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HARMONIZAÇÃO DE REGRAS
Por Gabriela Coelho
Fachin também discorda da análise de que o Judiciário assumiu papeis que não
eram seus, construindo o que alguns críticos chamam de "juristocracia" — ou
"Supremocracia". "A questão central é autoridade com legitimidade, sem caos
normativo. Não vejo degradação hermenêutica nem derrota com ares de ceticismo",
responde o ministro.
Leia a entrevista:
https://www.conjur.com.br/2019-ago-25/entrevista-ministro-luiz-edson-fachin-tse?imprimir=1 1/7
27/08/2019 ConJur - Entrevista: ministro Luiz Edson Fachin, do TSE
ConJur — Cada vez mais vemos eleições sendo definidas no Judiciário. Os casos são
inúmeros, em todas as esferas. A Justiça Eleitoral tutela demais a vontade do eleitor?
Luiz Edson Fachin — Não. A soberania popular é o motor que faz a democracia
mover-se dentro dos limites e das possibilidades da Constituição. Esse espaço
político próprio não pode nem deve ser capturado pelo Judiciário. Mas a Justiça
pode (e deve), quando chamada a se pronunciar, zelar pela legitimidade e
normalidade das eleições, nos termos das regras constitucionais. A Justiça Eleitoral
tem seu papel institucional democrático delimitado pela Constituição. Esse papel
está relacionado a um dos requisitos a partir dos quais se define democracia –
eleições recorrentes, livres, competitivas e justas – e Estado de Direito.
ConJur — É exagero, então, dizer que o Judiciário hoje tem protagonismo excessivo?
Fachin — Sim. Estão a ver somente um Judiciário que se tornou conhecido pelas
notórias circunstâncias contemporâneas (e não apenas no Brasil. Há, por exemplo, o
extraordinário livro de Antoine Garapon, O Guardador de Promessas, sobre o tema
na França), mas há outros segmentos relevantes do Judiciário e da prestação
jurisdicional que são ainda grandes desconhecidos da mídia e por isso mesmo da
sociedade.
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27/08/2019 ConJur - Entrevista: ministro Luiz Edson Fachin, do TSE
Além disso, a adoção de termo inadequado e discriminatório pelo artigo 6º, inciso I,
alínea ‘a’ do Código Eleitoral (inválido), aponta antinomia em relação ao Estatuto da
Pessoa com Deficiência e verifica que o dispositivo legal não regulamenta de forma
adequada a situação das pessoas com deficiência, especialmente daquelas cujo
comparecimento obrigatório para alistamento eleitoral ou para o exercício do voto
importe em ônus desproporcional.
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27/08/2019 ConJur - Entrevista: ministro Luiz Edson Fachin, do TSE
ConJur — O deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES) levantou que entre 1989 e 2015
foram 14 reformas no sistema eleitoral. "Não ficamos duas eleições com o mesmo
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27/08/2019 ConJur - Entrevista: ministro Luiz Edson Fachin, do TSE
sistema desde que a Constituição foi promulgada", segundo ele. Um sistema assim é
sustentável?
Fachin — Não é. A crítica tem direção certa. Mas o sentido é outro. É preciso dar
estabilidade e previsibilidade. A reforma eleitoral é tema próprio do Legislativo. As
deliberações próprias do parlamento pertencem ao debate político. A teoria
normativa não pode nem deve ser encapsulada pela teoria política. Ao Judiciário
Eleitoral cumpre realizar a proclamação do legislador em seu duplo papel: justiça
para o caso concreto e regulamentador para a gestão das eleições. Certas variações
legislativas são próprias de uma democracia aberta, porosa e em solidificação. O
importante é preservar a Constituição e as instituições democráticas.
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27/08/2019 ConJur - Entrevista: ministro Luiz Edson Fachin, do TSE
Uma teoria operacional da norma requer que passemos por esse desafio: não cruzar
os braços, numa omissão cega, nem se projetar no campo dos demais poderes e
instituições, numa hipertrofia criticável. O ponto é o equilíbrio na legalidade
constitucional que eleva a princípio normativo (parágrafo 9º do artigo 14 da
Constituição) a legitimidade e a normalidade das eleições.
ConJur — Na sua opinião, é um equívoco dizer que o Judiciário tem aumentado a
incerteza?
Fachin — É, sim. Não concordo com isso. O parlamento não se resume a alguns
parlamentares. O Judiciário não se reduz a alguns juízes. Estou a falar das
instituições e não de pessoas historicamente localizadas ou situadas em outra ordem
de preocupações. Esse conceito aritmético de certeza ou de incerteza se situa num
tempo anterior ao idealismo kantiano. Não está na sociedade plural e complexa do
presente. O mal é outro, o sintoma não está na incerteza. A patologia é o conjunto
das disfunções derivadas do processo de diluição institucional em curso.
Reitero o que tenho sustentado nessa seara: as regras que fixam os limites das ações
de cada ator do processo eleitoral exercem um papel central. E uma qualidade
inafastável desse sistema é mesmo a certeza. Certeza que não deve ser aritmética,
mas a expressão da confiança. Ainda que o Direito seja linguagem e que a marca
típica da linguagem seja a sua textura aberta, a redução das incertezas é um dever,
principalmente, da jurisprudência. Em uma campanha eleitoral, é plausível que os
candidatos tenham dúvida quanto à melhor estratégia para conquistar a afinidade
do eleitor, mas não podem ter relativamente aos limites das estratégias possíveis.
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