Вы находитесь на странице: 1из 64

Ministério do Meio Ambiente

PROGRAMA NACIONAL DE CAPACITAÇÃO DE GESTORES AMBIENTAIS

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS

CURSO EaD: ESTRUTURAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL MUNICIPAL


MÓDULO 1: POLÍTICA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE

Brasília, 2015
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Presidenta Dilma Dilma Vana Rousseff
Vice Presidente: Michel Temer
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
Ministra Izabella Mônica Vieira Teixeira
Secretário Executivo: Francisco Gaetani
Secretária de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental - SAIC
Regina Gualda
Diretora do Departamento de Educação Ambiental - DEA
Soraia Silva de Mello
Equipe técnica do Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais- PNC

Luciana Resende

Neuza Gomes S. Vasconcellos

Carla Silva Sousa (Estagiária)

Concepção do material original

Tereza Moreira

Organização do Curso EAD

Elmar Andrade de Castro

Luciana Resende

Neuza Gomes da S. Vasconcellos

Carla Silva Sousa (Estagiária)

Texto e revisão de conteúdo original

Luciana Resende

Neuza Gomes da S. Vasconcellos

Carla Silva Sousa (Estagiária)

Revisão e colaboração

Angelita Coelho

José Luís Xavier

Miriam Miller
II
Neusa Helena Rocha Barbosa

Nilo Sérgio de Melo Diniz

Coordenação:

Agência Nacional de Águas - ANA

Elmar Andrade de Castro

Mariana Braga

Taciana Neto Leme

Equipe do Departamento de Educação Ambiental- MMA

Soraia Silva de Mello (Diretora)

Renata Rozendo Maranhão (Gerente de Projetos)

Analistas Ambientais
Alex Bernal, Ana Luísa Campos, Jader Oliveira, José Luís Xavier, Luciana Resende, Nadja
Janke, Neusa Helena R. Barbosa, Neuza Gomes Vasconcelos, Patricia F. Barbosa, Taiana
Brito

Agentes Administrativos
Maria Aparecida Leite, João Alberto Xavier

Recepcionista
Leylane Aparecida L. do Santos

Estagiários
Amanda Feitosa, Carla Silva Sousa, Paula Geissica Ferreira da Silva, Rômulo de Sousa

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS


Diretoria Colegiada
Vicente Andreu Guillo (Diretor Presidente)
Paulo Lopes Varella Neto
Gisela Forattini
João Gilberto Lotufo Conejo

III
SUPERINTENDÊNCIA DE APOIO AO SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE
RECURSOS HÍDRICOS
Humberto Cardoso Gonçalves (Superintendente)
Victor Alexandre Bittencourt Sucupira (Superintendente Adjunto)
COODENAÇÃO DE CAPACITAÇÃO DO SINGREH
Taciana Neto Leme (Gerente)
Celina Maria Lopes Ferreira
Daniela Chainho Gonçalves
Elmar Andrade de Castro
Jair Gonçalves da Silva
Lucas Braga Ribeiro
Luis Gustavo Miranda Mello
Mariana Braga Coutinho
Sandra Cristina de Oliveira (Secretária)
Vivyanne Graça Mello de Oliveira

Este material didático foi produzido no âmbito do Programa Nacional de Capacitação de


Gestores Ambientais, com apoio da Agência Nacional de Águas- ANA, com base nos
Cadernos de Formação- PNC.

IV
SOBRE O PROGRAMA NACIONAL DE CAPACITAÇÃO DE GESTORES AMBIENTAIS E
A PARCERIA MMA E ANA

Para o alcance do direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado para as


presentes e futuras gerações é imprescindível a participação da coletividade e também do
poder público. Quanto a esse último, torna-se necessária a melhoria de resultados, com
vistas a aumentar a eficiência, eficácia e efetividade da gestão ambiental. Uma importante
estratégia é a qualificação do corpo técnico dos órgãos municipais de meio ambiente. Nesse
âmbito, destaca-se a atuação do Programa Nacional de Capacitação de Gestores
Ambientais - PNC.

O PNC foi instituído em 2005, a partir de uma demanda da I Conferência Nacional de


Meio Ambiente. A ideia de se criar o Programa emergiu com a necessidade de haver uma
estratégia nacional de capacitação de gestores locais, visando gerenciar melhor as ações
realizadas no âmbito do Ministério do Meio Ambiente e vinculadas.

Dessa forma, o PNC foi criado para atender aos anseios dos estados e municípios, em
uma estratégia duradoura. Seu objetivo principal é o de capacitar gestores, servidores e
técnicos ambientais, com vistas a ampliar a compreensão do Sistema Nacional de Meio
Ambiente (SISNAMA) e seu fortalecimento. Busca também a consolidação da gestão
ambiental compartilhada, que envolve a responsabilização das três esferas de governo:
federal, estadual e municipal.

O Programa capacitou aproximadamente 12 mil gestores e técnicos, beneficiando


mais de 2 mil municípios. Desde sua criação, passou por importantes momentos: o primeiro
referiu-se a uma fase em que foram realizados cursos presenciais que versavam sobre
temas ligados à estruturação dos sistemas municipais de meio ambiente. Nesse período,
ocorreram cursos em 14 estados, por meio de convênios.

Paralelamente à realização de cursos presenciais, a partir de 2007, iniciaram-se os


cursos semipresenciais, executados via internet e realizados em parceria com outras
secretarias do MMA, outros ministérios e entidades vinculadas. Os temas versavam acerca
de temas como: gestão integrada de resíduos sólidos, licenciamento ambiental básico e com

V
foco em estações de tratamento de esgotos e aterros sanitários, regularização ambiental em
propriedades rurais, além de gestão de recursos hídricos e comitês de bacias hidrográficas.
Esses últimos cursos realizados em parceria com a Agência Nacional de Águas, no ano de
2013.

A Agência Nacional de Águas é a entidade federal de implementação da Política


Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e de coordenação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGERH), de acordo com o disposto na Lei
9.984/2000, a Lei das Águas. Uma de suas atribuições é estimular a pesquisa e a
capacitação de recursos humanos para a gestão de recursos hídricos.

Assim, a ANA deu início aos processos de capacitação de recursos humanos para
a gestão de recursos hídricos em 2001. Inicialmente, entre 2001 e 2010, a ANA
conseguiu atingir cerca de 10 mil pessoas, por meio de cursos presenciais.
Posteriormente a ANA deu início a implementação sistemática de cursos na modalidade
à distância e a partir dessa estratégia, no período de 2011-2013 mais de 20.000 pessoas
foram capacitadas e no ano de 2014 mais de 22.000 pessoas foram aprovadas.

O alcance da modalidade a distância elevou a abrangência tanto em número de


pessoas capacitadas quanto na distribuição espacial dos participantes, com
representantes de todos os estados brasileiros e distrito federal, e também de outros
países em que a ANA estabelece ações de cooperação. O público alvo é a sociedade
brasileira interessada, os membros de comitês de bacia, como usuários de água,
representantes dos governos municipais, estaduais e federal e representante das
organizações da sociedade civil relacionadas aos recursos hídricos, além de agentes
dos órgãos gestores de recursos hídricos e a sociedade em geral.

Os cursos a distância oferecidos pela ANA, no projeto EAD-ANA variam em carga


horária (entre 4 e 40 horas), sempre na modalidade autoinstrucional, isto é totalmente a
distância e sem tutoria e em temas como planejamento e gestão, hidrometria/hidrologia,
uso racional da água e educação e participação social na gestão de recursos hídricos.

VI
Desse modo, em uma coadunação de esforços entre o MMA e a ANA, e em
continuidade de uma parceria bem sucedida, foi elaborado esse curso, que busca atingir o
maior número de gestores ambientais, membros dos Comitês de Bacias Hidrográficas,
estudantes e público em geral.

Objetiva-se, com isso, instigar a estruturação institucional e o fortalecimento da gestão


ambiental municipal, com a ótica da sustentabilidade sócio-ambiental-territorial, a
disseminação de conhecimentos e a reflexão crítica acerca de assuntos que visam à
melhoria da gestão ambiental pública e a superação de gargalos. Ademais, busca-se
contribuir para a inserção do desenvolvimento sustentável na formulação e na
implementação de políticas públicas, de forma transversal e compartilhada, participativa e
democrática, em todos os níveis e instâncias de governo e da sociedade.

Soraia Silva de Mello


Diretora do Departamento de Educação Ambiental - DEA

Taciana Neto Leme


Coordenadora de Capacitação para o SINGREH

VII
APRESENTAÇÃO DO CURSO

Os três módulos que compõem esse curso fornecem linhas gerais para o
fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente em sua inter-relação com os demais
instrumentos e atores da gestão municipal. O material didático foi concebido para trabalhar
conceitos não apenas de forma discursiva. Por meio de exemplos e exercícios, pretende-se
promover sucessivas aproximações das pessoas com a realidade local, no sentido de
qualificar a sua atuação.

Diante de uma perspectiva de capacitação descentralizada e voltada a atender cada


realidade específica, vale lembrar que há liberdade para se buscar informações e para criar
metodologias que melhor atendam às suas necessidades. Os materiais produzidos
pretendem apontar caminhos, fornecer sugestões e indicar possíveis fontes de consulta
para que as pessoas e os grupos busquem respostas às questões suscitadas pela prática.

O Módulo I reflete a importância da gestão ambiental municipal e mostra qual é a


estrutura do SISNAMA em âmbito federal, estadual e municipal.

O Módulo II mostra os principais passos para a estruturação dos órgãos que compõem
o Sistema Municipal de Meio Ambiente. Discorre também sobre as formas de se reunir
recursos destinados às ações na área ambiental.

O Módulo III trata das diferentes escalas de planejamento municipal, com ênfase no
planejamento microrregional e setorial, considerando os níveis de integração a serem
concretizados em torno de um projeto de desenvolvimento sustentável para a comunidade e
a região.

Todos os módulos contêm a legislação referente aos temas desenvolvidos, trazem


explicações sobre termos técnicos e fornecem dicas de onde obter mais informações.

Bons estudos a todos!

VIII
SUMÁRIO

UNIDADE 1: Gestão Pública Sustentável ...................................................................................... 10


A emergência da questão ambiental ................................................................................................ 10
Municípios sustentáveis .................................................................................................................... 14
Em resumo ........................................................................................................................................ 21
UNIDADE 2: Gestão Ambiental Descentralizada e Integrada..................................................... 23
SISNAMA: concepção e origens ........................................................................................................ 23
Composição do SISNAMA.................................................................................................................. 26
O meio ambiente na Constituição Federal........................................................................................ 35
Gestão ambiental compartilhada...................................................................................................... 39
Em resumo ........................................................................................................................................ 41
UNIDADE 3: Gestão Ambiental Municipal...................................................................................... 42
Um cenário da gestão ambiental municipal no Brasil....................................................................... 42
Elementos para a estruturação da gestão ambiental local ............................................................... 45
Uma estrutura compatível com as necessidades municipais ........................................................... 50
Recursos humanos: sujeito e objetivo da gestão .............................................................................. 54
A participação social na gestão do ambiente.................................................................................... 58
Em resumo ........................................................................................................................................ 60
Referências ............................................................................................................................................ 62

IX
UNIDADE 1: GESTÃO PÚBLICA SUSTENTÁVEL

Nesta unidade, vamos estudar a questão ambiental a partir de uma breve


perspectiva histórica que fundamenta a noção atual de sustentabilidade em âmbito global e
em suas implicações na escala local de atuação. Vamos começar?

A emergência da questão ambiental

No Brasil, o tema ambiental tornou-se mais evidente em um cenário de rápido


crescimento da economia, o chamado “Milagre Econômico”, dos anos de 1970. Nesse
período, o País vivenciou o aumento do Produto Interno Bruto- PIB, melhorias na
infraestrutura e elevação do nível de industrialização. Apesar do incremento na área
econômica, a desigualdade social intensificou-se. Nesse contexto, o discurso oficial da
ditadura militar brasileira propunha primeiro “fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”.
Além disso, não era preconizada a precaução contra os impactos gerados pelas atividades
produtivas nem as limitações dos recursos naturais.

Além da reação de alguns segmentos da sociedade ao modelo de produção e


consumo vigente, tal como o movimento ambientalista, os países industrializados
começavam a perceber que o crescimento econômico ilimitado tinha um preço duplo. De um
lado, o esgotamento dos recursos naturais, de outro, a poluição. Representantes desses
países queriam discutir formas de desenvolvimento.

Poluição

Degradação da qualidade ambiental resultante das atividades que direta ou


indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população,
criem condições adversas às atividades sociais e econômicas, afetem
desfavoravelmente a biota, afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio
ambiente, e lancem materiais ou energia em desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos (BRASIL, 2004, p. 251).

Em 1972, na cidade de Estocolmo, Suécia, pela primeira vez, uma conferência das
Nações Unidas dedicava-se a debater os problemas ambientais em âmbito mundial. Trata-
se da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. De acordo com
10
Milaré (2007), a posição defendida pelo Brasil era a do “crescimento a qualquer custo”. A
fundamentação era a de que as nações subdesenvolvidas e em desenvolvimento não
deveriam destinar recursos financeiros para a proteção ambiental, ou mesmo conter as suas
taxas de crescimento, devido aos graves problemas socioeconômicos que vivenciavam e
que, por isso, a degradação ambiental seria um mal menor.

Ainda assim, setores minoritários do governo brasileiro, à época, aproveitaram a


repercussão negativa da posição brasileira, para propor a criação da Secretaria Especial do
Meio Ambiente – SEMA (1973), ligada diretamente à Presidência da República, tendo como
primeiro titular o professor Paulo Nogueira Neto, da Universidade de São Paulo.

Degradação Ambiental

Termo usado para qualificar os processos resultantes dos danos ao meio


ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades,
tais como a qualidade ou a capacidade produtiva dos recursos ambientais
(MILARÉ, 2007, p. 1239).

Na década de 1980, alguns impactos dessa forma autoritária de se governar e


pensar o ambiente e o desenvolvimento tornaram-se mais visíveis. Exemplos típicos são o
município de Cubatão, em São Paulo, e a Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Dois
locais de grande beleza cênica e que à época foram totalmente desfigurados pela
sobreposição do econômico sobre a qualidade de vida. Apesar de avanços, até hoje, essas
localidades são estigmatizadas pelos problemas ambientais e sociais gerados desde então.

Outro exemplo desastroso desse período foi a política de expansão da fronteira


agropecuária sobre o território e os povos da Amazônia. Sob o lema “integrar para não
entregar”, a ditadura promoveu uma ocupação que incrementou o desflorestamento e a
violência contra populações locais, tradicionais e indígenas. Incentivou-se um grande
movimento migratório de agricultores do Sul e Sudeste do país, que não tinham
familiaridade com o ambiente florestal. O intuito era, na verdade, minimizar os conflitos
agrários naquelas regiões. Grileiros e especuladores de terras aproveitaram para avançar
sobre o território daquelas comunidades tradicionais. Mesmo com a resistência de
seringueiros que realizavam “empates” (atrasos e obstruções) às derrubadas na floresta,
desde 1976, os grandes desmatamentos assustaram o mundo a partir de 1988, com as
primeiras imagens de satélites (ALLEGRETTI, 1994).
11
Casos como esses se repetem em outras situações urbanas e rurais. Desde a
Conferência de Estocolmo, colhemos efeitos dessa ideologia do crescimento a qualquer
preço. De certo modo, o bolo cresceu, à custa de opressão e destruição e por isso mesmo,
não foi dividido: o aumento da pobreza e do desnível socioeconômico somaram-se ao
aumento da poluição e à crescente escassez de recursos naturais. Hoje, já não se pode
dizer que os problemas sociais e ambientais afetam apenas os municípios e regiões mais
populosas do país. Eles estão presentes no dia a dia de quase todas as localidades.

E quanto ao seu município. Quais questões socioambientais são mais evidentes na


sua comunidade?

Para Refletir
Faça um diagnóstico socioambiental da localidade em que você vive.
Primeiramente, marque um ponto no mapa onde está seu município e, após isso,
responda as seguintes perguntas:
Seu município ou região sofreu algum impacto socioambiental a partir das políticas
daquele período do governo militar, ou mesmo, atualmente, em consequência do
"desenvolvimentismo"? Se sim, descreva brevemente.
Em que bioma e bacia ou região hidrográfica ele se situa? A água é farta e de boa
qualidade? Existem disputas pelo seu uso? Há assoreamento de lagoas, córregos e
outros cursos d’água?
Quantos habitantes vivem na área urbana e na área rural?
Há serviços de saúde e educação pública de qualidade?
Há opções de lazer em áreas verdes? Existem áreas protegidas de forma especial, por
exemplo, Reserva Extrativista ou Área de Proteção Ambiental?
O que se faz com os resíduos gerados pelas atividades industriais, agrícolas ou
urbanas? Existem aterros sanitários?
Para onde vai o esgoto das residências?
Para onde vai o esgoto da empresas?
No seu município existe alguma Estação de Tratamento de Esgoto - ETE?
O solo é fértil ou está empobrecido? Há poluição por agrotóxicos?
Existem disputas em torno do uso do solo, com a ocorrência de grupos de
trabalhadores sem-terra ou grupos sem-teto? Há crianças de rua, favelas, ocupações
irregulares?
Há populações que foram desalojadas pela construção de grandes obras ou que
perderam seu meio de vida por causa de desmatamento, pesca excessiva, poluição das
águas?
A polícia registra muitos casos de violência?
Quais são as principais forças sociais vinculadas a esses temas atuantes no município?
Há associações, sindicatos, outros tipos de organizações?
Agora compartilhe suas impressões com pessoas de seu município e de outras
localidades. As respostas a essas perguntas podem indicar os principais problemas e
onde o município pode melhorar.

12
Bioma

Conjunto de vida (vegetal e animal) definida pelo agrupamento de tipos de vegetação


contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e
história compartilhada de mudanças, resultando em uma diversidade biológica
própria (BRASIL, 2004, p. 49).

Bacia Hidrográfica

Conjunto de terras drenadas por um rio principal, seus afluentes e subafluentes. A


ideia de bacia hidrográfica está associada à noção da existência de nascentes,
divisores de águas e características dos cursos de água, principais e secundários,
denominados afluentes e subafluentes. A área física, assim delimitada, constitui-se
em importante unidade de planejamento e de execução de atividades
socioeconômicas, ambientais, culturais e educativas (BRASIL, 2006, p. 62).

Assoreamento

Obstrução de um rio, canal, estuário ou qualquer corpo d’água, pelo acúmulo de


substâncias minerais (areia, argila etc) ou orgânicas, como o lodo, provocando a
redução de sua profundidade e da velocidade de sua correnteza (BRASIL, 2004, p. 38).

Resíduo

Etimologicamente, resíduos referem-se a tudo aquilo que resta, que remanesce.


Numa abordagem ambiental, os resíduos constituem o remanescente das atividades
humanas – domésticas, industriais, agrícolas etc– e que, de uma maneira ou de outra,
são lançados no solo, nos rios ou na atmosfera. Entre eles encontram-se os efluentes
(líquidos), as emissões atmosféricas (gases e material particulado) e os resíduos
sólidos (entre os quais o lixo domiciliar) (MILARÉ, 2007, p. 1272).

13
Resíduo (II)

A nova Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (12.305/2010) não menciona a


expressão LIXO e define Resíduos Sólidos como: "material, substância, objeto ou bem
descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se
procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou
semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em
corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em
face da melhor tecnologia disponível".
Já os Rejeitos estão definidos como "resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas
as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis
e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição
final ambientalmente adequada" (BRASIL, Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010).

Agrotóxico

Substância química, geralmente artificial, destinada a combater as pragas da lavoura,


tais como insetos, fungos etc. Muitas são danosas aos animais e também ao homem
(BRASIL, 2004, p. 17).

Municípios sustentáveis

Nesta capacitação, o conceito de meio ambiente com o qual trabalhamos é um


pouco diferente do usual. Na nossa concepção, o termo não corresponde apenas à rede
formada pela interação dos animais, das plantas, dos micro-organismos e das substâncias
inorgânicas. Nossa visão inclui também o espaço construído e a vida social da espécie que
maiores alterações têm causado nesse cenário: a espécie humana.

Partimos de uma dimensão socioambiental, pois tanto a poluição como as


desigualdades sociais afetam negativamente a qualidade de vida das pessoas e têm

14
impactos profundos sobre o ambiente. Segundo essa visão, o crescimento econômico é
uma das variáveis a garantir qualidade de vida, mas não a única. Historicamente, vem se
afirmando o conceito de sustentabilidade, em amplo escopo, ou seja, de um tipo de
desenvolvimento das sociedades que agreguem durabilidade e justiça social. Ou seja,
economicamente viável, ecologicamente o mais equilibrado possível, capaz de propiciar às
pessoas condições básicas para o bem viver, o respeito à diversidade cultural, bem como o
pleno exercício da cidadania.

A evolução, entretanto, do conceito de sustentabilidade ou sociedades sustentáveis


- conforme descrito no Tratado Internacional de Educação Ambiental para Sociedades
Sustentáveis e Responsabilidade Global, firmado por instituições e redes da sociedade civil
de diferentes países, durante a Rio 92 – passa pela noção de Desenvolvimento
Sustentável, mais largamente reconhecida, embora alvo de controvérsias devido à
diversidade de significados atribuídos.

Desenvolvimento Sustentável

Existem diversos conceitos para esse termo, que derivou da expressão


ecodesenvolvimento, sistematizada nos trabalhos do economista Ignacy Sachs. Um
dos enunciados mais difundidos é o da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, por meio do relatório Nosso Futuro Comum (Relatório Brundtland),
de 1987. De acordo com esse documento, o desenvolvimento sustentável é "aquele
que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as
gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades" (1991 apud MILARÉ,
2011, p. 17).
Do ponto de vista da legislação nacional, o conceito do desenvolvimento sustentável
apareceu primeiramente no estabelecimento das diretrizes básicas para o
zoneamento industrial em áreas críticas de poluição, Lei 6.803, de 1980, e em
seguida, na Política Nacional de Meio Ambiente, Lei 6.938/1981 (MILARÉ, 2011).

15
Sustentabilidade

"O termo sustentabilidade foi cunhado com o propósito de nos remeter ao vocábulo
sustentar. Sustentar algo ao longo do tempo - a dimensão de longo prazo já se
encontra incorporada nessa interpretação -, para que aquilo que se sustenta tenha
condições de permanecer perene, reconhecível e cumprindo as mesmas funções
indefinidamente, sem que produza qualquer tipo de reação desconhecida,
mantendo-se estável ao longo do tempo. (...) Todavia, podemos adiantar que a
sustentabilidade comporta várias dimensões. A sustentabilidade torna-se um
conceito transversal que abrange todas as dimensões da vida humana, não apenas
as relações diretas com a natureza." (FERREIRA, 2005, p.315).

Nesse sentido, também podemos refletir a respeito de uma localidade a partir do ponto
de vista da sustentabilidade. Atualmente, há diversos parâmetros para isso. Podemos citar,
por exemplo, a lista que foi preparada pela organização inglesa Local Government Municipal
Board, disponibilizada na obra de Marcatto; Ribeiro (2002 apud BRASIL, 2006, p. 19). De
acordo com esse documento, com base em critérios socioambientais, um município em
busca do desenvolvimento sustentável:

 Não desperdiça energia e recursos;


 Produz pouco lixo;
 Limita a poluição de forma que possa ser absorvida pelos sistemas naturais;
 Valoriza e protege os recursos naturais;
 Atende às necessidades do lugar localmente, sempre que possível;
 Provê casa, comida e água limpa para todos;
 Dá oportunidades para que todos tenham um trabalho do qual gostem;
 Valoriza o trabalho doméstico;
 Protege a saúde de seus habitantes, enfatizando a higiene e a prevenção de doenças;
 Provê meios de transporte acessíveis;
 Investe em segurança, para que as pessoas vivam sem medo de crimes ou
perseguições;
 Permite acesso igualitário às oportunidades;
 Garante acesso aos processos de decisão;
 Dá oportunidades de cultura, lazer e recreação.

No Brasil, a experiência mais consolidada quanto à criação de um painel de indicadores


que refletem o desenvolvimento sustentável é a do Instituto Brasileiro de Geografia e
16
Estatística- IBGE, que publica, desde 2002, os Indicadores de Desenvolvimento
Sustentável- IDS. Em sua mais recente versão, há 62 indicadores que versam sobre as
dimensões ambiental, social, econômica e institucional de uma localidade (BRASIL, 2014a).

Para maiores informações sobre o IDS, acesse o site do IBGE:


http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/recursosnaturais/ids/default_2012.shtm

Mais recentemente, uma importante iniciativa do Ministério do Meio Ambiente resultou


na elaboração de um conjunto de indicadores ambientais de referência. Trata-se do
Painel Nacional de Indicadores Ambientais- PNIA. Os indicadores propostos no PNIA
objetivam subsidiar a mensuração e o relato: a) das pressões existentes sobre o meio
ambiente; b) do estado histórico e atual do meio ambiente; c) da efetividade/ impacto das
respostas da sociedade para preservar ou recuperar o meio ambiente (BRASIL, 2014a).

Indicador Ambiental

Variável qualitativa ou quantitativa, em tempo e espaço definido, que pode ser


mensurada ou descrita e que permite o acompanhamento dinâmico da realidade
(BRASIL, 2014a).

Lista de Indicadores que compõem o PNIA 2012


1. Emissões Brasileiras de Gases de Efeito Estufa (GEE) por Fontes Antrópicas
2. Emissões Brasileiras Setoriais de Gases de Efeito Estufa (GEE)
3. Razão da Oferta Interna de Energia / PIB
4. Participação da Energia Produzida a Partir de Fontes Renováveis na Matriz
Energética
5. Consumo de Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio
6. Emissão de Poluentes Atmosféricos por Fontes Móveis
7. Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção Representadas nas UC Federais

17
8. Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção com Planos de Ação para Recuperação
e a Conservação
9. Cobertura Vegetal Nativa Remanescente
10. Desmatamento Anual por Bioma
11. Focos de Calor
12. Cobertura Territorial das Unidades de Conservação da Natureza
13. Cobertura Territorial e População Atendida pelo Programa Bolsa Verde
14. Área de Florestas Públicas Destinadas para Uso e Gestão Comunitários
15. Implantação da Agenda Ambiental na Administração Pública - A3P
16. Consumo de Agrotóxicos e Afins
17. Situação da Oferta de Água para Abastecimento Humano Urbano
18. População Urbana com Acesso a Sistemas Adequados de Abastecimento de Água
19. População Urbana com Acesso a Serviços de Coleta de Esgotos Sanitários
20. População Urbana com Acesso a Serviços de Tratamento de Esgotos Sanitários
21. Coleta per capita de Resíduos Sólidos Domiciliares (RDO)
22. Taxa de Cobertura da Coleta de Resíduos Sólidos Domiciliares em Relação à
População Urbana
23. Taxa de Recuperação de Materiais Recicláveis em Relação à Totalidade de RSU (**)
Coletados
24. Municípios com Órgãos Municipais de Meio Ambiente (OMMA)
25. Municípios com Conselhos de Meio Ambiente (CMMA)
26. Implantação da Agenda 21 Local
27. Relação entre Demanda Total e Oferta de Água Superficial
28. Índice de Qualidade da Água (IQA) dos Rios e BH em Função do Lançamento de
Esgotos Domésticos
29. Balanço Hídrico Qualitativo dos Rios e Bacias Hidrográficas
30. Balanço Hídrico Quali-quantitativo dos Rios e Bacias Hidrográficas
31. Cobertura do Território com Comitês de BH ou Outros Tipos de Colegiados
Instituídos nas Bacias
32. Cobertura Territorial dos Planos de Bacia Hidrográfica
33. Estado da Cobertura Terrestre das Áreas Susceptíveis à Desertificação
34. Cobertura Territorial dos Projetos de Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE)
Fonte: (BRASIL, 2014a, p. 30-31)

18
Para maiores informações sobre o PNIA, acesse o site do Ministério do Meio
Ambiente:
http://www.mma.gov.br/publicacoes/pnia

Para Refletir
Com base nos indicadores apresentados, você classificaria seu
município como sustentável? Justifique sua resposta.

Afinal, por que é tão importante a atuação dos governos municipais na área ambiental?
Vejamos algumas razões:

 O município é o espaço real do território em que as coisas acontecem. Nele se


podem sentir os impactos tanto dos problemas quanto das soluções para a qualidade
de vida. Por exemplo, uma grande obra pode ser executada para beneficiar todo o
País, mas inevitavelmente causará algum tipo de efeito no espaço geográfico de um
ou mais municípios. E quem sentirá as consequências no dia a dia serão os seus
habitantes. Portanto, os governos locais devem ter o controle das atividades que se
instalam em seu território, podendo, inclusive, ser mais restritivos que o estado e a
União.

 Alguns surtos de crescimento são como “fogo de palha”. Produzem muitas riquezas
em curto espaço de tempo, às vezes de “um ou dois mandatos”. Mas sem a base de
recursos naturais que lhes deram origem, e que foram degradadas, essas atividades
se vão para outras localidades, em busca de novos recursos para consumir. Todos
conhecem exemplos de cidades que nasceram e morreram economicamente em
algumas décadas pela febre dos minérios, da pesca, da borracha, da cana-de-
açúcar, do café... Portanto, vale a pena investir em formas de manter e usar com

19
inteligência os recursos ambientais disponíveis, exercendo o controle e a
participação social sobre a gestão do município.

 É mais fácil e barato prevenir do que remediar. Os custos para se resolver problemas
decorrentes dos impactos ambientais: poluição industrial, perda dos solos,
assoreamento de rios, contaminação de lençóis freáticos, perda de biodiversidade
são mais altos do que os esforços para evitá-los. Existem exemplos em todo o
mundo de quanto é custoso e demorado despoluir um rio.

Lençol Freático

Lençol de água subterrâneo que se encontra em profundidade


relativamente pequena. Pode ser considerado como parte ou camada
superior das águas subterrâneas (MILARÉ, 2007, p. 1257).

Biodiversidade

Representa a diversidade de comunidades vegetais e animais que se inter-


relacionam e convivem num espaço comum que pode ser um ecossistema
ou um bioma (IBAMA, 2003 apud BRASIL, 2006, p. 62).

 Muitos municípios estão descobrindo novas vocações econômicas que se


harmonizam melhor com os princípios da sustentabilidade socioambiental.
Atividades como o ecoturismo, a criação de polos de alta tecnologia (limpa) e o
incentivo à instalação de empreendimentos socialmente responsáveis podem gerar
riquezas e contribuir para a qualidade de vida da população. Em um mundo cada vez
mais globalizado isso é uma importante vantagem comparativa.

 No espaço do município se torna mais fácil garantir a participação de cidadãos e


cidadãs nas decisões, colocando em prática o princípio de que as pessoas devem

20
compartilhar com o Estado a responsabilidade pela conservação do meio ambiente,
garantindo transparência nas ações pelo controle social.

Controle Social

Ação de fiscalização, exercida pela sociedade, sobre os governos, visando


garantir transparência na definição das prioridades das políticas e nos
gastos públicos (BRASIL, 2006, p. 63).

Em resumo

Há muitas décadas, o Brasil adotou um modelo de desenvolvimento que tem gerado


subprodutos indesejáveis, tais como: poluição, esgotamento de recursos naturais e um dos
maiores índices de desigualdade social do mundo. Os resultados dessa mentalidade são
gritantes, e seus efeitos já se fazem sentir na maior parte dos municípios, ainda que
programas de combate ao desmatamento dos biomas, de gestão da qualidade e quantidade
dos recursos hídricos, de participação social, como as Conferências de Meio Ambiente, e de
transferência de renda tem sido bem sucedidos, com efeitos socioambientais positivos.

Muitos ainda restringem meio ambiente a apenas árvores, rios e animais. Em geral,
se esquecem de que nós, os seres humanos, que também fazemos parte desse cenário e
somos os principais responsáveis por suas alterações, deletérias ou não. Também persiste
o engano do ideário liberal e capitalista de que desenvolvimento e crescimento econômico
são sinônimos. Porém, não há desenvolvimento real sem o bem estar social, num ambiente
sadio. Assim, o conceito de sustentabilidade procura deixar mais claro que as pessoas,
especialmente os menos favorecidos, e o meio em que vivem, devem estar em primeiro
plano.

Esta inversão de valores deve ser implementada global, mas, sobretudo localmente. É
no espaço local que os maiores impactos são sentidos. Por isso, a importância da atuação
nessa escala. O município é onde moramos, trabalhamos e nos divertimos. Ali percebemos
os problemas e podemos contribuir para buscar soluções.

Ao se pensar e construir um modelo de desenvolvimento sustentável pode-se


descobrir e desenvolver novas vocações nos municípios, além de incentivar a participação
21
de seus cidadãos e cidadãs, promovendo a responsabilidade de todos sobre o presente e o
futuro da localidade, dos territórios, tendo a gestão ambiental como vetor de planejamento
democrático.

Agora que estudamos noções básicas acerca da sustentabilidade na gestão pública,


vejamos, na próxima unidade, os principais aspectos do Sistema Nacional de Meio
Ambiente - SISNAMA.

22
UNIDADE 2: GESTÃO AMBIENTAL DESCENTRALIZADA E INTEGRADA

Em uma perspectiva de uma gestão ambiental compartilhada, estudaremos, nesta


unidade, o Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, com foco em sua origem,
composição e competências dos entes integrantes. Além disso, analisaremos como o tema
meio ambiente é abordado na atual Constituição Federal.

SISNAMA: concepção e origens

O SISNAMA é o modelo de gestão ambiental adotado no Brasil. Foi instituído pela Lei
nº 6.938/1981, portanto, antes mesmo da atual Constituição Federal. O referido
ordenamento cria a Política Nacional do Meio Ambiente, e tem como desafio formar uma
rede de organizações em âmbito federal, estadual, distrital e municipal que, juntas, possam
alcançar as grandes metas nacionais na área ambiental. Desse modo, conforme nos lembra
Milaré (2011), é um sistema formado pelo conjunto de órgãos e instituições nos diversos
níveis de poder responsáveis pela proteção ambiental, além de ser o grande arcabouço
institucional da gestão ambiental brasileira.

Para maiores informações sobre a Lei 6938/1981, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm

Assim, podemos dizer que a proteção do meio ambiente, por meio do SISNAMA, se
consolida mediante a formulação e execução de políticas públicas de meio ambiente; a
articulação entre as instituições componentes do Sistema em âmbito federal, estadual,
distrital e municipal; e pelo estabelecimento da descentralização da gestão ambiental.

A ideia que deu origem ao SISNAMA baseia-se em um princípio da Ecologia, a teoria


dos sistemas vivos. Segundo essa teoria, sistema é um todo composto de partes que
dependem umas das outras e que, atuando juntas, servem para cumprir determinada
função.

23
A natureza possui milhares de exemplos de sistemas: cada indivíduo, animal, planta,
micro-organismo é um todo integrado, ou seja, um sistema vivo. Da mesma forma, as
sociedades humanas e o meio ambiente construído reproduzem esse modelo: a família, a
comunidade, as cidades, a malha viária, as redes de telefonia e de distribuição de alimentos
constituem exemplos de sistemas.

De acordo com essa visão, a Terra é um grande sistema, composto de outros


“encaixados” uns nos outros. Nesse sentido, o SISNAMA estrutura-se como uma rede capaz
de abarcar toda a complexidade da questão ambiental, por meio de ações compartilhadas
entre as esferas federal, estadual, distrital e municipal. Esse conceito representa uma nova
forma de ver o mundo, na qual são enfatizadas as relações e a integração que existe entre
os componentes do sistema. Como afirma Machado (2013), “nas questões ambientais não
se podem criar oportunidades para uma administração monolítica – fechada em si mesma.”

Do ponto de vista histórico, a origem do SISNAMA remete à criação da Secretaria


Especial de Meio Ambiente- SEMA, em 1973, que objetivava orientar uma política de
conservação do meio ambiente e uso racional dos recursos naturais; ao I Plano Nacional de
Desenvolvimento – PND – 1975-79, que incorporou a preocupação com o estabelecimento
de uma política ambiental e mudou a estratégia do “desenvolvimento a qualquer preço”; e o
II PND – 1980-85, durante o qual foi instituído a Política Nacional de Meio Ambiente, por
meio da Lei 6.938/1981 (MILARÉ, 2011).

Saiba Mais
A criação da SEMA foi uma resposta às críticas da
comunidade internacional acerca do posicionamento
dos países denominados de Terceiro Mundo, liderados
pelo Brasil, contrários ao retardamento e
encarecimento do processo de industrialização nos
países em desenvolvimento, como forma de controle
da degradação ambiental (MILARÉ, 2011).

Como visto, o SISNAMA começou a se estruturar ainda durante os governos militares


em um ambiente institucional fortemente marcado pela centralização. Havia naquele
momento, grandes dificuldades para se delegar poderes aos estados e municípios.

24
Assim, a primeira fase de implementação do sistema (décadas de 1980 e 1990)
caracterizou-se pela criação dos órgãos ambientais, principalmente nos âmbitos federal e
estadual. Até recentemente, porém, em muitos casos, o que se observa na prática é a
ocorrência de órgãos ambientais sem vínculos entre si, desarticulados e fortemente
marcados pela competição, especialmente no estabelecimento de competências para o
licenciamento e fiscalização ambiental.

Licenciamento

Procedimento administrativo pelo qual o órgão de meio ambiente avalia e


concede licença de localização, instalação, ampliação e operação de
empreendimentos e atividades que utilizem recursos naturais e possam causar
danos ou impactos ambientais. A licença prevê as ações que serão necessárias
para minimizar impactos, considerando-se as disposições legais e
regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso (BRASIL, 2006, p. 36).

Fiscalização

Procedimentos utilizados por órgão competente para verificar se as normas e


leis estão sendo cumpridas (BRASIL, 2006, p. 36).

Essa é, contudo, uma visão oposta ao que propõe a Política Nacional de Meio
Ambiente, que está fortemente assentada nos preceitos da Forma Federativa de Estado.
Por esse modelo, deve haver uma repartição de responsabilidades e recursos, além da
cooperação entre os entes federados. Segundo Granziera (2014), a principal característica
do SISNAMA é a coordenação das ações, baseada na articulação institucional, para que
não haja superposição ou lacunas na atuação do poder público.

25
Saiba Mais
No Brasil, a Forma de Estado é a Federação formada por quatro espécies de
entes (União, estados, Distrito Federal e municípios). Conforme nos lembra
Paulo; Alexandrino (2011), o Brasil segue um modelo de federalismo
cooperativo. Isso quer dizer que não há uma divisão rígida de competências
entre os entes, e que, além disso, esses deverão atuar de modo conjunto.
Em uma Federação, os governos organizam-se tendo a Constituição como
soberana. Submetidos aos seus princípios, os entes federativos compartilham
diferentes competências. Cada uma dessas esferas de governo desfruta de
autonomia política, administrativa, organizativa e legislativa.
Essa forma de organização cria um Estado composto, no qual existe a união das
comunidades públicas em torno da realização dos objetivos da Constituição.
Dessa forma, o poder não concentra-se nas mãos de uma única autoridade
central, fazendo com que seja repartido: a União, como ordem nacional; os
estados, como ordens regionais; e os municípios, como ordens locais. Nesse
caso, o Distrito Federal, em geral, acumula as competências dos estados e dos
municípios.

Agora que já temos uma noção do processo histórico que levou ao nascimento desse
sistema e entendemos suas principais bases conceituais, vejamos, então, quais são seus
componentes.

Composição do SISNAMA

A Lei 6.938/1981, em seu artigo 6º, traz a estrutura na qual está baseada a gestão
ambiental do País. E, tendo em vista os seus componentes, podemos dizer que, mesmo que
aberto à participação de instituições não governamentais e da sociedade civil, o SISNAMA é
uma estrutura político-administrativa eminentemente governamental (MILARÉ, 2011).

Assim, compõem o SISNAMA os órgãos e entidades da União, dos estados, do


Distrito Federal, dos territórios e dos municípios, bem como as fundações instituídas pelo
poder público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, assim
estruturado:

I – Órgão Superior

26
Conselho de Governo-reúne todos os
ministérios e a Casa Civil da Presidência da
República na função de formular a política
nacional de desenvolvimento do País,
levando em conta as diretrizes para o meio
ambiente.

II – Órgão consultivo e deliberativo

O Conselho Nacional do Meio Ambiente


(CONAMA) – formado por representantes dos
diferentes setores do governo (em âmbitos
federal, estadual e municipal), do setor
empresarial e da sociedade civil. Assessora o
Conselho de Governo e tem a função de deliberar
sobre normas e padrões ambientais compatíveis
com o meio ambiente ecologicamente
equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida.

III – Órgão central: Ministério do Meio Ambiente (MMA)

Tem a função de planejar, coordenar,


supervisionar e controlar as ações
referentes à Política Nacional e às
diretrizes governamentais fixadas para o
meio ambiente.

IV – Órgãos executores

27
O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e
o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio) – encarregados de
executar e fazer executar as políticas e as
diretrizes governamentais fixadas para o
meio ambiente, de acordo com as
respectivas competências.

V – Órgãos seccionais

Secretarias estaduais do meio ambiente,


os institutos ambientais- responsáveis
pela execução ambiental nos estados e
pelo controle e fiscalização de atividades
que provoquem a degradação do meio
ambiente, de acordo com as suas
respectivas competências.

VI – Órgãos locais

Secretarias municipais do meio ambiente –


entidades municipais, responsáveis pela
execução ambiental nos municípios e pelo
controle e fiscalização de atividades que
podem provocar a degradação do meio
ambiente, de acordo com as suas
respectivas competências.

O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA foi precedido, historicamente, por


duas experiências colegiadas. A primeira acompanhou a criação da Secretaria Especial do
Meio Ambiente – SEMA, em 1973, quando o Decreto Federal 73.030 instituiu o Conselho
Consultivo do Meio Ambiente (CCMA), com nove membros a serem nomeados pelo
Presidente da República. Porém, como afirma Machado (2013), “esse Conselho foi extinto
na prática”. A segunda iniciativa foi à criação do Conselho de Políticas Ambientais de Minas
Gerais – COPAM, em 1977.

28
O CONAMA é presidido pelo Ministro do Meio Ambiente e sua Secretaria Executiva é
exercida pelo Secretário-Executivo do Ministério do Meio Ambiente. Conforme o Decreto
6.792/2009 é composto por: Plenário; Câmara Especial Recursal; Comitê de Integração e
Políticas Ambientais; Câmaras Técnicas; Grupos de Trabalho e Grupos Assessores.

De acordo com a Lei 6.938/1981, alterada pelas Leis 8.028/1990 e 7.804/1989, esse
órgão colegiado tem como algumas de suas competências:

 Estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o


licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser
concedido pelos estados e supervisionado pelo IBAMA;

 Determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas


e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados,
requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem como das
entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos
estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou
atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas
consideradas patrimônio nacional;

 Estabelecer, privativamente normas e padrões nacionais de a) controle da


poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações; b) controle e
manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional de
recursos ambientais, principalmente os hídricos.

Para maiores informações sobre o CONAMA, acesse o Site CONAMA:


http://www.mma.gov.br/port/conama/index.cfm

29
Para maiores informações sobre o Decreto 6.792/2009:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6792.htm

Para maiores informações sobre a Lei 8.028/1990 acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8028.htm

Para maiores informações sobre a Lei 7.804/1989 acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7804.htm

O Ministério do Meio Ambiente substituiu a Secretaria de Meio Ambiente da


Presidência da República (SEMA), como órgão central do SISNAMA. Sua competência
abrange as políticas de meio ambiente e recursos hídricos e todas as questões referentes
ao meio ambiente (GRANZIERA, 2014). De acordo o Decreto nº 6.101/2007, é da
competência desse Ministério:

 A Política Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos;

 A Política de preservação, conservação e utilização sustentável de


ecossistemas, e biodiversidade e florestas;

30
 A Proposição de estratégias, mecanismos e instrumentos econômico e sociais
para a melhoria da qualidade ambiental e o uso sustentável dos recursos
naturais;

 As Políticas para a integração do meio ambiente e produção;

 As Políticas e programas ambientais para a Amazônia Legal;

 O Zoneamento ecológico-econômico.

Cabe ressaltar ainda que são entidades vinculadas ao Ministério do Meio Ambiente,
também fazendo parte de sua estrutura, as seguintes autarquias: a) Agência Nacional de
Águas (ANA); b) IBAMA; c) Instituto Chico Mendes- ICMBio; d) Instituto de Pesquisas do
Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ). Ademais, é órgão subordinado ao Ministério,
o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), que apesar de não possuir personalidade jurídica,
segundo a Lei 11.284/2006, poderá o Poder Executivo assegurar-lhe autonomia
administrativa e financeira, mediante celebração de contrato de gestão e de desempenho
(GRANZIERA, 2014).

Para maiores informações acesse o site MMA:


http://www.mma.gov.br/

Para maiores informações sobre o Decreto 6.101/2007, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6101.htm

31
Para maiores informações acesse o site da ANA:
http://www2.ana.gov.br/Paginas/default.aspx

Para maiores informações acesse o site do JBRJ:


http://www.jbrj.gov.br/

Para maiores informações acesse o site do SFB:


http://www.florestal.gov.br/

Para maiores informações sobre a Lei 11.284/2006, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11284.htm

O IBAMA foi criado pela Lei 7.735/1989, alterada pela Lei 11.516/2007. Suas
competências estão voltadas para o poder de polícia ambiental, respeitadas as diretrizes do
Ministério do Meio Ambiente. Entre suas atribuições estão o licenciamento ambiental;

32
controle e qualidade ambiental; autorização de uso dos recursos naturais; fiscalização,
monitoramento e controle ambiental.

Para maiores informações acesse o site do IBAMA:


http://www.ibama.gov.br/

Para maiores informações sobre a Lei 7.735/89, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7735.htm

Para maiores informações sobre a Lei 11.516/2007, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11516.htm

Originalmente, na composição da Lei 6.938/1981, com posterior alteração pela Lei


7.735/1989, que criou o IBAMA, não havia o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade. Esse foi criado como autarquia federal dotada de personalidade jurídica de
direito público, autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio
Ambiente, pela Lei 11.516/2007. Já a partir do Decreto 6.792/2009, que modificou o artigo
3º, IV, do Decreto 99.274/1990, passou a figurar ao lado do IBAMA como órgão executor do
SISNAMA (MILARÉ, 2011).

33
Para maiores informações acesse o site do ICMBio:
http://www.icmbio.gov.br/portal/

Para maiores informações sobre o Decreto 6.792/2009, acesse:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6792.htm

Cabe ressaltar também que, da mesma maneira em que se estabelece como sistema
(SISNAMA, mais tarde o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos –
SINGREH, e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC), a política
ambiental tende a ser também mais eficiente e efetiva quanto mais envolver processos
participativos em contexto verdadeiramente democrático. Isso não se deve apenas à sua
emergência no processo de democratização no Brasil, mas também porque afeta
diretamente a saúde e a qualidade de vida da população, surgindo como problema muitas
vezes nos territórios e nas comunidades, muito antes de ser percebida pelos governantes.

Assim, apesar de o SISNAMA ser uma estrutura político-administrativa


eminentemente governamental, como já vimos, Machado (2013) destaca que a maioria dos
estados brasileiros fez a escolha por um sistema de administração ambiental com a
participação de instituições não governamentais. Ou seja, trata-se de “uma concepção em
que o governo não tem necessariamente a chave da solução dos problemas do meio
ambiente.”.

Dessa forma, a educação ambiental, por exemplo, compreendeu, no curso de toda


essa história recente, que a problemática ambiental deve ser vista em toda a complexidade
do ambiente, envolvendo todos os atores e fatores, sendo, portanto, compreendido como
espaço relacional em que o ser humano “é um agente que pertence à teia das relações
34
sociais, naturais e culturais, e interage com ela” (BRACAGIOLI, 2007, p.230). Também por
isso, a gestão ambiental precisa ser compartilhada e participativa.

Como pudemos observar, em se tratando de um sistema com papéis compartilhados e


que visam a um objetivo comum, os esforços dos governos e gestores públicos devem
ocorrer no sentido colaborativo. Esse trabalho deve ser pautado, prioritariamente, em frentes
que almejem: a realização de uma política ambiental integrada e que busque incluir a
dimensão ambiental nas demais políticas de governo; a integração das políticas nacional,
regional e local de meio ambiente e de recursos hídricos; a atuação e articulação entre os
entes do SISNAMA; o diálogo e intercâmbio com o Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos – SINGREH, e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação –
SNUC; a implementação de iniciativas para capacitação de gestores e servidores públicos,
visando à estruturação da gestão ambiental; e o estímulo à criação de redes de conselhos,
órgãos e fundos de meio ambiente nas diversas esferas de governo.

Agora que compreendemos a composição do SISNAMA, podemos avançar um pouco


mais, vejamos a seguir o tratamento que a nossa Constituição Federal dá ao tema meio
ambiente. Vamos lá?

Para Refletir
Com base no que vimos até agora, em especial, a
respeito da estrutura do SISNAMA, identifique as
instituições públicas integrantes desse Sistema, por
exemplo, as secretarias, institutos ou órgãos
responsáveis por realizar a política de meio ambiente.
Faça isso considerando a esfera local (municipal),
regional (estadual) e nacional (União). Busque refletir
se há uma integração entre essas esferas de governo.

O meio ambiente na Constituição Federal

A Carta Magna fortaleceu amplamente o meio ambiente, e a qualidade ambiental,


como direito e obrigação de todos junto com outros dispositivos, que passaram a exigir a
recuperação do ambiente degradado e a impor sanções penais e administrativas às pessoas

35
físicas ou jurídicas que praticarem atividades lesivas, independentemente da obrigação de
reparar os danos.

O artigo 3º traz como um dos objetivos da República Federativa do Brasil o


desenvolvimento e o bem estar social, sendo que, este último que está diretamente
relacionado à qualidade de vida e, consequentemente, à qualidade ambiental. Além da
Ordem Social, outros dispositivos também abordam o tema, tal como os da Ordem
Econômica, que deixando claro que as práticas econômicas não poderão afetar a qualidade
ambiental ou impedir o alcance dos escopos sociais (MILARÉ, 2011).

Ademais, a atual Constituição foi a primeira no Brasil a mencionar a expressão meio


ambiente. A Lei Maior também dedica um espaço específico ao tema: Título VIII, Da Ordem
Social, Capítulo VI, artigo 225, que diz:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações” (BRASIL, Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, grifo nosso).

Para Machado (2014), por tratar-se de bem de uso comum do povo, o meio ambiente
é um bem coletivo de desfrute individual e também geral, por isso, é direito de cada pessoa,
mas não apenas dela, podendo ser considerado, portanto, transindividual. Assim, o direito
ao meio ambiente enquadra-se na categoria de interesse difuso, ou seja, que se espraia
para uma coletividade indeterminada.

A ideia de transindividualidade reforça a noção de que o meio ambiente deve ser


objeto de proteção tanto do Estado quanto da sociedade, para usufruto geral. Isso quer dizer
que não só o Poder Público tem o dever constitucional de zelar pela defesa e preservação
ambiental, mas também o cidadão e a cidadã. Este deixa de ser um mero titular passivo de
um direito e também passa a ter o dever de defendê-lo e preservá-lo (MILARÉ, 2011).

36
Para maiores informações acerca do artigo 225 e outros dispositivos da
Constituição Federal sobre o meio ambiente, acesse o site:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm

A exemplo da lei que criou o SISNAMA, a Constituição Federal é fortemente marcada


pelo princípio da descentralização. Dessa forma, traz para os municípios mais autonomia na
definição de suas prioridades ambientais (sempre com respeito às normas gerais editadas
pela União e pelos estados). Alguns fundamentos estabelecidos no texto constitucional são:

 Subsidiariedade: tudo o que puder ser realizado pelo nível local, com competência e
economia, não deve ser atribuído ao nível estadual e federal. Isso permite encontrar
soluções para os problemas o mais próximo possível de onde são gerados;

 Autonomia: a liberdade e o discernimento individual ou local são valorizados,


garantindo-se, dessa maneira, o mínimo de dependência para a realização de ações de
interesse local;

 Responsabilidade compartilhada: a missão de zelar pelos bens comuns cabe a todos e


a cada um, de acordo com as suas competências e atribuições;

 Cooperação ou solidariedade: independentemente da política partidária, a cooperação


entre os distintos níveis de governo é estimulada, pois isso otimiza custos e agiliza
processos.

Além do artigo 225, devemos destacar ainda, no âmbito legislativo, o artigo 24, que
afirma que a União, os estados e o Distrito Federal legislam concorrentemente sobre
matéria ambiental: “(...) florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do
solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; proteção ao
patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; direito urbanístico (...)”
(BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988).

Embora esse artigo não tenha explicitado a competência legislativa dos municípios,
ela ocorre, conforme afirma Milaré (2011), uma vez que está assegurada a competência
37
administrativa no nível local para proteção do meio ambiente e combate à poluição em
qualquer de suas formas, também está assegurada pela Constituição. O artigo 30, por
exemplo, confere a esses entes da federação a atribuição de legislar supletivamente à
União e aos estados sobre o meio ambiente e outros assuntos de interesse local (BRASIL,
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988).

Competência Legislativa Concorrente e Supletiva

Na competência legislativa concorrente, a União limita-se a estabelecer


normas gerais, enquanto que aos estados e ao Distrito Federal cabem
legislar de modo complementar (competência legislativa suplementar),
tendo em vista as peculiaridades regionais. Nesse caso, as normas
específicas não devem contrariar as normas gerais editadas pela União. Os
municípios também têm competência para suplementar a legislação federal
ou estadual, no que couber (PAULO; ALEXANDRINO, 2011).

Do ponto de vista administrativo, outro importante ponto de discussão é o artigo 23 da


Constituição Federal, que determina a competência administrativa comum da União, dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios em matéria ambiental. Conforme o dispositivo,
as três esferas de governo devem compartilhar a função de “(...) proteger o meio ambiente e
combater a poluição em qualquer de suas formas; preservar as florestas, a fauna e a flora; e
proteger bens de valor histórico, artístico e cultural, paisagens naturais notáveis e sítios
arqueológicos (...)” (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 1988).

Competência Comum

A competência administrativa comum é identificada na


outorga à União, estados, Distrito Federal e municípios para
atuarem, em condições de igualdade, sem subordinação, sobre
determinadas matérias. Em geral, tratam-se de interesses da
coletividade, ou difusos (ALEXANDRINO; PAULO, 2011).

Diante da necessidade de se evitar a sobreposição na atuação dos entes federados


nas competências administrativas comuns em matéria ambiental, ocorreu, no ano de 2011,

38
a regulamentação do artigo 23 da Constituição Federal. Vejamos a seguir algumas
considerações a respeito da Lei Complementar 140, e alguns de seus desdobramentos no
que diz respeito à gestão ambiental compartilhada.

Gestão ambiental compartilhada

A regulamentação do artigo 23 da Constituição Federal visa proporcionar o


desenvolvimento da política ambiental de modo compartilhado e mais eficiente entre os
entes federados. É nesse sentido que a Lei Complementar 140/2011 elenca em seu artigo
3º as finalidades básicas do exercício da competência comum em relação ao meio
ambiente, a saber:

“(...) proteger, defender e conservar o meio ambiente


ecologicamente equilibrado, promovendo a gestão ambiental
descentralizada, garantir o equilíbrio do desenvolvimento
socioeconômico com a proteção do meio ambiente, observando a
dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza e a redução
das desigualdades sociais e regionais, harmonizar as políticas e ações
administrativas para evitar as sobreposições de atuação entre os entes
federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma
atuação administrativa eficiente e garantir a uniformidade da política
ambiental para todo o país, respeitando todas as peculiaridades
regionais e locais (...)”(BRASIL, Lei Complementar 140, de 8 de
dezembro de 2011).

Na prática, o que significa essa repartição de competências? Como já vimos, no


SISNAMA, os órgãos federais têm a função de coordenar e emitir normas gerais para a
aplicação da legislação ambiental em todo o País. Também são responsáveis, dentre outras
atividades, pela troca de informações, a formação da consciência ambiental, a fiscalização e
o licenciamento ambiental.

Aos órgãos estaduais cabem as mesmas atribuições, só que no âmbito regional:


criação de leis e normas complementares (podendo ser mais restritivas) que as existentes
em nível federal, estímulo ao crescimento da consciência ambiental, fiscalização e
licenciamento.

39
O modelo se repete para os órgãos municipais: licenciamento e fiscalização em âmbito
local, formação de consciência ambiental local, elaboração de leis que se apliquem ao meio
ambiente do município e monitoramento da aplicação destas.

Monitoramento

Ato de acompanhar o comportamento de


determinado fenômeno ou situação com o objetivo de
detectar riscos e oportunidades (BRASIL, 2006, p. 36).

O que fez a Lei Complementar 140 foi estabelecer uma divisão de atribuições mais
específica entre a União, estados, Distrito Federal e municípios. Para se atingir as metas
estabelecidas no regulamento, em seu artigo 4º, são elencados alguns instrumentos de
cooperação institucional, tais como consórcios, convênios, comissões tripartites e
bipartites, fundos e outros instrumentos econômicos, faz ainda uma distribuição de
competências administrativas por matéria, com temas como: acesso ao conhecimento
tradicional, educação ambiental, espaços territoriais, fauna, florestas, patrimônio genético,
pesca, produtos perigosos, risco, zona costeira e licenciamento ambiental.

Saiba Mais
A Comissão Tripartite Nacional e comissões tripartites estaduais
serão formadas, paritariamente, por representantes dos
Poderes Executivos da União, dos estados, do Distrito Federal e
dos municípios, com o objetivo de fomentar a gestão ambiental
compartilhada e descentralizada entre os entes federativos.
A Comissão Bipartite do Distrito Federal será formada,
paritariamente, por representantes, dos Poderes Executivos da
União e do Distrito Federal, com o objetivo de fomentar a
gestão ambiental compartilhada e descentralizada entre esses
entes federativos (BRASIL, 2013).

40
Para maiores informações sobre a Lei Complementar 140/2011, acesse:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp140.htm

Em resumo

O modelo de gestão definido pela Política Nacional de Meio Ambiente baseia-se no


princípio do compartilhamento das responsabilidades, participação e controle social para a
proteção ambiental entre os entes federados e com os diversos setores da sociedade. Para
distribuir as responsabilidades administrativas entre a União, estados, o Distrito Federal, e
os municípios, foi instituído o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), um modelo
descentralizado de gestão ambiental.

Seguindo a noção de responsabilização comum a toda a sociedade, a Constituição


Federal, em seu artigo 225, trata especificamente do tema ambiental, assegurando que o
meio ambiente é um bem de uso comum do povo, necessário para a qualidade de vida, e
que sua preservação para as presentes e futuras gerações é um dever de todos: Poder
Público e coletividade.

Outros dispositivos constitucionais, tais como os que tratam das responsabilidades


legislativas e administrativas, também abordam o meio ambiente, reforçando a priorização
dos interesses coletivos sobre os individuais, dos interesses sociais sobre os econômicos,
para manutenção da qualidade ambiental e saúde da população.

Nesta unidade, vimos, em linhas gerais, os aspectos relacionados à gestão pública


ambiental nas três esferas de governo da Federação, com ênfase no ponto de vista
colaborativo entre os entes. Vejamos no próximo, como isso se aplica mais especificamente
aos municípios.

41
UNIDADE 3: GESTÃO AMBIENTAL MUNICIPAL

Nesta unidade, estudaremos a gestão ambiental municipal, dando ênfase aos


principais atores sociais desse processo: a sociedade civil e os gestores públicos ambientais
e à necessidade de capacitação técnica dos recursos humanos. Além disso, abordaremos
princípios básicos para a estruturação da gestão ambiental local.

Um cenário da gestão ambiental municipal no Brasil

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu o marco para a ação municipal sobre o


meio ambiente ao definir a proteção ambiental como competência comum entre os entes
federados, e a inclusão dos municípios como entes partícipes da Federação, em igualdade
de condições, dotados de autonomia política, administrativa e financeira. Como vimos na
unidade anterior, ao estabelecer as competências dos entes federados, a Constituição,
deixou explícita a responsabilidade dos municípios na prestação de alguns serviços, bem
como o dever de atuar em áreas específicas.

Segundo nos lembra Fiorillo (2013), a Carta Magna trouxe importante relevo para o
município, na medida em que é a partir dele que a pessoa humana poderá usar os
denominados bens ambientais, visando à plena integração social, com base na moderna
concepção de cidadania.

Desse modo, a autonomia municipal, propiciada pela Constituição, e ampliada pela Lei
Complementar 140/2011, tem estimulado os municípios a terem um maior protagonismo na
gestão ambiental local.

Segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 2013 – MUNIC, 90,0%


dos municípios brasileiros informaram dispor de algum órgão de meio ambiente. De acordo
com essa pesquisa, houve aumento significativo na criação de órgãos executivos municipais
com atribuições ambientais específicas: em 2002 esse percentual era de 67,8%, já em 2009,
84,5% (BRASIL, 2014b).

O aumento da participação dos órgãos ambientais na administração pública municipal


vem ocorrendo em todas as Unidades da Federação e em todas as classes de tamanho da
42
população dos municípios. Considerando-se as Grandes Regiões, os percentuais mais
elevados de municípios com alguma estrutura na área ambiental estão nas Regiões Norte
(98,0%), Sul (95,0%), Centro-Oeste (92,3%), Sudeste (89,0%) e Nordeste (85,2%). A
pesquisa revelou ainda que apenas três estados brasileiros apresentam a totalidade de seus
municípios com estrutura na área ambiental: Acre, Amapá e Espírito Santo (BRASIL,
2014b).

Acerca dos municípios com alguma estrutura ambiental, predominam aqueles em que
o órgão responsável pela área de meio ambiente tem status de secretaria exclusiva ou em
conjunto com outras políticas setoriais (81,3%). Há ainda a ocorrência de órgão do tipo setor
subordinado a outra secretaria (13,0%), setor subordinado diretamente à chefia do executivo
municipal (4,4%) e órgão da administração indireta (1,3%) (BRASIL, 2014b).

A pesquisa revela ainda que a ocorrência de estrutura administrativa no setor


ambiental é maior nos municípios mais populosos: 82,3% dos municípios com até 5.000
habitantes, 97,4% entre aqueles com mais de 500.000. Nesse sentido, entre os 638
municípios do País com mais de 50.000 habitantes, 99,1% contam com alguma estrutura
administrativa em meio ambiente (BRASIL, 2014b).

Tabela: Órgão Gestor de Meio Ambiente


Distribuição percentual de Municípios com estrutura na área de Meio Ambiente, por
caracterização do órgão gestor, segundo as Grandes Regiões e as classes de tamanho da
população dos Municípios - 2013.
Distribuição percentual de municípios com estrutura na área de meio ambiente
Grandes (%)
Regiões e Total Secretaria Secretaria Setor Setor Órgão da
classes de municipal Municipal Subordina subordinado Administraç
tamanho da exclusiva em conjunto do a outra Diretamente a ão
população com outra Secretaria chefia do Indireta
dos Executivo
municípios
Brasil 100,0 30,1 51,2 13,0 4,4 1,3
Norte 100,0 54,0 37,4 7,3 1,1 0,2
Nordeste 100,0 26,4 56,6 15,1 1,4 0,5
Sudeste 100,0 32,9 45,3 11,8 9,0 1,0
Sul 100,0 17,1 61,2 15,3 3,4 3,0

43
Centro- 100,0 43,3 39,7 10,0 5,6 1,4
Oeste
Até 5000 100,0 20,9 58,2 13,7 7,1 01
hab.
De 5001 a 100,0 24,6 53,3 15,6 6,4 01
10.000hab
10.001 a 100,0 29,7 51,2 14,3 3,9 0,9
20.000hab
20.001 a 100,0 32,9 51,0 12,2 2,8 1,1
50.000hab
50.001 a 100,0 46,2 40,9 6,9 1,5 4,5
100.000hab
100.001 a 100,0 54,5 30,5 6,9 0,0 8,1
500.000hab
Mais de 100,0 65,8 23,3 0,0 0,0 7,9
500.000hab
Fonte: BRASIL (2014b)

A partir desses números podemos inferir, entre outros aspectos, que pode estar
havendo um aumento de situações de conflitos socioambiental, com maior sensibilização e
pressão da sociedade em favor de ações de defesa ambiental por parte do poder público
local. As administrações locais, por sua vez, parecem estar mais atentas às atribuições e
competências dos municípios e de seus órgãos no contexto do SISNAMA.

Isso está acontecendo em seu município? De que forma?

Para Refletir
Em seu município há uma secretaria exclusiva para
tratar das questões ambientais ou essa área está
associada a outros temas? Observe se sua resposta
reflete a pesquisa do IBGE, no que se refere à região
geográfica e ao número de habitantes de sua
localidade.

44
Para maiores informações sobre a Pesquisa de Informações Básicas Municipais,
acesse o site do IBGE:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/default.shtm

Elementos para a estruturação da gestão ambiental local

A semântica da palavra gerir quer dizer administrar, dirigir, manter determinada


situação ou processo sob controle para obter o melhor resultado. Nesse sentido, a gestão
ambiental pode ser considerada um conjunto de políticas, programas e práticas que levam
em conta a saúde, a segurança das pessoas e a proteção do meio ambiente. Além disso, a
gestão também é realizada por meio da eliminação ou da minimização de impactos e danos
decorrentes do planejamento, implantação, operação, ampliação, realocação ou desativação
de empreendimentos e atividades, incluindo-se todas as fases do ciclo de vida de um
produto.

Assim, realizar a gestão do meio ambiente significa executar uma série de ações, de
forma encadeada e articulada, que resulte em uma maior consciência sobre as
consequências da atuação humana sobre o ambiente; e, por conseguinte, na adoção de
práticas e comportamentos que melhorem essa conduta.

Mesmo em um pequeno município, gerir é tarefa complexa. Em geral, as ações


humanas interferem no ambiente, com impactos de maior ou menor grau, por exemplo, as
atividades agrícolas, a construção de grandes e pequenas obras, a destinação dos resíduos
domésticos, industriais e hospitalares, bem como a mobilidade urbana. Até em locais onde
há pouca atuação humana, como em algumas áreas protegidas e com restrições de uso, é
preciso gestão para exercer vigilância, controlar o fluxo de pesquisadores, visitantes, entre
outras ações.

Assim, podemos dizer que a gestão ambiental envolve aspectos como:

 A escolha inteligente dos serviços públicos oferecidos à comunidade;

45
 O equilíbrio entre receitas e despesas, com o uso ético e transparente dos recursos
públicos;

 A edição de leis e normas claras, simples e abrangentes de defesa ambiental local;


 A aplicação das leis, com penalização para quem cause algum tipo de dano
ambiental;
 A formação de consciência e cidadania ambiental;
 A geração de informações que deem suporte às decisões políticas e técnicas;
 A democratização das instituições, para que permitam e estimulem a participação
dos cidadãos;
 O planejamento do desenvolvimento sustentável local, e a implementação das
políticas necessárias para realizá-lo.

46
Para Refletir
Faça um diagnóstico da localidade em que você vive. Observe principalmente as
atividades produtivas, o impactos no meio ambiente decorrentes dessas ações e a forma
de participação dos principais atores sociais envolvidos. A partir desse breve desenho,
vamos criar um mapa de relações ligadas à gestão ambiental, seguindo as orientações a
seguir:

1. Sobre um mapa existente, indique os locais onde se desenvolvem as atividades ou


empreendimentos que produzem impactos ambientais significativos no seu município.
Por exemplo: estradas, ferrovias, portos, oleodutos, gasodutos, linhas de transmissão de
energia elétrica, barragens/usinas de geração de eletricidade, extração de minério,
indústrias, aterros sanitários, entre outros.
2. Esses impactos geram problemas de qual ordem: há poluição do ar, sonora, do solo e
de cursos d´água? Que consequências isso traz para o cotidiano e para a saúde da
população local?
3. Em um papel à parte, relacione – para cada situação – os diferentes grupos (formais e
informais), organizações empresariais, governamentais e não-governamentais, que
atuam naqueles locais, gerando o problema ou buscando soluções. Represente-os em
forma de círculos.
4. Ligue os círculos por meio de setas, mostrando as relações que tais organizações
estabelecem entre si. Coloque setas de cores diferentes para significar relações de
cooperação ou de competição.
5. Você acaba de mapear os problemas e os atores sociais envolvidos com as questões
ambientais em seu município.
6- Por fim, percorra os locais buscando contatar e ouvir todas as pessoas relacionadas
com cada problema. Pergunte: Por que isso está acontecendo? Quem está envolvido?
Quais são as dificuldades que se apresentam para resolvê-lo? Quais áreas da prefeitura
poderão contribuir para resolver a situação?
Esse é o primeiro passo para identificação dos gestores ambientais que já atuam no
local.
Lembre-se: esse diagrama é um retrato simplificado de um sistema complexo e dinâmico
de interações. Trata-se da sua visão (ou da visão de um pequeno grupo de pessoas) e
precisa passar pelo teste da realidade. Porém, oferece bons indícios para iniciar uma
abordagem, com um trabalho de mobilização.

Além dos elementos tratados anteriormente, ao planejar o desenvolvimento do seu


território, sob o ponto de vista da sustentabilidade, os municípios devem considerar outros
princípios:

 Concepção de crescimento econômico que proporcione melhor distribuição de


renda;

 A alocação e a gestão mais eficientes dos recursos públicos;

47
 A adequada utilização dos recursos naturais, com a redução do volume de
resíduos e dos níveis de poluição, a pesquisa e a implantação de tecnologias de
produção limpas e a definição de regras para proteção ambiental;

 Maior equilíbrio entre os espaços rural e urbano por meio do ordenamento de usos
do solo;

 O respeito às tradições culturais das populações urbanas e rurais, valorizando


cada espaço e cada cultura.

E para que isso ocorra, a área de meio ambiente não deve ser vista como mais um
departamento da administração municipal, isolada, sem recursos e sem servidores. Ao
contrário, deve se tornar elemento estruturador das políticas municipais, permeando todos
os setores da administração.

Entretanto, muitos municípios brasileiros ainda apresentam fragilidades em relação a


sua capacidade de articulação com os próprios órgãos internos, assim como, com os órgãos
estaduais e federais. Por isso, também é importante estabelecimento de intercâmbios,
parceiras, cooperação e convênios interinstitucionais, além da formação de redes.

Assim, no dia a dia municipal é preciso mais do que a existência de um ou dois órgãos
para realizar a gestão ambiental. Deve-se estabelecer uma política voltada para a gestão
ambiental e para a formulação de instrumentos que tornem essa política efetiva. Nesse
âmbito, é fundamental o estabelecimento e realização de ações de maneira transversal, que
envolvam áreas como: educação ambiental, geração de informações, participação popular,
elaboração de legislação local, execução de projetos, fiscalização, monitoramento da
qualidade ambiental e aporte de recursos financeiros.

Ademais, para se efetivar, a ação ambiental precisa estar fundamentada sobre uma
base institucional composta por um conjunto de normas locais e por uma estrutura
administrativa. A estruturação do sistema municipal de meio ambiente pressupõe, entre
outros aspectos:

 Vontade política da prefeitura e sensibilidade para a importância das questões


ambientais;

48
 Independência em relação às instâncias partidárias;

 Estabelecimento de diretrizes para as políticas públicas municipais nas quais o


tema ambiental oriente a execução de planos e projetos;

 Integração com as demais áreas da administração;

 Infraestrutura condizente com as ações a serem realizadas;

 Equipe com perfil articulador e trânsito nos distintos setores do poder local e com
as demais instâncias (estadual e federal);
 Prioridades de ação claras, a partir de ampla consulta e participação popular;

 Estabelecimento de metas alcançáveis, sujeitas a revisões periódicas;

 Estabelecimento de indicadores de qualidade ambiental que se tornem referência


para todas as ações do governo municipal, de preferência gerados e
administrados por um sistema de informações sobre o meio ambiente local;

 Estabelecimento de boas relações com a Câmara dos Vereadores, pois esta tem
um papel relevante na aprovação de leis referentes ao meio ambiente local, bem
como na exigência do cumprimento da legislação já existente em âmbitos federal
e estadual.

Dessa forma, a área ambiental torna-se uma unidade viva na administração municipal,
atuando com outras áreas da municipalidade, incentivando um sistema mais integrado
horizontalmente, dialógico, simpático e dinâmico, alinhado também com os demais órgãos
do SISNAMA, SINGREH e SNUC.

Esquema: Integração horizontal

49
Educação

Administração
Obras
e Governo

Turismo
Meio Transportes

Ambiente
Indústria e
Agricultura
Comércio

Cultura

Fonte: (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS, 2004, apud BRASIL, 2006)

Cabe rememorarmos ainda que tudo o que diga respeito ao interesse local pode ser
deliberado e executado pelos municípios sem necessidade de prévia consulta ou
consentimento do estado ou da União, observadas as normas e os padrões federais e
estaduais. É recomendável, porém, que as políticas e as ações ambientais desenvolvidas
pelos municípios sejam executadas em sintonia com as políticas públicas estaduais e
federais e de acordo com as normas e padrões vigentes. Afinal, os órgãos ambientais
devem atuar de forma sistêmica, integrando planejamento e ações por meio de um esforço
cooperativo. A atuação e construção coletivas no contexto da gestão compartilhada, seja
junto às outras instâncias da municipalidade, aos demais entes e órgãos do SISNAMA, ou
junto à comunidade local e suas organizações representativas, empodera o gestor
ambiental, fortalece a “co-autoria” e, por conseguinte, consolida no tempo e no espaço as
iniciativas.

Com base nisso, vejamos, a seguir, alguns perfis orientadores para a estruturação da
gestão ambiental nos municípios.

Uma estrutura compatível com as necessidades municipais

50
A implantação do sistema municipal de meio ambiente, institucionaliza a política
ambiental no município, com abrangência no Poder Público e nas comunidades locais, por
meio de uma estrutura da qual fazem parte:

Órgão Executivo Municipal de Meio Ambiente: Secretaria, Diretoria, Departamento ou


Secção. O município tem autonomia para definir as competências dos órgãos, que em geral
envolvem-se em atividades de coordenação e execução das políticas de meio ambiente,
assim como fiscalização, licenciamento, e monitoramento da qualidade ambiental.

Conselho Municipal de Meio Ambiente – órgão superior do sistema, de caráter


consultivo, normativo e deliberativo, responsável pela aprovação e acompanhamento da
implementação da política municipal de meio ambiente. Os conselhos devem ser criados por
lei municipal específica. Sua constituição poderá ser paritária, isto é, em igual número de
integrantes de cada setor representado, especialmente governamental e não
governamental; sempre envolvendo o maior número possível de entidades representativas
da sociedade civil. Seus conselheiros deverão ter mandato de, no mínimo, dois anos.

Fundo Municipal de Meio Ambiente – órgão de captação e de gerenciamento de


recursos financeiros alocados para a área de meio ambiente. Em geral, os fundos de meio
ambiente são criados para captar recursos originados de multas e de atividades relativas à
gestão ambiental em âmbito municipal e para garantir a permanência desses recursos no
município e direcioná-los a programas e projetos de meio ambiente do próprio município.

Para determinar uma estrutura ideal, o gestor ambiental deverá levar em conta a área
do município, sua população e os seus principais problemas ambientais. Assim, como
referência, a Confederação Nacional dos Municípios, em sua coletânea de Gestão Pública
Municipal propõe 3 diferentes estruturações dos órgãos ambientais no organograma das
prefeituras. Observem que há uma ampliação da organização das atividades ligadas à área
ambiental à medida que aumenta o número de habitantes. Vejamos:

Para municípios com população de até 5 mil habitantes, pequena área, pouca oferta
de recursos naturais, características agrossilvopastoris, litorâneas de pequeno porte,
turísticas, e de estâncias hidrominerais:

Esquema: Estruturação de órgãos ambientais-: municípios com até 5 mil habitantes

51
Gabinete do
Prefeito

Conselho de Assessoria de
Meio Ambiente Meio Ambiente

Administração e Serviços
Saúde Obras Educação Turismo
Finanças Municipais

Fundo Municipal
de Meio
Ambiente

Fonte: (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS, 2004, apud BRASIL, 2006).

Para municípios com até 50 mil habitantes, área territorial média e grande, razoável
oferta de recursos naturais, características agroindustriais, industriais médias, portuárias e
de cidades-dormitório:
Esquema: Estruturação de órgãos ambientais- municípios com até 50 mil habitantes

52
Gabinete do
Prefeito

Conselho de
Meio Ambiente

Administração e Turismo e Meio


Saúde Obras Educação Agricultura
Finanças Ambiente

Fundo
Municipal de
Meio Ambiente

Fonte: (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS, 2004, apud BRASIL, 2006).

Para municípios com população acima de 50 mil habitantes, área territorial média e
grande, razoável oferta de recursos naturais, características agroindustriais, mineradoras,
industriais, portuárias, grandes zonas urbanas ou regiões metropolitanas:

Esquema: Estruturação de órgãos ambientais- municípios acima de 50 mil habitantes

Gabinete do
Prefeito

Conselho de
Meio Ambiente

Meio
Obras Finanças Educação Administração Saúde
Ambiente

Fundo Municipal
de Meio Ambiente

Planejamento Sistemas de Fiscalização e Educação Urbanização e


Jurídica
Ambiental Informação Controle Ambiental Áreas Verdes

53
Fonte: (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS, 2004, apud BRASIL,
2006).

Outra importante decisão do gestor público é a de ter corpo técnico próprio, em


número compatível com a demanda e capacitado para desempenhar suas competências. É
sobre isso que falaremos a seguir.

Recursos humanos: sujeito e objetivo da gestão

Para alguns segmentos, a atuação nos processos de gestão ambiental ocorre do


modo mais objetivo. É o caso dos agentes públicos que, com vistas a garantir a preservação
da biodiversidade e uso racional dos recursos naturais, atuam em diversas frentes, como na
formulação de políticas públicas, em atividades relacionadas à elaboração de normas, no
planejamento e execução de projetos, no manejo de áreas degradadas e em processos
educativos e formativos.

Sobre isso, a Pesquisa de Informações Básicas Municipais- MUNIC, do IBGE indicou


a participação dos recursos humanos dos órgãos municipais de meio ambiente, em 4
ocasiões (2002, 2004, 2008 e 2013).

De modo geral, os estudos indicam um crescimento do pessoal ocupado na área


ambiental nos municípios brasileiros, com os números quase dobrando entre 2002 (31.098
pessoas) e 2013 (61.295 pessoas). Outra importante consideração é a de que em 2013
havia um percentual maior de servidores com vínculo estável com a administração pública
(45,5% do total). Os demais somavam 21,1% entre somente comissionados; 21% sem
vínculo permanente; 8% celetistas; e 4,3 % de estagiários. A média de pessoas ocupadas
na área ambiental por município também cresceu: 8,3 em 2002; 9,1 em 2004; 9,5 em 2008;
12,2 em 2013 (BRASIL, 2014b).

Apesar desse incremento, a relação entre a quantidade de pessoas ocupadas na área


ambiental e o total de servidores do município, permaneceu estável ao longo das pesquisas:
1,1% em 2002; 0,9% em 2008; e 1% em 2013. Além disso, o aumento relativo de pessoal
ocupado na área ambiental se deu entre aqueles com menor estabilidade. Assim, o pessoal
somente comissionado, em 2008, representava 20,3% do total; em 2013, 21,1%. Os
estagiários eram 19,2% em 2008; em 2013, 25,3%. Os celetistas 11,6% em 2008; 8% em
2013. Já os estatutários, 48,9% em 2008; e 45,5% em 2013 (BRASIL, 2014b).
54
De acordo com os números da MUNIC, podemos depreender, inicialmente, que houve
um aumento importante no número de profissionais ocupados com a gestão ambiental
municipal. O fato desse aumento ter acompanhado, em média, o aumento geral de pessoal
das prefeituras, relativiza, em parte, esta primeira informação, mas também indica que a
área ambiental não foi preterida nesse crescimento geral, o que é positivo. Por outro lado,
esse incremento quantitativo no pessoal da área ambiental, nos anos recentes, ocorreu por
meio de vínculos mais provisórios com a administração pública. Ou seja, o que se espera é
que este fenômeno represente apenas uma oscilação eventual, num processo transitório de
reconhecimento da necessidade de mais pessoal na área, seguido nos próximos pela
substituição por mais servidores efetivos, uma vez que este é um dos aspectos
fundamentais na estruturação da gestão ambiental nos municípios.

Gráfico: Pessoal ocupado na área de meio ambiente nos municípios do País

PESSOA L O CUPA DO NA Á REA DE ME I O A MBI E NT E NO S


MUNI CÍ PI O S BRA SI LE I RO S
Pessoal ocupado na área de meio ambiente no país

61295
41287
36001
31098

2002 2004 2008 2013

Fonte dos dados: Brasil (2014b)

Gráfico: Percentual de pessoal ocupado na área de meio ambiente, segundo regime de


concentração nos anos de 2004, 2008 e 2013¹

55
PE RCE N T UA L D E PESSOA L O CUPA D O N A Á REA D E ME I O
A MBI E NT E , SEG UNDO REG I ME DE CO NT RATAÇÃO
ESTATUTÁRIOS CLT COMISSIONADOS ESTAGIÁRIOS E SEM VÍNCULO EMPREGATÍCIO
50,60%

48,90%

45,50%

25,30%
21,10%
20,30%

19,20%
18,66%

18,43%
12,31%

11,60%

8%
2004 2008 2013²

Fonte dos dados: Brasil (2014b)


(¹) A soma das parcelas do pessoal ocupado é inferior a 100% porque algumas prefeituras
não souberam declarar o regime de contratação dos funcionários.

Para maiores informações sobre a Pesquisa de Informações Básicas Municipais,


acesse o site do IBGE:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/default.shtm

Conhecer a realidade sobre a qual se vai atuar é um passo importante. Reconhecer os


talentos existentes no local e mobilizar a comunidade também. Porém, tão importante
quanto o conhecimento popular sobre os recursos e as necessidades locais é a geração de
capacidade técnica. Claro que, muitas vezes, o acompanhamento e a pressão mesmo da
sociedade local também são fatores importantes ao fortalecimento técnico e orçamentário
da política ambiental local.

De acordo com pesquisa do IBGE, em 2002, de cada 10 servidores municipais,


apenas um trabalhava no setor responsável pelo meio ambiente. Desse pequeno
contingente, apenas 20% tinham nível de instrução superior (IBGE 2005 apud BRASIL,
2006, p. 30).

56
Entretanto, para além da educação formal, como a realização de cursos de graduação
e pós-graduação, é necessária a promoção, por parte da administração pública, de outros
processos formativos permanentes, tais como as capacitações de curto e médio prazo.
Essas iniciativas devem buscar:

 O esclarecimento sobre a estrutura da política ambiental nacional e estadual;

 O esclarecimento do papel desempenhado pelo município nessa política;

 O fortalecimento e/ou da criação de órgãos que compõem o sistema municipal de


meio ambiente;

 A formação de recursos humanos capazes de desempenhar o papel que lhes cabe


dentro do sistema municipal de meio ambiente e compor os cargos técnicos,
administrativos, de fiscalização e de controle ambiental;

 O desenvolvimento de mecanismos para a gestão ambiental compartilhada, integrada


e adequada às competências de cada ente federado; e

 A criação de um método de comunicação e de integração entre os componentes do


sistema municipal de meio ambiente, consolidando a sua implementação,
dinamizando as suas funções e aproximando o trabalho dos três níveis de governo
(federal, estadual/distrital e municipal).

Para Refletir
Você conhece alguma outra iniciativa voltada para a
formação técnica de gestores públicos ambientais no seu
município? Você pode citar como exemplo a realização de
cursos presenciais ou a distância, palestras, seminários,
entre outros.

57
A participação social na gestão do ambiente

Para se realizar a gestão ambiental é fundamental a estruturação das políticas


municipais de modo que a Prefeitura, em conjunto com a comunidade, busque caminhos
saudáveis e viáveis para o desenvolvimento social e econômico dessa localidade. Assim,
podemos dizer que um sistema municipal de meio ambiente organizado e atuante decorre
de um processo fortemente vinculado à participação da sociedade local e às características
de sua realidade socioambiental.

Gestão ambiental parece assunto exclusivamente destinado a especialistas. Porém,


há muita gente que realiza gestão ambiental mesmo sem saber: muitas lideranças
comunitárias atuam na melhoria da coleta de resíduos e do saneamento, outras orientam as
famílias sobre a qualidade da água, outras ainda lutam contra a poluição gerada por
indústrias, a poluição sonora, ou em favor da mobilidade urbana, dos animais ou da
conservação das áreas verdes. Todas essas pessoas são aliadas potenciais das ações de
gestão ambiental no município.

Existem ainda grupos com grandes possibilidades de atuação e que podem trazer
importantes contribuições. Os idosos, por exemplo, são pessoas experientes e que
representam a memória viva da comunidade. Além disso, dispõem de tempo e, em geral,
têm grande necessidade de se sentirem valorizadas e úteis à sociedade. As crianças e
jovens também podem ser importantes aliados. Afinal, elas são a porta de entrada para as
famílias e têm enorme capacidade de influenciar na mudança de hábitos. Há ainda os
grupos religiosos, sensíveis para a defesa da vida em suas diversas manifestações. Desse
modo, vale a pena fazer um inventário de todas as forças sociais atuantes no município para
a mobilização que será necessária a um trabalho de gestão ambiental realmente efetivo.

Assim, primeiramente, o gestor deve partir da realidade local, dos problemas e dos
atores sociais envolvidos ou potencialmente interessados. Também deve entrar em contato
com as organizações existentes no município, como os órgãos da administração municipal,
do governo estadual e federal presentes na região, as organizações da sociedade civil, as
associações comunitárias, os catadores de material reciclável, os sindicatos rurais, as
entidades de classe e empresariais, além de instituições de ensino, pesquisa e extensão. É
fundamental também que se busque reunir conhecimentos e habilidades, identificando as
necessidades de atuação e mobilização das partes envolvidas.

58
E por que é preciso garantir a participação da sociedade na gestão ambiental
municipal? Vejamos algumas razões:

 Sem a participação da sociedade corre-se o risco de encontrar soluções tecnicamente


perfeitas, mas que não se aplicam à vida prática das pessoas;

 A contribuição de cidadãos com idades, profissões, níveis educacionais, interesses e


envolvimentos diferenciados com a vida da cidade e do município tende a ampliar a
visão sobre determinado problema ou necessidade. Além disso, promove a
colaboração para a busca de soluções;

 Trabalhar em parceria com pessoas e entidades diversificadas, sejam governamentais


ou não governamentais, amplia o impacto das ações, a sua sustentabilidade social,
cultural e política, multiplicando os efeitos do que desejamos produzir;

 Quando as pessoas se comprometem com alguma ação, tornam-se responsáveis


pelos resultados e mais capazes de manter esse compromisso ao longo do tempo.
Isso faz com que as ações sejam duráveis, ou seja, sustentáveis.

Assim, a implementação das ações visando a busca da sustentabilidade com justiça


social está diretamente relacionada com a qualidade da participação de cidadãos e cidadãs,
pois é a população, que sente mais diretamente os problemas, sendo a maior interessada
em vê-los resolvidos. E para isso é necessário que sejam criados mecanismos capazes de
garantir uma escuta qualificada dos problemas, a tomada de decisões mais consensuais,
além de assegurar a implementação do controle social sobre as ações empreendidas.

Para Refletir
Você identifica em seu município elementos que indiquem uma
efetiva participação social na gestão ambiental? Justifique sua
resposta.

59
Em resumo

A gestão ambiental deve ser realizada por meio de ações planejadas e articuladas que
objetivem uma maior compreensão acerca dos impactos da ação humana no espaço em
que vive, além de instigar práticas e comportamentos que minimizem os efeitos indesejados
no ambiente e, consequentemente, na qualidade de vida das pessoas.

Ao planejar o seu desenvolvimento segundo os princípios da sustentabilidade, os


municípios devem organizar a sua área ambiental de forma integrada com as demais
secretarias e órgãos existentes.

Além disso, para estruturar um sistema de gestão ambiental municipal é preciso criar
uma base institucional que tenha um conjunto de normas locais e uma estrutura
administrativa que possa colocá-las em prática. As políticas municipais devem estar em
sintonia com as políticas estaduais e federal, ainda que possam ser mais restritivas

Recomenda-se que, juntamente com o órgão municipal de meio ambiente, o município


crie também o seu conselho municipal de meio ambiente e que tenha um fundo de meio
ambiente, para captar os recursos destinados à conservação e à preservação ambiental.

É fundamental ainda conhecer a estrutura da política ambiental brasileira, no âmbito


federal e estadual, e entender qual é o papel do município nela. Para tanto, o sistema
municipal de meio ambiente precisa de recursos humanos capazes de compor os quadros
técnicos e administrativos e de desempenhar o papel que lhes cabe. Nesse sentido, devem
ser estimuladas iniciativas como as ações de capacitação técnica, sempre considerando o
contexto mais amplo da educação ambiental, seis princípios e diretrizes (Lei 9.795/1999,
com foco na sustentabilidade)

Não podemos esquecer que gestão também requer participação qualificada da


população. Essa pode contribuir muito na identificação e na solução dos problemas, desde
que haja vontade política e sejam criados os mecanismos para isso. Desse modo, a
participação promove a responsabilidade coletiva e um efetivo controle social.

60
Nesse Módulo, abordamos aspectos introdutórios acerca da questão ambiental no
Brasil e no mundo, a importância da sustentabilidade na gestão pública, além de noções da
gestão ambiental compartilhada, com foco no papel dos municípios. Com isso, agora,
podemos avançar um pouco mais. No Módulo II, abordaremos mais especificamente como
se estruturar a gestão ambiental local.

61
Referências

ALLEGRETTI, Mary Helena. Reservas extrativistas: parâmetros para uma política de


desenvolvimento sustentável na Amazônia. In: ARNT, Ricardo (Edição). O destino
da floresta: reservas extrativistas e desenvolvimento sustentável na Amazônia. Rio
de Janeiro: Relume Dumará; Curitiba: IEA/ Fundação Konrad Adenauer, 1994. p. 17-
47.

BRACAGIOLI, Alberto. Metodologias participativas: encontros e desencontros entre


a naturalização do ser humano e a humanização da natureza. In: FERRARO
JÚNIOR, Luiz Antônio (org.). Encontros e caminhos: Formação de educadoras(es)
ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, Departamento de Educação
Ambiental, v.2, 2007 p. 227-242.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Legislação brasileira sobre meio ambiente.


Fundamentos constitucionais e legais. Brasília, DF, v.1, 2013, 212p.

______. Constituição (1988). Artigos 23; 24; 30; 225, de 5 de outubro de 1988.
Presidência da República. Brasília, 5 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>
Acesso em: 02. dez. 2014.

______. Decreto nº 6.101, de 26 de abril de 2007. Aprova a estrutura regimental e o


quadro demonstrativo dos cargos em comissão e das funções gratificadas do
Ministério do Meio Ambiente, e dá outras providências. Presidência da República,
Brasília, 26 de abril de 2007. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6101.htm>
Acesso em: 17. dez. 2014.

______. Decreto nº 6.792, de 10 de março de 2009. Altera e acresce dispositivos ao


Decreto no 99.274, de 6 de junho de 1990, para dispor sobre a composição e
funcionamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Presidência da
República, Brasília, 10 de março de 2009. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6792.htm>
Acesso em: 17. dez. 2014.

______. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Perfil dos municípios


brasileiros. Pesquisa de informações básicas municipais. Rio de Janeiro, 2014b.
282 p. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2013/> Acesso em:
28.nov.2014.

62
______. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Vocabulário básico
de recursos naturais e meio ambiente. Rio de Janeiro, 2004. 332p. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/recursosnaturais/ids/default_2012.shtm>
Acesso em: 20. nov. 2014.

______. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do


Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Presidência da República, Brasília, 31 de agosto de 1981. Disponível
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm> Acesso em: 17. dez. 2014.

______. Lei 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. Dispõe sobre a extinção de órgão e


de entidade autárquica, cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis e dá outras providências. Presidência da República, Brasília,
22 de fevereiro de 1989. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7735.htm> Acesso em: 17. dez. 2014.

______. Lei 11.284, de 2 de março de 2006. Dispõe sobre a gestão de florestas


públicas para a produção sustentável; institui, na estrutura do Ministério do Meio
Ambiente, o Serviço Florestal Brasileiro - SFB; cria o Fundo Nacional de
Desenvolvimento Florestal - FNDF; altera as Leis nos 10.683, de 28 de maio de
2003, 5.868, de 12 de dezembro de 1972, 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, 4.771,
de 15 de setembro de 1965, 6.938, de 31 de agosto de 1981, e 6.015, de 31 de
dezembro de 1973; e dá outras providências. Presidência da República, Brasília, 02
de março de 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11284.htm> Acesso em: 17. dez. 2014.

______. Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos


Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.
Presidência da República, Brasília, 2 de agosto de 2010. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm> Acesso
em: 5 jan. 2015.

______. Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011. Fixa normas, nos


termos dos incisos III, VI e VII do caput do parágrafo único do art. 23 da Constituição
Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência
comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio
ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das
florestas, da fauna e da flora; e altera a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981.
Presidência da República, Brasília, 8 de dezembro de 2011. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp140.htm> Acesso em: 02. dez. 2014.

63
______. Ministério do Meio Ambiente. Painel nacional de indicadores ambientais.
Brasília, DF, 2014a. 96p. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/publicacoes/pnia>
Acesso em: 20. nov. 2014.

______. Ministério do Meio Ambiente. Programa nacional de capacitação de


gestores ambientais. Brasília, DF, v.1, 2006. 70 p.

FERREIRA, Leila da Costa. Sustentabilidade. In: FERRARO JÚNIOR, Luiz Antônio


(org.). Encontros e caminhos: Formação de educadoras(es) ambientais e coletivos
educadores. Brasília: MMA, Departamento de Educação Ambiental, v. 1, 2005 p.
313-322.

FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 14 ed.


São Paulo: Saraiva, 2013, 961p.

GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. 3° ed. São Paulo: Editora
Atlas S.A, 2014, 808 p.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 21ª ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2013, 1311p.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 22ª ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2014, 1344p.

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 5° ed.


São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, 1280p.

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 7ª ed.


São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, 1647p.

PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito constitucional descomplicado.


7° ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2011, 1119p.

64

Вам также может понравиться