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UTOPIAS SITUADAS:

A construção de situações
na arte contemporânea do Recife

Bruna Rafaella Ferrer


PPGDesign | UFPE

Recife, 2019
Doutorado em Design
RESUMO

Definida pela Internacional Situacionista (IS) como a construção coletiva concreta de


ambiências momentâneas da vida e transformação em sua qualidade passional superior, a
noção de Situação Construída pode ser usada como ferramenta de análise em processos de
criação artística na arte contemporânea. O presente estudo pretende aprofundar a
compreensão dessa técnica situacionista, de modo a indicar possíveis atualizações e a sugerir
novas formas de investigação do tema.
Pro meio de estudo de casos nas artes visuais produzidas no Brasil, especialmente a partir dos
anos 2000, investigaremos ações realizadas na cidade do Recife de modo a verificar
possibilidades e limitações de se aplicar a teoria de Situação Construída nesses projetos
artísticos.

Palavras Chaves: Situação Construída; Internacional Situacionista; Arte e Vida; Arte


Contemporânea.
Escolha do objeto
“Arte-etc”

Artista/pesquisadora: A busca por uma “dobra a mais” representada na pesquisa acadêmica

Projeto de pesquisa: Desdobramento do projeto artístico “Arqueologia do presente”

Problema (inicial) de pesquisa

Como processos criativos locais são capazes de transformar determinados espaços e


comportamentos de modo a promover um “lugar outro” na vida cotidiana
Laboratório de inteligência artística (i!) à De que modo esse tipo de operação artística e
de crítica social pode se relacionar com o conceito de Situação Construída.

Situação Construída

Objetivo final da prática situacionista. Ação criativa, construtiva e coletiva direta nos
ambientes materiais da vida e nos comportamentos que ela provoca e altera com intuito de
provocar novos momentos que irrompem da experiência cotidiana automatizada indicando
uma qualidade passional superior na realidade mesma.
Escopo do projeto
Situação Construída: Sistematização da proposta/conceito

Guia à Guia Comum do Centro do Recife à Um guia prático para o desvio à Guia da
Situação Construída (?)

• Levantamento de elementos, categorias e aplicações à sistematização

• Ineditismo da investigação no Laboratório de inteligência artística (i!) à repositório


qualitativo

• Quais permanências e descontinuidades desse preceito podemos usar como parâmetro de


análise estética da arte contemporânea à Nova possibilidade de investigação no campo das
artes visuais contemporâneas

• Resgatar a teoria e prática situacionista como forma de ocupar a brecha aberta nas
discussões e práticas do grupo num campo cultural, instância não negada por completo pelo
programa situacionista

Incursão téorica

Teoria Situacionista: Compreensão de como uma prática cultural pode ser provocadora de
transformações (efêmeras) no âmbito da cotidianidade estética, política e social.
Legado de vanguarda cultural: Teorias e práticas que se debruçam nos limites entre arte e
vida cotidiana.
Estruturação
Etapas

Levantamento e revisão bibliográfica: Referencial teórico preliminar, desenvolvimento da


noção de Situação Construída e aplicação de conceitos verificados no estudo de casos

Estudo de casos: Análise dos projetos: Risco!, Plus Ultra e a Casa como convém sob o
parâmetro da noção de Situação Construída

Apresentação de resultados: Síntese de análise dos casos. Critérios de atualização da noção


de Situação Construída

Parte I
Levantamento teórico:
Capítulo 1: Conceitos sobre a criação de espaços e momentos singulares no cotidiano.
Preceitos sobre os binômio arte/vida; vanguarda/neovanguarda. Uso dessas noções como
parâmetro de análise das propostas de Happening e Activities de Allan Kaprow
Capítulo 2: Estudo de textos originais e de comentadores da Internacional Situacionista.
Apresentação do grupo e seus preceitos. Apresentação e sistematização da noção
situacionista de Situação Construída.

Parte II
Capítulo 3: Teoria aplicada em projetos artísticos enquanto estudo de casos compreendidos
como realizadores de utopias situadas, no limiar entre arte e vida cotidiana, resultado de uma
ação direta nos comportamentos e espaços materiais em ações eminentemente estéticas e
lúdico, aproximados à teoria situacionista.
INTRODUÇÃO

PARTE I

1. UTOPIAS PRATICADAS
1.1 Espaços, Heterotopias e Momentos
1.2 Arte/vida: vanguardas e Happenings-Atividades

2. SITUAÇÕES CONSTRUÍDAS
2.1 A Internacional Situacionista: formação, ideias e métodos
2.2 A Situação construída
2.3 Situações construída hoje

PARTE II

3. ESTUDO DE CASOS
3.1 Aspectos metodológicos
SUMÁRIO

3.2 Análises
3.2.1 Risco!
3.2.2 Plus ultra
3.2.3 A casa como convém
3.3 Discussão
3.4 Conclusões

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS
PARTE I
Fundamentação teórica
1.1 Espaços, Heterotopias e Momentos

Espaços – Michel Certeau


“Espaço é um lugar praticado”.
O consumo de ideias, valores e produtos não é passivo, é resistente a uniformização e ao
controle pretendidos por aqueles que ditam um suposto interesse comum. Essa resistência se
manifesta como tática “desviacionista” (da lei de um lugar) nos detalhes cotidianos. É
operada por “corpos moventes” (e anônimos e atentos às oportunidades), que instauram usos
plurais e criativos como artes de fazer (“invenção do cotidiano”).
Estética da vida cotidiana à Criação de situações espaciais outras como criação de
contraespaços.

Heterotopias – Michel Foucault


“Espaços utópicos ‘efetivamente realizados’”.
Maneira de conceituar (e estipular propriedades relacionais do) espaço na experiência
moderna do Ocidente (século XX). Definição de uma heterotopologia (baseada em seis
princípios), na qual destacamos aquele que postula a transformação do espaço pelo seu uso
desviado de determinada ordem imposta, criando uma nova situação, instaurando assim, um
espaço de contestação
Heterotopia como contraespaço à Compreensão de dinâmicas do poder e da criatividade
desviante

Momentos – Henri Lefebvre


“Mostrar como resulta o antigo conflito do cotidiano com a tragédia, da trivialidade com a
festa”.
1.1 Espaços, Heterotopias e Momentos

Momentos – Henri Lefebvre


“Mostrar como resulta o antigo conflito do cotidiano com a tragédia, da trivialidade com a
Festa [...] O objetivo é de unir a Festa à vida cotidiana”.
Compreensão de que no cotidiano está contida a tensão que engloba o trágico da vida e suas
potencialidades. No cotidiano da sociedade capitalista avançada ocorrem momentos
diferenciados (“relativamente privilegiados”) em relação às formas de comportamento
condicionadas.
Criação de novos momentos à base da crítica da vida cotidiana. Nasce do cotidianao e ele
nega.
1.2 Arte/vida: Vanguardas e Happenings-Activities

Vanguarda (e neovanguarda) – Peter Bürger


Contestação e tentativa de superação da instituição arte à arte autônoma e separada da vida
diária (esteticista), individualista (atestado de genialidade e recepção solitária), burguesa
(função idealista e conformista da arte).
Objetivo de uma critica do cotidiano pela práxis criativa à postura revolucionária, coletiva e
construtiva.
Neovanguarda (Bürger) à institucionalização da vanguarda como arte (falsa superação da
arte)
Arte orgânica x não-orgânica (Theodor Adorno) à representação x uso e apresentação da
realidade
Implicações
macro políticas (dentro da instituição arte) à relações de bens culturais
micro políticas (“cultura do comportamento” – Nicolas Bourriaud) à criação de si como
“obra de arte”
Neovanguarda (Hal Foster) à repetição e retorno crítica do discurso da primeira vanguarda e
a institucionalidade da segunda.
Processo de mímese da ruína, crítica à modernidade capitalista.
Dizer o que o mundo nnao pode ser é criticar o que ele é.
Sustentar uma tensão entre arte e vida, e não superar a arte.
1.2 Arte/vida: Vanguardas e Happenings-Activities

Happenings-Activities – Allan Kaprow


Happenings: Evento artístico que se baseia nas rotinas do dia a dia à Atenção constante à
Isolamento e observação do gesto à Ao vivo, efêmeras e não repetidas à Reforça a
vanguarda como ”ideia avançada”.
Activities: Tipo de Happening que consiste em uma sequência de instruções executadas
(individualmente, em dupla ou grupo) sem a presença de um público. Repetição de gestos (do
cotidiano) com pequenas variações e alterações de locais de execução.
Lifelike Art: Domínio natural diário, experiência estranha mas muito didática sobre a vida (e
a privacidade anestesiada) à fronte: exame das fontes de vida, necessidade de “recreação”
onde um artista faz e não faz arte, carrega o cotidiano com força de linguagem.
2.1 A Internacional Situacionista: formação, ideia e métodos

IS (1957-1972): última tentativa de união de vanguarda cultural com política vanguardista.


Grupo com pretensões revolucionárias que pretendiam uma transformação profunda na
sociedade em sua fase de espetáculo generalizada através de uma ação direta (desde o âmbito
cultural) contra a alienação e a passividade gerada por uma série de condutas revolucionárias
instauradas pela construção de situações.
Gênese: Letrismo (1946-52 | Movimento literário de Isidore Isou, detournement, ideia de
renovação do mundo e incorporação de comportamentos, investidas no meio urbano) e
Internacional Letrista (1952-57 | Expansão além da ação estética. Revista Internationale
Lettriste (1952-54). Revista Potlach (1954-57) – 30ª dedicada a IS à crítica ao mundo das
mercadorias. Incentivo ao verdadeiro jogo) (livre de competição) à regras de conduta do
grupo.
Formação da IS: união de membros da Potlach, LPA e CoBrA-MIBI na conferência de Cosio
d’Arroscia (1957) – decorrente da “1º congresso e artistas livres” (1956) à Relatório sobre a
construção de situações e sobre as condições de organização e de ação da tendência à revista
Internationale Situationniste (1958-69) – crítica à sociedade do espetáculo e a produção
cultural como mercadoria ideial do capitalismo avançado – 12 números; 70 integrantes de 16
nacionalidades.
Fases da IS: “Fase artística” (1957-62) – crítica cultural e ação estética, abordagem lúdica-
criativa da cidade à revisitar a cultura moderna (Futurismo, Dada e Surrealismo) de modo a
superá-la. “Fase político-teórica” ou “heróica” (1962-68) – saída dos artistas, engajamento
em movimentos e manifestações de contestação – até Maio de 1968. Em 1972 é anunciada a
dissolução do grupo à A arte política tornar-se somente política.
2.1 A Internacional Situacionista: formação, ideia e métodos

Métodos da IS:
Pintura industrial – crença na automatização de processo criativo como metáfora para
desconstrução da ideia tradicional de artista, a popularização do produto artístico
Desvio (detournement) – de elementos estéticos pré-existentes como estratégia de
reorganização crítica (na inserção de mensagens políticas e na complexificação do sentido de
autoria/propriedade) à Um guia prático para o desvio (1956)– ultradesvio – desviar
situações inteiras (Situação Construída)
Psicogeografia – estudos dos aspectos afetivos e subjetivos para uma análise do ambiente
urbano por meio da deriva e da identificação de unidades de ambiência à incorporação da
arquitetura e urbanismo à relatos psicogeográficos materializados graficamente (em mapas,
livros e nas revistas do grupo).
Deriva – atitude prática e crítica diante o urbanismo pós-guerra. Movimento do corpo que
provoca um comportamento lúdico-construtivo, marcados pelos efeitos psiquicos de
determinados ambientes urbanos à Teoria da deriva (1958).
2.1 A Internacional Situacionista: formação, ideia e métodos

2.2 A Situação Construída


Potlach – jogo deliberadamente escolhido, uma síntese que congrega: uma crítica do
comportamento, um urbanismo influenciável e uma técnica de ambiências.
Objetivos – transformar as condições urbanas impostas pela lógica capitalista, burocrática e
espetacularizada. Criação de ambiências momentâneas da vida que demonstre sua qualidade
passional superior (teatro de operações cultural). Superação da arte pela sua supressão e
realização. Desalienação humana e provocação de comportamentos experimentais
Elementos – Cenário material da vida (na escala ampliada do urbanismo) e comportamentos
afetivos
Experimento inicial – Caverna da Antimatéria. Construção de ambiente completo (obra de
arte total) a serem vivido coletivamente.
SC e a Teoria dos Momentos – Construção artificial de instantes singulares num novo
arranjo espaciotemporal. A arte de viver – intensificação da vida não como meio, mas como
próprio fim.
Perspectivas: psicológica , técnico-urbanista e existencial (Mario Perniola) – Realização
dos desejos não sublimada na arte; proposições epaciais e crença no progresso técnico como
meio de libertação do homem do trabalho; tomada de consciência da precariedade da
existência nas condições pós-industriais, indicação de uma conduta revolucionária.
Sujeito situacionista – sujeito em experimento que elabora jogos não competitivos e brinca
com o tempo e o espaço. Produz situações construídas como alternativa a produção alienante,
que cede lugar a produção de si para si (ética critiva).
2.1 A Internacional Situacionista: formação, ideia e métodos

2.2 A Situação Construída hoje


Interesses iniciais – Contribuições a problemática estética (política) atual à Ação cultural
engajada. Pela tentativa de superação da arte como transformação da vida através de práticas
que interferem diretamente no espaço-tempo real.
Estudos atuais – Destacamos Constructed Situations (Frances Stracey). Proposta de
atualização da noção e da interpretação do pensamento e prática situacionista à Atualização
que aponta para novas formas de organização (por exemplo por meio da “Resistência
digital”) e novos agentes (aqueles sujos direitos sociais foram historicamente suprimidos).
Hipótese para ausência de questões políticas singulares no grupo – política revolucionária
totalizante.
Formas de atualização da Situação Construída (Stracey) – “Resistência Digital”,
“Recuperação das ruas” e “Nunca trabalhe”.
Breve levantamento de experimentos artísticos nacionais e locais numa aproximação dessa
classificação.
“Resistência Digital” – Coletivo Corpos informáticos; Você gostaria de participar de uma
experiência artistica? (Ricardo Basbaum)
“Recuperação das ruas” – Circuito aberto de performance em rede (Daniel Santiago); 1ª
exposição Internacional de Art-door (Bruscky & Santiago); A rebelião das crianças (Coletivo
ContraFilé); 1ª corrida de carrocas no centro da cidade do Recife (Jonathas de Andrade);
Dark Show (Gentil Porto Filho e convidados); Museu do Tubarão (Aslan Cabral e Casa
Navio); Peluqueria Carangi (Marie Carangie)
“Nunca trabalhe” – Saquinho de lixo (Aslan Cabral e membros flutuantes) e Ex-miss Febem
(Aleta Valente).
PARTE II
Estudo de casos
3.1 Aspectos metodológicos
Delimitações – Estudo de casos. Ações operadas por agentes que se identificam como
artistas ou mais submetidos a um sistema de artes e não ligadas ao espaço urbano mais estrito
(distanciamento quanto os objetivos situacionistas). Reconhecer em processos artísticos
atuais que transformam temporariamente determinados espaços e comportamentos operando
como utopias situadas (nos espaços físicos virtuais, nos corpos e na constituição de
subjetividades).
Hipótese – Verificar esteticamente as medidas em que as práticas de arte estudadas são
provocadoras de transformações nos âmbitos da cotidianidade social e cultural diante de um
contexto sócio cultural determinado e atualizado.
Problemática 1 – Complexificar a noção de espaço e vida urbana (advento dos meios digitais
e novas relações de trabalho)
Problemática 2 – Apontar corpos e existências dissidentes (mudança de perspectiva quanto os
agentes e suas formas de atuação para uma transformação social)
Tese – proposição de novos aspectos relacionais para uma possível atualização na noção de
Situação Construída. A partir de um somatório de bases teórico-práticas perseguimos a ideia
de uma ética criativa como ponto de cruzamento com a aspiração da Internacional
Situacionista.
Caso 1 – Como a tradicional prática artística com modelo vivo pode provocar uma nova
situação ao inverter o papel do modelo (compreendido como sujeito poético)
Caso 2 – Como a constituição de um novo sujeito social (Artista-Atleta) pode provocar uam
nova situação no intercâmbio de práticas de subjetivação.
Caso 3 – Como a convivência e uma intimidade festiva, experimental que torna-se pública
pode provocar uma nova situação.
3.2 Análises
3.2.1 Risco! Modelo vivo como roteirista de novas sessões (desde 2013)
3.2 Análises
3.2.2 Plus Ultra: Situações construídas na hermenêutica de uma artista-atleta (2006-
2013)
3.2 Análises
3.2.3 Casa como convém. Ponto de chegada = Ponto de partida (2007-2012)
3.3 Discussão
Em termos de aproximação e distanciamento da teoria situacionista:
Aspectos comuns dos casos – Utopias situadas nos comportamentos experimentais e na
construção efêmera de ambientes lúdico-construtivos. Todos operaram pela lógica do desvio,
alterando percepções e valos no cotidiano geral e mais estrito das artes visuais. Todos criaram
práticas antiautoritárias, públicas e coletivas, mas nenhuma proposta estava engajada na
queda de um sistema político ou constituiram um “urbanisno unitário”. Todos embora ajam
de maneira pública, não possuem um público espectador, mas sim vivenciadores de cada
proposta. Posteriormente as propostas são configuradas por um sistema da arte, onde já não
se constituem como construção de situações e assumem um valor estético-pedagógico.
Os projetos estudados só se aproximam efetivamente da proposta situacionista marcados no
tempo presente e no corpo dos agentes em ação no momento singular que deflagram.
Com base nos regimes de eficácia estética (e política) estabelecidos por Jacques Rancière,
verificamos que os casos operam uma articulação e trânsito entre os regimes ético (que seria
mais representativo do programa cultural situacionista) e estético (abertura para as potências
de dissenso no cruzamento de arte e política). Todos os casos operam um esgarçar do
momento de vida útil estética das propostas, e no movimento de saída e entrada em um
sistema de arte, agregam diferentes valores estéticos indicando diferentes regimes de
sensorialidade de um objeto comum.
3.3 Discussão

Aspectos relacionais dos casos


Caso 1 – Modelo vivo como diretor. Multiplicação dos sujeitos poéticos. Uso situacionista de
recursos artísticos. Não compõem um ambiente integral.
Caso 2 – Otimização de relações psicogeográficas e de deriva. Trabalho nos binômios artista-
atleta / corpo-ambiente (nova subjetividade) que suscita um encontro do universo esportivo e
o sujeito do devir estético (provoca um jogo superior). Avança no uso do cenário urbano
(ainda que não crie um urbanismo unitário) mas é menos coletivizadora.
Caso 3 – Estabelecimento de códigos de conduta experimental na vivência compartilhada de
amigos criativos que desdobram vivências caseiras no espaço público. Promovem, ainda que
de modo efêmero, construções lúdicas e urbanas que denunciam sua problemática e pontecia
de encantamento. São mais abertos ao engajamento de vivenciadores ocasionais e também as
circusntâncias fortuitas. São menos preocupados com os registros de suas ações, embora
sistematizem recursos dentro de um sistema de artes. Justamente se afastam da proposta
situacionista ao operarem segunda a lógica desse sistema.

3.4 Conclusões
Estudamos projetos artísticos que agem essencialmente na deflagração de comportamentos
experimentais e não pretendem superar a arte mas usá-la como premissa de ação ethopoética,
num desejo de constituir-se e recusar as formas que condicionam e isola a realidade dada.
Desse modo, são ações que plenamente realizaram parte dos preceitos situacionista
especialmente quando há uma proposição da ideia de uma ética criatica, que cruza com o
pensamento do grupo. A tese aborda, pois, um estudo menos focado nos territórios de ação e
mais interessado nas dinâmicas comportamentais dos corpos que atravessam territórios, e
assim o formam.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora os projetos estudados não estejam seguindo a orientação primordial da atividade
situacionista, não podemos afirmar que eles não empreendam uma arte política ou não
produzam “eficácia estética”.

Criar relações com a teoria situacionista é basearmo-nos nas contribuições decorrentes de um


espírito de radicalidade ética e criativa, e como tal, necessitamos de uma atualização na
compreensão das atuais formas de ação política na arte e na apropriação criativa do espaço
urbano – dado que buscamos predominantemente na observação e analise empírica dos
projetos artísticos estudados.

A indicação de uma possível atualização da noção de Situação Construída, se baseia em:


• Um redimensionamento da competência sensível do cotidiano – da noção de “participação”
e de “real” que adquire novas conotações na Era Digital
• Uma constatação das previsões feitas pelos situacionistas – quanto a espetacularização
generalizada das cidades ao ponto que inviabilizam o manejo do desvio arquitetônico; quanto
aos sujeitos capazes de suscitar uma ação efetivamente engajada (aqueles sujos direitos
sociais foram historicamente suprimidos).

Nem sempre uma ação “fora do museu” é capaz de alterar efetivamente o estado hegemônico
da vida e de suas percepção dadas.
GLOSSÁRIO
A

ATIVIDADES – Prática desenvolvida pelo artista e filósofo Allan Kaprow. São obras com
caráter de evento onde um pequeno grupo de pessoas engaja-se na realização de ações
previstas em um “roteiro”. Diferente do “Happening”, as Atividades eram elaboradas sem ter
como objetivo o compartilhamento do momento da execução com uma audiência, um grupo
destacado daqueles que participavam e que formalizasse uma plateia. As Atividades não são
elaboradas para que sejam assistidas: são obras de arte cuja finalidade está em sua realização.
D

DESVIO – “Abreviação da expressão: desvio de elementos estéticos pré-fabricados.


Integração de produções artísticas, atuais ou passadas, em uma construção superior do
ambiente. Nesse sentido, não pode haver pintura ou música situacionista, mas um uso
situacionista desses recursos. Num primeiro sentido, o desvio no interior das antigas esferas
culturais é um método de propaganda, que comprova o desgaste e a perda de importância
dessas esferas”. (IS, 1958 apud JACQUES, 2003)
E

ESTÉTICA DA EXISTÊNCIA – Conceito dinâmico desenvolvido na última fase de trabalho


do filósofo francês Michel Foucalt (1978-1984) que visava estudar “a formação e o
desenvolvimento de uma prática de si que tem por objetivo constituir si mesmo como um
artífice [ouvrier] da beleza de sua própria vida.” (FOUCAULT, 1946). Trata-se pois de um
estudo sobre os modos de subjetivação moral centrado na ideia da constituição de si criado
como “obra de arte”.
G

GREA – “Apelido carinhoso” local (Pernambuco) que significa, “ mais ou menos um estado
de euforia geralmente caracterizado pela reunião de um grupo de pessoas que, em conjunto
(de dois, pelo menos), ‘tiram onda’ do mundo e das pessoas através de aguçado senso crítico,
muita ironia, espontaneidade, liberdade, gargalhadas e falas homéricas. Muito além de
‘gozar’ com alguma coisa, a grea é um momento de provocação genuíno, ligeiramente
despretensioso e costumeiramente inteligente. É um estado criativo por definição, uma vez
que é embasado em observação e comentários.” (DINIZ, 2006)
H

HAPPENING – “Happening é uma combinação de eventos realizados ou percebidos


simultaneamente em diversos espaços e temporalidades. Seu ambiente material pode ser
construído, tomado diretamente do que está disponível, ou ligeiramente alterado; assim como
suas atividades podem ser inventadas ou comuns. Um Happening, ao contrário de um jogo de
cena, pode ocorrer no supermercado, dirigindo ao longo de uma estrada, embaixo de uma
pilha de trapos, e na cozinha de um amigo, tanto de uma única vez como sequencialmente. Se
sequencialmente, o tempo pode ser prolongado por mais de um ano. O Happening é realizado
de acordo com um planejamento, mas sem ensaio, audiência ou repetição. É arte mas se
parece mais próximo da vida”. (KAPROW, 1966).

HETEROTOPIA – Lugares absolutamente outros por oposição. Contraespaços cujo objetivo


é apagar, neutralizar ou purificar todos os outros espaços. “Utopias localizadas”.
(FOUCAULT, 2013). Espaço de contestação indicativo da tensão entre dinâmicas de poder e
da criatividade desviante propositora de novas situações.
S

SITUAÇÃO CONSTRUÍDA – “Momento da vida, concreto e deliberadamente construído


pela organização coletiva de uma ambiência unitária e de um jogo de acontecimentos”. (IS,
1958 apud JACQUES, 2003). Transformação da vida em uma “qualidade passional superior”
(DEBORD, 1957 apud JACQUES, 2003).

SITUACIONISTA – “O que se refere à teoria ou à atividade prática de uma construção de


situações. Indivíduo que se dedica a construir situações. Membro da Internacional
Situacionista”. (IS, 1958 apud JACQUES, 2003).

SITUACIONISMO – “Vocábulo sem sentido, abusivamente forjado por derivação do termo


‘situacionista’ (grifo nosso). Não existe situacionismo, o que significaria uma doutrina de
interpretação dos fatos existentes. A noção de situacionismo foi evidentemente elaborada por
anti-situacionistas”. (IS, 1958 apud JACQUES, 2003).
U

ULTRADESVIO – Desvio sendo operado no funcionamento concreto da via social cotidiana.


Desvio de “situações inteiras através de mudanças deliberadas desta ou daquela condição
determinante”. (DEBORD; WOLMAN, 1956).

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