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A frase acima, dita pelo ex-presidente Lula em 2009 na cúpula das nações
africanas, fez parte daquilo que norteou sua política externa. Buscar ampliar o comércio
com nações periféricas aproveitando-se dos seus ganhos com a alta de preços de
produtos como petróleo, levou Lula a peregrinar por África e Oriente Médio como
poucos presidentes no mundo. Destas saudações da diplomacia brasileira a nações
ditatoriais, ou “não democráticas”, bilhões em obras para empreiteiras brasileiras como
OAS e Odebrecht surgiram. Outros bilhões, porém, saíram do Brasil para financiar
obras e serviços.
Ao todo, US$ 11,9 bilhões foram desembolsados apenas pelo BNDES, o banco
público responsável por realizar estes financiamentos. Segundo apontou O Globo, tais
empréstimos causaram prejuízo anual de R$ 1,1 bilhão ao trabalhador, uma vez que são
realizados com recursos do FAT, um fundo financiado com parte dos salários de cada
trabalhador brasileiro.
A prática de financiar países em situações ditatoriais – bem verdade – não é uma
exclusividade brasileira. A ausência de critérios objetivos para se determinar certos
financiamentos, por outro lado, é algo particularmente tupiniquim. A falta de
transparência nos contratos (alguns, como os do porto de Mariel em Cuba, realizados
em condições completamente atípicas), é motivo mais do que suficiente para que se
questione a motivação pela qual estes financiamentos são aprovados. Revelações
indicando lobby do ex-presidente Lula a favor de empreiteiras, como as reveladas na 14ª
fase da Operação Lava Jato, temperam ainda mais as suspeitas.
Muito mais do que enaltecer ditaduras com palavras, o governo brasileiro vem há
algum tempo empenhando-se para dar suporte a elas, tudo às custas de alguns bilhões
subtraídos do bolso do trabalhador. Abaixo, selecionamos 6 exemplos destes.
1. Angola
Uma das mais antigas ditaduras do planeta, Angola tem sido um dos principais
alvos do esforço brasileiro em estreitar relações com países africanos. Entre 2002 e
2012, o comércio entre ambos os países cresceu 416%, chegando a exportações
brasileiras de US$ 1,3 bilhão e importações de US$ 1,2 bilhão. Entre os principais
produtos importados pelo Brasil, o petróleo angolano lidera.
Junto de Cuba, Angola é um dos dois países em que o BNDES tornou secretos os
contratos. As condições de financiamento, taxas de juros e prazos permanecem
desconhecidas. As relações brasileiras com o país são também alvo de investigadores da
Polícia Federal na Operação Lava Jato, uma vez US$ 50 milhões teriam sido doados por
empresas brasileiras a campanhas no país. O valor, segundo apurou a Polícia Federal,
teria sido pago a João Santana, marqueteiro do PT e do presidente angolano.
2. Cuba
E não apenas de financiar obras vive a relação brasileira com tais países. De Cuba,
o Brasil importa serviços – através do ‘Mais Médicos’. Pagando cerca de R$ 10 mil por
médico cubano, o país terceiriza a mão de obra do sistema de saúde brasileiro, gerando
recursos volumosos para o regime dos irmãos Castro, que fica com até 70% dos valores
recebidos pelos profissionais. Nesta modalidade, o Brasil já repassou R$ 2,8 bilhões à
ilha caribenha.
3. Zimbabue
Ditador mais velho do mundo, com 92 anos, Mugabe é um dos envolvidos com o
escândalo do Panamá Papers, que envolve documentos da empresa Mossack Fonseca,
responsável por ajudar inúmeras pessoas ao redor do mundo a ocultar patrimônio (a
empresa é também citada na Operação Triplo X da Lava Jato, uma vez que os
apartamentos vizinhos ao Triplex da OAS no Guarujá estão em nomes de uma off-shore
criada pela empresa).
4. Venezuela
Do metrô da capital Caracas à ponte que liga o país ao Brasil, as obras financiadas
pelo BNDES são inúmeras. Em 2009, no auge do preço do petróleo, as empreiteiras
brasileiras chegaram a ter contratos de US$ 20 bilhões no país. Segundo o Tribunal de
Contas da União, boa parte desses contratos registraram inúmeras irregularidades.
5. Congo
Perdoar dívidas do país significou, entre outras coisas, libera-lo para novos
empréstimos, em bancos como o próprio BNDES.
Com a riqueza do petróleo, que torna ambos o 1º e o 3º maior PIB per capita do
continente respectivamente, ambos os países são propícios para se fazer negócios.
Citada na 14ª fase da Operação lava jato (a Operação Triplo X), a Guiné
Equatorial é mais conhecida por aqui pela sua participação no carnaval carioca, quando
financiou o desfile da Beija-Flor.
Em uma tacada só, perdoando US$ 900 milhões em dívidas de diversos países
africanos, a presidente Dilma anistiou ambos os países de suas dívidas. Não mais do que
algumas semanas depois do ocorrido, o filho do ditador Teodorín Obiang foi visto em
Paris, onde teria gasto em uma única noite na casa de leilões Christie’s duas vezes mais
do que a dívida perdoada pelo governo brasileiro.