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Fichamento
“a revolução burguesa deve ser encarada como processo e época histórica que
perpassa ‘oitenta anos de transformações em ondas cada vez maiores’.” (p. 113, 114)
“Essa fase e essa forma de fazer política tiveram seu último lance no Ocidente com a
derrota da Comuna de Paris, quando a nova classe subalterna foi derrotada e as antigas
classes dirigentes foram absorvidas na modernidade. Enquanto que na Inglaterra essa
questão da absorção das antigas camadas dirigentes estava já parcialmente resolvida
desde fins do século XVII, facilitando as rápidas transformações técnico-econômicas, e nos
EUA estavam ausentes elementos feudais e uma nobreza hereditária, nos outros Estados
do Ocidente esse processo é tardio, ocorrendo somente após 1848, sob forma de revolução
passiva.” (p. 114)
"Em torno de 1870, embora fosse ainda a Inglaterra o mais importante país industrial,
a base material da modernidade estava bastante mais expandida, ainda que por 'manchas',
por boa parte do Ocidente." (p. 117)
"Estava terminada a guerra civil que vitimava o Ocidente desde 1792, e derrotado o
projeto do império universal forjado a partir da revolução liberal burguesa eclodida na
França." (119)
"A maré do Ocidente interno, espraiando-se sobre o núcleo do Ocidente, estabilizou
momentaneamente a ordem social, reconduzindo a nobreza ao papel de defensora da
continuidade histórica e as igrejas ao papel de mediação entre as classes dominantes e as
camadas sociais subalternas." (119)
"A revolução de 1830 retirou o véu que o Oriente interno havia colocado sobre o
núcleo do Ocidente, tornando nítidas novamente as diferenças entre as duas áreas." (p.
121)
"A Inglaterra estimulava a Áustria em direção aos Bálcãs para servir de contrapeso
aos interesses franceses, enquanto os russos se apoiavam na Sérvia e no reino de Nápoles
para ampliar sua influência no Mediterrâneo oriental. Mas um confronto armado somente
viria a ocorrer em 1854-1856, na guerra da Criméia, quando Turquia, Inglaterra, França e
Piemonte coligados, infringiram pesada derrota ao império czarista." (p. 122)
"O controle político direto do núcleo do Ocidente sobre o mundo [...], retraiu-se de
modo muito significativo na época de consolidação e generalização da modernidade. Isso
não quer dizer que a ocidentalização do mundo, através da reinvenção da subalternidade e
das formas de domínio, não tenha avançado." (p. 126)
"A época e processo de revolução burguesa nos EUA findou com a conclusão da
formação territorial e a abolição do estatuto da escravatura, mantendo no entanto os afro-
americanos na subalternidade, e com o início da guerra final de extermínio dos índios,
concluída em 1890. Com o crescimento da vaga migratória vinda da Europa, até mesmo
entre os brancos foram forjados subalternos que não se enquadravam no padrão da clássica
identidade americana do homem branco anglo-saxão e protestante..." (p. 128)
"Por outra parte, desde o início do século XIX estava evidenciada a crise do feudalismo
japonês, que se desenvolvia relativamente imune à pressão ocidental, até que em 1854 um
barco de guerra americano abriu a canhonadas os portos japoneses ao comércio do
Ocidente, promovendo uma dramática inflação e seguidos levantes camponeses. [...] A
ocidentalização do mundo se diversificava na sua trajetória, mas não eliminava a lógica da
conquista, submissão e racialização do outro, que o Japão também passava a incorporar."
(p. 130)
"Para Tocqueville, a revolução francesa deve ser encarada como um processo [...]
ainda não concluído, mas que, tendo suas origens no antigo regime, apenas apressou a
inevitável igualdade de condições entre os homens. Mas é precisamente na democracia que
se encontra o terreno mais fértil para o surgimento de novos despotismos." (p. 133)
"Como liberal, Tocqueville tem a noção de liberdade fundada antes de mais nada na
propriedade de si e da razão que define a individualidade, de onde deriva o direito de
apropriação privada das coisas do mundo. Acontece que o desaparecimento da aristocracia
e, com ela, dos poderes intermediários, na mesma linha de raciocínio de Montesquieu, e a
progressão da democracia colocam o Ocidente diante de dois perigos: a anarquia e o
despotismo, ambos gerados pela exacerbação da igualdade, cuja implicação seria o fim da
liberdade." (p.136)
"Uma nova e terrível face do despotimo ocidental moderno foi-se formando por
contraste no correr dos anos 40, até que se mostrou por inteira, ainda que
momentaneamente, em 1848, ameaçando a consolidação e generalização da ordem liberal-
burguesa." (p. 137)
"A utopia liberal de Tocqueville fazia com que imaginasse na ocidentalização do mundo o
único remédio eficaz contra qualquer ameaça externa. [...] De tal modo, para o teórico da
liberal-democracia, o despotismo é inaceitável apenas quando coloca em risco a liberdade
proprietária do Ocidente, mas é perfeitamente válido na defesa desse último privilégio que a
modernidade em consolidação havia preservado - a propriedade privada. Ao mesmo tempo
em que apoia o despotismo colonial como forma de expansão histórica do Ocidente, [...]
Tocqueville lamenta as contendas entre os Estados do Ocidente, como a que opôs
Inglaterra e França na questão egípcia." (p. 142)
"De tal sorte que, para ele [Stuart Mill], 'o despotismo é um modo legítimo de governo
quando se lida com bárbaros, uma vez que se vise o aperfeiçoamento destes, e os meios se
justifiquem pela sua eficiência atual na obtenção desse resultado'." (p. 146)
"A obra e a trajetória de John Stuart Mill são emblemáticas mostrar como a liberal-
democracia como teoria e regime político tem o objetivo de ampliar o consenso interno do
Ocidente a fim de dar um novo impulso na ocidentalização do mundo, por meio do
despotismo colonial..." (p. 147)
"A racialização e a inferiorização do outro surge no Ocidente da modernidade no
momento em que se impõem a chamada razão moderna e o cientificismo." (p. 148)
"O outro da modernidade é o proletariado industrial, não só por ser expropriado dos
meios de produção que o mantêm alienado do contato direto com o mundo natural, e dos
meios de conhecimento através do qual define uma personalidade, mas também porque a
modernidade capitalista cancela a diversidade sexual e etária, projetando homens, mulheres
e crianças no interior do mundo assalariado fabril." (p. 149)
"Ao encarar a propriedade privada como processo e não como ponto de partida
dado, Marx pôde captar a raiz da relação alienada entre o público e o privado na
dissociação progressiva da força de trabalho dos meios de produção e na apropriação
privada dos frutos do trabalho social." (p. 151)
"Nesse processo, o capital surge como relação social que extrai a produção
excedente da força de trabalho, assim como a subjetividade do trabalhador, que vê alienado
o produto de seu esforço em benefício do proprietário dos meios de produção." (p. 151)
"Mas não basta pensar a superação da propriedade privada, 'é necessário uma ação
comunista efetiva', daí o comunismo crítico se confundir com o 'momento efetivo e
necessário para o movimento histórico seguinte'..." (p. 153)
"Marx voltou suas vistas para o Oriente como outro externo do Ocidente, com maior
atenção, apenas após o refluxo da onda revolucionária de 1848, havendo já incorporado a
obra e as concepções de Hegel sobre a Ásia. [...] ...aos poucos foi se afastando da visão de
Hegel, que na verdade historiciza a noção de despotismo oriental formulada anteriormente
por Montesquieu." (p. 154)
"...Hegel reproduz e sofistica a representação do Oriente como outro inferior, lócus
da estagnação histórica e da subserviência, em contraposição ao dinamismo e à liberdade
do Ocidente." (p. 155)
"Marx nota que 'a Inglaterra destruiu toda a estrutura da sociedade indiana, sem que
tenham surgido ainda quaisquer sintomas de reconstituição'; tal estrutura era caracterizada
pela ausência de propriedade privada individual e de separação entre cidade e campo,
estando a produção agrícola e a manufatureira articuladas nas comunidades de aldeia que
'sempre constituíram a sólida base do despotismo oriental'." (p. 155)
"Acontece que agora essa formação social oriental, [...] estava se defrontando com a
modernidade capitalista do Ocidente e sendo transformada em outro externo negativo e que,
através da difusão e generalização das relações mercantis, iria inelutavelmente dissolver os
laços comunais e projetar indivíduos, [...] transponível apenas, segundo a perspectiva
marxiana, pelo caminho da incorporação da ciência e da técnica do Ocidente e da difícil
convergência de interesses com o proletariado industrial - o outro interno da modernidade."
(p. 159)
"Parece que para Marx a formação social eslava é uma variante da forma oriental,
também baseada na propriedade comunal agrária, mas com individualidades mais
diferenciadas..." (p. 159)
"A questão russa colocava-se assim para Marx como um problema teórico-prático de
crescente atualidade para o movimento socialista, e suas aparentes oscilações ou
embaraços não podem ser vistos fora do próprio movimento do real." (p. 160)
" 'Se a Rússia tende a transformar-se numa nação capitalista, à maneira das nações
da Europa ocidental - e nos últimos anos ela tem-se dado muito mal nesse sentido - não o
conseguirá sem antes transformar uma boa parte de seus camponeses em proletários'." (p.
162)
"A diferença principal em relação aos escritos de Marx, para quem bastava a
existência sincrônica da produção capitalista no Ocidente e uma revolução no Oriente que
recolocasse a comuna agrária em 'condições normais', é que para Engels 'se existe algo
que ainda pode salvar a propriedade comunitária russa e permitir que ela se transforme e
viva, é uma revolução proletária na Europa ocidental'." (p. 164)
"Engels dilui a especificidade da comuna, antes assinalada por Marx, afirmando que
a revolução socialista deveria se iniciar no núcleo do Ocidente e só a partir de então outros
povos poderiam seguir um caminho mais curto rumo à modernidade, 'e isto vale não
somente para a Rússia mas para todos os países que se encontram em uma fase de
desenvolvimento pré-capitalista'. Abria-se aqui a perspectiva de uma visão evolucionista-
positivista da história, pois, por um momento, Engels parece esquecer as diferenças entre
uma potência inserida no contexto do Ocidente, como a Rússia, e os territórios da índia e da
China submetidos ao domínio ocidental." (p. 165)
"Marx percebe que a partir dos anos sessenta os EUA haviam deixado de ser um
país de pequenos proprietários agrários e se transformado numa economia de grandes
fazendas modernizadas e produzindo para o mercado mundial, e que o processo de
industrialização apontava para a quebra do monopólio inglês e europeu. " (p. 166)
"É assim que, para Marx, a generalização da modernidade por meio do mercado
capitalista tende a englobar todas as formações sociais secundárias, aquelas que transitam
da propriedade comunal originária para a propriedade capitalista individual, baseada na
apropriação privada da produção social." (p. 166)
"A crítica socialista da modernidade atua sobre suas partes constitutivas, propondo o
fim do Estado nacional e o fim da sociedade civil dos proprietários por meio do comunismo
que se concretiza na negação positiva da propriedade privada. Superando-se o egoísmo
proprietário, a vontade de poder da tradição sociocultural do Ocidente se dissolveria, assim
como a noção de outro negativo, podendo então a ciência e a técnica se difundirem por toda
a humanidade, alheias à lógica da acumulação do capital." (p. 167)
"...ao iniciar-se o século XX, o outrora poderoso, rico e culto Oriente, da mesma
forma que quase todo o continente africano, estava submetido às forças político-militares do
Ocidente." (p. 170)
"No período posterior a 1870, com a expansão colonial européia, [...] as relações de
organização internas e internacionais do Estado tornam-se mais complexas e maciças e a
fórmula quarentoitesca da 'revolução Permanente' é elaborada e superada na ciência
política pela fórmula da “hegemonia civil”. Ocorre na arte política o mesmo que ocorre na
arte militar: a guerra de movimento transforma-se sempre mais em guerra de posição (...)'."
(p. 172)
"A democratização liberal, por toda parte, tendeu a perder fôlego a partir da última
década do século." (p. 173)
"Quando em 1896 o Partido Popular viu-se engolfado pelo Partido Democrático, e
ambos foram derrotados pelos conservadores republicanos, em nome do puritanismo e da
raça branca, os EUA estavam prontos para demarcar as fronteiras externas iniciais do novo
império universal do Ocidente, iniciadas em 1898, com a guerra contra a Espanha, que
possibilitou a ocupação das Filipinas e o sufocamento da revolução cubana." (p. 174)
"No decorrer dos anos 80, multiplicaram-se por todo o Ocidente partidos operários
orientados pelo ideário socialista, com maior ou menor participação de intelectuais até que,
em 1889, uma organização Internacional Operária Socialista, pretensa sucedânea da AIT,
começou a tomar forma." (p. 177)
"Através [...] da criação de símbolos específicos [...], foi se consolidando uma cultura
operária antagônica ao individualismo proprietário do liberalismo e fundada numa concepção
socialista." (p.177)
"Por outra via, Kautski radicalizava o objetivismo latente no último Engels, fazendo
uma leitura evolucionista naturalista do processo histórico, fincada na concepção positivista,
segundo a qual o socialismo surgiria como produto natural e inexorável do desenvolvimento
das forças produtivas do capital, cabendo ao movimento socialista lutar apenas por
condições que, evitando retrocessos, garantissem um parto menos doloroso." (p. 180)
"A oposição à sanha expansiva do Ocidente permanecia apenas como juízo de valor,
encontrando grande dificuldade em dar conta do significado da difusão da modernidade
capitalista e sua permanente recriação do subalterno." (p. 181)