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Encontro 1

MINISTÉRIO DE JESUS: DA TRANSIÇÃO À FASE DE OBSCURIDADE

Já vimos no estudo do Antigo Testamento que a palavra grega bíblia (livros) está no plural,
cujo singular é bíblion (livro). A Bíblia é, portanto, uma coletânia de 66 livros, 39 no Antigo
Testamento e 27 no Novo Testamento. Jesus Cristo é o clímax da revelação que a Bíblia registra:
“Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas,
nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pela qual
também fez o universo” (Hebreus 1.1-2).

Os quatro primeiros livros do Novo Testamento, chamados Evangelhos, narram o que


Jesus ensinou e fez, culminando com a sua morte e ressurreição. Por isso, os quatro evangelhos
(Mateus, Marcos, Lucas e João) serão estudados sob o tema que os unifica: Ministério de Jesus.

O livro de Atos registra o nascimento e a expansão da igreja cristã, desde Jerusalém até
aos confins da terra. No contexto histórico da igreja em suas origens, estudaremos as cartas
paulinas e as epístolas gerais, cujo objetivo foi o de lançar as bases da fé e da vida cristãs, como
Paulo escreveu: “Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é
Jesus Cristo” (1 Coríntios 3.11).

Por fim, no livro de Apocalipse, escrito com uso de muitos símbolos por causa da
perseguição, veremos o triunfo final do reino de Deus: “O reino do mundo se tornou de nosso
Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 11.15).

Ter uma visão panorâmica do Novo Testamento é como sobrevoar uma floresta
observando-a de cima. Não se pode entrar em detalhes. Esta visão é necessária para um estudo
mais aprofundado do Novo Testamento. Como já vimos no estudo do Antigo Testamento, a visão
fragmentária das Escrituras tem dado origem às mais diferentes heresias com pretensa base
bíblica. Daí a necessidade de uma visão do todo.

1. Transição do Antigo para o Novo Testamento

Entre Malaquias, o último livro do Antigo Testamento, e Mateus, primeiro livro do Novo
Testamento, há um espaço de tempo de mais ou menos quatrocentos anos. Malaquias profetizou
depois que os judeus retornaram do cativeiro babilônico. O seu livro reflete o ritualismo formal, frio
e indiferente do culto que predominou no período intertestamentário, sob a orientação dos
sacerdotes do templo (Malaquias 1.6-14; 2.1-3). Isto se refletiu nos dias de Jesus (João 2.13-22).

Algumas características deste período nos ajudam a compreender o ambiente do Novo


Testamento: a) O surgimento dos escribas, a partir de Esdras, versados nas Escrituras hebraicas
e mestres do povo que falava o aramaico. Eles foram, aos poucos, assumindo o vazio deixado
pelos profetas; b) Os fariseus surgiram como movimento de oposição ao domínio da cultura
grega que ameaçava a identidade judaica, tanto no sul, pela dinastia dos ptolomeus no Egito,
quanto no norte, pelos selêucidas da Antioquia, entre 331-167 a.C. O zelo inicial dos fariseus deu2
lugar a um formalismo religioso denunciado por Jesus; c) Os saduceus originaram-se mais ou
menos na mesma época dos fariseus. Constituíam uma casta sacerdotal aristocrática, rica,
influenciada pelo helenismo e secularizada, apesar de serem os oficiais religiosos do seu povo.

Foram confrontados por Jesus diversas vezes (Marcos 12.18-27; Mateus 23.13-36); d) As
sinagogas surgiram durante o exílio como lugares de instrução e culto para os judeus distantes
do templo de Jerusalém. Após o repatriamento dos judeus (430-331 a.C.), as sinagogas
continuaram a existir entre os dispersos em vários países e foram organizadas também na
Palestina; e) Os livros do Antigo Testamento foram amplamente copiados tanto para os que
habitavam na Palestina quanto para os dispersos. Foram traduzidos para o grego no século III
a.C., versão conhecida como a Septuaginta, constando nela os 39 livros do AT. Era a Bíblia
usada nos dias de Jesus tanto na Palestina como nos países onde judeus dispersos residiam; f)
Os romanos suplantaram política e militarmente os gregos (herdeiros do império macedônio).
Contribuíram para a preservação da cultura grega e criaram vias de comunicação entre os povos,
o que facilitou a expansão do cristianismo.

“Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos”
(Gálatas 4.4-5).

2. Os Evangelhos e o Ministério de Jesus

O quadro 1, abaixo, apresenta um plano de leitura dos Evangelhos desde o nascimento


até a ressurreição de Jesus. Segundo estudiosos, Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito e
serviu de base para os outros dois evangelhos sinóticos, Mateus e Lucas. Os três evangelhos
(Mateus, Marcos e Lucas) são chamados sinóticos porque suas exposições são semelhantes,
dão uma visão do conjunto e permite comparar as relações que eles estabelecem sobre um
mesmo acontecimento. João, o último Evangelho que foi escrito, tem características próprias.

A palavra “evangelho”, título de cada um dos quatro livros, significa “boas novas”. O
conteúdo destes livros constitui, de fato, a mensagem transmitida oralmente pelos apóstolos e
cristãos primitivos, e só mais tarde registrada em livros por inspiração do Espírito Santo.

Quadro 1

Plano de leitura dos Evangelhos


Fase da Fase da Fase da Fase do Fase da Fase da Fase da
obscuridade: obscuridade: popularidade: retiro: adversidade: adversidade: vitória:
Nascimento e Do batismo à Ministério da Ministério do Ministério da Última semana Ressurreição
infância de chamada dos Galileia Norte Pereia: rumo à e os 40 dias
Jesus primeiros Jerusalém
discípulos
Mateus 1.1 - 2.23 3.1 – 4.25 5.1 – 14.12 14.13 – 18.35 19.1 – 20.34 21.1 – 27.66 28
Marcos - 1.1 – 1.20 1.21 – 6.29 6.30 – 9.50 10.1 – 10.52 11.1 – 15.47 16
Lucas 1.1 - 2.52 3.1 – 4.32 4.33 – 9.9 9.10 – 9.62 10.1 – 19.28 19.29 – 23.56 24
João 1.1 – 1.14 1.15 – 4.12 4.13 – 5.47 6.1 - 7.10 7.11 – 11.54 11.55 – 19.42 20 e 21
Extra - - - - - - At 1.1 – 1.14
1 Co 15
O ministério de Jesus, estudado em suas diversas fases, de acordo com os textos
indicados no quadro 1 é, a nosso juízo, a melhor forma de harmonizar os evangelhos e de ter
uma visão apropriada do conjunto destes primeiros quatro livros do Novo Testamento.
3
O quadro 2, abaixo, traz informações fundamentais sobre os quatro Evangelhos, sem
entrar em detalhes sobre autoria, data de composição, objetivos etc.

Quadro 2

EVANGELISTAS: MATEUS MARCOS LUCAS JOÃO


Jesus é: Rei profetizado Servo obediente Homem perfeito Filho de Deus
Destinado: Aos judeus Aos romanos Aos gregos A todos
Palavra chave: Cumprido Imediatamente Filho do Homem Crer
Versículo chave: 21.5 10.45 19.10 20.31
Caráter: Profético Prático Histórico Espiritual
Jesus fala: 60% 42% 50% 50%
Citações do AT: 53 36 25 20
Material singular 42% 59% 7% 92% (suplementar)

Vamos estudar os Evangelhos destacando cinco fases do Ministério de Jesus:


obscuridade, popularidade, retiro, adversidade e vitória.

3. O Ministério de Jesus: fase da obscuridade

Nesta lição estudaremos a fase de obscuridade que vai desde o nascimento de Jesus até a
escolha dos primeiros discípulos. Observe os textos que registram os acontecimentos desta fase
no quadro 1: coluna 1, nascimento e infância; coluna 2, do batismo à escolha dos primeiros
discípulos.

3.1. Nascimento e infância de Jesus

Observamos que apenas Mateus e Lucas tratam do nascimento e infância do Messias. O


quadro indica também a leitura de João 1.1-14, mas o que encontramos neste texto é uma
espécie de prólogo eterno do ministério do Cristo.

As genealogias mostram a inserção de Jesus, o Cristo, na linhagem do povo de Deus. O


Verbo eterno se fez carne (João 1.14). No Evangelho de Mateus (1.1-17), destinado aos judeus
(ver o quadro 2), destaca-se a linhagem real: Jesus, como filho do rei Davi (Mateus 1.1), é o rei
ansiosamente esperado. No Evangelho de Lucas, destinado aos gregos, a genealogia vai até
Adão (Lucas 3.23-38), demonstrando que o ministério de Jesus transpõe as fronteiras de Israel.
Como gentios, estamos também inseridos.

Mateus registra as dificuldades humanas e as soluções divinas para a crise conjugal


ocasionada pela gravidez de Maria (Mateus 1.18-17): a adoração dos sábios do Oriente ao rei
recém-nascido (Mateus 2.1-12); a obediência do casal às instruções de Deus para salvar a
criança dos planos assassinos de Herodes (Mateus 2.13-23). Por sua vez, Lucas registra, com
singeleza e simplicidade, a ação de pessoas que participaram dos propósitos de Deus para o
nascimento do precursor, João Batista (Lucas 1.5-23, 39-45, 57-80); o anúncio dos anjos a Maria
de que ela seria mãe do Messias (Lucas 1.26-38); o magnífico cântico de Maria (Lucas 1.46-56);
as circunstâncias históricas do nascimento do Filho de Deus (Lucas 2.1-7); a visita dos pastores
a Jesus orientados pelas boas-novas angelicais sobre o nascimento do Salvador, que é Cristo, o 4
Senhor (Lucas 2.8-12,15-20); o louvor da milícia celestial (Lucas 2.13-14); o cumprimento
de preceitos legais (Lucas 2.21-24); o cântico de Simeão e as profecias de Ana (Lucas 2.25-38); o
desenvolvimento de Jesus (Lucas 2.39-40, 52); o encontro de Jesus com os doutores no templo
(Lucas 2.41-52) aos doze anos de idade.

Nenhuma informação a mais sobre Jesus até o início do seu ministério! Enquanto reinava
César Augusto em Roma, Jesus, o Rei dos reis e Senhor dos senhores nasceu em uma
estrebaria, filho de uma camponesa e de um carpinteiro, adorado por gentios (magos) e rudes
pastores, mas tendo o seu nascimento celebrado pela milícia celestial. Mais tarde, Jesus
exclamou: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos
sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos” (Lucas 10.21). As coisas de Deus não ficam
obscuras para os que têm o coração dos pequeninos (Marcos 10.15).

3.2. Do batismo à escolha dos primeiros discípulos

Quatro acontecimentos importantes marcaram o estabelecimento do ministério de Jesus: a


pregação de João Batista, o batismo, a tentação e a chamada dos primeiros discípulos. Os textos
que devem ser lidos estão indicados no quadro 1, coluna 2. Os quatro evangelistas registram
esses acontecimentos.

 O precursor. João Batista foi o último profeta da Antiga Aliança e o precursor do


Messias. A Lei e os Profetas vigoraram até João (Lucas 16.16). João era voz que
clamava no deserto preparando o caminho do Senhor (Mateus 3.1-3). A mensagem era
simples: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus (Mateus 3.2). A
mensagem da Lei provocava arrependimento e levava o povo a sentir a necessidade do
Salvador.
 O batismo. João se opôs ao batismo de Jesus, mas este replicou: nos convém cumprir
toda a justiça (Mateus 3.15). Jesus não tinha pecado. Submetendo-se ao batismo de
arrependimento, ele identificou-se com o pecador e aceitou a cruz. Foi uma espécie de
investidura no seu ministério. Além do preparo exterior representado pelo batismo,
Jesus submeteu-se a um preparo interior por meio das tentações. Não precisava fazer
nada para provar que ele era o Filho de Deus (Mateus 4.1-7). Os reinos do mundo e a
glória deles não o seduziram nem o afastaram do caminho traçado pelo Pai, que
incluía cruz (Mateus 4.8-10).
 O início do ministério. Lucas observa que após o batismo Jesus estava cheio do
Espírito e foi guiado pelo mesmo Espírito ao deserto para ser tentado (Lucas 4.1-2).
Terminada a tentação, Jesus, no poder do Espírito retornou à Galileia (Lucas 4.14).
Numa sinagoga de Nazaré, ele leu uma passagem do profeta Isaías que sintetizava o
programa do seu ministério: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu
para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e
restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano
aceitável do Senhor” (Lucas 4.18-19). Depois, disse-lhes: “Hoje, se cumpriu a Escritura
que acabais de ouvir” (Lucas 4.21).
 A chamada dos primeiros discípulos. O Senhor Jesus tinha um plano e por isso chamou
a si aqueles que deveriam ser devidamente discipulados para implantar no mundo a
sua mensagem. Dos evangelhos sinóticos, apenas Mateus e Marcos registram a
chamada dos primeiros discípulos (Mateus 4.18-22; Marcos 1.16-20). No entanto, João
dedica o maior espaço no seu Evangelho a este assunto (João 1.35-51). Mais tarde, 5
dentre os discípulos, Jesus escolheria os Doze para compor o colégio apostólico. Este
assunto é importante e voltaremos a ele.

Conclusão

Esta primeira fase do ministério de Jesus foi obscura, mas importante. Nela estão os
fundamentos das outras fases que estudaremos nas próximas lições. Vale a pena ler os textos
indicados no quadro 1, com meditação e oração.

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Encontro 2
MINISTÉRIO DE JESUS: FASES DA POPULARIDADE E DO RETIRO

Com a escolha dos primeiros discípulos, como vimos na lição anterior, o ministério de
Jesus estava estabelecido. A idade com a qual iniciou o seu ministério, trinta anos, era mesma
estabelecida para os que estavam aptos para o serviço do santuário (Números 4.35).
Os quatro evangelhos sinóticos informam que após as tentações, Jesus retornou da Judeia
para a Galileia, região onde situava Nazaré, cidade em que foi criado (Mateus 4.12; Marcos 1.14-
15; Lucas 4.14-15). Nessa região, localizada no norte da Palestina, Jesus deu início ao seu
ministério. Observe, no quadro 3, que os evangelhos sinóticos registram os mesmos fatos com
perspectivas diferentes. O evangelho de João não se ocupa com o ministério da Galileia. Ele está
estruturado em torno das viagens que Jesus fez à Judeia. Os textos dos Evangelhos que se
referem a estas fases estão no quadro 1.

Quadro 3

EVANGELHOS
Ministério da Galileia – fase da popularidade
(Veja os textos no quadro 1, Encontro 1)
MATEUS MARCOS LUCAS JOÃO
Sermão da Montanha: Sermão da Montanha: Sermão da Montanha:
Bem-aventuranças, lei, apenas jejum. Síntese das bem-
esmolas, jejum, oração, aventuranças e jejum

João não trata do ministério da Galileia,


mas, das viagens a Jerusalém, nessa
tesouro, julgamento,

(João 2.11-13; 3.22; 4.3, 43, 45; 5.1)


fundamentos
Milagres: leproso, Milagres: Exceção: seguir Milagres: como em

Régulo, Betesda, “igual ao Pai”.


Cafarnaum, Jesus e cegos. Marcos, mais duas
sogra de Pedro, seguir Acréscimo: ressurreições: Naim e
Jesus, tempestade, endemoninhado. Jairo.
gadareno, paralítico, fluxo,
cegos.
Doze: Missão Doze: Missão Doze: Missão
Advertências: Discípulos Advertências: apenas Advertências: como em
de Batista, cidades senhor do sábado e mão Marcos, mais discípulos de
impenitentes, jugo, senhor mirrada. Batista.
época.

do sábado, mão mirrada,


árvore e frutos, milagre
Jonas.
Parábolas: 13 Parábolas: 4 Parábolas: 8 Multiplicação dos pães.
Morte de Batista e Morte de Batista e Morte de Batista e
multiplicação dos pães. multiplicação dos pães. multiplicação dos pães.

1. A atração dos milagres


As ações de Jesus nesta fase do seu ministério foram assim resumidas por Mateus:
“Percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e
curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo (Mateus 4.23). Por isso, a sua fama
correu por toda a Síria; trouxeram-lhe, então, todos os doentes, acometidos de várias
enfermidades e tormentos: endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E ele os curou. E da Galileia,
Decápolis, Jerusalém, Judeia e dalém do Jordão numerosas multidões o seguiam” (Mateus 4.24-
25).
7
Os milagres atraíam as multidões. Jesus, porém, se retirava para momentos de intimidade com o
Pai e procurava desvencilhar-se do povo para pregar e ensinar em todas as cidades (Marcos
1.35-39; Lucas 4.42-44; 5.12-16). Observe, no quadro 3, um resumo dos milagres operados por
Jesus no ministério da Galileia.

Se os milagres nos atraem, porque demonstram o poder do Reino, precisamos do ensino


que nos instrui nos princípios do Reino. Nesta fase do ministério do Senhor, há diversas seções
de ensino (veja o quadro 3): o sermão do monte, desenvolvido em Mateus (cps 5-7) e resumido
em Marcos e Lucas; as advertências, mais desenvolvidas em Mateus, mas também registradas
nos outros sinóticos; treze parábolas em Mateus, quatro em Marcos e oito em Lucas.

O fato de destaque nesta fase do ministério foi a escolha dos doze para a formação do
colégio apostólico (Mateus 10.1-4; Marcos 3.13-19; Lucas 6.12-16). Veja o quadro 3. As
instruções para o exercício do ministério apostólico foram dadas com clareza (Mateus 10.5-15;
Marcos 6.7-13; Lucas 9.1-6). Estudos criteriosos do Novo Testamento demonstram que Jesus
investiu quarenta e nove por cento do seu tempo no discipulado dos doze. Jesus formou com eles
a comunidade messiânica, célula mãe da igreja. Mais tarde, este número expandiu-se para
setenta (Lucas 10.1-12, 17-20). Apesar de ter ministrado às multidões, os que permaneceram em
Jerusalém, em obediência à ordem de Jesus (Lucas 24.49; Atos 1.4-5), foram cerca de cento e
vinte (Atos 1.15). Estes foram revestidos com o poder do Espírito Santo para testemunharem de
Jesus a partir de Jerusalém até aos confins da terra (Lucas 24.45-47; Atos 1.8). Recebemos esta
herança com a consciência da responsabilidade em prosseguir a missão. Mas, voltemos ao
ministério da Galileia.
A última seção deste ministério é marcada pela morte de João Batista e pela multiplicação
dos pães: Veja o quadro 3. O ambiente tornou-se hostil para Jesus nem tanto pelos líderes
políticos, que mataram João Batista (Mateus 14.1-12; Marcos 6.12-14; Lucas 9.7-9), mas pelos
escribas e fariseus que eram líderes religiosos. Movidos pela inveja, procuravam apanhar Jesus
em alguma cilada (Mateus 15.1-20; Marcos 7.1-23).
Jesus retirou-se por causa da morte de João Batista (Mateus 14.13), mas foi seguido pela
multidão. Compadecido daqueles que eram como ovelhas sem pastor, Jesus ensinou-os sobre o
reino de Deus, curou os enfermos e multiplicou os pães para saciar os famintos (Mateus 14.13-
21; Marcos 6.30-44; Lucas 9.10-17; João 6.1-13). Esta multiplicação dos pães, a primeira, é tão
importante que foi registrada nos quatro evangelhos. Ela é também um divisor de água. João
dedica quinze versículos para registrar o milagre (João 6.1-15) e cinquenta versículos para a
explicação que Jesus deu sobre o milagre (João 6.22-71). Esta passagem do Evangelho de João
deixa claro que a multidão seguia o Mestre por motivo interesseiro: queria comida e saúde.
A partir do momento em que Jesus explicou a verdadeira natureza da sua pessoa e do seu
ministério, começou a se distinguir dentre a multidão os que queriam a saúde da alma e o pão da
vida (João 6.27-40). O ensino do Mestre sobre o pão da vida (João 6.41-58) foi considerado “duro
discurso” por alguns discípulos (João 6.60) e muitos o abandonaram (João 6.66). “Então,
perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos?Respondeu Simão
Pedro: Senhor, para quem iremos?Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e
conhecido que tu és o Santo de Deus” (João 6.67-69). Separam-se os verdadeiros discípulos dos
meros interesseiros e a popularidade de Jesus começa a entrar em declínio.

2. O retiro de Jesus com os seus discípulos


O embate sobre a tradição (Mateus 15 e Marcos 7) denota o conflito com os religiosos e o
motivo da perda de espaço nas sinagogas e no templo. Apesar de Jesus ter realizado ainda
milagres (veja o quadro 4), o que caracteriza esta fase é o fato de que as multidões aos poucos
vão se afastando dele (João 6.66). O seu ministério começou a caminhar para o fim. Então, ele8
retirou-se para Cesareia de Filipe (Mateus 16.13-20; Marcos 8.27-30; Lucas 9.18-21), região ao
norte da Galileia, com os seus discípulos, para instruções e convívio mais íntimo. Foi uma
espécie de seminário avançado com os seus discípulos, escolhidos para o colégio apostólico, no
qual ele expôs com clareza o caráter divino da sua missão, em confronto com as expectativas
messiânicas mundanas ainda presentes na mente e no coração dos que deveriam dar
prosseguimento à sua obra.

Quadro 4

EVANGELHOS
Ministério do Norte – fase do retiro
(Veja os textos no quadro 1, Encontro 1)
MATEUS MARCOS LUCAS JOÃO
Multiplicação dos pães; Multiplicação dos pães; Multiplicação dos pães; Multiplicação dos pães;
separação dos separação dos separação dos separação dos
seguidores. seguidores. seguidores. seguidores. Cap. 6.

Tradição Tradição
Mulher Cananeia Mulher Cananeia
2ª multiplicação e 2ª multiplicação e
- -
fermento fermento (surdo,
Decápolis, Dalmanu)

Confissão de Pedro Confissão de Pedro Confissão de Pedro


(+ levar a cruz) -

Transfiguração Transfiguração Transfiguração


Quem é o maior? Quem é o maior? Quem é o maior?
(+ tributo). (+ escândalos, (+ contra nós). -
contrários).

- - - Discute com irmãos: ida


a Jerusalém (7.1-10).

3. Destaques do retiro de Jesus com os discípulos

3.1. A Confissão de Jesus como o Cristo, o Filho do Deus vivo (corrigir numeração)
Em resposta à pergunta de Jesus, os discípulos responderam o que o povo pensava a
respeito dele, Jesus. Então, veio a pergunta decisiva: “Mas vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro
respondeu em nome de todos: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Os três Evangelhos
sinóticos registram este acontecimento (Mateus 16.13-20; Marcos 8.27-30; Lucas 9.18-21). Jesus
afirmou que esta confissão era uma revelação feita pelo Pai, que está nos céus (Mateus 16.17) e
que sobre a rocha, confessada por Pedro, ele edificaria a sua Igreja (Mateus 16.18; 1 Pedro 2.4-
10). Paulo afirmou que estamos “edificados sobre o fundamento (testemunho) dos apóstolos e
profetas” (Efésios 2.20) e foi enfático: “Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do
que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Coríntios 3.11). Nossa base é irremovível e está
preservada das mudanças e humores humanos. Nesta fase a confissão de Jesus como o Cristo
deveria ficar na intimidade dos seus discípulos (Mateus 16.20). Antes da proclamação do
evangelho, precisavam aprofundar a compreensão da natureza que estava sendo cumprida por
Jesus.

9
3.2. A necessidade do sofrimento na cruz para a nossa salvação

Pedro, o canal da revelação divina sobre Jesus, ao tentar desviá-lo do caminho da cruz
(Mateus 16.21-22), foi severamente repreendido: “Tu és para mim pedra de tropeço, porque não
cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens” (Mateus 16.23). Jesus falava claramente da
sua prisão, açoites, desprezo, zombaria e morte (Mateus 16.21, Marcos 8.31-33, 10.32-34; Lucas
9.22), mas os discípulos pensavam em posições de destaque no glorioso reino messiânico
(Marcos 10.35-45) e discutiam entre si qual deles era o maior (Marcos 9.33-34). Em geral, os
discípulos, entre os quais nos incluímos, são néscios e tardos de coração para aprender os
princípios e os valores do reino de Deus. Não é popular a mensagem de que o discípulo de Cristo
deve levar a sua cruz (Mateus 16.24-27). No entanto, a morte na cruz não era a palavra final.
Jesus anunciou a sua ressurreição (Marcos 10.33-34). Além da ressurreição, ele revelou também
a sua glória.

3.3. A transfiguração, ou visão da glória de Jesus

Como compreender a afirmação de Jesus, feita no contexto do anúncio da sua morte, de


“que alguns há, dos que aqui se encontram, que de maneira nenhuma passarão pela morte até
que vejam vir o Filho do Homem no seu reino?” (Mateus 16.28). Ele se referia, sem dúvida, à
transfiguração que aconteceria seis dias depois (Mateus 17.1-8; Marcos 9.2-8; Lucas 9.28-36). As
testemunhas da transfiguração foram apenas os mais íntimos de Jesus, Pedro, Tiago e João. “E
foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se
brancas como a luz”. Moisés e Elias, representantes da antiga aliança, saem de cena e o Pai
declara dos céus: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi”. A experiência
foi tão sublime que Pedro, amedrontado e confuso, queria armar barracas no monte, para
permanecerem lá. Ao descerem do monte, “ordenou-lhes Jesus: a ninguém conteis a visão, até
que o Filho do Homem ressuscite dentre os mortos” (Mateus 17.9).

A transfiguração era um anúncio da glorificação de Jesus. Após a ressurreição ele subiu


aos céus e sentou-se à direita do Pai de onde há de vir para julgar vivos e mortos (Atos 2.32-36).
Essa foi uma experiência que não só trouxe conforto aos discípulos quando entenderam todo o
propósito de Deus, mas serviu de base para a proclamação da volta gloriosa do Senhor. Pedro,
uma das testemunhas da ressurreição, escreveu mais tarde: “Porque não vos demos a conhecer
o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas,
mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade, pois ele recebeu, da parte de
Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o meu
Filho amado, em quem me comprazo. Ora, esta voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando
estávamos com ele no monte santo (2 Pedro 1.16-18).

No propósito de Deus, a cruz precede a glória. Ao nos unirmos a Jesus pela fé, unimo-nos
na sua morte e morremos para o pecado; unimo-nos na sua ressurreição e ressurgimos para uma
vida nova; unimo-nos na sua ascensão e nos assentamos com ele nas regiões celestiais (Efésios
2.6). Quando renunciamos à vanglória humana, participamos da glória de Deus. Este é o
evangelho.

10
Conclusão
Nesta lição procuramos entender a harmonia dos Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e
João) estudando o ministério de Jesus. Na primeira parte vimos a popularidade de Jesus no
ministério da Galileia. Multidões foram atraídas pelos seus milagres. Após a primeira multiplicação
dos pães ele denunciou a motivação interesseira daqueles que queriam milagres e comida, mas
não demonstravam interesse pela saúde da alma e pelo pão da vida que era o próprio Jesus. Os
que estavam dispostos a fazer Jesus rei à força porque multiplicava pães (João 6.14-15) ficaram
decepcionados e não seguiam mais a Jesus (João 6.66). Mas os doze reafirmaram a confissão,
mediante Pedro (João 6.67-69). A popularidade de Jesus declinava.
Neste contexto, Jesus retira-se com os seus discípulos, estes se posicionam diante dele
como o Messias, são instruídos sobre a cruz e recebem a revelação da glória de Deus. Os
ensinos para nós são profundos. Deus pode, sim, resolver os nossos problemas temporais. Mas o
supremo objetivo do ministério de Jesus é nos conceder a vida eterna por meio dos seus ensinos,
morte na cruz, ressurreição e ascensão. Esta é a essência do reino de Deus. “Porque os gentios
(pagãos) é que procuram todas estas coisas (temporais); pois vosso Pai celeste sabe que
necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas
estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.32-33).

A fé tem a chave dos céus, mas a oração conhece os caminhos do Senhor.

11
Encontro 3
MINISTÉRIO DE JESUS: FASES DA ADVERSIDADE E VITÓRIA

Depois de estudarmos as fases da obscuridade , da popularidade e do retiro do ministério


de Jesus , chegamos às fases da adversidade e da vitória, que incluem o ministério na Pereia
(leste do Jordão), e a última semana, esta marcada pela morte e a ressurreição do Senhor. É
importante verificar no quadro 5 as informações geográficas sobre as diversas fases da vida e do
ministério de Jesus.

Quadro 5

1. Nazaré (Galileia): residência de José e 5


Maria.
4
2. Belém (Judeia): local do nascimento
de Jesus.

3. Rio Jordão: (Judeia): local do batismo 1


de Jesus.

4. Ministério da Galileia: após as


tentações, Jesus retorna para a
Galileia, onde começa o seu 3

ministério (popularidade). 6

2
5. Depois da primeira multiplicação dos
pães, Jesus retira-se com os seus
discípulos para a região da Cesareia
de Filipo, passando pela região de
Siro Fenícia (norte da Galileia).

6. Última semana em Jerusalém: morte


e ressurreição.

Como já vimos no encontro 2, a fase do retiro terminou após a experiência da


transfiguração de Jesus. Depois de falar com clareza sobre a sua morte na cruz e da sua
ressurreição, ele levantou o véu, no monte da transfiguração, para mostrar um pouco da sua
glória que será manifestada no futuro. Pedro queria continuar neste monte, enquanto, no vale, os
discípulos lutavam em vão contra a possessão demoníaca (Mateus 17.14-21). Esta visão da
glória foi um incentivo, pois a batalha decisiva sobre o império do mal, representado pelo sistema
religioso (judeus) e político (império romano), seria ainda travada na cruz (Mateus 17.22), na
última semana do Senhor na terra. Nessas duas últimas fases do seu ministério, Jesus enfrentou
adversidade com religiosos e políticos, triunfou sobre as potestades na cruz (Colossenses 2.15) e
criou nova ordem de coisas pela sua ressurreição. 12
1. Ministério na Pereia, última viagem a Jerusalém
Logo após a transfiguração, Jesus iniciou sua última viagem para Jerusalém, onde seria
crucificado. O Evangelho de Lucas oferece detalhes dessa viagem que não encontramos nos
outros Evangelhos (Lucas 9.51-19.27). Como o seu tempo estava se cumprindo, ele “manifestou,
no semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém” (Lucas 9.51b). Os samaritanos, que
ocupavam a área entre a Galileia (norte) e a Judeia (sul), não acolheram Jesus, “porque o
aspecto dele era de quem, decisivamente, ia para Jerusalém” (Lucas 9.53). A marcha resoluta do
Mestre, em direção aos acontecimentos finais, demonstra que o seu ministério não era fruto do
acaso. Cumpria o propósito do Pai. Por causa da divergência entre judeus e samaritanos, esta
viagem, como muitas outras, foi feita via Pereia, a leste do rio Jordão. Observe a localização da
Pereia no quadro 5. O quadro 6 mostra os acontecimentos desta fase do ministério do Senhor,
com ênfase nos detalhes do Evangelho de Lucas.
Quadro 6

EVANGELHOS
Ministério da Pereia
(Veja os textos no quadro 1, Encontro 1)
MATEUS MARCOS LUCAS JOÃO

Viagens a Judeia: discussão, dissenção, e bom


Credor --- ---
Divórcio Divórcio ---
Deixai vir Deixai vir Deixai vir
Moço rico Moço rico Moço rico
P. trabalhador --- ---

Adúltera, missão e cego.


Filhos de Filhos de ---
Zebedeu Zebedeu Cegos de Jericó
Cegos de Jericó Cegos de Jericó Juiz iníquo

pastor.
Mais: Zaqueu, setenta, blasfêmia dos
fariseus, sinais dos tempos, Galileia, Siloé,
figueira, mulher encurvada, Herodes,
Hidrópico, primeiros assentos, escândalos,
leprosos, mulher de Ló.

Parábolas: o bom samaritano, amigo


importuno, rico insensato, servo vigilante,
mostrada, porta estreita, grande ceia,
providência, ovelha perdida, dracma perdida,
filho pródigo, mordomo infiel, rico e lázaro.

Observa-se, principalmente em Lucas, que Jesus pronuncia juízo sobre pessoas e


demonstra senso de urgência, pois estava consciente que caminhava para o fim. As parábolas
registradas por Lucas revelam tanto o oferecimento da graça, quanto as advertências sobre o
iminente juízo de Deus. Os cegos de Jericó e Zaqueu tiveram senso de urgência porque
aproveitaram a oportunidade na última passagem do Mestre por Jericó rumo a Jerusalém. De
Jericó a Jerusalém, o caminho da cruz. Era o que esperava o Mestre. A fase de retiro e de
aconchego com os discípulos chegava ao fim. Os discípulos deviam estar preparados para os
acontecimentos da última semana. É o que veremos a seguir.
2. O triunfo sobre as potestades na cruz
A morte do Cristo na cruz não foi derrota, mas triunfo sobre as forças do mal, como ensina
Paulo: “E foi na cruz que Cristo se livrou do poder dos governos e das autoridades espirituais. Ele
humilhou esses poderes publicamente, levando-os prisioneiros no seu desfile de vitória”
(Colossenses 2.15 - NTLH). 13
Os textos para a última semana estão indicados no Quadro 1, primeiro encontro. No
Evangelho de João, por exemplo, ocupa os capítulos 11 a 19. Observe, no quadro 7, que a
entrada triunfal de Jesus em Jerusalém marca o início da última semana. Por isso, o domingo que
precede a Páscoa é chamado “domingo de ramos”, porque jogaram ramos e flores no caminho
por onde Jesus ia passar. Aclamado como Rei, ele purificou o templo e amaldiçoou a figueira.
Nem todos, porém, reconheceram a sua realeza. O confronto com as autoridades romanas e
judaicas tornou-se intenso.

Quadro 7

EVANGELHOS
A última semana
(Veja os textos no quadro 1, Encontro 1)
MATEUS MARCOS LUCAS JOÃO

Entrada triunfal
Domingo Entrada triunfal Entrada triunfal Entrada triunfal
(de Betânia)

Polêmicas: purificação do Polêmicas: purificação do Polêmicas:


templo, batismo de João, templo, batismo de João, Purificação do templo,
tributo a Cesar, os sete tributo a Cesar, os sete batismo de João, tributo a
2ª maridos, Filho de Davi, o maridos, Filho de Davi, o Cesar, os sete maridos,
feira grande mandamento. grande mandamento Filho de Davi.
Mais: figueira, lavradores, Mais: figueira e lavradores Mais: lavradores
dois filhos

Sermão profético (extenso) Sermão profético Sermão profético


Mais: “Ai de vós...” Mais: viúva pobre Mais: viúva pobre e “Ai de
3ª vós...”
feira

Jantar de Betânia e preço Jantar de Betânia e preço Preço da traição Palestras íntimas: gregos,
da traição da traição Última páscoa e aviso a “lava pés”, Judas, “não se
4ª Última páscoa e aviso de Última páscoa e aviso a Pedro turbe”, videira, consolador,
feira Pedro Pedro (maiorXmenor, duas oração sacerdotal.
espadas)
Getsêmani, prisão, Getsêmani, prisão, Getsêmani, prisão, Getsêmani, sinédrio,
sinédrio, negação de Sinédrio, negação de sinédrio, negação de negação, Pedro.
5ª Pedro. Pedro. Pedro.
feira

Pilatos, cruz, sepulcro. Pilatos, cruz, sepulcro. Pilatos, cruz (Simão), Pilatos, cruz, sepulcro.
Mais: suicídio de Judas. sepulcro.

feira

Durante o dia, ele ministrava ao povo e enfrentava as autoridades. À noite, repousava no


monte chamado das Oliveiras (Lucas 21.37) e encontrava abrigo em Betânia (Marcos 11.11;
Mateus 21.17), provavelmente no lar de Maria, Marta e Lázaro.
A hora de Jesus havia chegado. Era o tempo de ele se tornar o Salvador da humanidade
pela sua morte na cruz (Filipenses 2.5-8). Chegara também tempo em que Deus, o Pai, haveria
de glorificar o Filho (João 12.20-33), colocando seu nome acima de todo o nome (Filipenses 2.9-
11). João registra as palestras de Jesus restritas ao grupo íntimo dos apóstolos, quando ensinos
preciosos foram transmitidos (João 13 a 17). Ele ensinou uma lição dramática de amor e serviços
mútuos ao lavar os pés dos discípulos. Comeu com os discípulos, ensinando-os que o pão e o 14
vinho significavam o seu corpo e sangue que seria sacrificado e derramado na cruz em favor
deles. Todas as vezes que partilhassem a ceia entre irmãos e irmãs na fé, deveriam lembrar o
que Jesus havia feito por eles (Lucas 22.19-20; João 13.1-17).
Antes de ser levado à cruz, Jesus orou por seus discípulos. Pediu ao Pai que os guardasse
do mundo, mas que não os tirasse do mundo, pois fariam parte de um povo distinto dos demais
homens e mulheres a quem dariam testemunho da sua fé em Jesus (João 17.1-26).
Os sofrimentos de Jesus foram indescritíveis. Foi entregue aos soldados; traído por um dos
seus discípulos; negado por outro discípulo eminente; julgado diante dos judeus, de Pilatos e de
Herodes; enfrentou falsos testemunhos; mas, quando interrogado, afirmou, corajosamente, que
era o Cristo, o Filho de Deus. Por isto, foi condenado à morte por blasfêmia. Foi afrontado,
açoitado e, por fim, crucificado (João 18.1-19.16; Lucas 22.47-23.25). A morte na cruz era uma
forma sádica de tortura, pois prolongava o sofrimento. Era destinada para os escravos e os piores
criminosos.
Jesus sabia que a ira de Deus havia caído sobre ele e por isso exclamou: “Deus meu,
Deus meu, por que me desamparaste?” (Marcos 15.34). A causa da morte de Jesus, ou seja, a
ira e o abandono de Deus, foi devido ao nosso pecado, isto é, aos do mundo inteiro. Ao declarar
“está consumado” (João 19.30) e “nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lucas 23.46), ele
afirmou que tudo o que é necessário para a nossa reconciliação com o Pai estava feito de
maneira completa e definitiva. A cruz é a maior prova do amor e da justiça de Deus por nós
(Romanos 5.1,8).

3. O dia em que a morte morreu


Ao referir-se à ressurreição do Senhor ao terceiro dia após a morte na cruz, Billy Graham
afirmou que “este foi o dia em que a morte morreu”. Pedro ensina que Jesus, o Nazareno, tendo
sido entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, foi morto pelos judeus, por mãos
de iníquos (Atos 2.23), “ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte;
porquanto não era possível fosse ele retido por ela” (Atos 2.24). E continua: “A este Jesus
Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas” (Atos 2.32). A vitória sobre a morte pela
ressurreição e a glorificação à direita do Pai eram necessárias para que a vida plena nos fosse
transmitida pelo dom do Espírito Santo: “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai
a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vede e ouvis” (Atos 2.33).

Algumas mulheres foram as primeiras que constataram, no domingo da ressurreição, que o


túmulo estava vazio. Jesus ressuscitou! Depois Pedro e João fizeram a mesma descoberta.
Todos eles viram e creram (Mateus 28.1-10; João 20.1-10). No mesmo dia e nos quarenta dias
subsequentes, Jesus apareceu repetidamente a seus discípulos. Lucas afirma: “A estes também,
depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes
durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus” (Atos 1.3). O quadro
8 mostra as testemunhas da ressurreição e as diversas aparições de Jesus aos discípulos.

15
Quadro 8

EVANGELHOS
A ressurreição e os 40 dias
(Veja os textos no quadro 1, Encontro 1)
MATEUS MARCOS LUCAS JOÃO Extra
At 1; 2 Co 15
Os anjos Um mancebo Os varões
1

As mulheres As mulheres As mulheres


2

Mentira dos judeus


3

Pedro Pedro e João Cefas


4

Maria Madalena Madalena


5

Dois deles Emaús


6

Onze (Jerusalém) Onze (Jerusalém) Doze


7

8 dias depois
8

Tiberíades
9

Onze (no monte) Onze (no monte)


10

Todos (2 Co 15)
11
Ascensão (At 1); 500
Tiago
12

Saulo, abortivo
13

O Cristo ressurreto era o mesmo Jesus, apesar de poderosamente transformado. De volta


à Galileia, do alto da montanha, deu ordem aos discípulos para que fizessem discípulos de todas
as nações (Mateus 28.18-20).
Depois de ter abençoado seus discípulos e de prometer-lhes o Espírito Santo, “ia-se
retirando deles, sendo elevado para o céu” (Lucas 24.44-53). Extasiados com a ascensão do
Senhor, foram advertidos por dois anjos que lhes disseram: “Varões galileus, por que estais
olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o
vistes subir” (Atos 1.10-11).

A partida do Senhor foi definitiva até o seu glorioso retorno. Os discípulos, então, voltaram
alegres para Jerusalém para aguardar o Espírito Santo que viria com poder, conforme lhes havia
sido prometido. Revestidos com o poder do alto, seriam testemunhas de Jesus a partir de
Jerusalém e até aos confins da terra (Atos 1.8). Essa missão começou dez dias depois com o
nascimento da Igreja no dia de Pentecostes e prossegue até a volta gloriosa do Senhor. É o que
veremos nos próximos encontros.

Conclusão
A vida e o ministério de Jesus ocupam o centro da história sagrada. Nele Deus se revela
de maneira plena e definitiva (Hebreus 1.1-3). Nele convergem todas as coisas no céu e na terra
(Efésios 1.9-10). Todas as coisas foram criados por ele e para ele e nele tudo subsiste
(Colossenses 1.15-17). Para ser o cabeça de todas as coisas, Deus o deu à igreja, “a qual é16 o
seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Efésios 1.23). Este
conceito divino e sublime da igreja é o que veremos nos próximos encontros.
Encontro 4
NASCIMENTO E EXPANSÃO DA IGREJA: DE JERUSALÉM A ANTIOQUIA

Os quatro Evangelhos registram o que Jesus fez e ensinou. O livro de Atos registra o que
Jesus continuou fazendo, por intermédio da igreja, no poder do Espírito Santo. A igreja é o corpo
vivo de Cristo. Como igreja cristã nasceu no dia de Pentecostes, mas já estava presente no
Antigo Testamento, como povo de Deus, desde a aliança com Abraão. O Espírito Santo, enviado
em cumprimento à promessa feita por Jesus (Lucas 24.49), uniu os discípulos uns aos outros na
terra (Atos 2.1-4) e uniu todos à cabeça do corpo, Cristo, exaltado à destra de Deus (Atos 2.33;
Efésios 2.6). Desta forma, Jesus continua presente e agindo no mundo por meio do seu corpo
místico, a igreja. Esta é mais que organização, instituição; é comunhão viva dos remidos em
Cristo com o Deus trino e de uns com os outros.
A missão da igreja é ser testemunha de Jesus de acordo com Atos 1.8: “mas recebereis
poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém
como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra”. Este texto nos dá um esboço para
o estudo da expansão da igreja: em Jerusalém (Atos 1 a 7); em Samaria (Atos 8); na Judeia (Atos
9.26-43); até aos confins da terra (Atos 9.1-25; 10-11; 13 ss). Neste encontro, estudaremos a
igreja e seu nascimento e em sua expansão até Antioquia. A expansão da igreja rumo aos confins
da terra começa com as viagens missionárias de Paulo a partir de Antioquia da Síria.

1. A igreja em Jerusalém
Em Jerusalém, que mata profetas e apedreja os lhe são enviados (Lucas 13.34), Jesus foi
preso, torturado e crucificado; mas venceu a morte pela ressurreição e revestiu os seus discípulos
com poder para que dessem prosseguimento à sua obra (Lucas 24.46-49; Atos 1.8). O envio do
Espírito Santo (Atos 2.1-4) é um acontecimento missionário. Ele capacita os discípulos para o uso
de uma linguagem que pode ser compreendida por pessoas de diversas nações (Atos 2.4-12).
Faz contraponto a Babel, onde Deus teve que confundir a linguagem humana para frustrar o
projeto imperialista (Gênesis 11.4-9). A missão da igreja é pregar o evangelho do reino em todo o
mundo, a começar de Jerusalém, como testemunho a todas as nações (Mateus 24.14; Lucas
24.46-47; Atos 1.8).
A igreja em Jerusalém cresceu de uma comunidade inicial de cerca de cento e vinte
pessoas (Atos 1.15) para quase três mil, logo após a pregação de Pedro, na qual ele explicou o
que aconteceu no dia de Pentecostes (Atos 2.14-36). Nesta pregação Pedro mostrou a
necessidade do ministério (Atos 2.22), morte (Atos 2.23), ressurreição (Atos 2.24-32) e
glorificação do Senhor Jesus (Atos 2.33-36) para que o Espírito Santo fosse enviado como dom
inefável de Deus. Por meio do Espírito Santo, recebido por quem crê em Jesus, o Pai e o Filho
vêm morar no coração do crente (João 14.23) e na comunhão dos remidos em Cristo, santuário
do Espírito (1 Coríntios 3.16-17).
A cura do paralítico (Atos 3.1-10) despertou o interesse do povo para a mensagem de
Pedro que anunciou mais uma vez a salvação em Cristo (Atos 3.11-26). A cura feita em nome de
Jesus autenticou de maneira irrefutável o testemunho da ressurreição de Jesus (Atos 3.12,16;
4.13-16; 21-22). O resultado foi extraordinário. Dos que creram na mensagem, o número chegou
a quase cinco mil homens (Atos 4.4). As perseguições não intimidaram os apóstolos e os
discípulos. Pelo contrário, as ameaças os levaram à oração (Atos 4.23-30). “Depois de orarem,
tremeu o lugar em que estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam
corajosamente a Palavra de Deus” (Atos 4.31 - NVI). A comunhão dos cristãos nesta fase inicial
da igreja, cujo testemunho está registrado em Atos 2.41-47 e em Atos 4.32-35, é um padrão para
17
a igreja em todo o tempo e em todo lugar. No entanto, não estava isenta de problemas como
ilustra o incidente com Ananias e Safira (Atos 5.1-11). Os sinais e maravilhas operados entre o
povo demonstravam a autoridade da mensagem do reino (Atos 5.12): “Em número cada vez
maior, homens e mulheres criam no Senhor e lhes eram acrescentados” (Atos 5.14 - NVI). Não se
faz mais referências a quantidade: “Naqueles dias, crescendo o número de discípulos...” (Atos 6.1
- NVI); “Assim, a palavra de Deus se espalhava. Crescia rapidamente o número de discípulos em
Jerusalém” (Atos 6.7 - NVI).

Todos os primeiros cristãos eram judeus. Por isso, continuaram frequentando as sinagogas
e o templo. O templo não era cristão, mas judaico. Os sacerdotes continuavam os seus ofícios,
até a destruição do templo, pelos romanos, no ano setenta. Os cristãos reuniam-se no pátio do
templo (Atos 2.46-NTLH) e no alpendre de Salomão (Atos 3.11; 5.12). A adoração e a
evangelização eram feitas, diariamente, no templo e de casa em casa (Atos 2.46; 5.42). Destaca-
se nesta fase a liderança de Pedro, em comunhão com os demais apóstolos, lançando os
fundamentos da igreja (Efésios 2.20).
Apesar de a igreja ser, em sua essência, uma comunhão pura de pessoas, ela precisa
organizar-se para cumprir a sua missão no mundo. Por isso, oficiais foram eleitos e investidos
(Atos 6.1-6) tanto em Jerusalém como, mais tarde, nas igrejas que surgiram da obra missionária
(Atos 14.23).
A grande tentação era a igreja acomodar-se em Jerusalém sem levar a sério a missão. De
acordo com Atos 1.8 a igreja deveria ser testemunha de Jesus “tanto em Jerusalém como em
toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra”. Tarefa simultânea e concomitante. Um fato
inesperado, mas providencial, forçou a dispersão missionária da igreja: a perseguição. Estêvão,
um dos oficiais investidos, homem cheio de fé e do Espírito Santo (Atos 6.5), deu corajoso
testemunho (Atos 6.8-7.53) e o resultado foi o seu martírio (Atos 7.54-60). “Naquela ocasião
desencadeou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém. Todos, exceto os apóstolos,
foram dispersos pelas regiões da Judeia e de Samaria. Os que haviam sido dispersos pregavam
a palavra por onde quer que fossem” (Atos 8.1,4 - NVI). Começa a expansão da igreja além dos
limites de Jerusalém.
O discurso de Estêvão registrado em Atos 7.1-53 foi decisivo. Ele era judeu, com formação
helênica, convertido à fé em Jesus. Mais do que Pedro e os demais apóstolos, ele demonstrou
uma compreensão clara da universalidade da salvação em Cristo e da pregação do evangelho.
Os cristãos helênicos como Estêvão, Filipe, Paulo, Lucas e outros foram os grandes missionários
mencionados em Atos. Deus é soberano e tem os seus caminhos.

2. A igreja em Samaria e na Judeia


Os discípulos que foram dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria (Atos 8.1) pregavam
a palavra por onde que fossem (Atos 8.4). Filipe anunciou a Cristo numa das cidades de Samaria
com excelentes resultados (Atos 8.5-8). A região da Samaria localizava-se entre a Galileia, no
norte, e a Judeia, no sul. Quando os assírios conquistaram o reino do norte, Israel, em 722 a.C. (2
Reis 17.24-28), implantaram um culto misto (2 Reis 17.29-41) assim descrito: “De maneira que
temiam o Senhor e, ao mesmo tempo, serviam aos seus próprios deuses, segundo o costume
das nações dentre as quais tinham sido transportados” (2 Reis 17.33). O reino do sul, de Judá,
manteve o culto ao Senhor. Por esta razão, “os judeus não se dão com os samaritanos” (João
4.9). Mas Deus ama os samaritanos. Jesus preparou o terreno para a evangelização de Samaria
quando evangelizou a mulher da cidade de Sicar e fez dela a primeira missionária para os seus
patrícios (João 4.1-30, 39-42). Os samaritanos hoje representam os grupos marginalizados da
sociedade que devem ser alcançados com a mensagem do evangelho.

18
Os apóstolos Pedro e João, enviados pela igreja de Jerusalém, consolidaram a obra de
Filipe, integrando os samaritanos convertidos na comunhão da igreja como corpo de Cristo (Atos
8.14-25). Filipe, depois de evangelizar o oficial da rainha Candace, da Etiópia (Atos 8.26-39), se
estabeleceu em Cesareia (Atos 8.40; 21.7-9).

A obra feita pelos anônimos na Judeia (Atos 8.1,4) foi consolidada por Pedro (Atos 9.32-
43). A cura de Eneias e a ressurreição de Dorcas contribuíram para que muitos se convertessem
ao Senhor (Atos 9.35,42). Lucas resume a situação da igreja na Palestina: “A igreja, na verdade,
tinha paz por toda Judeia, Galileia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e,
no conforto do Espírito Santo, crescia em número” (Atos 9.31). Verifique no quadro 9 a expansão
da igreja a partir de Jerusalém.
Quadro 9

3. A igreja chega a Antioquia


A Antioquia da Síria estava localizada além das fronteiras da Palestina, cerca de trezentos
quilômetros de Jerusalém, e era a terceira cidade mais importante do império romano (Roma,
Alexandria, Antioquia). Esta cidade foi alcançada também pelos missionários anônimos dispersos
por causa da perseguição em Jerusalém, os quais pregaram também aos gregos (Atos 11.19-26).
“A boa mão do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor” (Atos
11.21). Barnabé, representante da igreja-mãe, integrou os recém-convertidos na comunhão da
igreja, corpo vivo de Cristo, com o auxílio de Saulo (Atos 11.22-30). “Porque era homem bom,
19
cheio do Espírito Santo e de fé. E muita gente se uniu ao Senhor” (Atos 11.24).
Em virtude do discipulado feito por Paulo e Barnabé (Atos 11.25-26), a igreja em Antioquia tinha
uma liderança sólida, constituída por profetas e mestres, e tornou-se base para a irradiação
missionária em regiões da Ásia e da Europa (Atos 13.1-3).

4. A igreja se prepara para avançar


Pedro, em harmonia com o colégio apostólico, lançou as bases da igreja em Jerusalém
(Atos 2.14-42), Samaria (Atos 8.14-25), Judeia (Atos 9.32-43), em Antioquia (Atos 11.22-30), em
Cesareia (Atos 10.1-48; 11.1-18) e, mais tarde, Paulo lança as bases em Éfeso (Atos 19.1-7). A
conversão de Cornélio registrada em Atos 10 e 11.1-18 é de extraordinária importância porque
Pedro fez uso das chaves (Mateus 16.19) para abrir as portas do evangelho aos gentios. À
medida que a igreja ia crescendo em Jerusalém foi perdendo espaço nos templos e nas
sinagogas, enfrentou perseguições e martírios (Atos 12), e os lares foram se transformando em
centros de adoração e de irradiação missionária (Atos 12.12; 10.23-24, 27, 33).
Atos 9.1-30 narra a conversão e integração de Saulo na comunhão da igreja. Paulo era o
vaso escolhido para levar o nome de Jesus perante os gentios e reis, bem como perante os filhos
de Israel (Atos 9.15). Logo após a sua conversão, fez discípulos em Damasco (Atos 9.20-25),
ligou-se aos discípulos em Jerusalém (Atos 9.26-27), falava ousadamente no nome do Senhor e
usava apologética na evangelização (Atos 9.28-29). Ele se julgava preparado para evangelizar os
judeus (Atos 22.19-20), mas o Senhor lhe disse: “Apressa-te e sai logo de Jerusalém, porque não
receberão o teu testemunho a meu respeito. Vai, porque eu te enviarei para longe, aos gentios”
(Atos 22.18,21). Por isso, foi enviado pelos irmãos a Tarso, sua cidade natal. Muitos anos depois,
Barnabé foi buscá-lo para ajudá-lo em Antioquia. O fervoroso Saulo teve o devido preparo, num
longo período de tempo, para as viagens missionárias. Assunto do próximo encontro.

Conclusão

O Deus da revelação bíblica é missionário. Ele sempre toma a decisão de vir ao encontro
do homem. Ele enviou o Filho, apóstolo da nossa confissão (Hebreus 3.1). A palavra apóstolo
significa enviado, missionário, representante. São inúmeras as vezes em que Jesus se refere a si
mesmo como o enviado do Pai.
Jesus enviou o Espírito Santo (Lucas 24.49; Atos 2.33). Portanto, o Deus trino, revelado
nas Escrituras, é Deus missionário. E a igreja? Somos enviados por Jesus como ele foi enviado
pelo Pai (João 20.21). A história missionária da igreja cristã começou no Pentecoste e prossegue
até a volta do Senhor em glória. Estamos inseridos nesta missão. Para nós, é privilégio e
responsabilidade. A grande expansão começa com as viagens de Paulo. É o que veremos nos
próximos encontros.

20
Encontro 5
GRANDE EXPANSÃO E CONSOLIDAÇÃO: VIAGENS MISSIONÁRIAS DE PAULO E SUAS
CARTAS

A expansão da igreja a partir de Jerusalém para a Judeia, Samaria e Antioquia foi o


resultado do trabalho de cristãos comuns, dispersos por causa da perseguição. “Todos, exceto
os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria. Os que foram dispersos iam
por toda parte pregando a palavra” (Atos 8.1, 4). De início, pregavam só aos judeus mesmo na
Fenícia, Chipre e Antioquia (Atos 11.19). Mas alguns de Chipre e de Cirene pregaram, com êxito,
aos gregos em Antioquia (Atos 11.20-21).
O trabalho dos missionários anônimos em Antioquia foi consolidado por Banabé (Atos
11.22-26). Além do entusiasmo e da alegria (Atos 8.8; 11.21), a igreja precisava ser construída
sobre sólidos fundamentos. Por isto Barnabé foi a Tarso em busca de Saulo (Atos 11.25-26a). “E,
por todo um ano, se reuniram naquela igreja e ensinaram numerosa multidão. Em Antioquia foram
os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (Atos 11.26b). A igreja em Antioquia estava
preparada para dar início à grande expansão em direção aos confins da terra.
Na primeira fase, de Jerusalém a Antioquia, predominou a liderança de Pedro, cujo
ministério era destinado principalmente aos judeus; na fase que passamos a estudar destacou-se
Saulo, mais tarde chamado Paulo (Atos 13.9), cuja vocação era, prioritariamente, levar o
evangelho aos gentios (Gálatas 2.6-10; Atos 22.17-21). A igreja em Antioquia foi a base de
operação de Paulo e seus companheiros.

1. A primeira viagem missionária


O livro de Atos registra três viagens missionárias lideradas por Paulo. A primeira consta em
Atos 13.1 a 14.27. Verifique, no mapa do quadro 10, o itinerário da primeira viagem.
Quadro 10

21
Barnabé e Saulo foram chamados pelo Espírito Santo para a obra missionária quando a
liderança da igreja de Antioquia servia (adorava) ao Senhor com jejum (Atos 13.1-2). Foi também
com oração e jejum que eles foram separados, consagrados e enviados ao campo (Atos 13.3).
De fato, eles foram enviados pelo Espírito Santo (Atos 13.4), por intermédio da igreja.

À semelhança de Pedro (Atos 4.8), Estêvão (Atos 6.5) e Barnabé (Atos 11.24), Paulo era
cheio do Espírito Santo (Atos 13.9). Foi no poder do Espírito Santo que ele imobilizou o falso
profeta Elimas e levou o procônsul Sérgio Paulo à fé em Cristo, em Pafos, Chipre (Atos 13.4-12);
fez vibrante pregação na sinagoga de Antioquia da Pisídia (Atos 13.13-41) produzindo interesse
em alguns judeus (Atos 13.42-43), rejeição de outros (Atos 13.44-45) e salvação de todos os
gentios destinados para a vida eterna (Atos 13.46-52); juntamente com Barnabé pregaram de tal
maneira em Icônio que numerosa multidão tanto de judeus como de gregos creram no Senhor
(Atos 14.1-5); curaram o aleijado em Listra e pregaram o evangelho aos idólatras licaônios (Atos
14.8-18); nesta mesma cidade suportaram perseguições cruéis (Atos 14.19); fizeram muitos
discípulos em Derbe (Atos 14.20-21); fortaleceram os discípulos de Listra, Icônio e Antioquia,
na viagem de retorno, exortando à perseverança e promovendo a eleição de presbíteros em cada
cidade (Atos 14.21-23).
A primeira viagem missionária encerrou com o retorno dos obreiros à base, Antioquia, para
prestação de relatórios (Atos 14.24-28). Grande lição! Toda obra missionária precisa do apoio da
base e os missionários devem relatar as coisas que Deus fez por meio deles e como as portas
foram abertas para a pregação. Toda a igreja é missionária e inclui os que enviam, sustentam,
oram, e os que são enviados ao campo.

2. Derrubada a parede da separação


A vitoriosa evangelização dos gentios feita por Paulo e Barnabé levantou uma questão que
precisava ser analisada e resolvida: os gentios que se converteram precisavam guardar toda a lei
mosaica? Judeus procedentes da Judeia ensinavam que os gentios convertidos a Cristo
precisavam submeter-se ao rito da circuncisão e deviam observar toda a lei de Moisés (Atos
15.1,5). Paulo e Barnabé discordavam desta posição com veemência (Atos 15.2). Por isso, a
questão foi submetida aos apóstolos e presbíteros de Jerusalém (Atos 15.2). Houve grande
debate (Atos 15.6-11), vigoroso testemunho missionário (Atos 15.12) e uma decisão proposta por
Tiago (Atos 15.13-27) que resolveu a questão: nenhum encargo seria imposto aos gentios
convertidos além destas coisas essenciais: “abstenção das coisas sacrificadas a ídolos, bem
como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas” (Atos 15.28-29).

Foram eleitos os profetas Judas e Silas para que, juntamente com Paulo e Barnabé,
fossem portadores, das decisões tomadas, às novas igrejas do campo missionário (Atos 15.22). A
comunicação dessas decisões causou conforto para os irmãos gentios (Atos 15.31-32; 16.4-5). O
perigo de uma igreja judaica e uma igreja gentia estava afastado. A unidade foi preservada. Nas
questões essenciais deve haver unidade; nas secundárias, liberdade; em tudo deve existir amor.
Discernimento ainda necessário!
Derrubada a parede da separação (Efésios 2.13-16), os apóstolos estavam prontos para
dar início à segunda viagem missionária, como veremos, a seguir.
3. A segunda viagem missionária
Como sempre, Paulo queria fortalecer as igrejas fundadas por ele antes de prosseguir para
novos campos (Atos 15.36). Houve desavença entre Paulo e Barnabé por causa de João Marcos
e por isso seguiram caminhos diferentes (Atos 15.37-39). Silas, o profeta, foi o novo companheiro
de Paulo. Eles saíram de Antioquia, a base, e passaram pela Síria e Cilícia, confirmando as
igrejas (Atos 15.40-41; 16.4-5). Observe o itinerário desta viagem, a partir de Antioquia, no mapa
22
do quadro 10. A narração está em Atos 15.36 a Atos 18.22.
Quadro 11

3.1. Destaques da segunda viagem missionária: avanço e instruções (cartas)

Além do fortalecimento dos discípulos, feitos na primeira viagem missionária, destacam-se,


na segunda viagem:

 Trabalho em equipe. Como já vimos, a equipe da primeira viagem se desfez, mas, para
esta viagem, Paulo escolheu Silas (Atos 15.40), recrutou Timóteo em Derbe (Atos 16.1-1-
3) e Lucas, autor do livro de Atos, se inclui em Trôade ao usar o plural (Atos 16.9). Os
missionários para a expansão da igreja eram treinados no trabalho;
 Evangelização da Europa. Paulo foi impedido pelo Espírito Santo de pregar o evangelho
na Província da Ásia e em Bitínia (Atos 16.6-7) porque o chamado de Deus era para
Macedônia, na Europa (Atos 16.8-10). Haveria alguém mais preparado do que Paulo e sua
equipe para evangelizar pessoas da cultura greco-romana?
 Mensagem contextualizada. Como judeu de cultura helênica, Paulo procurava primeiro
as sinagogas, presentes no mundo gentílico por causa da dispersão judaica, para
demonstrar que Jesus de Nazaré era o Messias prometido no Antigo Testamento. Isto
aconteceu em Filipos (Atos 16.13), Tessalônica (Atos 17.1-3), Bereia (Atos 17.10-11),
Atenas (Atos 17.17) e Corinto (Atos 18.1-4). As sinagogas eram frequentadas por judeus
e gentios piedosos. Alguns judeus criam, mas outros se opunham. Então, ele se voltava
para os gentios, usando uma linguagem que eles podiam entender, como aconteceu em
Antioquia (Atos 13.44-48) e Atenas (Atos 17.16-34);
 Evangelização urbana. Por direção divina, Paulo concentrou os seus trabalhos em
grandes cidades estrategicamente localizadas como Filipos, Tessalônica e Corinto. O
helenismo difundido pelo macedônio Alexandre contribuiria para a universalização do
evangelho e as rotas comerciais que passavam por estas cidades fariam das igrejas nelas
plantadas centros de irradiação missionária.
De Corinto, Paulo e seus companheiros retornaram mais uma vez a Antioquia, de onde
foram enviados, depois de passarem por Cencreia, Éfeso, Cesareia e Jerusalém (Atos 18.18-22).
A retaguarda na obra missionária é um princípio para o avanço do reino de Deus!

23
No contexto da segunda viagem missionária devemos ler as duas cartas aos
tessalonicenses (Cerca do ano 50 AD). A oposição dos judeus (Atos 17.5-9) causou tribulação
aos discípulos em Tessalônica (1 Tessalonicenses 2.14-16). Por isso, estando em Corinto, Paulo
quis visitá-los, mas não conseguiu (1 Tessalonicenses 2.17-18). Enviou, então, Timóteo, para
indagar o estado da fé desses recém-convertidos (1 Tessalonicenses 3.1-5). As notícias trazidas
por Timóteo foram confortadoras, mas havia também alguns problemas (1 Tessalonicenses 2.6-
10). Paulo envia a primeira carta para incentivar os discípulos à perseverança, para exortá-los à
santidade e confortá-los com a mensagem da volta iminente de Jesus. Os que já morreram
ressuscitarão e os que estiverem vivos serão arrebatados para o encontro com o Senhor (1
Tessalonicenses 4.13-17). “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (1
Tessalonicenses 4.18).
Alguns não entenderam bem a mensagem de Paulo na primeira carta quando ele disse:
“nós, os vivos, que ficarmos até a vinda do Senhor” (1 Tessalonicenses 4.15). O significado é que
o Senhor pode vir hoje, pode vir amanhã, e devemos estar sempre preparados para encontrá-lo.
Enquanto ele não vem devemos ter uma vida de trabalho, de disciplina e piedade. Mas alguns
tessalonicenses abandonaram suas obrigações quotidianas para esperar Jesus. Paulo teve que
escrever a segunda carta para colocar as coisas nos devidos lugares (2 Tessalonicenses 2.1-2).
“Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas, seja por
palavra, seja por epístola nossa” (2 Tessalonicenses 2.15). Quanto aos que deixaram suas
tarefas para aguardarem o Senhor, a exortação foi firme: “Se alguém não quer trabalhar, também
não coma” (2 Tessalonicenses 3.10).

4. Terceira viagem missionária: avanço, consolidação e cartas

4.1. Itinerário
Quadro 12
Observe no mapa do quadro
11 que Paulo e sua equipe
viajaram pela região da
Galácia e da Frígia para
confirmar os discípulos (Atos
18.23), passando por Derbe,
Icônio, Antioquia da Psídia.
Chegaram a Éfeso, cidade
estratégica, onde se
desenvolveu a maior parte do
trabalho desta terceira
viagem missionária narrada
em Atos 18.24 a 21.26.
Houve um trabalho
prévio, porém incompleto, de Apolo em Éfeso (Atos 18.24-28). Paulo completa e consolida esta
obra (Atos 19.1-7; Atos 8.14-25; Atos 11.22-26; 1 Coríntios 12.12-13). Como fazia sempre, Paulo
pregou na sinagoga. Havendo oposição, ele separou os discípulos e passou a ensinar
diariamente na escola de Tirano (Atos 19.8-9). “Durou isto por espaço de dois anos, dando ensejo
a que todos os habitantes da Ásia (província) ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus quanto
gregos” (Atos 19.10). Paulo não visitou toda a região, pois ensinava diariamente em Éfeso, mas
treinou e enviou missionários. Éfeso tornou-se grande centro de irradiação evangelística!
O poder de Deus se manifestou por meio de Paulo (Atos 19.11-16) de tal forma que veio o
temor sobre judeus e gregos, e “o nome do Senhor Jesus era engrandecido (Atos 19.17). Assim,
a palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente” (Atos 19.20). 24
Demétrio gerou grande tumulto em Éfeso por motivo financeiro (Atos 19.23-41). Depois
disto, Paulo partiu para Macedônia (ver roteiro no quadro 11), fortalecendo os discípulos com
muitas exortações (Atos 20.1-2). O mesmo ele fez nas igrejas da Grécia, fundadas na segunda
viagem missionária (Atos 20.2-3a). Retornou, com seus companheiros, pela Macedônia, na
Europa (Atos 20.3b), Trôade, na Ásia (Atos 20.7-12) e, por via marítima, passou por Assôs,
Mitilene, Mileto (Atos 20.13-16), Rodes, Pátara, Tiro, Cesareia e Jerusalém (Atos 21.26).
Desta vez não retornou a Antioquia da Síria. Em Jerusalém ele foi preso (Atos 21.27-40). O plano
dele de ir a Roma, quando estava em Éfeso (Atos 19.21), vai se cumprir, mas como prisioneiro.
Além do trabalho missionário em Éfeso, o grande destaque desta viagem é a consolidação
da obra feita nas viagens anteriores, com destaque para o encontro com os presbíteros da igreja
de Éfeso em Mileto (Atos 20.17-38). A eficácia da obra apostólica fica clara pela existência de
uma liderança madura (presbíteros) formada em tão pouco tempo. Neste encontro, Paulo abre o
coração e revela traços relevantes do seu caráter e da sua consagração.
No contexto da terceira viagem missionária devemos ler as cartas enviadas por Paulo aos
gálatas, coríntios e romanos. As cartas, provavelmente, foram enviadas de Éfeso (aos
coríntios) e de Corinto (aos gálatas e aos romanos), entre 56 e 57 AD.
4.2. Cartas

4.2.1. Na carta aos gálatas

Paulo ataca os judaizantes. Como já vimos, a questão da salvação pela lei ou da


justificação pela fé já tinha sido resolvida pela reunião dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém
(Atos 15). Mas o espírito legalista não tinha morrido e ameaçava as igrejas da Galácia com as
heresias que enfatizam a justiça própria que decorre da obediência à lei em detrimento da justiça
realizada a nosso favor na cruz e que recebemos pela fé (Gálatas 3.1-5). Este é o evangelho
(boas notícias) e não há outro (Gálatas 1.6-9). Até Pedro, cujo ministério Paulo reconhecia
(Gálatas 2.6-10), se deixou influenciar pelos legalistas e foi repreendido por Paulo (Gálatas 2.11-
21). Nos capítulos 5 e 6 Paulo expõe com absoluta clareza a liberdade que temos em Cristo para
vivermos segundo o Espírito, não segundo a carne. Contra o fruto do Espírito (amor, alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio) não há lei (Gálatas
5.22-23) não há lei. Esta pequena carta encantou o reformador Lutero que estava empenhado,
como Paulo, em atacar as heresias que negavam a essência do Evangelho.
4.2.2. Nas duas cartas aos coríntios

Paulo aborda questões eclesiásticas relacionadas com a vida cristã. Ele foi informado de
problemas sobre unidade (1 Coríntios 1.12-13), carnalidade (1 Coríntios 3.1-4), orgulho (1
Coríntios 4.7-8), imoralidade (1 Coríntios 5.1-2), demandas (1 Coríntios 6.1-8), conflitos conjugais
(1 Co 7.1-5), coisas sacrificadas aos ídolos (1 Coríntios 8.1-13), idolatria (1 Coríntios 10.14-22),
celebração de forma imprópria da Ceia do Senhor (1 Coríntios 11.17-22), uso incorreto dos dons
espirituais (1 Coríntios 12.1), ressurreição (1 Coríntios 15.12-19), negação da autoridade
apostólica de Paulo (2 Coríntios 10.1-6), ação de falsos apóstolos na igreja (2 Coríntios 11.12-15),
dentre outros problemas. Apesar de tudo, Paulo se refere aos cristãos coríntios como santificados
em Cristo Jesus, chamados para ser santos e em tudo enriquecidos em Cristo (1 Coríntios 1.2,4-
9). A igreja primitiva não era perfeita. A lição é que a Igreja subsiste nas “igrejas”.
Paulo escreve aos coríntios para admoestá-los como filhos amados (1 Coríntios 4.14).
Podiam ter muitos instrutores, mas Pai, só Paulo: “pois eu, pelo evangelho, vos gerei em Cristo
Jesus” (1 Coríntios 4.15). Os coríntios eram o selo do seu apostolado (1 Coríntios 9.2). As
atitudes enérgicas do pai espiritual produziram bons resultados (2 Coríntios 7.5-16). As cartas aos
coríntios são um tratado sobre soluções de problemas eclesiásticos e da vida cristã.
25
4.2.3. Na carta aos romanos
Ao contrário das cartas aos coríntios, a carta aos romanos aborda, com destaque, temas
teológicos. A igreja em Roma não foi fundada por Paulo. Quando escreveu a carta, não tinha
estado ainda na capital do império. Conhecia cristãos romanos pelo contato com eles em diversas
partes do império. Qual seria o motivo de ter escrito aos romanos?
O plano de Paulo era pregar em Roma depois da terceira viagem (Atos 19.21, Romanos
1.9-15). Considerava realizada a sua missão nas regiões alcançadas pelas três viagens
missionárias e pretendia transformar a igreja de Roma num centro para alcançar a Espanha
(Romanos 15.22-24). O mesmo que já tinha feito em Antioquia da Síria, Éfeso, Tessalônica e
Corinto. A carta contribuía para firmar os fundamentos da igreja para este propósito. Ela tem três
grandes divisões: 1. Temas teológicos (capítulos 1-8); 2. Parêntesis judaico (capítulos 9-11); 3.
Aplicação ética (capítulos 12-15).
A primeira parte, Temas teológicos, trata:

 do pecado dos gentios (cap. 1);


 do pecado dos judeus (cap. 2);
 do pecado total (cap. 3);
 da expiação (cap. 4);
 da justificação (caps. 4-5);
 da santificação (caps. 6-8);
 da glorificação (cap. 8).

A segunda parte, Parêntese judaico, trata:


 da eleição de Israel (cap. 9);
 da rebeldia de Israel (cap.10);
 da relação de Israel com a igreja (cap. 11);
 do destino de Israel (cap. 11). A consideração deste tema leva o apóstolo a celebrar
a soberania de Deus (Romanos 11.33-36).

A terceira parte, Aplicações éticas do evangelho, trata:


 dos dons e do amor (cap. 12);
 das autoridades e da vigilância (cap. 13);
 da tolerância e da liberdade (cap. 14);
 da abnegação do apostolado (cap. 15).

Percebe-se que a carta aos romanos tem aplicação universal. Pelo fato de os leitores
residirem na capital do império, procedentes de todos os quadrantes, teria justificado a
consideração mais sistematizada do apóstolo.

Conclusão
As viagens e os escritos do apóstolo Paulo lançaram as bases para a universalidade do
evangelho e da igreja de Cristo. A leitura atenta dos relatos históricos e das reflexões de Paulo
geram a convicção de que a igreja é missionária por natureza. Quanto à responsabilidade da
missão, somos, como Paulo, devedores a todos (Romanos 1.14-15).

26
Encontro 6

DE JERUSALÉM A ROMA, CARTAS DA PRISÃO E CARTAS PASTORAIS

Como já vimos, Paulo planejava visitar Roma depois da terceira viagem missionária (Atos
19.21, Romanos 1.9-15). Com base em Romanos 15.22-24 podemos concluir que ele pensava na
igreja de Roma como base de apoio para a evangelização da Espanha, o extremo ocidental
conhecido na época. A terceira viagem missionária terminou com a prisão de Paulo em
Jerusalém. O plano de viagem a Roma vai se cumprir, sim, mas como prisioneiro, em virtude de
Paulo ter apelado para ser julgado pelo tribunal de César (Atos 25.9-12). Caminhos da
providência!

Esta fase da história da igreja, tendo Paulo como protagonista, pode ser dividida em quatro
fases distintas, como pode ser visto no quadro 13: Em Jerusalém; em Cesareia; em viagem; em
Roma.

Quadro 13

De Jerusalém a Roma
Em Jerusalém Em Cesareia Em Viagem Em Roma

Cap. 21-23 Cap. 23-26 Cap. 27-28 Cap. 28

No templo – Conspiração – Até Mirra – Encontros:


Trófimo sobrinho centurião Júlio
- com os irmãos
Preso – Carta - Lísias a Até Malta –
Comandante Felix Tempestade - com os judeus

Defesa – Felix – quer Em Malta – Casa alugada -


missão
testemunho 1 dinheiro milagres

Na Fortaleza – Festo – apelo Até Putéoli -


cidadão para Roma Castor e Polux

No Conselho – Agripa – Chegada a


apelo testemunho 2 Roma - Ânimo

1. Em Jerusalém

Paulo estava consciente do que poderia lhe acontecer em Jerusalém. Aos presbíteros de
Éfeso ele afirmou, em Mileto, que de cidade em cidade, o Espírito Santo lhe assegurava que em
Jerusalém lhe esperavam cadeias e tribulações (Atos 20.22-23). Diante de uma profecia de que
seria preso (Atos 21.10-11), os irmãos rogaram-lhe que não subisse a Jerusalém (Atos 21.12-
13a), mas Paulo rejeitou este pedido e afirmou: “Pois estou pronto não só para ser preso, mas até
para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (Atos 21.13b).
27
Paulo foi bem recebido em Jerusalém pelos irmãos, por Tiago e pelos presbíteros (Atos
21.17-20). Em atenção aos judeus que haviam crido em Cristo, Paulo seguiu a orientação dos
presbíteros para demonstrar aos patrícios cristãos que ele não era infiel às Escrituras (Atos
21.20-26). Mesmo assim, sob a alegação de que Paulo introduzira o efésio Trófimo no templo, os
judeus, oriundos da Ásia, alvoroçaram o povo que agarraram a Paulo; este só não foi morto por
causa da intervenção do comandante da força (Atos 21.27-36). Mediante permissão do
comandante (Atos 21.37-40), Paulo fez uma defesa pessoal que foi um belo testemunho da sua
conversão e da missão que ele estava cumprindo em obediência ao chamado divino (Atos 22.1-
21).

Depois da sua defesa, o comandante determinou que Paulo fosse interrogado, com
açoites, para saber o motivo das acusações feitas contra ele pelos judeus. No entanto, ao saber
que Paulo era cidadão romano, não só desistiu deste procedimento, como assegurou a ele o
direito de ser ouvido pelo Sinédrio que se reuniu com este propósito (Atos 22.22-30). A dissensão
entre os judeus foi acirrada (Atos 23.1-10), mas o Senhor fortaleceu o apóstolo, revelando-lhe o
seu propósito: “Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém,
assim importa que também o faças em Roma” (Atos 23.11). A animosidade dos judeus em
relação a Paulo era tanta que se formou uma conspiração de mais de quarenta pessoas para
matá-lo. Denunciada essa conspiração por um sobrinho de Paulo, ele foi mandado para Cesareia
(Atos 23.12-35).

2. Em Cesareia

Apesar da prudência do comandante Cláudio Lísias ao enviar Paulo para Cesareia, com
uma carta endereçada ao governador Félix (Atos 23.26-30), a oposição dos judeus ao apóstolo
prosseguiu de forma virulenta. Não só o sumo sacerdote Ananias, mas os anciãos, e certo orador
chamado Tértulo, desceram a Cesareia com o propósito de condenarem Paulo (Atos 24.1-9).
Paulo apresentou a sua defesa (Atos 24.10-21) e deu testemunho diante de Félix (Atos 24.22-25).
Mas este, na esperança de receber dinheiro e para agradar aos judeus, manteve Paulo
encarcerado quando foi sucedido por Pórcio Festo (Atos 24.26-27).

Os judeus renovaram a carga de acusação perante Festo. Solicitaram como pretexto, fosse
Paulo enviado a Jerusalém porque já tinham plano para matá-lo na estrada. Diante do perigo
iminente de morte, Paulo usou o seu direito de cidadão romano e apelou para o tribunal de César
(Atos 25.1-11). A resposta de Festo: “Para César apelaste, para César irás” (Atos 25.12). A
missão de Paulo não estava ainda cumprida. Mesmo preso, Paulo teria muitas portas abertas por
Deus para o testemunho.

Paulo foi introduzido na presença de Festo, do rei Agripa, dos oficiais superiores e de
homens eminentes da cidade para que fosse interrogado. O objetivo era colher subsídios para
escrever ao imperador as acusações que militavam contra ele (Atos 25.23-27). A defesa de Paulo
nesta reunião, perante o rei Agripa, foi mais um testemunho eloquente da influência divina em sua
vida e do senso de responsabilidade que ele tinha de não desobedecer à visão celestial (Atos
26.1-29). O parecer de Agripa foi de que Paulo poderia ser solto, se não tivesse apelado para
César (Atos 26.30-32). Na perspectiva divina, no entanto, o plano missionário continuava em
ação.
28
3. Em viagem

Apesar de preso, Paulo exerceu decisiva influência e liderança segura em momentos


críticos na viagem de Cesareia a Roma, feita em três etapas distintas e em três navios diferentes.
A data provável é 61 ou 62 d.C. O itinerário pode ser visto no mapa do quadro 14.

3.1. Primeira fase: de Cesareia a Mirra, na Lícia (Atos 27.1-5)

Paulo e seus companheiros embarcaram num navio adramitino. Nesta etapa, ele foi
acompanhado pelo amigo Aristarco, um macedônio da Tessalônica. Foi tratado com bondade
pelo centurião Júlio que lhe permitiu ver os amigos em Sidon.

3.2. Segunda fase: de Mirra a Malta (Atos 27.6-44)

Nesta fase, fizeram um grande percurso num navio de Alexandria. Destacam-se as


tempestades e a atuação de Paulo:

a) Paulo previu as dificuldades pelas quais passariam e aconselhou, sem êxito, que não
partissem de Creta, onde tinham feito uma escala;
b) Com a grande tempestade que sobreveio, não aparecendo nem sol nem estrelas durante
dias, dissipou-se toda esperança de salvamento, mas Paulo transmitiu a mensagem de
esperança: “esta mesma noite, um anjo de Deus, de quem eu sou e a quem sirvo, esteve
comigo dizendo: Paulo, não temas! É preciso que compareças perante César, e eis que
Deus, por sua graça, te deu todos quantos navegam contigo” (Atos 27.23-24);
c) Evitou a fuga dos marinheiros;
d) Firme nas promessas do Senhor, numa situação humanamente desesperadora, deu
graças na presença de todos, passou a alimentar-se e incentivou todos a fazerem o
mesmo;
e) O seu testemunho firme levou o centurião a impedir que os soldados matassem os presos
para evitar fuga. Por fim, como Paulo previu por orientação divina, perdeu-se o navio, mas
todos foram salvos do naufrágio e acolhidos na ilha de Malta.

Quadro 14

29
3.3. Terceira fase: de Malta a Putéoli (Atos 28.11-14)

Durante a permanência em Malta, Deus agiu poderosamente por meio de Paulo: a) no


livramento do apóstolo quando foi picado por uma víbora; b) na cura do pai de Públio, principal da
ilha, e dos demais enfermos, despertados pelo poder de Deus. Isto fez com que fossem muito
bem tratados e que recebessem o necessário para a viagem quando partiram de Malta, três
meses depois, em outro navio alexandrino com destino a Putéoli.

Desta cidade portuária, depois de sete dias com alguns irmãos, seguiram por terra e sem
acidentes até Roma.

4. Em Roma

Ao encontrar-se com irmãos que tinham vindo da parte sul da cidade, Paulo sentiu-se mais
animado. Foi permitido a Paulo morar por conta própria, tendo em sua companhia o soldado que
o guardava. Em sua residência recebeu os judeus aos quais fez “uma exposição em testemunho
do reino de Deus, procurando persuadi-los a respeito de Jesus, tanto pela lei de Moisés como
pelos profetas” (Atos 28.23). O resultado, como sempre, foi parcial, mas ele teve a oportunidade
de pregar aos patrícios.

O livro de Atos termina de forma abrupta e ficamos sem saber o destino do apóstolo.
Durante dois anos ele ficou em sua residência, pregando o evangelho sem impedimento algum
(Atos 28.30-31). O que aconteceu depois de dois anos? Foi solto? Continuou o ministério?
Morreu? É o que procuraremos entender ao considerarmos os contextos das cartas da prisão e
das cartas pastorais.

5. As cartas da prisão: Colossenses, Efésios, Filipenses e Filemon

A simples leitura das cartas aos Colossenses, Efésios, Filipenses e Filemon deixa claro
que Paulo estava na prisão quando as escreveu (ver Filipenses 1.12-14; Efésios 3.1, 6.20-21;
Colossenses 4.7-12; Filemon 1.9-10 e 23). Revela, mais, que nestas circunstâncias o apóstolo
podia testemunhar a sua fé e estava cercado de amigos. Tudo isto está em harmonia com o
relato da prisão de Paulo em Roma, registrado em Atos 28.

Em Roma Paulo morava numa casa alugada e podia receber amigos, mas estava sob a
vigilância constante da guarda pretoriana. Os soldados se revezavam. Como Paulo não podia
silenciar o testemunho de sua fé, ele disse que as minhas cadeias em Cristo, se tornaram
conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais (Filipenses 1.13). Com isto, o seu
testemunho chegou ao palácio, como deduzimos do que ele disse: “Todos os santos vos saúdam,
especialmente os da casa de César” (Filipenses 4.22).

Ao mesmo tempo, ele continuava em contato com as igrejas por ele fundadas por
intermédio dos seus companheiros e amigos. Aristarco, companheiro da acidentada viagem (Atos
27.2) continuava com ele, juntamente com Marcos, Jesus, Epafras, Lucas e Demas (Colossenses
4.10-14). Epafras transmitia informações da igreja de Colossos a Paulo (Colossenses 1.7-8).
Tíquico e Onésimo, este convertido na prisão, foram os portadores da carta aos colossenses
(Colossenses 4.7-8). Ao mesmo tempo devem ter levado a carta aos efésios porque Éfeso ficava30
a caminho de Colossos. Epafrodito foi enviado pela igreja de Filipos para levar recursos ao
apóstolo (Filipenses 4.18), para assisti-lo na prisão e foi o portador da carta aos filipenses
(Filipenses 2.25-30). Aliás, Paulo se considerava prisioneiro de Cristo, não de César (Efésios 4.1);
embaixador do evangelho em cadeias (Efésios 6.20).

5.1. Filemon

A carta a Filemon foi um amável bilhete enviado por Paulo ao seu amigo, em favor de
Onésimo, ex-escravo de Filemon, convertido por intermédio de Paulo na prisão (Filemon 8-17).

5.2. Efésios

A carta aos Efésios é a mais teológica de todas. Talvez tenha sido uma carta-circular para
as igrejas da província da Ásia fundadas durante o trabalho de Paulo em Éfeso, como vimos
quando estudamos a terceira viagem missionária (Ver Atos 19.8-10). O tema principal é a Igreja:
predestinada pela graça (Cap.1); chamada pela fé (Cap.2); edificada sobre fundamentos (Cap.2);
dispensadora de mistérios (Cap. 3); renovada em Cristo (Cap.4); comparada à esposa (Cap.5);
defendida pela armadura (Cap.6). Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela (Efésios
5.25).

5.3. Colosseses

O tema da carta aos Colossenses é Cristo: apresentação de Cristo (Cap.1); supremacia de


Cristo (Cap. 2); renovação por Cristo (Cap.3); vida com Cristo (Cap. 4). “Cuidado que ninguém
vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme
os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a
plenitude da Divindade” (Colossenses 2.8-9). Os temas de efésios e colossenses estão
intimamente relacionados: não é possível falar-se de Cristo sem estar tratando da razão de ser da
igreja; não é possível tratar-se da igreja sem falar da sua mensagem que é Cristo.

5.4. Filipenses

O tema de Filipenses é alegria ou felicidade: “as coisas que me aconteceram têm, antes,
contribuído para o progresso do evangelho” (Filipenses 1.12). “Porque vos foi concedida a graça
de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele” (Filipenses 1.29). O objetivo da carta
era levar os cristãos de Filipos à unidade em Cristo para que a alegria do apóstolo fosse completa
(Filipenses 2.1-4; 4.2-3). Depois de alertar, com lágrimas, sobre os falsos mestres, inimigos da
cruz de Cristo (Filipenses 3.17-21), o prisioneiro de Cristo exorta: “Alegrai-vos sempre no Senhor;
outra vez digo: alegrai-vos” (Filipenses 4.4). A felicidade cristã está acima das circunstâncias.

6. As cartas pastorais: 1 Timóteo, Tito e 2 Timóteo

O contexto das cartas pastorais é bem diferente. Precisamos estudar a hipótese de duas
prisões e do espaço que mediou entre elas. Não temos, para isto, informações precisas nem no
registro histórico do livro de Atos nem nas epístolas paulinas. 1 Mas a leitura atenta das cartas da
prisão e das cartas pastorais nos permitem algumas constatações:

31
1Paulo, depois de Atos – Estudo das epístolas da prisão, das epístolas pastorais e de outras fontes -
www.estudosdabiblia.net/idecontar10.pdf
 Na primeira prisão havia esperança de libertação (Filipenses 1.21-26); na segunda, ele
aguardava a morte (2 Timóteo 4.6);
 Na primeira prisão estava cercado de amigos (Colossenses 4.9-14); na segunda, só
Lucas estava com ele (2 Timóteo 4.9-11);
 As cartas escritas na primeira prisão, como já vimos, são teológicas; as da segunda, são
de teor pastoral;
 As cartas pastorais refletem estágios mais avançados das igrejas em termos de
organização com oficiais estabelecidos (presbíteros, diáconos).

A hipótese da segunda prisão é, portanto, provável. Mas o que teria feito o apóstolo no
intervalo? A melhor resposta é que ele teria visitado Creta (Tito 1.5) e, depois de alcançar a Ásia
Menor, cuja cidade principal era Éfeso, voltou pela Macedônia (1 Timóteo 1.3) e invernou-se em
Nicópolis, no Ilírico (Tito 3.12). A estes fatos bíblicos, acrescentamos o testemunho do historiador
da igreja primitiva, Eusébio, que diz sobre Paulo: “Depois de defender sua causa, é dito que ele
foi enviado novamente no ministério da pregação e que encerrou sua vida com martírio, depois de
uma segunda visita à cidade [Roma]”2. Com base nestas informações podemos, com
probabilidade de acerto, concluir que 1 Timóteo foi escrita em Macedônia (1 Timóteo 1.3); Tito foi
escrita em Nicópolis (Tito 3.12) e 2 Timóteo foi escrita na segunda prisão ( 2 Timóteo 2.8-10; 4.6-
8). As cartas pastorais foram escritas por Paulo na fase final da sua vida, entre 63 e 64 d.C.

Dois assuntos são centrais nestas cartas: a obra da igreja e o caráter do ministério.
Timóteo e Tito exerceram função apostólica em Éfeso (1 Timóteo 1.3) e em Creta (Tito 1.5) com a
missão de admoestar os falsos mestres (1 Timóteo 1.3-7; Tito 1.10-16) e de pôr em ordem as
coisas restantes, estabelecendo um governo eclesiástico com a escolha criteriosa de oficiais,
presbíteros e diáconos (Tito 1.5-9; 1 Timóteo 3.1-16). Em oposição ao ensino dos falsos mestres
(1 Timóteo 4.1-5; 2 Timóteo 3.1-9), Timóteo e Tito deveriam ensinar corretamente a Palavra para
produzir também atitudes acertadas (1 Timóteo 4.6-16; 2 Timóteo 2.14-21; Tito 2.1-10). Como
ministros de Cristo não deviam seguir os falsos mestres. Antes, deviam ser modelos para os fiéis
(1 Timóteo 4.12), ousados (2 Timóteo 1.6-8) e dedicados à missão (2 Timóteo 2.14-15). A
autoridade ministerial deve ser exercida com humildade: “Ora, é necessário que o servo do
Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente,
disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa que Deus lhes conceda não só o
arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez,
livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua
vontade” (2 Timóteo 2.24-26).

Na última carta escrita pelo ancião Paulo, da cadeia, ele nos deixa um testemunho
desafiante: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da
justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim,
mas também a todos quantos amam a sua vinda” (2 Timóteo 4.7-8).

32

2 Ibid.
Conclusão

Para usar uma expressão de John Mackay, Paulo não é o teólogo da sacada, que
contempla os transeuntes e faz reflexões teológicas abstratas, mas sim o teólogo que caminha
com as pessoas abrindo-lhes os tesouros da revelação e levando todos à reflexão capaz de
ordenar as ações para que sejam coerentes com os princípios e valores do reino de Deus. As
cartas foram escritas enquanto fazia discípulos em suas viagens missionárias e quando estava na
prisão por causa do testemunho do evangelho. Paulo foi até ao fim um apaixonado pelo reino de
Deus e pela obra missionária.

Muito embora Paulo seja o grande protagonista da história da igreja em sua expansão, os outros
apóstolos e outros servos deram contribuição decisiva para que o discipulado por eles iniciado
chegasse até nós. É o que veremos no próximo encontro.

33
Encontro 7

AS EPÍSTOLAS GERAIS

Como vimos em lições anteriores, a liderança de Pedro predominou na expansão da igreja


em Jerusalém, Judeia e Samaria; a de Paulo predominou na expansão da igreja a partir de
Antioquia, alcançando Roma em direção ao ocidente. A produção literária de Paulo aconteceu
enquanto ele se empenhava no árduo trabalho missionário: as suas cartas foram escritas durante
as suas viagens ou enquanto estava na prisão.

Quanto aos outros apóstolos, não temos registro do trabalho individual de cada um deles,
além do nome de João associado a Pedro em alguns acontecimentos (Atos 3- 4; 8.14-25), e da
referência ao martírio de Tiago, irmão de João, em Atos 12.1-2. Em fontes extra-bíblicas há
referências ao trabalho missionário de Filipe em Alexandria, de Tiago na Espanha e de Tomé na
Índia. As informações, no entanto, estão envoltas em tradições e lendas e não se pode afirmar a
sua veracidade.

Alguns apóstolos como Pedro e João e pessoas a eles associadas, como o autor da
epístola aos Hebreus, bem como Tiago e Judas, estes provavelmente irmãos do Senhor,
escreveram epístolas universais, a maioria delas sem destino determinado, para firmar os cristãos
na fé e para prepará-los para as perseguições tão comuns nos primeiros tempos da igreja cristã.
O objetivo desta lição é estudar estas cartas: Hebreus, Tiago, 1 e 2 de Pedro, 1,2 3 de João e
Judas.

1. A carta aos Hebreus

O autor desta carta não se identifica. Por isso ela está colocada entre as cartas paulinas e
as cartas propriamente gerais, cujos autores são Tiago, Pedro e João. Estudiosos do assunto
sugerem como autores, dentre outros, Paulo, Barnabé e Apolo. Mas, como dizia Orígenes da
Alexandria (século III d.C.), só Deus sabe quem escreveu a epístola aos hebreus.

É provável que a carta tenha sido escrita de Roma em virtude da frase “os da Itália vos
saúdam” (Hebreus 13.24). A passagem de Hebreus 13.18-19 dá a entender que o autor estava
preso. A data sugerida é entre 63 e 70 d.C. Tiago, o irmão do Senhor e principal líder da igreja em
Jerusalém foi morto em 62 d.C. Por isto alguns sugerem que a carta foi escrita aos dirigentes da
Igreja Judaica, agora sem o pastor, a fim de ajudá-los a fortalecer o rebanho diante das
provações pelas quais passavam. Outros entendem que a carta foi escrita para uma comunidade
de sacerdotes que foram exilados por terem professado a fé em Cristo (Atos 6.7). O que podemos
afirmar, com base na leitura da carta, é que os seus destinatários eram versados no Antigo
Testamento, compreendiam o ritual do templo judaico, tinham se convertido ao cristianismo, mas
em virtude das provações estavam inclinados a retornar ao judaísmo. O objetivo da carta é alertá-
los contra esta tentação à apostasia (Hebreus 10.19-39). “Nós, porém, não somos dos que
retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma” (Hebreus
10.39).

34
Para estimular os seus leitores à perseverança, o autor mostra que a nova aliança é a realidade
da qual a antiga era apenas sombra. “Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora,
aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer” (Hebreus 8.13). Nesta
linha de raciocínio ele argumenta com a superioridade de Cristo como Mediador da nova aliança:
superior aos anjos (Hebreus 1.1-14); superior a Moisés (Hebreus 3.1-6); superior ao sumo
sacerdote Arão, pois tem um sacerdócio eterno, não oferece sacrifícios de animais mas ofereceu
a si mesmo, de uma vez por todas, num sacrifício perfeito, tendo obtido eterna redenção
(Hebreus 5.1-6; 7.23-28; 8.6-7; 9.11-14). Esta epístola é de fundamental importância para
entendermos a relação entre o Antigo e o Novo Testamento.

O autor compara a vida cristã como uma corrida de revezamento. Os que já venceram pela
fé (Hebreus 11) nos passaram o bastão, nos contemplam como uma torcida no estádio (Hebreus
12.1-3) e torcem por nós porque o prêmio deles depende também da nossa vitória (Hebreus
11.39-40). Os cristãos judeus amavam o templo e o seu ritual, mas a experiência mais difícil
estava por vir. A destruição do templo e a dispersão dos judeus e dos cristãos de Jerusalém que
aconteceria no ano 70 d.C. Além do estímulo à perseverança, esta carta preparou os judeus
cristãos para esta terrível experiência que já tinha sido anunciada pelo Senhor (Mateus 24.1-2;
15-22). Mas é um ensino precioso para todos nós sobre a necessidade de perseverança e de
avanço na vida cristã.

2. A carta de Tiago

Ao contrário da carta aos hebreus, o autor desta epístola se identifica: “Tiago, servo de
Deus e do Senhor Jesus Cristo” (Tiago 1.1a). Mas fica uma dúvida porque três discípulos de
Jesus tinham este nome: o filho de Zebedeu, o filho de Alfeu (Mateus 10.2-3) e o irmão do Senhor
(Mateus 13.55). Este último é geralmente reconhecido como o autor da carta. Os irmãos de Jesus
só creram nele depois da ressurreição (João 7.5; Atos 1.12-14). Convertido, Tiago, irmão do
Senhor, tornou-se o principal líder da Igreja de Jerusalém. Era um judeu rigoroso, mas foi dele a
proposta de não impor aos gentios convertidos os encargos da Lei (Atos 15.13-29). Era
reconhecido como um homem piedoso e justo. O trabalho dele foi ganhar judeus e desembaraçar
o caminho deles para o cristianismo. Hegesipo (160 d.C.), um judeu cristão, narrou o martírio de
Tiago pelos judeus cerca de 62 d.C.

A carta foi endereçada “às doze tribos que se encontram na Dispersão” (1.1b). Os
destinatários eram cristãos de origem judaica (Tiago 2.1) dispersos no mundo greco-romano,
sobretudo nas regiões próximas à Palestina como Síria ou o Egito. O texto reflete um ambiente
judeu-cristão no qual as sinagogas eram ainda usadas como lugar de adoração (Tiago 2.2). No
entanto, o ensino das obras como evidência da fé (Tiago 2.18) aplica-se a todos os cristãos.

Quanto ao conteúdo, Tiago assemelha-se mais a uma homilia, a um sermão, do que a uma
carta. A forma como o autor usa a Bíblia demonstra que os destinatários estavam familiarizados
com o Antigo Testamento. Ele repensa de forma original os ensinos da sabedoria judaica em
função do cumprimento que elas encontraram nas palavras de Jesus. Dois temas orientam esse
ensino:

 A exaltação dos pobres e as severas advertências aos ricos (Tiago 1.9-11; 1.27-2.9; 4.13-
5.6). Esta atenção aos humildes, favoritos de Deus, remonta-se a uma antiga tradição 35
bíblica e de modo especial às bem-aventuranças do evangelho (Mateus 5.1-12; Lucas
6.20-26);
 O segundo tema insiste na execução das boas obras e na advertência contra uma fé estéril
(Tiago 1.22-27; 2.10-26). A contradição que poderia existir entre os ensinos de Tiago e de
Paulo sobre este assunto é apenas aparente, pois estão de acordo quanto ao âmago desta
questão. Paulo ensina que somos salvos pela graça mediante a fé (Efésios 2.8-9) para as
boas obras (Efésios 2.10) enquanto Tiago ensina que as boas obras são evidência da fé
(2.18).

Encontramos em Tiago preciosas exortações morais quanto à paciência nas tribulações


(Tiago 1.12; 5.7-11), a origem da tentação (Tiago 1.13-18), o domínio da língua (Tiago 1.26; 3.1-
12), a importância do bom relacionamento e da misericórdia (Tiago 2.8-12; 3.13-4.2; 4.11-12), e a
eficácia da oração (Tiago 1.5-8; 5.13-18). Em resumo, a leitura e a prática dos ensinos de Tiago
nos levam a uma vida de coerência entre o que professamos crer e a nossa vida diária.

3. As cartas de Pedro

O autor das duas cartas se identifica logo no início (1 Pedro 1.1a; 2 Pedro 1.1a). A primeira
carta ele deve ter escrito de Roma, cognominada Babilônia, onde se encontrava com Marcos, que
ele chama de seu filho (1 Pedro 5.13). Não temos informações seguras sobre o fim da vida de
Pedro, mas uma tradição afirma que ele se transferiu para Roma onde foi martirizado por Nero
entre 64 e 67 d.C. A carta, portanto, deve ser datada na primeira parte da década de 60 do
primeiro século. Pedro, o pescador galileu, contou com a ajuda de Silvano, ou Silas (1 Pedro
5.12), antigo companheiro de Paulo (Atos 15.22-23, 40-41), para escrever a carta.

Pedro, à semelhança de Tiago, escreveu aos cristãos dispersos (Tiago 1.1), mas menciona
cinco províncias que representam praticamente o conjunto da Ásia Menor (1 Pedro 1.1). Os
destinatários eram pessoas convertidas do paganismo (1 Pedro 1.14,18; 2.9-12; 4.3), embora não
se exclua a existência de judeus cristãos entre eles.

O objetivo da carta era fortalecer a fé dos destinatários diante das prepotências, injúrias e
calúnias que os convertidos sofriam, em virtude da sua pureza de vida, por parte daqueles cujos
desregramentos os discípulos de Cristo haviam abandonado (1 Pedro 2.12; 3.16; 4.4, 12-16).
“Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se
intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes,
glorifique a Deus com esse nome” (1 Pedro 4.15-16).

Apesar do caráter prático da epístola como já vimos, nela transparece um belo resumo da
teologia, em voga na era apostólica, de comovente ardor em sua simplicidade: corajosa
perseverança nas tribulações tendo Cristo como modelo (1 Pedro 2.21-25; 3.1-18; 4.1-2); alegria
nos sofrimentos por causa da fé em Cristo (1 Pedro 2.19-25; 3.14; 4.12-19; 5.8-10); obediência
aos poderes públicos (1 Pedro 2.13-17); mansidão e serviço para com todos (1 Pedro 3.8-12; 4.7-
11,19).

Pedro escreveu uma segunda carta aos mesmos leitores com dupla finalidade:

 Advertir contra os falsos mestres (2 Pedro 2);


 Responder a inquietações causadas pela demora da volta de Jesus (2 Pedro 3).

36
Antes de tratar destes dois assuntos, ele demonstra que a vocação cristã (2 Pedro 1.3-11)
consiste em sermos participantes da natureza divina (2 Pedro 1.4) e baseia o seu ensino sobre a
volta de Jesus na experiência que ele teve da transfiguração (2 Pedro 1.12-18) e no caráter
inspirado das profecias bíblicas (2 Pedro 1.19-21). “Nenhuma profecia da Escritura provém de
particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana;
entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pedro
1.20a-21).

O conteúdo da advertência contra os falsos mestres é muito semelhante ao da epístola de


Judas. A advertência é necessária porque os falsos mestres introduzem dissimuladamente
heresias destruidoras no meio do povo de Deus (2 Pedro 2.1); arrastam muitos após eles (2
Pedro 2.2); banqueteiam-se com os crentes (2 Pedro 2.13); fazem comércio da fé (2 Pedro 2.3);
negam a natureza da vocação cristã (2 Pedro 2.13-19); já estão pronunciados para o juízo divino
(2 Pedro 2.3).

Quanto às inquietações sobre a volta de Jesus (2 Pedro 3.3-4), causadas pelos falsos
mestres (2 Pedro 3.3,17), Pedro afirma que o retorno de Cristo é certo, não obstante a demora e
a incerteza quanto ao dia (2 Pedro 3.5-10). “Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis
esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia” (2 Pedro 3.8). O
tempo de espera é oportunidade da graça (2 Pedro 3.9) e a volta do Senhor é iminente (2 Pedro
3.10). A atitude correta é a de nos prepararmos em santidade (2 Pedro 3.11-12), crescendo na
graça e no conhecimento do Senhor Jesus (2 Pedro 3.18) e aguardando novos céus e nova terra,
nos quais habita a justiça (2 Pedro 3.13). Esta carta é atualíssima em virtude dos falsos mestres
hodiernos que estão focando o ensino na prosperidade material (2 Pedro 2.3), mercadejando a
Palavra (2 Coríntios 2.17) e enfraquecendo a esperança na volta de Jesus e no estabelecimento
do reino eterno (Ver Filipenses 3.17-21).

4. As cartas de João

Ao contrário das epístolas de Tiago e de Pedro, as três cartas que trazem o nome de João
são anônimas. O autor destas cartas não se identifica. A primeira carta não menciona
destinatários nem tem assinatura. A tradição tem atribuído estas cartas ao apóstolo João, autor
do evangelho que traz o seu nome. Essa tradição tem base consistente tendo em vista as
afinidades que existem entre estes quatro documentos. O objetivo central do Evangelho e das
cartas é semelhante: João escreveu o evangelho “para que creais que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20.31); a primeira epístola foi
escrita “a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho
de Deus” (1 João 5.13). O evangelho visa despertar a fé em Cristo; a epístola visa firmar a fé pela
certeza da salvação em Cristo.

João teria fixado residência em Éfeso depois da tomada de Jerusalém pelos romanos e da
destruição do templo. Alcançou avançada idade e era respeitado como o sobrevivente dos
apóstolos. Exerceu forte influência nas igrejas da Ásia Menor. Dentre seus discípulos contavam-
se Policarpo, Papias e Inácio que se tornaram, respectivamente, bispos de Esmirna, Hierápolis e
Antioquia. A primeira carta foi uma espécie de circular para as igrejas desta região.

37
O cristianismo já estava presente no mundo há mais ou menos sete décadas e já exercia forte
influência no império romano. Era natural a tentativa de conciliar a fé cristã com as filosofias e
sistema de ideias dominantes. Uma destas filosofias, o gnosticismo, ensinava, dentre outras
coisas, que o corpo e o espírito são duas entidades separadas que se hostilizam e que o pecado
reside apenas na carne. O que o corpo faz não afeta o espírito. Assim, seria possível uma
piedade mística, mental, elevada, ao mesmo tempo em que se vivia uma vida sensual voluptuosa.
Consequentemente, negava a encarnação: seria impossível o Deus bom assumir contato com a
carne má. Ensinavam que é pelo conhecimento (gnosis) que o homem pode libertar-se da sua
prisão material e erguer-se para Deus.

Apesar do tom pastoral e amoroso (1 João 2.7, 12 e 18), João combate com vigor esta e
outras heresias que estavam se infiltrando na igreja. Quem nega a encarnação é mentiroso (1
João 2.22); anticristo (1 João 2.18); saíram da igreja (1 João 2.19), mas querem enganar os
crentes (1 João 2.26). Os sinais do verdadeiro conhecimento de Deus são:

 Justiça de vida (1 João 2.3-6, 29; 3.6-10; 5.18-19);


 Amor fraternal (4.7-8, 18-21);
 Fé em Jesus como Deus encarnado (4.1-6; 5.1-5).

João apresenta dois grandes pensamentos acerca de Deus: Deus é luz (1 João 1.5) e
Deus é amor (1 João 4.8,16). Deus é a fonte de luz para o espírito e de calor para o coração
(amor) dos seus filhos. Por isso, seus filhos devem viver com elevados padrões morais (1 João
2.1-6, 15-17; 3.3, 6 e 9; 5.1-3), guiando-se pela unção que vem do alto (1 João 2.20,27-28) sem
se deixar seduzir pelos falsos mestres (1 João 2.26). Quem vive pela fé em obediência a Deus é
vitorioso (1 João 5.4-5).

O autor da segunda e terceira cartas identifica-se como o presbítero (2 João 1; 3 João 1).
Este título pode ser aplicado a João, o apóstolo, pois Pedro refere-se a si mesmo como presbítero
(1 Pedro 5.1). Além de apóstolo, o presbítero pode ser bispo e pastor (Atos 20.17, 28). A
segunda carta é endereçada a uma igreja particular, mencionada como senhora eleita (2 João
1). O autor aprecia a firmeza na verdade dentre alguns dos seus filhos (2 João 4), exorta à
perseverança no amor fraternal (2 João 5-6) e adverte contra falsos mestres que negavam a
realidade da encarnação (2 João 7-9). Deviam ser firmes em relação a estes mestres para que
não se tornassem cúmplices das suas obras más (3 João 10-11).

A terceira carta tem por objetivo por fim a um conflito de autoridade que surgiu numa das
igrejas que estavam sob a autoridade apostólica de João. Nesta carta ele demonstra alegria pelos
membros da igreja que andavam na verdade (3-4); aprecia o apoio do destinatário Gaio (1) aos
missionários itinerantes (5-8); faz menção ao bom testemunho de Demétrio (12). Ele usa
autoridade apostólica para recriminar o ambicioso Diótrefes e exorta Gaio a não imitar o mau
exemplo de quem se arvora como líder, mas não conhece Deus (9-11).

5. A carta de Judas

O autor se identifica como “Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago” (Judas 1a).
Temos duas pessoas com o nome de Judas no Novo Testamento: um dos doze apóstolos (Lucas
6.16) e um irmão de Jesus (Mateus 13.55). Pelo fato de o autor se distinguir dos apóstolos (Judas
17-18) e se declarar irmão de Tiago (Mateus 13.55), podemos concluir que ele era o irmão de
Jesus. A carta tem muita afinidade com a segunda de Pedro, principalmente o capítulo 2. 38
A intenção de Judas é alertar contra os falsos mestres, que se introduzem dissimuladamente na
igreja, e que colocam em perigo a fé cristã (Judas 4). Estes falsos mestres são descritos como
escarnecedores, dissolutos, sediciosos e desprovidos do Espírito (Judas 17-20). Ele cita diversos
exemplos do Antigo Testamento para mostrar como estes falsos irmãos e falsos mestres, ímpios,
serão julgados por Deus (Judas 5-16).

É provável que esta carta tenha sido escrita por volta de 67d.C. e tenha sido enviada às
mesmas igrejas para as quais Pedro enviou as suas epístolas. Ela não só adverte contra os
falsos mestres, mas convoca os crentes a batalharem “pela fé que de uma vez por todas foi
entregue aos santos” (Judas 3); exorta-os a se edificarem na fé (Judas 20) e a serem
misericordiosos (Judas 21-23). Por fim, a doxologia (Judas 24-25) é uma das mais ricas
expressões litúrgicas da igreja primitiva.

Conclusão

As cartas gerais, assim chamadas por causa do seu endereço, merecem também a
designação por causa do seu conteúdo. Desde que foram escritas têm sido um rico instrumento
para a edificação da igreja em todos os tempos e em todos os lugares. Devem ser lidas com
meditação e oração.

39
Encontro 8

APOCALIPSE ONTEM E HOJE

A palavra “apocalipse” significa “revelação” ou “desvelamento”. O primeiro livro da Bíblia é


“Gênesis”, que descreve a origem de todas as coisas; o último livro é “Apocalipse”, que revela a
consumação de todas as coisas. Entre a criação e a consumação, na perspectiva bíblica,
desenvolve-se a história sob a soberania de Deus. Esta história é conhecida como “história
sagrada”.

A literatura apocalíptica foi sempre usada quando o povo de Deus estava sendo
perseguido; por este motivo usa códigos, símbolos e imagens. Além do último livro da Bíblia,
encontramos este gênero de literatura em Ezequiel, Daniel e Zacarias. Estes profetas atuaram
durante o exílio (Ezequiel e Daniel) e na reconstrução de Jerusalém (Zacarias) numa fase crítica
da história de Israel. Muitos símbolos e imagens destes livros são usados no Apocalipse do Novo
Testamento.

O autor do Apocalipse se apresenta como João (Apocalipse 1.1,9; 22.8-9). Pela leitura do
livro percebemos que ele era vidente e profeta (Apocalipse 22.9). A tradição o identifica com o
apóstolo João, autor do Evangelho e das epístolas que trazem o seu nome. Ainda de acordo com
a tradição, João, o apóstolo, migrou para Éfeso onde fixou residência e exerceu forte influência
nas igrejas da Ásia Menor, depois da destruição de Jerusalém pelos romanos no ano 70 d.C.
Entre os anos 80 e 90 o imperador Domiciano desencadeou feroz perseguição contra a igreja e,
por isso, João foi exilado na Ilha de Patmos (Apocalipse 1.9-10) onde teve as visões registradas
no livro de sua autoria.

Os símbolos usados em Apocalipse são de difícil interpretação. Por isso, devemos estar
atentos à advertência de Jesus: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai
reservou para a sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e sereis minhas testemunhas” (Atos 1.7-8a). No entanto, a mensagem central do livro é
clara: Deus é soberano e trará a história a um clímax triunfante em Cristo. Esta mensagem foi de
conforto para os cristãos daquele tempo porque sofriam sob a perseguição movida pelo império
romano contra a igreja. Mas é importante também para os discípulos de Jesus em todas as
épocas. De fato, a igreja não é fiel porque é perseguida, mas é perseguida porque é fiel (2
Timóteo 3.12). Por isso, Apocalipse tem lições práticas de conforto e de advertência para nós
hoje. É o que veremos neste encontro.

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1. As sete igrejas da Ásia

Quadro 15
Exilado na ilha de Patmos (ver mapa), João
viu o Cristo glorificado (Apocalipse 1.12-18)
e recebeu dele a ordem para enviar o
registro das suas visões às sete igrejas
(Apocalipse 1.9-11) que se localizavam na
Ásia (ver mapa). Há um importante mistério
revelado: os sete candeeiros são as sete
igrejas e as sete estrelas são os anjos
(pastores) destas igrejas (Apocalipse 1.20).
O Cristo glorificado estava no meio dos
candeeiros (Apocalipse 1.12-13) e tinha as
sete estrelas (anjos, pastores) na sua mão
direita (Apocalipse 1.16). O Cristo presente
é o DNA da igreja e ele age por meio dos
seus servos. A palavra sete significa
plenitude, totalidade. A mensagem do
Apocalipse é para a igreja de ontem, de
hoje, de amanhã, e de todo lugar.

Jesus ocupa o ponto central neste livro; por isso é chamado revelação de Jesus Cristo
(Apocalipse 1.1). Nas cartas a cada uma das sete igrejas, Jesus, por meio de João, se apresenta
com uma das características narradas em Apocalipse 1.12-16. As igrejas são elogiadas,
repreendidas, exortadas e recebem também promessas. Vamos destacar três ameaças
mencionadas nestas cartas e que são constantes em toda a história da igreja: esfriamento, ação
de falsos mestres e perseguição.

1.1. Esfriamento

As igrejas de Éfeso, Sardes e Laodiceia haviam se tornado frias ou mornas e foram


repreendidas e exortadas ao arrependimento (Apocalipse 2.4; 3.1-2; 3.14-17). O esfriamento é o
resultado da acomodação para evitar conflitos com o mundo e perseguição: “Tenho, porém,
contra ti que abandonaste o teu primeiro amor” (Apocalipse 2.4). Jesus pode ficar de fora ao invés
de estar no meio (Apocalipse 1.13): “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e
abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Apocalipse 3.20). Igrejas que
se consideram ricas, importantes (Apocalipse 3.1, 17), mas de portas fechadas para Jesus! São
chamadas ao arrependimento (Apocalipse 2.5; 3.3, 19). Há promessas para os vencedores
(Apocalipse 2.7; 3.5, 21).

1.2. Falsos mestres

Nas igrejas de Pérgamo e Tiatira falsos mestres se infiltraram com ensinos que
deturpavam o evangelho e causaram sérios prejuízos aos irmãos. A doutrina de Balaão e dos
nicolaítas ensinadas na igreja de Pérgamo eram semelhantes: culto aos ídolos e prostituição
cultual. Balaão foi um falso profeta ambicioso mencionado no Antigo Testamento.
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Impedido de maldiçoar Israel (Números 22 a 24), aconselhou as sacerdotisas moabitas a
seduzirem os israelitas à idolatria e à prostituição sagrada (Números 25.1-3; 31.15-16); isto atraiu
o castigo divino sobre o povo de Deus (Números 25.3, 9). A igreja de Tiatira, por sua vez, foi
repreendida por ter tolerado a atuação da falsa profetisa Jezabel com ensino e práticas
semelhantes (Apocalipse 2.20). Estejamos alertas! A idolatria e a frouxidão moral são
introduzidas de formas sutis. Contudo, há promessas para os vencedores (Apocalipse 2.17, 26-
28).

1.3. Perseguição

Ao contrário do esfriamento e da atuação dos falsos mestres, que são ameaças internas, a
perseguição é ameaça externa. As igrejas de Esmirna e Filadelfia só receberam elogios
(Apocalipse 2.9; 3.8) por sua fidelidade; foram encorajadas a permanecerem firmes Apocalipse
(2.10; 3.9-10). Quando o diabo não consegue minar a igreja por meio do esfriamento
(acomodação) e dos falsos mestres, ele age através de inimigos externos para destruir a igreja.
Os cristãos de Esmirna e de Filadelfia foram perseguidos pelos judeus, sinagoga de Satanás
(Apocalipse 2.9; 3.8-9), e pelo império romano que lançou alguns de Esmirna na prisão
(Apocalipse 2.10). A igreja de Pérgamo, além da atuação de falsos mestres, foi também
perseguida. Antipas sofreu o martírio por se recusar a participar do culto ao imperador, referido
com a expressão “trono de Satanás”. São ricas as promessas feitas aos vencedores das igrejas
perseguidas (Apocalipse 2.11; 2.17; 3.12).

Com certeza havia mais de sete igrejas na Ásia. João, autor do Apocalipse, exercia
influência sobre todas elas. O número sete, no entanto, é significativo porque representa a
totalidade da igreja. As ameaças do esfriamento, dos falsos mestres e da perseguição estão
sempre presentes. Por isso os elogios, as exortações, o encorajamento e as promessas são
válidos para o presente, o passado e o futuro da igreja. A verdadeira igreja é edificada por Cristo
e as portas do inferno não prevalecem contra ela. Esta é a mensagem central do livro de
Apocalipse, que veremos a seguir.

2. A visão do trono

As cartas foram enviadas às sete igrejas localizadas na Ásia e datadas entre os anos 80 e
90 d.C. Tratam de coisas que acontecem no tempo e no espaço. Cristo é na igreja, a Fiel
Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra (Apocalipse 1.5). A visão
do trono faz a transição entre o que está acontecendo e o que deve acontecer depois destas
coisas (Apocalipse 4.1). As coisas que acontecem na terra são vistas do céu. O vidente aceitou o
convite: “Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas.
Imediatamente, eu me achei em espírito, e eis armado no céu um trono, e, no trono, alguém
sentado” (Apocalipse 4.1b-2).

Esta visão deixa claro que o imperador que perseguia, exilava e maltratava os crentes não
era senhor absoluto. O grande Soberano é Deus que se assenta no trono (Apocalipse 4.2-3),
cercado de vinte e quatro anciãos e quatro seres viventes (Apocalipse 4.4,6-7). Entendemos que
os símbolos representam as partes da Bíblia: doze patriarcas, doze apóstolos e quatro
evangelhos que proclamam a soberania de Deus, o único que deve ser adorado (Apocalipse 4.8-
11). Os vinte e quatro anciãos representam também o povo de Deus da antiga e da nova aliança
constituído, em Cristo, como sacerdócio real (Apocalipse 1.5-6. Ver 1 Pedro 2.9). A visão do trono
(capítulo 4) encerra a primeira parte do Apocalipse e fundamenta o restante do livro.
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3. A história espiritual da humanidade vista do céu

Do capítulo cinco ao capítulo vinte e dois João registra as visões apocalípticas e a história
espiritual da humanidade, representadas no quadro 14 (J. A. Ferreira, Conheça a sua Bíblia, p.
296).

Quadro 16

O conteúdo do Apocalipse

As visões apocalípticas

Sete selos Sete Mulher Sete Taças Batalha final


Trombetas perseguida
Babilônia

(5-7) (8-11) (12-15a) (15b-16) (17-19)

Jerusalém

(20-22)

História Espiritual da Humanidade

Interferência Vozes de Drama de Juízo de Consumação


de Deus na Deus na Deus na Deus na da História
História História História História

3.1. O Deus que intervém (Apocalipse 5 a 7)

Os selos eram sinetes existentes nos anéis reais para marcar o lacre. O que estava
lacrado com o sinete real era inviolável, era segredo, era mistério. O livro selado significa que só
Deus tem controle absoluto na história (Apocalipse 5.1-3). Mas o Cordeiro conquistou o direito de
abrir os selos (Apocalipse 5.5-6) e de interferir na história humana em resposta às orações dos
crentes (Apocalipse 5.7-8). A visão do Cristo Redentor e Senhor provoca a adoração da igreja
(Apocalipse 5.8-10), dos anjos (Apocalipse 5.11-12) e de toda a criatura (Apocalipse 5.13-14). Os
selos abertos revelam forças misteriosas superiores às forças imperiais que tanto amedrontavam
os crentes (Apocalipse 6.1-17; 8.1-6). Os crentes, ainda que martirizados, estão firmes no Senhor
(Apocalipse 6.9-11), enquanto os reis da terra, os grandes, os poderosos, os comandantes, os
ricos e todos que rejeitam a graça não suportam as ações do julgamento do Cordeiro (Apocalipse
6.14-17). O sétimo selo anuncia as vozes de Deus na história em resposta às orações dos santos
(Apocalipse 8.1-6).

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3.2. O Deus que fala (Apocalipse 8 a11)

As trombetas significam proclamação. O som das trombetas desencadeia uma série de


reações que demonstram, por toda parte, que as forças demoníacas se insurgem contra o
evangelho (Apocalipse 8.1-12; 9.1-21), mas não prevalecerão, porque a mensagem final é que “o
reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos
séculos” (Apocalipse 11.15-19). A advertência é que devemos receber o evangelho simbolizado
pelo livrinho comido (Apocalipse 10.8-11), bem como pelas duas testemunhas (Apocalipse 11.3-
14), vistos por muitos como Moisés, representando a Lei, e Elias, representando os profetas
(Lucas 9.28-36; 2 Pedro 1.16-21).

3.3. O Deus que vence (Apocalipse 12 a15ª)

O dragão persegue a igreja (Apocalipse 12.1-17), servido por duas bestas (Apocalipse
13.1-18): uma declaradamente inimiga da fé (1ª besta) e a outra camuflada (2ª besta). É uma
cópia grotesca da Santíssima Trindade, mas atua de tal forma que provoca o drama da luta do
bem e do mal que envolve a igreja. No entanto, o cântico do Cordeiro (Apocalipse 14.1-4) e as
vozes celestiais (Apocalipse 14.6-20) significam que a igreja perseguida por forças malignas,
declaradas ou camufladas, será vitoriosa. Os leitores de João, perseguidos, podiam identificar o
dragão com o diabo, a primeira besta com o império romano e a segunda besta com o culto
prestado ao imperador. No entanto, não é prudente identificar as bestas com indivíduos ou
instituições determinados da história (o papa, Hitler, o facismo, o comunismo, o capitalismo etc.).
Todo e qualquer indivíduo ou instituição que agir contra a fé são as bestas do Apocalipse. Por
isso a sua mensagem é sempre atual.

3.4. O Deus que julga (Apocalipse 15b a16)

Para os reis antigos, beber a taça era sinal de alegria; entorná-la, sinal de ira. O derramar
das sete taças (Apocalipse 15.5-8; 16.21) significa a ira de Deus que cai (Apocalipse 16.1-21)
sobre a terra, o mar, os rios, o sol, o trono da besta etc. A ira de Deus contra as forças do mal é
completa. A proclamação do evangelho implica na proclamação do juízo divino sobre o mal. O
evangelho anuncia o amor com justiça e a justiça com amor. O juízo de Deus revelará o equilíbrio
perfeito entre amor e justiça.

3.5. O Deus que consuma a história (Apocalipse 17 a 22)

Os capítulos finais do Apocalipse tratam da batalha final e dividem-se em duas partes:


Babilônia e Jerusalém. Babilônia, que os leitores da época em que o livro foi escrito poderiam
identificar com Roma, representa a ordem das coisas más; Jerusalém, que aponta para a
Jerusalém celestial, representa a ordem das coisas boas. Os capítulos 17, 18 e 19 descrevem: a
queda da Babilônia (Apocalipse 17); a lamentação dos que se aproveitam dela (Apocalipse 18); o
louvor angelical pela vitória de Deus (Apocalipse 19. 1-10); a visão do senhorio de Cristo
(Apocalipse 19.11-21). Os capítulos 20, 21 e 22: descrevem o reinado de Cristo com os remidos
antes do juízo final (Apocalipse 20.1-6; 5.9-10, ver Efésios 2.6); informa como será o juízo final e
o destino dos réprobos (Apocalipse 20.11-15); apresentam a nova Jerusalém como a expressão
última da vontade de Deus (Apocalipse 21); o acesso dos remidos à vida eterna (Apocalipse 22.1-
6); o incentivo à santidade daqueles que aguardam com alegria a volta de Jesus (Apocalipse
22.7-21).
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Conclusão

Nesta visão panorâmica do Apocalipse vimos que o livro é uma série de imagens que
traduz a visão que o autor teve, do céu (Apocalipse 4.1), da história da humanidade que se
desenrola na terra sob a perspectiva da soberania de Deus. A mensagem é clara não só para os
cristãos do primeiro século, perseguidos por romanos (sistema mundano) e judeus (sistema
religioso), mas para todos os que vivem piedosamente em Cristo Jesus: A desordem humana,
gerada pelo diabo e seus servos, não suplanta a ordem divina (reino de Deus) que está sendo
construída pelo senhorio de Cristo com a efetiva participação dos seus discípulos.

Deus transformará a natureza do universo e dos seres humanos de tal forma que apenas
os que se harmonizam com a vontade de Deus se sentirão bem; os que se rebelam contra ele
não terão satisfação em nada, uma vez que os bens materiais não mais existirão e porque
rejeitaram a ordem espiritual. É assim que devemos entender as figuras de fogo e trevas
(inferno); de vidro transparente e ouro (céu).

Enquanto a consumação da história não chega, é tempo de crescimento em santidade


(Apocalipse 22.8-10,15) e de missão (Apocalipse 22.12). “Continue o santo a santificar-se; eu
retribuirei a cada um de acordo com o que fez” (Apocalipse 22.11b, 12b).

Ora, vem, Senhor Jesus!

Bibliografia Básica

FERREIRA, J.A., Conheça a sua Bíblia. Campinas, SP: Livraria Cristã Unida, 2ª edição

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