2 – Uma nova visão sobre o Brasil e os Brasileiros. 2 – Uma nova visão sobre o Brasil e os Brasileiros. • Na aula anterior percebemos como as primeiras “interpretações do Brasil” foram influenciadas pelo “racismo científico” do final do século XIX e início do Século XX”
• Assim, vimos o surgimento de interpretações do
Brasil que culpavam a miscigenação e que entendiam o “problema do negro” como a causa dos problemas do país. Neste sentido compreendemos a adoção de políticas que visavam o “embranquecimento” como uma solução para os problemas do Brasil. 2 – Uma nova visão sobre o Brasil e os Brasileiros. • Essa visão se difundiu pelo Brasiil e estava presente entre os intelectuais, políticos e artistas, sendo até hoje sentida no “senso comum” de nossa sociedade. • Esta influência esteve presente também na literatura do período, conforme podemos observar na obra de Aluísio de Azevedo, O Cortiço (1890), exemplar do naturalismo literário no Brasil. • O cortiço reúne num mesmo enredo vários tipos sociais do período: o português ganancioso, o negro, o mestiço e o fidalgo burguês. Os personagens são tratados com traços zoomórficos, revelando a influência das teorias do determinismo da raça e do meio sobre o comportamento das pessoas. 2 – Uma nova visão sobre o Brasil e os Brasileiros. • Outro grande literato brasileiro, Euclides da Cunha, apresenta uma outra visão do Brasil. Em sua obra “Os sertões”, Euclides da Cunha nos apresenta uma visão sobre a Guerra de Canudos, no interior da Bahia, em que o autor apresenta uma outra característica da sociedade brasileira: a presença do “sertanejo”.
• Assim, a sociedade brasileira se divide entre o Brasil do
litoral e dos sertões, o moderno e o atrasado, o civilizado e o rústico, aquele que se desenvolve e o que passa fome, o que aponta para o futuro e o que está preso nas reminiscências do passado. 2 – Uma nova visão sobre o Brasil e os Brasileiros. • A visão do “sertanejo” de Euclides da Cunha é marcada por contradições. Por um lado, influenciado pelas teorias “científicas” de sua época, considera negativamente esta população. Por outro, exalta o sertanejo que, com bravura, resiste às adversidades do meio ambiente, o Sertão. • Assim, apesar de ser visto como retrógrado, resistente à civilização e presa fácil do misticismo religioso e de líderes messiânicos, Euclides exalta o sertanejo, afirmando que ele é “antes de tudo, um forte”, que resiste à violência exercida pelos donos de terras e pelos “civilizados” do litoral. Assim, Euclides apresenta um quadro de uma nacionalidade dividida. 2 – Uma nova visão sobre o Brasil e os Brasileiros. 2 – Uma nova visão sobre o Brasil e os Brasileiros. • Monteiro Lobato é outro autor que escreve sobre o “caipira”, desta vez identificado como o “caboclo” (branco + índio), habitante do interior do Vale do Paraíba (SP). O caipira de Lobato é personificado no “Jeca Tatu”, caracterizado como um "um homem pobre que vive no Vale do Rio Paraíba do Sul e não se interessa por buscar conhecimento ou melhorar de vida”, um verdadeiro “parasita da terra” "À medida que o progresso vem chegando com a via férrea, o italiano, o arado, a valorização da propriedade, vai ele [o caboclo, ou jeca] refugindo [recuando] em silêncio, com o seu cachorro, o seu pilão, a [espingarda] picapau e o isqueiro, de modo a sempre conservar-se fronteiriço, mudo e sorna [preguiçoso]. Encoscorado numa rotina de pedra, recua para não adaptar-se” (Lobato, “Velha Praga”, Estado de São Paulo, 1914). 2 – Uma nova visão sobre o Brasil e os Brasileiros. • O avanço das pesquisas bacteriológicas e os estudos sobre a patologia das moléstias tropicais contribuiriam para reforçar a percepção dos sanitaristas, e da própria sociedade brasileira, quanto às possibilidades que o conhecimento científico apresentava enquanto ferramenta para regenerar a população nacional. • Se, até então, a mestiçagem e o clima eram vistos como as principais causas da degeneração racial, a ciência demonstrava, agora, que o atraso do país estaria relacionado às doenças e a falta de saneamento. De uma interpretação determinista sobre os problemas sociais, a ciência abriria caminho para uma interpretação médico-sanitarista. 2 – Uma nova visão sobre o Brasil e os Brasileiros. • Assim, ao entrar em contato com o discurso sanitarista, Monteiro Lobato acaba mudando sua opinião. • Em 1924, com o lançamento do livro Jeca Tatuzinho, em que Lobato começa a mostrar sua afeição pela figura do jeca, que passa a ser visto por ele como vítima de uma sociedade e de um governo desinteressados no desenvolvimento desse povo pobre e faminto. “A nossa gente rural possui ótimas qualidades de resistência e adaptação. É boa por índole, meiga e dócil. O pobre caipira é positivamente um homem como o italiano, o português, o espanhol. Mas é um homem em estado latente. Possui dentro de si grande riqueza em forças. Mas força em estado de possibilidade. E é assim porque está amarrado pela ignorância e falta de assistência às terríveis endemias que lhe depauperam o sangue, caquetizam o corpo e atrofiam o espírito. O caipira não é assim. Está assim. Curado, recuperará o lugar a que faz jus no concerto etnológico.” 2 – Uma nova visão sobre o Brasil e os Brasileiros. • Gilberto Freyre foi o grande responsável pela mudança de visão do papel dos negros, indígenas e mestiços na formação do povo brasileiro. • Em sua obra Casa Grande e Senzala, Freyre inova os estudos sobre a formação do Brasil. Influenciado pela obra do antropólogo Franz Boas, Gilberto Freyre cria uma nova interpretação do Brasil, buscando reinterpretar a formação do povo brasileiro no período colonial. 2 – Uma nova visão sobre o Brasil e os Brasileiros. • Gilberto Freyre pega de Franz Boas a centralidade do conceito de cultura para a compreensão da diversidade humana, retirando qualquer cientificidade da noção biológica de raça – noção essencial para a construção do racismo científico. • Boas defendia a ideia de que não existem culturas superiores ou inferiores e que todas constituem fenômenos específicos e originais. 2 – Uma nova visão sobre o Brasil e os Brasileiros. • Assim, nos trabalhos de Gilberto Freyre temos um progressivo abandono dos pressupostos racialistas no meio intelectual brasileiro. • Em Casa Grande & Senzala (1933), Freyre valoriza a contribuição do negro e do indígena e das culturas africanas e ameríndias para a formação do Brasil. • Freyre revelou a presença do negro em diversas facetas da nossa cultura, como na música, na dança, no vocabulário e na culinária. De igual maneira procedeu com os índios, explicando a origem do nosso hábito de dormir em redes, de se pintar, de tomar banho diariamente, bem como a valorização das ervas, da cor vermelha e dos remédios caseiros. 2 – Uma nova visão sobre o Brasil e os Brasileiros. • Freyre também valoriza o papel dos portugueses na formação do Brasil, dentro do processo de colonização. Assim, Freyre enfatiza o fato de os portugueses, ao iniciar a colonização, já terem um século de contato com os trópicos e já virem de uma população miscigenada. Seria então esta “pré- disposição” dos portugueses para a miscigenação, sua “adaptação” ao clima tropical e a grande presença de mulheres indígenas e negras, que explicariam a “mistura de raças” que formaria o povo brasileiro. 2 – Uma nova visão sobre o Brasil e os Brasileiros. • Gilberto Freyre vai ser criticado por sua suposta teoria da “democracia racial”, onde o preconceito racial não é posto como um fator explicativo para a desigualdade entre os brancos e negros no Brasil, além de “amenizar” o peso da força negativa da cor e da raça no Brasil. • O certo é que a visão de Freyre é, ainda hoje, a base da percepção que o brasileiro têm de si mesmo, uma visão positiva sobre a mestiçagem. Sua obra continua sendo uma referência para os historiadores e sociólogos brasileiros.