolo divino

14
Espelhos

Vi minhas lagrimas no espelho da vida, nuvens de eternas


montanhas, floridas de tantas saudades passageiras, jardim de
meus consolos e sorrisos. Ah meu Deus, a vida pegou carona com
os relâmpagos!

Fui arrastado por gemidos do meu coração, as ancoras dessa alma


naufragada nos esquecimentos de minhas ternuras, nessas
feridas untadas pelo orvalho polvilhado na face de minhas
agonias.

Nos sonhos pintei as cores de um arco-íris noturno, chuvas desses


lamentos que das nevoas de meus gritos, sucumbe meu coração,
flutuando nos perfumes dessa primavera de pétalas machucadas.

Sei que dos montes dessas andanças solitárias, cruzei o limiar de


todas as letras, para escrever meus sentimentos, mas na solidão
da alma, pousei na relva, para tornar-me réu, prisão perpetua;
diante de vossos olhos...

15
As Flores no Cume do Monte

A lição das pequenas flores que nascem no cume das montanhas é


que elas podem ser belas em si mesmas, no propósito singular de
serem elas mesmas, sem se importarem coma presença dos olhos
alheios...

Elas não precisam do aplauso dos homens, não precisam da


admiração dos sensíveis, elas apenas precisam da terra, pois a
efemeridade do belo as torna simples...

E que diria se, o céu está aberto á elas, assim como o universo é o
berço de cada estrela que brilha, com variação, porém no silencio,
cintilam para adornar a noite... (?)

Assim, as flores no cume das montanhas, pétalas que mãos


invisíveis teceram, na solidão da primavera, não precisam de teus
aplausos nem de tuas admirações...

A lição das pequenas flores nas montanhas é que elas na essência


da simplicidade, conseguem mergulhar nas profundezas da vida, e
escrevem em cores reais, que: ainda que ninguém as admirem,
elas seguem a vida solitária pois nasceram para ser a glória do
criador...

Assim seja cada homem que nascendo para ser santo, ainda que
desprezado, segue pelo caminho solitário, pois nada mais importa
para ele, a não ser viver para a glória de Deus.

16
Borboletas Adormecidas

Caiu a tarde atrás da montanha, chega a noite em lutos dos


sonhos, na folha perfumada do eucalipto adormece a borboleta. O
céu está estrelado, os insetos cantam e o orvalho cai sobre o
capim. Que frescor vem dessa brisa do mar! E esse cheiro das
ervas do campo, que o sopro dos ventos liberta dos grilhões das
flores! Vai minha alma, por esse encanto da vida, pois com a
borboleta meu coração adormece, até que a estrela da alva nos
desperte para o incêndio da nova aurora...

17
A Dança

Eu danço quando as lagrimas cantam, não importa se as


estranhas dessa dor sacodem a minha alma, eu canto quando as
lagrimas dança no rosto, não me importo com as
desconsiderações, porque a travessia da noite é apenas uma
jornada e não uma estação perene.

18
Labirinto

Liberto-me dos labirintos de meus sonhos, como perolas em coroa


de monarca, depois do sacrifício de todas as dores, fardos de
todas as amarguras. O passado pode as vezes ser cruel como todas
as laminas, pesado como são todos os grilhões, intimo como as
algemas. Mas ao ouvir a doce voz de um clamor por trás das
pedras do jardim, uma rocha, onde a libação de meus medos foi
espargida. Havia pedaços de trevas dentro de mim, grãos de
iniqüidades e sementes de impiedade. Mas que em prantos e
ventos de agonia, subindo eu por vias de clamores, no farrapo de
minha alma, entreguei-me

19
Estrelas no Canto do Jardim

Dos brados da noite uma centelha

Onde as flores de teus olhos são sentinelas

A princesa de meus castelos de orvalho

Quando perdia a conta das estrelas cadentes

O tempo passa entre nossas noites

Como as ondas de uma praia com areias brancas

O lírio de teus sorrisos cabem dentro das lembranças

Quando sorrimos um ao outro em paixão eterna

Mas que das beiras desse cálice do tempo

Colide os anos entre nossas vidas na beira

Num ai, retomamos a força pra viver juntos

Como se a linha tênue da eternidade ficasse aqui

Aperta minha mão e promete nunca me deixar

Porque quando partir para as campinas do amanhã

Colherei mil rosas e jasmins, em dançando

Esperar-te-ei de braços abertos.

20
Colapso de Todas as Primaveras

Sentei-me a beira do caminho do amanhecer

Como relva que ainda respira a madrugada dos sonhos

Quem pode acudir minhas ânsias solitárias?

Nada mais se derrama, senão as lagrimas de verão

Pois em prantos de chuvas perdidas

Nas variações de um eco nas florestas

Onde pássaros tristes bradam a profecia das tempestades

Uma sinfonia que abrem feridas vem a mim

Eu choro a tristeza vaza no pó das dores

Os espantalhos se assustam e fogem

As flores do campo desabrocham infinitamente

No pendulo onde minha alma canta para outro dia

21
Ilusões

“Às vezes a tentação, nada mais é do que a falsa ilusão de que


podemos ser felizes sem a presença de Deus, ou apenas o legado
do engano de que podemos viver independente dele

A vida, porém prega essa falácia, sustentamos nosso deserto, por


crer que podemos ser primavera sem as chuvas, ou que podemos
ser montanha ao erguer nosso despenhadeiro

Assim o egoísmo nada mais do que aquele desejo de ser liberto de


um Paraíso que foi concedido pela graça, mas seguirmos livres
para os atormentados campos de batalhas de nossas desgraças"

22
Caminho de Pedras

Na face e nas entranhas da colina

Entre a calmaria e o tumulto do cais

Os céus tocam as orlas do céu

O vestido que se desprende das rosas

O caminho do lume e a erva rasteira

Os pedregais adormecidos na terra

Nas entranhas das colinas azuis

O chão recebe as folhas mais secas

Luar do campo que aquece o vento

Cama das feras e da minha alma tão ferida

23
Sorrisos

(Um) sorriso depois das aflições

Uma glória depois (da) escuridão

Pois na esperança (que) prevalece

O amor é capaz (de) fortalecer a vida

(uma) lagrima que verte da dor

Um suspiro plantado (nas) circunstancias

No brado de todos os meus (ais) eu vejo

Não há tempestades (que) prevalecem pra sempre

24
Armagedom

Queria um minuto de silencio


Para que as portas de abrissem nas tempestades
As nevoas cobririam meus aposentos interiores
E as águas, meus ruis faciais das guerras
Dos meus pobres sentimentos feridos
Minhas saudades e lembranças
Ânsias do gemido do coração
Aperto de delicias em breves sorrisos
Pelas lembranças de um tempo antigo
As marcas na alma são crateras
Pois depois de longas batalhas de saudades
O sentimento suspira e se levanta
Sobrevivente desse armagedom emocional

25
Verão

Despertou-me a vida hoje


As pedras brutas não são sepulcros
Não há regras nesse silencio celeste
O cálice da manhã derramou o frescor
Vejo ao longe, a colina das relvas
A lama das chuvas de verão
O orvalho irrigou as flores do campo
O dia esta aceso e incandescente
Os lábios da noite sopraram as brisas
O jardim está borbulhando de lírios e borboletas
Há aromas e perfumes nesse pomar de sonhos
E eu, sóbrio e admirado
Com o coração singelo pergunto:
Onde ficam as fontes misteriosas
Que saciam a sede de perfumes de todas as flores?

26
Marcha dos Inocentes

Um mundo dentro do mundo e crianças


Choram a dor da fome, lamentações
Filhos do gelo e órfãos da sensibilidade

São pequenas almas tristes


Náufragos no oceano de tanta pobreza
Riscados das paginas da sensibilidade

Há leitos de lagrimas sem rugas


Olhos estrelados sem esperança
Sonhos grandes de pequenas crianças

Um exercito de famintos marcham


Peregrinos de incertezas futuras
Gritos sob as hostes de almas embrutecidas

Inocentes marcham pra morte


Enquanto a fome da avareza devora a existência...

27
Grito Sonoro

Quando as nuvens escondem a dor noturna

Essas lamentações feitas de orvalhos frios

Num tempo que balança no pendulo da dor

As ondas de densas e fortes calamidades

Quando a noite esconde as cores das flores

As recamaras das estrelas em vastidões de ecos

Gritos soníferos e um coração partido

Nas caladas de breves ausências nupciais

Tudo se rebela como folhas sem destino

Num caustico e mais violento desatino

Nesse tormento a beira lúdica do cais

Num torvelinho de tristes gemidos

De chagas abertas por quem do mundo ferido

Cala-se para libertar-se de todos víscidos ais.

28
A Perola

A ostra ferida
Sofre a dor
Angustia profunda
Amargo das ânsias
No fundo do mar
A solidão vigorosa
O bramido das ondas
Sepulcro das tempestades
Lá no repouso do choro
Leito das ancoras
Fonte de todas lagrimas
Ali no fundo do mar
Alicerce de todos os "ais"
Nascem as perolas...

29
Alarido

O vento carrega as nuvens paras os montes

Nevoas que escorrem pela relva da noite

Realce do mistério do amanhecer do cais

Como fugas de tentáculos de severas saudades

Que apertam a alma na agonia

Até que caia sem vida nessa lapide fria

Os pássaros cantos e me dá outros calafrios

Como nas vésperas de ano velho, depois que passam

Nas caladas do tempo que se quebram na praia da vida

Quais vias de rostos enrugados, leitos das lágrimas

Que apertam o coração nessa lapide fria

Até que caiam sombras das lembranças de tal agonia

Quando os póstumos círculos desse vicio se quebra

Num retumbante sopro do coração cansado

Quando as lamentações empoçam na rua solitária

Nas calamidades de todos os faustos desejos

Redobro meus colossais gritos de vozes na lamuria

Para fazer ressoar do peito a frieza dessas carpiduras.

30
Alma Presente

Que dessa lapide eu choro em vão

Pois minha alma triste vai e labora

Nas recamaras distintas além rincões

Aonde distinta vida vai embora

Nas correrias eternais em mim mansões

Por vaus em peregrinações afora

O frio calamitoso que se vá avante

Na rosa que num campo desflora

A ida que se foi num etéreo instante

Na despedida que meu ser ri e chora

Da escada de Jacó ao terceiro piso

Minha alma recolhida, nos recônditos de cima

Nas salas palacianas do Paraíso.

31
Ártico Outono

Quando em estigmas o amor sangrar


Como as águas das nascentes que flui
Nas vertentes internas de uma terra ferida
Num beco de cicatrizes sem uma saída

Quando a noite da alma clamar


Nas entranhas do destino de nossas dores
As lagrimas que acalenta a chaga dolorida
Nessas veredas que desembocam na vida

Quando em brevidades eu tanto sonhar


Nos céus que desabam em dissabores
Teria eu nesses dotes da lagrimas paridas
Um poema de laços apertados e faias perdidas

Pois que de flores e arbustos, a sorte a clamar


Nos jardins desses ventos em lençóis de cores
Vi as lareiras de fogos as chamas atrevidas
Devorando as noites com a chama aquecida

Entre espinhos de aço que dançam á rasgar


O pensamento dessas pétalas que faz réu as flores
Nas colunas do carvalho e musgos na pedra batida
Fugi dos tonéis de perfume, a primavera banida

Como na manhã que em silencio faz despertar


Os insetos que cantaram a noite de horrores
Eu pergunto para minha alma doce e querida
Para onde levam as veredas que desembocam na vida?

32
Farpas e Espinhos

Sou sombra do meu gemido


Alegrias farpadas em logradouros de tristezas
A real fantasia de primaveras
As mais belas flores desabrocham na tristeza

Sou gemido nessa sombra escarpada


Nas encostas do destino que conduz
A simbiose das estrelas na noite congelada
Pois das densas trevas, as estrelas doam luz

Quanto mais lamento, mais despedaço corações


Quanto mais choro menos ainda irei cantarolar
É melhor seguir em preces sinfônicas nas aflições
Pois nos espinhos o coração não encontra um lar

Quem me dera sublime ser o espetáculo da aurora


Quando nas entranhas a luz expulsa a noite fria
Pois em glorias luminárias, raios a mandam embora
De clamores vagos, enche a sebe flora de alegria

Sou sombra e gemido da solidão vazia


Ermo que atenua a lapide onde uma dor jaz
Pois depois de morrer as primeiras aflições
A vida dá tantas outras, pra sofrer ainda mais

Mas no encalço de tantas frações falecidas no amor


O fogo purifica a esperança em dissabores
Porque do forno da vida todas mascaras se destroem
Na nossa alma desabrocha eterna flores

Para tantas farpas que na vida caíram ao lado


O gotejar das lagrimas e nós embalsamadas
Percebemos que nosso coração estava sendo lapidado
E nossas lagrimas em perfumes destiladas.

33
Humano

Foi naquela tarde de céu azul


No tempo que os sonhos eram tranqüilos
As nuvens vinham correndo do norte
As folhas dançavam com a poeira da estrada

Entre as montanhas e o verde da mata


Vi a minha alma escondida nas flores tímidas
Aquelas que vivem a beira das trilhas
Pintadas pela arte do destino de nossa vida

Encontrei teus olhos nesse limiar da tarde


Antes que as chuvas chegassem com furor
Para regar a relva pisada por meus pés feridos
No beco onde a porta se abre á noite

Não irei morrer de frio hoje


Teu respirar me aquecerá na tempestade
Pois se me aceitas como sulco de estações
Permitirei que a minha esperança seja repartida

Então seremos um só ser vivendo


Entre seixos de córregos e a simples perenidade
Deixarem de ser nesse caminho, um só homem
E juntos, eu contigo me chamarei humanidade.

34
Azul Imaginário

Escorregam as nuvens nesse azul celestial


Nesse oceano cósmico de chuvas torrenciais
Parque aquático onde inundam minhas lagrimas
Jardim de trovões e palco de relâmpagos

Eu choro na agonia desse amor


Nas brechas do vazamento dessas tristezas
Cisternas de tantos lutos e campo de tantas lutas
Beco que esconde o véu dos desanimados

A vida passa como um pássaro livre


Dançando nos grilhões do tempo escorregadio
As vezes ouço as desconsolações dos dias passados
Mas fico atento, porque a esperança não deve morrer

35
Funerais Noturnos

Calei-me perante o fim do dia

Como as nuvens que escondem o sol

A noite esconde a luz do amanhecer

A madrugada é guardião do extremo silencio

As estrelas se misturam como orvalho

Por trás das flâmulas noturnas

Escondem-se o colorido da natureza

De um casebre, tapera envolta em (ais)

Pude ver crianças infelizes

Pela janela, vi uma luz acesa

O cheiro da noite molhada em sereno

Soluços de carpideiras e outros seres funerais

Um morto jazia entre as velas acesas

Quebrou-se o vítreo espetáculo nupcial

Mais um homem sem alma (jaz)

Entre as paredes das lamentações mais escuras

Outra alma foi embora

Deixando em alguns rastros memoriais

Pois outrora em pungentes aflições vivia

Mas agora no leito de palha e flores

Dorme em paz

36
Campos de Inverno

Os Campos estão cheios de geada e os ventos tocam nas folhas das


arvores

Bucólico dia de inverno, estação dos regatos entorpecidos pelo


hálito polar

Como ficam os aromas orficos dessa musica de saudosa


lembrança?

Nada além das pradarias e flores que secaram o horizonte da


tarde

Num ordinário silencio que se quebra num momento acomodado

As colinas estão brancas de um néctar e faces endurecidas de


torpor

As pedras cheias de musgos, são repousos de libélulas e vendavais

Num tácito monte onde as rosas se refazem entre abismos


colossais

Haverá para essa saudade que atormenta e é tão pungente?

Pois não se semeia mais as matizes de um por de sol e nascentes

As águas das lagrimas fluem de um rosto rústico e comovente

Para atenuar mais ainda os cântaros de anseios quebrados

De certa forma, que se acenda o fogo, luminária que aquece

Pois do frio vento, o norte em ecos que me estremece

Vai minhas palavras como mendigos, uma alma esfarrapada

37
Por sendas sem samaritanos e sacerdotes na via congelada

Desperta a sombra do calabouço de todos os tormentos

Porque da flora colorida meu apego é bem mais que afinidades

Das represas dos gritos e lamurias que desabam no momento

Fujo pra outra estão, outono de minha felicidade.

38
Clamor dos Sonhos

Quando em voz pungente minha alma clamar


Por doçuras que do outono fluírem
Estarei eu nas margens de meus sonhos
Buscarei o amor para firmar meus anseios

Quando desse épico caminho da vida vier


As tristes calmas de uma tempestade falida
Verei entre as montanhas o arco-iris
O deslize do véu colorido da minha vida

Há nos jardins esse tom amarelo de girassóis


Pequenos ramos de acácias em tardes douradas
Pois que e a vida treme nos brancos lençóis
Das nuvens puras que velam o percurso da estrada

Assim que desperta esse lindo sonho orquestrado


Pois no leito da noite, naufrago em pensamentos
Que depois de viver a rotina em perpétuos ciclos
Meu coração retumba em vislumbres de cada momento

39
Mendigo Noturno

Vertentes de amor surgem do coração bondoso


Nas vésperas das canções de um pobre mendigo
Que procura afetos nos regatos de sorrisos artificiais
Pobres homens, autômatos de gelo eletrônico

O mendigo clama aos sete ventos do jardim polar


Das neves nupciais de virtudes desfalecidas
Como naves de nevoas que flutuam nas montanhas
O celeiro de sentimentos está vazio

Na beira do caminho dos ventos ele clama


Com os lábios trêmulos, lamenta tão rudes friezas
E que buscando nos palácios não encontrou virtudes
Na própria humildade de ser achou todas as riquezas

40
Aurora da Eternidade

Vi entre as montanhas (as névoas)

Ordinárias vestes do céu na terra

Manto branco que se dilui nas (Manhãs)

Como estrelas mergulhadas no infinito

Flores silvestres banham-se de vento

Libertando aromas da doce tranqüilidade

Como borboletas invisíveis (flutuantes)

Chegam ao santuário de meu olfato

A erva verde tosquiada pelo (orvalho)

É mar de brinquedo em lindas gotas douradas

O sol transforma cada perola das manhãs

Em cristais de jóias resplandecentes (ensolaradas)

Quem me dera substanciar todos (Os sonhos)

Na erva cidreira a minha alma (adormece)

O mel da rocha em frescor de muitas doçuras

Meu sentimento transportado aos montes

Lá do outeiro, vejo o silencio da aurora

No desabrochar de forte e perene (Felicidade)

41
Pra sempre se findou a espada e (A guerra)

Estado eterno (Novos Céus e Nova Terra)

Dou graças a Deus e a misericórdia brilha

Como a jóia mais preciosa incrustada no (coração)

Eu grito, louvo choro (Pulo de alegria)

No céu pra sempre minha voz de (Gratidão)

42
Ensaios de Beleza Infinita

Quem pode medir a grandeza das coisas pequenas? Acaso uma


rosa que desabrocha, não inspira um poeta? Os limites do pensar
não alcançam a magnitude do esplêndido, o breve estagio da
existência humana não pode contar todas as estrelas, nem contar
os grãos de areia das praias.

Até mesmo os lírios e as flores silvestres que surgem nos campos


fogem da nossa admiração, o universo canta, mas nunca ouvimos
o começo e o fim da sinfonia. Nosso pensar não é eterno e nem
infinito, somos caroneiros da brevidade peregrinos das nevoas.

Captamos a luz da manhã num efeito de arrebatamento da alma, e


depois a vida segue como uma rotina cíclica, inquebrável, como
um arco-íris que não pode ser retorcido. Só quando o vigor se
escoa pelos fluxos de nossas rugas, o espelho traduz a nossa
imagem em brevidades.

43
Vale das Lagrimas

Se uma rosa pudesse enxergar

Estaria disposta também a falar

Porque a existência exige tantas perguntas

Ela perguntaria á outra rosa

Qual a prova de que esse mundo é

Um vale de aflições?

A resposta mais obvia então seria:

As crianças não nascem sorrindo

44
Névoas do Amanhecer

As nevoas escondem o céu


Pintam o amanhecer de tristeza
Os pássaros não cantam
As frases adormecem no silencio

O jugo da dor é tão frio


Cortes na alma suspensa
Espinhos de flores desterradas
No vale de bronze do sofrimento

Como são turvas as águas do oceano


Parece a alma do gelo
Um suspiro e dois lamentos
A vida segue seu destino

Nós que cremos na esperança bendita


Riscamos folhas de capim limão
Moemos os cravos e os pregos
As lagrimas irrigam o orvalho

Porque o homem nasceu no mundo


Para viver feliz e sofrer
O sofrimento é o tributo que pagamos
Para viver num mundo de pecado

45
Caim

"A vida na terra é uma breve peregrinação entre dois momentos


de nudez" (John Stott)

O ódio: uma espada mortal no coração


A inveja: um veneno que arruína a moral
O orgulho: um trapo sagaz mo espírito humano
As vertentes dessa violência flamejam no horror

O Sangue: Sacia a fome famigerada do ódio


A insensibilidade: perverte os afetos
A mentira: a mãe de todas as ilusões
Caim moribundo na própria alma endurecida

A ignorância: o braço da estupidez


A corrupção: o rio que polui a civilização
O homem: fantoche dos próprios vícios e instintos
Pobre Abel! a sombra prematura da inocência

Pelas pisadas dos restos mortais do amor


Nasce o ódio e prevalece nos corações fracos
A historia do desastre é o homicídio constante
Por fim o tempo nos mata ...

46
Permanência no Momento

O grande evento da vida é o agora, é nele que temos a


possibilidade de viver o que podemos viver e sentir as coisas a
nossa volta, fazer esse momento valer a pena, pois o amanhã
ainda é nosso insondável mistério.

O grande evento da vida é o agora, eis o momento em que você


pode sentir o amor, a compaixão, deixar que desabrochem todas
as virtudes adormecidas, eis o momento de declarar amor a
quem você ama, de estender as mãos a quem precisa pois o
amanhã está ainda longe de nossos sentimentos

O grande evento da vida é esse instante que você respira, essa é a


abertura do tempo para você, olhe para as possibilidades ao seu
alcance, ame, converse, faça o tempo valer a pena, e além de tudo,
olhe para o evangelho, sinta-se amado por Deus e então agora
mesmo cultive o desejo de amar ainda mais a Ele.

47
Fogo na Janela da Vida

As nevoas se dissiparam

O céu está azul

As montanhas entrelaçadas de esmeraldas

Ainda restam os ventos do norte

Trazendo as nuvens carregadas de orvalho límpido

Eu da janela da solidão contemplo as flores

É inverno dentro de mim

Coração congela-se até o fim do mundo

E, depende do calor de um verdadeiro afeto

Para continuar vivo

Porque as estrelas se acendem no céu

Mas os homens apagam todas as esperanças da vida

Por tudo o que há sagrado

Apaguem as chamas do Armagedom

Porque ainda restam os infantes que sonham

O dia em que as ruas da vida, sejam eternamente

Primavera...

48
Lapidação

Que os campos da minha alma não acolham sementes de vícios,


mas apenas um campo a florescer para todas as virtudes

Que meu coração não se apegue ao mundanismo, todavia que


possa eu, pela graça do consolador, desapegar-se completamente
de todas as vaidades existenciais

Que meu coração não seja claustro do ódio, mas seja, porém, o
jazigo dos sentimentos perversos que contaminam um coração
aberto ao frescor do amor

Que meu coração não seja cancioneiro de boatos falsos e menos


ainda das canções da mentira, mas seja firme em reter a verdade
e permanecer nos jardins da equidade

Que meu coração não se apegue a escuridão e spiritual, todavia,


que Cristo resplandeça com todo o poder lapidar cada vez mais a
minha vida interior.

49
Caminho dos Pesares.

Penso, apesar dos pesares

Que sentido o peso da vida chegando

Nos caminhos desertos e nas pegadas

Que nos sulcos da estrada vagando

Nas entranhas das encostas sagradas

Desse destino que vou desvendando

Que nos coloca em vias das almas

Nas entranhas do silencio e a calma

Divina paz que nos acalma

Mesmo pensando em todos pesares

Que do vento das chuvas e temporais

Que se apegam do susto, meu cais

Porém entre pedras sigo andando

Com vestes de âmbar e alparcas envelhecidas

Tão desgastadas quanto à própria vida

No renovo de videiras á brotarem nos regaços

No cheiro das águas e do almíscar e palácios

Da minha alma solicita nas alegrias e dores

Penso em amar mais além, apesar dos pesares.

50
As Fendas do Coração

Não lamentes

Coração ferido

Não lamentes, nem por um momento

Porque nas rachaduras

Ali onde nascem as frestas de uma ferida

Onde as rachaduras aparecem depois da ofensa

Como nas rochas das montanhas

Que recebem as sementes que desabrocham em fores

O coração ferido também pode receber

As sementes que possibilitam o frutificar

Do perdão e da esperança

51
O Tempo

Dos ventos dessa rotina que deveras vem

Num inicio de um dia que está chegando

Procuras ver qual será tua santa ocupação

Eis que a vida é tão breve e está findando

Que as horas passam e nem sequer percebes

Assim os minutos perdem nessa lida salutar

Porque será inútil o tempo que se perde

Momentos que partem, nunca mais irão voltar

É que a vida não é passageira, vós sois quem passais

Como a nuvem que no céu escorrega e desaparece

Dá valor ao oportuno e ser sensível ainda mais

Pois é impossível resgatar o teu tempo que perece

Assim como é a prudência que nos ensina a viver

Buscai a importância escondida em cada novo dia

Assim o tempo que se ganha, não pode se perder

Mas quanto ao senso, vive o agora com sabedoria.

52
(Posca)

Depois de um beijo rasgado de um fio de fel

No rosto, a em face de afiada falsa afeição

No calor de um fogo sem amor e paixão

As laminas famintas transpassaram a carne

Um fio de pedra e o madeiro

Um cálice de vinagre, o vinho azedo

No seio da tarde, o breu assombro, que medo!

Os lábios ressequidos no vento ardido

A posca em esponja oceano de absinto

O cimbalo dos trovões e o estremecer da terra

Os espíritos opostos dançando na algazarra

Nas mãos ensangüentadas tão tensa guerra

Sorvendo o amargo, tangendo suores

As chagas cantam em orquestrais ostracas

Horripilantes fios de pregos como fios de facas

A carne rasgada no madeiro de todos os horrores

E a dor nessa infâmia tão mais nefasta

Que do alivio cada vez mais se afasta

Num abraço ao sofrimento, lamenta um alto brado

Depois do ultimo suspiro á entrega o consumado.

53
Fraco

Sou frágil vida que reconhece a falência

Dependo de ti e ainda mais me apego

Que nas fraquezas, que Deus me sustenta

Pois sem i Senhor, vem meu desassossego

Oh, Deus, me envolve com tua proteção

Pois em fraqueza ainda posso a ti clamar

Sou infante guiado por tuas santas mãos

No teu cuidado, ouça-me, vem me ajudar

Tu és meu mover, viver e meu respirar

O teu Santo Espírito é que me fortalece

Se não me amparas nas minhas fraquezas

Minha vida cai na miséria e o coração perece

54
Dificuldades

Enxergamos as dificuldades

Com sabedoria

Pois elas podem ser oportunidades

De transformação interior

Não te incomodes

Com o silencio do entardecer,

E se a tua vida

Torna-se noite escura,

Conte as estrelas...

55
Flores

Que belas flores nascem e não são cativas

Livres brilham como estrelas sem noite nas colinas

Doam perfumes ao vento e néctar as abelhas

Suas cores são a alma da primavera

Quando singelas, adornam os campos

Nutrem a inspiração do homem de coração sensível

As flores são cânticos silenciosos da criação

Matizes remanescentes das Estações do Eden

Não há poema que atinja o ápice

Da beleza da criação

Então apenas admiramos em profundidade

As coisas belas pela via silenciosa da contemplação

56

A fé fortalece o coração

Dá repouso aos sentimentos

Olhai para as montanhas distantes

Todo o firmamento permanece

Porque a providencia divina prevalece

Os fundamentos da vida estão firmes

A esperança verdadeira se estabelece

Olhai para os lírios do campo

Disse Aquele que promete a eternidade

Assim, descanse em fé, Cristo é a verdade.

57
Deserto Interior

Descampado está meu coração


Desertos sem nevoas, montanha sem chuvas
As ordinárias branduras de todas as ausências
Dos póstumos noturnos dessas incandescências

Do fortuito brado de trovões do clamor pungente


Das forças dos sopros desses grãos secos flutuantes
Em hélices de poeiras na secura efervescência
Nas planícies do barro sem molde, terra de convalescença

Do intrépido vôo das nuvens sem fluidos náuticos


Nesse coração sequioso e vazio e hálito caustico
Nas planuras desse infinito que traz todas as desavenças
Presto a fervura da alma afável, a luminescência

Quisera eu, das noites dessas mais conspícuas torrentes


Bradar por fontes no frescor de anseios mais ardentes
Pudesse por todos os gritos, na aura afaz de toda a clemência
Achar em Ti todas as fontes que jorram vossas condescendências

Assim no conforto de tantos mananciais balsâmicos


Fugiria eu desse funéreo deserto tão mordente
Do vale sarcástico e de tantos medos irônicos e tirânicos
Descansaria nos braços paternos de um Deus clemente

58
Jornada

O fim de cada jornada é um sonho realizado


E cada vez que alguém ficar feliz com minhas palavras
Terei vivido uma vida pelos outros

Que a vida é uma jornada, duvidas não tenho mais


Cada sonho em fazer alguém melhor, por ações e palavras
É um caminho que percorremos e outras conquistas.

No final de todas esses eventos silenciosos


Onde nossas mãos teceram flores do destino
No final, chegamos na perene primavera

59
Espinhos

Nascem espinhos no vale da amargura


Sopram nevoas nas curvas do pessimismo
Nos desertos cáusticos nascem a loucura
As pedras agudas assistem o caminho da ira
Nascem abrolhos nos pêndulos da intolerância
É sempre inverno nos vales onde repousam o ódio
Mas no cume mais elevado onde tocam as estrelas
Há uma só esperança: o desabrochar eterno do perdão

60
Rosas e Campinas

Não sou rosa que desabrocha nos montes

Nem sol que desponta em fogo no horizonte

Sou apenas breve mortal

Que contempla a rosa, quando o sol desperta

Não sou vento que sopra nas estações do norte

Nem mar que beija as areias das praias do sul

Sou apenas uma alma que passa e vagueia naufragando

nas nuvens tingidas de luminescências do entardecer

61
Dracmas

Perdi uma moeda entre as frestas

Perdi as frestas entre os olhos

Acendi uma candeia e chorei

A luz clareia e olhei

As frestas entre os afrescos das sombras

Sem janelas e a casa do pó

Nas rachaduras do chão ferido

A moeda em um canto perdido

A luz que tanto me alumia

Nas frestas da terra fria

Achei a perda e a moeda que se escondia

Que de meus olhos tanto fugia

Com ela, achei uma virtude que me convinha

A paciência que a tanto tempo já não tinha.

62
Eu e a flor

A pequena flor disse-me que eu era apenas

Um passageiro ao seu encontro

Disse eu a pequena flor que ela era a primavera solitária

Na estada de minhas peregrinações

Ela vai de encontro ao fim de todas as coisas

E eu de encontro a ressurreição....

63
(Alma das Cicatrizes)

(I)

Pelas fendas feridas da alma

Podem vazar todas as virtudes de um moribundo

Mas quando o perdão fecha as fendas das ofensas

A cura deixa a cicatriz como sulco

Onde a semente do amor germina

Para que no alivio da consciência

Desabroche a primavera da felicidade

(II)

Quem me dera que todos os homens fossem como o mar

Que na quebra de cada onda na praia

No constante romper com os confrontos da areia

Ainda assim consegue manter-se um mar por inteiro.

64
Cálices de Papel

Mundo negligente em chamas

Agonia dos suplícios da Babilônia

Que vozes de algozes ouço

A infâmia ferindo os mercadores

Desde que a falácia do ego reinou

A razão deificou a si mesma

Erguei-se e caiu infestada de desavenças

Nos opróbrios de monumentos quebrados

Outrora erguidos no reinado da falência.

Quanto vinho tóxico sorveu o mundo

Nas entranhas rebeldes das pústulas da ignorância

Com a escuridão reflete o anelo das maldições

Da fumaça estonteante da terra ao céu

Rompeu-se nas barganhas da triste alma

Esses contaminados odres de papel

65
Caminhos Sem Lagrimas

Quando as flores desabrocharem no jardim do coração

Quem me dará as rosas para colorir os ermos da vida?

Passo pelas ruas da humanidade desse inverno colossal

Sem prismas e arco-íris, pois jazem na areia sedentária

Sem comportas, as estações se prendem nos sonhos

Os palácios da noite não tangem as cordas do orvalho

Que infértil deserto, esses cantões se amor

Monturos de aços retorcidos dos gritos dos canhões

Eu me arrependo da falta de esperança e coragem

Percorri tantos caminhos de mãos vazias

Poderia ter semeado muito mais sementes amor

Mas não quis, porque não tinhas lagrimas para regar....

66
O Perfumista

Que as flores possam transcender as estações

Não apenas as cores racionais, mas intima sensibilidade

A dimensão do belo é além das imagens

Muito além da noite, adormece a aurora

Mas o despertar é o germinar da paciente espera

Não há primaveras sem terras feridas pelo frio

Das tempestades caem furiosas águas celestes

Mas o campo não é irrigado se elas não caírem

Assim as flores transcendem as campinas

Elas inspiram os poetas

São pintadas em aquarelas

E o perfumista não se conforma com a beleza delas

E aprisiona em cristais os seus perfumes

67
Autor: Clavio J. Jacinto

claviojj@gmail.com

www.poestetica.blogspot.com

(48)99812-3759

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