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DIREITO CONSTITUCIONAL

TEORIA DA CONSTITUIÇÃO

Bem-vindo

Que você aluno, seja bem-vindo !

Este material irá auxiliá-lo no aprendizado da disciplina que trata da ”Teoria da


Constituição”. Para isso, é indispensável que você faça a leitura cuidadosa e atenta do
material e, também, uma leitura complementar dos livros indicados.

Professor Responsável: Juliana Cardoso Ribeiro


Bastos

Objetivos Específicos da Disciplina

Desenvolver o estudo da parte inicial correspondente a Constituição. Esta parte inicial,


que pretende apresentar a Constituição para você, chama-se “Teoria da Constituição”.
Ela pretende que você entenda como surgiu a Constituição e como ela evolui até
alcançar sua atual confiiguração. Com esse objetivo, você estudará os conceitos que a
Constituição comporta a depender do ângulo sobre o qual você a olhe. Também, você
estudará suas classificações, o poder que a elabora, seus tipos de normas, como
buscar o sentido de suas normas, bem como aspectos como o modelo federativo
adotado pela nossa Constituição, os direitos e nacionalidade, os direitos políticos e
aspcetos da ordem econômica e social congrados pela nossa atual Constituição.
Iniciaremos os Estudos da disciplina Direito Constitucional. Por certo, o principal objeto
de nossas atenções e investigações será Constituição; mais precisamente a
Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988.
Nossa Lei Maior. O fundamento de validade de todas as demais normas brasileiras.

Unidade Sub-unidade

O Constitucionalismo Origem da ideia de Constituição; a


Difusão da Constituição; Conceito
de Constituição.

Conceito de Direito Constitucional Concepções sociológica, política e


puramente jurídica; evolução do
conceito de Constituição; da
Constituição Liberal à Constituição
Social; conceito de direito
constitucional; direito
constitucional geral, material,
formal e comparado; relação com
outros ramos do direito e com
disciplinas não jurídicas.

Classificação das Constituições Material; formal; escrita; não


escrita; dogmática; histórica;
rígida; flexível; semi-rígida;
promulgada; outorgada; cesarista.

Poder Constituinte Origem e conteúdo da doutrina.


poder constituinte originário;
natureza; titularidade; caracteres e
espécies; poder constituinte
derivado; caracteres; espécies;
limitações; poder de revisão
constitucional.

Interpretação e Aplicação das Princípios da Interpretação


normas constitucionais Constitucional; Eficácia das normas
constitucionais.

Estado e seus tipos Elementos do Estado; tipos de


Estado: unitário e federal;
caracteres do Estado Federal;
repartição de competências e de
rendas; formação do Estado
federal; federalismo por agregação;
federalismo por segregação;

Estado Brasileiro Origem e evolução do federalismo


brasileiro; estrutura; formação de
Estados-Membros e Municípios;
repartição de competências;
Estados-Membros; Municípios;
Distrito Federal; regiões
metropolitanas; territórios;
intervenção federal e estadual.

Estado Brasileiro e Nacionalidade Sentido histórico e jurídico de


nacionalidade; modos de aquisição
da nacionalidade no Estado
brasileiro; os brasileiros natos e
naturalizados; os portugueses
residentes no Brasil; as
prerrogativas dos natos; a perda da
nacionalidade.

Estado Brasileiro e Direito Políticos Os instrumentos de democracia


direta (plebiscito, referendo e
iniciativa popular) e a democracia
representativa na Constituição
brasileira; o sufrágio no Texto
Constitucional; a cidadania;
conceito de modos de aquisição da
cidadania ativa e da cidadania
passiva; e elegibilidade e os casos
de inelegibilidades; a suspensão e
a perda dos direitos políticos.

A Ordem Econômica e Social na Os princípios constitucionais; a


Constituição Constituição Econômica; atuação
do Estado no domínio econômico; a
propriedade como princípio da
ordem econômica; o sistema
financeiro nacional; seguridade
social; educação; cultura; desporto;
ciência e tecnologia; comunicação;
proteção à família, criança, idoso,
índios.
Apresentação do conteúdo

Para começar o estudo do Direito Constitucional nada melhor do que começar


olhando para a forma pela qual este documento surgiu. Em outras palavras, o que
ensejou o surgimento de uma Constituição. Por outro lado, você entenderá a
importância deste documento em nosso ordenamento jurídico, como norma fundante
das demais normas criadas em uma sociedade. Portanto, esta primeira aula pretende
que você saiba a origem, evolução e conceito do que seja a Constituição.
Você estudará o conceito de direito constitucional, como ramo do direito público,
que tem como seu objeto de tutela o Texto Constitucional. Contudo, a depender da
forma pela qual você estude a Constituição, uma concepção nova pode surgir. Assim,
você também irá estudar estes diversos ponto de vista ou, também, chamadas de
concepções da Constituição.
Você estudará as classificações que como verá devem ser úteis. Assim, ao
estudar cada uma das classificações apontadas nesta aula, você irá identificar diversas
facetas da Constituição. Isso porque a depender do modo como você a olhe, uma nova
classificação pode surgir. Contudo, todas elas permitem que o intérprete e aplicador da
Constituição possa compreendê-la e realizá-la da melhor forma.
Você estudará o chamado poder constituinte que pretende que você aprenda o
modo pelo qual se elabora (ou cria) uma Constituição, bem como a forma pela qual ela
pode ser reformada ou substituída.
Você estudará um dos pontos essenciais para que a Constituição tenha
efetividade, qual seja o da interpretação. Trata-se do modo pelo qual se compreende o
sentido da norma constitucional. Já a eficácia e a aplicação das normas constitucionais
são elementos indispensáveis para o intérprete.
Você estudará o Estado e seus tipos que procura ensinar a você a respeito da
própria estrutura do Estado. Desta forma, será aprofundada características
pertencentes ao Estado Brasileiro, dentre escolhas que ele fez para administrar a
sociedade.
Você estudará como ocorre a formação do vínculo jurídico com o Estado
Brasileiro, bem como hipóteses perda deste vínculo. A este vínculo jurídico existente
entre indíviduo e Estado chama-se “nacionalidade”.
Você estudará os direitos políticos que representam a participação dos
indivíduos na vida política do Estado. Por isso, indispensáveis para um Estado
Democrático de Direito. Este ponto, pretende que você estude como ocorre a
participação dos indivíduos politicamente na sociedade brasileira.
Por fim, você estudará neste ponto a Ordem Econômica e Social na
Constituição, parte constitucional conquista após a queda do liberalismo. Com a
necessidade de cobrar do Estado posturas mais interventivas na sociedade, após o
período do Estado Liberal (Iinício de sua queda ocorreu com a Revolução Industrial do
século XIX), são constitucionalmente conquistados direitos que impõem ao Estado uma
conduta positiva. Portanto diferentemente da postura do Estado Liberal que era
negativa ou de abstenção.
Tema I: O Constitucionalismo

1. Origem da ideia de Constituição

A Constituição é fruto da evolução da sociedade. Contudo, este documento ganha


corpo e importância nas sociedades políticas a partir do movimento chamado de
Constitucionalismo.
Oferecer um conceito de constitucionalismo não é tarefa das mais fáceis.
Contudo, o que não se tem dúvida é que pode ser apontado como o movimento de
transição do Estado Absoluto para o Estado de Direito, com o objetivo de derrubar o
poder absoluto dos governantes e instituir um documento jurídico superior responsável
pelo surgimento do denominado Estado de Direito. Por isso, é um documento que
ganha destaque socialmente a partir do chamado constitucionalismo moderno,
momento a partir do qual surgem as Constituições escritas, com a finalidade de
proporcionar maior segurança nas relações com o Estado.
A Constituição é um elemento essencial à organização de uma dada sociedade.
Nesse diapasão, não será incorreto inferir que em toda sociedade política e em
qualquer tempo se escora numa constituição. Se a constituição impõe a incidência de
uma ordenação sobre um dado território e sobre as pessoas contidas nesse território e
lógico, então, que sua presença é imanente. A sociedade política, portanto, pressupõe
um mínimo de organização (está aí a presença da Constituição). Logo, ainda que não
consigamos identificar um documento escrito que estabeleça a Constituição, sua
presença é inegável. Inexorável. Posto que um fenômeno inerente à sociedade política,
a verdade é que a preocupação com seu objeto e o seu estudo sistematizado são
recentes e estão acentuados nas sociedades mais contemporâneas, sobretudo, a partir
do florescer do Estado Moderno.

2. Difusão da Constituição

Muito embora as Constituições Americana e Francesa, sobretudo esta última,


sejam as grandes referências de surgimento de uma Constituição Escrita
(sistematizada num documento solene), o certo é que resultam, efetivamente, de uma
construção evolutiva histórica, já que diversos documentos podem portar o gene desse
fenômeno. Exemplo desses documentos são:

a) os PACTOS que, como a Carta Magna de 1215 (acordo de vontade), estabeleceu


um respeito pela Coroa a direitos dos súditos; no mesmo sentido a Petição de Direito
(petition on rights) de 1628, em que houve pelos parlamentares a imposição ao rei dos
respeitos imemoriais dos cidadãos britânicos. Importante: forma escrita e proteção a
direitos individuais.

b) os FORAIS OU CARTAS DE FRANQUIA que possuíam semelhanças formais e


materiais com os pactos, contudo, ia além, eis que traziam em seu bojo um toque
político, estabelecendo, assim, uma participação no governo local. Importante: forma
escrita, proteção aos direitos individuais e participação política no governo local.

c) os CONTRATOS DE COLONIZAÇÃO pacto dos colonizadores das colônias inglesas


que governarem-se;
d) as LEIS FUNDAMENTAIS DO REINO (França), as quais encerravam normas com
características de direitos políticos (forma de aquisição e exercício do poder), caráter
de supremacia dessas normas em relação a outras e, outrossim, de estabilidade.

e) as DOUTRINAS DO PACTO SOCIAL, também colaboraram sobremaneira com o


futuro constitucionalismo a idéia que eclodia nos embriões do Estado Moderno de que
a autoridade dos governantes encontrava fundamento num pacto destes com os
súditos.

3. Conceito de Constituição

É preciso esclarecer que o termo constituição deriva da palavra constituir, que


deriva do latim constituere, que significa ser a base, a essência de algo; significa a
composição de algo. Justamente a partir dessa compreensão podemos capturar o
cerne dessa ideia e passar para o campo jurídico, para que possamos identificar a ideia
de que a Constituição do Estado é a forma, a estrutura desse ser (sociedade política).
Neste sentido, são conceitos de Constituição apresentados pela doutrina:

A - JOSÉ AFONSO DA SILVA. “UM SISTEMA DE NORMAS JURÍDICAS,


ESCRITAS OU COSTUMEIRAS, QUE REGULA A FORMA DE ESTADO, A
FORMA DE GOVERNO, O MODO DE AQUISIÇÃO E EXERCÍCIO DO PODER,
O ESTABELECIMENTO DE SEUS ÓRGÃOS E OS LIMITES DE AÇÃO”.

B – MARCELO MINGRONE. “ORDENAÇÃO QUE RECAI SOBRE UM DADO


TERRITÓRIO E SOBRE UM DADO CONTINGENTE HUMANO,
CONSTITUINDO UMA ESTRUTURA SOCIAL; UMA SOCIEDADE POLÍTICA”

C - CELSO BASTOS. “É A PARTICULAR MANEIRA DE SER DO ESTADO”.

Como se depreende da análise dos textos acima, o primeiro dos conceitos, traz
bem à evidência a matéria constitucional, o segundo, a função de ordenação da
constituição e, por derradeiro, o terceiro, que afirma a especialidade que assume o
texto constitucional em face de cada organização social; de cada sociedade política.
Tema II: Conceito de Direito Constitucional

1. Conceito de direito constitucional

O Direito Constitucional, ramo do Direito Público, em verdade, vai se preocupar


com a incidência de um ordenamento jurídico sobre um território e sobre as pessoas
desse território. Não por outro motivo, o Direito Constitucional tem por objeto de
investigação a norma que, além de estruturar o Estado, ainda o funda juridicamente.
Da sociedade política se abstrai inequivocamente uma Constituição.

2. Concepção jurídica da Constituição

A concepção jurídica de Constituição é aquela defendida por Hans Kelsen, em


seu livro Teoria Pura do Direito. Para este filósofo, a Constituição é fruto da vontade
racional do homem. A Constituição deve ser compreendida como norma pura, ou
ainda, como apenas um dever ser, desligado de qualquer pretensão a fundamentação
sociológica, política ou filosófica de suas normas.

3. Concepção sociológica da Constituição

A concepção sociológica é aquela defendida por Ferdinand Lasse, em seu livro


“Que é uma Constituição” (original em francês), o qual procura a essência da
Constituição. Defende o autor que uma Constituição só é legítima se representa o
efetivo poder social, refletindo as forças sociais que constituem o poder. Caso isso
não ocorra, ela é ilegítima e pode ser considerada como simplesmente uma “folha de
papel.” Portanto, diz o autor que a Constituição é a somatória dos fatores reais do
poder dentro de uma sociedade.

4. Concepção política da Constituição

A concepção política é aquela defendida por Carl Schmitt, em seu livro “Teoria da
Constituição”, o qual ensina que a Constituição é a decisão política fundamental de
uma sociedade, pois por meio dela estrutura-se o Estado. Quando determina que a
Constituição seja esta decisão política fundamental, faz a distinção entre ela e as leis
constitucionais, estas, sim, os dispositivos inseridos no texto do documento
constitucional.

5. Evolução do conceito de Constituição: Liberal à Social

Quando do surgimento dos primeiros Textos Constitucionais, a característica


marcante de suas normas era o caráter liberal consagrado por meio da proteção dos
chamados direitos de liberdade. Contudo, com o passar do tempo e as mudanças
sociais que sobrevieram em razão das crises econômicas, surgiu a necessidade das
Constituições reformularem o rol de direitos que ela usualmente protegia. Assim, sem
deixar de lado a proteção dos chamados direitos de liberdade, as Constituições
passaram a prever a proteção de direitos sociais, que marcavam uma conduta positiva
por parte do Estado. Sendo assim, de Constituições Liberais evoluiu-se para
Constituições Sociais.
6. Direito Constitucional: geral, material, formal e comparado

A concepção de um Direito Constitucional geral seria aquela que envolvesse


conceitos e instituições que se acham em diversas Constituições no mundo. Em outras
palavras, seria aquela que buscaria entre as Constituições existentes pontos comuns
entre elas com o objetiv de formar um único documento “geral”.
Já o Direito Constitucional material é o conjunto de normas que tratam dos
aspectos estruturantes de um determinado Estado: separação dos poderes, proteção
aos direitos fundamentais e distribuição do poder no território.
O Direito Constitucional formal é o conjunto de normas que se encontram
expressas em um determinado Texto Constitucional. Em outras palavras, um conjunto
de normas que passou por um procedimento diferenciado ao de criação das demais
normas do ordenamento jurídico.
E, por fim, o Direito Constitucional comparado, como sendo aquele que aponta as
distinções existsntes entre as Constituições dos diversos Estados.

7. Relação com outros ramos do direito e com disciplinas não jurídicas

O direito constitucional se relaciona com todos os ramos do direito por ser a


Constituição o documento supremo de um Estado. A Constituição é fonte de validade
para as demais normas constitucionais. Assim, independentemente do ramo jurídico
estudado, sua fonte será sempre no Texto Constitucional.
No que tange as disciplinas não jurídicas, que envolve diferentes aspectos de
uma vida em sociedade, podem ser vistas tanto do ponto a partir do qual elas auxiliam
o próprio evoluir do direito e, também, como sendo elas as destinatárias das normas
jurídicas, pautando a conduta dos indivíduos nas diversas esferas sociais.
Tema III: Classificação das Constituições

1. Classificação quanto à origem

 Outorgada: é a constituição imposta pelos detentores do Poder. Não conta com


a participação popular ou de seus representantes. Exemplo: a Constituição
brasileira de 1967 com a emenda de 1969. A doutrina costuma utilizar para este
instrumento a expressão “Carta Constitucional”, contudo, entendemos que a
tradução de expressão enquanto sinônimo de constituição outorgada não traz
maior segurança, eis que não raro é utilizada como referência de constituição,
independentemente de sua origem.

 Promulgada: é a constituição elaborada livremente por uma Assembléia


Constituinte eleita com esta finalidade. É Democrática. Exemplo: a Constituição
Brasileira de 1988.

 Cesarista: é a constituição que na realidade foi imposta, não contou com a


participação livre de uma Assembléia Constituinte, mas que, para dar ares de
legitimidade o governante convoca um referendo popular para ratificá-la. Na
prática, nem o referendo é realizado com liberdade, por exemplo, a Constituição
da Venezuela, do Presidente Hugo Chávez.

2. Classificação quanto ao conteúdo

 Formal: se refere ao documento escrito chamado constituição. Ocupando o


cume do ordenamento jurídico - hierarquicamente superior às demais normas
jurídicas - as normas que estão contidas neste documento são normas
constitucionais formais (ainda que a matéria não apresente conteúdo
eminentemente constitucional, por integrar a constituição será sempre
constitucional; pelo menos pelo período em que inserta na constituição). É a
adotada pela Constituição de 1988.

 Material: algumas normas que estão dentro da constituição tratam daqueles


assuntos de matéria constitucional, ou seja, são temas, substancialmente
constitucionais. Este conceito é muito importante para o conhecimento de
constituições não escritas, já que a mesma não dessume de um instrumento
solene, mas, sim, de matérias constitucionais (recorde o conceito exarado por
José Afonso da Silva acima transcrito).

Todas as normas que estiverem na constituição e que tratarem de matéria


constitucional são normas constitucionais materiais. De outro lado, se constarem
da constituição e não apresentarem o conteúdo constitucional podemos dizer
tratarem-se de normas exclusivamente formais. Exemplo da primeira (material),
artigo 18 da Constituição de 1988 (trata da organização político-administrativa da
República Federativa do Brasil). Já como exemplo da segunda poderemos
indicar o artigo 180 da mesma constituição (incentivo ao turismo pelo entes
políticos em proveito do desenvolvimento social).
3. Classificação quanto à forma

 Escritas: positivas ou positivadas, são as elaboradas num mesmo processo


constituinte que se realiza de forma solene, positivando preceitos de forma
sistematizada num mesmo diploma, de maneira codificada, geralmente em um
instrumento chamado constituição. É a adotada pela Constituição Brasileira de
1988.

 Não-escritas: são normas básicas referentes à matéria constitucional e que não


se encontram sistematizadas em um texto solene, razão pela qual encontram-se
em normas costumeiras, em textos legais esparsos, precedentes dos tribunais.
Exemplo: Constituição Inglesa.

4. Classificação quanto à extensão

 Sintética: são aquelas formadas por normas genéricas, por princípios


norteadores, sem maiores detalhes, deixando-os a cargo do legislador
infraconstitucional. Exemplo: a Constituição dos Estados Unidos.

 Analítica: ao contrário da anterior, são aquelas que disciplinam com detalhes,


com minúcias os assuntos por elas tratados. Exemplo: a atual Constituição
Brasileira.

5. Classificação quanto ao modo de elaboração

 A constituição histórica ou costumeira: é sempre não-escrita e é um


resultado de uma evolução gradual, lenta, da organização política e das
instituições de um Estado, ela surge com o passar do tempo, decorre das
tradições históricas. Exemplo: Constituição Inglesa.

 A constituição dogmática: é sempre escrita e foi elaborada por uma


Assembléia Constituinte influenciada pelo pensamento, pelas doutrinas, pelas
ideologias que predominavam na sociedade naquele momento histórico.
Exemplo: a atual Constituição Brasileira.

6. Classificação quanto à mutabilidade

Esta classificação centra-se no processo de reforma do texto constitucional.

 Rígida: é a constituição que prevê um processo solene, especial de reforma;


logo, de maior complexidade. Comportam, portanto, reforma. Exemplo: Atual
Constituição Brasileira de 1988.

 Flexível: é aquela constituição que admite um processo simplificado, fácil de


reforma. Análogo, portanto, àquel previsto para as normas infraconstitucionais.
Exemplo: a Constituição Inglesa.

 Semi-rígida: é a constituição que admite que algumas de suas normas só


podem ser reformadas por processo especial (rígida), enquanto outras de suas
normas podem ser reformadas por um processo simplificado (flexível). Exemplo:
a Constituição brasileira do Império (1824)

 Imutável: é a constituição que não admite reforma, por exemplo, a Constituição


da Finlândia.

 Super-rígida, se refere a uma constituição que além de ser rígida, prevê as


figuras das cláusulas pétreas, por exemplo, a Constituição brasileira de 88.

7. Classificação quanto à ideologia

 Ortodoxa: é a que ocorre na hipótese em que a Constituição é influenciada por


uma única ideologia, que é dessa forma regula a sociedade, por exemplo, a
Constituição de Cuba.

 Eclética: é a que predomina mais hoje em dia. É influenciada por mais de uma
ideologia, por exemplo, a Constituição brasileira de 88. Tem normas liberais
(garantia da propriedade privada, de livre iniciativa etc) e tem normas sociais
(função social da propriedade, reforma agrária etc).

8. Classificação quanto à finalidade

 A Constituição Garantia: é a constituição clássica – liberal - que trata apenas


da organização do Estado, do Poder Político e da Proteção aos Direitos
Individuais. Limita, pois, o Poder.

 A Constituição Dirigente: é a constituição social que impõe ao Poder Público,


programas de atuação na ordem social e econômica, por exemplo, a
Constituição Portuguesa de 1976 (está em vigor) e a Constituição Brasileira
(1988), que também sofreu essa influência, tanto que tem várias normas
programáticas.

 A Constituição Balanço: se refere a um tipo de constituição dos Estados


socialistas, reflete a idéia, segundo a qual toda nova constituição deveria ser um
balanço daquilo que vigorou anteriormente para que o Estado socialista
pudesse, de balanço em balanço, de degrau em degrau, atingir o grau máximo
do próprio socialismo, por exemplo, a Constituição da antiga União Soviética, de
20, 30 e 70.
Tema IV: Poder Constituinte

1. Poder constituinte: origem e conteúdo

Chamaremos de Poder Constituinte o poder de estabelecer uma constituição, ou


seja, de fundar juridicamente uma sociedade política, um Estado. Também
chamaremos de Poder Constituinte a competência reservada a algum órgão para
alterar o texto da constituição em vigor, sem, contudo, implicar em rescisão com o texto
predecessor, mas, apenas, alterações que se fazem necessárias para acompanhar a
evolução da sociedade.
O primeiro chamaremos de Poder Constituinte Originário (de primeiro grau;
inicial); o segundo, chamaremos de Poder Constituinte Derivado (de segundo grau).
Também utilizaremos essa palavra quando comentarmos sobre o poder
conferido aos Estados de uma federação para que formulem sua própria constituição,
todavia, neste caso, o poder constituinte, que também será derivado, eis que recebe tal
atribuição do originário, receberá o nome de poder constituinte decorrente. E, por fim, a
análise o poder constituinte revisor.

2. Poder constituinte originário

Poder Constituinte Originário é o poder que cria uma Constituição. É importante


verificar que esse poder originário pode ser histórico (inaugura a existência de um
Estado na comunidade originária. Exemplo: a Constituição de 1824) ou pode ser
revolucionário, eis que implica num poder constituinte que firma um novo Estado a
partir da ruptura com a ordem constitucional então em vigor (Exemplo: todas as
Constituições brasileiras subsequentes à de 1824).

2.1 Características

 Inicial: é um poder criador, inaugural da organização do Estado. Funda


juridicamente um novo Estado. Cria uma nova ordem jurídica e passa a validar
todas as normas com ela compatíveis e afasta aquelas que com ela não venham a
guardar compatibilidade.

 Ilimitado: não se sujeita a nenhum outro poder, a nenhuma restrição de natureza


jurídica. Elabora a Constituição como lhe aprouver. (é passível à luz de
considerações de direito natural e também das forças reais de poder, no entanto,
não adotaremos estas ponderações)

 Incondicionado: é exercido segundo condições, regras que ele mesmo


estabelece, não segue condições pré-estabelecidas por outro poder.

2.2 Titularidade

Temos que a titularidade do Poder Constituinte deva ser conferida ao povo, não
obstante que o êxito dessa inferência esteja ligado ao fato de que o pressuposto é de
que estejamos falando de um Estado Democrático, como, no caso, é o Brasil. Não
estivéssemos falando de uma concepção democrática, o correto é que verificássemos
a ideologia reinante para saber, de fato, quem pode veicular esse pode constituinte.
O nome dado ao conjunto dos representantes do povo eleitos para elaborar a
Constituição é Assembléia Constituinte. A assembléia, portanto, é o instrumento de que
se vale o povo para a instituição de uma constituição do tipo promulgada.
Importante observar que a idéia de poder constituinte sugere que este fenômeno
esteja ligado ao fundamento jurídico de qualquer sociedade política, portanto, algo
inequivocamente imanente. Destarte, cumpre destacar que, ao contrário do poder, sua
teoria, é algo recente e, a propósito, ganhou força pela obra de Sieyes – o que é o
terceiro estado . Importante ressaltar que referida teoria sobre o poder constiutuinte
muito mais do que análise pura e simples do poder, teve fundamental importância na
legitimação do poder nas mãos do povo, em especial da ascendente classe burguesa.
O período em questão é o nascedouro do Estado Moderno

2.3 Natureza jurídica

Para os que advogam a idéia de que o direito surge com o Estado, juspositivistas,
o Poder Constituinte assume a natureza de força pré-jurídica, de outro lado, para
aqueles que vislumbram o nascimento do direito antes mesmo do Estado,
jusnaturalistas, a natureza desse fenômeno é jurídica. Para nós, optaremos, com todo
respeito às posições em sentido diverso, e não menos aceitáveis, o entendimento de
que a sua natureza é pré-jurídica, mormente porque envidaremos esforços na
organização da estrutura jurídica e do nosso raciocínio a partir da constituição do
Estado e teremos por inolvidável fundamento de validade das normas a Constituição
em vigor.

3. Poder constituinte derivado: reformador, decorrente e revisor

PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR

É criado pelo Poder Originário e tem a competência de reformar a Constituição.


Cumpre esclarecer que ao lado da expressão Poder Constituinte Derivado
acrescentamos a palavra REFORMADOR isso porque analisaremos mais adiante uma
outra competência para reformar a constituição, que é chamada de Poder Constituinte
Derivado REVISOR e DECORRENTE.
Na doutrina encontram-se aqueles que tecem críticas à utilização da palavra
poder constituinte porque ele não cria uma constituição, mas, sim, a altera. Em
verdade, ele não é constituinte, mas, de fato, constituído. Aliás, uma competência para
alterar a Constituição. Não obstante os argumentos, utilizaremos a expressão
consagrada, até mesmo porque pelo fato de que ajuda no raciocínio sobretudo por
força de que Poder Constituinte altera Poder Constituinte (mesmas espécies), ainda
que pautado por algumas regras criadas pelo originário.
O instrumento utilizado pelo poder constituinte derivado reformador é a Emenda
Constitucional.

a. Características

 Não é inicial: ele não inaugura ordem alguma, eis que somente procede à
alteração pontual da ordem existente.

 Limitado juridicamente: ao contrário do Poder Constituinte originário, o


derivado não é ilimitado, eis que sofre uma série de limitações, a propósito, de ordem
material (matérias que não comportam exclusão), circunstancial (situações em que não
se admite a alteração da constituição) e procedimental (ritos que perfazem o devido
processo legislativo para promulgar validamente uma emenda à constituição).
Referidas limitações, em nosso ordenamento, depreendem-se facilmente do artigo 60
da Constituição Federal, a saber:

a) material. Exprimem as cláusulas pétreas, ou seja, aquelas que, a teor do


parágrafo quarto do artigo 60, não podem ser banidas do texto magno, aliás, sequer
admite sejam levadas a deliberação das Casas do Congresso Nacional; cumpre
destacar que referidas regras são explícitas, sendo certo que a estrutura constitucional,
por sua vez, igualmente não admite que o dispositivo constitucional que estabelece tais
regras seja afastado, razão pela qual essa limitação, do mesmo jeito de ordem
material, se mostra implícita.

b) circunstancial. Não se admite a emenda à constituição diante de anomalias


institucionais do tipo estado de sítio (art. 137), estado de defesa (art. 136) e de
intervenção federal (art. 34).

c) procedimental. O poder constituinte originário estabelece um rito para a


elaboração de uma emenda à constituição, de tal sorte que o poder constituinte
derivado somente trabalha de forma escorreita se observar o procedimento
estabelecido, sob pena da pecha da inconstitucionalidade formal da emenda (artigo 60,
I, II e III, parágrafo segundo, parágrafo terceiro, parágrafo quinto e até mesmo o
parágrafo quarto, pois não obstante veicule limites de ordem material, impede
deliberação – caráter processual)

 Condicionado. Porque as regras para o seu exercício estão fixadas pela própria
Constituição. São pré-estabelecidas.

b. Natureza: diferentemente do que constatamos quando da análise do originário,


no caso do derivado não há qualquer dúvida; sua natureza é jurídica.

c. Titularidade: valem aqui as informações prestadas quando da análise do poder


constituinte originário, contudo, quem aqui no Brasil expressa esse poder, e com
absoluta exclusividade, é o Congresso Nacional, ou seja, o Poder Legislativo
Federal.

PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE

A Constituição Federal determina aos Estados Federados a sua organização por


meio de uma Constituição Estadual. Portanto, abre aos Estados a incumbência de
organizarem-se. É chamado de poder constituinte derivado decorrente porque decorre
da própria Constituição Federal e é a ela submetida também.
O Poder Constituinte Decorrente é derivado em virtude de suas características. É
um poder limitado pela própria Constituição Federal, pois sua existência deve-se a ela,
além do que não escapa a certos comandos de observância obrigatória, mormente pela
unidade que caracteriza a federação, aliás, alicerçada nos mesmos princípios
fundamentais (art. 1º a 4º da Constituição Federal) .
O art. 25 da Constituição Federal prevê a existência do Poder Decorrente e já
deixa clara a natureza limitada desse poder. Eis que o próprio caput diz que os Estados
farão suas Constituições Estaduais observados os limites impostos na Constituição
Federal.
A doutrina costuma apresentar uma classificação desses princípios que os
Estados devem respeitar no uso do Poder Constituinte Decorrente, que são: princípios
constitucionais estabelecidos; princípios constitucionais sensíveis; e, princípios
xonstitucionais extensíveis
Os Princípios Constitucionais Estabelecidos são aqueles que impõem ao
Poder Decorrente limitações implícitas ou explícitas, diretas ou indiretas. As limitações
diretas (explícitas) impõe textualmente aos Estados certas vedações, por exemplo, o
art. 19 da Constituição (fazer a leitura). Nas limitações indiretas (implícitas) é possível
concluir a vedação aos Estados por exclusão, porque a Constituição faz referência aos
outros entes, por exemplo, o art. 21 da CF, que prevê as competências exclusivas da
União, assim, se compete à União, por exclusão, a matéria não poder ser tratada pelos
Estados.
Os Princípios Constitucionais Sensíveis são expressamente relacionados pela
Constituição, e se forem violados pelos Estados provocam a Intervenção Federal da
União no Estado transgressor. Os princípios são os do art. 34, VII, da CF, segundo o
qual a União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para assegurar
a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema
representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia
municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta; e)
aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do
ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.
Os Princípios Constitucionais Extensíveis são aqueles que disciplinam a
organização somente da União Federal e que pela importância que possuem devem
ser reproduzidos pelas Constituições estaduais, por isso extensíveis.
A doutrina reconhece a importância que esses princípios tem, sobretudo para o
Federalismo, mesmo no silêncio, os Estados devem reproduzir, por exemplo, as
normas da Constituição Federal que tratam do processo legislativo (art. 59 e
seguintes), pela importância que tem essa matéria de serem uniformizadas, porém, o
Estado não precisa reproduzir exatamente, mas ser similar.
É claro, que, quando houver essa transposição deve-se aplicar aos Estados de
acordo com suas próprias características. O Poder Legislativo dos Estados é
unicameral e não bicameral. Essa forma de adaptação dos princípios extensíveis às
constituições estaduais, às características típicas do Estado chama-se princípio da
simetria. O Supremo Tribunal Federal mantém essa aplicação em nome da
uniformidade da estrutura federativa brasileira.

# Poder constituinte e a posição dos Municípios e do Distrito Federal

A Constituição Federal considerou o Município e o Distrito Federal também como


entes da Federação. No concernente aos Municípios foi uma inovação, tanto que é a
única Constituição do mundo que tomou essa posição, de acordo com seus arts. 1o e
18.

MUNICÍPIOS: ocupando, portanto, esse status, o Município passou a ser


reconhecido como ente da federação de terceiro grau, a União seria de primeiro grau, e
os Estados e o Distrito Federal seriam de segundo grau, isso provocou o surgimento de
uma discussão, como os Municípios passariam a ser entes da Federação e tendo
competência para elaborar as LEIS ORGÂNICAS, teriam ou não poder constituinte
(decorrente)? Imediatamente antes da Constituição Federal de 1988, portanto, sob a
égide da Constituição anterior (1967/69) não era conferida autonomia aos municípios,
uma vez que os Estados é que faziam as leis orgânicas dos seus municípios.
A Constituição Federal deixou claro e atribui o poder de elaborar as leis orgânicas
aos próprios municípios. O que é lei orgânica? É algo semelhante a uma Constituição
municipal, entretanto, a posição que tem prevalecido na Jurisprudência é a de não
reconhecer o status de Constituição à Lei Orgânica municipal. O que significa, na
prática, e com muita importância, que a violação à Lei Orgânica municipal gera
ilegalidade e não inconstitucionalidade.

DISTRITO FEDERAL: o Distrito Federal é um ente sui generis, organizado por Lei
Orgânica, e como o próprio Supremo Tribunal Federal já decidiu, a parte da Lei
Orgânica que trata de matéria que seria estadual e municipal.

PODER CONSTITUINTE DERIVADO REVISOR

Atualmente, o único instrumento previsto para a reforma da Constituição Federal


é a emenda prevista, a propósito, no art. 60 da Carta Magna.
Também já existiu no atual ordenamento jurídico um outro mecanismo
denominado como “Revisão Constitucional”, previsto no art. 3o dos Atos das
Disposições Constitucionais Transitórias. Porém, não existe mais porque foi prevista
uma única revisão, já ocorrida em 1994. Isto gerou polêmicas, até mesmo a natureza
da revisão dos ADCT, pois o art. 3o é sucinto, sem informações detalhadas. Diz referido
artigo que:

“A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da


promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros
do Congresso Nacional, em sessão unicameral”.

Não previu data específica, nem prazo final, e o sistema de votação interna e o
quorum, por ser sucinto gerou controvérsia. Até mesmo os Governos que queriam fazer
outra Revisão já quedaram.
A dúvida era que, para alguns a revisão seria manifestação do Poder Constituinte
Originário (José Afonso da Silva), como o art. 3o do ADCT não mencionou que a
revisão deveria respeitar as cláusulas pétreas. Contudo, esta posição não prevaleceu.
Também, não fosse isso a alteração daquilo que é estrutural na Constituição outra
coisa não significaria senão a revogação de uma Constituição por outro cravada pela
rubrica da revisão .
A segunda posição, que prevaleceu, foi a que sustentou a natureza de Poder
Derivado Reformador. Portanto, a segunda modalidade de poder reformador no Brasil
em relação a qual já estaria implícita a necessidade de respeito às cláusulas pétreas.
Como chegaram a essa conclusão? Dizia esta corrente: se a própria Constituição
impôs a Emenda Constitucional o dever de respeitar cláusula pétrea, que é aprovada
por quorum qualificado, o que se dirá da Revisão que tem um quorum menor (maioria
absoluta).
A Constituição Federal é um sistema de normas, devendo ser interpretado no seu
conjunto, por isso prevaleceu que a Revisão tem natureza de Poder Constituinte
Derivado.
Tema V: Interpretação e Aplicação Constitucional

1. Interpretação

Interpretação, segundo o dicionário jurídico, significa examinar, perquerir e fixar


o sentido ou a inteligência do texto legal, ou do teor do escrito, para que se tenha sua
exata significação ou sentido (Vocabulário Jurídico De Plácido e Silva).
Assim sendo, interpretação constitucional é a busca do sentido da norma
constitucional. A interpretação é utilizada mesmo quando o intérprete (aquele que
realiza a atividade interpretativa) acredita que a norma constitucional seja clara, pois
para chegar a esta conclusão ele teve que, necessariamente, interpretá-la. Neste
sentido Carlos Maximiliano, “tudo se interpreta; inclusive o silêncio” (Hermenêutica e
aplicação do direito, p.9).

2. Princípios da interpretação constitucional

Os princípios da interpretação constitucional são auxiliares da atividade


interpretativa. Eles destacam algumas questões que precisam ser levadas em
consideração antes e no momento da busca do sentido da norma. São eles:

 Princípio da supremacia da Constituição

Quando você for aplicar a norma constitucional precisa lembrar que a


Constituição é o conjunto de normas de mais alta hierarquia no
ordenamento jurídico.

 Princípio da força normativa da Constituição

Segundo este princípio, você deve interpretar a Constituição sempre


buscando a maior otimização possível das normas constitucionais.

 Princípio da unidade da Constituição

A unidade da Constituição impõe que ao você interpretar a Constituição


você leve em consideração que as normas Constitucionais formam uma
unidade e, portanto, não devem ser interpretadas de forma isolada das
demais normas do Texto Constitucional. As normas constitucionais estão
reciprocamente implicadas.

 Princípio da máxima efetividade

Determina que você confira a maior eficiência possível da norma


constitucional. Em outras palavras, busca que você realize a norma
constitucional da forma mais ampla possível diante do caso concreto.

 Princípio da harmonização
Quando você interpretar a Constituição deve procurar evitar o conflito
entre as normas e, ao contrário, buscar harmonizá-las.

 Princípio da correição funcional

Ao interpretar a Constituição, você deve manter a harmonia entre os


órgãos do Estado disciplinada na Constituição. Deve, portanto, respeitar a
repartição de competências prevista constitucionalmente sem desvirtuá-
las.

3. Eficácia e Aplicabilidade das normas constitucionais

O assunto se refere ao momento em que as normas da Constituição entram em


vigor, quando podem ser aplicadas na prática. Será que assim que a CF entra em vigor
já é possível exercer os direitos? Ou alguns dispositivos dependem de regulamentação
posterior? Desde o século XIX existem estudos doutrinários que classificam as normas
constitucionais tendo em vista o momento em que são aplicadas na prática.
A classificação mais utilizada no Brasil é a introduzida por José Afonso da Silva,
que entende quanto à aplicabilidade que as normas constitucionais podem ser:
 Normas Constitucionais de Eficácia Plena;
 Normas Constitucionais de Eficácia Contida;
 Normas Constitucionais de Eficácia Limitada.
 Normas Constitucionais de Eficácia Exaurida

Normas Constitucionais de Eficácia Plena: são as normas constitucionais


completas, dotadas de aplicabilidade imediata, ou seja, não dependem de
esclarecimentos posteriores. O texto já diz tudo, já contém as informações necessárias
para a aplicação imediata. Exemplos: o art. 5o, IV, art. 12, I, “a”, art. 17, § 4o, art. 46, §
1o, entre outros. (fazer a leitura dos dispositivos)

Normas Constitucionais de Eficácia Contida ou como prefere Michel Temer


Norma Constitucional de Eficácia Restringível: também possuem aplicabilidade
imediata, todavia admitem a edição de lei posterior ou a prática de um ato posterior que
reduza o seu alcance, que contenha sua amplitude. Exemplo: art. 5, XIII CF que trata
da liberdade profissional. O dispositivo diz na primeira parte que “é livre o exercício de
qualquer trabalho, ofício ou profissão” e na segunda parte diz “atendidas as
qualificações profissionais que a lei estabelecer”. O cidadão pode ter qualquer trabalho,
mas pode surgir uma leia restringindo esse direito, por isso foi julgado improcedente
uma Ação Direta de Inconstitucionalidade que pedia para acabar com o exame da
Ordem dos Advogados, o Supremo entendeu que o exame de ordem não violava a
ordem constitucional.

Normas Constitucionais de Eficácia Limitada: são as normas que carecem de


complemento, cuja aplicação prática depende de uma regulamentação, de uma
providência ulterior. Enquanto não surge a regulamentação da norma, esta não terá
aplicabilidade prática. Sua aplicação é mediata, pois depende de ato posterior, por
exemplo, o art. 5o, XXXII, onde consta que “o Estado promoverá, na forma da lei, a
defesa do consumidor”.
José Afonso da Silva identifica dentre as normas de eficácia limitada duas
modalidades: as normas institutivas e as normas programáticas.
As normas institutivas são as normas constitucionais que prevêem a
necessidade de criação de organização ou esclarecimento (especificação) de
competências de instituições, de órgãos, e até de entes políticos. Exemplo: art. 134,
parágrafo único CF (fazer a leitura).
As normas programáticas são as normas de eficácia limitada que impõe ao
Poder Público a realização de um programa social, de um programa que atenda aos
direitos sociais, por isso programáticas. Enquanto não for oferecido à sociedade não é
aplicada a norma constitucional, por exemplo, o art. 196 CF (caso o Poder Público
implemente e ofereça à sociedade aplica a norma constitucional).

Normas Constitucionais de Eficácia Exaurida. A doutrina costuma fazer


referência a essas normas. São normas constitucionais que já cumpriram a sua
finalidade, e, portanto, deixaram de ser aplicadas, esgotou-se seu papel, por exemplo,
os arts. 2o e 3o dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias, o art. 2o trata do
plebiscito sobre a forma e o sistema de governo, e o art. 3o trata da Revisão
Constitucional, ambos já ocorridos.

Observações Finais. Não existe norma constitucional sem eficácia, um mínimo


de eficácia todas tem. As limitadas surtem, produzem efeito, por exemplo: a)revoga a
lei infraconstitucional que for contrária aos seus termos; b) embora não seja aplicada
de imediato não pode ser contrariada.

4. Normas constitucionais no tempo

Se a Constituição é suprema, o que acontece com a Constituição anterior?


Haverá a revogação total da Constituição anterior.
Há uma alternativa, mas deveria constar na Constituição nova (não é aplicado
no Brasil), que é a chamada desconstitucionalização. Nesta as normas da
Constituição anterior que não contrariarem a nova Constituição continuam valendo,
mas com a natureza de lei ordinária.
Por outro lado, outra questão duvidosa é em relação ao que acontece com a
legislação infraconstitucional anterior à Constituição nova. A lei infraconstitucional
anterior que não contrariar a nova Constituição continuará valendo. em vigor. Trata-se
do do fenômeno da recepção. Neste sentido, a lei infraconstitucional que não for
compatível com a nova constituição é considerada como revogada. Assim entende o
Supremo Tribunal Federal.
Tema VI: Estado e seus tipos e o Estado
Brasileiro

1. Elementos do Estado

São elementos do Estado: povo, território e poder.


Por povo, você deve entender aqueles indivíduos que possuem um vínculo
jurídico com determinado Estado. Exemplo: o povo brasileiro são todas as pessoas que
possuem a nacionalidade brasileira, pois por meio da nacionalidade o indivíduo
estabelece o seu vínculo jurídico com determinado Estado. Povo não se confunde com
o cidadão. Este é todo aquele que se encontra no gozo dos seus direitos políticos.
O elemento territorial é a base geográfica do Estado. Contudo, não se resume
apenas a base geográfica do Estado, pois possui um conceito jurídico-político, que o
identifica como sendo o âmbito de validade das normas e exercício da soberania de
determinado Estado.
E, por fim, o elemento poder que, da mesma forma, é indispensável, por impor
sua vontade na manutenção da paz social e busca pelo bem comum. Chama-se poder
político aquele exercido pelo Estado e, possui como características: uso da força física
com exclusividade, não reconhece poder maior do que o seu externamente, não
reconhece poder igual ou maior que o seu internamente.

2. Tipos de Estado: Unitário e Federal

O Estado Unitário é aquele que se caracteriza pelo poder centralizado. Em


outras palavras, existe apenas um centro emanador de decisões políticas. Ocorre que
como bem observa a doutrina, háuma necessidade prática destes Estados Unitários
em efetivarem uma descentralização administrativa para a maior efetividade dos seus
deveres.
Já o Estado Federal é aquele formado por governos autônomos, sendo um
governo central e os demais caracterizados pela localidade. Estes entes autônomos
possuem a capacidade de auto-governo, devendo respeito apenas a repartição de
competências disciplinada constitucionalmente. Pretende-se com esta descentralização
política buscar maior proximidade entre os governantes e os governados.

3. Características da Federação e Federação Brasileira

 Esferas de Governos autônomos: devem existir pelo menos duas


esferas de governos autônomos, em geral, há o Governo Central e o Governo local.
Ambos são autônomos. No Brasil são três esferas, embora haja protestos doutrinários,
porque a Constituição Federal considera o Município ente da Federação de 3 o grau.
Em nosso federalismo o município é considerado ente da federação.
É importante ressaltar que os entes são apenas autônomos, sendo apenas o
todo que possui soberania. A União é um ente autônomo e não soberano (pessoa
jurídica de direito público interna). A soberania é do Estado Brasileiro (pessoa jurídica
de direito público externo) e não da União; mesmo que esta venha a representar o
país.
 Capacidade de autogoverno dos entes federados: capacidade de
organização de seus próprios poderes públicos, por exemplo, a União deve organizar
os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; os Estados Federados devem organizar
seus próprios Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; já os Municípios têm uma
capacidade um pouco mais restrita, posto que os Municípios só organizam os Poderes
Executivo e Legislativo, pois não tem Poder Judiciário.

 Repartição de Competências: a Constituição Federal deve estabelecer


uma repartição de competências entre os entes da Federação.

 Participação de todos os entes na formação da vontade nacional: na


elaboração das leis que valem para todo o país. Participação dos Estados Federados,
pois os Governos locais participam da elaboração dessas leis por meio dos Senadores.
O Senado representa os Estados no Poder Legislativo Federal, e os Deputados
representam o povo de cada Estado federado no Poder Legislativo Federal.
Por isso o número de Senadores é fixo, e cada Estado elege três Senadores
e o Distrito Federal também elege o mesmo número de Senadores, aqui o tratamento
jurídico deve ser equivalente sob pena de subordinação entre Estados.
Já os Deputados representam o povo de um Estado e quanto mais populoso
maior será o número de Deputados. Essa característica não é preenchida pelos
Municípios na participação da vontade nacional.

 Auto-organização dos entes federados: cada Estado deve ter o poder


de elaboração de suas próprias constituições estaduais. No caso do Federalismo
brasileiro o Município preenche esse item, pois cada Município pode ter sua própria lei
orgânica. A lei orgânica, entretanto, não tem status de “Constituição Municipal”, mas é
instrumento de organização do Município.

 Autonomia administrativa: cada ente deve ter competências próprias,


portanto, capacidade de prestação de serviços públicos.

 Autonomia política: cada ente deve designar seus próprios


representantes e governantes. Isso impede que o Presidente da República nomeie
Governadores de Estado e Senadores.

 Autonomia financeira: os entes federados devem ter recursos próprios,


devem ter fontes próprias de recursos, por isso, é que existem os tributos exclusivos
dos Estados para atender essas características. A forma federativa é cláusula pétrea e
a tentativa de enfraquecer o sistema federativo viola a Constituição Federal, uma vez
que se o repasse de verbas dependesse da União desconfiguraria o sistema.

 Proibição de Separação dos Estados Federados: os Estados não


podem se separar do conjunto. E tentativas nesse sentido permitiria a intervenção
federal. Esta é uma das diferenças entre o sistema federativo e a Confederação, neste
caso os Estados são soberanos. Na Federação os Estados são autônomos e não
soberanos.

 Iniciativa de proposta de reforma à Constituição: os entes federados


devem ter iniciativa para propor emendas ou reforma à Constituição. Para isso a
Constituição Federal brasileira prevê hipótese de proposta de emenda (art. 60).
Iniciativa de pelo menos metade das Assembléias Legislativas dos Estados. Esta
cláusula também não é preenchida pelos Municípios.

A FEDERAÇÃO BRASILEIRA

A Constituição Federal de 1988 disciplina a organização do Estado brasileiro


no art. 18 e seguintes. A organização político-administrativa da República Federativa
do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos
autônomos, nos termos desta Constituição.
No caput do art.18 não se encontram os Territórios Federais, porém, a própria
Constituição Federal brasileira disciplina esta figura no § 2o, do art. 18, e no art. 33. Os
Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou
reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.
Atualmente não existem mais territórios. Os últimos foram extintos pela atual
Constituição, Roraima e Amapá, que foram transformados em Estados, pelo art. 14 do
ADCT, e Fernando de Noronha que passou a integrar o Estado de Pernambuco, art. 15
do ADCT. No entanto, os territórios podem ser criados a qualquer momento, e não
seriam considerados entes da Federação.
Os territórios não são entes da federação por não possuírem autonomia, e por
isso a Constituição diz que os territórios integram a União Federal. Os territórios são
divisões administrativas da União.
Os territórios só podem ser criados por Lei Complementar.
Existe Poder Executivo nos territórios, porém, o Governador não é eleito. Na
verdade, os nomes são indicados pelo próprio Presidente da República e aprovados
pelo Senado Federal, e nomeado pelo Presidente. Portanto, aos territórios falta
autonomia política. Além disso, cabe ao congresso Nacional legislar para os territórios.
O art. 33 da Constituição Federal prevê que se o território tiver mais de cem mil
habitantes terá um legislativo próprio que recebeu o nome de Câmara Territorial.
Essa Câmara deve ser composta por meio de eleições. O eleitorado do
território deverá votar nas eleições para escolher seus membros e as atribuições serão
definidas por lei.
O que doutrinariamente é possível mencionar é que para muitos autores a
existência da Câmara Territorial não elimina a ingerência do Congresso Nacional,
assim a este continuaria com o Poder para legislar para o Território, porém, deveria ser
realizada uma divisão de tarefas entre o Congresso Nacional e a Câmara Territorial.
O art. 33 ainda prevê que os territórios com mais de cem mil habitantes terão
também um Judiciário próprio de primeira e segunda instância, membros do Ministério
Público e defensores públicos federais.
Em geral, não havendo essa quantidade populacional não haverá judiciário
próprio, então, nesse caso, será o Judiciário do Distrito Federal.
Cada território elege para a Câmara dos Deputados (representantes do povo
brasileiro) quatro representantes, independentemente da população. É uma regra fixa.
Não há eleição para Senadores, aliás, não é ente que compõe a federação.
É importante lembrar que os territórios não possuem autonomia financeira,
portanto, os tributos que seriam arrecadados pelos Estados são realizados pela União.
Os territórios podem ser formados internamente por Municípios, e, estes nada
diferem dos Municípios existentes nos Estados. Os Municípios elegem seus prefeitos, e
ficam com a arrecadação de seus tributos.

4. Repartição de Competências
A repartição pode ser analisada sob vários enfoques. É possível a seguinte
classificação: quanto à natureza da atividade, quanto à origem, quanto à forma, quanto
ao modelo federativo, e quanto à extensão.

I. Quanto à natureza da atividade:

a) Competência Legislativa. Para elaboração de leis sobre certos assuntos.

b) Competência Administrativa. Também chamada de competência executiva


ou material, é a competência para a prática de atos administrativos sobre determinados
assuntos.

II. Quanto à origem:

a) Originárias. São aquelas que a própria Constituição Federal atribui a


determinados entes.

b) Delegadas. São aquelas resultantes da delegação da competência


originária de um ente para outro.

III. Quanto à forma:

a) Competências enumeradas. São aquelas expressamente atribuídas pela


Constituição Federal a certos entes.

b) Competências reservadas ou remanescentes. São aquelas competências


que não foram enumeradas a certos entes poderá ser reservado a um outro ente, ou
seja, o que sobrou.

V. Quanto ao modelo federativo:

a) Horizontais: são aquelas atribuídas a um ente com exclusão dos outros


entes.

b) Verticais: são aquelas atribuídas a mais de um ente, mas havendo uma


variedade de graduação no seu exercício. Por exemplo, competência concorrente (art.
24, da CF), sobre essas matérias a União faz norma geral e os Estados normas
específicas.

VI. Quanto à extensão:

a) Competência Exclusiva: é a que cabe apenas a um ente da federação,


não pode ser delegada a outro ente. Por exemplo, o art. 21 da Constituição que
relaciona as matérias de competência exclusiva da União Federal, que não podem ser
delegadas a outro ente da federação. Exemplo de competência exclusiva dos Estados
é o art. 25, §§ 2o e 3o, da Constituição. Exemplo de competência exclusiva dos
municípios, está no art. 30 da Constituição.
b) Competência Privativa: é aquela que também cabe a apenas um ente,
mas poderá ser delegada a outro. Exemplo: o art. 22 da CF, que prevê a competência
legislativa privativa da União Federal. O art. 21 trata da competência meramente
administrativa. O art. 22 trata da competência legislativa. Todo o conteúdo do art. 22 só
pode ser exercido pela União, porém esta poderá ser delegada, segundo o parágrafo
único do art. 22 da Constituição.
É bom observar que a delegação deve para os Estados em geral, não pode
ser dirigido a um determinado Estado, sob pena de violação do princípio federativo. A
delegação é uma liberalidade da União, mas não acarreta uma obrigação de legislar
para o Estado. O Estado que quiser legisla.
A delegação é sempre feita por lei complementar, e apenas sobre aspectos
específicos das matérias relacionadas no art. 22 da CF, não é uma delegação ampla. E
apenas sobre aspectos específicos dessas matérias do art. 22, não é uma delegação
irrestrita, ilimitada, plena, porque o constituinte não quis aproximar o federalismo
brasileiro com o americano, quis manter um controle maior da União.

c) Competência Comum: encontra-se prevista no art. 23 da Constituição


Federal. É uma competência de natureza administrativa (material). Pode ser exercida
por todos os entes da federação. Como todos podem tratar dessas questões poderiam
ocorrer choques, conflitos. Para evitar conflitos a Constituição Federal no exercício da
competência comum, no parágrafo único do art. 23, disciplinou que por meio de lei
complementar federal seria estabelecido a cooperação entre os entes no exercício da
competência comum, ou seja, quais os aspectos dessas matérias que caberiam
especificamente à União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

d) Competência Concorrente: está no art. 24 da Constituição Federal e tem


natureza legislativa. O caput do art. 24 reconhece competência concorrente à União,
Estados e Distrito Federal, não aparece a figura do Município.
Essa competência funciona sobre as matérias do art. 24. A União fará apenas
normas gerais, enquanto que os Estados e o Distrito Federal fazem normas específicas
sobre assuntos do mesmo artigo.

e) Competência Suplementar: a Constituição Federal designou competência


suplementar aos Estados e Distrito Federal no tocante às matérias do art. 24, nos §§
2o, 3o, e 4o da Constituição.
Significa que se os Estados e o Distrito Federal se quiserem poderão
desenvolver melhor, detalhar, as normas gerais criadas pela União. Por isso, alguns
autores chamam de competência complementar. O Estado pode elaborar, também,
normas gerais, mas em complemento às normas gerais da União.
Há, ainda, uma outra situação onde os Estados também exercem a
competência suplementar. Se a União não criar a norma geral sobre matéria do art. 24,
o Estado terá capacidade legislativa plena para elaboração de normas gerais. Se,
posteriormente, a União fizer a norma geral, as normas elaboradas pelos Estados
serão suspensas apenas nos pontos que contrariarem a norma geral da União.
Perceba que o § 4o, do art. 24 não diz revogadas, mas suspensas.
A Constituição Federal prevê também uma competência suplementar dos
Municípios que está em seu art. 30, II, segundo o qual compete aos Municípios
suplementar a legislação federal e a estadual no que couber. A doutrina e a
jurisprudência tem interpretado a expressão a expressão “no que couber”, como
interesse local. O Município poderá complementar uma lei federal ou estadual se
houver aspectos de interesse local.

f) Competência Remanescente ou Reservada ou Residual: significa que


tudo aquilo que a Constituição não enumerar expressamente como sendo de
competência da União ou dos Municípios, nem como competência comum ou
concorrente, o remanescente caberá aos Estados.
A Constituição Federal enumera as competências do Governo Central e o
resto caberá aos Estados, por exemplo, transporte, a Constituição define como
competência da União diretrizes sobre transporte e trnsportes interestaduais e
internacional, a Constituição enumera, também, como competêcia principal os aspectos
de interesse local de transporte coletivo, toda a disciplina dos Municípios sobre
transportes, e não enumera em nenhum momento a competência para tratar de
transportes intermunicipais, se não foi enumerada a nenhum ente, sobrou, portanto,
para os Estados. Não se confunde com a competência tributária residual da União
Federal.

5. Formação da Federação: por agregação ou por segregação

A formação da federação por agregação é aquela que se forma a partir de


Estados soberanos que decidem se unir. Assim, estes Estados soberanos abrem mão
de sua soberania que passa a ser apenas da federação, da união destes Estados que
passam a ter autonomia. É o caso da formação da federação dos Estados Unidos. Diz-
se que sua formação ocorre por meio de um movimento centrípeto, sendo aquele que
tende a aproximar-se do centro.
A formação da federação por segregação é aquela na qual originariamente
existe um Estado Unitário e posteriormente ele é dividido para formar a federação. É o
caso da formação da federação Brasileira, já que no Brasil Império foi um Estado
Unitário que após a República optou pela forma federativa de Estado. Diz-se que sua
formação ocorre por meio de um movimento centrífogo, sendo aquele que possui a
tendência de se afastar do centro.

6. Formação dos Estados-Membros

Atualmente o Brasil possui 26 Estados e o Distrito Federal, esse número pode


ser reduzido ou ampliado, conforme disposição supra.
Os critérios de modificação encontram-se no citado § 3o, do art. 18 da
Constituição, que prevê os fenômenos da incorporação entre si, subdivisão e o
desmembramento. Assim, os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou
desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios
Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de
plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.

a) Incorporação: embora a expressão “entre si” pareça insignificante,


provocou uma enorme discussão na doutrina. Essa expressão não combina com o
significado de incorporação, nesta um determinado ente, o incorporador absorve o
outro, o incorporado, que deixa, então, de existir, foi o que aconteceu com o Estado da
Guanabara que foi incorporado pelo Estado do Rio de Janeiro.
A expressão “entre si” é própria de um outro fenômeno conhecido como
fusão, isto é, quando dois ou mais entes se integram. O resultado desta união é o
desaparecimento dos entes originários e o aparecimento de um elemento distinto.
Como reconhece José Afonso da Silva e Alexandre de Morais, no momento
em que a Constituição Federal fala em incorporação entre si está definindo o fenômeno
da fusão.
Observação: segundo o art. 48, VI, da CF: cabe ao Congresso Nacional, com
a sanção do Presidente da República, não exigida esta para o especificado nos arts.
49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente
sobre: incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de Territórios ou
Estados, ouvidas as respectivas Assembléias Legislativas. Percebe-se que o artigo
acima fala apenas em incorporação. Assim, também temos o reconhecimento da
incorporação.
b) Subdivisão: um determinado Estado se desintegra por completo. Suas
partes terão destinos variados. O que configura a subdivisão é o desaparecimento total
do Estado subdividido.

c) Desmembramento: um determinado Estado perde uma parcela de sua


área territorial, mas continua existindo. Juridicamente é o mesmo Estado, fisicamente
menor.

REQUISITOS DA INCORPORAÇÃO, SUBDIVISÃO E DESMEMBRAMENTO

a) Realização de Plebiscito. De acordo com os termos do § 3o, do art. 18,


para que a população diretamente interessada se manifeste. Embora a Constituição
Federal utilize o termo população é apenas o eleitorado que deve participar do
plebiscito. No termo técnico seria o povo. De acordo com a Lei 9.709/98, que regula o
plebiscito, se o resultado do plebiscito for desfavorável à formação do Estado, a
tentativa de formação do Estado encerrar-se-á. Se o resultado for favorável à formação
do Estado, deve-se realizar os demais requisitos.

b) Oitiva das Assembléias Legislativas dos Estados envolvidos. Tendo


uma atuação meramente opinativa, não decisória, é claro que haverá manifestação dos
Estados envolvidos, através do seu Poder Legislativo.

c) Lei Complementar. Deve ser aprovada pelo Congresso Nacional Lei


Complementar determinando a formação do Estado. A função decisiva é do Congresso
nacional. Também pode rejeitar, afinal, não se deve esquecer que participa do
plebiscito apenas uma parcela do eleitorado, sendo que não pode uma parcela do
eleitorado vincular o órgão que representa os eleitores de todos os Estados.

Os dois primeiros requisitos servem para instruir, dar elementos ao


Congresso Nacional. As manifestações das Assembléias Legislativas estão previstas
no art. 48, VI, da Constituição Federal.

7. Formação dos Municípios

O § 4o, do art. 18, da Constituição Federal, prevê a criação, incorporação,


fusão e desmembramento de Município. A criação, a incorporação, a fusão e o
desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período
determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia,
mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos
Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei.
Não foi prevista a subdivisão para os Municípios, somente para os Estados.
Percebe-se que a redação do dispositivo constitucional é mais clara, não fala de
incorporação entre si, e autoriza tanto a fusão como a incorporação. E coloca o termo
“criação” independente dos demais, dando um significado próprio, que não se confunde
com os demais fenômenos.
Assim, o citado dispositivo constitucional prevê quatro fenômenos modificativos
dos Municípios: criação, incorporação, fusão e desmembramento.

a) Incorporação. Um determinado município, o incorporador, absorve, incorpora,


engloba um outro município, chamado de incorporado, esse município incorporado
deixa, então de existir, e o incorporador continua existindo, só que maior.

b) Fusão. Dois ou mais municípios se integram e o resultado desta união é o


surgimento de um município distinto dos originários.

c) Desmembramento. Os municípios que sofre o desmembramento perdem


parcela de território, porém, continuam existindo.

d) Criação. É a hipótese de surgimento de município em área não pertencente a


outro município.

REQUISITOS PARA FORMAÇÃO DOS MUNICÍPIOS

a) Plebiscito. A Constituição Federal faz referência para manifestações das


populações diretamente interessadas.

b) Lei Complementar. Deve ser aprovada pelo Congresso Nacional, fixando o


período m que poderia ocorrer em todo o país a formação de municípios. É o papel da
União por meio do Congresso. Esta lei complementar até hoje não foi aprovada.

c) Estudos de Viabilidade. Diz a Constituição brasileira da apresentação de


viabilidade municipal na forma da lei, entende-se que essa lei é federal. Se a
Constituição Federal não especifica é lei federal ordinária, que até hoje não foi
aprovada. Não há, portanto, definição desses estudos, e do órgão que teria
competência para sua elaboração.

d) Aprovação de Lei Estadual. Esta lei determina a formação do município, o


ente que determina é o Estado, por lei estadual. Como a Constituição Federal diz
apenas lei estadual, entende-se que é lei ordinária. A Constituição de São Paulo diz lei
complementar, deve ser dada primazia à Constituição Federal, portanto, é lei estadual
ordinária.

Dos quatro requisitos, dois dependem de regulamentação, a lei complementar e


os estudos de viabilidade. O Supremo Tribunal Federal tem entendido que o § 4o é uma
norma constitucional de eficácia limitada, ou seja, é uma norma incompleta, cuja
aplicação prática depende de uma regulamentação, de uma providência posterior.
Enquanto não surge a regulamentação da norma, esta não terá aplicabilidade prática,
por isso é chamada por Maria Helena Diniz como norma de eficácia relativa
dependente de complementação, assim, não seria possível a formação de Município,
sob pena de inconstitucionalidade enquanto não surgisse a regulamentação. A partir de
1996 o Supremo Tribunal Federal vem julgando inconstitucional o desmembramento de
município.

8. Distrito Federal

Encontra-se previsto no art.32 CF. É um ente típico da forma federativa em que


o Brasil importou dos Estados Unidos. Surgiu para que fosse reservada uma área
territorial para abrigar a sede da União Federal, portanto, uma área que não pertenceria
a nenhum Estado-Membro da Federação. Afinal, a União não pode se confundir com
os Estados-membros. Essa é a razão de ser dessa figura sui generis chamada Distrito
Federal.
Foi atribuída autonomia a este ente para não se confundir com a própria União
Federal, que tem em vista questões de interesse nacional, e assim não ficasse com o
encargo de governar e administrar a vida social que existe naquela área, criada para
abrigar a sua sede. Assim, para aliviar a União deste encargo é que foi conferida
autonomia ao Distrito Federal. A confusão é geográfica, porém, juridicamente são entes
distintos a União e o Distrito Federal.
O nome que se dá ao documento organizativo desse ente federativo e elaborado
por ele é Lei Orgânica. O Poder Executivo do Distrito Federal tem a particularidade do
Governador também contar com o auxílio dos Administradores Regionais, além dos
Secretários distritais. Isso decorre do fato que o Distrito Federal não é formado por
Municípios e não pode ser dividido em Municípios.
Outra peculiariedade diz respeito ao Poder Legislativo, esta Câmara Legislativa
exercerá as competências legislativas do Distrito Federal, isto é, aquelas que seriam
estaduais e as municipais.

9. Intervenção Federal e Intervenção Estadual

A regra em nosso ordenamento jurídico é a de que não haja intervenção da


União nos Estados e nem no Distrito Federal (também da União nos Municípios
contidos em Território Federal). O mesmo também vale para os Estados em face dos
Municípios constantes de seu território. Entrementes, para a salvaguarda da pontos
constitucionais que o constituinte entendeu por bem privilegiar restou autorizada a
intervenção, nos moldes dos artigos 34, 35 e 36 da Constituição Federal.

INTERVENÇÃO FEDERAL

Consoante o já informado, prevalece a regra geral da autonomia dos entes federativos.


Contudo, excepcionalmente, será admitido o sobrestamento dessa autonomia, não
obstante claro o propósito de assegurá-la. A UNIÃO somente poderá intervir nos
Estados e no Distrito Federal. A UNIÃO não poderá intervir diretamente nos Municípios,
exceto se pertencentes a Território Federal (Autarquia Federal).

A UNIÃO intervirá nos Estados e no Distrito Federal, para: a. manter a integridade


nacional; b. repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra; c.
pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; d. garantir o livre exercício de
qualquer dos Poderes nas unidades da Federação; e. reorganizar as finanças da
unidade da Federação.

INTERVENÇÃO ESTADUAL

O ESTADO não intervirá em seus MUNICÍPIOS e a UNIÃO nos Municípios localizados


em Territórios Federais, exceto quando: a. deixar de ser paga, sem motivo de força
maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada; b. não forem prestadas contas
devidas, na forma da lei; c. não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita
municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços
públicos de saúde; d. o Tribunal de Justiça der provimento a representação para
assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para
prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.
Tema VII: Estado Brasileiro e Nacionalidade

1. Conceito de nacionalidade

Conforme ensina Manoel Gonçalves Ferreira Filho (Curso de Direito


Constitucional), a nacionalidade representa o status de um indivíduo em face do
Estado. De sorte que o indivíduo em face de um dado Estado ou é nacional ou é
estrangeiro. O conjunto de nacionais, constitui o povo. Entretanto, você precisa
observar que quando um indivíduo tiver mais de um vínculo jurídico ou, em outras
palavras, mais de uma nacionalidade, ele será um polipátrida. Já aqueles que não
possuírem vínculo jurídico algum, com qualquer país, é identificado como um apátrida.

2. Formas de aquisição da nacionalidade

São dois os tipos de nacionalidade: a originária e a secundária.


A nacionalidade originária é aquela adquirida pelos critérios do “jus soli” e do “jus
sanguinis”. O primeiro, o do “jus soli” refere-se ao território no qual o indivíduo nasce e
o segundo, do “jus sanguinis”, refere-se ao critério da ascendência do indivíduo. Neste
caso, observe que independe da vontade do indivíduo a aquisição da nascionalidade. É
o nacional nato.
A nacionalidade secundária é aquela obtida a partir de um processo de
naturalização, portanto exige a vontade do naturalizado e, também, a concordância do
Estado em conceder a nacionalidade. Trata-se de um ato de soberania do Estado. é o
nacional naturalizado.

3. Hipóteses de aquisição da nacionalidade brasileira

De acordo com o art.12 da Constituição, são brasileiros:

I – NATOS
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros,
desde que estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, desde que qualquer deles
esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade,
pela nacionalidade brasileira;

II – NATURALIZADOS
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos
originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e
idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa
do Brasil há mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que
requeiram a nacionalidade brasileira.

Obs.: aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade


em favor dos brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os
casos previstos nesta Constituição. É a chamada “quase nacionalidade” conferida aos
portugueses, prevista no art.12, §1° da Constituição. Ressalta-se que, neste caso, não
se trata de hipóteses de naturalização.

4. Distinção entre brasileiros natos e naturalizados

A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados,


salvo nos casos previstos pela própria Constituição. São casos de distinção previstos
constitucionalmente:

 Extradição: nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em


caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, na forma da lei;

 Cargos privativos: são privativos de BRASILEIRO NATO os cargos: de


Presidente e Vice-Presidente da República; de Presidente da Câmara dos
Deputados; de Presidente do Senado Federal; de Ministro do Supremo
Tribunal Federal; da carreira diplomática; de oficial das Forças Armadas; e,
de Ministro de Estado da Defesa.

 Outros casos de distinção previstos constitucionalmente são os do art.12,


§4°, I; art.89, VII e o art.220 da Constituição.

5. Perda da nacionalidade brasileira

Perderá a nacionalidade, o brasileiro que:

 Tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de


atividade nociva ao interesse nacional; ou

 Adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:


a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela forma estrangeira, ao brasileiro
residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu
território ou para o exercício de direitos civis.
Tema VIII: Estado Brasileiro e Direitos Políticos

1. Princípio da soberania popular

A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e
secreto, com valor igual para todos.

2. Conceito de cidadania

O cidadão não se confunde com o nacional. Para ser cidadão, para ser titular
de direitos e obrigações políticas, é necessária a nacionalidade brasileira. Contudo, não
é todo nacional brasileiro que é cidadão, pois nem todo nacional se encontra no pleno
gozo dos direitos políticos.

3. Forma de aquisição da cidadania

A cidadania é conquista com o alistamento eleitoral, que é a inscrição do


indivíduo como eleitor em Cartório Eleitoral.

4. Democracia direta, indireta e semi-direta

A democracia direta é quando os indivíduos participam da vida política sem


intermediários. A Constituição determina que esta participação pode ocorrer por meio
dos seguintes instrumentos:
 PLEBISCITO: é a consulta prévia; precede, portanto, ao ato legislativo ou
administrativo, condicionando o legislador ou administrador à sua deliberação;
 REFERENDO: é a consulta posterior ao estabelecimento do ato legislativo ou
administrativo, ratificando-o ou rejeitando-o;
 INICIATIVA POPULAR: é a possibilidade assegurada ao povo de apresentar um
projeto de lei.
A democracia indireta é aquela que se efetiva por meio dos representantes
eleitos pelo povo. E, por fim, a democracia semi-direta aquela que agrega a
participação direta e a indireta.

5. Direitos políticos positivos ativos

Os direitos políticos positivos ativos correspondem ao exercício de votar.


Inicia-se a capacidade eleitoral ativa a partir do alistamento eleitoral, que é o momento
que o indivíduo adquire o seu título de eleitor.
O alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios aos maiores de 18 anos e
facultativo aos analfabetos, aos maiores de 70 anos e aos maiores de 16 e menores de
18 anos. Não podem alistar-se como ELEITORES: os estrangeiros e, durante o período
do serviço militar obrigatório, os conscritos.
Você deve se atentar que o voto não se confunde com os conceitos de
sufrágio, escrutínio e eleitorado. O sufrágio é a manifestação que se realiza por meio
do voto. Escrutínio é o mecanismo de apuração dos votos (voto secreto ou voto
aberto). Eleitorado é o conjunto dos cidadãos que exercitam o direito de sufrágio.
O voto é o instrumento de exercício do sufrágio e caracteriza-se por ser direto,
secreto, universal, período e igual para todos.
6. Direitos políticos positivos passivos

Os direitos políticos positivos passivos deizem respeito a possibilidade de um


indivíduo se eleger. Assim, as condições de elegibilidade são determinadas pela
Constituição, como sendo:
 a nacionalidade brasileira;
 o pleno exercício dos direitos políticos;
 o alistamento eleitoral;
 o domicílio eleitoral na circunscrição;
 a filiação partidária;
 a idade mínima de:
- 35 anos para Presidente, Vice-Presidente e Senador;
- 30 anos para Governador e Vice-Governador;
- 21 anos para Deputado Federal e Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-
Prefeito e Juiz de Paz;
- 18 anos para Vereador.

7. Direitos políticos negativos

Os direitos políticos negativos apontam as inelegibilidades. Portanto, você


deve saber, também, quais são os obstáculos para que um indivíduo possa se eleger.
A doutrina faz uma divisão entre as chamadas inelegibilidades absolutas e relativas.
As inelegibilidades absolutas são os inalistáveis (estrangeiro, conscritos,
menores de 16 anos, menores de 18 anos não alistaos) e os analfabetos.
As inelegibilidades relativas podem ser de ordem: funcional, reflexiva, militares
e legais.
As inelegibilidades relativas de ordem funcional são: a. reeleição para um
único período subsequente; b. por não ter desincompatibilizado do cargo, ou seja, para
concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e
do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até 6
meses antes do pleito.
As inelegibilidades relativas reflexivas são, no território de jurisdição do titular,
o cônjuge e os parentes consanguineos os afins, até o segundo grau ou por adoção, do
Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de
Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos 6 meses anteriores ao pleito, salvo
se já titular de mandato eletivo e condidato à reeleição.
As inelegibilidades relativas militares determina que se o militar não atender as
condições impostas a ele para elegibilidade, ele não poderá se eleger. As condições de
elegibilidade dos militares são: contar menos de 10 anos de serviço, deverá afastar-se
da atividade; e, contar mais de 10 anos de serviço, será agregado pela autoridade
superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a
inatividade (reserva).
As inelegibilidades relativas legais são as disciplinadas pela Lei Complementar
n.64/90 e n.135/2012. Esta última trouxe a previsão da conhecida “Ficha Limpa”
necessária aos candidatos que queiram se eleger.

8. Perda ou suspensão dos direitos políticos


É VEDADA A CASSAÇÃO DE DIREITOS POLÍTICOS, cuja perda ou
suspensão só se dará nos casos de: cancelamento da naturalização por sentença
transitada em julgad; incapacidade civil absoluta; condenação criminal transitada em
julgado, enquanto durarem seus efeitos; recusa de cumprir obrigação a todos imposta
ou prestação alternativa; e, improbidade administrativa.

9. Princípio da Anuidade

O princípio da anuidade é identificado pela doutrina a partir da previsão


constitucional de que a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de
sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até 1 (um) ano da data de sua
vigência.
Tema IX: A Ordem Econômica e Social na
Constituição

1. Ordem Econômica e Social na Constituição

A Ordem Econômica e Social na Constituição não estão disciplinadas


juntamente no mesmo título da Constituição. A Ordem Econômica encontra-se
disciplinada constitucionalmente, juntamente com a Ordem Financeira, no Título VII da
Constituição. Já a Ordem Social encontra-se prevista no título VIII da Constituição.
Ambos são conquistas do chamado Estado Social, que tem como
documentos marcantes de seu início a Constituição do México (1917), a Constituição
da Alemanha (1919) e o Pacto Internacional sobre direitos econômicos, sociais e
culturais. No Brasil, o documento que marca a conquista destes direitos pelos
indivíduos é a Constituição de 1934.

2. Ordem Econômica e Financeira

No art.170 da Constituição, aponta como sendo fundamentos da Ordem


Econômica: a valorização do trabalho e a livre iniciativa. Portanto, o constituinte
originário optou pela livre iniciativa, ou seja, a liberdade de ingressar na atividade
econômica (sistema capitalista), contudo pautada pela valoização do trabalho humano.
Também, este mesmo artigo, ensina que a finalidade da atividade econômica
é assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social e pautada
pelos princípios gerais da atividade econômica.

PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA

Os princípios da atividade econômica orietam a atuação econômica. Apesar


de ser adotado o sistema capitaslista, marcado pela características da liberalidade, ele
deve se pautar pelos princípios apontados constitucionalmente, quais sejam:
 Soberania nacional;
 Propriedade privada;
 Função social da propriedade;
 Livre concorrência;
 Defesa do consumidor;
 Defesa do meio ambiente;
 Redução das desigualdades regionais e sociais;
 Busca do pleno emprego;
 Tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte.

INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ORDEM ECONÔMICA

O Estado pode intervir na atividade econômica de forma direta ou de forma


indireta. A chamada intervenção direta é aquela que o Estado intervém na Ordem
Econômica como “agente econômico”, ou seja, como realizador de atividade
econômica, voltada para situações de monopólio ou de competição. Por outro lado, a
chamada intervenção indireta é aquela que o Estado intervém na Ordem econômica
como “agente normativo e regulador” da atividade econômica, ou seja, quando
fiscaliza, incentiva e planeja (para o setor público, sendo apenas indicativo para o setor
privado) a atividade econômica.
Observa-se que a intervenção do Estado como agente econômico ocorre de
forma excepcionalíssima. A exploração direta da atividade econômica pelo Estado só
será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a
relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.

ORDEM FINANCEIRA

O Sistema Financeiro Nacional teve os seus incisos, alíneas e parágrafos


revogados pela EC n.40 de 2003. Hoje faz previsão em seu “caput” dos objetivos a
serem perseguidos, sendo eles:
 Estruturar o sistema financeiro nacional;
 Promover o desenvolvimento equilibrado do país;
 Servir aos interesses da coletividade como um todo;
 Fomentar o cooperativismo de crédito;
 Regular a participação do capital estrangeiro nos instituições que o
integram.

3. Ordem Social

Os direitos sociais encontram previsão constitucional no título II, capítulo II,


como um direito fundamental, e no título VIII que trata da Ordem Econômica. Estes
direitos possuem uma peculiariedade em relação aos direitos de liberdade, qual seja a
de demandarem, em grande parte, recursos orçamentários por parte do Estado. A
utilização de recursos orçamentários para a realização destes direitos faz com que
muitas vezes não se alcance a concretização ideal destes que demandam uma
atuação prestativa por parte do Estado. São direitos pertencentes a segunda geração
dos direitos fundamentais, conquistados pelo Brasil a partir da Constituição de 1934.

SEGURIDADE SOCIAL

A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa


dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à
saúde, à previdência e à assistência social.
A saúde caracteriza-se pelas características principais de acesso universal e
igualitário a todas as pessoas, sendo apenas necessária a inscrição no SUS, sem que
haja qualquer forma de pagamento pelo serviço utilizado.
A previdência e a assistência social são utilizados para assegurar o mínimo
existencial para os indivíduos viverem com dignidade. Ocorre que a previdência exige
que o indivíduo contribua financeiramente para obter os seus serviços. Já a assistência
social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à
seguridade social.
Observa-se que a seguridade social será financiada por toda a sociedade, de
forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

EDUCAÇÃO
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Atualmente existem a educação básica e a educação superior. A educação
básica é formada pela educação infantil (creche e pré-escola, às crianças até 5 anos de
idade), fundamental e média. Já a educação superior, é formada pelo bacharelado e o
pós-graduação.
É direito subjetivo do índivíduo a educação básica que, inclusive, é obrigatória.
É dever do Estado a garantia da educação básica obrigatória e gratuita dps 4 aos 17
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a eça não
tiverem acesso na idade própria.
O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua offerta
irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

CULTURA

O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às


fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais. O Estado deve democratizar a cultura, sendo seu dever
proteger as manifestações das culturas populares, indpigenas e afro-brasileiras, e das
de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.

DESPORTO

É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como


direito de cada um. As práticas desportivas formais A prática desportiva formal é
regulada por normas nacionais e internacionais e pelas regras de prática desportiva de
cada modalidade, aceitas pelas respectivas entidades nacionais de administração do
desporto. A prática desportiva não-formal é caracterizada pela liberdade lúdica de seus
praticantes. Ressalta-se que o desporto abrange caráter educacional, forma de lazer e
de rendimento.

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a


capacitação tecnológica. A pesquisa científica básica receberá tratamento prioritário do
Estado, tendo em vista o bem público e o progresso das ciências. A pesquisa
tecnológica voltar-se-á preponderanetmente para a solução dos problemas brasileiros e
para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional.
Observa-se que é facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular parcela
de sua receita orçamentária a entidades públicas de fomento ao ensino e à pesquisa
científia e tecnológica.

COMUNICAÇÃO

A comunicação envolve um conjunto de liberdades, a manifestação do


pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou
veículo. Elas não sofrerão qualquer restrição, desde que observado os ditames
constitucionais. Isso porque em determinadas situações a Constituição determinou
limites para o exercício destas liberdades, como por exemplo competir a lei federal
regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público informar sobre
a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em que
sua apresentação se mostre inadequada. Também, compete a lei federal estabelecer
os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem
de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem os princípios
constitucionais estabelecidos para as programações das emissoras de rádio e de
televisão, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser
nocivos à saúde e ao meio ambiente.

PROTEÇÃO À FAMÍLIA, À CRIANÇA, AO IDOSO E AOS ÍNDIOS

A Constituição traz proteção à família, à criança, ao adolescente, ao jovem e ao


idoso. Para o Estado Brasileiro, a família é a base da sociedade e tem especial
proteção do Estado. Entende- se como entidade familiar a comunidade formada por
qualquer dos pais e seus descendentes.
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direiro à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão. Seus direitos ainda são assegurados pelo Estatuto da criança e do
adolescente (Lei n.8069/90).
Em relação ao idoso, a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar
as pessoas idosas, assegurando sua participação na comuniddade, defendendo sua
dignidade e bem-estar e garantindo-lhe o direito à vida. Também, possui proteção
específica no Estatuto do idoso (Lei n.10741/2003).
Por fim, são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente
ocupam, competeindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus
bens. Observa-se que são terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles
habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as
imprescindpiveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar
e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e
tradições.
CONCLUSÃO
Nesse tema, você conheceu o Texto Constitucional a partir do estudo do seu
surgimento até a sua atual contextualização. Viu suas concepções e classificações. Viu
que é a partir do poder constituinte que uma Constituição nasce e, também, o meio
pelo qual ela se modifica. Viu o estudo de como buscar o sentido da Constituição a
partir da sua interpretação e eficácia das normas constitucionais. De outro lado, viu
como a Constituição organiza o Estado, com a adoação do tipo federativo, em que teve
oportunidade de aprofundar neste sentido o seu conhecimento. Também, estudou os
direitos reletivos a nacionalidade e políticos. E, por fim, você viu a Ordem Econômica e
Social na Constituição.

MAIS SABER
Leia o texto “A americanzação do direito constitucional e seus paradoxos: teoria e
jurisprudência constitucional no mundo contemporâneo, do Professor e Ministro do
Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso.
O texto apresenta a evolução e atualidade sobre o constitucionalismo, passando pela
influência que a doutrina americana teve no direito brasileiro.

Barroso, Luís Roberto. A americanização do direito constitucional e seus paradoxos:


teoria e jurisprudência constitucional no mundo contemporâneo.
http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-
content/themes/LRB/pdf/a_americanizacao_do_direito_constitucional_e_seus_paradox
os.pdf

MOMENTO CULTURAL
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros;

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva;

MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires e BRANCO, Paulo Gustavo


Gonet. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva;

BIBLIOGRAFIA BÁSICA
ARAUJO, Luiz Alberto David. NUNES Jr., Vidal Serrano. Curso de Direito
Constitucional. Ed.: Saraiva;

MORAES, Alexandre de., Direito Constitucional. São Paulo: Atlas;

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros.

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