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Essa não é uma história de amor. Poderia ser, mas o mundo nunca concordou
comigo.
Nossa história começou como um conto de fadas. Passou por toda aquela
fase de fantasia e encantamento para então começar o pesadelo. O que vou
contar agora envolve inúmeras pessoas da nobreza e aristocracia da Inglaterra.
Por este motivo, utilizei apelidos ou somente seus títulos para preservar suas
identidades.
Cresci em Astoria*, uma pacata cidade praiana no fim do mundo. Não que eu
soubesse que era o fim do mundo, aliás, achava que era gigantesca! Conforme
fui crescendo, percebi que não passava de um bolsão de areia com vista para o
mar, onde as pessoas viviam um universo paralelo e não faziam ideia da vastidão
do mundo real. Obviamente eu também não. Então, poucos podem me julgar
quando, aos 15 anos, conheci Raoul. Ele chegou em Astoria como um furacão,
destroçando coraçõezinhos numa velocidade vertiginosa. Ele tinha 23 anos, um
Adônis** no auge da masculinidade. Meninas como eu não sabiam o que
significava desejo. E em Astoria, isso era novidade para todas as meninas com
mais de 13 e menos de 25 anos. Sim, Astoria vivia com o estigma de casar suas
meninas virgens, da corte dos rapazes, dos bons partidos. Todas que tinham uma
condição de vida melhor aprendiam como conseguir um bom partido, como
encantar um nobre rico e sumiam no mundo para sempre. Não foi o meu caso.
Minha mãe morreu quando eu tinha 7 anos. Meu pai foi logo depois, afogado na
tristeza de perder o grande amor de sua vida. É história conhecida em Astoria
que meus pais não tiveram mais filhos para que minha mãe pudesse se dedicar
totalmente ao meu pai. Depois de uma temporada em alto mar, meu pai só tinha
olhos para minha mãe. Eles se trancavam no quarto por dias, às vezes semanas.
E eu não imaginava o que eles faziam, mas logo depois meu pai sorria como um
bobo da corte e minha mãe corava sempre que olhava pra ele. Pra mim, isso era
amor. O sorriso bobo e as maças do rosto vermelhas. Então, quando corei a
primeira vez que Raoul me olhou, achei que estava amando. E não poderia estar
mais certa.
- Você está bem? – seus olhos eram zombeteiros e ele se esforçava para não
rir.
- Não... sim... bem.... – meu cérebro não processava mais informação
nenhuma e eu não conseguia tirar meus olhos da sua boca.
- Deve ter batido a cabeça... não consegue nem falar! – ele foi afrouxando o
aperto em minha cintura até que meus pés tocaram o chão.
Eu devia estar um pimentão. Senti as maçãs do meu rosto pegando fogo, mas
não havia nada que eu pudesse fazer.
- Você é linda – ele disse, tocando meu queixo – poderia segura-la todo o dia.
Dois dias depois, nos encontramos na casa do Dr. Caranguejo. Era conhecido
assim por andar meio de lado, pobre velhinho. Era o médico da aldeia, todos o
amavam e respeitavam. Então, quando ele resolvia dar uma festa, todos
compareciam e já tinha se tornado uma tradição a festa do solstício de verão. Eu
tinha certeza de que encontraria Raoul, então passei horas diante de um espelho
experimentando vestidos, sapatos, penteados e sai de casa com a sensação de que
meu esforço tivera sido em vão. Sabrina resplandecia num vestido verde água,
com os cachos louros soltos, se espalhando até a cintura. Quem olharia pra mim?
Minha resposta veio no instante em que pus os pés na casa do Dr. Caranguejo:
Raoul. Ele estava lindo, com uma calça escura, uma camisa imaculadamente
branca, e casaca preta, com botas que podiam refletir nossa imagem, tamanho
seu brilho. Não consegui desviar o olhar, mas segui por um lado do salão e, tão
logo cheguei a mesa de bebidas, ouvi a minhas costas:
- Você fica ainda mais linda de amarelo. Como se sente? Ficou com alguma
hematoma do tombo? - antes mesmo de virar, já estava corando. Seus olhos
estavam ternos, com uma pitada de preocupação.
- Não sabe dançar? Ora, vamos eu te ensino, sem cobrar nenhuma taxa! – ele
sorria da própria gracinha. Sorri também.
- Não é isso. Só não saberia dizer se é apropriado. Nem sei seu nome! – sabia
o nome dele desde seu primeiro dia em Astoria, todas as meninas sabiam.
Alguém tinha feito um dossiê que tinha todos os detalhes conhecidos de sua
vida, altura, peso, cor dos olhos e cabelos, seus gostos, manias, enfim... as
meninas eram profissionais!
- Raoul, a seu dispor! Ele fez uma reverência e me deu o braço, seguindo
para a pista de dança. Enlaçou minha cintura, colocando minha mão em seu
ombro e segurando a outra.
- Agora que já sabe o meu nome e estamos dançando, posso saber o seu?
Afinal, já sei que é linda, desastrada e não tem hematomas! Mas sinto que estou
em desvantagem, não sei que nome dar a garota dos meus sonhos...
Corei e baixei meus olhos, estava envergonhada com o discurso dele e sabia
que estava sendo vigiada por todos no salão. Ele tocou meu queixo e ergueu meu
rosto – você me enfeitiça ainda mais quando cora assim. Por favor, me diga ao
menos seu nome!
- Christine. Eu não sou “todos”. Para mim, você será Christine, pelo menos
até que eu pense em algum apelido tão lindo quanto você e que só eu e você
saibamos, é assim que vou lhe chamar.
- Para quê? Se só tenho interesse em uma? – seus olhos estavam agora verdes
escuros, com um certo ar de desdém. – Sou um homem direto, Christine, não
perco meu tempo com o que não me traz prazer. – ele abriu um meio sorriso. –
Gostaria de dar uma volta na praia? A noite está maravilhosa!
- O que é adequado, Christine? Devo ir até sua casa e pedir a seu pai para
cortejá-la??? – sua voz tinha um tom frustrado.
- Tudo bem, você não sabia. – agora quem corava era ele.
- Pois então, devo leva-la a um passeio imediatamente! Preciso compensar
minha estupidez nesse instante! – e foi me empurrando pela porta da varanda, até
que estanquei.
- Vamos fazer assim: vamos ficar aqui fora, vendo o mar, recebendo esta
brisa maravilhosa no rosto e eu prometo que não daremos mais de dez passos
para longe da varanda, onde todos podem nos ver. Que tal?
Os dez passos dele eram vinte passos meus, mas ele não trapaceou: deu dez
passos, parou e se virou. – Opa, este é nosso limite, mocinha, pode parar. – Eu
ri.
- Que sorriso lindo. Quero vê-la sorrir de novo. – ele tocou meu rosto e
seguiu com o dedo de uma orelha a outra. – você é linda. Por que quis me jogar
para sua amiga?
- Eu não quis joga-lo para minha amiga! Eu só não entendo como pode me
achar bonita... – seus dedos bloquearam minha boca.
- Nunca mais diga isso. Você é linda e não deixe que ninguém lhe diga o
contrário! Vou lhe explicar o que você não entende: sua amiga é loura, alta, com
olhos claros, magra como uma tábua... como todas as damas “adestradas” da
sociedade. Não há nada de especial ali! Reconheço que o conjunto seja
harmônico, mas o que há de diferente? O que faz um homem olhar uma segunda
vez para uma mulher como sua amiga? Você, Christine, tem o cabelo negro
como petróleo, que brilha até mesmo agora, com a luz da lua! Seus olhos são tão
expressivos... quero saber o que está pensando, quero saber por que você cria
ruguinhas quando pensa muito ou como sorri com os olhos quando está alegre!
Você é inteligente, divertida e audaciosa! Você pensa, Christine, coisa que todas
essas “bonecas” não fazem. E seu corpo... ah, Christine, seu corpo foi desenhado
para o pecado!
Meus olhos estavam tão arregalados que achei que fossem saltar de órbita.
- Viu só, seus olhos expressam tudo o que sente! Não se assuste, é só uma
expressão! Quero dizer que seu corpo é lindo e qualquer homem mataria para tê-
la! – Ele se aproximou novamente e tocou meu rosto – quero descobrir todos os
seus segredos, Christine! Você me seduz com todo o seu esplendor e nem faz
ideia disso. Sua inocência, aliada a sua inteligência e sensualidade me deixam
louco!
Foi como se tivesse atingido meu limite, me virei e corri! Corri o máximo
que pude, com os sapatos nas mãos, pela areia da praia. O desejo era arrebatador
e eu tinha medo de mim mesma. Tinha medo de sucumbir aqueles olhos e medo
do que podia vir depois. Quando cheguei em casa, não conseguia respirar e o
medo ainda estava correndo junto com meu sangue.
- Vamos lá Christine, acho que já provei que não vou passar dos limites. Por
favor...
- Calma, essa ainda não é a melhor parte. Vamos entrar? Ele me segurou pela
cintura, me desmontando de Golias, e seguiu para dentro da gruta. Sentir suas
mãos em mim causava uma febre que eu nunca queria curar. Arrepiava-me dos
pés à cabeça, me fazendo respirar aceleradamente. Lá dentro, uma toalha
estendida no chão continha frutas, queijos, pães, geleias, suco, água, flores e
velas iluminavam tudo ao redor.
- Não tenha medo. Eu não mordo... a menos que você queira. – ele sorriu,
sussurrando. Então tocou meus lábios com os seus. Meu primeiro beijo foi doce,
terno. Quando achei que explodiria, dei um passo para trás, ofegando. Eu ainda
não sabia controlar minhas emoções e todas aquelas sensações novas eram
demais para mim. Raoul pediu desculpas e tentou se aproximar.
- Pequena, foi só um beijo, não sei por que não confia em mim, mas eu já
disse que não quebro minhas promessas...
- Por favor, me diga então o que é!!! – ele segurou me rosto, forçando-me a
olhar em seus olhos.
- Eu não confio em mim quando estou com você. – confessei e aquilo foi o
suficiente para deixa-lo ardendo.
Ele puxou meu corpo contra o seu e o beijo tornou-se desesperado. Não
conseguia pensar em outra coisa que não fosse aquele corpo colado ao meu, as
sensações que ele provocava. Senti uma parte do corpo dele que não imaginava o
que era, mas, talvez por instinto, me assustei. Ele percebeu e intensificou o beijo,
me ensinando – toque minha língua com a sua, Pequena, não tenha medo. –
medo era uma das milhares de coisas que eu estava sentindo, mas segui suas
instruções. Suas mãos começaram a percorrer o meu corpo e, com sua língua,
traçou uma linha de arrepios até minha orelha – Lembre-se que os limites são
impostos por você. Não faremos nada que você não queira, meu amor.
Senti sua mão em meu seio. Ele apertava meu mamilo e continuava a beijar
meu pescoço. Enfiei meus dedos entre seus cabelos e os agarrei com força,
queria que ele me devorasse. Não existiam mais limites, eu estava entregue.
Achava que não podia ser mais delicioso que aquilo, mas podia. Ele levantou
minhas saias e me tocou no ponto mais sensível de meu corpo. Nem sabia que
aquele ponto existia, mas era mágico! Ofeguei e me agarrei ainda mais àquele
corpo que me deixava louca.
- Você não quer que eu a toque aí? – ele olhava para os meus seios com
volúpia. Como não obteve resposta, se aproximou novamente – já lhe disse que
não farei nada que você não queira, Pequena – cobrindo meus seios novamente,
ele me abraçou. O momento tinha acabado por conta de minha insegurança. Não
queria que acabasse, então me enchi de coragem e agarrei-me a ele novamente.
A dança de nossas línguas começou com mais luxúria. Toquei sua mão e a levei
ao meu seio. Ele suspirou em minha boca e abaixou novamente meu vestido.
Quando senti sua língua em meu mamilo, minhas pernas viraram geleia e ele me
deitou sobre a toalha, empurrando tudo o que havia nela para o chão. Quando ele
me montou, senti novamente algo rígido em meu abdome. Arregalei os olhos e
ele me explicou – isso é o que você faz comigo, Pequena – e levou minha mão
até sua ereção, que pulsava. Continuava sem saber o que era, mas o que ele me
disse fez-me sentir poderosa, então, continuei com a mão ali, sem saber o que
fazer. Ele desabotoou suas calças e senti sua pele quente e macia. Ele segurou
minha mão e começou a fazer movimentos de vai e vem enquanto ainda me
beijava. Quando soltou minha mão, eu continuei, sem desgrudar meus lábios dos
dele. Ele se deliciava com minha boca, meus seios e me acariciava o meio das
pernas, me fazendo ficar cada vez mais ofegante. De repente, senti como se fosse
explodir, cair de um precipício, voar. Não contive o grito e relaxei. Ele segurou
minha mão, aquela que o tocava de maneira desesperada.
-Pequena, se você continuar, não vou conseguir me segurar, por favor, pare.
Ele respirava com dificuldade e parecia frustrado em me pedir para parar.
Parei, meio confusa. Ele não tinha colocado minha mão lá? Não tinha me
ensinado o que fazer? Adivinhando meus pensamentos, ele continuou – não o
quero em sua mão. Quero ele aqui. – e me tocou novamente naquele ponto
mágico, que me levava ao céu. Mais uma vez estava com os olhos arregalados e
ele interveio – mas isso não vai acontecer, pelo menos não hoje, Pequena. Ele
tocou meu rosto, sorrindo. – Venha, vamos comer, precisamos voltar antes que
alguém dê por nossa falta na cidade.
Depois desse dia, nossas carícias foram ficando cada vez mais intensas. Não
se passava um dia sem que Raoul me levasse ao céu, tocando naquele ponto
secreto de meu corpo e eu ia ao céu gritando seu nome. As conversas com as
meninas tinham alto teor erótico e agora eu entendia o que elas queriam dizer.
Um dia, criei coragem e perguntei:
- Bem, isso se chama sexo. Deve ser feito depois do casamento. Minha mãe
não gosta – disse Mary sem muita empolgação. – deve doer, pois ela sempre
chora depois. Eu peguei meus pais no ato, por assim dizer... ela parecia não estar
gostando e meu pai suava em cima dela, como um cavalo sobre a égua... meu pai
gritou e eu corri até perder o folego. Agora é engraçado, mas no dia.... Todas
ficamos estupefatas com a declaração. Passado o constrangimento inicial, todas
começaram a falar de suas experiências (que não passavam de beijos roubados e
conversas ouvidas atrás de portas) e chegamos à conclusão de que não era algo
bom. Eu não conseguia entender. Tinha sido tudo tão maravilhoso, como poderia
terminar com algo ruim? Raoul me dizia que aquilo era a “cereja do bolo” e que
aguardaria até que eu estivesse preparada, mas como se preparar para isso?
Naquela mesma noite o procurei, em nosso refúgio, já que era isso que a
gruta havia se tornado. Depois de um abraço cheio de saudade, disse:
- Talvez se você não fosse tão direta e um pouco mais clara, eu entenderia!
Pequena, que história é essa de “não querer fazer sexo”?
- E como você sabe??? Por favor, não me diga que sabe por experiência
própria! Eu não poderia suportar....
- Sim, dói. Mas apenas na primeira vez, eu prometo. Você vai descobrir que
depois é algo muito prazeroso. Prometo que vou te levar ao céu todas as vezes
que nos amarmos. E nunca mais diga “fazer sexo”, faremos amor!
Ele se aproximou e tocou meu rosto. – Jamais sentiria prazer se soubesse que
você não está sentindo o mesmo. Eu amo você, Pequena. – Ele nunca havia dito
que me amava. Aquilo, pra mim, bastou. Esqueci todas as dúvidas e resolvi
confiar nele.
- Então faremos amor, Raoul, pois eu também amo você!
Ele sorriu, estendendo seus braços para mim. Quando me abraçou, senti todo
o calor daquele corpo que eu tanto desejava. Ele tocou meus cabelos, os
beijando. Deixou uma trilha de beijos pela minha orelha, pescoço, até o vale
entre meus seios.
Agarrei seus cabelos e suspirei. Ele sempre sabia o que dizer para me deixar
ainda mais apaixonada por ele. Ele seguiu me beijando e, lentamente, começou a
desabotoar meu vestido. Quando senti a seda deslizando para baixo, tentei me
cobrir, mas ele não me permitiu.
- Nunca esconda sua nudez de mim, Pequena. Você é linda demais para se
esconder.
Ele segurou minha mão para que eu saísse de dentro daquele monte de seda a
meus pés e se ajoelhou diante de mim. Tirou uma sapatilha, tocando minhas
pernas e me fazendo arrepiar. Enquanto tirava meus sapatos, roçava o nariz em
meus joelhos. Deixou mais beijos em minhas pernas e subiu a mão para soltar
minhas meias das ligas. Enquanto as soltava, grudou seus olhos nos meus e
repetiu – Você é linda demais para se esconder, Pequena. Linda!
- Hoje, vou te levar ao céu de muitas maneiras, Pequena. Quero que sinta
tanto prazer que não ouse sequer pensar em um dia me deixar.
Desceu da minha boca para meus seios, dando atenção a um de cada vez.
Tocava-me na parte mais íntima de meu corpo, me fazendo gemer e ofegar.
Quando os beijos chegaram ao meu ventre, ele levantou a cabeça e, com os olhos
de predador que sempre me fascinaram disse – Abra-se pra mim, meu amor. E
não deixe de me olhar.
Quando sua língua tocou minha umidade, achei que fosse morrer. O desejo
era infinitamente maior que a vergonha e, por mais que quisesse fechá-las, abri
ainda mais as pernas. Ele sorriu.
- Ah, Pequena, você é deliciosa. Sonhei tanto com isso e descobri que a
realidade é ainda melhor que o sonho!
Quando eu não pude mais resistir aos avanços de seus dedos e língua, me
lancei em um gozo furioso, gritando e segurando seus cabelos. Para mim, aquilo
era devastador. Mas não era nem o começo para ele.
Raoul levantou-se, tirou o resto das roupas voltou a subir em mim. Fiquei
assustada com seu tamanho, mas estava curiosa demais para saber como tudo
aconteceria.
- Perdoe-me, meu amor, prometo que vou tentar ao máximo não permitir que
sinta dor. Mas vai passar e quando passar, vou dar todo o prazer que puder para
compensar você.
Isso, aliado ao tamanho dele, fez com que eu me retesasse e começasse a
repensar o “fazer amor”. Mesmo assim, permiti que ele colocasse seu membro
em minha abertura. Fui relaxando aos poucos, a medida em que ele se segurava e
tentava ser gentil, me beijando e dizendo o quanto me amava. Quando a dor
veio, ele já estava na metade do caminho e parou novamente.
Respirei fundo e movi meu quadril na direção dele. Ele entrou inteiro em
uma nova estocada. Parou. A barreira fora rompida, eu sentia minha carne se
abrindo e a sensação não era boa.
- Por favor, me diga que você está bem. Diga alguma coisa!
Ficamos naquela posição parados por algum tempo, enquanto Raoul somente
me beijava, sussurrando palavras carinhosas e me dava o tempo necessário para
que voltasse a respirar. Assenti e então Raoul começou novamente a se mexer,
tocando meus mamilos. Depois os lambeu e a dor deu lugar ao prazer que sentia
antes de ser penetrada.
Como era maravilhoso poder senti-lo inteiro dentro de mim, sem dor, só
prazer. Quando finalmente o vi sem nenhuma roupa fiquei um pouco assustada.
Nunca imaginaria que aquilo tudo fosse caber em mim. Mas cabia.
Perfeitamente.
Eu já não aguentava mais, queria o alívio mais que tudo e, como sempre,
Raoul leu meus pensamentos, pois me tocou naquele que se tornou seu lugar
favorito e em um minuto eu estava caindo do meu precipício particular, desta
vez, com Raoul junto.
Ele teve seu alívio, gritando que me amava. Passamos algum tempo na gruta
e a realidade nos acordou.
- Foi a melhor noite da minha vida. Gostaria que ela nunca acabasse,
Pequena.
- Eu também não quero que acabe. Agarrei-me a ele, sentindo seu cheiro e
seu calor. Ali era meu lar.
Entrei em casa na ponta dos pés, pela porta dos fundos, quando ouvi a
conversa:
- Pois ela passa todas as tardes e foge todas as noites para a gruta com ele!
Nem sabia que essa gruta existia, mas ela me disse que vivem como amantes lá!
- Isso é impossível!
- É mesmo? E onde ela está agora? Com certeza não está em seu quarto!
O chão abriu sob meus pés. Sabrina contava sobre mim e Raoul para minha
tia, coisas que só confidenciei a ela e ainda inventava detalhes mais picantes para
horroriza-la. Não sabia como sair dessa e, enquanto rezava por um milagre,
minha tia entrou na cozinha, seguida de Sabrina. Ela chorava. Quando me viu,
seus olhos se transformaram.
- O que pensa que está fazendo? Quer virar uma prostituta? Acha que esse
menino vai casar com você, podendo lhe ter sem comprometer-se? Você está
arruinada!
- Não! Raoul me ama! – não consegui pensar em mais nada, a não ser dizer a
verdade. A reação de minha tia foi ainda pior. Talvez ela tivesse a esperança de
que eu diria que nunca me encontrei com Raoul, que Sabrina estava mentindo,
qualquer coisa. Mas eu já tinha falado a verdade e não poderia voltar atrás. Na
verdade eu queria que todos soubessem o quanto eu o amava e queria me casar e
passar o resto da vida com ele, mas a realidade me despertou do meu sonho, me
enviando para um pesadelo.
- Você nunca mais vai sair desta casa, Christine, nunca mais vai se encontrar
com esse rapaz, nem que eu tenha que amarra-la ao pé da cama!
- Claro que sou, por isso estou aqui! Sabia que seu querido Raoul não só
esteve com você, como também esteve com Sunny e Bertha? Amanhã deve
propor casamento a Otilia, soube de fontes fidedignas! Você foi só mais uma que
ele prometeu amar eternamente para se apossar de seu corpo e sua virtude! Não
posso acreditar que foi tão ingênua, Chrissy! – Ela estava piorando a situação e
se colocando do lado de minha tia. Aquilo não era bom.
- Não... não pode ser... – eu estava confusa. Não queria acreditar nela, mas
achei que ela realmente podia estar preocupada com minha reputação, já que não
consegui pensar em nada que pudesse justificar tamanha traição.
- Christine, você sempre foi muito ingênua e sonhadora. Mas está na hora de
uma dose bem grande de realidade. Raoul é homem, tem necessidades. Você
serviu muito bem a ele, como as outras meninas e agora, ele vai se casar com
uma que não se deitou com ele na primeira oportunidade. Homens são assim,
não gostam de mulheres atiradas! – minha tia continuava atacando, totalmente
enraivecida pelas novidades trazidas por Sabrina.
- Não, mocinha, não vai mais pôr os pés para fora desta casa para nada! Só
sairá daqui para Syon, menina!
Ela me empurrou até meu quarto e trancou a porta, que só era aberta para
servir minhas refeições. Uma semana depois, minha tia voltou ao meu quarto,
quando abriu a porta, meus baús e o coche já estavam me aguardando para Syon.
Capítulo 2
10 anos depois...
Sinto a claridade em meu rosto e começo minha rotina diária para acordar: me
espreguiço, rolo de um lado para outro na cama e me espreguiço novamente.
Não quero levantar, a noite foi longa.
Recebi dois clientes numa noite só. Ganhei o dinheiro que outras mulheres
levariam uma semana para ganhar. O que posso fazer, se sou requisitada pelos
homens mais ricos e poderosos de Londres? Cobrar caro. Muito caro. Depois de
tornar-me a cortesã, todos os homens foram caindo aos meus pés, um por um, até
o Rei. É claro, pertencer ao Monarca tem seu preço. Por isso, depois de uma
conversa franca entre lençóis, expliquei que sempre estaria a disposição dele,
desde que não vivesse no Palácio e pudesse ter outros clientes. Tocando-o e
chupando como eu fiz, seria difícil ele me negar algo. Depois tentou me
convencer a voltar atrás, mas isso eu não faria. Poderia chupa-lo e toca-lo
quantas vezes ele quisesse, mas teria meus clientes e viveria em minha casa. A
viagem até o Palácio durava cinco minutos, eu demoraria mais para me preparar
para ele do que para ir até lá! Foi fácil. E lucrativo. Meu “salário” sempre está
aumentando, basta que o Rei continue feliz. E meus outros clientes sempre
sabem como me manter feliz também, basta que encham meus bolsos, além de, é
claro, joias, obras de arte, presentes caríssimos, que chegam a minha casa todos
os dias. Às vezes meus empregados nem sabem o que fazer com tantos presentes
que chegam ao mesmo tempo. Duques, Marqueses, Condes, Viscondes, Barões...
todos me querem e nem todos podem ter. O preço é altíssimo e eu não dou
descontos. Não, não me interesso mais por homens, não depois de tudo o que
aconteceu e tudo o que aprendi desde então. Meu coração fechou-se para
sempre, a única coisa que está disponível é meu corpo. As lembranças amargas
me ajudam a manter a frieza e a lucidez, nunca mais vou me apaixonar. Ainda
sinto uma pontada no peito quando lembro...
“Meus baús e o coche já estavam me aguardando para Syon. A viagem era
longa, tivemos 3 paradas. Na primeira, não pensei, segui meus instintos. Fugi
da estalagem pelos fundos e corri para o bosque. Não sabia onde estava, nem
para onde ir, estava com a roupa do corpo e com muita fome, mas continuei
correndo. A tristeza de saber que nunca mais veria Raoul, de não saber se tudo
o que Sabrina dissera era verdade me corroíam e meu peito ardia, meus pulmões
não aguentavam mais. Mas eu corri, corri e corri. Decidi confrontá-lo. Orientei-
me e consegui chegar a uma estrada conhecida. Segui por ela até a casa de
Raoul. O dia já acabava e quando cheguei, bati com força na aldrava. Uma
mulher baixinha e roliça atendeu, perguntou o que eu queria. Implorei para que
chamasse Raoul, mas ela me disse que ele não estava, que não passava a noite
em casa há 5 dias, que devia ter viajado com a noiva. Aquilo, para mim, foi a
prova cabal de que tudo o que Sabrina disse era verdade. Embrenhei-me na
mata, com lágrimas nos olhos e continuei correndo, apesar dos galhos me
arranhando e da escuridão. Passei parte da noite correndo e a outra parte
tentando dormir, mas fui vencida pelo medo e pelo frio. ‘Melhor morrer do que
ir para um Convento!’, pensei. Fiquei encolhida embaixo de um Salgueiro até
adormecer. Fui acordada com um chute e imediatamente entrei em estado de
alerta. 3 homens me cercavam e tive a certeza de que não sobreviveria ao
episódio.
Tentei correr, mas eles me agarraram. Não tinha mais nada a perder, então
me debati, chutei, mordi. Perdi. Eles eram 3 e muito maiores e mais fortes do
que eu. Levaram-me para um acampamento, amarraram-me a uma árvore e
saíram. Voltaram com outro homem, alto, com os cabelos tão negros quanto os
olhos e a pele escura. Soltaram-me da árvore e me atiraram ao chão, com as
mãos amarradas e uma corda no pescoço.
Levei algum tempo para entender que falavam de mim. O homem alto me
olhava de cima abaixo. Pegou minha mão, me levantou e me virou. De costas
para ele, ainda amarrada, senti que ele cheirava meus cabelos.
- Fechado, Senhor!
- Não precisa ter medo, não vou lhe fazer mal. – calmamente, ele soltou as
cordas que me amarravam.
- Se eu realmente quisesse lhe fazer mal, não teria lhe comprado. Poderia
deixa-la a mercê dos 3 corsários que lhe trouxeram.
Fazia sentido. Mas não me convenceu totalmente. O homem alto falava
baixo, tinha uma elegância e altivez inerentes, parecia um lorde, apesar da
barba, os cabelos compridos e rebeldes, o diamante na orelha. Pediu a algumas
mulheres que providenciassem um banho e roupas limpas e, enquanto me
banhavam, preparou uma bandeja com frutas, pão e vinho. Sentou-se ao meu
lado no chão, serviu o vinho e colocou uma uva em minha boca. Eu estava
apavorada, então fazia tudo o que ele me pedia ou sugeria. Ele me olhava de
maneira calma, como se estivesse aguardando as perguntas que sabia que eu
faria.
- Imagino que queira saber quem eu sou e onde está. Sou Nikolai Rosengerb,
Príncipe dos Ciganos. Você está segura aqui. Meu povo jamais lhe tocará, você
agora é minha protegida.
A conversa se estendeu até que não percebi mais que era cativa. Acabei
adormecendo e acordei na cama. Senti o calor e a rigidez atrás de mim e dei um
pulo quando percebi que Nikolai ainda dormia abraçado a mim. Meu susto o
acordou e, quando Nikolai não tirou os olhos do meu corpo, percebi que estava
nua. Puxei o lençol e me enrolei nele rapidamente.
- ‘Prama’, por favor, não chore. Não vou lhe fazer mal. Não deve se
envergonhar de sua nudez e não deve se preocupar, não fizemos nada, apenas
dormimos. Usamos nossos corpos para nos manter aquecidos e isso é tudo. Não
tocaria em um só fio de seu cabelo se fosse lhe causar algum mal. Você não é
uma escrava aqui.
Novamente, fazia sentido. Eu não tinha mais ninguém. Ele me soltou e saiu
da tenda dizendo que voltaria com o desjejum. Voltou com pães, café, chá.
Alimentou-me novamente, colocando bocados de pão preto em minha boca.
- Coma, minha ‘Prama’, você deve ter sofrido muito a noite passada.
Nikolai cuidou de mim, tratou-me como uma rainha. E eu fui ficando, até o
dia em que senti fortes enjoos e acabei vomitando dentro da tenda. Não
consegui sair a tempo. Nikolai me olhava desconfiado, mas não disse nada,
saindo novamente. Uma menina voltou com um balde e começou a limpar o
chão.
- Me desculpe, por favor, deixe que eu mesma limpo.
Senti o enjoo novamente e consegui correr. Dei de cara com Nikolai e acabei
vomitando em cima dele! Arregalei os olhos – Por favor! Por favor, me perdoe!
Eu não sei, deve ser algo que comi, vou pegar um pano limpo...
- Minhas regras? – eu não sabia. Não tinha pensado nisso e, para ser
honesta, adorei, pois sentia muitas cólicas quando sangrava. Voltei o olhar para
ele, confusa.
- ‘Prama’, seu ventre carrega uma criança! Por isso anda enjoando, não tem
fome em alguns momentos e muita fome em outros...
Não podia ser. Eu nem sabia como uma mulher engravidava e, depois da
explicação de Nikolai, achei muita ironia do destino ter engravidado em minha
primeira e única noite!
- Não vai me dizer que sou uma meretriz e que mereci passar por tudo que
passei? – Ele sorriu um sorriso triste. Tocou meu rosto com a delicadeza que lhe
era peculiar.
- Se eu pudesse lhe dizer algo que valha a pena, lhe diria que talvez você
devesse procurar Raoul e ouvir sua versão.
Mas a mágoa era muito grande a essa altura do campeonato, pois culpava
Raoul por tudo o que tinha passada até o momento e pela gravidez, como se só
ele quisesse aquilo!
7 meses depois, o fruto de meu amor nasceu. Nikolai escolheu o nome: Yago.
Foi o segundo dia mais feliz de minha vida.
Nikolai, que parecia me conhecer como ninguém, nunca mais falou sobre
Raoul ou aquela noite. Em seus 32 anos, era um homem sábio. Ensinava-me a
sabedoria dos ciganos, me contava histórias dos lugares que conheceu, me
ensinou francês, italiano e algumas coisas em Romani. A língua cigana era
usada somente por ciganos e eu, apesar de protegida do Príncipe, não era
cigana. Aprendi os costumes ciganos e me interessei pela língua depois de uma
de nossas conversas:
- O que significa ‘Prama’?
- Ora, você sempre me chama assim. Quero saber do que me chama! – ele
sorriu, o olhar era malicioso.
A vida entrava nos eixos quando Nikolai me procurou para mais uma
conversa.
-‘Prama’, estamos indo para a Grécia. O mar nos chama e não podemos
ficar aqui. Vida é movimento.
- Nikolai, Príncipe dos gatos, você vai partir? Com quem terei sonhos
libidinosos, homem lindo? – Nikolai sorriu.
- Você pode sonhar com quem ou o que quiser, ‘Jag’. Você pode tudo.
- Como posso negar algo que me pedes, Príncipe. Sou sua súdita, me tens de
corpo e alma!
- Cuide dela com sua vida, ‘Jag’. Pois eu pertenço a ela. Se me der licença,
gostaria de me despedir em particular.
- ‘Prama’, Madame Toulouse é uma cafetina. Foi cortesã por muitos anos,
hoje está aposentada e vive da fortuna adquirida em seu trabalho. Ela me deve
um favor, sei que vai cuidar muito bem de você e lhe dar tudo que necessita. Mas
não se esqueça de que eu voltaria do inferno se precisasse de mim. Não hesite
em me procurar se precisar de algo para você ou Yago. Para qualquer coisa,
está entendendo? – eu assenti e não pude deixar de sentir um pouco de ciúmes
pelo tratamento que ele dedicou a Madame Toulouse. Afinal, há 3 anos eu era a
mulher na vida dele.
- Vejo que gosta de chamar as pessoas por apelidos em Romani. ‘Jag’? –
Nikolai sorriu.
- E, apesar de ser uma bela mulher, você vai partir e eu ainda não sei o que
significa ‘Prama’...
- Passaria a noite comigo? Não como um amigo que lhe estendeu a mão,
mas como um homem?
Meu primeiro instinto foi negar. Mas eu devia minha vida e a de Yago a ele.
Iria morar com uma cafetina e já sabia exatamente como conquistaria minha
independência, então simplesmente respondi com um sorriso:
Nikolai me ensinou a dar prazer a uma homem e obter prazer dele. Ensinou-me
posições que traziam o orgasmo mais rápido e outras de formas mais lentas. Ele
era uma máquina na cama, afiadíssimo, viril, fogoso, libertino. Não tinha
inibições. Seu corpo era perfeito e seus dotes impressionantes. Mas sua atitude
era seu maior trunfo. Nikolai podia satisfazer qualquer mulher, da mais doce a
mais depravada e sabia disso. Era como um relógio: sempre sabia a hora exata
para tudo. Tocava nos pontos mais eróticos e conseguia me tirar o folego
repetidas vezes, sem nunca esmorecer. Era como tentar vencer uma corrida
contra um cavalo. Ele sempre estava pronto para mais.
Logo em nossa primeira conversa deixei claro que queria me tornar uma
cortesã. Contei a ela minha história e disse que queria minha independência e
jamais entregaria meu coração novamente. Não havia outro caminho para mim.
Ela concordou. Yago vivia em sua casa, como seu filho. Como eu estaria sempre
ocupada com meus clientes, me manteria sempre por perto, mas Madame
Toulouse assumiu sua tutela, cuidando de sua educação, vestimenta, sustento.
Ela foi uma mãe para nós dois. Yago se tornaria um cavalheiro. E eu, da noite
para o dia, virei sua aluna, a mais aplicada.
Aprendi todas as artes da corte, desde quais talheres utilizar num jantar
formal, dançar, usar sapatos de salto, postura, até sobre etiqueta, nobiliarquia,
política, matemática, sociologia, latim.
Tornei-me famosa e o Rei decidiu que eu devia ser dele. Percebi então que
tinha chegado ao topo. Não precisaria mais da ajuda de Madame Toulouse e
nem abusaria mais de sua bondade, pois nunca deixou de me ajudar, criou meu
filho e ainda me tratava com uma filha.
Beijei sua testa e agradeci por tudo. Ela sempre seria a mulher que me
ensinou tudo sobre a vida. Amo Madame Toulouse e daria minha vida por ela.
Juntamente com Nikolai, ela se tornou parte de meu coração e nunca esqueceria
de tudo que fez por mim. Segurei as lágrimas, agradeci novamente e sai, sem
olhar para trás.”
Capítulo 3
Hoje não é um dia comum, tenho que ir ao Palácio. O Rei esteve viajando e já
recebi uma mensagem informando que ele chega hoje e me quer o aguardando
em sua cama. Não que não seja um homem atraente, mas gosto muito mais de
nossas conversas do que do ato sexual. Apesar de sua libido estar em dia, o sexo
é morno. No entanto, pegamos fogo em longos debates políticos e aprendo
muito. Sempre fui sedenta por informações, conhecimento, então fica fácil
escolher os debates ao sexo. Mas duvido que o Soberano concorde comigo.
Quando sair do Palácio, devo comparecer a uma festa com um cliente antigo. É
um bom negócio para os dois, ele fará muitos contatos para futuras sociedades e
eu posso atrair novos clientes. O único problema nisso é que o Rei pode me
atrasar. A boa notícia é que sei exatamente como deixa-lo exausto. Escolho
minhas roupas íntimas que foram feitas especialmente para mim por uma
costureira francesa renomada. Todas as minhas roupas de baixo são criações dela
e garanto que muitos homens me procurariam com menos frequência se suas
mulheres utilizassem os talentos da costureira. Para o Rei, a preta. Para o
Marques, a branca. O Marques gosta de pensar que sou a pureza personificada
que fica louca quando descobre o prazer com ele. Deixo separadas as roupas de
baixo e o vestido azul turquesa, terei pouco tempo quando voltar do Palácio.
Coloco meu vestido verde água e me olho no espelho. Não prendo os cabelos e a
única coisa que se vê em meu colo é o pingente de rubi, esta será a única coisa
que vai permanecer em meu corpo depois que o Rei chegar. Saio em disparada,
já estou atrasada. Quando chego ao Palácio, um lacaio me acompanha. Entro nos
aposentos do Rei, hoje é tudo muito comum para mim, mas lembro da primeira
vez que pus meus pés aqui e decidi que um dia teria uma cama como a dele. E é
exatamente numa dessas que eu durmo todas as noites. Não no quarto que
mantenho especialmente para atender meus clientes, que muda de decoração de
acordo com seus gostos, mas no meu quarto de dormir, aquele que tem a minha
decoração, o meu estilo, a minha cara.
Tiro o vestido, pingo uma gota de meu perfume atrás de cada orelha e
joelhos e me deito. Saboreio as uvas que estão na mesa ao lado da cama e tomo
um gole do vinho quando a porta se abre. O Rei está abatido, mas seus olhos
brilham quando me vê. Ele não diz uma palavra, simplesmente começa a se
despir. Eu o olho de cima a baixo, e o que ele encontra em meus olhos é luxúria.
Eu o desejo. Eu o quero. E ele fica excitado só de perceber isso. Não é um
homem bonito, mas extremamente charmoso. Seu corpo é atlético, o Soberano é
um guerreiro.
Ele se aproxima da cama e me puxa pelas pernas. Começa beijando meus pés
por cima da meia e sobe as mãos para tirá-la. Quando as solta das ligas, desce as
mãos novamente, me arranhando com suas unhas. Meus pés estão livres e ele
beija dedo por dedo. Segue beijando minha canela, panturrilha, joelhos. Suas
mãos estão logo acima, nas coxas, próximas as minhas nádegas. Eu gemo
quando ele beija a parte de trás de um dos meus joelhos e o apoia em seu ombro.
Ele me toca. Começo a ofegar à medida que seu dedo me massageia, fico úmida
imediatamente. Ele continua beijando minhas coxas e quando lambe meu ponto
mais sensível, agarro seus cabelos. Ele ri. Sabe que está me deixando louca e vai
se arrepender deste martírio depois, pois vou castiga-lo. Ele não terá chances
contra mim. Finalmente decido que é minha vez e, com pé que está apoiado na
cama, roço seu membro. Ele geme e não para de me chupar, então tenho que
puxa-lo pelo cabelo. Quando seu rosto está próximo ao meu, mordo seu lábio
inferior e digo com a voz mais inocente possível:
Ele acena com a cabeça, então agarro seu queixo e lhe beijo
desesperadamente. Minha mão já substitui meu pé e eu estou agarrada a seu
membro como se fosse a última vez que poderei tocá-lo. Meu outro pé continua
em seu ombro e ele tenta voltar a me massagear. Não permito, pois agora é
minha vez. Tiro o pé de seu ombro e o viro, jogando-o de costas na cama. Então
engatinho até o meio de suas pernas. Ele está ansioso pelo que vem a seguir,
adora isso. Eu toco a ponta do seu membro com a língua. Olho para ele enquanto
faço isso. Ele dá um grunhido quando o enfio inteiro em minha boca. Continuo
chupando, usando minha língua e acaricio suas bolas com uma mão e seu
mamilo com a outra. Continuo aumentando o ritmo e a força em minha boca, a
sucção agora é mais intensa. Ele está ofegante. Eu estou no controle. Paro de
chupá-lo e ele me olha como se eu o tivesse esfaqueado. Viro de costas,
montando nele. Quando minha pélvis encontra a dele, ouço um rosnado, ele está
gostando, mas vai adorar quando eu subir para a primeira estocada e ele tiver
uma visão privilegiada de tudo o que está acontecendo. Começo a subir
lentamente e, quando chego na ponta, olho para trás. Ele me olha e tocando
minhas nádegas, me abre mais ainda. Seu dedo brinca com meu outro orifício e,
com a cabeça ainda virada para ele, fecho os olhos e passo a língua por meus
lábios. Ele delira quando desço com tudo. Estou me sentindo devassa hoje e
quero escandaliza-lo. Quando subo novamente, passo a mão por minhas nádegas
e penetro meu outro orifício com um dedo. Gemo alto e desço por seu membro,
ele não vai aguentar muito. Olho de novo para trás e pergunto se ele quer me
penetrar ali, onde meu dedo está. Ele faz que sim e eu me levanto, lambo
bastante o membro dele e me sento novamente, mas agora de frente. Enquanto
ele penetra meu outro buraco, me massageio olhando para ele. Começo a gemer
descontroladamente. Não demora muito até que ele se despeje dentro de mim
gritando meu nome. Apesar de já ter se aliviado, ele permite que eu continue
enterrada nele e me massageando até sentir meu alívio também. A melhor parte
está para começar. Depois de recuperar o fôlego e nos acomodarmos na casa de
banho, discutimos suas ações com relação a França. Fico feliz em saber que ele
segue meus conselhos. Ele mais ouve do que fala, fica sugando meus seios
enquanto ouve minhas sugestões. Sua língua circula meus mamilos que já estão
doloridos de tanta excitação. Manobro para que ele me possua mais uma vez, ele
ainda está disposto. Cavalgo por um tempo, enquanto direciono meus seios para
sua boca. Ele abocanha quase o seio todo, guloso que é. Debruço no beiral,
deixando meu traseiro arrebitado para ele. Ele me lambe com gosto e depois
volta a me penetrar. Diz obscenidades em meu ouvido, começa a ofegar e se
despeja dentro de mim, mas dessa vez não gozo. Não importa, estou aqui para
satisfazê-lo, não o contrário. Depois do banho, me visto para ir embora e, como
sempre, ele pede que eu fique um pouco mais. Nunca fico, mas ele tem
esperanças de que isso vá acontecer um dia. Já na porta para ir embora, ele me
entrega um estojo de veludo. Brincos de diamante são os presentes que trouxe de
sua viagem. Agradeço e saio, pensando em usá-los mais tarde.
- Quando acho que você não pode ficar mais bonita, você me prova que
estou errado!
Ele beija meu pescoço, sente meu cheiro e sussurra em meu ouvido:
- É assim que você gosta, não é? Você gosta de me provocar para que eu te
ataque!
- Sim, Marques, gosto de você assim, bruto, descontrolado!
- Então, aguente! – ele arremete com ainda mais força, sua pélvis bate na
minha freneticamente.
- Mais forte, mais forte! – grito fechando os olhos. Eu estou prestes a ter um
orgasmo, mas me seguro. Sei que ele quer que eu goze com ele.
- Madame Toulouse, que honra encontra-la aqui esta noite! Ele disse em voz
alta e sussurrou em meu ouvido: - Terá tempo para mim depois da festa?
Adoraria poder terminar a noite em sua cama!
Percebi que não estava sozinha na sala e tentei fugir sem atrapalhar o que
obviamente era um casal que havia fugido para uma sessão de sexo depravado.
Voltei pela mesma porta que entrei e dei de cara com o Marques Libertino... e o
Duque!
- Minha querida, estava a sua procura! Este é o Duque de Devon, minha cara.
Sua Graça, esta é Madame Toulouse.
- É uma honra estar em companhia de uma dama tão bela. De que parte da
França vem, Milady? Conheço cada quarteirão daquele belo país. – Ele sorria e o
Marques não percebeu o sarcasmo em sua voz.
- Sou de Paris, Sua Graça, uma cidade grande, tão grande que é impossível
conhecer cada quarteirão...
- De forma alguma, minha cara! Será uma honra ceder a minha dança para o
Duque de Devon! – se eu não tivesse controle, nesse exato momento poderia
socar o Marques! Não tendo escolha, pousei a mão naquela que ele me estendia
e seguimos para a pista de dança. Raoul me conduzia como se me exibisse a
todos, porém não olhou para mim até nos virarmos um de frente para o outro
para iniciar a dança. Como na primeira vez em que dançamos, Raoul levou uma
de minhas mãos até seu ombro e segurou a outra próxima a seu peito. Quando os
primeiros acordes da música se iniciaram, ele esticou o braço com a postura
perfeita de valsa e me conduziu pelo salão.
- Você não mudou nada, Pequena. Apenas ficou mais bela! – não havia ironia
em sua voz, mas seus olhos eram frios.
Ele tocou meu queixo, levantando meu rosto para que o encarasse.
- Madame Toulouse, ou qualquer que seja o seu nome, posso saber por que
está tão pálida? Está se sentindo bem? – Ele queria me enlouquecer e não me
permitia responder nenhuma de suas perguntas.
- Não me importo que saibam que me conhece, Vossa Graça. Só não entendo
o que faz aqui sem sua esposa! – seus olhos se arregalaram. – O que foi?
Esqueceu-se que é casado? Ou é viúvo? Talvez ela tenha morrido de desgosto
em saber que o marido seduziu uma moça de 16 anos e outras duas antes de
propor casamento? E essa história de “Duque”? Sério? Como conseguiu a proeza
de fazer todos acreditarem que é um nobre? Gostaria de ver a cara de todos esses
esnobes se o vissem trabalhando nas docas de Astoria! Fingi um sorriso
sarcástico.
- Nunca me casei, minha senhora. Deve ter se informado mal. Mas não se
preocupe. Não guardei mágoas por ter me abandonado para fugir com outro.
Apesar de não poder deixar de pensar na ironia de tudo isso. Trocou-me por um
Conde e perdeu um Duque! Raiva é o que mais se aproxima do sentimento que
nutro por toda essa história. – ele dizia tudo com uma calma e frieza
impressionantes. Era como se nada o abalasse.
- Ah, Pequena, você está mal informada, mas eu sei de tudo o que aconteceu
depois que você fugiu!
- Nossa conversa ainda não acabou, mas, a menos que tente fugir novamente,
vamos nos encontrar de novo.
- Senhor Marques, sei que quer falar comigo, mas lamento em dizer que
devo ir. Gostaria de lhe convidar para almoçar amanhã, o que acha? Ficaria
deleitado se Madame Toulouse pudesse acompanha-lo.
Na casa do Marques, o sexo não foi o que costumava ser. Não consegui parar
de pensar em Raoul e em nossa conversa, mas não podia deixar de fazer meu
trabalho e o Marques teve tudo pelo qual pagou. Conversamos um pouco até que
o assunto “Duque” surgiu na conversa. O Marques me contou que ele recebeu o
título do Rei, seu grande amigo, por seus trabalhos no exército britânico como
estrategista. Sabia que ele tinha também um cargo militar importante, mas não
soube me dizer qual era. Depois de deixar a casa do Marques, passei o resto da
noite em claro, pensando em tudo o que acontecera no Baile. Resolvi que não
adiantaria mais ficar rolando na cama e levantei. Pedi que trouxessem água e
pétalas de rosas para minha banheira e, quando me deitei submersa em água
quente, consegui relaxar um pouco. As palavras dele não saiam da minha
cabeça. O que ele queria dizer sobre trocá-lo por um Conde? Ele não tinha se
casado com Otilia? Tinha ingressado no exército? Era amigo do meu cliente
mais importante? O que o Rei diria se soubesse que tenho um filho de um de
seus conselheiros? O que ele faria se soubesse que tinha um herdeiro? Meu
Deus! Sai correndo da banheira, vesti uma roupa de montaria e segui galopando
até a casa de Madame Toulouse.
Passei a manhã com Madame e Yago, era incrível como eu sentia saudade
deles mesmo tendo os visto apenas dois dias atrás.
- Oh, minha filha! Um grande amor do passado! O pai de seu filho! Pelo
modo como seus olhos brilham quando fala dele, já sei que meu genro é um
homem belíssimo!
- Não diga sandices, Madame! Ele não é seu genro, nem nunca vai ser! Ele
não faz ideia da existência de Yago! Além disso, ele acha que o troquei por um
Conde! Um Conde! De onde ele tirou essa ideia? Não acreditava que ele, ainda
um plebeu, pudesse se apaixonar por mim... que dirá um Conde! Por favor, Yago
deve ser nosso segredo mais bem guardado. Preciso pensar em uma forma de
contar sobre nosso filho a ele. Eu não suportaria se ele o levasse de mim!
- Minha filha, ele não levará. Não percebe? Ele fez toda essa cena porque
ainda a ama! Ninguém teria todo esse trabalho para desgastá-la se não se
importasse!
- Madame, começo a achar que sua idade afeta sua mente! Sempre foi tão
esperta, o que aconteceu com você? – debochei descaradamente
- Ah, minha filha, lhe faço a mesma pergunta. Somente uma pessoa cega não
enxergaria um estratagema tão claro!
Dizendo isso, voltou-se para a porta e pediu que servissem o chá. Depois de
muita conversa, sempre sobre o Duque, ela me apressou, dizendo que eu me
atrasaria para encontra-lo.
- Não, eu não vou! Não entende? Por que eu iria me encontrar com um
homem que me abandonou quando eu tinha apenas 16 anos? Que partiu meu
coração e se casou com outra? Que mantinha um relacionamento comigo e
outras duas meninas, tão inocentes quanto eu? Que não se dignou sequer a me
procurar? - eu segurava as lágrimas, mas a raiva era tão grande que minha voz
saía embargada. Madame Toulouse suspirou.
- Ele não se casou com ninguém e esse é só um dos muitos furos que a sua
história tem. Você pode se permitir sentir raiva dele, mas tenho certeza que a
verdade vai lhe mostrar que ele sempre foi e sempre vai ser seu grande amor. E
se o destino resolveu que vocês deviam se reencontrar, isso deve significar
alguma coisa! Venha, minha menina, vamos colocar um belo vestido, fazer um
belo penteado e encontrar com o belo Duque de Devon para esclarecer o que os
separou há tanto tempo!
*******************************************
Cheguei ao Hyde Park com quase uma hora de atraso e não me senti nem um
pouco mal com isso. Ao contrário: rezava para que ele não estivesse mais lá.
Minhas orações foram interrompidas e entendi que Deus não estava me ouvindo:
- Está atrasada, Madame Toulouse. – A voz de barítono atrás de mim fez
minha nuca arrepiar.
O cavalo entendeu e baixou a cabeça até tocar meu ombro, como se dissesse
que também sentia a minha. Afaguei-o com carinho e perguntei para Raoul, sem
tirar os olhos de Golias.
- Boa tarde, Vossa Graça. Como está? – fiz uma mesura debochada.
- Acho que já fomos muito longe para continuar com essa formalidade, não
acha?
- Como pude? Como ousa a julgar o que fiz quando não sabe nada do que
aconteceu comigo? Você fez muito pior!
- Fiz o quê? Busquei você por mais de um ano? Revirei toda Astoria e todas
as ilhas e toda a Inglaterra, na esperança de encontra-la antes do casamento com
o Conde? Sonhei em me ajoelhar a seus pés pedindo que não casasse com ele?
Que, embora ainda tivesse muita mágoa por ter me trocado por ele, ainda a
queria? Não teve a decência de me contar olhando em meus olhos, deixou uma
carta! Mais fria que isso, impossível! – seu tom de voz tinha aumentado
consideravelmente.
- Você continua com essa história de Conde? Que Conde? Que carta?
Espero que encontre uma boa moça de sua estirpe e seja feliz.
C
- Você só pode estar louco se pensa que fui eu quem escrevi isso!
- Diga que essa caligrafia não é sua, Christine! Diga que isso tudo é mentira
e eu lhe perdoarei por tudo o que fez!
- Tudo o que fiz? Está louco! Eu não fiz nada! E como essa carta chegou até
você? Por que não me procurou?
- Ah, eu procurei, Christine, já disse! Procurei por todo o país e quando disse
que conhecia cada quarteirão da França não menti. Quando disse na carta que o
Conde era de Sussex imaginei que talvez as coisas não fossem como você
imaginou e tivesse fugido para a França! Continuei minha procura até que não
tinha mais esperanças de encontrá-la. Cheguei a conclusão que era verdade o que
disse na carta, que não me queria mais. Se quisesse já teria me procurado... só
não fiquei mais decepcionado do que fiquei há alguns dias atrás, quando
descobri que você tinha se tornado uma cortesã! Uma cortesã, Christine!
- Você não vai me escapar novamente, Madame Toulouse! – ele gritou e sua
voz me perseguiu até minha casa.
*********************************
- Sejam todos bem vindos ao meu humilde lar! É uma honra poder contar
com a presença dos Senhores mais distintos, belos e lascivos de Londres! Espero
que se divirtam! Eu sei que vou me divertir muito!
- Sim, dentro de alguns minutos, podemos começar. Vou pedir aos músicos
que façam uma pausa.
- Meus caros, como sabem, meu baile anual sempre guarda uma surpresa
para todos que participam dele. Este ano não seria diferente, e teremos um leilão.
O prémio do leilão será... esta serva que vos fala. Mas não pensem que é só isso.
O vencedor poderá me ter até amanhã a noite. Um dia inteiro comigo, onde
tudo... absolutamente tudo pode acontecer!
Fui ovacionada por todos os convidados e fiz uma oração para que
conseguisse muito dinheiro para não me preocupar mais com Yago. Madame
Toulouse já estava ao meu lado, segurando minha mão e começou:
- 75!
- 125!
- 200!
- Oh, Senhores, desse jeito não vou conseguir acompanhar. Lembrem-se que
está pobre leiloeira já é idosa!
- Acredito que ouvi o Conde Devasso dizer 250 libras! – o referido Conde
sorriu, assentindo.
Quando chegaram 550 libras, estava sem fôlego. Não podia acreditar que
chegaria a tanto!
- 1000 libras!
- Quem dá mais? – ele disse, já que Madame Toulouse ainda estava perplexa
com seu lance.
- Está louco mesmo! 1000 libras? Por uma cortesã? Uma prostituta? Uma
meretriz? – desdenhei.
- Nunca tive que pagar para ter uma mulher, Pequena. Estou pagando por seu
tempo. E vou exigir todas as respostas para minhas perguntas. Tudo o que tenho
entalado por 10 anos! – ele mostrou os dedos das mãos para dar ênfase ao tempo.
– Seu corpo já foi meu, Pequena, mas agora só quero minhas respostas. Isso é
tudo o que espero de você, nada mais.
- Seja gentil, menino. Ela sofreu muito para chegar até aqui. Tanto quanto
você. Não machuque só porque foi machucado. Pelo que sei, talvez nem tenha
sido ela a lhe machucar.
Raoul sorriu um sorriso triste. Beijou a mão de Madame Toulouse e seu
rosto. Cochichou em seu ouvido:
- Espero que esteja errado, menino. É muito lindo para passar a vida
sofrendo sozinho!
Quando ficamos sozinhos, ele me olhou. Senti um arrepio pela frieza que vi
naquele olhar.
- Pode ter suas respostas, comendo ou não. Mas estou faminta, não comi
nada no baile, então, se puder me acompanhar...
Esta noite eu tentaria algo novo, não usaria minhas técnicas de sedução. Não
usaria meu melhor sorriso, não usaria meu corpo. Esta noite eu usaria a única
coisa que não usava mais desde que Nikolai fora embora e contei minha história
a Madame Toulouse: a verdade. E, em troca, exigiria a mesma moeda.
Capítulo 6
Seguimos para a sala de jantar e Raoul deve ter pensado melhor e decidiu me
acompanhar. Comemos em silêncio e ele não tirava seus olhos de mim. Quando
a sobremesa foi servida, decidi que aquilo já estava beirando o ridículo e,
nervosa, resolvi tomar uma atitude. Não foi a melhor atitude, mas cheguei a
conclusão que nada poderia ser pior do que aquela situação. Resolvi brincar. Mas
quem brinca com fogo...
- Gostaria de provar sua sobremesa... na cama? Tenho certeza que vai olhar
esse bolo de morango com outros olhos... estiquei minha perna e coloquei meu
pé no meio das pernas dele.
Ele continuou me olhando, uma mistura de raiva e desejo, mas não deu o
braço a torcer. Segurou meu pé entre seus joelhos e respondeu.
- Já lhe disse que nunca paguei para me deitar com uma mulher e não vai ser
agora, aos 33 anos, que vou começar.
Aquilo me acertou como um soco. Ele conseguia me atingir com cada frase
que usava, parecia ter ensaiado por anos para não perder nenhuma oportunidade
de me machucar.
- Já que você acredita que, mesmo naquela época, eu não valia muito,
proponho um jogo: uma verdade por outra. Eu conto uma verdade, você
também. Parece-lhe justo, Vossa Graça?
- Justo não é uma palavra que eu usaria com você, mas aceito seu jogo.
- Então vamos lá: eu nunca enganei você. Não conhecia nenhum Conde,
aliás, conheci o Conde de Sussex esta noite, veja você! Ele não é um de meus
clientes e nunca sequer tinha visto seu rosto. No dia em que me entreguei a você
na gruta, voltei pra casa e minha tia me trancou num quarto, prometendo me
mandar para a Abadia de Syon. Sua vez.
- Nunca estive com nenhuma outra mulher enquanto estive com você. Eu a
amava. Nunca me casei e nem tomei a virtude de outra mulher em Astoria. O
que aconteceu? Por que você tornou-se uma cortesã, ao invés de uma freira?
- No caminho para a Abadia eu fugi. Andei pela mata por um bom tempo até
reconhecer onde estava e como chegar em sua casa. Quando cheguei, sua
cozinheira me disse que você tinha viajado com sua “noiva”. Onde você estava?
- Meu irmão recebeu uma convocação para o Exército. Ele era um garoto
ainda e achei que seria mais seguro se eu fosse em seu lugar. Tentei lhe contar,
mas não me permitiam falar com você, me disseram que você estava “se
resguardando”, pois sua reputação tinha sido manchada graças a mim. Foi um
escândalo ainda maior, pois apareci no dia seguinte e me bateram a porta na cara
novamente. No terceiro dia, cheguei pronto para pôr a casa abaixo, quando
recebi sua carta. Fui embora e, no dia seguinte, estava no regimento para o Fort
Williams. Não havia mais nada que me segurasse em Astoria e eu não tinha mais
nada a perder. Sua vez. Para onde você foi?
- Fui atacada depois de sair da sua casa por 3 mercenários. Felizmente, eles
queriam me vender, portanto não me violentaram. Fui vendida para um cigano
que cuidou de mim junto a sua tribo. Estava suja, com frio e com fome e não tive
outra escolha a não ser acompanha-lo. Fui amarrada, com uma corda no pescoço,
tratada como gado, mas ele me acolheu. Deu-me de comer e um lugar para não
morrer de frio. Nunca mais voltei a Astoria. Quem lhe deu a carta que eu
“supostamente” escrevi? – eu tinha medo da resposta, mas precisava saber.
- Sabrina. No terceiro dia, quando comecei a gritar na porta de sua casa, sua
tia saiu e disse que eu nunca mais devia por meus pés ali, você era uma menina
ainda e eu havia me aproveitado disso. Disse que eu era um libertino, que
seduzia meninas e que você era só mais uma de minhas conquistas. Eu não podia
acreditar. Aquilo foi como um soco na boca do meu estômago. Quando sua tia
bateu a porta, Sabrina veio ao meu encontro antes que eu pudesse gritar
novamente. Entregou-me a carta e disse que eu era um homem bom e merecia a
verdade. Senti uma alegria indescritível quando vi sua letra! Mas a dor que senti
quando li... – ele balançou a cabeça, como se a simples lembrança do que
aconteceu pudesse lhe causar a mesma dor novamente. Baixou os olhos, respirou
e voltou-se para mim. - Sabe, quando estava na guerra, fui atingido por uma
bala. É estranho. Não doeu tanto quanto eu imaginei que doeria. Ler sua carta
doeu muito mais...
Eu via dor nos olhos dele. Como eu imaginei na época, Sabrina nos traiu.
Não existia Conde nenhum, carta nenhuma. E ele nunca tinha estado com Sunny
ou Bertha e nunca foi noivo de Otilia. Aquilo me deixou com ainda mais raiva.
Lágrimas brotaram em meus olhos e não consegui segura-las.
- Por que choras? Se arrepende do que fez? As coisas não saíram como
imaginava, hum? – ele desdenhava, traçando círculos com os dedos na toalha.
- Eu não escrevi essa carta, Raoul. Não percebe? Sabrina nos traiu! Foi ela
quem disse para minha tia onde eu estava, com quem e o que estava fazendo! Ela
era a única que sabia! Não sei porque ela fez isso, mas fez! – ele esmurrou a
mesa.
- Não! Pare de mentir! Você disse que diria a verdade! Agora está culpando
outra pessoa para eximir seus erros? Mentirosa!
Agora ele gritava e todo o ódio represado por 10 anos rompeu-se de uma
vez. Ele levantou da mesa, batendo o punho com força, derrubando taças e
talheres.
- Nunca imaginei que pudesse sentir tanto ódio por alguém! Eu gostaria de
matá-la! Eu gostaria de nunca ter colocado meus olhos em você! Eu gostaria de
nunca ter te conhecido!
- Digo mais: eu nunca mais quero colocar minhas mãos em você, a não ser
que seja em seu pescoço para torcê-lo! Mentirosa! Leviana! Meretriz!
- Cale-se! Nunca mais se dirija a mim pelo meu nome, não tem mais esse
direito! Vai se dirigir a mim como Milorde ou Vossa Graça! Nunca mais diga
meu nome! Você não é digna de dizer meu nome!
Ele agarrou minha garganta, mas não apertou. Aproximou seu rosto de mim,
de maneira que eu podia sentir seu hálito, uma mistura de whisky e hortelã. Ele
passou a língua pela minha boca e minhas pernas bambearam. Sentia raiva por
não conseguir me controlar quando ele estava perto, mas não tinha forças para
resistir. Fechei os olhos e permiti que ele me beijasse. Seus lábios estavam
grudados aos meus, sua língua invadia minha boca com voracidade. A mão que
segurava minha garganta continuava firme e a outra lutava para não me tocar.
Ele travava uma luta interna, entre se entregar ao momento e resistir. Por fim, a
resistência venceu. Com um grito desesperado, ele continuou:
- Nunca mais me convide para sua cama, você se deita com qualquer um,
mas eu não me deito com prostitutas!
Dizendo isso, ele soltou minha garganta e saiu da sala. Eu cai na cadeira, sem
forças para fazer mais nada, chorando copiosamente. A muralha que levei 10
anos para erguer ao redor de meu coração ruiu. E não havia mais nada dentro
dela.
Depois do que pareceram horas, ele voltou para a sala. Tinha pago 1000
libras por 24 horas comigo, não iria embora depois de apenas 4 horas.
- Amanhã vamos encontrar Sabrina. Ela vai nos dizer quem está mentindo e
você vai ficar feliz em saber que nunca mais me verá na sua frente! Diga-me
onde posso dormir.
Fui para o meu quarto e deitei na cama vestida como estava. Chorei tanto
que o cansaço me venceu e adormeci, esquecendo de trancar a porta de ligação,
que dava diretamente no quarto onde o Duque descansava.
O dia ainda não tinha nascido quando ouvi um soluço. Sem me mexer, abri
os olhos e vi um vulto sentado embaixo da janela. A luz do luar invadia meu
quarto, iluminando meu corpo, nu. Pulei na cama quando me lembrei que havia
deitado de roupa e tudo. Ele levantou a cabeça.
Ouvi-lo me chamar pelo apelido que me deu era música para meus ouvidos.
Mas seus gritos ainda reverberavam em minha cabeça, “meretriz, prostituta”!
Não me movi, até que ele, de joelhos, apoiou-se nos pés da minha cama.
- Por favor, quebre esse feitiço, sua bruxa! Liberte-me de te amar tanto! – ele
chorava desesperado.
Afastei o lençol e ajoelhei a seu lado. Ele se virou, seus olhos não tinham
mais a frieza que vinha me olhando.
- Se eu soubesse fazer isso, juro que o faria. Mas não consigo nem mesmo
mandar em meu coração, como posso mandar no seu?
- Meu coração sempre lhe pertenceu, Pequena. Você fez o que bem quis com
ele!
- Não! Eu juro, pela vida de meu filho... – percebi muito tarde o que tinha
dito.
Ele se levantou. Tentava respirar, tentava se controlar, mas por mais que
dissesse que não acreditava em mim, por mais que seu cérebro pensasse em
milhares de possibilidades, ele já sabia a resposta.
O pânico tomou conta de mim. Sabia que tinha que mentir, mas nunca
consegui esconder nada de Raoul. Arrisquei.
- CHRISTINE!
- E nunca saberá se é seu filho ou não, nem onde ele está... foi a última
cartada, para ambos. Raoul afrouxou a mão em minha garganta e perguntou
novamente. Cheguei a um beco sem saída. Respondi imediatamente.
- Você.
Ele acordou em minha cama. Minha criada estava conosco, não queria mais
ficar sozinha com ele e levando-se em consideração a maneira como ele
acordou, eu estava certa em não querer.
Eu agora tinha entrado no modo mamãe urso e não pensava em nada além de
Yago.
- Você tem ideia do que fez com a minha vida? Eu larguei tudo para ir a uma
guerra, que pouco me interessava, para morrer! Eu não queria mais viver sem
você! Passei 10 anos da minha vida pensando que tinha sido trocado pela mulher
que amo e descubro que ela é a maior cortesã da Inglaterra! E ainda tem um filho
meu! Por Deus, como posso me controlar?
Ele gesticulava, andando pelo quarto sem camisa e não se dava conta de
quão lindo ele era. Eu estava apavorada, mas meu corpo estava em êxtase de ver
o homem mais lindo de todo o mundo ali, tão perto. Eu rezava para que ele se
acalmasse, só assim poderíamos conversar e, quem sabe um dia, contar tudo a
Yago. Eu não podia permitir que ele chegasse na casa de Madame Toulouse
alegando ser o pai de meu filho, bagunçando sua cabecinha. Yago cresceu numa
tribo cigana, mudou-se para casa de Madame Toulouse ainda bebê e não
entendia porque morava com a “vovó” e não com a “mamãe”. O “papai” só ia
deixa-lo mais confuso e eu queria ter certeza de que ele não se importaria em
saber quem era quem, desde que fosse amado. Finalmente Raoul saiu do transe
em que estava há algum tempo, balbuciando coisas sem sentido e parou na
minha frente.
- Quero meu filho. Sou um Duque e agora sei que tenho um herdeiro. Não
posso permitir que ele continue em companhias tão questionáveis quando ele
pode ter a vida de um nobre!
- Christine, você já me levou além do meu limite, não vou mais tolerar isso!
- Por favor...
- Agora vai implorar? Com que direito você me implora alguma coisa?
- Imploro como você me implorou há alguns minutos atrás para não me amar
tanto. Eu amo você. Nunca deixei de amá-lo e faria tudo de novo, mesmo
sabendo que o teria só por uma noite. Poderia passar a vida inteira sozinha,
desde que o tivesse nessa única noite só para mim. Foi a noite mais feliz de
minha vida e me deu nosso filho. Iria para um convento de bom grado, se
pudesse desfrutar de nosso amor por uma maldita única noite e soubesse que
seria nossa única chance de ficar juntos! Acabei fugindo por acreditar que ainda
existia uma chance para nós. Então, perdoe-me se não me arrependo de ter me
deitado com você! Perdoe-me se você foi traído, assim como eu e comeu o pão
que o diabo amassou, assim como eu! Perdoe-me por não ter te procurado antes,
por achar que você estava casado e feliz com Otilia. Perdoe-me por fraquejar e
não ter lutado por nós, mas era muito jovem e não sabia mais o que fazer! Mas
não me tire a coisa que mais amo e me faz te amar ainda mais!
Eu estava ajoelhada a seus pés, como ele tinha feito a poucos minutos atrás.
Ele me levantou e tocou meu queixo, fazendo com que eu o encarasse. Sua voz
era baixa, ele tinha se transformado. Seu olhar voltara a ser gélido e ele mantinha
a postura ducal.
- Meu Deus, será que não vê? Não há um momento certo para isso! Você
tinha que tentar, todo dia, todas as vezes! Se não conseguiu me contar no Baile,
devia ter me contado no dia seguinte, no Hyde Park! Você devia ter tentado me
contar todos os dias até conseguir! Você não me procurou por acreditar que eu
estava casado, mas devia ter me contado! Você me tirou o direito de ser pai por
10 anos, Christine! Como posso lhe perdoar por isso?
Eu não sabia a resposta. Ou melhor, sabia, ele não poderia me perdoar nunca.
Ele tinha razão. Eu não o perdoaria se fosse o contrário. Eu o mataria. Não me
restava outra alternativa, a não ser provar que eu não era a pessoa horrível que
ele acreditava que eu era e que o amava mais do que tudo.
- Você crê que tem o direito de me pedir alguma coisa? Eu nem sei mais
quem você é!
- Como ele vai para Eton? Como ele conseguiria? – Raoul ficou
impressionado.
Ele pensou por algum tempo. Pareceu-me que ele reconsiderou a maneira
como decidi criar nosso filho, pois não imaginava que eu seria capaz de mandar
um filho para Eton.
- Quero vê-lo antes de partir. Quero passar um tempo com ele. Não sei
quando ele vai, mas você vai providenciar nosso encontro, o mais rápido
possível. É o máximo que posso lhe oferecer.
Algumas horas depois, o sol nasceu e eu me preparava para sair. Tinha uma
missão importantíssima e não queria perder mais tempo. O Duque me preveniu:
- Vou tentar dormir um pouco, a noite foi exaustiva. Quando acordar devo ir
à Câmara dos Lordes e ter com o Rei. Quando voltar, quero saber tudo e, ainda
hoje, conhecer meu filho.
- Minha filha o que está fazendo aqui tão cedo? Não se entendeu com o
Duque? – ela me olhava com compaixão.
- Madame, por favor me perdoe, não tenho tempo para lhe contar agora,
preciso falar com Yago. Onde ele está?
- Ora, aquele traquinas sem modos está na cozinha, tomando seu desjejum.
Ele diz que “gosta do quentinho do forno e do cheiro de pão”! Onde já se viu,
um cavalheiro comer na cozinha?
- Falaremos disso mais tarde, meu amor. Agora, mamãe tem que lhe contar a
história de como você nasceu.
- Puxa, você nunca quis me contar, eu sempre quis saber! Houve muito
sangue? Alguém vomitou? – eu continuava gargalhando
- Não é esse tipo de história, meu amor! Já se perguntou quem é seu papai?
- É claro que você tem um papai! Todo mundo tem um papai e uma mamãe.
- Robert não tem mamãe. Ela foi para o céu. – disse, pensativo.
- Robert perdeu a mamãe, mas ele a teve, caso contrário ele não estaria aqui!
- Faz sentido. Quem é meu papai?
Cheguei em casa no horário do chá da tarde, o Duque ainda não tinha voltado.
Fiquei inquieta, pois nunca tinha trazido Yago para passar algum tempo em
minha casa, não queria expor nada a ele. Claro que eu deveria contar minha
história algum dia, mas esperava poder contar quando ele fosse mais velho, mais
maduro e entendesse que tudo o que fiz foi por ser levada pela tristeza de perder
Raoul associada ao fato de ter que me sustentar e dar uma vida boa para ele. Sem
referências, sem amigos eu nunca teria chance de arranjar um emprego de
preceptora, professora ou qualquer trabalho parecido. Simplesmente segui o
fluxo de minha vida. Era isso ou tentar a sorte sem a ajuda de Madame Toulouse.
E, verdade seja dita, ela nunca me pressionou para seguir esta vida, mas eu sabia
que era a maneira mais rápida de conseguir dar um futuro a Yago, portanto não
pensei duas vezes. Antes mesmo de me sentar com Madame Toulouse, já estava
decidida que aprenderia seu ofício e guardaria cada centavo para meu filho. Com
exceção da casa, todo o dinheiro estava numa conta bancária em seu nome, que
ele nem sabia da existência e era administrada a distância, por Nikolai. Ele
mandava mensagens ao administrador da conta e me autorizava a guardar cada
vez mais dinheiro nela. Não me tornei uma mulher rica como Madame Toulouse,
mas estava no caminho, como ela tão sabiamente me ensinou. E estava nos meus
planos contar tudo a Yago, mas não imaginava que aconteceria tão cedo.
- Tenho dois favores a lhe pedir: o primeiro é que não conte a ele o que faço.
Eu vou contar, mas quero que ele tenha maturidade para entender.
- Entender o que? Que você preferiu a vida mais fácil a lutar por nós? – eu
não esperava por isso, mas preferi não falar nada a respeito, embora continuasse
doendo ouvir as constantes ofensas de Raoul. Todos acreditam que a vida de
uma cortesã é “fácil”. Poderia citar uma centena de pessoas que não aguentariam
essa vida “fácil” por uma semana. Ignorei o comentário ferino e continuei.
- O segundo é que nunca o abandone. Se você decidir que não quer fazer
parte disso, vá embora agora. Não faça com que ele te ame se não pretende ficar
na vida dele. Não o puna por meus erros. Saiba que se decidir ficar, vai estar
constantemente em minha companhia. E sei o quanto isso é difícil para você.
- Sim, eu sou seu papai! Eu amo você! – Agora quem ria era Yago.
Imediatamente ele correu para os braços de Raoul e eu não pude mais conter as
lágrimas. Quantas noites eu sonhei com aquela cena? Não era exatamente como
eu tinha imaginado, mas era lindo mesmo assim!
- Uau! Quando for grande, quero ser do exército também! Mas mamãe disse
que eu tenho que estudar primeiro! Já sei ler, escrever e fazer continhas! Mamãe
também está me ensinando francês, não sei por que eu preciso ir para Eton!
- Precisa ir para estudar mais! Para ser um grande General tem que estudar
muito, meu filho! N´est-ce pas vrai, Maman***? – Raoul respondeu para
mostrar a Yago que ele também falava francês.
- Sim, meu amor, papai fala francês. Melhor que a mamãe! – O olhar de
Raoul agora era outro. Não havia raiva, ódio ou rancor. Pela primeira vez, seus
olhos brilhavam como há 10 anos atrás.
- Não, meu rapaz, eu sou seu papai. Nikolai só cuidou de você e da mamãe
enquanto papai estava na guerra. O que é “Prama”?
- Yago, está na hora de ir dormir, vamos para a cama! – não achei prudente
estender a história de Nikolai.
Raoul levantou-se do chão onde estivera com Yago e seus olhos eram
suplicantes:
- Ele acabou de conhecer o pai. Não pode dormir mais tarde? Somente hoje?
Meu primeiro instinto foi permitir. Mas sabia que uma guerra eclodiria a
qualquer momento e não arrisquei.
- Já passou há muito a hora de dormir, Raoul. Além disso, seu tempo acabou.
– mostrei a ele o relógio, que marcava 10 horas da noite.
- Meu filho, porque não se prepara para dormir enquanto eu e sua mãe
conversamos um pouco? Papai logo estará com você para colocá-lo na cama.
- Estou muito feliz, papai! Quem sabe não preciso ir para Eton tão cedo,
agora que está aqui!
- Ah, rapazinho, boa tentativa, mas você vai para Eton, sim! Papai não vai a
lugar nenhum e, quando se formar, vou estar aqui, esperando por você! – Raoul
o colocou no chão e ele correu escada acima para se arrumar para dormir.
- Eu não posso acreditar que você disse na frente do meu filho sobre o leilão
de ontem! Você prometeu!
- Amei muito, Christine. Nunca neguei isso. Mas não posso mais negar tudo
o que você fez, o que a sua vida se transformou. Tenho um filho e isso muda
tudo.
Ele pegou seu chapéu, sua casaca e saiu, deixando-me sem fôlego e ardendo
de desejo por ele. Sabia que a partir de agora ele estaria o tempo todo por perto.
Eu ganhava minha vida cobrando por sexo. Que desafio seria conviver com
único homem que eu desejava e que não me queria em sua cama? Nem de graça?
Capítulo 9
- Onde ele está Christine? – O Duque estava soltando fogo pela boca.
- Você gosta de brincar com fogo, não é, Christine? Sempre gostou. Seu rosto
estava tão próximo ao meu que foi difícil me controlar e não beijá-lo.
- Não sei do que está falando, mas se está procurando por Yago, ele não está.
Sua preceptora o aguardava, tive que leva-lo de volta. Ele não pode se dar ao
luxo de perder aulas, principalmente agora, que falta tão pouco para Eton. Não
vou mais escondê-lo de você, Raoul, eu prometo. E eu não quebro minhas
promessas.
- Sim, vou providenciar seu encontro, porém não podem passar a tarde aqui!
- Tudo bem, eu posso leva-lo... espere um momento... por que não podemos
passar a tarde aqui? Por que eu não paguei? É por isso Christine?
- Não é nada disso. Preciso trabalhar, Raoul. Tenho clientes para receber e...
- E nosso filho não pode atrapalhar, não é? Ou será por que sua vida é tão
vergonhosa que não suportaria se ele soubesse?
- Diga-me onde ele está e eu resolvo tudo. Pode ficar com seus “clientes” –
ele disse, cruzando os braços e apoiando na lareira.
Respirei fundo. Era cansativo. Raoul não dava trégua em seus ataques, a
menos que Yago estivesse junto. Era difícil pra mim não ter mais o controle de
minha vida. Mas era mais difícil estar tão perto de Raoul e não poder sequer
tocá-lo.
- Escute, eu sei que sou culpada, eu sei que devia ter te contado, eu sei que
cometi muitos erros até chegar aqui. Você tem ideia do que é descobrir que está
grávida quando mora numa tribo de ciganos? Dar graças a Deus por ser salva e
ter um cobertor para dormir e comida para comer? Você tem ideia o que é viver
da bondade dos outros? Eu tive muita sorte, Raoul. Poderia estar morta e você
teria se livrado de mim, mas não teria Yago. Sei que não fiz as melhores
escolhas, mas tinha apenas 16 anos! 19 quando Madame Toulouse me fez uma
cortesã. Não sei como você era aos 19, mas eu não tinha para onde ir, eu não
tinha ninguém! Pode entender isso? Estranhos me ajudaram, Raoul! Estranhos! –
Desabei em uma cadeira. – Eu não me orgulho do que sou Raoul. Mas pode, por
gentileza, parar de me lembrar disso o tempo todo? Pelo menos por um dia?
- Faça o que quiser. Só me diga onde está meu filho. – Não, ele não se
cansava.
- Você tem medo que eu fuja com ele? Meu Deus, é isso! Por quem me
tomas? Acha que sou como as pessoas com quem convive, Christine? Que não
tem moral, não tem escrúpulos, que PAGAM para estar com você? – e lá estava
ele, me atacando novamente. – Nunca quebro minhas promessas, não vou leva-
lo. Por enquanto. Se você tentar me afastar dele ou prejudica-lo de alguma
forma, eu juro, Christine, que nunca mais o verá. Mas tem a minha palavra que
só quero estar com o meu filho. Não tenho intenção de tirá-lo da mãe. Ele já
sofreu demais.
Aquilo me magoou ainda mais. Nunca pensei que meu filho tivesse sofrido.
Ele sempre teve de tudo, apesar de uma família pouco convencional, não achei
que o estava prejudicando. Assenti, me dirigindo a minha penteadeira. Escrevi
num papel o endereço de Madame Toulouse e entreguei a Raoul.
- Por favor, vá busca-lo depois das 11:00. Ele tem aulas na parte da manhã.
Você pode almoçar com ele, passarem a tarde toda juntos, mas agora deixe-o
estudar.
Raoul chegou e não pôde esperar. Ele agarrou meu pescoço e me beijou de
maneira apaixonada. Consegui me desvencilhar do beijo apenas para pegar sua
mão e leva-lo para a cama. Quando subíamos a escada, ele não aguentou, me
puxou novamente para um beijo e, me carregando no colo, finalmente chegamos
ao quarto. Ele abriu a porta com um chute e me jogou na cama. Eu gargalhei. Era
maravilhoso! Ele começou a se despir, sem tirar seu olhar do meu. Não havia
mais ódio, nem raiva, nem mágoa. Só amor e desejo. Quando ele estava
totalmente nu, sentou-se em uma cadeira e ordenou que eu me despisse. Eu me
levantei imediatamente e fiz o que ele mandou. Eu mal podia esperar para tocar
seu corpo. Quando estava completamente nua, ele mandou que eu me ajoelhasse
entre suas pernas.
Agarrei seu membro e chupei com vontade. Ah, não via a hora de mostra a
Raoul tudo o que havia aprendido como cortesã! Eu o mataria de prazer e ele
seria meu para sempre!
Quando ele não podia mais aguentar, agarrou meus ombros e me jogou
novamente na cama.
Raoul agarrou meus cabelos e me penetrou de uma vez. Como era bom!
Com uma mão ele puxava meus cabelos, com a outra agarrava minha nádega
enquanto me penetrava.
- Sim, muito!
Raoul continuou, puxando meu cabelo com ainda mais força, enquanto me
estocava, me fazendo perder o folego.
Aquilo foi como jogar lenha na fogueira! Raoul continuava me atacando, sua
pélvis batendo com força contra minhas nádegas, meus cabelos puxados faziam
minha cabeça tombar totalmente para trás. Ele grunhia cada vez mais alto, até
que se apoiou em minhas costas e começou a me massagear.
- Quero me derramar dentro de você, enquanto você encontra seu alívio!
Vamos!
- Vou lhe dar um bônus por hoje, Christine! – o Visconde estava estupefato.
E eu sai de minha fantasia com o Duque devastada.
- Bem, fico feliz em saber que vou para a Escócia a deixando nesse estado.
Gostaria de pensar que só eu tenho esse poder! – ele gargalhou.
Tomei um banho e saí, tinha que me apresentar ao Rei. Escolhi minha melhor
roupa íntima, coloquei um vestido violeta, com os brincos de diamante que ele
havia me dado em nosso último encontro. Olhei-me uma última vez no espelho e
parti, imaginando onde Raoul e Yago poderiam estar.
Quando cheguei no Palácio notei que algo estava errado, pois não fui
enviada diretamente ao quarto, mas a biblioteca que o Rei mantinha no mesmo
andar da sala do trono. O lacaio que me levou até lá não me era conhecido e,
embora eu tenha tentado explicar-lhe quem eu era, ele simplesmente me colocou
dentro do cômodo e saiu, batendo a porta sem uma só palavra. Alguns minutos
depois o Rei entrou. Fiz um reverência e com os olhos cerrados disse:
- Vossa Majestade, que prazer revê-lo! Imagino que queria sair um pouco da
rotina... – fui andando em direção a uma mesa, sentando-me nela com as pernas
abertas. O Rei me seguia com o olhar e percebi decepção e tristeza neles. – Algo
errado, Majestade?
- Christine, preciso conversar com você e preciso que seja honesta em tudo o
que disser nessa sala... tudo poderá e será usado contra você caso minta para o
Rei.
- Sim! Santo Domingo seria a Colônia mais lucrativa, de acordo com seus
planos...
- Majestade, não sei o que está acontecendo, mas tudo o que conversamos
em seu leito fica lá! Nunca disse nada a ninguém...
Apesar de não fazer ideia sobre o que o Soberano estava falando, gelei. A
palavra traidor era muito forte e nunca era usada de maneira leviana.
- Vossa Majestade, por favor, continuo não entendendo. O que houve? Eu lhe
asseguro que não mencionei Santo Domingo ou qualquer uma das colônias a
ninguém! Jamais o trairia!
O Rei então foi até a porta e gritou:
- Raoul! Ah, meu Deus! – Corri em sua direção e segurei seu rosto:
Raoul não disse uma palavra, mas seu olhar agora era de alerta.
- Não sei quem ela é, Majestade! Nunca mentiria para o Senhor. Eu não a
conheço. Obviamente ela deve saber o nome do Duque de Devon! – Meus olhos
se encheram de lágrimas. Raoul estava se sacrificando por mim. Sabia que
estava mentindo, não só por dizer que não me conhecia, mas porque nunca
conversamos sobre as colônias. Ele sequer sabia que eu atendia ao Rei!
- Sim, eu temia por sua segurança e coloquei guardas para escutar suas
conversas com essa rameira. Quando soube suas intenções sobre as colônias vi a
oportunidade de ganhar muito dinheiro com o Soberano Francês com
informações praticamente inofensivas. Eu não traria prejuízo a Inglaterra, Vossa
Majestade só lucraria menos. E foi assim que a França tomou a dianteira e
colonizou Santo Domingo antes que Vossa Majestade pudesse fazer qualquer
coisa. – Então entendi tudo. Alguém havia vazado informações para a França e o
Rei queria culpados.
- Fiquei curioso para saber por que você ficou tão preocupado com aquele
garoto e não foi difícil saber que ele era filho da prostituta! – o Rei falava como
se eu não estivesse lá.
- Estamos dividindo a mesma mulher e ela divide meus segredos com o
General de meu exército? Com o meu melhor conselheiro? Eu lhe dei um título,
Raoul, confiei em você!
- A criança não significa nada para mim, assim como a rameira! Não me
deitei com ela e não o faria, mesmo se ela não se deitasse com Vossa Majestade.
Eu não me deito com prostitutas. O único motivo para eu ter me preocupado foi
por se tratar de uma criança, maldição! Seus guardas atacaram o coche em que
estávamos e o jogaram no chão! – ofeguei, desesperada por mais informações
sobre Yago.
- Sim, e você partiu para cima dos guardas, ferindo gravemente um deles e
ameaçando o outro de morte! Aquele garoto significa muito para você! Ou a mãe
dele... afinal, o que você estava fazendo com aquele garoto?
- Não, por favor, tem que me ouvir! Ele não é o traidor! – finalmente
consegui a atenção do Rei. Ele virou-se e Raoul fechou os olhos.
- Se é isso que ela busca, só vai encontrar a forca. Prendam essa desgraçada!
O Duque deve ser preso e enforcado com ela!
Levaram-nos por um corredor que ficava cada vez mais escuro. Descemos
por uma longa escadaria até chegarmos a Masmorra. Jogaram Raoul em uma
cela, com as mãos ainda amarradas, e a mim em outra. Agarrei as barras que nos
separavam:
- Mulher tola! Agora vão enforca-la. Por que não ficou quieta? O que vou
fazer agora?
- Não sei, mas o traidor ainda está livre. Fui acusado por alguém
injustamente. Não sabia nem que você atendia ao Rei! Meu amigo, dormindo
com você! Maldição!
- Mas Raoul...
- Inferno, Christine! Uma vez na vida, faça o que eu lhe peço! – Raoul gritou
antes de ser arrastado pelo guarda.
**********************************
Passei o que pareceu uma eternidade até que alguém aparecesse. O guarda
trazia uma caneca e um prato nas mãos.
- Por favor! Por favor, preciso falar com o Rei! – Eu suplicava, grudada às
barras da cela.
- Tire as mãos das grades! Vamos! Como se o Rei quisesse ouvir algo que sai
da boca de uma meretriz!
Eu recuei e ele abriu a porta da cela. Deixou o prato e a caneca no canto da
porta e a trancou novamente.
Aquilo era uma lavagem, com água numa caneca tão suja que não se podia
beber.
Joguei a água nas mãos e lavei meu rosto. A comida ficou para os ratos que
dividiam a cela comigo.
Numa das sessões, fui levada para a cela mais cedo que de costume. Não
tinha apanhado tanto e começava a aprender o padrão das agressões. Aquele dia
tinha sido diferente e, quando cheguei a cela, entendi o motivo. Raoul estava
descontrolado:
- Quem autorizou esse espancamento? Quem lhes disse que podiam
importunar a prisioneira? Se descobrir que fizeram isso de novo, estarão mortos
antes de ouvirem minha voz novamente.
Ele cuidou de meus ferimentos sem dizer uma palavra. Eu tinha os lábios e
os olhos inchados, o sangue corria livremente por um corte em meu supercílio.
Ele limpou meu rosto com cuidado, com um pano limpo. Sentia algumas
lágrimas suas caírem em minhas costas enquanto ele aplicava unguentos nas
chibatadas. Eu não tinha forças nem mesmo para chorar. Só consegui pronunciar
uma palavra:
- Yago...
- Ele está bem, não se preocupe. Eu vou tirá-la daqui! Eu prometo, Pequena!
Nosso filho está bem, só sente sua falta. Como pôde ser tão tola e se colocar
nessa situação, Christine? Por quê?
-Lembra-se do dia em que nos conhecemos? Meu Deus, você sempre foi
linda! Eu me apaixonei imediatamente. Você tropeçou e caiu. Senti como se
proteger-te fosse a razão da minha vida. Eu te queria como nunca quis
ninguém...
E com isso, desmaiei, prometendo a mim mesma que não me entregaria, que
veria meu filho novamente e que Raoul estaria salvo. Nem os hematomas,
cortes, marcas em meu corpo fariam com que eu pusesse a vida de Yago e Raoul
em risco.
Meu estado era tão lastimável que não me dei conta de que Raoul proibira os
guardas de me torturarem novamente. Quando acordei alguns dias depois e vi
meus ferimentos, percebi que ele estivera ali enquanto eu dormia, pois não
estavam infeccionados. Eu conseguia ouvi-lo ao longe, falando comigo, mas não
tinha forças para nada. Mas ouvir sua voz já era um bálsamo. Senti um alívio
muito grande. Ele estava salvo. Claro que um Duque jamais seria condenado
junto com uma cortesã. Eu morreria sozinha e feliz por ter salvado o único
homem que amei da forca. Ele seria um pai maravilhoso para Yago, o
compensaria pelos 10 anos ausente, ainda que a culpa não fosse dele.
A única coisa que acontecia na minha vida naquele tempo eram períodos de
delírio e dor. Apesar de não me espancarem mais, as feridas já tinham sido
feitas, o estrago fora grande. Sonhava com Astoria, quando eu e Raoul corríamos
na praia, brincando como duas crianças. Como nos amávamos, como sorríamos e
como sentíamos a leveza da vida passar por nós. Foram tempos maravilhosos e
sempre os levaria comigo. Delirava acreditando estar de volta a Astoria, com
Raoul e Yago, e fazíamos as mesmas coisas, na companhia de nosso filho. A
fome já não me incomodava, ao contrário: fazia com que eu delirasse ainda mais
e esses eram os melhores momentos, quando a realidade estava tão distante que
eu sequer sentia dor. Eu conseguia visualizar o lugar onde nasci, meu tio, meus
pais, todos estavam lá comigo, Raoul e Yago. Não sabia mais diferenciar a
realidade do delírio, do sonho e não me importava mais. Tudo o que eu queria
era que Raoul fosse salvo daquela armação. Eu morreria feliz, sabendo que um
homem inocente não fora para a forca, mesmo que eu também não tivesse feito
nada de errado. Só esperava que tudo acabasse logo e que Raoul pudesse seguir
sua vida, dando dignidade ao nosso filho.
- Oh, minha menina! – ela chorava e tocava minha face. – Oh, Vossa Graça,
temos que salvá-la!
- Dou minha palavra, Madame, Christine vai para casa ainda hoje. Ainda
hoje ela dormirá em sua cama. – Seu olhar tinha confiança e amor.
Eu estava tão magra que o vestido ficou enorme. Arrastava no chão, junto
com as correntes que me prendiam. O peso delas fazia com que eu me arrastasse.
Eu era um espectro do que fora um dia. Meus cabelos estavam imundos e não
tinham mais o brilho. As marcas por meu corpo colocavam dúvidas sobre onde
doía mais. Era tudo tão surreal que eu nem mesmo conseguia mais me lembrar
de como minha vida era antes da prisão. Queria somente que tudo acabasse e que
deixassem Raoul e nosso filho em paz. Eles seguiriam sem a mancha de uma
cortesã na vida deles. Com o tempo eu seria esquecida até mesmo por eles e eles
conseguiriam ter uma vida normal. A ideia de ser enforcada já não era mais tão
assustadora.
Madame Toulouse penteou meu cabelo e limpou meu rosto, para que eu
ficasse mais apresentável.
Fitei uma última vez Raoul e Madame Toulouse e fiz uma oração para que
tudo acabasse rapidamente.
Capítulo 11
O julgamento começou.
O Rei pediu que eu me aproximasse e que narrasse os acontecimentos:
- Vossa Majestade, não posso lhe dizer o que aconteceu. Eu juro que não sei
quem foi o traidor. O que posso lhe dizer com toda certeza é que o Duque nada
tem a ver com isso. Ele é um homem bom, honesto e jamais trairia sua
confiança. Sou culpada por hoje ele estar sob os olhares de todos e por
acreditarem que ele pode tê-lo traído, pois o amo. – todos os presentes ficaram
estupefatos. – Mas acredite, conheço o Duque de Devon, melhor do que muitos
aqui, e posso afirmar que ele é um homem íntegro e nunca trairia sua coroa em
troca de dinheiro ou o que quer que possam ter oferecido. Sou culpada por amá-
lo tanto que não pensei duas vezes em colocar-me em seu lugar para ir para a
forca, pois vocês enforcariam um inocente. Sou culpada por não ter tido muitas
escolhas em minha vida e acabar como uma cortesã que serve a muitos dos
homens aqui presentes. Sou culpada por permitir que terceiros decidissem sobre
minha vida e não ter lutado pelo amor que senti desde a primeira vez que vi o
Duque de Devon, há 10 anos atrás. Sou culpada por não ter coragem nem
maturidade para viver ao seu lado, por talvez não tê-lo amado como ele merecia.
Sou culpada por ter acreditado em mentiras ao invés de confiar no amor que
sempre senti por ele. Sou culpada por deseja-lo mais do que a própria vida, por
sonhar em ter suas mãos me tocando novamente. Sou culpada por sonhar com
seus beijos, com seu toque, com seu amor. Sou culpada por ter esperança de um
dia ainda ser feliz ao lado dele, pois eu só seria realmente feliz assim. Por tudo
isso, sou culpada. Mas não por trair a coroa. Nem eu, nem Raoul. Não tenho
mais medo. Sei que posso ser enforcada injustamente. Mas seria mais injusto
enforcar um homem tão inocente quanto ele. Eu não sou nada, Vossa Majestade.
Só uma mulher que se deitou com homens para poder sobreviver, para dar uma
vida melhor a meu filho. O Duque de Devon é muito importante para a coroa.
Graças a ele, nosso reino prospera. Graças a ele, eu vivo. Raoul, eu amei você
desde o primeiro dia e vou te amar para sempre! Se tenho algum
arrependimento, é o de não poder tê-lo em meus braços novamente, de não poder
tocá-lo, de não poder estar ao seu lado, sentindo seu calor, seu corpo, sua
respiração e seu toque. Eu só me arrependo de não ter enfrentado o mundo para
poder estar com você! – Raoul me olhava desesperado. Ele queria acabar logo
com aquilo e queria que tudo saísse como planejado. Evitava olhar para mim
para não causar ainda mais estrago, mas quando me ouviu, pude contemplar seus
olhos se encherem de lágrimas e seu sorriso.
Deram a palavra a Raoul que, aproximando-se do Rei, dizia para que todos
ouvissem:
- Vossa Majestade, fomos todos enganados por uma pessoa que fez tudo isso
por não conseguir ter as coisas que Christine teve. Uma pessoa que não poderia
sequer chegar aos pés de Christine e, por pura inveja, ciúme e maldade, pôs em
andamento um plano para derrubá-la, sem pensar nas consequências de seus
atos. Peço sua misericórdia para trazer uma testemunha importante no caso.
Assim como essa testemunha vai provar que o voto de confiança dado a mim
para desvendar o mistério foi merecido, também trará a verdade sobre a mulher
que amei por toda a minha vida e a inocentará! – Houve uma grande comoção
depois de Raoul confessar que amava uma prostituta condenada. Ele mostrava
orgulho do que tinha dito e desafiava com o olhar a todos que estavam presentes.
- Silêncio! Vossa Graça pode chamar sua testemunha – disse o Rei,
aguardando que Raoul continuasse.
O Príncipe dos Ciganos entrou no recinto com sua altivez e beleza. Todos
suspiraram e o Rei permaneceu impassível.
- Vossa Graça está brincando? Espera que eu ouça o que um Cigano tem a
dizer?
- Silêncio! Vou permitir este Circo, Vossa Graça, por conhece-lo e saber de
sua idoneidade. Mas fique claro que não vou simplesmente acreditar na palavra
de um cigano só porque acreditou. Se ele trouxe o culpado, que o apresente, caso
contrário, todos irão para a forca junto com a Meretriz.
- Vossa Majestade, o verdadeiro nome dela é Sabrina. Ela vai lhes contar
tudo – disse Raoul, que não se dignou a olhar para ela, tamanho seu ódio.
- Culpada? Culpada por quê? Por estar cercada por homens patéticos, que
não conseguem segurar as calças? – O público se exaltou novamente. Raoul
prosseguiu. Ele salivava, queria a cabeça dela numa bandeja.
- A Senhora deve se dirigir ao Rei como Sua Majestade! Ele fez por merecer!
- Ah, fez, Raoul? Tudo o que ele sabe fazer é trepar e trazer joias caríssimas
para essa vagabunda! Quem se preocupa com o Reino? “Vossa Majestade”? Não
me faça rir!
- E você vai se dirigir a mim como “Vossa Graça”. Eu sei que fiz por
merecer! O que acha de nosso reino ou da dama que foi acusada injustamente
não me interessa! Quero que conte tudo o que fez para chegar até aqui. Todos
estão ansiosos para saber qual o seu objetivo. Sei que eu estou.
- Dama? Pois bem, “Vossa Graça” - ela respondeu com ironia – Vamos lá,
por onde eu começo? Ah, já sei, vamos falar da vagabunda! – Raoul deu um
passo em direção a Sabrina, mas Nikolai o segurou, balançando a cabeça.
- Ha ha ha, devo tomar cuidado com o que falo, caso contrário, vou para a
forca. Se não falo, vou para a forca também. Você são patéticos, fracos e só
pensam em estar no meio das pernas dessa mulher! Achou que fui sem graça,
Majestade? Talvez se houvesse fogo em suas calças meu desempenho fosse
melhor! Enfim, não importa. Continuando, o Duque foi trabalhar nas docas de
nossa cidade e ela imediatamente se jogou para cima dele como uma cobra dá o
bote em um rato! E o idiota caiu como um patinho! Eu tentava conversar com
ele, mas era como falar com um doente mental! Ele só sabia falar dela, só queria
saber da vida dela, coisas sobre ela. Na noite em que finalmente conseguiu beijá-
la, acreditam que ele me disse que ia pedi-la em casamento? – Fiquei pálida e
olhei para Raoul. Ele fitava o chão, como se lembrando de tudo o que ela dizia.
Não estava triste ou envergonhado. Parecia resignado com o que ouvia. Ela
continuou:
- Quando ela me contou que se encontravam numa gruta, não foi difícil
segui-los para descobrir o que faziam lá. Na noite em que ela abriu as pernas
para ele, assisti a tudo! Devia ser eu! Eu deveria estar lá, eu deveria ter sido
deflorada! Mas o idiota só queria ela! Cheguei a propor que tivesse as duas!
Sabem o que ele me disse? Que só tinha uma mulher para ele e eu não era essa
mulher! Um tolo! Tinha que ser implacável, então contei para a tia da meretriz o
que ela andava fazendo quando sumia com o Duque! Fui tão perfeita que,
enquanto contava tudo para a tia ambiciosa, ela apareceu, com cara de tola, pois
tinha acabado de ser penetrada por ele! O cheiro dele ainda estava nela! Eu
queria matá-la, mas deixei que sua tia se encarregasse de acabar com sua vida!
Mas a tia era tão imprestável quanto ela e tentou manda-la para um convento. A
tia era tão incompetente como todos os que tive que subornar, seduzir e me
deitar para chegar a nobreza! No fim, ela acabou fugindo. Não pude acreditar em
minha sorte! Ela morreria de fome ou de frio e eu teria o Duque! Até que esse
animalzinho a encontrou e cuidou dela! – Nikolai riu irônico. – enquanto bolava
um plano para destruí-la, casei-me com um Barão imprestável, armei toda a
coisa para que minha honra fosse manchada e ele fosse obrigado a casar comigo,
mas o imbecil estava falido e eu precisava me livrar dele, já tinha conseguido o
título. Então inventei a história de ir para França. Sabia que o Duque estava lá e
poderia me reaproximar, além de tentar conseguir algum dinheiro para salvar o
baronato do imprestável do meu marido! Ele foi até a França atrás dela! Ele
revirou o país inteiro atrás da meretriz enquanto ela se deitava com todo mundo!
Enquanto o ciganinho a tratava como rainha! E ela ainda teve um filho! O
diabinho é a cara do pai! Quando o cigano resolveu ir para Grécia, vi minha
nova oportunidade: ou ela morria ou eu morreria tentando. Parti da França com o
dinheiro que consegui e sem o Duque. Meu orgulho já estava ferido, mas eu não
ia deixar de me vingar. Fiquei surpresa quando descobri que ela não tinha ido
para a Grécia com o Cigano e resolvi voltar para Londres e me reaproximei do
Duque. Anos se passaram até ele voltar da guerra e eu conseguir voltar ao
convívio dele. Sabia que tinha que ser paciente, que deveria consolá-lo enquanto
me aproximava cada vez mais e tentaria seduzi-lo aos poucos, até que essa
mulherzinha fosse apenas uma lembrança distante na cabeça dele. Estava indo
tudo bem, o Barão havia morrido e me deixado cheia de dívidas que acabei
pagando parte delas com o dinheiro que consegui na França, despistando o
restante dos credores. O Duque não falava mais nela, ainda via tristeza em seus
olhos, mas comecei a ter esperanças no dia em que ele seria meu. Mas quando
ele me beijou e me chamou de Christine... – Eu olhei para Raoul, não acreditava
que ele a tinha beijado. Ele continuava a olhar para o chão. Fiquei enfurecida!
Ela seguiu com sua história:
- Achei que fosse um sinal divino ter descoberto a passagem secreta que
dava no quarto do Rei. Era uma tortura ter que ficar ouvindo seus gemidos
fingidos enquanto o Monarca montava nela, mas descobri que ela era sua
confidente também! Não demorou muito para ouvir informações valiosíssimas e
foi então que arquitetei o plano para incriminar os dois pombinhos e ficar rica!
Abandonei o plano de fazer o Duque descobrir o bastardo e comecei a passar as
informações para o francês. Depois que estivesse rica e fora de Londres, faria
com que ele descobrisse e minha vingança estaria completa. Ele nunca a
perdoaria por esconder o bastardo e eu estaria rica, esperando que ele finalmente
ficaria comigo. Mas ela contou tudo a ele e ele aceitou! A perdoou e continuou
frequentando sua casa! Tive que me contentar com a acusação de traição que
recaiu sobre os dois! Nunca me senti tão feliz quando soube da surra que o
Duque levou na prisão e de como se desesperou quando a idiota se incriminou
para livrá-lo! Recebi muito dinheiro e fui para a Escócia para aproveitar minha
fortuna. Só não contava que encontraria com o Ciganinho. Ele ficou bem
quietinho quando me descobriu morando em um castelo na Escócia, mas tem
muitos amigos influentes, o Ciganinho. Quando voltou e me trouxe arrastada de
volta, sabia que alguma coisa estava errada. A grande fortuna que ganhei do
Monarca francês se esvaiu mais rápido o que pensei, pois o Ciganinho disse ao
restante dos credores de meu marido onde eu estava. Maldito! Estava novamente
falida, não tinha mais marido, não consegui conquistar o Duque e a vagabunda
estava como queria, com o filho, todos os homens a seus pés e o Duque de volta.
Como podem ver, não tenho nada a perder. Então, por que não expor a vida
devassa do Duque, do Rei e, de quebra, desmoralizar todos os homens desta
corte para que essa vagabunda não tenha mais clientes? Vocês me dão nojo! Se
deixam levar pela luxúria e se deitam com qualquer uma. Mas não são capazes
de valorizar uma mulher decente que os ame!
O falatório começou novamente e Sabrina tentava gritar por cima das vozes,
mas já não era mais ouvida.
- Cale-se, mulher! Você será enforcada no raiar do dia de amanhã, por crimes
e ofensas contra a coroa e por injúria a um nobre! Guardas, levem-na!
- Eu disse que você podia contar comigo, “Prama”. Para qualquer coisa.
- Quando vocês foram presos, Raoul solicitou uma reunião ao Rei. Por todo
o seu trabalho como General, os guardas levaram sua mensagem ao Rei, que lhe
concedeu a reunião. Obviamente o Monarca relutava em acusar um servo tão
leal. Não foi a toa que Raoul recebeu o título e tornou-se General. Disse que
tinha uma história para contar e que o Rei deveria dizer como a história acabaria:
se os dois amantes morreriam ou viveriam felizes para sempre. Contou toda a
história de vocês ao Rei, sem esconder sequer um detalhe. Professou seu amor
por você e pediu que ele lhe desse um voto de confiança e permitisse que ele
investigasse o caso. Jurou que, se não encontrasse o culpado, o Monarca poderia
mata-lo pessoalmente e o Rei aceitou. Ele então procurou a única pessoa que
poderia ajudá-lo...
- Gostaria de pensar que fui a primeira opção, “Prama”. Mas não foi ele
quem me procurou. – Olhei para Nikolai confusa. Estava fraca, os dias na prisão
não me permitiam raciocinar direito. Não consegui matar a charada.
- Oh, meu Deus! Madame Toulouse! Como ela está? Preciso vê-la! Preciso
ver Yago, preciso ter certeza de que ele está bem!
- Acalme-se, “Prama”. Yago está com ela, estão lhe aguardando em sua casa!
- Minha menina está fraca, precisa se alimentar. Está tão magra, minha
menina! – Ela sentou-se ao meu lado na cama e começou a servir o chá. – Coma,
meu amor, precisa ficar forte! – seus olhos mostravam toda sua preocupação. Ela
cuidou de mim como uma verdadeira mãe. Ela sempre cuidou de mim. Madame
Toulouse era a personificação da bondade, sua benevolência não conhecia
limites. Toquei sua mão, com a voz embargada.
- Madame, nunca agradeci por tudo o que fez. Jamais serei capaz de retribuir
seu amor e o de Nikolai.
- Minha menina, você já retribuiu! Eu já lhe disse que você é a filha que
sempre sonhei. Yago... – seus olhos se encheram de lágrimas, sua voz, embargou
– ouvi-lo me chamando de vovó é a coisa mais maravilhosa que já senti em
minha vida!
- Vejo que as coisas voltaram a ser como eram. Já posso partir tranquilo. –
Nós duas olhamos para Nikolai, que se espreguiçava como um animal selvagem.
- Ah, Príncipe dos Gatos! É sempre uma tristeza vê-lo partir. Preferiria vê-lo
nu em minha cama novamente! – Madame Toulouse era uma devassa quando se
tratava de Nikolai.
- Ah, minha criança, quem resiste a esse homem encantador? Ou você acha
que ele me pagou? – Sorri. Entendia perfeitamente o que ela queria dizer.
Nikolai deu seu sorriso mais sedutor, beijou a minha mão e se despediu :
Beijei sua mão e agradeci ao Príncipe dos Ciganos por ser o homem mais
íntegro, sábio e sedutor que conheci! Da mesma forma que ele chegou, partiu.
Capítulo 12
Alguns dias depois, recebi a visita de Raoul. Ele chegou com flores e sentou-se
na cadeira ao lado de minha cama. Eu não sabia dizer se estava feliz ou não com
sua visita. Além da mágoa sobre tudo o que foi revelado no julgamento, ainda
não entendia porque ele demorou tanto para vir. Já estava em casa há dias e ele
não apareceu.
- Estou me recuperando.
- Não saberia dizer se é raiva. Talvez mágoa. Ultimamente não sei dizer o
que sinto. Tudo o que aconteceu me deixou entorpecida. Parece que minha vida
de antes nunca existiu. Sou outra pessoa agora.
- Não sei. O problema não foi saber que você beijou Sabrina e tornou-se um
libertino. O problema foi ser julgada por ter me tornado uma cortesã. Você me
disse que não se deitava com prostitutas, mas acabou se deitando com qualquer
uma.
- Sim. Deite-me com qualquer uma e não foram poucas. Sim, tornei-me um
libertino e praticamente fui expulso da França quando levei a mulher de um
Conde e de um Marques, as duas juntas, para minha cama. Era um devasso, não
tinha pudores e não me preocupava com as mulheres que estavam em minha
cama. Para mim, elas eram apenas um pedaço de carne, descartável. Eu dormia
com elas e depois sumia. Nunca me deitei com a mesma mulher duas vezes.
Nunca as chamava pelo nome, sempre pensava no seu. Eu tinha um desejo
ardendo dentro de mim e não podia aliviá-lo, você não estava lá para me trazer
paz. Eu buscava aquilo que não tinha em todas as mulheres, Pequena. E, quando
não encontrava, descartava a todas como um chapéu velho. Eu não conseguia me
desligar de você, não conseguia esquecê-la. Eu sinto muito. Sinto por você e por
elas. Tornei-me um monstro e perdi a mulher da minha vida por acreditar
naquela maldita. Eu não sei o que posso lhe dizer, senão que sinto muito.
- O que vamos fazer? – seus olhos eram uma súplica. Ele queria que eu
decidisse nosso futuro?
- Eu não posso lhe dar essa resposta, Vossa Graça. Eu preciso me recompor,
para poder pensar claramente. Gostaria de dizer que não me importo com o seu
passado, há algum tempo atrás isso seria verdade, mas depois de ter sido tão
julgada, se dissesse que não me importo com o seu passado estaria mentindo.
Você foi tão implacável com o meu...
- E você aceitou minhas críticas e julgamentos com graça e nunca me
machucou de volta. Uma pessoa muito sábia me disse que eu não devia
machucá-la só porque fui machucado. Devia tê-la ouvido. – ele levantou-se,
beijou minha mão e foi embora.
****************************************
- Vocês se amam e tem um filho para criar! Está na hora de começar do zero,
esquecer o passado e viver essa linda história de amor! Será que a vida não lhe
ensinou nada?
Eu queria viver a minha história de amor, queria muito. Mas meu orgulho
estava tão ferido que eu não conseguia ter discernimento e tomar uma decisão.
Quinze dias depois da visita de Raoul, recebi outra visita inesperada. Estava
prestes a ficar louca de saudades, pois não tive mais notícias do Duque. Yago me
contava tudo o que tinham feito, mas, sempre que tentava descobrir se ele sentia
minha falta, Yago dizia que ele sequer mencionara meu nome. E aquilo me
machucava, embora eu soubesse que tinha o impelido. Eu não queria dar o braço
a torcer e queria que ele tentasse, que ele me procurasse, que ele insistisse.
Fiquei decepcionada com esse comportamento e a mágoa só aumentou. Mas meu
visitante me trouxe um pouco de esperança:
- Querida, não tem que se torturar assim. Você sabe que ele a ama. Por que
não o procura?
- Depois de tudo o que aconteceu, não acho que ele me queira. Acredito que
tudo foi tão desgastante que ele está cansado ou desistiu. Como foi dito, ele é um
libertino. Pode ter a mulher que quiser, por que insistiria em uma cortesã que
escondeu o filho por 10 anos e o fez sofrer tanto?
- Porque o coração não escolhe quem vamos amar, sua tola! Raoul está
acabado. Ele passa os dias dormindo, as tarde com o filho e as noites bebendo.
Quando me procurou, há cerca de 10 dias atrás, entregou seu cargo no regimento
e o título. Disse que sua família sempre gostou muito de viajar e que era isso que
ele faria: se perderia no mundo. Talvez fosse encontrar com o irmão, que vive
em Creta com a esposa. Só ficaria aqui até que o filho fosse para Eton e partiria.
Ele estava desgrenhado, com a barba mal feita e estava bêbado. Claro que não
dei ouvidos a ele, disse que concordava com tudo, embora o cargo e o título
ainda sejam dele, e pedi que meus guardas o seguissem.
- E o que aconteceu?
- Ele foi para uma taberna, bebeu mais ainda, arranjou uma briga, socou dois
homens por acreditar que eram seus antigos clientes, esfaqueou outro e voltou
para casa carregado pelos guardas. Dormiu no hall de entrada. – o Rei ria da
situação, mas eu estava me sentindo a pior das pessoas.
- Vossa Majestade, ele passa daqui quase todo dia para ver Yago. Nunca mais
mencionou meu nome.
- Pelo que ele me contou, você disse a ele que estava magoada. Ele se
afastou para que você conseguisse curar suas feridas. Sabe, querida, apesar de
nosso relacionamento ser estritamente profissional, me afeiçoei a você. Você
sempre foi inteligente, espirituosa e, claro, muito talentosa na cama. Mas não era
só isso. Sempre a vi como uma criatura frágil, que criou essa armadura que a
transformava num furacão! Mas por trás da armadura, a menina frágil e perdida
continuava lá. Eu podia ver isso em seus olhos. Tornamo-nos amigos, não é? –
Assenti. Era verdade. – Pois bem, lembro-me de um dia em que conversamos
sobre sua vida e me disse que confidenciaria um segredo: Nenhum homem tinha
sua alma, somente seu corpo. Confesso que me senti menos homem aquele dia,
tinha certeza que você se deitaria comigo mesmo que eu não pagasse! Entendi
que você não poderia entregar sua alma, com a vida que você levava e isso me
entristeceu. Seu olhar estava morto. Mas isso mudou. E eu percebi que foi
quando Raoul voltou a sua vida. Percebi tarde demais, devo acrescentar, mas
percebi, porque vi o mesmo em Raoul. Ele tem 33 anos e nunca se envolveu com
nenhuma mulher. Não lhe parece estranho? Nenhuma amante sequer. De repente,
ele estava sorrindo, com um brilho nos olhos que só se vê em idiotas
apaixonados. Raoul é um idiota. E você também, se não for atrás dele.
Quando o Rei partiu, passei a tarde pensando em tudo que ele havia me
contado. Madame Toulouse entrou no quarto com a bandeja de chá.
- Ah, minha menina, confesso que adoro vê-la assim, tão dependente de
mim! Sinto-me útil e uma mãe muito cuidadosa! – Eu sorri
- Não consigo acreditar que você já foi a maior cortesã da Inglaterra! É mole
como manteiga! – adorava provoca-la. Ela me deu um tapa na mão e riu.
- Menina mal criada! Quem a ouve pensa que não lhe dei educação! – Nós
duas gargalhamos. Ela era realmente minha mãe!
- Sim.
- O Duque fez questão de estar a frente dela. Antes que o carrasco puxasse a
alavanca, ele gritou que a encontraria no inferno para continua-la odiando.
Soltei a respiração que nem percebia que tinha segurado. A raiva que Raoul
guardava dentro de si era enorme. Era um fardo muito grande. Permaneci em
silêncio. Madame continuou:
- Eu assisti a tudo ao seu lado. Quando ela finalmente encontrou a morte, ele
segurou minha mão e disse que estava tudo acabado, que você poderia viver em
paz. Em nenhum momento ele se preocupou consigo. Ele só pensava em você.
Até quando vai tortura-lo?
- Eu não estou o torturando! Eu só não sou forte como acreditei que seria...
Eu não sabia nem o que pensar. Ainda que conseguisse passar por cima de
tudo aquilo, ainda existia o fato de eu ter sido cortesã e me deitado com todos os
homens que faziam parte de seu círculo de contatos. O que aconteceria quando
Raoul se deparasse comigo conversando com algum deles? Ou se algum deles
faltasse com respeito a mim? Eu tinha que pensar nisso tudo e, com o título de
Duque, Raoul também. Ele não podia manchar sua reputação por minha causa.
Eu já estava maculada. Ele tinha o respeito de todos, do Rei, inclusive. Como
poderia viver com uma mancha como eu em sua vida? Aquilo me corroía e me
fazia ter medo de encontrar Raoul, então eu fugia, sempre trancada em meu
quarto. Quando não estava pensando em Raoul, estava com Yago, aproveitando
seus últimos dias antes de Eton.
- Eu tenho certeza que sim! Eu também vou. Vovó e Papa também, tenha
certeza! – acariciei sua cabeleira escura e beijei sua cabeça.
- Papai disse que serei um cavalheiro quando sair de lá e que devo cuidar de
você. Eu perguntei por que ele não cuidava e ele disse que sempre vai cuidar de
nós dois. Mas primeiro mamãe precisava se curar. Você está doente, mamãe?
- Não, meu amor, não estou doente. Papai quis dizer que mamãe precisa
resolver muitas coisas.
Eu ri. Essa frase saía da boca de Raoul o tempo todo. E era verdade, ele
nunca quebrava suas promessas. Quando disse que estava magoada, ele
respeitou. Ele me prometeu, há dez anos atrás que eu imporia os limites e ele
respeitaria. Ele estava respeitando agora, não quebraria sua promessa. Meus
olhos se encheram de lágrimas.
- Pois vá AGORA buscar a preceptora e faça todas as suas lições! Logo você
estará em Eton! – eu dei um tapa em seu traseiro, sorrindo – Menino travesso!
Quando Yago correu gritando em direção a seu quarto, tomei uma decisão.
Eu prometi que sempre o amaria e não quebraria minha promessa!
Capítulo 13
Vesti meu melhor vestido, me maquiei, arrumei meus cabelos sai do quarto em
busca de Madame Toulouse.
- Preciso de um favor. Vou resolver uma questão de uma vez por todas e
preciso que cuide do Yago para mim.
- Vá, minha menina, e não volte sem o Duque! Ela me beijou a testa e eu saí
correndo. Sabia que ele estaria na Câmara dos Lordes, então me dirigi a sua casa
e fiquei esperando. O arrependimento bateu quando vi as horas passando e a
ansiedade começou a me dominar. Já estava quase desistindo, insegura, quando
ele chegou.
- Pequena, por que não disse que viria? Acabo de sair de sua casa. Fui buscar
Yago, mas quando Madame Toulouse me disse que você estava aqui, achei
melhor adiar nosso passeio de hoje e checar o que está acontecendo. Está tudo
bem? – ele tocou meus ombros e senti um choque percorrer todo meu corpo.
- Não! Eu preciso falar... por favor, me perdoe! Perdoe-me por não ter sido
forte, por não ter enfrentado minha tia e lutado por nós. Perdoe-me por acreditar
em Sabrina. Perdoe-me por não lhe contar sobre Yago. Perdoe-me por lhe julgar
por seu passado tão duramente! Por favor, Vossa Graça. Tenha misericórdia, fiz
tudo isso por mágoa, por medo, por ser estúpida e não pensar em nada além de
nosso filho.
- Pequena...
- Por favor, entenda que nunca deixei de amá-lo! Eu jamais teria ido embora
e nunca, nunca trocaria você por um Conde, Duque, nem mesmo pelo Rei! Você
sempre foi meu único amor! Perdoe-me! – Eu segurava seus braços com tanta
força que os nós de meus dedos já estavam brancos. Aquilo devia estar doendo,
então afrouxei um pouco. Ele suspirou.
- Pequena...
O alívio foi tomando conta do meu corpo e eu relaxei um pouco. Isso me deu
coragem. Eu precisa colocar tudo em pratos limpos, não podia existir mais nada
entre nós.
- Falando em Sabrina... – eu tinha medo de estragar tudo, mas foi mais forte
do que eu.
- Eu juro, Pequena! Lembro de ter acordado no dia seguinte com uma dor de
cabeça lancinante e a marca do tapa no rosto. Quando lembrei do acontecido,
agradeci aos céus por não ter condições de me “levantar”, se é que me entende.
Provavelmente eu a possuiria achando que era você. E teria adorado cada
segundo. Pois cada segundo com você sempre foi maravilhoso. Minha vez. Você
deitou-se com Nikolai? – Gelei. Se não havia acontecido ainda, chegara o
momento em que eu estragaria tudo. A verdade é sempre a melhor saída.
Respirei fundo:
- Sim. Antes que ele partisse para a Grécia. Sempre o considerei meu
primeiro cliente. Não pude negar-lhe depois de tudo que ele havia feito por mim.
Pode me perdoar por isso também?
- Não seja bobo, eu só quero você! Eu também precisava saber, por isso
perguntei da Sabrina. Gostaria de saber um pouco mais... – eu disse, me
afastando dele lentamente, sem soltar suas mãos.
E aquele olhar predador que me encantou há dez anos voltou com força total.
Raoul começou a se aproximar, enquanto eu dava passos para trás.
- Ah, posso chama-lo por seu nome? Não devo dirigir-se ao poderoso Duque
de Devon por “Vossa Graça”? – fiz uma mesura debochada. Quando tentei me
virar para correr, Raoul agarrou minha cintura e me virou para ele. Eu ria e me
debatia tentando fugir.
- A menos que você não queria... sempre respeitei seus limites, Pequena. Mas
o Rei emitiu uma licença para meu casamento há 15 dias...
- Você... você pediu uma licença para se casar comigo... mesmo não sabendo
se nos entenderíamos?
- Pequena, eu nunca desistiria de você. Eu lhe dei espaço para que pudesse
pensar calmamente e descobrir por si própria que não existia a menor
possibilidade de não ficarmos juntos! – ele encostou sua testa na minha - eu amo
você. Amo há 10 anos! – fechei os olhos e sorri
Ele agarrou minha cabeça e beijou-me com desespero e desejo. Sua língua
invadiu minha boca e toquei seu peito, arranhando sua pele por cima da camisa.
Ele levantou minhas saias e me ergueu, fazendo agarra-lo com as coxas pela
cintura. Foi subindo a escadaria até seu quarto, sem deixar de me beijar.
- Eu vou amar cada pedacinho do seu corpo, Pequena, e vou te fazer gozar de
várias maneiras diferentes. Você vai gozar na minha mão, na minha boca, no
meu membro, quantas vezes quiser. E quando não puder mais aguentar, eu vou
continuar te amando, até que não tenha forças para levantar dessa cama! Está me
entendendo?
Ele dizia tudo isso massageando meu clitóris. Eu já estava mais do que
pronta. Assenti, mordendo seu lábio.
- Ah, você está encharcada, meu amor! Você está pronta pra mim! Mas eu
ainda vou me divertir muito antes de dar o que você quer.
Ele me deitou na cama e começou a me despir. Como há dez anos atrás, tirou
meus sapatos e começou a beijar meus pés e minhas pernas.
- Eu nunca esqueci seu cheiro. Ele me deixa louco! - Ele lambia minhas
coxas, enquanto soltava as ligas. Quando todas as fitas e colchetes estavam
livres, ele puxou o vestido com tudo, me deixando nua em sua cama.
Aproximou-se, deitando no meio de minhas pernas.
- Agora, não me recordo muito bem do seu sabor... se me permite, tenho que
relembrar... abra as pernas para mim, meu amor. E não deixe de me olhar. – a
mesma coisa que ele havia me pedido há 10 anos atrás. Ele queria me
enlouquecer.
Ele desceu por meu corpo, deixando uma trilha de beijos, desde o pescoço
até o ventre. Quando tocou meu clitóris com a língua, não conseguia entender
como ainda não tinha atingido o orgasmo. Eu estava desesperada por ele e cada
toque seu era uma tortura. E ele foi impiedoso. Sua língua me acariciava,
incansável, e eu me agarrei a seus cabelos e gemi alto.
Aquilo foi o suficiente. Ouvi-lo dizer que me faria gozar inúmeras vezes em
francês me levou ao limite e eu atingi meu primeiro orgasmo em sua boca. Não
conseguia parar os espasmos e gritei, enlouquecida. Raoul sorria, ainda me
massageando, mas agora, com a mão.
- Eu disse que não quebro minhas promessas. Na boca já foi, vamos ver
como me saio com a mão... – eu ri descontroladamente
- Só de pensar em como devo penetrar esse corpo já fico louco... devo tê-la
de quatro? Montada em mim? Devo estoca-la contra a parede? Devo fazê-la
cavalgar sentado na cadeira? Não consigo pensar em que maneira devo possuí-la
primeiro...
- Chega, “Vossa Graça”, agora quem manda aqui sou eu! – eu o empurrei, na
tentativa de fazê-lo cair de costas na cama para montá-lo.
- Ah, mas não mesmo! – Ele agarrou minhas nádegas e me jogou na cama,
segurando meus pulsos acima da cabeça. Gemi. Ele percebeu que senti dor e
parou. Olhou para meus pulsos e viu as marcas. Seu olhar entristeceu
imediatamente.
- Se você não continuar o que estava fazendo, vai sentir mesmo! – agarrei-o
pelos cabelos e o beijei violentamente. Ele quase tocou meus pulsos de novo,
mas só entrelaçou seus dedos aos meus, segurando minha mãos acima da minha
cabeça. Intensifiquei ainda mais o beijo, movimentando meu quadril em direção
a seu membro, que parecia que ia explodir, de tão ereto.
Ele me penetrou de uma só vez. Devia estar se controlando tanto que apertou
ainda mais meus dedos.
- Eu devo lhe dizer que já faz algum tempo, Pequena, não sei quanto ainda
vou aguentar...
Ele começou a se mover lentamente. Eu não queria que ele saísse dali nunca.
Encarei aqueles olhos verdes e não desgrudamos mais nossos olhares.
- Eu amo você. Eu quero me casar com você. Eu quero mais filhos com você.
Eu quero envelhecer com você. Sempre foi você, Raoul. Sempre.
- Ah, meu Deus! Nunca foi assim, foi? Aquela noite, a gente se amou tantas
vezes, nunca foi tão... tão...
- Eu ia dizer Divino, mas maravilhoso também pode ser usado para descrever
o que acabamos de fazer! – ele passou as mãos nos cabelos e levantou-se da
cama.
- Onde você vai? – apreciar aquele traseiro desfilando também não era nada
mal...
- Vou buscar uma toalha, estou banhado em suor! Não se preocupe, Pequena,
eu ainda não acabei com você!
- Eu gostava mais quando a toalha não estava aí... – ele deu um de seus
sorrisos mais sedutores, deixando a toalha cair displicentemente.
Estava tão entorpecida com tudo que havíamos acabado de fazer que me
esqueci completamente que estava nua. Quando passei por Raoul, ele viu minhas
costas e empalideceu. Voltei-me para ele e lembrei das cicatrizes. Tentei me
esconder, virando para ele e cruzando os braços, mas ele segurou meus pulsos.
Seus olhos tornaram-se sérios.
- Já lhe disse para não fazer isso. – ele abriu meus braços, apreciando minha
nudez.
- Deixe-me ver.
- Raoul...
- Pequena, deixe-me ver o que fizeram com você. – Eu me virei e ele tocou
as marcas. Ouvi seu suspiro.
- Eu lhe prometo que vou descobrir quais foram os guardas que fizeram isso
e eles serão punidos. Vou puni-los pessoalmente.
- Raoul, por favor. Vamos deixar o passado para trás. Esqueça isso. – Ele
suspirou novamente, frustrado. Percebendo que era um assunto que me
incomodava e sabendo que não me convenceria a mudar de ideia, ele beijou
todas as cicatrizes e meus pulsos antes de me colocar na banheira com pétalas de
rosa e água morna.
- Agora que está relaxada, deixe-me mostrar o que posso fazer embaixo d
´água...
Quando voltamos para cama, ele queria fazer planos. Mas eu ainda tinha
muitas dúvidas, não podia e não queria macular seu nome. Queria passar o resto
de minha vida com Raoul, mas não queria que ele abrisse mão de nada.
- Meu amor, esquece-se que eu conheço o Rei? Ele não lhe contrariou por
você estar bêbado, mas ele não aceitou. O título e o cargo ainda são seus. Não
me perdoaria se abrisse mão de tudo por mim.
- Por nós, meu amor. Estou abrindo mão de tudo por nós. O Rei vai ter que
aceitar. – Ele beijou minha testa e sorriu. Virei-me para ele, me apoiando em um
cotovelo.
- Bom, acontece que eu também não aceito. Vamos morar em uma de suas
propriedades no campo. Você mantém o título e o cargo e quando o Rei precisar
de você, é só lhe chamar. O que acha?
- Me parece uma boa ideia. Mas não sei se vou conseguir manter meu cargo.
Não suportaria voltar para Londres deixando você e Yago no campo... vou
conversar com o Rei.
Na manhã seguinte, Raoul levantou-se cedo. Fez a barba, colocou sua farda
de gala e se dirigiu ao Palácio. Voltou à tarde, levemente alterado:
- Acredito que Vossa Majestade deve gostar muito de você. De mim. De nós!
– Sua fala embotada era difícil de decifrar.
- Raoul... está bêbado? – Ele fez um sinal, como se medisse algo entre o
polegar e o dedo indicador.
- Só um pouquinho... estou, sim. Mas não pude evitar, meu amor. Afinal, o
Soberano ficou tão feliz em saber que vamos nos casar e morar no campo, que
não pude deixar de comemorar com ele! Mantive meu título e agora sou um
oficial reformado! Fique tranquila, só bebemos duas garrafas de whisky!
Abri um sorriso e o abracei. Enquanto o tinha em meus braços, fiz uma prece
agradecendo tudo o que vinha acontecendo em minha vida. Meu General
desajuizado estava bêbado. Eu também. Embriagada de felicidade, amor, desejo.
Esses afrodisíacos me faziam querer mais e mais dele.
- Vamos, meu bravo soldado, vamos lhe dar um banho e acabar com essa
bebedeira. Não quer que seu filho lhe veja assim, hum?
- Meu filho... você... eu sou o homem mais feliz do mundo! – ele levantou os
braços e perdeu o equilíbrio. Não pude deixar de rir. – Vai me acompanhar no
banho?
- Minha menina vai casar! E com um Duque! É demais para meu pobre
coraçãozinho!
Troquei um olhar cúmplice com Nikolai. Nossa grande amiga era a rainha do
drama!
- Vamos? Raoul deve estar desesperado, achando que você fugiu novamente!
Está atrasada, “Prama”!
- Vamos. Espere! Chequei o espelho uma última vez, borrifei meu perfume e
voltei a Nikolai.
- Que vocês vivam o que deveriam ter vivido há 10 anos. Que você olhe
“Prama” como a luz de sua vida e que ela sempre o veja com os olhos do amor.
“Prama”, cuide de “Sinto” como a coisa mais preciosa que possui. E amem.
Amem muito, tragam muitas crianças para este mundo! – Ao som de nossas
risadas, tocamos as taças e bebemos. Raoul sussurrou em meu ouvido:
Nikolai partiu no mesmo dia, mas não sem antes passar pela casa de uma
preceptora que estava muito triste por seu pupilo partir para Eton. A preceptora
precisaria de um ombro forte e sensual para poder chorar a saudade do rapazinho
e Nikolai era uma alma gentil que estaria lá para isso...
- Cuide dela. Você e ela merecem tudo! E você, - ela disse, virando-se para
mim – aproveite sua lua de mel. Eu vou aproveitar meu netinho, pois vocês
insistem que ele deve ir para Eton! Ele é tão novo, poderia ficar mais alguns
anos...
- Não! – Respondemos em uníssono, Raoul e eu.
- Meu Deus, achei que avós podiam dar algum palpite na vida dos netos... –
ela saiu resmungando.
- Estou exausta. Podemos ir para casa? Não vejo a hora de tirar esse vestido
enooooorme!
Dez anos se passaram depois que Raoul voltou para minha vida. Estávamos
aguardando a volta de Yago, que estava na França desde que se formara em
Eton. Em breve ele iria para Oxford e queria passar um tempo ao lado dos pais.
Ouvimos o galope de um cavalo e Raoul me abraçou, sorrindo. Seus olhos
estavam rasos d´água e ele lutava para conter as lágrimas. Ele estava ainda mais
bonito, com os cabelos grisalhos e ruguinhas charmosas ao lado dos olhos.
Corremos como dois adolescentes para a porta, quase atropelando o mordomo.
- Meu Deus, como você está magro! – Yago e Raoul reviraram os olhos. –
Espere só até sua vó vir seu estado...
- Vamos, rapaz, temos muito o que conversar. Uma garrafa de whisky nos
aguarda em meu escritório!
- Como está Aurora? Nem acredito que tenho uma irmã! Ela é tão linda
como “Prama”?
- Está a caminho, com sua avó! Ela é infinitamente mais bonita do que
“Prama”! – respondi sorrindo
- Rapaz, você vai ter problemas. Ela é linda como sua mãe e dramática como
sua avó. Não posso acreditar como pode ser tão mimada com apenas 7 anos! Sua
mãe e sua avó a mimam muito! – Raoul piscou para mim.
- Mimada pela mãe e pela avó? Só pelas duas? Ela faz você de bobo, Raoul!
– ele franziu a testa e levantou a sobrancelha, discordando.
- Somos 6, mas ainda não sei se você terá outra irmã ou um irmão! – Raoul
me rodopiou no alto, sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Yago ainda me
olhava perplexo:
- Meu Deus, vocês não conseguem tirar as mãos um do outro mesmo! – ele
era espirituoso como o pai! Raoul não deixou por menos.
- Não, meu rapaz, não consigo! Eu amo essa mulher! – Raoul gritava!
- Tesouro, vai matar a vovó, pare com isso agora! – ela gritava, rindo com
ele. Por fim, os 3 deram as mãos e vinham em nossa direção, sorrindo. Nem em
meus sonhos mais impossíveis seria capaz de vislumbrar uma cena tão linda.
- Nunca imaginei que pudesse ser tão feliz! – sussurrei no ouvido de Raoul.
Ele piscou, sorrindo:
- Eu sabia. Eu prometi a mim mesmo que te encontraria e seríamos muito
felizes. E eu nunca quebro minhas promessas!
***** Vous sentirez la petite mort d innombrables fois – Você terá orgasmos
inúmeras vezes (os franceses utilizam a expressão “pequena morte” para se
referir ao orgasmo)