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10 março 2013 / ano 38º / Quaresma, 4º Domingo / 1802

ESPÍRITO SANTO , vento que sopra em cada uma/um de nós,


esse sopro em nós e maior do que nós que nos aproxima
e nos faz interdependentes de todos os viventes.
Um sopro de muitas formas, cores, sabores e intensidades.
Sopro de compaixão e ternura, sopro de igualdade e diferença.

a eleição de um novo papa


e o Espírito Santo
DEPOIS DA LOUVÁVEL ATITUDE DO ANCIÃO BENTO XVI DE RENUNCIAR AO
governo da Igreja Católica Romana sucederam-se entrevistas com alguns bispos e
sacerdotes nas rádios e televisões de todo o país. Sem dúvida, um acontecimento
de tal importância para a Igreja Católica Romana é notícia e leva a previsões,
elucubrações de variados tipos, sobretudo de suspeitas, intrigas e conflitos dentro
dos muros do Vaticano que teriam apressado a decisão do papa.
No contexto das primeiras notícias, o que chamou a minha atenção foi algo à
primeira vista pequeno e insignificante para os analistas que tratam dos assuntos
do Vaticano. Trata-se da forma como alguns padres entrevistados ou padres
liderando uma programação televisiva, quando perguntados sobre quem seria o
novo papa saíssem pela tangente. Apelavam para a inspiração ou vontade do
Espírito Santo como aquele do qual dependia a escolha do novo pontífice romano.
Nada de pensar em pessoas concretas para responder a situações mundiais
desafiantes, nada de suscitar uma reflexão na comunidade, nada de falar dos
problemas actuais da Igreja que a tem levado a um significativo marasmo, nada de
ouvir os clamores da comunidade católica por uma democratização significativa
das estruturas anacrónicas de sustentação da Igreja institucional. A formação
teológica desses padres comunicadores não lhes permite sair de um discurso
padrão trivial e abstrato bem conhecido, um discurso que continua a fazer apelo a
forças ocultas e de certa forma confirmando o seu próprio poder. A contínua
referência ao Espírito Santo a partir de um misterioso modelo hierárquico é uma
forma de camuflar os reais problemas da Igreja e uma forma de retórica religiosa
para não desvendar os conflitos internos que a instituição tem vivido. A teologia do
Espírito Santo continua para eles mágica e expressando explicações que já não
conseguem mais falar aos corações e às consciências de muitas pessoas que têm
apreço pelo legado do Movimento de Jesus de Nazaré. É uma teologia que
continua igualmente a provocar a passividade do povo crente frente às muitas
dominações inclusive as religiosas. Continuam a repetir fórmulas como se estas
satisfizessem a maioria das pessoas.
Entristece-me o facto de verificar mais uma vez que os religiosos e alguns
leigos que actuam nos meios de comunicação não percebam que estamos num
mundo em que os discursos precisam de ser mais assertivos e marcados por
referências filosóficas para além da tradicional escolástica. Um referencial
humanista torná-los-ia bem mais compreensivos para o comum das pessoas
incluindo-se aqui os não católicos e os não religiosos. A responsabilidade dos
meios de comunicação religiosos é enorme e inclui a importância de mostrar o
quanto a história da Igreja depende das relações e interferências de todas as
histórias dos países e das pessoas individuais. Já é tempo de sairmos dessa
linguagem metafísica abstrata como se um Deus fosse ocupar-se especialmente
de eleger o novo papa prescindindo dos conflitos, desafios, iniquidades e
qualidades humanas. Já é tempo de enfrentarmos um cristianismo que admita o
conflito das vontades humanas e que no final de um processo electivo, nem
sempre a escolha feita pode ser considerada a melhor para o conjunto. Enfrentar a
história da Igreja como uma história construída por todos e todas nós é
testemunhar respeito por nós mesmas/os e mostrar a responsabilidade que todas e
todos que nos consideramos membros da comunidade católica romana temos. A
eleição de um novo papa é algo que tem a ver com o conjunto das comunidades
católicas espalhadas pelo mundo e não apenas com uma elite idosa minoritária e
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masculina. Por isso, é preciso ir mais além de um discurso justificativo do poder
papal e enfrentar-se aos problemas e desafios reais que estamos a viver. Sem
dúvida, para isso as dificuldades são muitas e enfrentá-las exige novas convicções
e o desejo real de promover mudanças que favoreçam a convivência humana.
Preocupa-me mais uma vez que não se discuta de forma mais aberta o facto de
o governo da Igreja institucional ser entregue a pessoas idosas que apesar das
suas qualidades e sabedoria já não conseguem mais enfrentar com vigor e
desenvoltura os desafios que estas funções representam. Até quando a
gerontocracia masculina papal será o duplo da imagem de um Deus branco, idoso
e de barbas brancas? Haveria alguma possibilidade de sair desse esquema ou de
ao menos começar uma discussão com vista a uma organização futura diferente?
Haveria alguma possibilidade de abrir essas discussões nas comunidades cristãs
populares que têm o direito à informação e à formação cristã mais ajustada aos
nossos tempos?
Sabemos o quanto a força das religiões depende de desafios e
comportamentos frutos de convicções capazes de sustentar a vida de muitos
grupos. Entretanto, as convicções religiosas não podem reduzir-se a uma visão
estática das tradições e nem a uma visão deliberadamente ingénua das relações
humanas. De mesmo modo, as convicções religiosas não podem ser reduzidas a
uma onda das mais variadas devoções que se propagam através dos meios de
comunicação. E mais, não podemos continuar a tratar o povo como ignorante e
incapaz de perguntas inteligentes e astutas em relação à Igreja. Entretanto, os
padres comunicadores acreditam tratar com pessoas passivas e entre elas estão
muitos jovens que desenvolvem um culto romântico em torno da figura do papa. Os
religiosos mantêm essa situação muitas vezes cómoda por ignorância ou por
avidez de poder. Provar a interferência divina nas escolhas que a Igreja Católica
hierárquica, prescindindo da vontade das comunidades cristãs espalhadas pelo
mundo é um exemplo flagrante dessa situação. É como se quisessem reafirmar
erroneamente que a Igreja é em primeiro lugar o clero e as autoridades
cardinalícias às quais é dado o poder de eleger o novo papa e que esta é a
vontade de Deus. Aos milhares de fiéis cabe apenas rezar para que o Espírito
Santo escolha o melhor e esperar até que a fumaça branca anuncie uma vez mais
o "habemus papam”. De maneira hábil estão sempre a tentar fazer com que os
fiéis escapem da história real, da sua responsabilidade colectiva ao apelarem para
forças superiores que dirijam a história e a Igreja.
É pena que esses formadores de opinião pública estejam ainda a viver num
mundo teologicamente, e talvez até historicamente pré-moderno, em que o
sagrado parece separar-se do mundo real e pousar numa esfera superior de
poderes à qual apenas alguns poucos têm acesso quase directo. É desolador ver
como a consciência crítica em relação às suas próprias crenças infantis não tenha
sido acordada em beneficio próprio e em benefício da comunidade cristã. Parece
até que acentuamos os muitos obscurantismos religiosos presentes em todas as
épocas enquanto o Evangelho de Jesus continuamente nos convoca para a
responsabilidade comum de uns em relação aos outros.
Sabendo das muitas dificuldades enfrentadas pelo papa Bento XVI durante o
seu curto ministério papal, as empresas de comunicação católica apenas ressaltam
as suas qualidades, a sua doação à Igreja, a sua inteligência teológica, o seu
pensamento vigoroso como se quisessem mais uma vez esconder os limites da
-3-
sua personalidade e da sua postura política não apenas como pontífice, mas
também por muitos anos, como presidente da Congregação da Doutrina da Fé, o
antigo Santo Ofício. Não permitem que as contradições humanas do homem
Joseph Ratzinger apareçam e que a sua intransigência legalista e o tratamento
punitivo que caracterizaram, em parte, a sua pessoa sejam lembrados. Falam
desde a sua eleição, sobretudo de um papado de transição. Sem dúvida de
transição, mas de transição para quê?
Gostaria que a atitude louvável de renúncia de Bento XVI pudesse ser vivida
como um momento privilegiado para convidar as comunidades católicas a repensar
as suas estruturas de governo e os privilégios medievais que esta estrutura ainda
oferece. Estes privilégios tanto do ponto de vista económico como do político e
sócio cultural mantêm o papado e o Vaticano como um Estado masculino à parte.
Mas um Estado masculino com representação diplomática influente e servido por
milhares de mulheres através do mundo nas diferentes instâncias de sua
organização. Este facto convida-nos igualmente a pensar sobre o tipo de relações
sociais de género que este Estado continua a manter na história social e política da
actualidade.
As estruturas pré-modernas que ainda mantém esse poder religioso precisam
de ser confrontadas com os anseios democráticos dos nossos povos na busca de
novas formas de organização que se coadunem melhor com os tempos e grupos
plurais de hoje. Precisam de ser confrontadas com as lutas das mulheres, das
minorias e maiorias raciais, de pessoas de diferentes orientações sexuais e
escolhas, de pensadores, de cientistas e de trabalhadores das mais distintas
profissões. Precisam de ser retrabalhadas na linha de um diálogo maior e mais
profícuo com outros credos religiosos e sabedorias espalhadas pelo mundo.
E para terminar, quero voltar ao Espírito Santo, a esse vento que sopra em
cada uma/um de nós, a esse sopro em nós e maior do que nós que nos aproxima e
nos faz interdependentes de todos os viventes. Um sopro de muitas formas, cores,
sabores e intensidades. Sopro de compaixão e ternura, sopro de igualdade e
diferença. Este sopro não pode mais ser usado para justificar e manter estruturas
privilegiadas de poder e tradições mais antigas ou medievais como se fossem uma
lei ou uma norma indiscutível e imutável. O vento, o ar, o espírito sopra onde quer
e ninguém deve atrever-se a querer ser ainda uma vez o seu proprietário. O
espírito é a força que nos aproxima uns dos outros, é a atracção que permite que
nos reconheçamos como semelhantes e diferentes, como amigas e amigos e que
juntos/as busquemos caminhos de convivência, de paz e justiça. Esses caminhos
do Espírito são os que nos permitem reagir às forças opressoras que nascem da
nossa própria humanidade, os que nos levam a denunciar as forças que impedem
a circulação da seiva da vida, os que nos levam a des-cobrir os segredos ocultos
dos poderosos. Por isso, o espírito se mostra em ações de misericórdia, em pão
partilhado, em poder partilhado, em cura das feridas, em reforma agrária, em
comércio justo, em armas transformadas em arados, enfim, em vida em
abundância para todas/os. Este parece ser o poder do Espírito em nós, poder que
necessita ser acordado a cada novo momento de nossa história e ser acordado por
nós, entre nós e para nós.

Ivone Gebara. Escritora, filósofa e teóloga.


Adital, 13 Fevereiro 2013.
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Uma Primavera Vaticana?
A Igreja necessita de um papa aberto
à modernidade e que defenda a liberdade.
Um grupo de cardeais sem medo deve enfrentar
os setores mais inflexíveis da hierarquia
e exigir um candidato com este perfil.

A primavera Gregório VII, nos legou as três


árabe fez características do sistema de Roma: um
tremer uma papado centralista e absolutista, o
série de clericalismo forçado e a obrigação do
regimes celibato para os sacerdotes e outros
autoritários clérigos seculares.
. Agora que Os esforços dos concílios
o Papa Bento XVI se demitiu, será reformistas do séc. XV, os
possível que ocorra algo semelhante na reformadores do séc. XVI, a Ilustração
Igreja católica, ou seja, uma primavera Francesa nos séculos XVII e XVIII e o
vaticana? Liberalismo do séc. XIX tiveram êxito
É claro que o sistema da Igreja somente em parte. Inclusivamente o
católica se parece mais com uma Concílio Vaticano II, de 1962 a 1965,
monarquia absoluta como a Arábia apesar de abordar muitas
Saudita do que com o regime da preocupações dos reformadores e dos
Tunísia ou do Egipto. De facto, na críticos modernos, viu-se obstaculizado
Arábia Saudita e na Igreja católica não pela Cúria, o corpo directivo da Igreja,
se fizeram autênticas reformas mas e não conseguiu pôr em prática pouco
sim concessões sem importância mais do que uma pequena parte das
invocando a tradição para se oporem à mudanças exigidas.
verdadeira reforma. Na Arábia Saudita, Hoje, a Cúria, que também é um
a tradição remonta unicamente a 200 produto do séc. XI, continua a ser o
anos; no caso do papado remonta a 20 principal obstáculo para qualquer
séculos. reforma de fundo da Igreja católica,
Mas estará certa esta tradição? Na para qualquer acordo ecuménico com
realidade, a Igreja viveu durante um as restantes Igrejas cristãs e religiões
milénio sem um papado monárquico mundiais e para qualquer atitude
absolutista como o que conhecemos crítica e construtiva frente ao mundo
hoje. moderno.
Foi só a partir do séc. XI que uma Não nos podemos deixar enganar
“revolução desde cima”, a “reforma com as grandes multidões. Por trás da
gregoriana” iniciada pelo papa fachada, a casa está a desmoronar-se.
-5-
Com os dois últimos papas, João sacerdotes, que o Papa ajudou a
Paulo II e Bento XVI, houve um fatal encobrir quando era o cardeal Joseph
regresso aos velhos hábitos Ratzinger. Em seguida vem o caso
monárquicos da Igreja. Vatileaks, que revelou um espantoso
Em 2005, numa das suas escassas número de intrigas, lutas de poder,
mostras de audácia, Bento XVI manteve corrupção e deslizes sexuais na Cúria, e
uma amigável conversa de quatro que parece ser uma das principais
horas comigo na sua residência de razões por que Bento XVI decidiu
verão, em Castel Gandolfo, próximo de resignar.
Roma. Eu tinha sido colega dele na Esta primeira demissão de um
Universidade de Tubinga e também seu Papa, em quase 700 anos, deixa a
crítico feroz. Durante 22 anos, depois descoberto a crise fundamental que
de criticar a infalibilidade do Papa e de paira sobre uma Igreja anquilosada. E
me retirarem a autorização eclesiástica agora, toda a gente se pergunta: Será
para leccionar, não tínhamos tido o possível que o próximo Papa, apesar de
mais pequeno contacto privado. tudo, inaugure uma nova primavera
Antes do encontro, decidimos para a Igreja católica? Não podemos
deixar de lado as nossas diferenças e ignorar as desesperadas necessidades
falar de temas sobre os quais da Igreja. Existe uma desastrosa
pudéssemos estar de acordo: a relação escassez de sacerdotes, na Europa,
positiva entre a fé cristã e a ciência, o América Latina e África. São
diálogo entre religiões e civilizações e o muitíssimas as pessoas que deixaram a
consenso ético entre fé e ideologias. Igreja ou iniciaram uma “emigração
Para mim, e para todo o mundo interna”, sobretudo nos países
católico, a entrevista foi um sinal de industrializados. Tem havido uma
esperança. Mas, infelizmente, o inequívoca perca de respeito para com
pontificado de Bento XVI esteve bispos e sacerdotes, o distanciamento,
marcado por crises e más decisões. em particular, das mulheres jovens, e a
Conseguiu irritar as Igrejas incapacidade de incorporar os jovens
protestantes, os judeus, os na Igreja.
muçulmanos, os índios da América Não devemos deixar-nos enganar
Latina, as mulheres, os teólogos pelo poder mediático dos grandes
reformistas e todos os católicos acontecimentos papais de massas nem
partidários das reformas. pelos aplausos enlouquecidos dos
Os maiores escândalos do seu grupos juvenis católicos. Por trás da
papado são conhecidos: para começar, fachada a casa está a desmoronar-se.
o facto de Bento XVI ter reconhecido a Um inquérito mostra-nos que 85%
superconservadora Sociedade de S. Pio dos católicos são partidários de que os
X do arcebispo Marcel Lefèbvre que se sacerdotes se casem.
opõe de maneira rotunda ao Concílio Nesta dramática situação, a Igreja
Vaticano II, e também um personagem necessita de um Papa que não viva,
que nega o Holocausto, o bispo Richard desde o ponto de vista intelectual, na
Williamson. Idade Média, que não defenda nenhum
Depois, houve a imensa onda de tipo de teologia, liturgia ou
abusos sexuais a menores por parte de constituição eclesiástica próprias da
-6-
época medieval. A Igreja necessita de casar-se pela Igreja, e que 75% são
um Papa aberto às preocupações da adeptos de que as mulheres possam
reforma, à modernidade. Um Papa que aceder ao presbiterado.
defenda a liberdade da Igreja no Provavelmente, estas percentagens
mundo não só mediante sermões mas seriam semelhantes em muitos outros
lutando com factos e palavras pela países.
liberdade e direitos humanos dentro a Será possível que tenhamos um
Igreja, pelos teólogos, pelas mulheres, cardeal ou um bispo que não esteja
por todos os católicos que desejam disposto a seguir pelo mesmo caminho
dizer a verdade abertamente. Um Papa de sempre? Alguém que saiba quão
que não continue a obrigar os bispos a profunda é a crise da Igreja e conheça
obedecer a uma linha oficial as vias para sair desta mesma crise?
reaccionária, mas que ponha em Estas perguntas devem discutir-se
prática uma democracia apropriada abertamente antes do conclave e
dentro da Igreja, construída segundo o durante ele, sem que ninguém
modelo do cristianismo primitivo. Um amordace os cardeais, como foi feito
Papa que não se deixe influenciar por em 2005 para que obedecessem às
nenhum outro “Papa na sombra” do directrizes.
Vaticano como Bento XVI e os seus Sou o último teólogo no activo
leais seguidores. daqueles que participaram no Concílio
A procedência do novo Papa não Vaticano II (juntamento com Bento
deveria ser factor crucial. O Colégio XVI) e, como tal, pergunto-me se será
Cardinalício deve eleger o melhor, e possível que haja no início do conclave,
nada mais. Desgraçadamente, desde a tal como houve no começo do Concílio,
época do Papa João Paulo II, que se um grupo de cardeais sem medo que
utiliza um questionário para fazer com enfrentem os membros mais inflexíveis
que todos os bispos sigam a doutrina da hierarquia católica e exijam um
oficial da Roma nos assuntos candidato disposto a aventurar-se por
polémicos, um processo selado pelo novas direcções. Talvez através de um
voto de obediência incondicional ao novo Concílio reformista ou, melhor
Papa. Por isso, até agora, não houve ainda, através de uma Assembleia
dissidentes públicos entre os bispos. representativa dos bispos, sacerdotes e
No entanto, a hierarquia católica leigos?
recebeu advertências sobre a brecha Se o próximo conclave eleger um
existente entre ela e os leigos em Papa que regresse ao mesmo de
assuntos importantes relacionados sempre, a Igreja jamais experimentará
com possíveis reformas. Um inquérito uma nova primavera mas entrará
recente na Alemanha mostra que 85% numa idade de gelo e correrá o perigo
dos católicos são partidários de que os de ir diminuindo até se converter
padres se casem, que 79% concordam numa seita cada vez mais irrelevante.
em que os divorciados possam voltar a
HANS KÜNG é catedrático emérito de Teologia Ecuménica na Universidade de
Tubinga e autor do livro “A Igreja terá salvação?”
El País, 1 março 2013.
-7-
Para onde vai, Pedro?
H
ONESTO, ÍNTEGRO E ENCANTADOR NO TRATAMENTO PESSOAL;
tímido, fugidio e com dificuldades para dirigir. Capaz também de uma
encantadora ironia subtil, que precisou reprimir quando começou a
usar as vestimentas. A timidez fê-lo agir de forma muito dura quando precisou
fazer de “inquisidor”; a sua sensibilidade tornou-o mais afável quando passou
a ser pastor. Da sua história pessoal, seria
preciso questionar-se mais a respeito da sua
evolução para posturas conservadoras. Do seu
pontificado, receio que o ponto mais ambíguo
não seja o Vatileaks, nem a pedofilia, mas a
sombra de Marcial Maciel, que provou ser mais
encompridada do que a do cipreste.
Numa outra ocasião, contei a respeito do que
ouvi numa aula, em Tübingen, em fins de 1966.
Falando de duas grandes escolas teológicas antigas (Alexandria, mais
espiritualista e mais conservadora, Antioquia, mais humanista e mais aberta),
continuou com a pergunta: “e em Roma?” Detém-se um momento, abotoa o
casaco e fica a olhar-nos. “Em Roma, vocês já sabem, não se faz boa teologia”. A
sonora ovação dos alunos ainda ressoa nos meus ouvidos. Dizem que Wojtyla
o nomeou para a Congregação da Fé, após ler a sua Introdução ao cristianismo,
pois viu nele um teólogo “aberto e seguro”.
Por que posteriormente foi sacrificando a abertura em prol da segurança?
Fala-se de susto diante dos excessos de 1968 (que na Alemanha foi pior do
que na França, e evocou a muitos intelectuais os momentos prévios a Hitler).
Também da prepotência de Hans Küng, seu companheiro de cátedra em
Tübingen; e da influência do seu irmão mais velho. Não sei. É tarefa para os
historiadores.
Em Roma, talvez tenha iniciado uma evolução inversa, como se, após a
deceção do progressismo, tropeçasse na deceção do conservadorismo; mas já
era muito tarde para findá-la. Quando na sexta-feira santa de 2005, sendo
ainda cardeal, pronunciou aquelas palavras: “quanta sujeira na Igreja... a
traição dos discípulos fere mais a Jesus”, muitos acreditaram que se referia
aos casos de pedofilia. Sem excluir isto, outros acreditam que fazia alusão,
indiretamente, a coisas que estavam a acontecer na Cúria.
As intrigas, ímpetos e labutas por fazer carreira; os envelopes com
dinheiro, repartidos por Maciel, que ele sempre se negou a aceitar; a obsessão
do Vaticano em encobrir os escândalos de pedofilia... foram abrindo os seus
olhos. Por isso, ao ser eleito Papa, parecia que, pela sua honestidade e porque
conhecia o bastidor, talvez fosse capaz de reformar a Cúria (convém recordar
-8-
a maneira como o Vaticano II havia exigido essa reforma e como a Cúria
sempre se negou a fazê-la).
Talvez esta tenha sido a desilusão do seu pontificado e uma das razões que
fragilizaram as suas forças. Deu passos significativos: ordenou que Maciel
desaparecesse da vida pública. Fez sonoros e sentidos pedidos de perdão
pelos casos de pedofilia, que ainda parecem insuficientes para alguns, mas que
foram de uma coragem inaudita diante do modo de proceder encobridor,
típico do Vaticano. Desapareceram outros nomes, que prefiro não citar, e que
parecem ser os que estão por trás dos famosos papéis do mordomo (pois em
todas aquelas correspondências não há nada de sensacional, nem de interesse,
salvo as críticas constantes a Bertone, como se fossem uma vingança ou
manobra daqueles a quem Bertone substituiu).
Quando viajou para Valência, dececionou o episcopado espanhol, que
almejava uma condenação verbal ao governo socialista. Na sua primeira
encíclica, quis dizer-nos que Deus é Amor antes do que qualquer outra coisa.
Contou com o infeliz episódio de Regensburg, mas logo o concertou
relativamente bem.
De todo este panorama, sairia um balanço de empate. Contudo, há outro
espinho que pode não tê-lo deixado em paz, chama-se Marcial Maciel. A
história deste pequeno monstro ou doente é das mais incríveis e escandalosas
dos vinte séculos do cristianismo. E o problema é que Ratzinger sabia. Quando
estava na Congregação da Fé fizeram-lhe chegar, por procedimentos
complicados, provas irrebatíveis. E quando, em seguida, os remetentes
pediram a sua ajuda, contam que ele disse: “sinto muito, mas não posso fazer
nada, pois João Paulo II possui grande apreço por este homem”.
Assim dizem os autores, num livro intitulado “La voluntad de no saber” [A
vontade de não saber], editado por Mondadori, com a condição de que apenas
tivesse circulação no México. Faltou coragem para Ratzinger enfrentar
Wojtyla ou ele teve medo de escandalizar o mundo? Deixem-me dizer que são
coisas que dizem respeito apenas ao juízo de Deus. Todavia, isto explica a
rápida decisão com que afastou Maciel para nada mais chegar à sede de Pedro.
Apesar de ser mais difícil entender a morna política que o Vaticano parece
conduzir em relação aos Legionários.
Da minha parte, prefiro ficar com a recomendação feita por Bento XVI: a de
que todos os papas deveriam ler e meditar a célebre carta que São Bernardo
escreveu ao papa Eugénio III. Nela está a seguinte frase: “não parece
sucessor de Pedro, mas de Constantino”. Agradeço este conselho do
renunciado papa e permito-me recomendar, efusivamente, esta carta ao seu
sucessor. Embora, devo reconhecer que, diante do que constitui um futuro
imediato da Igreja, não sou precisamente otimista.

JOSÉ GONZÁLEZ FAUS. Teólogo espanho. Publicado no sítio Religión Digital, em 16.02.2013.
-9-
E estivemos muitos, muitos,
num mar de exigência e de poesia

RESISTÊNCIA

Como dizer deste país


mais do que na rua
soube dizer o canto?
O cântico
de quem resiste
Por trás do lanho do sonho
que em Portugal persiste
de si mesmo um outro tanto

Maria Teresa Horta


Lisboa, 2 de Março de 2013

flash conciliar - 36
Os bispos puseram, logo, em causa os
esquemas preparados no Vaticano
«Roma, 16 de Outubro de 1962. O Concílio arrancou
verdadeiramente na terça-feira. Depois de três dias
febris de contactos inter-episcopais, os projectos de
listas dos cento e sessenta membros das comissões a
eleger ficaram prontos. Reunidos terça-feira de
manhã, em São Pedro, os bispos começaram a
proceder ao voto. Mas um certo número – bispos
franceses, alemães e holandeses, principalmente –
puseram logo em questão os esquemas doutrinais tradicionalistas
preparados no Vaticano para o Concílio. O Concílio tomou assim
consciência de si mesmo, e ensaiou as suas jovens forças».
(Fesquet – O diário do Concílio, I, p.45-346)
- 10 -
25 fev 2013, Dies natalis de D. JOAQUINA
Dizia o Apóstolo:
“Ainda que o meu corpo se desgaste, o meu interior renova-se de
dia a dia”.
Aplicada à Joaquina esta palavra
- quando eu cheguei por aqui comecei a tratar por você os mais
velhos que eu; por isso, D. Joaquina.
Agora que ela morreu, tornamo-nos mais iguais na condição, e por
isso Joaquina
“Ainda que o meu corpo se desgaste, o meu interior renova-se de
dia a dia”, recordava eu a palavra do Apóstolo, lida há momentos,:
o meu corpo desgasta-se mas o meu interior renova-se.
Tinha organizado a minha vida para a ir visitar ontem ao hospital
E, pouco antes de sair de casa, soube tinha morrido.
Por isso guardarei para sempre o
último retrato que lhe tirei há dias, no Sacramento da Unção:
o sorriso de todos os dias e de sempre, o casaquinho branco
vestido,
a anunciar a alegria serena que sempre teve,
a distribuir a Eucaristia ou a preparar o bacalhau,
o rosto irradiando alegria,
consciente de que o seu fim tinha chegado,
e que tinha alimento e força para o caminho,
viático para a via.
Recordo que a Joaquina, mais velha que eu,
Foi uma daquelas pessoas que percebeu que o que arrancava na
Serra do Pilar há praticamente 40 anos não era uma rapaziada. E
por isso é para nós uma referência.

Homilia. Pe. Arlindo. Serra do Pilar, 26.02.2013


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Contas de Fevereiro Receitas Despesas

Mês Anterior -1.645,19 € -

Receitas Normais
Ofertórios Dominicais 635,49 € -
Outras Celebrações 0,00 € -
Casamentos e Baptizados 1.100,00 € -
Outras Ofertas - Selos 75,74 € -
Outras Ofertas 63,02 €

Pessoal
Vencimento Presbítero - 480,00 €
Subsidio de Transporte - 350,00 €

Serviços
Telefone da Igreja - 10,00 €
Luz da Igreja -
Luz da Casa Pastoral - 11,08 €
Água da Casa Pastoral - 9,00 €
Selos de Correio - 75,74 €
Flores -

Donativos
Oferta à Diocese - 100,00 €

Arrendamentos
Renda da Casa Pastoral - 350,00 €

Consumíveis
Grafica - 61,02 €
Pão e Vinho -
Despesas Bancárias - 20,80 €

Totais 229,06 € 1.467,64 €

Saldo
Saldo Negativo para Março 2013 -1.238,58 €

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