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depois, ela apresenta letargia e icterícia visível. O nível de bilirrubina a taxa de ocorrência é muito maior nos participantes do estudo
total é de 10,7 mg/dL (normal, 0,0 a 1,0 mg/dL), e os níveis séricos do que nos controles. Um em 1.000 pode parecer um evento
de transaminase estão 30 vezes acima do limite superior normal. raro, mas se 10 milhões de pessoas usarem o fármaco a cada ano,
Em uma semana ela encontra-se comatosa e os médicos diagnos- haveria 10.000 ocorrências anuais do evento adverso. No caso de
ticam necrose hepática aguda fulminante, provavelmente causada um efeito adverso que pode ser fatal, como a hepatotoxicidade
pela troglitazona. Após se encontrar um doador compatível, a Sr. C. fulminante, isso pode ter conseqüências importantes do ponto de
é submetida com sucesso a um transplante de fígado. vista clínico e de saúde pública.
Depois de algumas semanas, relatos de casos semelhantes Os participantes dos ensaios clínicos de novos fármacos são
levam os fabricantes ou as autoridades reguladoras a suspender quase sempre voluntários — indivíduos que se ofereceram para
o uso da troglitazona na maioria dos países. O fármaco continua participar da pesquisa médica e deram seu consentimento livre
sendo comercializado nos Estados Unidos, onde seus defensores e esclarecido. Há muitas evidências de que esses indivíduos
afirmam que os benefícios para a saúde pública da possibilidade tendem a ser diferentes dos pacientes típicos que receberão
de melhor controle do diabetes superam os casos relativamente o fármaco em seu uso rotineiro; os participantes de estudos
raros de hepatotoxicidade que o novo medicamento pode causar. tendem a ser mais jovens, mais saudáveis, mais bem educados
Durante esse período, foram descritos dezenas de outros casos de e a ter melhor situação socioeconômica. Às vezes isso ocorre
insuficiência hepática induzida pela troglitazona; dois anos depois o por causa da natureza dos voluntários em pesquisas médicas,
fármaco também foi retirado do mercado norte-americano. mas muitas vezes decorre dos critérios de exclusão dos proto-
Novos agentes da mesma classe (pioglitazona, rosiglitazona) colos de estudo. Alguns protocolos proíbem a participação de
foram introduzidos após a retirada da troglitazona. Embora a estru- pacientes acima de uma determinada idade (como 65 ou 70
tura e o mecanismo de ação dessas substâncias sejam semelhantes anos), mesmo que seja esperado maior uso do fármaco por ido-
aos da primeira, não parece haver o mesmo risco de lesão hepática, sos. Os critérios de ingresso freqüentemente excluem pacientes
e elas continuam sendo usadas em larga escala. A Sra. C. está bem que têm co-morbidades importantes além da doença estudada
com o fígado transplantado, mas é necessário o uso permanente (assim excluindo aqueles que usam vários outros medicamen-
de imunossupressores. O diabetes está muito bem controlado com tos). Embora essa possa ser a forma “mais limpa” de testar a
o uso de insulina e metformina. eficácia de um novo agente, há preocupação crescente de que os
dados assim gerados tenham limitado a possibilidade de gene-
ralização para as populações que mais tarde usarão esses pro-
QUESTÕES dutos. Outros são excluídos por razões éticas inquestionáveis,
n 1. Como são verificados os riscos dos fármacos antes da apro- como não permitir a participação de gestantes ou crianças na
vação pela FDA e quais são os pontos positivos e negativos maioria dos ensaios pré-aprovação. No entanto, depois, quando
do processo? esses pacientes usam os fármacos nos cuidados de rotina, há
n 2. Como os médicos e os pacientes tomam conhecimento da poucas informações para orientar o seu uso.
freqüência e da intensidade dos efeitos adversos após a Por definição, os ensaios clínicos são realizados por médicos
aprovação? e por equipe de apoio com experiência em pesquisa clínica e em
n 3. Como é monitorado o perfil de risco-benefício de um fár- circunstâncias em que essas atividades são comuns. Suas atitudes
maco após o início do uso clínico em larga escala? são guiadas pelos protocolos do estudo que exigem o acompa-
n 4. Considerando-se que todos os medicamentos causam nhamento dos efeitos adversos e da eficácia, garantindo que os
algum efeito adverso, o que é considerado “suficientemente pacientes tomem o produto prescrito conforme a orientação. Isso
seguro” em relação aos benefícios do fármaco? também é muito diferente da rotina em circunstâncias típicas,
nas quais a adesão costuma ser bem inferior e a vigilância para
detecção precoce de eventos adversos é muito menor.
avaliação indireto de ectopia ventricular após infarto do miocár- Às vezes, para aprovar um novo fármaco para uso em larga
dio. No entanto, um estudo maior (o ensaio CAST) mostrou que escala, a FDA pede ao fabricante que realize outros estudos
na verdade eles aumentaram a mortalidade nesses pacientes, pós-comercialização (às vezes chamados de estudos de fase
apesar do sucesso no “tratamento” do indicador substituto. IV) para avaliar questões que não foram resolvidas pelos dados
Sempre que possível, os placebos são o tratamento de com- apresentados antes da aprovação. Às vezes, são obtidos novos
paração preferido por fabricantes e pela FDA. Se for impossível, dados úteis sobre os benefícios e riscos de um fármaco dessa
do ponto de vista ético ou prático, realizar ensaios controlados forma. Mas a agência tem pouca autoridade para obrigar o res-
por placebo (por ex., com um novo fármaco para AIDS ou ponsável por um fármaco a concluir esses estudos, já que seu
para o alívio prolongado da dor), usa-se uma substância ati- principal poder regulador, após a aprovação do fármaco, está
va para comparação. As comparações entre fármaco e placebo limitado à “opção extrema” de ameaçar retirá-lo do mercado
produzem os contrastes mais nítidos e a análise estatística mais — uma medida que muitas vezes não é possível sem outros
direta, e não há possibilidade de confusão provocada por even- dados. Todos os anos, a agência faz um relatório informan-
tos terapêuticos ou adversos causados por um agente ativo no do como os fabricantes estão honrando esses “compromissos
grupo de controle. O controle com placebo também permite pós-comercialização”. Um relatório recente do Government
aprovar novos produtos cuja eficácia seja semelhante à dos fár- Accountability Office notou que até metade dos estudos de
macos existentes; a realização de estudos de “equivalência” ou segurança pós-comercialização “obrigatórios” solicitados pela
de “não-inferioridade” contra tratamentos ativos requer maior agência não havia sido iniciada, mesmo anos após o início do
número de pacientes e é mais difícil estatisticamente. uso do fármaco em larga escala.
No entanto, enquanto a comparação “melhor que placebo”
pode ser suficiente para que um fabricante atenda às exigên-
cias legais da FDA para aprovação do fármaco, os dados apre- FARMACOEPIDEMIOLOGIA
sentados costumam não atender às expectativas do clínico,
do paciente ou do financiador sobre a segurança ou a eficácia Farmacoepidemiologia é o estudo dos desfechos de um fármaco
comparativa de um novo fármaco. Um novo fármaco pode ter em grandes populações de pacientes. Para compreender a meto-
ação melhor do que o placebo, mas é melhor do que um outro dologia é preciso pensar nos efeitos do fármaco sob aspectos
tratamento já existente que o médico poderia escolher? Ou é diferentes da farmacologia convencional (Quadro 50.1). Essa
pelo menos igual? O novo fármaco pode causar mais efeitos perspectiva considera a população como o sistema experimental
adversos (por ex., rabdomiólise no caso de uma estatina), mas estudado. Os medicamentos são introduzidos no sistema como
a incidência é maior do que a observada em tratamentos anti- poderiam ser estudados em cultura tecidual, em um paciente
gos? E ainda que seja, o novo fármaco também proporciona ou em um preparado de células isoladas. As diferenças são que
maior prevenção de eventos cardíacos isquêmicos? Em caso nas populações geralmente não há randomização, os desfechos
afirmativo, a troca pode ser aceitável; caso contrário, não seria; são medidos em termos de probabilidades (ou taxas) de even-
mas se não houver dados comparativos, não é possível sequer tos, as decisões interpostas e o comportamento de médicos e
avaliar a questão. pacientes podem modificar o efeito do fármaco, e as escalas
usadas na análise são muito maiores do que as empregadas na
DURAÇÃO E ESTUDOS PÓS-APROVAÇÃO farmacologia convencional, alcançando milhões de pacientes
e anos de exposição.
A duração dos ensaios de eficácia de alguns novos fármacos A importância da farmacoepidemiologia é ressaltada pela
pode levar apenas 8 a 16 semanas. Embora os critérios de interrupção da comercialização de diversos fármacos proemi-
avaliação substitutos ou desfechos indiretos possam ser sufi- nentes nos últimos anos. Cada uma dessas interrupções foi pre-
cientes para atender a uma definição legal de eficácia, esses cedida por efeitos adversos graves, ou até mesmo fatais, que
ensaios de curta duração podem fornecer poucas informações não foram reconhecidos ou que foram subestimados por ocasião
úteis sobre os benefícios e os riscos depois desse período. Além da aprovação (Quadro 50.2). Empregando os recursos da far-
disso, a FDA requer teste de segurança durante no mínimo 6 macoepidemiologia, é possível identificar efeitos adversos que
meses para um novo fármaco destinado ao uso crônico (sendo podem ser negligenciados em ensaios randomizados em razão
crônico definido como qualquer período maior que 6 meses). de serem raros, representarem aumento de um risco inicial já
No entanto, mesmo essa duração do teste de segurança pode elevado (por ex., duplicação do risco de infarto do miocárdio
ser relativamente curta para um medicamento de administração ou acidente vascular cerebral em pacientes idosos), ocorrerem
crônica que pode ser usado durante vários anos. principalmente em grupos de pacientes sub-representados nos
ensaios clínicos (por ex., idosos, crianças, gestantes), levarem associada ao uso de um fármaco e de outros membros da mes-
muitos meses ou anos para se desenvolver, surgirem basicamen- ma classe. Os dados clínicos limitados sobre o caso descrito
te durante a coadministração de outros fármacos específicos também podem prejudicar a tentativa de avaliar os fatores de
e/ou ocorrerem principalmente em pacientes que tenham uma confundimento (ver discussão adiante) que podem distorcer a
co-morbidade ou um genótipo específico. relação fármaco-desfecho.
tenas de milhares de pacientes mediante o emprego de um ban- fármacos desde que se descobriu, em 1961, que a talidomida
co de dados automatizado de solicitações de reembolso. Uma causava grandes malformações fetais. A tragédia da talidomida
diferença de 4 ou 5% nas taxas de um determinado efeito (seja ajudara a desencadear uma onda de reformas das regulamenta-
terapêutico ou adverso) pode atingir um valor de p de 0,001, ções dos fármacos que deu à FDA nova autoridade para exigir
apenas devido ao enorme tamanho da população estudada. Mas comprovação da eficácia antes da aprovação de um fármaco.
aqui, mesmo que o achado pareça ter significado estatístico, (Essa exigência não existia antes.) A suspensão das vendas do
uma diferença de magnitude tão pequena pode ter pouca ou Vioxx também estimulou pedidos de uma reforma reguladora,
nenhuma importância clínica. sobretudo no modo de detecção e acompanhamento de eventos
adversos, mas a resposta política foi muito menor. Uma questão
muito discutida foi a falta de autoridade clara da FDA para
exigir estudos dos riscos do fármaco após o início da com-
EFEITOS ADVERSOS DOS FÁRMACOS E ercialização. Embora a agência tenha grande influência sobre
O SISTEMA DE ATENÇÃO À SAÚDE os fabricantes durante o processo inicial de aprovação do fár-
maco, seu poder é pequeno para exigir outros estudos de um
A série de retiradas do mercado de fármacos freqüentemente fármaco que já esteja no mercado. As revisões governamentais
usados na década de 1990 e no início da década de 2000 demonstraram que, mesmo quando os estudos de segurança
renovou o interesse no desenvolvimento de técnicas para evi- pós-venda são exigidos por ocasião da aprovação, muitas vezes
tar esses problemas, ou pelo menos para limitar o número de não são concluídos ou sequer iniciados. Isso ajuda a explicar o
pacientes expostos ao risco identificando mais cedo os efeitos atraso na detecção e na solução de importantes efeitos adversos.
adversos. Conseqüentemente, o conceito de “gestão de risco” A racionalização da resposta nacional a esse problema ainda é
tornou-se um tema importante no desenvolvimento e na regu- um objetivo primordial da política pública.
lação dos fármacos.
QUESTÕES LEGAIS E ÉTICAS
EQUILÍBRIO ENTRE BENEFÍCIOS E RISCOS Os eventos adversos dos últimos anos fizeram com que muitas
Como observado acima, os novos produtos não costumam pessoas da área médica, do governo e da população em geral
ser comparados às opções existentes durante a avaliação para perguntassem como deve ser distribuída a responsabilidade pela
aprovação, e esses estudos também não costumam ser rea- descoberta e pelas providências relativas aos efeitos adversos
lizados após a aprovação. Portanto, no caso de fármacos com importantes. Na maioria das vezes, a indústria e os funcionários
riscos conhecidos é difícil saber se um efeito adverso é mais da FDA afirmaram que as leis atuais são satisfatórias e que é
comum com um novo fármaco do que com outro da mesma adequado que uma empresa cumpra as exigências de apresentar
classe (por ex., hemorragia gastrointestinal com AINE ou rab- relatórios espontâneos de eventos adversos à agência. No entanto,
domiólise com estatinas). Uma maior taxa de um determinado o fracasso desse sistema em alertar precocemente sobre os riscos
evento adverso poderia ser aceitável com um fármaco especí- dos fármacos apresentados no Quadro 50.2, que agora estão fora
fico se estivesse associada a aumento significativo da eficácia. do mercado, levou à solicitação de um padrão mais rigoroso. Há
Nesse caso, porém, a ausência de ensaios clínicos pareados sugestões de que a indústria deve servir como “supervisora de sua
dificulta a avaliação. Assim, na maioria dos casos, o clínico molécula”, responsável pela pesquisa proativa de possíveis danos
precisa tomar decisões terapêuticas sem os dados necessários além do mínimo exigido por lei. Jurados e tribunais concordaram
para fazer essas opções com rigor. com essa idéia; as indenizações judiciais ultrapassaram a casa
Os 30 bilhões de dólares gastos anualmente pela indústria de um bilhão de dólares no caso da cerivastatina (Baycol) e de
farmacêutica para vender seus produtos costumam ser concen- 21 bilhões de dólares no caso da fenfluramina e da dexfenflu-
trados na “fase inicial”, com desembolso de grandes quantias ramina (Redux), mesmo sem condenações criminais.
logo após o lançamento para maximizar as vendas durante o
maior número possível de anos enquanto a patente ainda for n Conclusão e Perspectivas Futuras
válida. Ironicamente, isso significa que a maior promoção de Um ingrediente necessário para responder às questões levan-
um medicamento ocorre no período em que há menor expe- tadas neste capítulo é a disponibilidade de dados rigorosos e
riência com seu uso e efeitos na população como um todo. amplos sobre riscos e benefícios em grandes populações de
Por ocasião da aprovação pode não haver muitas (ou mesmo pacientes típicos. Esses dados são necessários para permitir que
nenhuma) informações na literatura revista por pares sobre a as decisões — tanto tomadas à beira do leito quanto políticas
eficácia e a segurança de um fármaco, assim muitas vezes as — sejam baseadas na ciência e não em palpites, temores ou
fontes promocionais de informação são o principal recurso dos modas. Foram propostas várias direções para resolver a “lacuna
médicos para conhecerem os novos produtos. Os críticos da de dados” relativa aos efeitos adversos dos fármacos. Esses
indústria afirmaram que esses materiais costumam enfatizar avanços podem ser divididos em três domínios distintos: bio-
mais os benefícios terapêuticos, de forma persuasiva, do que logia, epidemiologia e política.
alertar para os riscos. Do ponto de vista biológico, a detecção sistemática de
efeitos adversos será beneficiada pelo desenvolvimento de
O PAPEL DA FDA instrumentos de pesquisa biomédicos para prever com mais
precisão a toxicidade de novos compostos e para indicá-los para
Depois de 5 anos no mercado e do uso por cerca de 20 milhões supervisão intensiva após o início da venda de um fármaco. A
de pessoas, o rofecoxib (Vioxx) teve sua venda suspensa em farmacogenômica (ver Cap. 52) está enfocando muitas dessas
2004, quando se constatou que duplicava o risco de infarto questões a partir do ponto de vista de diferenças hereditárias
do miocárdio e acidente vascular cerebral. Esse acontecimento no metabolismo dos fármacos (farmacocinética) e nas respostas
chamou a atenção do público como nenhuma outra crise com aos fármacos (farmacodinâmica).
Detecção Sistemática de Eventos Adversos em Fármacos Comercializados | 827