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Academia Judicial
Pós-graduação em gestão interdisciplinar de conflitos no judiciário contemporâneo
Disciplina: Mediação Judicial
Professora: Geani Ester Rippel
Alunas: Eliane Aparecida Teixeira, Rafaela Fátima Marques e Silvana de Souza
Goulart
3. Cejusc em Lages
A partir do ano de 2010, com o surgimento da legislação específica referente às
formas ideais de solução de conflitos, houve uma mudança de paradigma em relação à
judicialização das relações, segundo o entrevistado. No mesmo ano, o Conselho Nacional
de Justiça (CNJ) instituiu a resolução n. 125/2010, que dispõe sobre a Política Judiciária
Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder
Judiciário. Em Lages, o juiz Sílvio Dagoberto Orsatto, que já era envolvido em diversos
outros projetos - como por exemplo, a implantação das casas da cidadania, os mutirões
fiscais, os juizados populares e o instituto de parentalidade responsável - participou
ativamente na criação do Cejusc na cidade, sendo designado para atuar como juiz
coordenador na portaria n. 727 de 11 de dezembro de 2015. Anteriormente, em 17 de
setembro de 2015, foi reconhecida a data de criação do Cejusc de Lages. Cabe salientar
que na região Serrana do estado, Lages foi pioneira na implantação do Cejusc.
Até os dias atuais, o município conta com esta unidade do Cejusc, onde funcionam
os serviços de conciliação e mediação extrajudicial ou pré-processual e orientação aos
indivíduos sobre direitos referentes ao exercício da cidadania. Cumpre salientar que, neste
município, também existe um serviço de mediação familiar judicial, isto é, já na fase
processual, que é formado por uma equipe multiprofissional, sendo coordenado por uma
professora do curso de psicologia da UNIPLAC. Ambos ficam localizados dentro do
campus da Universidade. O Cejusc fica dentro do espaço da Unidade Judiciária de
Cooperação - Vara da Universidade.
De acordo com Mello & Baptista (2011), a mediação judicial possui relação com
os princípios que são colocados em prática dentro das instituições judiciais, isto é, quando
as partes envolvidas em um conflito são encaminhadas por um juiz para as sessões de
mediação no contexto judicial. A mediação extrajudicial, por sua vez, está relacionada ao
que ocorre fora dos muros dessas instituições e dos processos judiciais. Este trabalho teve
como objetivo compreender o funcionamento do Cejusc de Lages, ou seja, o serviço de
mediação extrajudicial (ou pré-processual) desenvolvido no município, realizando, para
isso, uma entrevista com o secretário do serviço.
5. Dificuldades encontradas
O entrevistado Cláudio afirma que as dificuldades do Cejusc de Lages podem ser
resumidas em dois eixos: a falta de entendimento dos magistrados sobre a importância e
a utilidade dos Cejuscs e a superestrutura do Poder Judiciário, que é hierarquizada e
elitizada.
A falta de entendimento dos Magistrados sobre a importância e utilidade dos
Cejuscs é apontada pelo entrevistado como principal e primeira dificuldade. Explica que
a cultura do litígio e o processo de judicialização da vida está muito arraigado na cultura
jurídica, havendo até mesmo oposição por parte de alguns Magistrados em delegar o
“poder” que lhes é conferido, aquela capacidade que só o juiz detém de “dizer o Direito”.
Coadunando com este posicionamento, explica Rifiotis, (2007, p. 237) que: “Tal
processo (judicialização) implica um duplo movimento, pois ele amplia o acesso ao
sistema judiciário e ao mesmo tempo desvaloriza outras formas de resolução de conflito,
reforçando ainda mais a centralidade do Judiciário.”
O segundo eixo, Cláudio explica que é justamente a questão estrutural do Poder
Judiciário, a superestrutura deste Poder, que é hierarquizado e elitizado. Dentro desta
instituição, é um grande desafio manter os Juizados Especiais e Cejuscs funcionando
dentro dos fóruns, ou mesmo sendo apoiado pelos Magistrados. Afirma que são poucos
os magistrados que possuem uma postura mais vanguardista, que incentivam e apoiam
iniciativas como estas, mesmo com recomendação legal.
Ainda dentro deste eixo, ele reflete acerca da diminuição de atendimentos pelo
Cejusc, comparando os anos de 2017 e 2018. Relatou que, como o serviço funciona na
Unidade de Cooperação dentro da Universidade, a instituição começou a se incomodar
que tantas pessoas com aspecto simples, muitas vezes usando chinelos, começassem a
circular no campus. Chegaram a instalar câmeras de segurança, exercendo uma
hipervigilância em relação aos usuários do serviço. Sobre esta estigmatização da
população pobre no país, Favero (2012, p. 134) afirma que o direito da população ter
acesso à justiça por meio do Poder Judiciário está longe de ser assegurado a grande parte
das pessoas. Este acesso é privilégio de quem tem recursos financeiros para pagar
advogados e despesas processuais. A autora finaliza dizendo: “Isso nos permite afirmar
que a justiça nesse país tem classe social”.
Ainda que seja possibilidade de campo de estágio, sabe-se que o curso de Direito
desta Universidade é, de certa forma, elitizado, e é frequentado pelos filhos e/ou netos de
famílias conhecidas, com certa influência na cidade. Para agravar, o curso já apresenta
em si características próprias de uma ideologia conservadora e tradicional. A Vara da
Família, que funcionava com juízes substitutos, recebeu o juiz titular em 2018, onde ele
próprio centraliza as audiências de conciliação, obtendo êxito em grande parte delas.
6. Potencialidades
O servidor Cláudio destaca que, com a promulgação do Novo Código de Processo
Civil (Novo CPC), em 2015, a qual determina a tentativa exaustiva de conciliação antes
da instrução processual, impulsionou uma mudança na cultura do litígio, mesmo que por
iniciativa da legislação. Foi assim que a implantação dos Cejuscs começou a ganhar
visibilidade e força.
Porém, recentemente ocorreu uma tentativa de retrocesso às atividades dos
Cejuscs em nível estadual. Havia sido delegada a diretores dos fóruns a responsabilidade
pelo funcionamento e coordenação dos Cejuscs. Felizmente a desembargadora
responsável revogou essa determinação, deixando a coordenação a cargo do Juiz
responsável pelos Juizados Especiais ou então da Vara da Família.
Cláudio reflete que um dos principais fatores que levam a população a buscar os
serviços extrajudiciais no Cejusc é a fragilizada socioeconômica. Como são serviços
ofertados gratuitamente, é uma forma das pessoas terem acesso à justiça mesmo sem ter
boas condições financeiras para custear despesas judiciais e de advogados. Tudo isso,
aliado às dificuldades de um processo judicial, principalmente o longo tempo que leva
para finalizar, faz com que as pessoas queiram ter uma resposta mais rápida às demandas.
Outro fator, igualmente importante, é o despertar de consciência das pessoas de
que podem elas mesmas acordar e resolver seus problemas, sem ter que delegar esta
responsabilidade a outra pessoa, pois, conferir ao outro uma decisão referente a sua
própria vida, nem sempre contempla as necessidades de todos os envolvidos. Ganancia
(2001, p. 7) explica: “Os conflitos familiares antes de serem conflitos de direito, são
essencialmente afetivos, psicológicos, relacionais, antecedidos de sofrimento, por isso
não podem resumir-se ao ato do juiz de dizer o direito, porquanto exigem participação
recíproca das partes”.
“A mediação surge num cenário de mudanças culturais e de valores que instigam
pensar no limite entre o público e o privado e na interferência do Estado nas relações. A
mediação, nesse sentido, assegura a intimidade das relações, o reconhecimento das
diferenças e o empoderamento dos sujeitos.” (GROENINGA, 2007 apud OLIVEIRA,
2016, p.268).
Quase dez anos depois, com as normatizações acerca da implantação dos Cejuscs
em nível nacional, o que ocorreu foi uma ampliação e inclusão de serviços alternativos e
ideais de solução de conflitos. Os Cejuscs começaram então a ser implantados em Santa
Catarina, englobando as técnicas de mediação familiar e padronizando as capacitações
nos moldes determinados pela legislação. Tais capacitações já aconteciam no estado com
foco na mediação familiar, e mais de 87% dos serviços de mediação familiar existentes
em funcionamento eram coordenados e articulados por assistentes sociais, conforme
pesquisa realizada por assistentes sociais da região oeste do Estado.
O trabalho aqui realizado demonstra que na Região Serrana de Santa Catarina
formada por 08 Comarcas, Lages foi pioneira com a implantação do Cejusc no espaço
da instituição educacional universitária - Uniplac no ano de 2015. Desde então, o serviço
vem sendo oferecido à comunidade num espaço considerado pequeno pelo servidor
entrevistado e, até o momento, atuam apenas dois servidores efetivos do quadro do Poder
Judiciário e dois estagiários de Direito.
Ao tratar do perfil pessoal e profissional dos mediadores, Alcebir Dal Pizzol
(2016, p.228) pontua a necessidade do operador ter conduta ilibada e se despir de vaidade
e preconceitos, além de ter conhecimento na área das relações humanas.
Profissionais como assistentes sociais, psicólogos e pedagogos, pelo conteúdo
do aprendizado acadêmico, e diante das experiências em desenvolvimento,
têm apresentado alto índice de conciliações positivas. Em militância
pedagógica para angariar parceiros e simpatizantes, tem-se buscado entabular
debates nas universidades catarinenses, principalmente nos cursos de Serviço
Social, Psicologia e Direito, na perspectiva de despertar professores e alunos
para esse novo nicho de trabalho e, consequentemente, convidá-los a construir
ainda incipiente método de conciliação e da mediação (Dal Pizzol, 2016,
p.228).