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ROCHEFORT, M.

Regionalização e rede urbana

REGIONALIZAÇÃO E REDE URBANA1

Michel Rochefort*

A idéia central desta palestra é discutir um pouco trativa. Para outros, a regionalização tem um sentido
a relação entre Geografia e Planejamento, e, nesse cam- mais amplo. Regionalização é um esforço para diminuir
po muito discutido da regionalização, ver um pouco as as disparidades entre as regiões e tentar reequilibrar o
distorções entre a análise geográfica dos problemas de espaço nacional, seja do ponto de vista do fator de de-
desequilíbrios regionais e as tentativas, muitas vezes senvolvimento, seja do ponto de vista ligado à distribui-
sem sucesso, do planejamento para reduzir esses ção da renda, etc.
desequilíbrios regionais. Essa intenção de regionalizar, no sentido de
Redução das disparidades regionais e reequilibrar o espaço, é ligada ao fato de que os espaços
descentralização inter-regional das indústrias têm aqui de um país em desenvolvimento são espaços muito dese-
o mesmo significado de regionalização. quilibrados do ponto de vista da localização dos fatores de
De um modo geral, em quase todos os países desenvolvimento e da localização da renda familiar.
existem serviços de planejamento que são denomina- A intenção é boa, porém os resultados alcança-
dos de setor de regionalização. São os esforços de in- dos são muito precários. É muito difícil dizer se é bom
tervenção do poder público na organização do espaço ou não.
nacional. Há 20 ou 25 anos se fala em regionalização Mesmo com um programa, os desequilíbrios re-
na Argentina. Após a independência dos países da Áfri- gionais ficam muito agudos, e por isso não sei dizer se
ca Tropical, por volta de 1960, também se começou a sem o programa seria melhor. O problema não foi re-
falar de regionalização na Costa do Marfim e no Senegal. solvido e os desequilíbrios regionais ainda são impor-
Há muito tempo o Brasil tem uma política de tantes. Geram ainda duas coisas do ponto de vista teó-
descentralização inter-regional das indústrias, apesar de rico que podem parecer prejudiciais ao desenvolvimen-
os resultados não terem sido importantes. to do país em zonas de pouco desenvolvimento das
Assim, nota-se que o problema da regionalização atividades de produção do setor moderno no espaço e
é bastante evidente nos países em desenvolvimento, sobretudo zonas de pobreza, como no Nordeste do Brasil
no setor de planejamento. Entretanto, a palavra e no Norte da Costa do Marfim, para tentar comparar
regionalização é utilizada com sentido diferente segun- países diferentes.
do os serviços. Então, quando se trata de ver de um lado a inten-
Para alguns planejadores, regionalização é so- ção do planejamento e do outro lado as dificuldades de
mente uma reorganização administrativa do espaço na- realização do geógrafo pode-se perguntar: será que
cional. Quando se considera que a divisão antiga não analisando a realidade, as condições, as causas e as-
está boa, procura-se fazer uma reorganização adminis- pectos dos desequilíbrios regionais nós vamos encon-

1
publicada originalmente em 1982 no número 4 do Caderno Prudentino de Geografia.
* Professor do Instituto de Geografia da Universidade de Paris I – Pantheon - Sorbonne.

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trar uma explicação da diferença entre a intenção e a Eu quero analisar os problemas de


realização do planejamento? desequilíbrios regionais e de tentativas de resolver es-
Bem, podemos perguntar se o planejamento ti- ses problemas no sistema capitalista, visto que estou
nha realmente intenção de modificar as disparidades dentro do sistema capitalista.
regionais ou se na verdade o programa era só para fa- Dentro do sistema, vamos ver qual o papel do
lar. Isto é, uma análise mais teórica do papel do planejamento e quais são as dificuldades e possibilida-
planejamento territorial nos países do Terceiro Mundo des, os interesses do planejamento quando se trata do
em geral e talvez em todos os países do mundo. problema da regionalização.
Vamos tentar ver um pouco os aspectos e os me- O segundo fator bastante importante dos
canismos que vão gerar essas diferenças regionais nos desequilíbrios regionais é o problema da localização do
países em desenvolvimento. Podemos dizer que há três terciário superior, quer dizer, as atividades que repre-
critérios que podem ser estudados para uma primeira des- sentam as atividades de decisão que é toda a parte pri-
crição dos desequilíbrios regionais e para ver a oposição vada do funcionamento do sistema (sic). Quer sejam as
entre as regiões de aspectos econômicos diferentes. empresas de produção, os bancos, os serviços, etc.
Tem a repartição da indústria, que em todos os E vamos verificar que esse terciário superior ain-
países, mas muito mais em países em desenvolvimen- da é concentrado numa região, talvez numa cidade e
to, é uma repartição que vai mostrar uma concentração nos arredores de uma cidade que tenha a indústria.
da indústria em alguns pontos do espaço nacional, mui- Assim, vai haver uma diferença bastante impor-
to mais em uma região desenvolvida que em outras, tante entre as zonas que vão concentrar todas as
então, quaisquer que sejam as diferenças nos países atividades de decisão, todo esse terciário superior, e o
desenvolvidos, é mais aguda esta oposição nos países resto do espaço “comandado”, quer dizer, o espaço que
em desenvolvimento. recebe as decisões da região onde se encontram e se
Nós podemos aceitar como primeira linha de aná- concentram as atividades de decisão.
lise, que a presença da indústria é um fator de multipli- O terceiro critério que vai permitir visualizar es-
cação dos empregos, o que não quer dizer fator de de- ses desequilíbrios regionais são os fatores de reparti-
senvolvimento, mas que a localização de uma indústria ção da renda, naturalmente da renda média, porque eu
vai provocar alguns efeitos multiplicadores sobre as vou dizer que a região de concentração da indústria ou
outras atividades de uma região. Então, desse ponto de de concentração do terciário superior é uma região de
vista, podemos aceitar que a presença da indústria é ricos, o que seria um erro fundamental porque elas não
um fator de aumento do número de empregos, de cres- funcionam sem os pobres.
cimento das atividades terciárias para satisfazer as ne- Dentro desse conjunto geral de pobreza, quer di-
cessidades da nova população e também, de uma cer- zer, de uma percentagem importante da população que
ta maneira, um fator de crescimento e modificação da é de baixa renda, tem o problema de localização dos
economia agrícola por razões de concentração de mer- ricos. Naturalmente, a maior parte das categorias de
cados de produtos alimentícios em cidades que vão cres- população de maior renda vai se encontrar também nas
cer por razões do crescimento industrial. regiões onde a concentração da indústria e do terciário
Essa repartição desigual das indústrias nos paí- superior se dão. Portanto, um desequilíbrio social entre
ses em desenvolvimento é um fator de desequilíbrio re- regiões que têm a concentração de indústrias e as que
gional porque é um fator de concentração de outras não têm.
atividades na zona em que se concentra a indústria. E, naturalmente, vai aparecer um quarto critério
Um outro critério que vai permitir ver essa oposi- que vai mostrar essa diferença entre as regiões, esses
ção entre as regiões é o critério do chamado terciário desequilíbrios regionais, que é o critério de serviços não
superior, quer dizer, de toda parte das atividades do terciário chamado superior do ponto de vista das
terciárias que são as atividades de comando das sedes chamadas atividades de decisões, mas dos serviços de
das empresas industriais, e das empresas comerciais nível superior, dos serviços de luxo.
ou sedes de direção dos bancos, que são todas as pro- Os serviços mais sofisticados que são todos os
fissões ligadas a essa atividade de decisão muito im- serviços de saúde mais especializados, todos os ser-
portante no país, em que há uma privatização do poder viços de instrução de alto nível, de pesquisa, serviços
de decisão, o que naturalmente ocorre dentro do siste- comerciais de luxo, de produtos de grande raridade,
ma de propriedade particular do poder de decisão. etc.
Todo sistema de planificação chamado socialista Então, como é que vamos ver o espaço desses
é bastante diferente, pois o papel do Estado se encon- países em desenvolvimento utilizando esses quatro cri-
tra em todos os espaços. térios para fazer uma diferenciação entre as regiões e

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ver então esses chamados desequilíbrios regionais ou dizer, o poder francês e o poder intermediário do povo
disparidades regionais? da Costa do Marfim, onde se encontrava afinal de con-
Naturalmente há países bastante simples e paí- tas toda a parte rica da população (quer seja a popula-
ses bastante complicados. O Brasil é um país bastante ção francesa, quer seja a população intermediária entre
complicado porque a evolução do Brasil foge do mode- os franceses) e o resto do espaço onde se encontra-
lo simples de países chamados em desenvolvimento vam os serviços.
por razões várias. Para facilitar a demonstração vamos Fora dessa área central existiam somente as re-
falar primeiro das coisas simples. E as coisas simples giões diferentes em função do tipo de economia primá-
se colocam nos países que podemos chamar de sub- ria. Nesta região de economia primária existia um certo
desenvolvidos, onde as tentativas de desenvolvimento comércio em função do fato de que a produção estava
estão começando somente agora, como é o caso dos ligada ao café e ao cacau, o que permitia um certo au-
países da África Tropical, por razões da história desses mento do nível de vida do camponês africano, apesar
países. dos preços baixos pagos por esses produtos.
Tomando o exemplo da Costa do Marfim, vamos Após 1960, inicia-se a segunda fase da econo-
ver um modelo quase perfeito do ponto de vista da de- mia desses países. E isso com a industrialização ligada
monstração dos desequilíbrios regionais e dos tipos de à aplicação de capitais vindos de fora. É uma industria-
regiões e da titulação entre os tipos de regiões para um lização ligada ao capital francês, ao capital americano,
funcionamento da economia do país dentro do espaço para utilizar as condições maiores de rentabilidade da
nacional. Porque é um país que até 1960 era de econo- região. Essa indústria vai ser de utilização de matéria
mia totalmente chamada de exportação de produtos de prima local. Uma certa indústria de utilização do poder
base. Era uma colônia da França. Era interesse da Fran- de consumo, porque, mesmo pobre, tem um certo po-
ça manter uma economia de exportação de produtos der de consumo de sapatos, de tecidos, etc.
brutos a serviço da indústria e naturalmente da concen- Existe também uma indústria interessante de se
tração do valor agregado na França com relação aos estudar que é a indústria que utiliza uma matéria-prima
produtos brutos que vinham da Costa do Marfim. que vem de fora e que vai exportar um produto acaba-
Esse país era de exportação de produtos bru- do, que está lá somente por razões de custo muito bai-
tos, quer sejam produtos de economia agrícola, quer xo de mão-de-obra. Em função dessa industrialização
sejam produtos do subsolo. vai começar a mobilização da força de trabalho.
E para o modelo, e isso que é importante, tinha Isto porque cerca de 90% da produção industrial
só um porto equipado para a concentração, drenagem vão se localizar em Abidjam e arredores. Abidjam é o
e exportação desses produtos. único local que tem condições de funcionamento de uma
Então como se organiza o espaço? indústria moderna e onde já estão instalados os ban-
De uma maneira bastante simples. De um lado a cos, os profissionais técnicos, os transportes modernos,
zona de exportação, que é o porto, quer dizer, a cidade água, eletricidade, etc. Abidjam é a única região a ofe-
de Abidjam. Em Abidjam chegavam os produtos brutos recer estas condições. Na região de Abidjam, a indús-
para a exportação. E esses produtos dependiam de tria vai se localizar a 10, 15, 20 e 30 quilômetros, utili-
muitos fatores do meio natural, do tipo de população. zando algumas pequenas cidades.
Tinham algumas zonas de produção de café, zonas de Assim, vai haver uma drenagem da força de tra-
produção de café e cacau, zonas de produção de algo- balho de outras regiões para a área de Abidjam, princi-
dão, zonas de produção de óleo de palmeira, etc. palmente do norte.
Havia uma diferenciação regional e havia uma São migrações muito amplas que vão fazer com
zona ao norte onde existiam poucas atividades de ex- que a população, ainda em economia de subsistência,
portação e sobretudo uma sobrevivência de uma eco- em extrema pobreza, comece a ser atraída pelas possi-
nomia de agricultura de subsistência. bilidades de emprego de Abidjam.
Havia ainda zonas de culturas tradicionais das Assim, vai aparecer o modelo atual, com uma
aldeias da África com agricultura comunitária para a região de concentração do setor moderno industrial,
sobrevivência do grupo humano. Então o sistema regio- terciário, e capital política da Costa do Marfim, uma re-
nal estava bastante claro nesta época: de um lado o gião de economia primária que são as velhas regiões
porto e a grande cidade onde se concentravam não as de drenagem da economia de exportação de produtos
indústrias, porque não havia indústrias, mas as de base que ainda restam, isto porque à industrializa-
atividades comerciais de exportação, sedes das repre- ção se soma a permanência da economia de exporta-
sentações das grandes empresas de “import - export”, ção de produtos brutos, e uma região um pouco desliga-
onde se encontravam os bancos e o poder público, quer da do funcionamento global da economia moderna, que

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é a região de auto-subsistência, a que se soma uma re- dominante e o resto do espaço dominado por esses paí-
gião de reserva de força de trabalho para a região cen- ses. Então, esta economia de exportação de produtos
tral. brutos em vários países não se organizou em função de
E assim vamos ter um modelo quase perfeito, de um único porto. Mas se organizou em várias regiões, cada
simples funcionamento de uma economia moderna ca- uma com um porto. Deu-se assim uma certa divisão do
pitalista, dominada, de um país em desenvolvimento com espaço nacional, que era uma divisão ligada à estratégia
a influência do passado de subdesenvolvimento. Vamos e ao funcionamento do sistema de exportação de produ-
ver o funcionamento de uma região central onde há a tos de base, mas havia uma certa divisão funcional por-
concentração do setor moderno, da indústria, do terciário que cada região tinha um porto, a concentração do co-
superior, das riquezas, e demais regiões de economia mércio, os bancos, as regiões interiores como zonas de
primária de produtos brutos, com algumas diferenças produção de produtos para a exportação, as zonas de
em função do tipo da economia primária e da possibili- mão de obra, a zona de produção de produtos necessá-
dade de a população produtiva guardar uma parte do rios para a agricultura de exportação, etc.
valor global da produção, e a famosa região de reserva No Brasil, pode-se ver no Nordeste esta organi-
de mão de obra. E, para finalizar, há a região Sudeste, zação de vários portos, com as várias zonas de produ-
que foi até há pouco tempo uma área de reserva de ção de cana-de-açúcar, na época da cana de açúcar e,
espaço. atrás destas zonas, áreas de produção de alimentos,
Então, temos uma divisão do espaço que é a es- áreas de pastagens (bois), etc.
trutura do espaço ao serviço de funcionamento do sis- Assim vamos ter o resultado dessa primeira fase
tema econômico. Podemos dizer que é a tradução den- que podemos chamar de fase de subdesenvolvimento,
tro do espaço, da estrutura do sistema econômico e que de exportação de produtos de base, resultado da pri-
alguns vão chamar de estratégia. meira organização do espaço ligado à primeira divisão
Estratégia do capitalismo é uma palavra um pou- internacional do trabalho. Vamos ter um espaço não com
co sem sentido. É o resultado das várias estratégias uma região central e várias regiões, ou de economia de
dos empresários que são responsáveis pelo sistema de produtos brutos ou de economia de subsistência como
funcionamento do capitalismo. reserva futura de mão de obra, mas vamos ver uma
É o resultado de todas as estratégias dos em- divisão do espaço, cada divisão com uma subdivisão:
presários de localizar a indústria na região de Abidjam e do porto, da região central, da zona interior, que vai ser
de utilizar todas as regiões de economias primárias para a reprodução do modelo global, mas dentro de uma parte
a famosa drenagem da economia de exportação de pro- do espaço.
dutos brutos. Aí aparece a dificuldade de se utilizar a palavra
Então vamos ver que estas disparidades regio- região, e isso é um problema muito sério da geografia,
nais muito agudas num país como a Costa do Marfim porque temos uma palavra chave que é “região”, mas
são o resultado imediato do sistema que se está fazen- que vai ser utilizada em várias escalas e vários senti-
do, que é o sistema que podemos chamar de capitalista dos.
dominado, capitalista com influência dos grandes focos Podemos chamar de subespaço.
do capitalismo internacional. Neste sistema seria o espaço nacional dividido
Em outros países vamos ver vários fatores de em subespaços e cada subespaço em regiões, no sen-
complicação do modelo. Esse modelo quase perfeito tido da definição de região central de concentração do
da África Tropical, nos países mais evoluídos tem as setor moderno e de região de drenagem de produtos de
mesmas tendências, mas com um pouco mais de difi- base.
culdade de sistematização. Isto vai complicar o modelo porque na fase da in-
Quais os fatores de complicação? dustrialização (segunda fase) não há obrigação
Um dos maiores fatores de complicação do econômica de que toda indústria fique no porto, na anti-
modelo é o problema da estrutura do espaço na época ga região de exportação, isto porque há outras cidades
da economia de exportação de produtos brutos. bem desenvolvidas por razões de estarem um pouco com
Podemos dizer que todos os países do chamado o papel de exportação. A indústria vai poder se espalhar
Terceiro Mundo são países que conheceram a fase de em várias cidades e vai começar a fazer várias regiões
economia de exportação de produtos brutos, de produ- que vão ser mais ou menos na mesma estrutura da cha-
tos de base. Na França se diz que essa era a primeira mada região central do modelo da Costa do Marfim.
divisão internacional do trabalho, no final do século XIX Geralmente essas cidades têm pouca chance
e início do século XX, na relação entre os grandes paí- nessa primeira fase da economia de produtos de ex-
ses desenvolvidos, do ponto de vista do capitalismo portação.

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Algumas são ligadas a uma economia de expor- meira fase da industrialização de uma fase ligada à bur-
tação, umas mais dinâmicas no momento da industria- guesia nacional pode ser perfeitamente ligada à pre-
lização, outras, ao contrário, são ligadas a uma cultura sença de uma burguesia nacional que tem um pouco
de exportação que conhece um fator de regressão ou de capital e que tem ainda a iniciativa industrial, o que é
uma dificuldade econômica. Alguns setores que têm um mais complicado em cidades de porte médio porque
maior desenvolvimento dos transportes são mais bem havia um pequeno mercado, uma possibilidade de apli-
adaptados para a localização da indústria. cação de capital, então começou o desenvolvimento de
Então existem diferenças. Essas diferenças que algumas indústrias.
não são fundamentais como na Costa do Marfim, mas Vai ser uma complicação a mais, porque a indús-
que vão fazer que depois de uma primeira localização tria não vai obedecer aos fatores gerais de localização
da indústria em vários pontos do país, uma região te- das multinacionais e das grandes empresas industriais
nha uma força maior que as outras para o desenvolvi- ligadas ao capital internacional, mas vai ter outros fato-
mento industrial e pouco a pouco vai ser uma região de res de localização bem mais diversificados, ligados a
concentração secundária de indústria, fazendo com que um outro tipo de industrialização e muito mais ligado à
pouco a pouco a indústria tenha mais dinamismo na evolução interna no sistema econômico do país.
região e cresça mais, tenha mais condições de concor- Mesmo assim, nós podemos com um pouco de
rência em relação aos outros focos industriais e não esforço e um pouco talvez de sistematização − acredito
conheça maior crescimento talvez por perder uma par- que em quase todos os países do Terceiro Mundo −
te do desenvolvimento industrial da primeira fase de lo- podemos ver que atualmente há disparidades regionais.
calização da indústria. Só de mapear os critérios que defini no começo é que
Então vemos que se vai formar uma região central estas disparidades regionais obedecem, perfeita ou im-
com todos os sistemas: indústria, terciário superior, etc. perfeitamente o modelo: “região central, regiões de eco-
Mas esta região central não vai possuir 90% da nomia primária de exportação, regiões de mão-de-obra
produção industrial, talvez 50%, 60%, 70% da indústria e região de reserva de espaço para desenvolvimento
e vai haver outras pequenas regiões (sub-regiões cen- futuro do capitalismo”. Acredito que, quaisquer que se-
trais) do nível de segunda categoria que vão complicar jam as complicações, com um esforço, podemos verifi-
a organização do espaço, mas sem contradizer o mo- car a realidade desse modelo como explicação das
delo. Mas, ao invés de um modelo perfeito, o modelo é disparidades regionais, quer dizer, de verificar se as
imperfeito. Com uma região central que é a força princi- disparidades regionais são os resultados da relação
pal do funcionamento do sistema capitalista do ponto básica entre o funcionamento do sistema econômico e
de vista da indústria, terciário, etc., e alguns pontos se- a organização do espaço, que é a necessidade do sis-
cundários menores que têm pequenos papéis dentro tema econômico de ter estas disparidades regionais
do funcionamento do setor moderno. porque é a base do funcionamento do sistema. E por
Naturalmente, isto vai complicar um pouco a re- isso, naturalmente, vamos verificar que não é um servi-
partição das regiões de economia primária de reserva ço de planejamento do sistema que vai poder fazer muita
de mão-de-obra. Mas é uma complicação do modelo, coisa para modificar esta organização do espaço. Se a
não é uma negação do modelo. organização do espaço é mesmo o resultado da estru-
Outro fator de complicação é o problema das con- tura da relação entre espaço e sistema, o sistema não
dições de industrialização. Porque no modelo o sistema tem o poder de modificar muitas coisas dentro dessa
é o sistema recente de uma industrialização da segun- organização do espaço. Então aparece uma explicação
da fase do século XX, quer dizer, uma industrialização dessas dificuldades do serviço de planejamento no cam-
numa época de muita concentração de capital bancário po da chamada regionalização, no sentido que defini a
e uma industrialização ligada à aplicação de capital ex- palavra, aparecem os fatores de explicação das dificul-
terior, que vem dos países desenvolvidos e por diver- dades enormes e passar da atenção à realidade duma
sas razões se aplica na região, centro antigo de expor- política de regionalização.
tação de economia de produtos brutos. Mas em outros Política das chamadas metrópoles de equilíbrio.
países do Terceiro Mundo a história da industrialização Tudo isso são políticas muito difíceis de realizar porque
é muito mais complicada. A industrialização começou a intenção da política é de modificar de uma maneira
com um esforço da burguesia nacional, que aplicou um importante mesmo, se não for para reequilibrar todo o
capital acumulado à atividade industrial, então é somente espaço, é de tentar modificar de uma maneira importan-
depois que vai aparecer a aplicação de capital interna- te o modelo, a relação básica entre espaço e sistema.
cional com a procura de localização ótima, que, em ge- Porque descentralização industrial inter-regional, políti-
ral, é a localização na região central. Ao contrário, a pri- ca de criação de metrópoles de equilíbrio no interior

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do espaço é, afinal de contas, uma tentativa de criar espaço e indústria, é ligada aos agentes econômicos
outras regiões centrais, até chegar à caricatura de uma particulares. A multiplicidade de intervenção sobre o
política que queria que todo espaço nacional fosse re- espaço faz que o espaço tenha algumas contradições
gião central, do ponto de vista das características. Se o que são: uma concentração demasiadamente importan-
modelo é exato e se o sistema funcionar como uma re- te na cidade principal da região central, com que teria
gião central, isto quer dizer que há periferia. Então, se possibilidade numa faixa de 100, 200 e talvez 300 km,
todo o espaço quer ficar na região central, isto é contra- de localizar indústrias que teriam as mesmas condições
ditório com o funcionamento dentro do espaço. E por básicas de funcionamento do ponto de vista das econo-
isso nós podemos verificar que as políticas de mias externas, vantagens comparativas e que teriam
descentralização industrial em geral não são bem suce- outras vantagens de não sofrer da extrema concentra-
didas, qualquer que seja o esforço dos governos que ção na cidade principal, das dificuldades de circulação,
gastam muito e muito dinheiro para tentar redistribuir a etc.
indústria em outras regiões que não seja a região cen- Então há uma possibilidade de redistribuição da
tral. indústria na própria região central e isso é uma evolu-
Ainda mais porque a política de metrópole de ção espontânea do capitalismo dentro do espaço. Nas
equilíbrio é de distribuir a indústria em todas as regiões regiões centrais mais evoluídas podemos ver que é uma
do país. A intenção é de distribuir o terciário superior e tendência, só que esta tendência espontânea tem mui-
de fazer não a concentração da indústria mas do famo- ta dificuldade de funcionar. É um planejamento que vai
so terciário de comando, e de distribuir o terciário supe- compreender estas necessidades, poder antecipar a
rior em várias cidades bem repartidas no espaço nacio- evolução que vai ser a evolução do sistema no espaço
nal. Isto é quebrar ainda mais a estrutura fundamental da região central e preparar as cidades de porte médio
de funcionamento do sistema, que é concentração do a 50, 100 e 200 km da capital para preparar este novo
poder em uma região que vai comandar as outras regiões. sistema de localização da indústria. Aí vai estar a locali-
Então podemos dizer que estas tentativas de zação da fábrica, a direção da empresa vai ficar na gran-
planejamento das disparidades regionais, quando se tra- de cidade, mas assim vai haver dentro da região central
ta de querer redistribuir no espaço nacional as atividades uma tendência espontânea que aparece nas regiões
que são características da região central, são tentativas mais evoluídas, que é a oposição entre a grande cida-
de pouco sucesso e que a realização é bastante dife- de, que é mais uma zona de concentração do terciário
rente da intenção. Ao contrário, há uma possibilidade superior, e a região urbana (raio de 100, 200 quilômetros)
de planejamento, que eu não sou pessimista assim, que é a região de localização das fábricas, cujas sedes
aceitando que o planejamento esteja a serviço do me- das empresas estão na grande cidade.
lhor funcionamento do sistema, porque se a intenção é E, perfeitamente, pode ser preparado num
de quebrar o sistema, vai ser uma contradição com uma planejamento realista que vai assim fazer uma política
atividade de planejamento. Uma atividade de da cidade de porte médio, uma política de cidades no-
planejamento é uma atividade do poder público, quer vas, segundo as condições de uma reutilização da rede
dizer, da política do governo com todas as tendências urbana anterior, para preparar, racionalizar e antecipar
para melhorar o sistema que o governo está represen- essa evolução da região central dentro do bom funcio-
tando. Então, quando se trata de um planejamento re- namento do sistema capitalista.
formista, que é o único que podemos observar no siste- Também aceitando que as regiões de economias
ma capitalista (outro planejamento tem de modificar o primárias vão continuar regiões de economia primária,
sistema), pode ser positivo nos problemas de podemos racionalizar um funcionamento e melhorar al-
regionalização. É um planejamento que vai aceitar as guma coisa do funcionamento destas regiões. Pode ser
disparidades regionais do ponto de vista de estruturas a política de reorganização da rede das pequenas e
como um fator intrínseco do funcionamento do sistema. médias cidades ao serviço da economia agrícola, um
Não adianta querer quebrar, mas podemos fazer algu- melhor funcionamento da comercialização dos produ-
ma coisa para melhorar o espaço dentro de cada tipo tos agrícolas, etc., várias coisas, que afinal de contas,
de região. Vamos tomar o exemplo da região central. A será também reorganização de rede urbana sem me-
região central é a região de concentração da indústria. xer na reorganização da produção. Isto não é mais
Não adianta querer impedir esta concentração industrial, planejamento e regionalização, é problema de planifi-
quaisquer que sejam os esforços. cação da economia.
Mas podemos racionalizar a localização da in- Mas sempre guardando a idéia de regionalização,
dústria nessa região central, porque a multiplicidade de reorganização do espaço regional, podemos montar uma
iniciativa no sistema capitalista, que é a relação entre política concreta de reorganização da rede urbana de

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cada região de produção primária para melhorar a rela- idéias, algumas oposições que vão fazer alguma coisa
ção entre cidade e economia agrícola, a economia pri- e o discurso é muito importante numa sociedade. Dizer
mária. Aceitando que elas vão continuar de economia que o governo vai fazer alguma coisa já é alguma coisa
primária, com todas as conseqüências que não podem muito importante para diminuir o conflito.
ser quebradas de desequilíbrios fundamentais do ponto É o papel do planejamento tanto nos países de-
de vista de atividade de rede, etc. senvolvidos como nos países subdesenvolvidos. Um
Tem um caráter de tentar reorganizar o espaço papel de montar programas que não vão ser realizados
nacional quebrando a relação básica entre espaço e mas que dão o que falar.
sociedade. Estes programas de planejamento são pro- Outro aspecto do planejamento regional, de
gramas que têm um papel na sociedade mas não é um regionalização, é de reorganizar o funcionamento de
papel de realizar alguma coisa. É um papel de dizer o cada região aceitando a especificidade de cada tipo de
que é que nós vamos fazer. Quer dizer, uma política de região. E isso é o contrário, é um planejamento que vai
discurso. Em francês se diz: “O discurso e a realiza- realizar muitas coisas.
E só para lançar a discussão acho que no Estado
ção”. É dizer porque os desequilíbrios regionais geram
de São Paulo já se realizou muita coisa do ponto vista de
algumas tensões sociais. Pouco a pouco as pessoas
preparação da concentração industrial. Isto é um
das regiões periféricas não gostam muito de ver que
planejamento realista. Enquanto que a descentralização
toda a riqueza vai se acumular na região central e vai
inter-regional, quaisquer que sejam os esforços, ainda
haver uma rivalidade, conflitos sociais ligados aos tem muitas dificuldades para funcionar, a industrializa-
desequilíbrios regionais. ção do Nordeste não modificou basicamente a diferença
Então o sistema vai se defender, não modifican- entre o Nordeste e o Sudeste. Essas são mais ou menos
do alguma coisa porque não pode, que é a base do fun- as possibilidades de aplicação neste país bastante com-
cionamento parcial do sistema, mas lançando algumas plicado. São idéias gerais que tentei explicar a vocês.

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