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XIRÉ ADE
Florilton Tabosa Jr
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Florilton Tabosa Jr
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XIRÉ ADE:
O OLHAR DE PIERRE VERGER SOBRE O TRAVESTISMO NO CARNAVAL BRASILEIRO
Inclui bibliografia.
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Oju- obahia
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia
Obá
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia
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Agradecimentos
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Resumo
A dissert ação busca invest igar t raços da ident idade nacional na obra
fot ográfica de Pierre Fat um bi Verger. Ela t om a com o obj et o de est udo
fot os realizadas na década de 40, período de int ensa reflexão sobr e a
br asilidade. Alguns dos negat ivos apresent ados na dissert ação
perm aneceram inédit os. O recort e feit o privilegia o t ravest ism o no
carnaval como forma de discutir o caráter sexual do brasileiro por meio
da fest a que m uit as vezes se confunde com nós m esm os. O int eresse
por esta produção ganha relevância quando se pensa que grande parte
do acer vo foi preparada para um a das revist as m ais im port ant es na
hist ória da im prensa brasileira: O Cruzeiro. Em m issão pela revist a, o
olhar est rangeiro de Verger saiu país afora, docum ent ando t raços da
cult ura popular, t ipos hum anos, aspect os religiosos, e t udo que dizia
respeit o ao car át er nacional. Sua obr a sobr e o Br asil nunca foi
t ot alm ent e publicada, apesar de m uit a coisa t er sido veiculada nas
páginas da r evist a e t ant as out ras edit adas em alguns livros. Nem
sempre é fácil encontrar a identidade brasileira na produção de Verger.
Nos vem os, incondicionalm ent e, nas fot ografias, m as o cort e de t em po
e espaço existe e muitas vezes nos afasta do objeto ali presente.
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Abstract
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Sumário
Introdução 11
Conclusão 90
Bibliografia 92
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Introdução
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1
PRYSTHON, Ângela. Margens do mundo: a periferia nas teorias do contemporâneo. Trabalho
apresentado no Núcleo de Teorias da Comunicação, XXVI Congresso Anual em Ciência da
Comunicação, Belo Horizonte/MG, 02 a 06 de setembro de 2003. site:
http://intercom.locaweb.com.br/papers/congresso2003/pd f/2003_NP01_prysthon.pdf , em
25/07/04. Pág 4.
2
Idem. Pág 5.
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Em alguns est udos, a im agem serve, fundam ent alm ent e, para
t ransm it ir o que não é possível no cam po lingüíst ico. É im port ant e
salient ar t am bém que, m uit as vezes, não nos apercebem os da nossa
relação com as im agens e com o elas nos influenciam cult uralm ent e.
Revist as com o “O Cruzeiro” e “ Manchet e” , pelo seu car át er
est rit am ent e ilust rat ivo, foram de sum a im port ância par a a const rução
da imagem do brasileiro.
“ Estas imagens não falam por si sós, mas expressam e dialogam
const ant em ent e com m odos de vida t ípicos da sociedade que as
produz. Nest e diálogo elas se r eferem a quest ões cult urais e
polít icas fundam ent ais, expressando a diversidade de grupos e
3
NOVAES, Sylvia Caiuby. O Uso das imagens na antropologia. IN: O fotográfico. SAMAIN,
Etienne. São Paulo, SP: Hucitec, 1998. 113-119. pág 116.
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4
Idem. Pág 116-117.
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br anco, sem pre no com ando” e est ipulou os papéis sócio- sexuais.
Como Verger retratou essa situação?
Frent e ao esboço de nosso ret rat o, ent ram os na últ im a et apa da
cam inhada. Vam os pint ar nosso rost o com as cores do carnaval.
Traçar em os um hist órico da fest a no Brasil e pont uarem os a presença
m asculina nele, bem com o os valores ident it ários nacionais e sexist as
presentes nas fotografias de Verger sobre o carnaval brasileiro.
A seleção das fot ogr afias apresent adas nest e est udo se fez
diret am ent e na sede da Fundação Pierre Verger ( FPV) , em Salvador. A
Fundação foi criada pelo próprio Verger em 1988 e m ant ém em seu
acervo cerca de 62 m il negat ivos do fot ógrafo. Grande part e dest as
im agens foi colhida em suas viagens por t odo o m undo com o repórt er
fot ográfico. Vale salient ar que som ent e sobr e o Brasil o acervo reúne
cerca de set e m il im agens. No processo selet ivo, foram apreciadas
cerca de três mil imagens obedecendo a sistemática de classificação do
próprio fot ógrafo, ou sej a, por ordem geográfica. O est udo, ao
cont em plar o carnaval com o viés const it ut ivo da ident idade nacional
br asileira, ficou cent rado na produção realizada sobr e as cidades do
Rio de Janeiro, Salvador e Recife. A fest a prom ovida nas ruas dest as
cidades foi bastante explorada pelas lentes do francês na década de 40
e, at é hoj e, const it uem pólos de r eferência int ernacional sobre o
event o. O principal crit ério adot ado foi o de prest igiar as im agens que
m elhor represent assem o car át er da m asculinidade brasileira de form a
atemporal e que apresentassem um determinado grau de ineditismo.
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Ca pítulo 1
Primeiros passos
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Vamos tratar mais detalhadamente das questões constitutivas da identidade nacional em outro
momento. Aqui, nos ateremos a questão da fotografia e de seu método de análise.
6
JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Campinas, SP: Papirus, 1996. 6ª ed. pág 42.
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( 1947) , que ret rat am a pluralidade da fest a com seus vários rit m os e
rit uais. Aliás, Pernam buco foi um a grande refer ência para Ver ger. Da
prim eira vez que veio, som ent e para docum ent ar o carnaval, ficou
pouco m ais que alguns dias. No m ês de m aio, volt ou à capit al
pernam bucana e ficou at é out ubro. Com o correspondent e de O
Cruzeiro, fez várias report agens sobre cult ura ao lado de Gilbert o
Freyre.
Foi em recife que ele produziu seus prim eiros docum ent os sobre
as cerim ônias de candom blé. Para t ant o, cont ou com a aj uda de René
Ribeiro, m édico psiquiat ra pernam bucano que pesquisava o viés
antropológico dos terreiros de Xangô no Recife.
Durant e sua perm anência no est ado, Verger viveu ent r e gent e
hum ilde, docum ent ando o cot idiano dos lugar es que conhecia. Ele
fot ografa o Xangô Rosendo, o bum ba- meu- boi, o port o e o bairro do
cent ro da cidade e os bairr os populares da periferia. Ent re seus
t rabalhos, est á um a cent ena de fot os do Circo Nerino, em Casa
Am arela. A produção cont em pla desde a m ont agem da lona e das
arquibancadas at é o espet áculo. Fez t am bém viagens ao int erior do
est ado par a fot ografar a plur alidade cult ural do mesmo. Passou por
Vitória de Santo Antão, Caruaru, Bom Nome, Garanhuns, entre outras.
Sobre este período ele relata:
“ est abelecer relações am ist osas num m eio em que ant es eu
apenas havia me aproxim ado sem nele penet rar. Um a
performance difícil para um filho de ‘burguês’ europeu. Tornei-
m e am igo de gent e de condição bem m odest a e num pé de
igualdade bast ant e sat isfat ório. Est a am izade nasceu durant e
uma viagem sobre a carga de um caminhão, por ocasião de uma
excursão ao int erior de Pernam buco. São carregadores negros,
int egrant es de um bum ba- meu- boi. Divert idos, est es beberrões
em gr ande est ilo m e lem bram os bufões da nossa idade m édia”.
(APUD NÓBREGA)
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A cidade parece que deu m uit a sort e a Verger. Foi nela que ele
conheceu um navegador fr ancês ( nom e não inform ado) , da
Aerospat iale, que orient ava os aviões da rot a Dakar ( África) e Recife.
Verger ent rega ao navegador fot os e um a cart a par a Théodore Monod,
diret or do I FAN ( I nst it ut Fr ançais d’Afrique Noir e) , em que o quest iona
sobre a origem dos cult os afro- brasileiros. A respost a de Monod, foi
um convit e a pesquisar no cont inent e africano est es aspect os, o que,
ao aceit ar, deu a Verger um a nova condição: a de et nólogo. Daí para
fr ent e, não parou m ais de pesquisar e publicar art igos e livros sobre a
relação África- Brasil- África. O pont o alt o de sua produção é o est udo
que lhe deu o t ít ulo de dout or pela École Prat ique de Haut es Ét udes,
cham ado “ Flux et reflux de la t rait e dês nègres ent r e lê Golfe de Benin
at Bahia de t odos os sant os, du dix- sept ièm e au dix- neuvièm e siècle”.
A obra foi publicada post eriorm ent e no Brasil pela edit or a Corrupio
com o t ít ulo Fluxo e refluxo do t r áfico de escravos ent r e o Golfo de
Benin e a Bahia de Todos os Santos: dos séculos XVII a XIX.
1.3 O Cruzeiro
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7
BARBOSA, Marialva. O Cruzeiro: uma revista síntese de uma época da história da imprensa
brasileira. (http://www.uff.br/mestcii/marial6.htm), em 20 julho de 2004.
8
DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico. Campinas, SP: Papirus, 1993.
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Idem. pág 25.
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A busca pelo cerne do ser cult ural foi a cruzada m aior de nosso
fotógrafo. Verger buscava sem pr e capt ur ar a verdadeira ident idade
das pessoas, inseridas em seu habit at físico e social. Cont udo, não nos
pr eocuparem os com as int enções de Verger. Sem dúvida, em alguns
m om ent os, ponderar em os algum as de suas colocações sobre a sua
obra e seu olhar, afinal de cont as t oda im agem é um a r epr esent ação,
um cort e int encional de um a dada realidade. Porém, vam os nos
posicionar sem pre no local do recept or ( ao cont rário do aut or) , j á que
nossa leit ura busca o que nos é int rínseco, o que nos reflet e ainda
hoj e. Est arem os at ent os para o discurso da obr a em nosso cont ext o,
para a expect at iva de nosso olhar com o form a de perceber os t raços
que nos desenham . Afinal, a fot ogr afia não se “ lim it a t rivialm ent e
apenas ao gest o da produção propriam ent e dit a, m as inclui t am bém o
ato da recepção e de sua contemplação”10.
Concordam os com Aum ont , ao com ent ar Gom brich, quando
aquele afirm a que não há olhar fort uit o. Sem pre, ao cont em plarm os
uma im agem , t em os expect at ivas sobre ela e lançam os hipóteses
sobre ela, que logo em seguida são confirmadas ou não.
“ Esse sist em a de perspect ivas é am plam ent e inform ado por
nosso conhecim ent o pr évio do m undo e das im agens: em nossa
apreensão das imagens, antecipamo- nos, abandonando as idéias
feitas sobre nossas percepções” 11.
10
Idem. pág 15.
11
AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas, SP: Papirus. 1993. pág 86.
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12
JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Campinas, SP: Papirus, 1996. 6ª ed. Pág 55.
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13
Idem. Pág 58.
14
AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas, SP: Papirus. 1993. pág 80.
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cult ural de ser, fat alm ent e não serão int erpret ados do m esm o m odo
por est rangeiros que por nós ( por m ais int eirados que est ej am de
nossos cost um es) . É, port ant o, m ais que um sim ples t rabalho de
reconhecim ent o da realidade. È um t rabalho de aut o- conhecimento
cultural. Pelo que se vê pode- se alcançar o que não se vê.
Poderíam os afirm ar t am bém que a im agem const rói o suj eit o do
espectador. Para reforçar este argumento, basta levar em conta a idéia
de que som os um a perm anent e const rução no real e que t odas as
nossas experiências de quest ionam ent o e reflexão sobre o m undo nos
levam cot idianam ent e a um a nova condição per ant e ele. As imagens,
fazendo parte de forma quase onipresente de nossa vida, contribuiriam
decisivam ent e sobre a nossa percepção, inserção e int ervenção no
social.
I m port ant e salient ar que a vida de um a im agem não acaba com
os significados que ela passa a carregar arbit r ariam ent e consigo, por
m eio de um discurso im pet rado por um ou pelo social. Haverá sem pre
interpretações diversas a partir dos mesmos significantes componentes
da mensagem imagética.
Seguindo todas estas linhas de raciocínio, nos pom os diant e de
uma im por t ant e conclusão: a de que o espect ador const rói a im agem
( pois im põe um sent ido a ela) no m esm o t em po em que a im agem
constrói o espectador (informa, educa, soma significados ao imaginário
deste).
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AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas, SP: Papirus. 1993. pág 248. Em seguida, Aumont
explica: “Diegese é uma construção imaginária, um mundo fictício que tem leis próprias mais ou
menos parecidas com as leis do mundo natural, ou pelo menos com a concepção, variável, que dele
se tem. Toda construção diegética é determinada em grande parte por sua aceitabilidade social,
logo por convenções, por códigos e pelos simbolismos em vigor em uma sociedade”.
16
MALYSSE, Stéphane Rémy. Um olho na mão: imagens e representações de Salvador nas
fotografias de Pierre Verger. IN: Revista Afro-ásia. n24. Centro de estudos Afro-orientais.
FFCH/UFBA. Salvador, BA. 2000. pág 340.
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idem. pág 333.
18
DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico. Campinas, SP: Papirus, 1993.
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É im port ant e lem brar que algum as caract eríst icas, t raços
identitários assim o são, porque perm anecem a sabor dos t em pos. Ao
se t rat ar de ident idade nacional, essas caract eríst icas perm anecem
com o const it uint e m ais geral. Se são objetos, t raços, caract eríst icas
transitórias, est es reflet irão apenas seu t em po, que pode, inclusive, se
t ransform ar de local para local dent ro de um a m esm a nação. Cont udo,
para um a caract eríst ica ser t ida com o com ponent e da ident idade
nacional, é necessária que ela sej a ger al, em t em po e lugar, e que a
im ensa m aioria se reconheça e se espelhe nest e t raço. Mesm o que
m uit as de nossas caract eríst icas nacionais sej am mutantes ao sabor
dos t em pos e das t ransform ações hist óricas, ainda assim é preciso que
nos reconheçamos na radicalidade delas.
Fazendo um a análise da obr a Ret rat os da Bahia 19, Malysse
afirma:
“ assim nos Ret rat os da Bahia dão a ver o que os baianos da
época podiam ver neles m esm os, um t ipo de senso com um
visual, r epr esent ações ordinárias dent ro do cenário cult ural
visível dos m orador es, os quais podem os encont r ar cinqüent a
anos m ais t arde na m esm a posição, repet indo os m esm os
gestos e mostrando os mesmos sorrisos”.
19
VERGER, Pierre. Retratos da Bahia. Corrupio. Salvador, BA. 2002. 288p.
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Capítulo 2
Algumas considerações sobre identidade
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20
CASTELLS, Manuel. O poder da Identidade. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2001. pág 23.
21
BADINTER, Elisabeth. XY: Sobre a identidade masculina. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fornteira,
1993. pág 33.
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22
HALL, Stuart. A identidade Nacional na Pós-modernidade. Rio de Janeiro, RJ: DP&A Editora,
1997. pág 12.
23
DAMATTA, Roberto. O que faz o Brasil, Brasil?. Rio de Janeiro,RJ:Rocco,1977. pág 15
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24
PRYSTHON, Ângela. Pensando o Brasil: percursos da identidade nacional. Recife, PE: Edições
Bagaço, 2001. Pág 50.
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25
Idem. Pág 53.
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Verger com unga dessa idéia at é m esm o por ilust rar os t ext os
escrit os por Freyre para a r evist a em que t r abalhava nos anos 40. O
fr ancês fot ografa sem pr e nos inserindo num cenário próprio de cada
t ipo hum ano br asileiro. Suas fot ografias m ost ram um Brasil
marcadamente regional, quase folclórico.
Par a alguns int elect uais, a discussão sobre a ident idade nacional
br asileira deve com eçar a ser abordada a par t ir da perspect iva das
sociedades indígenas que aqui est avam quando da chegada do
colonizador por t uguês. Se for consenso que nossa ident idade é frut o
da miscigenação que se deu no processo formador de nossa sociedade,
fat o é que o ser br asileiro part e das prim eiras com binações feit as pelo
encont ro de r aças. Sendo o port uguês o colonizador, im pôs, a priori,
seus cost um es e valores sociais às com unidades nat ivas. Nest e
aspect o t om arem os as considerações de alguns pensadores de nossa
sociedade par a esclarecer alguns pont os sobre o assunt o. Vale
salient ar aqui que cada um sit ua sua perspect iva num cont ext o
específico.
Sérgio Buar que de Holanda, em seu “ Raízes do Br asil” ( 1936) ,
afirm a que nosso carát er m iscigenado e nossa condição de “ hom em
cordial” t iver am a m esm a raiz: o personalismo port uguês. Ent enda- se
o conceit o “ personalism o” usado por Buarque com o a “ cult ura da
personalidade” . No sent ido usado por ele, o t erm o é vinculado à
responsabilidade individual e respeit o ao m érit o pessoal enquant o
aspect os subordinados à própria personalidade. Est a caract eríst ica
social deu perm eabilidade à nobr eza lusit ana, que apesar de fidalga e
arist ocrát ica perm it ia que pessoas da plebe pudessem alm ej ar um a
m udança de classe social por m eio do m érit o. Esses valores chegando
26
FREYRE, Gilberto. O brasileiro como tipo nacional de homem situado no trópico e, na sua
maioria, moreno: Comentários em torno de um tema complexo. Rio de Janeiro: Conselho federal
de Cultura, 1970. p. 41-57. Versão on line http://prossiga.bvgf.fgf.org.br/português/obra/index.htm
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Pierre Verger, Mercado de S. José (esq) e Cais de Stª Rita (dir), Recife, 1947
27
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da
economia patriarcal. Rio de Janeiro: Record, 1999. 35ª ed. pág 217
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28
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 26ª
ed. pág 44
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29
idem. Pág 46
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30
idem. Pág 146
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Ele defende que o início de nossa form ação cult ural foi m arcado
pelo desej o de hegem onia racial que se deu logo nos prim eiros
cont at os ent re brancos e índios. Darcy desconsidera a quest ão da
plast icidade port uguesa e nos diz que o cunhadism o foi a principal
estratégia de dominação étnica do colonizador.
“ A inst it uição social que possibilit ou a form ação do povo
br asileir o foi o cunhadism o, velho uso indígena de incorporar
est ranhos à sua com unidade. Consist ia em lhes dar um a m oça
índia com o esposa. Assim que ele a assum isse, est abelecia,
automat icam ent e, m il laços que o aparent avam com t odos os
membros do grupo” 32.
Os frut os dest e processo foram os prim eiros m est iços que eram
rechaçados pelos dom inadores port ugueses e não queriam ser iguais
aos dom inados am eríndios. Sem um lugar definido nest a est rut ura
social, est ranhos em sua própria t er ra, serviam de algozes dos co-
nativos e subservientes dos estrangeiros.
A bem da verdade, é pr eciso chegar a um m eio t erm o, pois
t em os sim um alt o gr au de passividade fr ent e aos problem as
cot idianos e sociais. Est am os sem pre a espera do Est ado ou das
pessoas que ocupam lugar es de dest aque para resolverem nossos
problem as pessoais e colet ivos. Ao est arm os em sit uação de dest aque
31
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: evolução e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995. 2ª ed. pág 167/ 168
32
idem. Pág 81
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Freyre. Pág 283
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Est a é, com cert eza, um a visão rom ânt ica de sua “ dem ocracia
racial” , t endo em vist a que at é hoj e o negros sofrem discrim inação
34
FREYRE. Pág 283
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idem. Pág 321
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idem. 315/316
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37
RIBEIRO. Pág 278
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décadas por vários m ovim ent os sociais, onde se dest aca a at uação da
m ilit ância gay e fem inist a. At ualm ent e, o m undo assist e a um a crise
dos paradigm as do pat riarcalism o em quase t odas as sociedades. De
acordo com Castells,
“ o pat riarcalism o é um a das est rut uras sobre as quais se
assent am t odas as sociedades cont em porâneas. Caract eriza- se
pela aut oridade, im post a inst it ucionalm ent e, do hom em sobre a
m ulher e filhos no âm bit o fam iliar. Para que essa aut oridade
possa ser exercida, é necessário que o pat riarcalism o perm eie
t oda a organização da sociedade, da produção e do consum o à
polít ica, à legislação e à cult ura. Os r elacionam ent os
int erpessoais e, conseqüent em ent e, a personalidade, t am bém
são m arcados pela dom inação e violência que t êm sua origem
na cult ura e inst it uições do pat riarcalism o. É essencial, por ém ,
t ant o do pont o de vist a analít ico quant o polít ico, não esquecer o
enraizam ent o de pat riarcalism o na est rut ura fam iliar e na
reprodução sócio- biológica da espécie, contextualizados histórica
e cult ur alm ent e. Não fosse a fam ília pat r iarcal, o pat riarcalism o
ficaria expost o com o dom inação pur a e acabaria esm agado pela
revolt a da ‘out ra m et ade do paraíso’, hist oricam ent e m ant ida
em submissão” 38.
38
CASTELLS, Manuel. O poder da Identidade. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2001. pág 169.
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Idem. Pág 238.
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Enfim, brasileiros
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O dilema brasileiro
40
RIBEIRO. Pág 127
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41
DAMATTA, Roberto. Pág 31
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Cont udo, as m anifest ações popular es são dinâm icas e int egram
os novos elem ent os da m odernidade, bem com o dialogam com out ras
expressões artísticas e comemorativas.
42
SODRÉ, Muniz. A comunicação do grotesco: introdução à cultura de massa brasileira.
Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1977. pág 34-35
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43
VIVEIROS DE CASTRO, M.L. Um olhar sobre a cultura brasileira: Superproduções populares.
Disponível em http://www.minc.gov.br/textos/olhar/superproduções.htm
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Capítulo 3
A folia no olhar
O carnaval flagrado
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44
DAMATTA, Roberto. O que faz o brasil, Brasil?Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 1997.pág 73
45
SEBE, José Carlos. Carnaval, Carnavais. São Paulo: Ed Ática, 1986. pág 11.
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O ent rudo, foi, sem dúvidas a cont ribuição port uguesa m ais
significante para o carnaval brasileiro. Quando a festa chegou por aqui,
ainda no Brasil Colônia, era com um a part icipação de religiosos.
Padr es, fr eir as e bispos part icipavam das fest as com a m esm a
liberdade que os fiéis. Era um a prova de int egr ação com as out ras
cast as da sociedade. Nest e período ( t rês dias que ant ecedem a
quaresm a) , t odos os excessos eram perm it idos. Segundo José Carlos
Sebe,
“ pelas descrições, sabe- se que o ent rudo era um a ‘verdadeira
bat alha’ e a m unição era: pós brancos e coloridos; folhas e
obj et os com o ovos e frut as, m as sobret udo j at os de água
despej ados das j anelas ou lançados por seringas enorm es, e é
cert o que havia um prazer incont ido em m olhar as pessoas. O
ent rudo era um a pr át ica de rua, a céu abert o. Os part icipant es,
sem pre em grupos, ent r avam em confr ont os, algum as vezes
anim ados pela sim ples vont ade de br incas; out ras, cont udo,
agressivam ent e com o revide. A cada ‘at aque’ deveria
corresponder um a respost a, chegando sem pre ´ j ogo’ a
conseqüências sérias. Os produtos utilizados variavam muito. No
caso de líquidos, ia desde per fum e, ‘caldos coloridos’ conhecidos
com o ‘sangue de diabo’, at é urina. Em regra, t ais líquidos eram
acondicionados nas cham adas ‘frut as do ent rudo’ ou
46
BASTIDE, Roger. Imagens do Nordeste Místico em Preto e Branco. Rio de Janeiro: Empresa
Gráfica “O Cruzeiro”,1945. pág 32
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sim plesm ent e ‘lim ões’ ou ‘lar anj inhas’. Os pós variavam desde
farinha do reino ( t rigo) , rapé, areia, at é o arom át ico pó- de- arroz
47
ou pó- da- china.”
47
SEBE, José Carlos. Carnaval, Carnavais. São Paulo: Ed Ática, 1986. pág 11.
48
VERGER, Pierre. Procissões e Carnaval no Brasil. In: Verger- Bastide: Dimensões de uma
amizade. LÜHNING, Ângela (ORG). Bertrand Brasil. Pág 237
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49
Idem. pág 238
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( ...) m ais t arde a or dem foi int roduzida nessas m anifest ações
barulhent as, às quais falt ava o recolhim ent o. Foi exigido m ais
respeit o no recint o da igr ej a. A lavagem foi lim it ada às
escadarias ext eriores do adro, t om ando assim carát er m ais
folclórico que r eligioso. A alegria t ransbordant e que
acom panhava a lavagem foi derivada para um a out ra fest a que
foi organizada em local próxim o, a Ribeira, na segunda- feira
seguinte. Celebr a- se, ent ão, o m ais alegre dos ‘carnavais’ com
uma fogosidade e uma animação trepidante e contagiosa” 50.
50
idem. Pág 244- 245- 246
51
idem. Pág 248
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No Recife,
“ os prim eiros divert im ent os carnavalescos, alt er nat ivos aos
j ogos de Ent rudo, foram desfrut ados nas casas grandes e sít ios
de gent e abast ada da t erra. Naquela época, er a cost um e as
famílias das classes dominantes locais passarem a temporada de
ver ão e de fest as em casas de sít ios, refrescando- se nas
margens, então aprazíveis, do rio Capibaribe” 52.
Proibido o j ogo do Ent rudo, as classes popular es, im pedidas de
realizar em a guerra de lim ões, t om avam as ruas dançando e
fest ej ando. A m ult idão enfurecida assust ava as elit es, que ainda
organizavam as fest as, m as se refugiavam nos int erior dos seus carros
e divertiam- se entre si, nos corsos.
Recife, PE - 1947
52
ARAÚJO, Rita de Cássia Barbosa de. Festas: máscaras do tempo: entrudo, mascarada e frevo no
carnaval do Recife. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1996. pág 179.
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Verger fot ografa essa m ult idão em seu est ado de ebulição. São
t odos os t ipos hum anos e t odas as raças m ist uradas. Som brinhas ao
ar, cam isas encharcadas, espaço nenhum ent re um e out ro.
Cont rariando as leis da física, não apenas dois corpos ocupam o
mesmo espaço ao m esm o t em po, m as vários. I núm eros. No quadro,
vê- se apenas braços, om bros, pescoços, cabeças, bonés, chapéus,
t oucas. Em m eio à t urba apenas dois rost os virados para a câm era. O
prim eiro int encionalm ent e. De braços abert os, o personagem t om a o
negat ivo para si. Faz quest ão de exist ir, de se m ost rar. O segundo
parece em êxt ase. Traduz o sent im ent o de dionisíaco que a fest a
carr ega. Olhos fechados t raduzem o gozo. O rost o virado para o sol
parece irradiar a energia propulsora da massa.
Apesar do carnaval em Recife e Olinda t er se desenvolvido por
m eio do pat rocínio das fam ílias t radicionais e abast adas das duas
cidades, t alvez t enha sido o cort ej o do m aracat u a prát ica que deu
m ais personalidade à fest a pernam bucana. Mesm o exist indo em out ras
regiões do Nordest e e t r anspondo a barreir a dos dias m om escos, a
encenação da coroação do Rei do Congo é um dos m om ent os m ais
solenes e ricos de folclore, t r adição e reafirm ação da cult ura negra na
sociedade.
Est a é um a cerim ônia m ant ida desde a época colonial. Em
m eados do século XI X, a pr át ica da coroação foi subst it uída pelo “ Aut o
do Congo” , encenação que deu origem ao m aracat u. Cada grupo de
m aracat u const it ui um a nação e seus m em bros desfilam ricam ent e
pelas ruas com suas roupas de época, dançando um a coreografia
própria e entoando, alternadamente, cânticos religiosos e festivos.
No Recife, as nações eram form adas ger alm ent e por negros
descendent es de Angola, apesar de haver gent e de vários lugares.
Dois t ipos de m ar acat u se apr esent am no carnaval: os de baque solt o
e as nações de baque virado. Mais ant igas e t r adicionais nas canções
( loas) e na dança, est as últ im as t r azem em seu inst rum ent al
exclusivam ent e a percussão - predom inant em ent e form ada por
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53
VERGER, Pierre. Procissões e Carnaval no Brasil. In: Verger- Bastide: Dimensões de uma
amizade. LÜHNING, Ângela (ORG). Bertrand Brasil. Pág 249- 250
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seis e dez linhas rít m icas e as loas puxadas pelo “ m est re” . A orquest ra
só t oca quando o m est re t erm ina de puxar os versos das t oadas,
alternando canto e instrumental.
As figuras que apar ecem nas fot os do m aracat u de baque solt o
produzidas por Verger são o “ caboclo de pena” , o Mat eus e a burra -
est es dois últ im os são um a derivação dos personagens do folguedo
“cavalo- m arinho” . Em sua cat alogação, Verger at ribui essas fot os ao
cavalo m arinho. Cont udo, a presença do caboclo de pena nos rem et e
ao m ar acat u de baque solt o, que, com o vim os, som ent e seria
conhecido assim na década seguinte.
O caboclo de pena t em fort e conot ação indígena ( realçada pela
pr esença do arco e flecha nas m ãos) e usa um a coroa ador nada por
penas e m içangas. A burrinha ( “ Capit ão” , no cavalo- m arinho) indica
alguém de m uit o prest ígio das redondezas, que vem com um a roupa
de m ilit ar e m ont ado em seu cavalo. O Mat eus represent a
originariamente a figura do negro em busca de trabalho. Sobre a figura
do Mat eus, ressalt am os ainda seu papel em vários out ros folguedos
nordest inos, dent re eles o bum ba- meu- boi e o reisado. Verger
encont rou out ra versão para o Mat eus em suas viagens pela África,
assist indo a folguedos dos descendent es de brasileiros que volt ar am lá
depois da alforria.
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idem. Pág 75
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55
SODRÉ, Muniz. A verdade seduzida: por um conceito de cultura no Brasil. Rio de Janeiro, RJ:
Livraria Francisco Alves Editora, 1988. pág 171, 172, 173
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TREVISAN, João Silvério. Devassos no paraíso: (a homossexualidade no Brasil, da Colônia à
atualidade). 4ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. pág 391- 2
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perdoada j ust am ent e pelo ar infant il. É o álibi perfeit o. Afinal, crianças
( quase) não são sexuadas. Verger denuncia sua erot ização quando,
por meio do ângulo usado, causa a impressão de um busto feminino.
Não r aro, o t ravest ism o é um a const ant e no cont ext o
carnavalesco. Com o podem os observar em várias fot ografias de
carnaval da década de 40 - e t am bém nas de Verger do m esm o
período - , o fenômeno povoa o imaginário da festa. Para Trevisan,
“ não é exager o dizer, por conseguint e, que carnaval e desvio
correm j unt os, coisa que se not a num sim ples passar de olhos,
quando se está em meio à festa carnavalesca, seja na rua ou em
salões. ( ...) Em Olinda,conhece- se o t radicional Bloco das
Virgens, com 200 a 300 hom ens – pr eviam ent e inscrit os –
desfilando vest idos de m ulher. As fant asias cost um am ser m uit o
rigorosas, com modelos chiques, perucas e sapatos de salto alto.
Os par t icipant es im it am at rizes e cant or as fam osas . No final do
desfile, ocorr e um concurso no qual se escolhe a ‘virgem m ais
bela e sensual’, que recebe um t roféu oferecido pelas indúst rias
e prefeit ur a locais. O m ais est r anho nesse clube carnavalesco
organizado por m ilit ares é que o regulam ent o não perm it e a
part icipação de hom ossexuais not órios, nem dem asiados
t rej eit os fem ininos. Em out ras palavr as, recom enda- se o uso da
m áscar a sob a m áscara – o que não deixa de indicar a m esm a
afirm ação barroca que revela duplam ent e, quando pret ende
duplamente ocultar aquilo que se teme” 57.
57
idem. 392- 3
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Salvador, BA – 1946/1978
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58
VERGER, Pierre. Texto inédito para o livro Retratos do Rio de Janeiro, projeto da Corrupio ainda
não concretizado. IN: Nóbrega, Cida e Echeverria, Regina. Pierre Verger: um retrato em preto e
branco. Salvador: Corrupio, 2002. pág 135
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59
BASTIDE, Roger. Sociologia do folclore brasileiro. São Paulo: Editora Anhambi, 1959. pág 60
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Bast ide vai afirm ar que a m ult idão que cont em pla o hom em
t ravest ido reage cont ra o m al- est ar m et afísico “ por m eio de um riso
60
idem. Pág 63-64
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61
idem pág 64
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Com o no exem plo acim a, podem os observar nas fot os de Ver ger
a irreverência das brincadeiras de rua. Abrindo algum as exceções na
t eoria do cont errâneo e am igo Bast ide, o fot ógr afo insist e em nos
m ost rar a sexualidade na fest a realizada nas ruas. Hom ens encarnado
a sensualidade feminina, desfilam em suas lentes entregues ao espírito
da m ais com plet a liberdade. Talvez a m ais inquiet ant e dessas
fot ografias sej a o flagr ant e no Rio de Janeiro ( t am bém no ano de
1941) de um m ulat o “ passeando im punem ent e” em m eio a out ros
hom ens. Traj ando um curt íssim o vest ido branco rodado, ele nos
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provoca com o olhar e nos seduz exibindo suas pernas, ainda m ais
expost as ao segurar a barra da saia de sua roupa. Apesar do ícone
m asculino ( os sapat os que usa) , a fot o cham a at enção pelo cont ext o
em inent em ent e m asculino em que o personagem se insere e a
desenvoltura com que, literalmente, transita.
Salvador, BA – 1946/1978
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cint ura, coxas à m ost r a, ele se deixa flagrar em seu chique “ t rot t oir”
na calçada. O m enino ao lado parece não se surpr eender ou im port ar
com o exagero de sensualidade. Ele não incom oda o personagem , que
sequer o nota. A câmera o interessa mais que a dama ao lado.
Recife, PE – 1947
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Recife, PE – 1947
Nout r a fot o, Verger nos faz novam ent e refer ência à prost it uição.
Ao cont rário do ar de sofist icação da “ prost it ut a” sot eropolit ana, o
personagem recifense é bem m ais grot esco, popular. De bigode e com
os braços abert os, ele exibe brincos, colar, bat om , corselet t e, flores no
cabelo. O exagero e o clim a de alegria cont agiant e são a t ônica do
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Recife, PE – 1947
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Recife, PE - 1947
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É j ust am ent e essa ident idade com o devir que difer encia a
brincadeira dos hom ens ent r e si. Het eros e hom ossexuais encont r am -
se m ist urados e t ravest idos. Cont udo quant o m ais “ fidedigna” for a
caract erização, m aior ser á a ident ificação com o universo fem inino e,
port ant o, m ais próxim o do universo gay. Sócrat es Nolasco considera
que
“ dos desfiles das ‘pir anhas’ aos bailes gays, o com pr om isso com
a própria fant asia de ser um a m ulher delim it a o cam po para a
62
LOPES, Denílson. E eu não sou um travesti também? IN:O homem que amava rapazes e outros
ensaios. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2002. pág 68
63
idem. Pág 70
64
idem. Pág 72
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A m ulher que apar ece nest as r epr esent ações é sem pre
espalhafat osa, vulgar, ninfom aníaca e descont rolada. É a
repr esent ação do universo fem inino pelo im aginário m asculino. Os
hom ens que se t ransform am em gest ant es abandonadas, prost it ut as,
fr eir as, colegiais, havaianas, m elindrosas, ent r e out ras. A aut orização
carnavalesca possibilit a a realização das fant asias sem que os at ores
sej am possuídos por elas. Tudo é apenas um a brincadeir a, m as que
demanda uma licença social.
Nolasco aponta que é preciso
“ represent ar par a com preender. Talvez est a possa ser um a das
razões pelas quais os hom ens se fazem passar por m ulher es.
Por out ro lado, no carnaval obser vam os a caricat ur a não de
qualquer m ulher, m as de um a ‘m ulher pir anha’, cuj o
com port am ent o é definido pela posse e pelo exercício da própria
sexualidade. Est e com port am ent o m asculino, aparent em ent e
cont radit ório, é sinal da am bigüidade pela qual poderem os
com preender a represent ação que um a m ulher t em par a um
hom em . No cot idiano, as queixas m ais cont undent es das
m ulheres recaem sobre at it udes violent as e de desvalorização
dos hom ens para com elas. Cont udo, por m eio das
m anifest ações cult urais, em diferent es épocas e países,
percebem os o desej o dos hom ens de ‘se passar por um a
mulher’, ou ainda, o receio de em uma delas se transformar” 66.
65
NOLASCO, Sócrates. O mito da masculinidade. Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 1995. pág137.
66
Idem. Pág 138.
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Conclusão
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Bibliografia
ARAÚJO, Rita de Cássia Barbosa de. Festas: máscaras do tempo:
entrudo, mascarada e frevo no carnaval do Recife. Recife: Fundação de
Cultura Cidade do Recife, 1996.
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