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Tribunal de Justiça de Santa Catarina

Academia Judicial
Pós-graduação em gestão interdisciplinar de conflitos no judiciário contemporâneo
Disciplina: Mediação Judicial
Professora: Geani Ester Rippel
Alunas: Eliane Aparecida Teixeira, Rafaela Fátima Marques e Silvana de Souza
Goulart

Local: CEJUSC do município de Lages


Entrevistado: Cláudio Augusto Lima da Costa

1. Origem dos Cejuscs (Centros Judiciários de Solução de Conflitos e


Cidadania)
No ano de 2010, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) editou a resolução nº
125/2010, que “Dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos
conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências”. Nesta
resolução, foi determinado que os tribunais deveriam criar “Núcleos Permanentes de
Métodos Consensuais de Solução de Conflitos” coordenados pelos magistrados. Além
disso, também foi determinado que fossem criados os Cejuscs, os quais seriam
responsáveis, preferencialmente, pela realização ou gestão das sessões, pelas audiências
de conciliação e mediação, bem como pelos atendimentos e orientações aos cidadãos.
Dentre outras coisas, a resolução prevê a possibilidade dos tribunais admitirem
conciliadores e mediadores através de concurso público de provas e títulos. Todos os
conciliadores e mediadores também deverão ter curso de capacitação conforme modelo
previsto pela resolução 125 do CNJ em seu anexo I.
A capacitação básica dos terceiros facilitadores (conciliadores e mediadores)
objetiva transmitir informações teóricas gerais sobre a conciliação e a mediação, assim
como vivência prática para aquisição do mínimo de conhecimento que torne o corpo
discente apto ao exercício da conciliação e da mediação judicial. A capacitação é dividida
em um módulo teórico e um módulo prático, com carga horária de, no mínimo 40 horas
e, necessariamente complementada pelo módulo prático, que deve ter de 60 a 100 horas.
O conteúdo programático trata-se do aprendizado dos conceitos e das etapas envolvidas,
assim como das técnicas e ferramentas para a realização da mediação.
Para legitimar e consolidar as implantações dos diversos Cejuscs pelo território
nacional, o Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015) dispõe, nos artigos 165 a 176, a
respeito dos conciliadores e mediadores judiciais, expondo que os tribunais criarão
centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de
sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas
destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. De acordo com a lei, a
composição e a organização desses centros serão definidas pelos tribunais, respeitando as
orientações do Conselho Nacional de Justiça.
Ademais, destaca-se que a estrutura do processo, com a figura do juiz no centro,
dificulta, ou muitas vezes, impede, o diálogo entre as partes, as quais, em vez de
pretenderem convencer umas às outras sobre as razões que as motivam no processo,
obrigam-se ou condicionam-se a se preocuparem, exclusivamente, em convencer o juiz
sobre os seus argumentos, atitude que, mais uma vez, dificulta as partes a chegarem a um
acordo (MELLO; BAPTISTA, 2011).

2. Cejusc em Santa Catarina


No ano de 2012, em atendimento à resolução do CNJ, o Tribunal de Justiça de
Santa Catarina (TJ-SC) editou a Resolução 22/2012 que “dispõe sobre a instalação e o
funcionamento dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania nas comarcas
do Estado de Santa Catarina e dá outras providências”. A partir disso, começaram a ser
instalados os Cejuscs nas comarcas do estado, conforme a vontade e o interesse dos
magistrados. Conforme a Cartilha do Cejusc, editada pelo Tribunal de Justiça de Santa
Catarina,
o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania - CEJUSC oferece
serviços de cidadania, com atendimento e orientação ao cidadão. O objetivo
central é tratar de reclamações pré-processuais (casos que ainda não chegaram
à Justiça) e processos judiciais (que já têm ação judicial em andamento),
cabendo a mediação e a conciliação, visando a solução de conflitos de forma
simplificada e rápida. As sessões são realizadas por conciliadores e mediadores
credenciados junto ao Tribunal. (ANDRADE, [200-?, ], p.4)

3. Cejusc em Lages
A partir do ano de 2010, com o surgimento da legislação específica referente às
formas ideais de solução de conflitos, houve uma mudança de paradigma em relação à
judicialização das relações, segundo o entrevistado. No mesmo ano, o Conselho Nacional
de Justiça (CNJ) instituiu a resolução n. 125/2010, que dispõe sobre a Política Judiciária
Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder
Judiciário. Em Lages, o juiz Sílvio Dagoberto Orsatto, que já era envolvido em diversos
outros projetos - como por exemplo, a implantação das casas da cidadania, os mutirões
fiscais, os juizados populares e o instituto de parentalidade responsável - participou
ativamente na criação do Cejusc na cidade, sendo designado para atuar como juiz
coordenador na portaria n. 727 de 11 de dezembro de 2015. Anteriormente, em 17 de
setembro de 2015, foi reconhecida a data de criação do Cejusc de Lages. Cabe salientar
que na região Serrana do estado, Lages foi pioneira na implantação do Cejusc.
Até os dias atuais, o município conta com esta unidade do Cejusc, onde funcionam
os serviços de conciliação e mediação extrajudicial ou pré-processual e orientação aos
indivíduos sobre direitos referentes ao exercício da cidadania. Cumpre salientar que, neste
município, também existe um serviço de mediação familiar judicial, isto é, já na fase
processual, que é formado por uma equipe multiprofissional, sendo coordenado por uma
professora do curso de psicologia da UNIPLAC. Ambos ficam localizados dentro do
campus da Universidade. O Cejusc fica dentro do espaço da Unidade Judiciária de
Cooperação - Vara da Universidade.
De acordo com Mello & Baptista (2011), a mediação judicial possui relação com
os princípios que são colocados em prática dentro das instituições judiciais, isto é, quando
as partes envolvidas em um conflito são encaminhadas por um juiz para as sessões de
mediação no contexto judicial. A mediação extrajudicial, por sua vez, está relacionada ao
que ocorre fora dos muros dessas instituições e dos processos judiciais. Este trabalho teve
como objetivo compreender o funcionamento do Cejusc de Lages, ou seja, o serviço de
mediação extrajudicial (ou pré-processual) desenvolvido no município, realizando, para
isso, uma entrevista com o secretário do serviço.

4. Aspectos coletados na entrevista


Na data da entrevista, atuavam no Cejusc dois servidores efetivos do quadro do
Poder Judiciário - Cláudio e José Eron - e dois estagiários de Direito. Cláudio é Técnico
Judiciário Auxiliar e foi nomeado secretário através de Portaria própria, atuando como
mediador e conciliador no Cejusc. José Eron, por sua vez, é Analista Jurídico, e atua
apenas como conciliador. Ambos são devidamente habilitados para atuarem no serviço.
Realizaram cursos de Conciliação pelo TJ/SC e Cláudio Costa possui curso de Mediador
pelo TJ/SC e pelo CNJ. Além dos dois profissionais, os estagiários de Direito realizam
atividades de teor administrativo, como o atendimento ao público e o agendamento de
audiências.
Segundo Cláudio, a implantação do serviço foi desorganizada, com um espaço
físico pequeno, exigindo adaptações frequentes para poder atender a demanda com
qualidade. Neste sentido, destaca-se que o Cejusc conta com três salas: Uma delas é onde
se realizam os atendimentos à população que busca o serviço; a segunda sala é utilizada
para organizar o material de trabalho; e a terceira é uma sala de audiências ampla, onde
há também um espaço com mesa redonda onde se realiza a mediação familiar.
Quando foi implantado o Cejusc, houve uma grande divulgação do serviço em
todas as rádios locais, jornais escritos, blogs e sites de notícias da Comarca de Lages, que
é composta, além da sede (Lages), por mais três municípios: Bocaina do Sul, Painel e São
José do Cerrito. Também foram distribuídos folders nos órgãos de Assistência Social e
Conselhos Tutelares, bem como se estabeleceu contato com a Secretaria de Políticas para
Mulheres, que encaminham situações de litígio e animosidade familiar.
Nas terças e quartas-feiras são realizadas as mediações dos casos já agendados
anteriormente, a maioria deles por busca espontânea da população.
No atendimento às demandas de família, permeada de conflitos e tensões, a
mediação familiar se torna um procedimento que oportuniza as pessoas
realizarem diretamente a petição e a arguição de sua demanda, com a
possibilidade de gerir o conflito com o restabelecimento da comunicação e a
busca por uma decisão viável para ambas as partes. (SEGALIN, 2016, p.243-
244).

O Cejusc agregou ainda a Oficina de Parentalidade, que é realizada na sala maior


ou então em sala emprestada da Unidade de Cooperação. As oficinas acontecem na
primeira quinta-feira do mês, com início às 12:30h. Ali também é exposto e explicado
como funciona a Mediação Familiar. Após a realização da oficina, os ex-casais que
desejarem realizar mediação familiar já passam pela primeira sessão de mediação. O
entrevistado informou que nos casos em que se consegue acordo, a média de sessões de
mediação realizada é de duas a três. Conforme Andreia Segalin (2016. p.257) “a mediação
não possui um número predefinido de sessões, na medida em que a predisposição das
partes, com a orientação e a percepção do mediador, define a necessidade de sucessivos
encontros”.
O servidor informa que as conciliações e mediações realizadas tem percentual de
acordo de mais de 90%. Segundo Cláudio, este percentual é o maior do estado. A chance
das pessoas retornarem ao Judiciário para buscar a judicialização da sua demanda é bem
menor do que se não tivesse sido realizada a autocomposição. Neste aspecto, Geani Ester
Rippel (2016, p.283) pontua que:
Da Experiência prática infere-se que a mediação judicial é uma alternativa
inovadora no âmbito da organização judiciária tradicional(...). Considerando
que a mediação possibilita um espaço de comunicação entre os envolvidos por
meio do diálogo e da escuta recíprocas, e que promove a responsabilização dos
atores sociais pela solução de seu conflito, é certo que ela representa uma fonte
potencial de diminuição dos contenciosos judiciais e do sofrimento humano,
impossível de contabilizar.

O número de atendimentos totais no ano de 2017 no Cejusc foi de 613 sessões no


ano (média de 51,08/mês). Já no ano de 2018, o número total de atendimentos no Cejusc
foi de 263 sessões (média de 21,91/mês).

5. Dificuldades encontradas
O entrevistado Cláudio afirma que as dificuldades do Cejusc de Lages podem ser
resumidas em dois eixos: a falta de entendimento dos magistrados sobre a importância e
a utilidade dos Cejuscs e a superestrutura do Poder Judiciário, que é hierarquizada e
elitizada.
A falta de entendimento dos Magistrados sobre a importância e utilidade dos
Cejuscs é apontada pelo entrevistado como principal e primeira dificuldade. Explica que
a cultura do litígio e o processo de judicialização da vida está muito arraigado na cultura
jurídica, havendo até mesmo oposição por parte de alguns Magistrados em delegar o
“poder” que lhes é conferido, aquela capacidade que só o juiz detém de “dizer o Direito”.
Coadunando com este posicionamento, explica Rifiotis, (2007, p. 237) que: “Tal
processo (judicialização) implica um duplo movimento, pois ele amplia o acesso ao
sistema judiciário e ao mesmo tempo desvaloriza outras formas de resolução de conflito,
reforçando ainda mais a centralidade do Judiciário.”
O segundo eixo, Cláudio explica que é justamente a questão estrutural do Poder
Judiciário, a superestrutura deste Poder, que é hierarquizado e elitizado. Dentro desta
instituição, é um grande desafio manter os Juizados Especiais e Cejuscs funcionando
dentro dos fóruns, ou mesmo sendo apoiado pelos Magistrados. Afirma que são poucos
os magistrados que possuem uma postura mais vanguardista, que incentivam e apoiam
iniciativas como estas, mesmo com recomendação legal.
Ainda dentro deste eixo, ele reflete acerca da diminuição de atendimentos pelo
Cejusc, comparando os anos de 2017 e 2018. Relatou que, como o serviço funciona na
Unidade de Cooperação dentro da Universidade, a instituição começou a se incomodar
que tantas pessoas com aspecto simples, muitas vezes usando chinelos, começassem a
circular no campus. Chegaram a instalar câmeras de segurança, exercendo uma
hipervigilância em relação aos usuários do serviço. Sobre esta estigmatização da
população pobre no país, Favero (2012, p. 134) afirma que o direito da população ter
acesso à justiça por meio do Poder Judiciário está longe de ser assegurado a grande parte
das pessoas. Este acesso é privilégio de quem tem recursos financeiros para pagar
advogados e despesas processuais. A autora finaliza dizendo: “Isso nos permite afirmar
que a justiça nesse país tem classe social”.
Ainda que seja possibilidade de campo de estágio, sabe-se que o curso de Direito
desta Universidade é, de certa forma, elitizado, e é frequentado pelos filhos e/ou netos de
famílias conhecidas, com certa influência na cidade. Para agravar, o curso já apresenta
em si características próprias de uma ideologia conservadora e tradicional. A Vara da
Família, que funcionava com juízes substitutos, recebeu o juiz titular em 2018, onde ele
próprio centraliza as audiências de conciliação, obtendo êxito em grande parte delas.

6. Potencialidades
O servidor Cláudio destaca que, com a promulgação do Novo Código de Processo
Civil (Novo CPC), em 2015, a qual determina a tentativa exaustiva de conciliação antes
da instrução processual, impulsionou uma mudança na cultura do litígio, mesmo que por
iniciativa da legislação. Foi assim que a implantação dos Cejuscs começou a ganhar
visibilidade e força.
Porém, recentemente ocorreu uma tentativa de retrocesso às atividades dos
Cejuscs em nível estadual. Havia sido delegada a diretores dos fóruns a responsabilidade
pelo funcionamento e coordenação dos Cejuscs. Felizmente a desembargadora
responsável revogou essa determinação, deixando a coordenação a cargo do Juiz
responsável pelos Juizados Especiais ou então da Vara da Família.
Cláudio reflete que um dos principais fatores que levam a população a buscar os
serviços extrajudiciais no Cejusc é a fragilizada socioeconômica. Como são serviços
ofertados gratuitamente, é uma forma das pessoas terem acesso à justiça mesmo sem ter
boas condições financeiras para custear despesas judiciais e de advogados. Tudo isso,
aliado às dificuldades de um processo judicial, principalmente o longo tempo que leva
para finalizar, faz com que as pessoas queiram ter uma resposta mais rápida às demandas.
Outro fator, igualmente importante, é o despertar de consciência das pessoas de
que podem elas mesmas acordar e resolver seus problemas, sem ter que delegar esta
responsabilidade a outra pessoa, pois, conferir ao outro uma decisão referente a sua
própria vida, nem sempre contempla as necessidades de todos os envolvidos. Ganancia
(2001, p. 7) explica: “Os conflitos familiares antes de serem conflitos de direito, são
essencialmente afetivos, psicológicos, relacionais, antecedidos de sofrimento, por isso
não podem resumir-se ao ato do juiz de dizer o direito, porquanto exigem participação
recíproca das partes”.
“A mediação surge num cenário de mudanças culturais e de valores que instigam
pensar no limite entre o público e o privado e na interferência do Estado nas relações. A
mediação, nesse sentido, assegura a intimidade das relações, o reconhecimento das
diferenças e o empoderamento dos sujeitos.” (GROENINGA, 2007 apud OLIVEIRA,
2016, p.268).

7. Análise do grupo e conclusão


Analisa-se que, embora a Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de
Justiça sugira a criação de Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania -
CEJUSC nas Comarcas, as implantações desses serviços ainda são insuficientes e
acontecem de forma muito lenta, dificultando a sua estruturação e funcionamento
adequado. O estado de Santa Catarina possui tradição e pioneirismo na implantação do
então Serviço de Mediação Familiar (SMF).
A ideia da Mediação Familiar foi trazida para o Judiciário catarinense pela
assistente social do Tribunal de Justiça Eliedite Mattos Ávila que, após ter
concluído o curso de mestrado no Canadá, iniciou a divulgação da proposta
aos desembargadores, juízes e assistentes sociais das comarcas de todo o
Estado. O serviço de Mediação Familiar foi instituído no Judiciário catarinense
em 2001 por meio da Resolução nº11/2001-TJ. (CORDAZZO, et.al., 2012,
p.33)

Quase dez anos depois, com as normatizações acerca da implantação dos Cejuscs
em nível nacional, o que ocorreu foi uma ampliação e inclusão de serviços alternativos e
ideais de solução de conflitos. Os Cejuscs começaram então a ser implantados em Santa
Catarina, englobando as técnicas de mediação familiar e padronizando as capacitações
nos moldes determinados pela legislação. Tais capacitações já aconteciam no estado com
foco na mediação familiar, e mais de 87% dos serviços de mediação familiar existentes
em funcionamento eram coordenados e articulados por assistentes sociais, conforme
pesquisa realizada por assistentes sociais da região oeste do Estado.
O trabalho aqui realizado demonstra que na Região Serrana de Santa Catarina
formada por 08 Comarcas, Lages foi pioneira com a implantação do Cejusc no espaço
da instituição educacional universitária - Uniplac no ano de 2015. Desde então, o serviço
vem sendo oferecido à comunidade num espaço considerado pequeno pelo servidor
entrevistado e, até o momento, atuam apenas dois servidores efetivos do quadro do Poder
Judiciário e dois estagiários de Direito.
Ao tratar do perfil pessoal e profissional dos mediadores, Alcebir Dal Pizzol
(2016, p.228) pontua a necessidade do operador ter conduta ilibada e se despir de vaidade
e preconceitos, além de ter conhecimento na área das relações humanas.
Profissionais como assistentes sociais, psicólogos e pedagogos, pelo conteúdo
do aprendizado acadêmico, e diante das experiências em desenvolvimento,
têm apresentado alto índice de conciliações positivas. Em militância
pedagógica para angariar parceiros e simpatizantes, tem-se buscado entabular
debates nas universidades catarinenses, principalmente nos cursos de Serviço
Social, Psicologia e Direito, na perspectiva de despertar professores e alunos
para esse novo nicho de trabalho e, consequentemente, convidá-los a construir
ainda incipiente método de conciliação e da mediação (Dal Pizzol, 2016,
p.228).

Na construção desse trabalho, surgiram algumas reflexões e constatações acerca


da evolução dos métodos ideais de solução de conflitos e de como ocorreu perda de
espaço para do Serviço Social e falta de inserção da Psicologia na estrutura do Cejusc.
Analisando a implantação do Cejusc em Lages, conforme as informações
coletadas na entrevista, observamos que por ser implantado na Unidade de Cooperação
em Lages, o ator principal foi o curso de Direito da Uniplac - Universidade do Planalto
Catarinense. Conciliações e mediações são realizadas por servidores da área do Direito,
em caráter extrajudicial, e as mediações judiciais são desvinculadas dos serviços do
Cejusc, com projeto próprio do curso de Psicologia. Assistentes sociais e psicólogos do
quadro de servidores do Poder Judiciário não participaram da implantação do Cejusc,
inclusive desconhecendo o funcionamento do serviço.
Considerando que o Centro funciona no espaço de uma universidade e o serviço
de mediação judicial “não é uma atribuição privativa de uma única área profissional, além
de estar imbricada de farta interdisciplinaridade” (SEGALIN, 2016, p.264), refletimos
sobre o que poderia estar dificultando a colaboração de professores e alunos dos demais
cursos, como do Serviço Social e da Psicologia na prestação de serviços.
Reflete-se que o Cejusc fora do espaço do Judiciário e dentro de uma universidade
pode se caracterizar por um serviço de resolução de conflitos visível e de livre acesso à
população, de forma democrática e humanizada. No entanto, os relatos indicam a
ocorrência de preconceito em relação às pessoas de aparência mais simples que buscam
a resolução dos seus conflitos, reforçando a concepção de uma justiça elitista e
discriminatória.
Andreia Segalin (2016) pontua que a oferta do serviço de mediação judicial “em
múltiplas portas de acesso, é alternativa favorável, na medida em que possibilita ampliar
a rede de atendimento às demandas da comunidade pela resolução de conflitos, rede que
deve atender a todas as classes sociais(...)”.
O servidor entrevistado informa que as conciliações e mediações realizadas tem
percentual de acordo de mais de 90% e que a possibilidade das pessoas judicializarem a
sua demanda é bem menor do que se não houvesse sido realizada a mediação. No entanto,
a queda de atendimentos realizados entre os anos de 2017 e 2018 é bastante expressiva e
merece atenção e avaliação por parte dos responsáveis, na tentativa de se identificar a
razão e buscar soluções que venham a reverter este quadro, para continuar servindo um
maior número possível de pessoas.
Não se pode avaliar se somente a falta de incentivo dos magistrados e a
intolerância da Universidade à presença da população empobrecida na área do campus
foi determinante para essa diminuição no número de atendimentos. Também pode ser
avaliado se ocorreu o efetivo acesso e qualidade no atendimento da população. Não se
pode aferir com exatidão o nível de satisfação da população atendida, não havendo
avaliação existente nesse sentido.
Tendo em vista que a resolução nº 125/2010 prevê que os tribunais podem realizar
concursos para conciliadores e mediadores, acreditamos que todo Cejusc poderia incluir
em seu quadro uma vaga para assistente social e para psicólogo efetivos lotados no Poder
Judiciário. A presença do assistente social no espaço do Cejusc ainda favoreceria a
interlocução com o curso de Serviço Social na Uniplac, inclusive ampliando a
possibilidade de projetos de extensão e abertura de novo campo de estágio. “A mediação
é uma prática interventiva utilizada pelo Serviço Social desde a gênese da profissão,
marcada pelo conflito capital-trabalho. Portanto, subentende-se que o assistente social é
um profissional que possui habilidades inerentes à sua formação, às quais facilitam o
exercício de mediador. ” (Cordazzo, et. al., 2012, p.39)
Nesta perspectiva, analisa-se que houve um avanço legal e cultural com a criação
dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania, mas se faz necessário o
monitoramento, a avaliação e o investimento constante na organização dos serviços
prestados nestes espaços. Compreende-se que há muito que se pensar “na oferta dos
serviços que universalizem o acesso aos direitos e, sobretudo, criem outros mecanismos
para resolução ou agenciamento de conflitos”. (RIFIOTIS, 2010, p.56)
No cotidiano profissional, percebe-se que, embora tenha se criado leis e meios
legais como estratégias de resolução dos conflitos relacionais, há muito que se discutir e
desconstruir em relação ao papel do sistema de justiça e da postura de seus operadores.
Acredita-se que essa mudança paradigmática se inicia pelo estudo e pela prática dos meios
autocompositivos em outros espaços de interação social (...), propagando-se o
conhecimento, através de seus interlocutores, para todos os espaços de convivência e
relacionamento humano” (SEGALIN, 2016, p. 266).
Por fim, analisando o Cejusc da Comarca de Lages, acreditamos que, mesmo com
escasso incentivo institucional e pouco pessoal efetivo, sua implantação e continuidade é
fundamental para garantir à população o acesso à justiça. É necessário enfrentar os
desafios e dificuldades e criar estratégias de publicização e qualificação do serviço. Nesta
perspectiva, Assistentes Sociais e Psicólogos podem contribuir para a construção de um
serviço mais humanizado que respeite a individualidade dos sujeitos, buscando a
implementação de políticas públicas que possibilitem uma mudança cultural relacionada
à convivência familiar, social e a resolução de seus conflitos.
Referências
ANDRADE, Eliane. Cartilha do Cejusc. Florianópolis: Gráfica do Tribunal de Justiça
de Santa Catarina, 200[?].
CNJ. Resolução nº 125, de 29 de novembro de 2010. Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/images/atos_normativos/resolucao/resolucao_125_29112010_110
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