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Projeto

PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE

Apostolado Veritatis Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Bettencourt, osb
(in mamoriam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-LlNE
Diz São Pedro que devemos
estar preparados para dar a razão da
nossa esperança a lodo aquele que ncrla
pedir (1 Pedro 3,1 5),
Esta necessidade de darmos
conta da nossa esperança e da l'IOssa fé
hoje é mais premente do que outrora,
·'...
'
..
,.
' visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religIosas contrárias à fé católica, Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crença católica medIante um
aprofundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
Responderemos propôe aos seus leitores:
aborda questoes da atualidade
controvertklas, elucfdando-as do ponto de
vista crlstAo a lim de Que as dúvidas se
..' dissipam e a vivência católica se fortaleça
-~ - no Brasil e no mundo. Queira Deus
abençoar este trabalho assim oomo a
equipe de Veri1atis Splendor que se
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. E.fevlo Bertencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convênio com d. Estevão Bettencour1 e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
ccnteúdo da revista teológico - filos6fica RPergunte e
Responderemos~ , que conta com mais de 40 anos de pubUcaçAo.

A d. Estêvão Betlencourt agradecemos a confiaça


depositada em nOSSD trabalho, bem como pela generOSidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
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indice
....
NAO DEIXE DE DAR COADA AO SEU RElOG IO _ . . _.. .. . ..•.. . 413
IlIIportaJlt. n,",ldade:
AINcA MAÇONARIA E IGREJA ... ......... . ... . 415
Ou•• lI.o de lodos os t.mpos do Crhda nlcno :
IGREJA E POBRES . . .. . , . . . .. . .... .. .... .. .. . . . .27
Quem d .o?
ANTONIO FREDERICO OZANAM E OS VICENTINOS ... . . •... . . 444
1\05 NOSSOS ESTIMADOS LEITORES .52
A qutlllo .oel.':
CAAIDADE OU JUSTIÇA? .53
ESTANTE DE LIVROS
."
COM APROVAÇA,O ECLESIASnCA

• • •
NO PRÓXIMO NOMERO I

Acaso ou InteligêncIa Criadora? - Virgindad e de Maria:


como? Por quê? - Jesus teve irmAos? - Tradição e Pro·
grasso no Cristianismo.

-- x --
, PERGUNTE E RESPONDEREMOS .
Asslna.tura anual .... . ....... .. . . .. . .... . ...... .......... Cr$ 40,00
Número avulso de qualquer m"a ........ " ..... . _. _. . . . . Cr$ 5.00
Volumes encadernados de 1958 e 1959 (preço unltirlo) .. . Cr$ 35.00
fndlce Geral de 1957 a 1964 . . ... . ... . ........ . .. ... •. .. . . Cc$ 10.00

EDITORA LAUDES S. A.
REDAÇA.O DE FR AD>lINISTRAo.<O
C&lxa Postal 2. 886 Rua SIo .RaIael, si, Zoet
zc.oo 20000 Rio de Jane iro (08)
20.000 RIo do lanelro (08) Tel$.: 288·9981 e 28i·2T&8

N. GB, à Rua Rui Grandeza 108, • Ir. alo.ri& Rosa Porlo


tem um depósito de PR: e reeebo pedido! de assinatura da
revista. Tel.: 226·1822.
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Nl0 DEIXé .6~sB~1!~OOn:bA


AO SEU RELÓGlor'
. Na tradlcão judalca, o Rabino Israel Friedman, o RJzhJner,
contava a estória seguinte:

Morava ele em pequena aldeia, que, embora fosse modesta,


'tinha as Instituições de um munic:pio: foro, hospital, casa de
banhos pública, cemitério e diversas indústrias de interesse ime-
'd.iato: carpintaria, alfaiataria, fAbrica de calçados, etc. Só fal·
'tava um ramo de negócios, pois não havia ali relojoeiro. No
decorrer dos tempos, muitos dos rel6gios da aldeia jâ trabalha-
vam tão mal que seus donos resolveram pô-los de lado, pois se
tinham tornado inúteis. Não havia quem pudesse consertar a
maquiná.rla. que se ia deteriorando cada vez mais. Na aldeia,
porém, um ou outro morador, metido a sabichão, insistia com
seus amigos para Que nao abandonassem os relógios, mas llies
"fossem dando corda regularmente. Absurda recomendação esta,
à qual poucos _desmiolados, se prestavam a atender! Para que
dar corda a relógios que não regulavam? - 01'8 eis que wn dia
se espalhou no povoado a noticia de que ~hegara lá um relo-
joeiro, ,', ' Oferecia seus préstimos a todos os ínteressados i ele
'sabia ' consertar relógios!... Os habitantes da aldeia então
'acudiram pressurosamente, levand(;]he cada qual a sua maqui-
nárIa. Infelizmente, porém, só puderam ser consertados os
relógios daqueles que ctolamente, haviam continuado a lhes
dar cordaj os demais, parados por multo tempo, haviam-se
enferrujado Irrecuperavelmente!

Esta estória se assemelha il dos dois 58!»S de que fala:nos


no editorial de PR de setembro PII. - Lembra não somente o
valor da perseverança, m:lS recorea também que as sugestões
da sabedoria (8 ser abracadas com tenacidade) vêm, muitas
.vezes; rev~idas de capa de absurdo. Claro está que nem todas
as sugestões aparentemente tolas são, na realidade, sábias; mas
6 certo que exJ5tem aquelas que são tais.

, Se estas veluades têm valor no plano natural ou mera-


mente humano, elas o têm mals ainda no plano da fé e da vida
cristã, Deus nos fala, não raro, através de sinais à primeira
vista escandalosos ou tolos, Pede creiamos na importâ.ncia de
situaÇões ou de coisas que o nosso simples bOI!l senso tenderia
8 desprezar; pede acreditemos que, sustentando torte e viril·
mente wn ârduo programa de fê, chegaremos à indizivel sur--
presa da vlsio lace-a-face ou do feliz encontro fIna).

Mais precisamente: qual o cristão Que à noite, depois de


um di3 exaustivo, náo se dispóe multas vezes a recapitular li
sua jornada para fazer wn balanço? Verifica. então falhas e
omissões; sente a amargura. do abismo entre o que tencionara
fazer e o Que fez, entre o seu nobre ideal e a sua pobre reall.
dade. O grande Miguel AngelO desapontava-se desesperadamen-
te com as suas obras a,rt.stlcas esculpidas ou pintadas; sonhava
sempre com criações mais perfe.tas, mais fiéis ao seu gênio. Q
romancista GraclJ.lano RamQS desabafava-se por vezes. d.izend~ :
cJamais reallzamos plenamente as obras literãrlas que idealiza·
mos. Hê. uma eterna desproporçi.o entre o que escrevemos e o
que desejariamos escrever :.. O Apóstolo S. Paulo, por sua vez,
exclamava: cO bem que cu Quero, não o faço; mas o mal que
não quero, é o que praUco. (Rom 7,19) .
.J....... •• .
.....-. _ ~.--.,.,.
'. '" ...... /. _ lit ·· r, ..
Na verdade, estes depoimentos retratam bem a angústia
de todo homem que n:lo se queira entregar à medJoerldade, mas
tenha wn ideal. Pois bem; apesar de todos os balanços nega-
tivos, a fé cristã ensina cloucamentel> que é necessârlo náo
capitularmos na Incessante procura do bem. 1!:: preciso que o
criStãO continue a lutar em sua vida pessoal para ser mais
conforme ti. sua vocação de fill10 de Deus. Continue também a
estor~ar·se denodadamente em prol da cristianlzacãQ do &eu
ambiente, ainda que nem sempre veja os resultados da sua
perseverança tenaz.

O sofrimento de verificarmos a distância entre o que somos


e o que dever!amos ser, entre o que fazemos e o que deveriamos
obter, é dos mais cruciantes, porque toca valores definitivos;
mas também é dos mais salutares. Expandir essa. dor na. pre-
sen;a do Senhor sob a forma de anse:os; cheios de esperança é
autêntica atitude do cI'istAo. E, depois de ter asslm orado, PD'"
nha de novo mãos à obra e dê corda ao seu relógio, sacudindo
a ferrugem, a rotina, a inércla, pois na rza1:dade o Re:ojoeIto
está às portas. Quando Ele vier, dentro em pouco, manltestará.
a cada um todo o alcance do seu tenaz esforço.
«Ainda um pouco. muito poueo tempo. e virá Aquele que
vIvem pela.
há. de vir, e JlãQ t;n.rd.o.N. Entremeut.es o meu justo
fé» (Hebr 10,815; Hab 2,81),

E.B.

-414-
.PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XV - N' 179 - Novembr.., d. 197.(

rmportante novtdade:

ainda ma~onaria e Igreja


Em slnIU.; Estendendo o 8111110 de PR 171/1974, pp. 104-125, o
preNn.. artigo comunica Importtnte dlel.lo da Senta Se datada de
'''VUI74: li ",o cal lob excomunhlo o 1111 catcmco que .. (Me,...... em
L.oI. maç4nk:a q" "'0conspl.. contra. Igrela • •. Ainda Ik:a d, p6 o
cAn. 2.335 do Código d. Olr.llo Can6nlco. o qual previ • Ixcomunlllo
par. os catóncos 'lua se matriculem em Lol'" consplrado... s .. • li [graj..
por6m, reconl'ltca, na bate de estudol cuidadosamente rl.llzado., qu.
IKI'tem Lojas maçante.. [nOcuu • Rellgllo. pois voUadaa. excluslv.'
menl, par. Intares,es humanllé.rlOI ou da mútua IJuda da "UI truIIl'lbrol.
A eslu um católico pal1encer' tr,nqOhmenle enquanlo pudar com ai""
caridade dizer QUI nalu nada h' que contrarie a consciência católica . . .
Tal datennlnaçlo o riunda da Sanla Sf velo, aem dúvida, cll..lpar escr6-
pulol de consclêncl. e .ltuaçOes embaraçosas, 18m delrlmento pare a ,•
• • morar cat6l1cu.
IA. prudlnela da loreja em relaç:lo l .....ç:on.. rf. dev.., .0 f.to d,
qUI nlata hé pontoa amblouOl, ou alJa, .u'catlvals de m.l-entendldos :
tala .. riam, a quanto pa~ce, a apregoada autonomIa da ruJo, a fÓrmul.
'''Gr.nde Arquiteto do Universo", e o con)unlo de segredos e Juramenlos
d. Maçonaria. e de Cflr que mais e mais 88 Irlo aplaInando OI caminhos
cs. aproxlmeçlo da MaçoM,ra e da Igrel.. sem prelulzo para a Verd.dl
., o Amor.

• • •

Oomentário: Em PR 171/1974, pp. 104-125, foI publicado


O artigo cMaçonaria e Igreja Católica se reconciliarão?:. O
tema, candente como era. e ainda é, foi aí abordado em estrita
fldeJldade aos documentos da Igreja até então pubUcados. Eis.
porém, que aos 19/VU/ 1974 a Santa Sé emitiu nova e ponde-
rosa detenninação sobre o assunto, abrindo mais amplas pers-
pectivas sobre a questão. ~ o que motiva as páginas seguintes,
nas quais a recente posição da Igreja Católica será exposta e
eomentada.
~415 -
4 d'ERGUNTE E RESPONDEREMOS, '17911974

1. O teor da novidade
Comer;aremos por recordar as conclusões prãtlcas propos-
tas no artigo de PR 171/ 1974, pp. 104-125.

1.1. . .. Até Julho 1974

1. O Código de Direito Canônico, promulgado em 1917,


reza em seu cânon 2.335:
"Aqullas quo dlo seu noma li saltl ma~6nlel a I aoelldlde. umlll-
nUIO!es que conspiram contra a Igreja 8 .. leglUmas aulorldldes civil, ..•
Incorrem fiem mais . na excomunhi!.o tlmptesmenle reservada • Santa 54"•

O exame consciencloso deste clnon levava bons canonistas


.
a dizer que todo católico que se inscrevesse na Maconaria, cala
sob a pena. de excomunhão (desde Que soubesse da exIsth1clã.
desta censura). Por conseguinte, não serIa posslvel a um cató:-
lico tornar-se maçom e contInuar a receber os sacramentos da
Igreja. Por sua vez, o maçom que se quIsesse tornar católico
praticante, deveria deixar a Loja; Isto não havIa de ser feIto
de modo necessarIamente violento, mas bastaria que o interes-
sado deixasse de freqüentar as sessões da Loja respectiva ou
de observar os regulamentos e estatutos da mesma. Caso o
maçom receasse conseqUências daninhas do fato de suspender
logo a sua participação na vida da Loja, poderia adiar o seu
desligamento por um espaço de tempo conveniente (evitando,
porém, suscitar perplexidade ou mal-entendidos entre os fiéis
católicos) ; na primeira oportunidade afastar~se-ja decidida-
mente do convívio da LOja.

No tocante ao ingresso de um fiel católico na M8conaria,


a pena de excomunhão estava sujeita à ponderação seguinte :
Em virtude do decreto cChnstus Domlnus:l> n. 8b do Concilio
do Vaticano n e por ereito do Motu proprio cEplscoporum
·,Munerlbusl' (15/VI/ 1966) , os bispos diocesanos podem hoje
em dia dispensar das leis universais da Igreja (não expllcita~
,mente excetuadas) os fiéis que o peçam em casos partlcularéS,
desde que haja razã() pastoral para Jsso. Por conseguinte, usu-
fruindo dessa atribuição, o bispo de detenninada diocese po.
deria dispensar a quem lho pedisse por motivos relevantes, . . .
dispensar da proibição eclesiãstica de entrar na Maçonaria e,
conseqüentemente, da incursão na pena de excomunhão anexa
à fUla~áo à Maç:onarla. .
. AINDA IGREJA E MACO~ARlA 5

Na realIdade brasileira, acontecia (e acontece) freqüente-


mente que as pessoas interessadas não sabem que hâ pena. de
excomunhão para quem se inscreva na Maçonaria.; apenas
têm consciência de que a Igreja Cat6lica e a Maçonaria diver-
giram publicamente entre. sI e "8. Igreja condenou a Maçonaria,
proibindo aos fiéis o Ingresso na mesma. Em conseqüência,
multos católicos que aderiram 'à Maçonaria no BrflSil não in-
correram em excomur1hão (embora. tenham. in~orriáo em deso-
bedJência â. Igreja), pois a excomunhão (pena de foro externo)
não atinge a quem não saiba que tal pena estA anexa a tal
delito.
· 2. Sob tal legislação, vigente até julho 1974, as relações
entre a Igreja e a Maconaria eram de!icadas. Em numerosos
paises os bispos se viam preocupados com a indole aparente-
mente anacrOnica de tais dispositivos canônicos. Com efeito,
multos católicos se tomavam maCOns por motivos profissionais,
promocionais ou humanitários sem a Jntem;âo de contrariar ou
combater a fé católlca e a S. Igreja; afirmavam outrossim,
após certo periodo de adesão à Loja, nada encontrar nesta que
se opusesse aos principias da Religião ou do· Catolicismo; não
obstante, flca.vam privados dos sacramentos da S. Igreja e os
bispOs ' não oS· podiam convocar para 'c olaborar com as obras
diocesanas, em virtude do cãn. 2.335 : numerosos pastores de
almas viam-se assim cerceados em sua a ção pastoral, pois d~
'Ifai'n renunciar à cooperação direta e explicita de pesooas im-
portantes de suas respectivas dioceses ou paróquias (prefeitos
municIpais, juizes de direIto, médIcos, advogados ... ) pelo fato
de serem tais pessoas tllladas à Maçonaria.

1.2 . Em julho 1974 . . .


1. Diante da realidade de tais fa.tos, não poucos bispos
se dirigiram à Santa Sé, tnterrogando-a a respeito do sentido
exato do cAn. 2.335 em nossos dias : teria a amplidão que clas-
sicamente se lhe atribula? Ou poderia ser entendido de modo
a se evitarem situações dolorosas em certas dioceses, sem pre-
juIzo para a fé e a moral católicas ?
. . Tais perguntas de bispos dirigidas a Roma suscitaram fI,
nalmente. aos 1Jl/VIl/ 1974. uma carta dirigida pela S. Çongre-
pção para .a Doutrina da Fé ao Presidente da Conferência dos
Bispos d~ cada pais, carta.da Qual va1..extraido o. fifgulntc tre-
cho (Que constitui o teor quase Inteiro da missiva) :. _ . . _

-411-
G .tPERGUN"l'E E RESPONDEREMOS, 17911974.

"Dur.nl. Q longo .xune d. qYflllo•• Santa . . cont\ll\C:lu deve....


y,zes _ Conl.r'nc:I.. EplKOF.Ia, Intere..' " d. modo p.r1lcu'u pelo
assunto, I Um d. 10m" conllKlrunlo mais .curado tanto Ib natur.u
• d• •u.çlo da MlCOna:l. em nGUOI dia quanto do pensanento doi
B"pot.. • ,..,.Uo.
A 11"** dtverglncl. de rttIpoâH, pel. ""ai trMIpa:'Kem .. , ltua.
;61. dJl'I.nln d. cacI. ~, nlo permlUu t Santa 54 mudar I ti,...
laçA0 geral vlg,nte, • qual por ,..o conUnua em · 'lavor, at6 q.. ,..,... lei
can6ntc.l ..,. publlc.ad. ".181 compeblnt. Coml ..ao P...utfd. pd •
mislo do DI,.lIo ClI\6nleo.
No .nlenIo, no .Iam. do. CalOS p.u1fcuIL"M, , MCltWirto I.,ar em
corttlde~~io que • lei ~ ••lA tu,.nl • ,m."retaçIo ..tllla. Por co.
MfUlnI" pod.... .n.slnl!r • ."Qc." CQftl Rgunln;.. • oplnllo dlqMIn
auto:.. · .egundo OI qUI!. o clnon 2.335 . . refe,. unlcamonte aGI c.16-
llco. que dlo o nome t. aaaocl.,a.. qui de 'Il10 coMpilam c:ontnl I
Ig,.,..
Em qualquer "'u.plo, porlm, canUftu. Rime • prclbl9io H'
cl'rlo
JM, ao. A.llglout • •01 rntNtOl d. InslltulOl Secul..... clt darem o
nome I qual~q\I., lllOcl&96l' m'06nlclI" ("Natlclu". Bol.Um S.mlnal
d. CHia, n9 34 [230], 231V1II/74).

2. Este Importante documento pode ser assim explicitado:

a) O panorama da Maçonarla. para quem o observa hoje


em dia, é assaz complexo - o que corresponde a uma real di·
.versldade de correntes e atividades da Maçonaria no passado
e nos dias atuais. sabe-se que existe a Maçonaria regular. com
sua sede principal em Londres, que professa a crença no Grande
Arquiteto do Universo e na imorte.lidade da alma, como existe
o. Maçonaria irregular, que cedeu ao incUferentismo religioso,
80 atelsmo e ao antlclerlcallsmo. Enquanbo aquela (a M. re.-
gular) atuou e atua prlnclpalmente nos pa:ses anglo·saxOnlcos.
esta (a M. irregular) exerceu suas atividades mormente nos
paIses latinos da Europa e da. América.
Por conseguinte, entende--se Que a Santa Sé, ao receber
dos bispos consultados as lnformaçães pedidas com referência
à Maconarla, se tenha visto diante de dados extremamente va·
ria.dos. Tal resultado dificulta qualquer reformulação de ali·
tude da Igreja diante da Ma""narle., alnda que pareça necessã-
rio pensar em reConnulaçáo. Esta será efetuada. não há. dúvida,
pois O novo Código de Direito Canônico estA sendo elaborado e,
como se diz, modificarA os clnones penais da Igreja, inclusive
os que se relerem a. MaçonarJe. A santa Sé, porém, pareceu
prematuro proceder desde jâ l reforma ou à ab-rogaç!o do
cAn, 2.335,
AINDA IGREJA E MACONARIA •
b) Todavia, sem retoque: deste eãnon, uma solução, ao
menos momentânea, oferecia-se às autoridades ecleslãsticas e
foi por estas adotada_ Com efeito, alguns estudiosos, como os
Padres J. A. Ferrer Ben1melli S. 3., Michel Rlquet S. J ., M.
DJerlcloc 5.3'. e o advogado Alec Mellor, nos últlmos anos
vinham acentuando a dlterença entre Ma~onarla regular e Ma 4

çe,narla lrregular. Jâ que a primeira nAo trama contra a Igreja


e a ordem pública. conclulam tais autores o s~te : oS cató-
llcos que se inscrevam em uma Loja maçônica regular, não
Incorrem na excomunhão que o cAno 2.335 impõe a05 fiéis
que dêem seu nome à seita. maçônica e a sociedades semelhan-
tes que oonspiram contra a Igreja e as legitimas autoridades
civis. Cf. PR 171/ 1974, pp. 115s.
A expressão .Maçonaria ou socledade que trama contra a
Igreja :. seria, no caso, entendida em senfdo estrito, de tal modo
que, se detenninada sociedade maçô:'l1C8 ou não maçônica. nio
conspire contra a Igreja, jã não serla atingida pelo cAno 2.335.
Tal interpretação do cAno 2.335 é fllologtcamente plausivel. O
aposto eque trama contra a IgreJa:t pade ter valor rest.rltlvo;
visaria a atingir a Maçonaria supondo que esta seja uma socie-
dade conspiradora contrârla à Igreja; o clnon assim debcaria
Desa a Ma-;onaria que não conspire . . _ Os mencionados cano-
nistu, propondo tal sentença.. não faziam senão aplicar ao caso
um principio geral de hennenêutlca jurídica : eAs leis penais
hão de ser interpretadas sempre em sentido estrito~ - o que
quer dizer: não se estendam as penalidades além dos casos aos
quais elas evidentemente devem ser aplicadas.
Ora, já que a Interpreta-;ão dada ao càn. 2.335 pelos refe-
ridos autores gozava de fundamento e autoridade, a Santa Sé
houve por bem oficlalizã-la. Em (X)nseqüência, diante de cada
caso concreto de adesão l Maçonaria, doravante seri preciso
examinar, antes do maiS, o tipo de Loja maCônica de que se
trate; desde que se possa honestamente asseguro.r que a Loja
é inócua ou Isenta de intenções antlrreUgiosas, o 'Católico que
nela se inscreva não sofrerá. excomunhão. Em caso contrário,
porém, (ou seja, averiguada a indo!e anticristã da respectiva
Loja). aplicar-se-ã ao candidato o cAn. 2.335 no seu teor preciso.
Tal soluCão vem, sem dúvida, aliviar profundamente as
consciências de leigos católicos e de ma.cons, como também de
bispos e sacerdotes. Torna a legislação mais correspondente à
realidade em que vivemos. Com efeito; é certo que a Maçonaria
~l~saxõn1ca não conspira CQntra. a Religião (salJe.se mesmo

_419 -
8 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS.. 17~/197.f.

que nos pa1ses escancllnavos os bispos, com o consentimento da


Santa Sé, recebem como fiéis na Igreja católica ma;ons con-
vertidos, sem os obt"igar a deixar a Maçonaria). - Quanto à
Maçonaria dos paises latinos da Europa e da América, ver1fl~
ca·se Que hoje em dia parece, em muitos casos, ter perd.Jdo sua
orientação e.nticlerica1 ou antieclesiaJ, tornando-s~ mera socie-
dade de mútua ajuda e promoção social. Condenar "ta} tipo de
sociedade redunda em criar situaçôes problemãtleas e embara·
cosas sem necessidade; supõe 8 subsistência de .quadI'os histó·
ricos que hoje estão ultrapassados. Por conseguinte, a dlstln;âo
entre . Lojas que conspiram ~ e (Lojas que não oConspiram », se
outrora não tinha lugar ou oportunidade, hoje é sumamente
oportuna ou mesmo necessária para sa1vaguardar a justiça e
as suas exigências.

c) Quanto aos clérigos, ReUg:osos e membros de Institu-


tos Seculares, pennanece-Ihes vedada D. inscrição em Lojas ma·
cônicas de qualquer tipo. - Esta ressalva da Santa Sé tem
paralelos na legislação da Igreja; aos clérigos e Religiosos têm
sIdo proibidos atividades ou compromissos que aos leigos cat~
Ilcos ~o licitas, Entre as razões desta restrição, salienta-se a
seguinte: !:: necessário que os sacerdotes e Religiosos estejam
isentos de qualquer suspeita; não assumam posIções discutidas,
ou seja. posições que os fiéis (com a1gum fundamento rezoãvel;
ainda que solúvel) possam pôr em dúvida ou contestar. Ora a
Ma!;onarla é sociedade sobre a Qual não há unanimidade de
opiniões nem dentro nem rara da Igreja Católica; em conse:-
qüenclll, permitir em geral aos clérigos e Religiosos a pertenCê.
à Maconaria poderia, sem necessidade, 5uj eital' essas pessoas
a moJ-entendidos e prejudicar gravemente a missão qUe devem
exercer em melo à sociedade: missão de conciliação e de amor
universal.

à) Perguntarã alguém: E como saber se alguma Loja


ma~õnIca conspira ou não contra a Igreja ?

- Em resposta, só se pode apontar o método empírico:


procure o fiel católico interessndo saber que pessoa..s·oCompóem
a Loja a que se candidata; ninguém entra em alguma. socie-
dade ou associação sem primeiramente se esdarecer a propósito
do que ela ê ou pode vir a ser. Deve ser respeitado o direito
que toca. a todo cidadão, de não assumir às <:egD.S compromis-
<&Os. que poderiam ai.etaI: a sua . personalidade.

-420-
AINDA IGREJA E MAçoNARIA 9

Enquanto o fiel católico puder dizer sinceramente que na


Loja nada se encontra em oposição à sua qualidade de católlco,
ser-lhe-á licito entrar e pennanecer na mesma. Todavia, desde
que verifique o contrirlo, compete-lhe retirar-se lmedJatamente
da Loja; a coerência e a honestidade o exigem.

Os outros fiéis católicos e os sacerdotes poderão ajudar


o oondidato católico a formar um juizo a respeito da Loja.
observando o teor de vIda e as atividades dos membros com-
ponentes da mesma; numa ddade pequena esta tarefa é, como
se compreende, bem mais !teU do que em grandes centros
urbanos.
Deveo·se também levar em consideração que as Lojas ma-
çônicas, embora contem em seus registros de matriculas nume-
rosos membros, são dirigidas por apenas pequena porcentagem
destes. Com efeito; vários: dos m~bros de cada Loja. por mo-
tivos diversos (afazeres profissionais, condlções sociais, avan-
çada idade, distancias, horârJos.,. ), náo costwnam compare-
cer às respectivas reuniões i em conseqüência, para se averi-
guar o tipo de orientação seaulda por detenninada Loja,. é
impol1:ante considerar, antes do mais, as pessoas Que a fre-
qüentam e nela núlltam habitualmente i uma minoria pode dar
o cuuho decisivo a tal Loja. Para ilustrar esta afirmação, vai
aqw transcrito trecho do Relatório do Conselho Maçônico de
Kadosch n' 18, Marll1a (SP), abrangendo o penado de l' de
janeiro a 31 de dezembro de 1970:
"Foram r.alludas no perlodo 19 lOui)ea assim dlstrlbuldas : duas
seu8es magna.. um. de posse e oulr. comemoraUva do primeIro an'''''''
.s6.llo de If'IIlauraçlo do Conselho, com n prnenças, média de 38,5 % ;
da 29,6"'; sela .es.a..
onze leSs6". megn.. da Inlclaçlo, com 11 presença de 326 irmAol, m6di.
aeon6mlcllS (de InSlruçio) c::om 11 presença do
98 IImlos. m6dla de 16,3": num lolal, dezflnoWl . sess50s, com 501 pre-
unça e uma m6dla garel de 28,3 "' '' {"BoioU", do Supremo COM. filo
do Brasil pari! o Rl lo' Eleoe" Antigo e Ae.Uo", ano VIII, 1971, n9 50, p . 2n.

Está, allãs. averiguado que no interior do Brasil hâ mais


reunJões e proporcionalmente mais freqüência nas Lojas do
que nas capitais do pais. Dai se segue que e. Maconarla é mais
ativa no interior, Isto, porém, não quer dizer que a l\laçonaria
(como tal~ 1 seja. necessariamente uma força pujante e in-

I Nlo nos re'lrlmos 80S maçons IndIvidualmente ou como passou


dolada. da responsabilidade prO pIla, Cada qual pode exercer grande
In/luMela.

- 421-
10 cPERCUNTE E RESPONDEREMOS, 179/1974

fluente em nosso pais; os escritos e a propaganda maçõn.lcos


exaltam por vezes lutas e fenos do passado, encobrindo a rea-
lidade descolorida e enfraquecida da Maçonaria contemporâ-
nea; esta se ressente principalmente de dolorosas divisões
internas.
Passemos agora a

2. Reflexões finais
Compreende-se 8 prudência de que a Igreja cat6U::a está
usando na suo. abertu.ra para a Maçonaria. ExIstem, sim, nas
formulações doutrinárias e disciplinares desta alguns princípios
Que, embora não sejam diretamente a.nUcatóllco3, vêm a ser
amblguos ou suscetiveis de Interpretaçã o não cristã. Aponta-
remos, a seguir, três dos mesmos:

2 .1. Autonomia de pensamento

A MaçonarIa apregoa absoluta liberdade de pensamento,


em oposição a todo «fanatiSmo, dogmatismo ou Ll erendices,.

Esta proposiCão pode ser entendida em sentido perfeita-


mente cristão: ninguém hâ de ser coagido a abra~ Credo
ou sistema f"lIosóflco algum. A todo homem será sempre neres-
sãrio reconhecer o direito de usar da razão para aceitar ou
rejeitar qualquer proposição religiosa. ou flIos~tica . - O pró-
prio cristão assIm procede; e, atIuvés do uso mesmo da rnzão,
reconhece que Deus existe e que a fé em Deus, como também
nas verdades reveladas por Deus, é wn «obséquio razoáveb
para o homem. A razão não se opõe à fé, mas, antes, aponta
as ali tudes de fé como autêntica complementação das verdades
racionais.
Todavia a autonomia da razão, apregoaea por certos do-
cumentos maçônicos, pode ser entendida em sentido rac.lona.-
lista, como se não pudesse haver verdades que u1trapassa ssem
os ex-guos llm1tes do alcance da razão munana. Em tal caso,
as proposicões da fé cristã, reveladas por Deus, seriam frontal-
mente rejeitadas pe1a filosofia maçOnica. A Igreja. com seu
magistério portador e transmissor das verdades comunicadas
por Cristo (Deus e Homem). não teria sentido dentro dos
parâmetros de tal modo de pensar.

-422 -
_ _ _ _ _-"-A"-C1NDA IGREJA E MAÇONARIA 11

2.2. "O Gr~nde 'Arquiteto do Universo"


A Maçonar1a. regular professn a crença no c:Grande ArquI-
teto do Universo, e em suas sessões não dispensa a presen-;a
do Livro da Lej Sagrada. (a Bíblia. como Livro de Revelação
Divina), Os mazons dos primeIros det:ênlos após 1723 tencio-
navam, a quanto parece, guardar a sua fé cristã (geralmente
protestante) I; davam.lhe, porém, urna explicitação genérica
ou vaga, a fim de poder receber em suas LQjas pessoas que
compartilhassem outros Credos ou alguma filosofia religiosa.
Sabe--se que a Magna Carta da Grande Loja de &ondres exigia
que os lnnãos macens professassem C:8 religião na qual todJ'
os homens concordam entre S!:ti assim ficavam excluldos das
Lojas Maçônicas apenas os ateus e os libertinos.
A intenção dos func1adore.s da. Grande Loj.a de Londres era
compreensível no seu contexto histórico. Acontec~, porém, que
a crença no Grande Arquiteto do Universo foi, por vezes, en-
.tendida, no decorrer dos tempos, em sentido expUcitamente
deísta e racionalista ou foi mesmo apagada. Este último caso
deu-se no Grande Oriente de Franca em 1877 e nas obediên-
cias macônieas de outros palses, inclusive da América Latina,
que aeeitaram as linhas de pensamento do Grande Oriente de
Franca.
A Maçonaria racionalista tornou-se também poI:tlca e an-
tlclerlcaI . .. No Brasil sabe-se que houve Influência de ta] cor--
rente maçônica na segunda metade do sétulo passado e no
inIcio deste.
Note-se ainda: a deslgna)'ão cGrande Arquiteto do Uni-
verso'» condiz com 8 té de quantos crêem em Deus Criador.
Pode, porém, contribuir pnra se atenuar a. consciência de que
esse Criador também é Pai, é Amor, que se revelou expUcit:a:'
mente através do Evangelho. O relativismo religioso estaria
assim inclu:do no titulo de cGrande ArquitetOlo. Tal conclusão
não se segue necessariamente do uso do relendo titulo, mas,
em certos casos, seguiu-se dele. Eis por que um católico que se
faça maçom, jamais poderá deixar-se ficar na simples concep-
ção de Deus «Criador ou ArquIteto do Universo'». - Verdade
é que não poucas Lojas maçanicas hoje em cUa, mesmo na
América Latina, são compostas por hOm!!M que se dizem cat6--
liros e desejam guardar fidelidade l sua crença católica.
1 Jame3 Andoraon, quo elaborou a prlmelr. Con~tltulçlO da Grande
Loja de Londre.. .ra pllllcr presbIteriano.

- 42.1-
2.3 . S6gredos e Juramentos
Os Rituais maç6n1cos impõem aos candidatos que se Ini-
ciam, a guarda de segredos sob Juramento e tremendas nmea-
ças de san~6es pam os infratores de tais juramentos. As adver-
tências dos Rituais de Iniciação sáo severas e, por vezes. recor-
rem a dramatizacÕes ehocantes. Contêm imprecações. terríveis
anexas à.s fórmulas de juramento: amea~am o p2rjuro de ter
a gmganta cortada e a llngua amputada, de ter o coração ar-
rancado e feito pasto de abutres, de ver o seu corpo dividl:!o ao
melo. . . t
Os segredos têm por objeto não somente práticas, pala-
VIU ou deliberações conhecidas, mas também as que verrham
a ser comunicadas ao candidato no futuro. Ora tal tipo de
compromisso em relacão a autoridades e valOr6 meramente
humanos é alga que o fiel cat6Uco não pode aceitar. .. Oca-
t6Uco só se compromete irrevogavelmente com Deus e a von-
tade de Deus expressa pelos seus autênticos porta-vozes, que
são as legitimas autoridades eclesiAstlcas.

Ora. cliante da dificuldade assim concebida., os maçons


costumam responder o seguinte:
a) Tais Rituais, eom seus sím.bolos e suas fórmulas, f~
ram redigidos em épocas remotas, trazendo mesmo vestígios
do estilo arcaico; tomadas ao pé da letra, certas de suas fór..
mulas são atualmente rldicuJas. Entendam-se, porém, no con-
texto de séculos passados, em que as cerimônias rituais serviam
de sadJo passatempo para os interessados: na Maçonaria, essas
cerimônias servem de motivação psicológica para a prttica da
justiça, da lealdade, do bem,.. . e não devem ser tidas como
veículos de conceitos e doutrinas ; a sua função é mais pedagó-
gica do que propriamente fllosófloa. Há quem as compare ao
«trote" pelo qual passam os calouros da Universidade desde
fins da Idade Média : esse «trote" pretende apenas significar
que, se ruguém quer ter a honra e o privilégio de pertlmCer à
elite universltArla, deve sujeitar-se, com esplrito esportivo, a
provas e humilhações para cdest'ormallzar-se,. e conviver em
solidariedade com seus novos companheiros de ambiente.
- Mesmo assim nota-se que o «trote. violento hoje em dia vaJ
caindo mais e mais em desuso !
b) Quanto à exigência de segredo em relação a comun!-
cações presentes e tuturas, os maçom a atenuam hoje em dia,
-424 -
AINDA IGREJA E MACONARIA 13

observando solenemente que o ID.8(lOm 6 livro ; e:tta é uma das


pUastras do pensamento maçOnlco. O Ritual visa apenas a for-
necer ao candidato a proposta de um engajamento fl'8.tenraJ,
gue será interpretado e .celto (ou não) confonne a capacidade
in.tuitiva de cada um. O ~gredo principal, dizem•. não é fonnu·
lado verbalmente: é descoberto individualmente por cada can-
didato e, jã que seu conteúdo é mlsteri~, toma-se intransmis--
sivel, inclusive de macom a macom. - Note-se também: muitos
mll(.'Ons, lnterrogados a respeito da Maconaria, calam·se ou dão
respostns evasivas e lncompletas. .A$im procedem não pela ne-
cessidade de guardarem supostos segredos, mas simplesmente
por discrição ou por não conhecerem profundamente a Maço-
naria ; por conseguinte, não se sentem seguros e não sabem se
lhes é licito ou não responder ao que se lhes pergunta.
. O principio cmBcom livre:. enquadra·se dentro de outro
maJs amplo : eMa.çom llvre na. Loja. livre". Cada Loja é fun.
darnentalmente soberana. Deve estar aberta para federar-se
com outras Loj~ mas a união com estas não lhe tira a auto-
nomia. Não existe hierarquia internacional que comande todas
as Lojas e Federações nacionais; há apenas mútuos reconhe-
cimentos e tratados de amizade reciproca, como também há
proibições de contatos. Este estado de coisas:, segundo os ma-
çons, expllca que os juramenkls não sujeitem necessariamente
os irmãos â. obediência cega a oomandos desconhecidos, como
pode ocorrer em organizações terroristas ou de subversão
politica.

DIzem mais : o maçom é lIvre para permanecer em sua


Loja ou retirar-se dela. Nada lhe acontece. se, ao sair. guarde
a discrição que guardaria se nela ficasse; mas., se a. violar ou
se tomar inimigo da fratemidade jurada, poderá sofrer san-
ções e passar por sérias dJ!Jculdades como traidor. Tenham-se-
em vista as tremendas ameaçes ronnuhldas pelo Grã()-Menre
Geral Moacyr Arbe:x Dinamarco contra os que se revoltaram,
empunhaneo o punhal da. traição, por ocasião da ci.são da Ma~
çonaria em 1973 (cf. cPolitika:. n t 96, 20 a 26;vm;73) . To-
davia. não se tem noticia de assasc;:lnato algum . cometido em
C02'ISeQ.U.êncla da ruptura.
Em 5Um.8, oa juramentos e segredos justiticam-se, para
08 maçons, porque a sua instituição pretende ser uma Frater-
nidade ou um Centro de unlio de homens que se interajudam
Para o aperfeiçoamento moral (seu e. elo pr6Jdrno), tendo por
base a fé em Deus. Este é Invocado como testemWlha presente

-425 -
14,_ _ _-'•.r..P"ER""GUNTE!<!!~_'E'__"RES""PO~N"D"EREM""''''''O"S'''.~179~11~9'l!:!4'____ _

_à consciência pessoal de cada um, o qual fIca sendo sempre


livre para se encaminhar volWltariamente aos objetIvos pro-
.postos•.
Assbn entendidos, os juramentos e segredos maçônicos
perdem multo da sua indole suspeita e negativa. Todavia po-
de--se d12er que ainda são suscetivels de dupla interpretação
ou de ambigüidade, que a consciência cristã dese,arja ver deci-
sivamente esclarecida ou SUpres5&.
Em eonelosio, são estes 0$ três tóplcos cIoutrinArlos e di.&-
Ciplinares que, do ponto de vista católico, maior Impasse pare--
cem causal" à aproximação da Igreja Católica e da Maçonaria.
A Igreja l' reconheceu que alguém pode ser simultanea-
mente católico e maçom ; reconheccu-o, porém. levando em
conta casos pessoais e particulares. Isto quer dizer: há pessoas
que podem dar à Maconaria uma Interpretação cristã ou, 80
menos, Inócua 80 Cristianismo. Mas parece ficar de pé a pos-
sibilidade (oferecida pelos prlne:plos da própria Maçonaria)
de que outras pessoas dêem à Maconaria uma orientatão antl 4

cristã ou mesmo nntlcatóllc8. Esta eventualidade poderá se'r


removida. , . Fazemos votos para tanto!
Na axacuç8.o dasta artigo multo nos val(Jmos dos ftStUd03 tealludas
l1)bre o aesunto por Mona, HlIl.lo Panclollo, oncarregado pala Conf.rOncla
Nacional dos Bispos do Brasil p,ara pesquisar a 1II000lla 8 a histOrie da
Maçonl'la, _ Gralos flclmos I aala "rlnda estudloao da quesllo,
• • •
(Conllnulçlo da 34 cIpa)
Unuaçlo cIti "O Delpertar" apreaentado ctm PR 177/1974 ; dopols de haver
estudado a pr.evangallzaçlo dos Jovans ou os meios de preplra, os
camlnhol para a 'i. o Pa, Lacerda, em "A lotnlaçlo da comunldada, ., ".
Irlla dos "Instrumentos" qUI favo recem (nio causam) a Ixplrl'ncla Inllma
da " a • lua expreallo numa vida de comunidade o do ' apostolado,
Pata chegar • conltltulr uma eomunld.do da jovens (Iare'a 'rdua,
dllnta da 'Qual multol duanlmam), o lulor sug.ro programas p.!lra dlo
d. formaç'o: a'l., "0 chamados "011 do Encontro". "013, das Tan-
d.ncl . .... "Dia da AmIUld.... ''Ola da Comunlcaç60". eada qual constando
de paleslras e medllaçhs (com ,olelro esQuemallzado), horj r~ mais opor-
tuno ... H6 lomb6m progroma:s para "reunl6es vost!1:Julares", quo. ves-
tlbulos ,da ...Ilexlo • eonaelanlluçlo lobre o Ev.angelho, a oraçlo paI-
lOa' a eomunlll,la, a Penlltnc:la, a Euearls tla, a dlreçlo esplrltull, etc.
_ Assim o novo livro do Pe, Llcarda apra,anla-sa como valiOSO Rlpar-
tório' de Indlea.."'s tte"lea' minuciosas a ulmll ~lml3 a paatoral da Juven-
lude. Num teneno 110 irduo eomo a,le, ninguém caminha a sós, ma,
todos se valem d. expetllnel. poslllva dos col'!JD:S; os IICCJrdoles •
(llrlg.nte, • poderio beneflclar-ae principalmente da ubadorla teológica e
da rlqueu da reeurso. ttcnlcol qua o Po. Lacerda oleroeo em lua Interas--
unto obre, Qualra o Sanhor Ceus coneeder a .sta apóstolo a ocasllo de
continuar por multo tempo a tarala tio lrulcosamonlo Iniciada em prol
da Juventudo brullelra' '
E. 8.
_426 _
Quntlo de lodo, OI tempol do CrlIU.nlamo:

igreja e pobres

Em alnlasa : Cristo Incentivou for1 emente o amor aos pobre. a am·


tos, dando Ele mesmo o exemplo do despojamento volunt6rlo em favor
dos Irmlo. sofredoru. Este testemunho .usellou a Imllaelo Oenelo.8 do.
e:rlstlos; que d..de cedo se orga"luram • fim de as,lsllr, moral e mat..
H.lmente. aos nus semelhante. nea.sUados. AlI exprnsllea des'l car"
dede cllstl 510 numarosas atrarit dos tempos: nos I"" primeIro .....
cu/os. Instllulremo$ll as dlaconlaa, conneda. aos d"conM ou mInistro• .,a
Ig:ejl. Depels d. paz de Const.nllno (313). o. c,lstlos gozarlm de plenl
Ilberdlde p.ra Instllulr t.o.pllel•• asilos. creches . .. Os bispo., lido. como
"der.nsora, clvllaUs" (na latia d. compelente. oficiai, do Imp6llo), l i
paró'.'lula, • os moslelros Ii encarregaram d. I'rover 8 edueaçlo, • I,.
lruçlo.• aaüd., ao preparo agllcota .. . dOI novo. povo•• Que IlWIIdlam
o Ocldante nos ,'c. IV/VI. A Idade MAdl. conheceu o d ..enyoMmanlo
dessa obra assistencial medIante valllas Ordens 11 CClnlrar[as Religiosas
destinadas ao exerclelo da carldede.
Ho a'c • . XVI, a Reforma luterana provocou o fechamento da nume-
tOlU I ntlltulç~e, cat611eas de asslSlenela, com de!rlmante p.ra os pobr.,
o anktrmos. Tod.yla o Concilio da Trento (1$45-1563). reneYanelo a '.lIda
católica, Inspirou nO! séculos XVI ti XVII o 8urto de dlvara .. Congrega.
ç6es Rall~oll", que passaram a l e dedica' ao. necassltados da toda
espécl.; 810 Vlcenta de Paulo. SI• . Lulsa do Ma'IIi.c 510 o Ilmbolo
dessa grande g.nercaldade erlstL
O Hc\.1I0 XVIII 101 mareaclo pelo raelonallsmo, que culminou na
AsvoluçAo FranCfls.I (1789). Esta . acarretou tIOYs onda d8 connacaç8e. da
obrai de caridade cat6l1cu, Todlvla O Eslado, deaaJoso de se tomar auto-
.lIIlclanl& no selar da assistência, nlo pOda dlspenser as Inlel. Uvas par·
Ilcular••, qUI voltarem a reviver nOI pel," ciIÓllcO$; · destas, I mil.
not4vel 6 a Sociedade d. 510 Vicente da Paulo, de qUI fila o anlgo
"oulnta.
• • •
Comentirlo: Ouve--.se por vezes dIzer que a Igreja se oml-
tiu em relação aos pobres no decorrer d.l. hlStorla' teri dado
sempre multo mais atenção 80s ricos e poderosos. Ô marxismo;
dize:m. é que desPertou a consciêncla dos· catóUcos para. nova
?JmpreensAo d~ pobreza e de lU8S neeessldade$.
Pnra se poder julgar tais obje;6es levantadas contra a
Igreja Católica, vamos, a seguir, percorrer um pouco do hlstó·
nCo das ·expressões· de amor fraterno dos cristãcw. deSde aS lUas
origens até os tempos recentes. .
-427 -
1. Na Idado Antiga
Procederemos em três etapas: 1) o exemplo de Cristo e
a sua imitação j 2) as c11aconias da anUga Igreja; 3) as obras
assistenciais do sec. IV ao &éc. vm.

1 .1 . Cristo e a Imltaçlo de Cristo

A pregação de Jesus Çristo referente aos pobres teve im-


portãnCJ8 dedsiva na história do tratamento dos indigentes..
Antes de Crisco, nunca deixou de haver compaixão e soJlC1Wde
para com os semetnolllltes; toaaVJa pl'eCOnceJtos naaOll8.11StaSo
pollticos e outros prejudieavam não raro a demonsuaçao de
amor ao homem paga0 ao seu proximo.
Jesus CrLsto, porém, resumiu toda a Lei de Deus no duplo
preceito do amor a Deus e ao próXimo (c!. Mt 22, 37-4Ll;
Me 11,28-34) ; esse próximo é, por vezes, O inimigo mesmo do
cristão que o deve amar (el. Mt 5,43-48; Lc lO, :Q-37). Cristo
também enfatizou o prmC1plo de que, Ela b-atar o seu próxImo,
o homem trata o proprio <..:risto (d. Mt 25.40), Mais: o Senhor
dign1ticou a pobreza. inclusive a pobreza livremente adotada
por quem se queira despojar em favor de seus semelhantes.
Assim, por exemplo, diz .::>ao Paulo: _Cristo, de rico que era,
tez-se potlre por nos, a fim de que nos tornassemos ricos pela
sua poureza, l:l Cor H,9j.
As palavras e a vida de Jesus suscitaram nos antigos cris-
tios a esWna espontAnea da pobreu. Nã.o poucos dlsc.pulos .se
desPOJaram das suas rJquezas para se tomar pobres VOlUntÁ4
rios, em 1m1taCâo a Cristo. 'Tenna-se em vista. por exemplo,
Santa Melãnia, da üwtre famWa elos VaJerU MaxmU õ com seu
esposo l-'iniano, resolveu vender seus aVUltados bens, que se
espa.J.bavam por terntOrlos IDversos, a fim de distribuir o preço
aos pobres... Â segulr, MeJán1a, vestida pobremente, vwtou
S. Agostinho em lilpona. os sotitárJos no deserto do Egito,
S. Jerorumo em Jerusalém . .. Deteve-se nesta cidade, onoe a
Imperatriz Eud6cla a !01 visltar; jejuava cinco dias por semana,
comportava-se com rara humUáaae e trabalhava intensamente
pela.lgreJa. Finalmente morreu em 439 ..• À P. 433 falarem05
de ,FaDíOla. outra nobre dama que fez. algo ele semelhante.

ÀqUeles que não chegavam a tal ~u de despojamento,


08 bispos e mestres da Igreja recomendavam a ~breza interior.

-428-
IGREJAS E POBRES 17

Merece atençáo, por exemplo, o bispo S. AstérIo 'do Ponto


(t 410 aproK1madamente), que assim escrevia:

"Per1eneemo, a Deu,
prl.",lo. Somoa apene, 0$
.ó.ec6l'1Omol
que • o Onlco verdadeiro e aupramo pro-
• dlapensadores de seUl !)ton•...
Teu próprio corpo nAo te pertence. Que diremos enllo daqueln que
Julgam ser os unhares do seu ouro, da lua prate, do sau campo li do'
rosto de lual posses 7" (Ham. 11 "Da ' olconamo Infldell" PG <40, 191).

Era em tennos semelhantes que os mestres procuravam'


alimentar nos cristãos a atitude de despojamento interIor, . , .
despojamento interior que era sempre acompanhado de doação
aos mais indigentes.
Importa agora verificar como os antigos cristãos pratica-
vam o amor aos innãos mais pobres.

1 ,2 . As dlaconfas

A palavra grega diakonIa Quer dizer «servIço• .


Os primeiros diáconos foram lnst1tufdos pelos apóstolos
em Jerusalém, a fim de atender às neressidades dos lnnãos
indlgentes; cf. At 6,1-7. Também foram instltuldas diaconisas,
que exerciam seus serviços principalmente em favor das mu-
lheres da comunidade: cf. Rom 16,1 ; 1 Tim 5.95. 1
Em Roma. os Papas dividiram a cidade em quarteirões,
nos quais estabeleceram centros de culto a Deus e de servico
nos irmãos. que eram chamados di3oonias. Aos diáconos tocava
prove'r ao bem dos pobres em nome do bispo respeetlvo : .. seja
o d1ãcono o ouvido, o olho, a boca, o coração e a alma do bLspo!:t
dIziam no séc. IV as Constituições Apost61lcas n, 44. Aos dlA-
conos competia, segundo O mesmo documento. «informar-se
com solicitude 8 respeito de todos os que sofrem na carne;
deviam indicã-Ios ao povo, caso o povo d~nhecesse as suas
enfermidades; deviam visitã-Ios e fornecer-lhes aquilo de que
tinham necessidade, tomando o cuidado de comunicar ao bispo
aquUo que tivessem doado:t,
Uma das expressões mais slgnltlcatlvas do amor cristão
era outrora a cela chamada «ágape. (amor, em grego). Em

lOs leoJogot Julgam que 1.1, mulhere. nuo recebiam o NCnlmenlo


ela Ordem, mal apenas um "cramental,

-429 _
18 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 119/1974

fins do séc. n, Tertuliano, apolog1.sta cristão de cartago, assim


descrevia essa lnstitu1ção : •
""" noSH relelçAo se manifesta pelo IOU nome. Chamam-na por
palaVle que ,Ignlllca amor entre OI gU!gO!. Quaisquer que .leJam as
de, puls 'lua ala cUllle, 6 vlntavem laze, despes... por um mo.lvo de
piedade . .. Nenhum da nóa .. pba ... me.. senlo depois da ter provado
uma oraç.lo • Deu,. Comemos tanto quanto a fome exige; bebamos tanto
qUlnlo a caslldade pllmhe, Saclamo-nos como homens que se lembram
cio que, me.mo duranla a noite, d..,.m adorar a Deus; conversemo. como
pessoas que sabem que o Senho, as aspara. Oapol. que nos lavamOl as
mlos e acendemO! as luzes. 'cada um é convidado a se levanlar para
canter, em honrl de Deus, um canto IIrado, segundo as posslblUdada..
das Sagrada escrituras ou do o. phl1o da cada um. AssIm ~o vetJf!c:a
eQmo Clda qual bebeu. Ao rerel~lo acabe como começ.ou, Islo 6, peja
oreçlio, Cuando tennlnada, cada um 10ma &eu turno." com a mesma
preocupaçlo de modlstla e pudor, como pessoas que a meso receberam
uma lIçlo mlls do que uma ralalçAo" ("Apologetlcum" 39).

Nns grandes cidades, os servlços prestados aos pobres me-


diante as diaconlas e os colaboradores do blspo eram vultosos.
Assim, por exemplo, o Papa São Comélio (t 253) falava de
mil e quInhentos pobres que diar!amente a Igreja de Roma. oJJ·
mentava; mais tarde, o diácono Slo Lourenço reuniu todos os
pobres que a Igreja. sua mã~. costumaVa sustentar e apresen-
tou--os aos perseguidores ccomo sendo os tesouroS da Igreja:..
Na mesma época a Igreja de AntIoqu'a nutria diarIamente três
mil pobres; a de Constantinopla, também três mil nos tempos
de S. João Crisóstomo (f 407).
Os antigos crls"tãos tinham consciência dos poss:veis abu-
MS n-:l servi: o da caridade. Por isto procediam à sindicância
dos indigentes, exigiam dos novatos cartas de recomendação:
o pobre que pudesse trabalhar. era levado a tanto (Didaquê
11 e l2) ; distribulam·se instrumentos de trabalho; os órfãos
eram confiados a famlllas cristlis, que se encarregavam da sua
educação (cf. Didaqu~ 1is; Const. Apost. IV 1) . Em suma, os
antigos procuravam tomar a esmola frutu038j além de dar o
socorro materkll, esforçavam-se por elevar e moral[zar o in-
digente.
Pergunta-se agora: donde provlnham os I"eCJ.ll'SOS das dia-
conias utlll.zndos em favor dos pobres? - Enwneram-se as
seguintes fontes :
1) as contribul:6es espontâneas. dos cristãos generosos:
«Ca4a um traz modesta oferta no começo de cada mês ou
quando o quer, sempre segundo as suas poss:bllidades», diz
Tertuliano (<<ApologeticunUo 39) ;
_430_
IGREJAS E POBRES 19

2) as oferendas dos fiéis no ofertório da Missa: cFaz-se


uma coleta para Q qual contribuem todos os que o desejam e
podem. Essa coleta é entregue ao presidente da assemblp.ia. que
vai ao encontro das viúvas e dos órfãos. dos pobres e dos
doentes, dos prisioneiros e dos estrangeiros, em suma, . ,. que
cuida de todos os indigentes., diz S. Justino (t 165 aproxima-
damente) na sua Apologia. I 67 ;

3) os donativos, não raro vultosos, que os crlstAos de


posses faziam por ocaslão do seu bat1srr.o ou quando se julga-
vam próximos do martirio ;

4) os d:zimos e as coletas feitas em ocasiões extraordl-


nãrlas ;
5) O jejum . .. Quem jejuava dava aos pobres uma quan-
tia de alimentos igual àquela de que se abstinha. Os antigos
bispos e escritores da Igreja. muito insistiam nessa nOnDa;
assim, por exemplo, São João Crisóstomo (t (07), fazendo
eco a testemunhos mais antlg<>s, observava:
"O Jelum nlo 6 ume operllçlo comerciai, na qual poder!amos pro-
curar proval:o pelo fato de nlo comermos, E: proclso <;ue outro coma
em teu lugar o que terias comido se não lI'01esu$ lejuado, a 11m de qUI
dai resul ~e um duplo benollclo : para li, a eK:;Jlaçlo; pata o leu Irmlo,
o fim da foma" (SofmAo sobra o lalum).

Diz al:r.dn São Leão Magno (t 461) :


"O Jejum sem Q eimola ti menos a purUl=açlo da alma 110 <lua a
alHçlo da carna, Qu.ndo .Jou'm, abstando-se da alimentos, 58 aMtém
tambtm de obras de caridade. dIzemo, que lIe traia antes de avaroz. dO
<lua de .bstlnêncla cflsll" (Se.mlo IV sobre o Jejum do 101 mas), l

Caso se admIta que nos tempos do Papa São Coméllo


(t 253) eram 1.500 os pobres de Roma e 10.000 os cristãos
dessa cidade sujeitos ao jejum".. caso se estime em 100 o
número de dias de jejum do ano (na verdade, eram 132), verl-
fica.se que dai resultavam cerca. de um milhão de refeições
por ano, ou seja, para cada pobre 666 porções por ano - O
que equivale a quase duas refelç6es por dia.

1 AliAs, nole·se qua 811a pr'llca subsiste ainda hole na IgreJa ; OI


lléla, n. Querelma•• 10 a)(011.<l08 8 ,e abster da alimentos I outras d ....
peses, a 11m de prO'Oler com Islo fi' necessidade.! dos mala pobrel na
chama<la "Campanha do Frallrnldade",

-431-
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 179/1974

Dado que este câlculo corresponda, ao menos aproximada-


mente, à realidade, verifica-se a importãncta do jejum como
fator de runor fraterno na Igrela antiga.

1 .3 _ A 1I.latêncla 80Clal do .'c. tv ao MC. VIII

1. O ccUto de Milão em 313 concedeu paz e liberdade à


Igreja no Im[>ério Romano. Isto pennitiu aos cristãos que ar·
ganizassem abertarnênte os seus ~rvicos de caridade sem
receio de per.;eguiCão. O próprio Imperador Constantino
(306-337) doou à Igreja numerosos bens para que Ela aten-
desse amplamente aos necessitados. Em 321 Constantino auto-
rizou os cidadãos 8 _legar à santa e venerável Igreja CatólIca
a parte dos bens que eles quisessem outorgar» (Eus-ébio, cDe
vita Constantinh 1,85 e n, 39) . Em conseqüência, os bispos e
Cléls Coram criando uma série de instituições novas, impossiveis
até então, e mais amplas e eficazes do que as diaconlas. Tais
ert'l.m:
a) O xenodochJnm ou xenOD, hospedaria para os estran-
geiros e viandantes. Os ellnones do CoDemO de Nicéla (325)
estipularam que 'houvesse em todas as cidades casas reserva-
das aos estrangeiros, aos enfermos e aos pobres: teriam o
nome de ::r.enod~hlA (no plural) . O Imperador Juliano o Após·
tata, cioso de estimular os sacerdotes pagãos, escrevia em 362
a Arsácio, grão-sacerdote da Galácla :
"Por que nlo voUemol os 00$$01 oIhol para as Il'\3tltulçOGs és qUlIlI
a Impl. rellglJo dOI criltlos devo o ,eu clesc:lmonlo? Por que nlo leva-
mos em con.. el SIUS c uidados soUcllos pa ~a com os estrangeiros? ..
Mando, pois. cOMlrulr em tida cidade muHos xenC1:ledtia . .. ~ vergonhoso,
para nós, que entre OI Judeus ning uém mendlgIJe o quo os ImplOs goll-
leus aUmentem nto lomenle os seus pobres, mos llImbém os nos tios. que
parecem OHIm destttuldo. dOI a ulllllo. que nó. lhas dawmos propor-
ciona," IJuUano, Obras, CId. Talbot, pp. .4'3$).
São João Crisóstomo, verificando que o xeoodochlum de
Constantinopla era pequeno demais, exortava os fiéis:
"Fuel em vou .. casas um lIenodocJ\lum; colocai em lal I4la. por.
o viandante, um lel:o. uma mssa. um candieiro .. . Oue vossa casa l e je
um abrigO aberto diante de J'SUI Crlslo. Àqueles quo rocobordo!!, pedlro/s
como recompensa nlo dinheiro, mas que Intercedam Junlo a C,blO a 11m
do que Este VOI roceb. om lU.' mllf\!lOtIs" (5. Joio Ctls6~tomo , "In
Acllbus", l'Iom . .tiS PG &ll.
b) O DOSOCOm1um. era o hospital para enfermos, multas
vezes construido ao lado do xenodochium. A propósito, é ta-

- 432-
IGREJAS E pOBRES 21

moso O nome de Fabfola (séc. IV) I nobre cristã de Roma, Que


vendeu o seu rico po.trimônlo para construir o primeiro noso-
comiam de Roma. :e São Jerônimo quem refere :
"Ouanlu VUClS Fablola foi vlsla • carregar 6Obr. 0$ ombros 08
pobres marcooos pela sujeIra ou par alguma horrenda mol~Ua I Quanina
vezes .. viram lavando chagai que exalavam mau cheIro tal que ninguém
a. podia sequer olhar I Com .. próprlaa mlOl ela dava de comer aoa
anlalmos: aliviava o.. extenuados. dando-Ihea aUmenlo em colheradea .. .
Ainda que 8'U llvase cem Ilngues fi cem tocas e que minha voz f0118
do farro. MO consegul,la enumerar lodaa aa doençaa la quala fablola
plaalou seus culdadoa. Os pobre. que gozavam de boa .aode, Invejavam
• cOndlçlo dlS51S doentes" (510 Jar6nlmo, ep. n. 8 Pl 22, 119·4).

Mesmo que se reconheça o tom r.lperbóllco das palavras


de São Jerônimo, é oportuno fa2er o confronto das mesmas
com o texto de Platão na sua cRepublJca:t :
"Te,Jo trabalhos apen., aquelos cujo c0f90 .. alma IOlom v lgor~l».
Quanto aos outros, os ,asponaávels delxario morrer aqueles cujo corpo
lor m~1 contollluldo e condenarlo • morte aquele' cuja alma for natural-
mente ma e Incorllglvel" (Rop(lbffca. I. 111).

e) O br.ephotl'oph1um era, eomo o nome o diz, o lugar em


que se alimentavam as crlan;as recém-nascidas (ereches).
Estas eram não raramente abandonadas p:lr seus pais tanto na
Grécia como em Roma.

d) O orphAnotrophium era o orfanato, instituição à qual


os Imperadores bizantinos concedIam privilégios.

e) O gerontocomiwn era o hospital de anelãos, também


assaz comum -no Império bizantino. O Papa SãQ Gregório Magno
(t 604), sabendo que o gerontocomium do monte Sinai carecia
de leitos, colchões e cobertores, escreveu ao abade do mosteiro
pI'Óximo dizendo que os mandaria, e acrescentou à remessa
uma quantia de dinheIro destinada a comprar travesseiros ou
lençóis ou a pagar outras despesas (Regist, Epp. XI 6) .

f) O ftoehotTOphium era a casa em que os pobres eram


alimentados.
Seja mencionada. de modo especial 8. )laaUlada ou BuUdela,
fundada pelo bispo São BasillG em Cesl\réia da ca~6clll em
369. Era quase uma cidade ao lado de Cesaréia, na qual eram
recebidos os diversos tipos de indigentes, inclusive leprosos.
mantidos no devIdo isolamento; havia ai também manutacturas

-433 -
22 ePERCUNTE E RESPONDEREMOS) 119/1974

e uma escola industrIal. O Imperador Valente. impressionada


por essa obra. doou a S. Bas1lio terras, cujas rendas serviriam
para nutrir pobres e leprosos. São GregOrJo de Naziamo (t 390
aproxJmadamente) assim se referia a essa obra na oração tú~
nebre de Bas:Uo :
"Dal algun. passos para fora da cldada, a varels I.Ima cIdade nova ...
Nossos 'olhoa J4 010 S9 an!llslllcem com o maIs Illstll 11 doloroso dos
(lepa!6eulos 'lua la oferecIam. Ji nlo vemol esles CBdberal vivos, carre-
gando para c6 e pala 14 os membros que uma terrlvel doençe lhes tlnhe
deixado sobr. troncos mutilado• . Rejeitados para longe das CIdades, das
hlbliaVOes, das praças pübllças, quem os podIa reconhecer s ob os des-
gute, da hecllorKIa mol.sU. qlMl os desllgurava? De forma humana apo-
nu Unt.am o nome .•. Foi Basilio quem orlanlOIJ a ca: l:lade na dlreçl0
deu e s)(casso de dores ... Ele OI abraçava como lima0', e por seus
Oscvl~ amlQos Inspirava a coragem de o. abordar a de os socorrer"
(Oração 43. § .013 PO 36. 578.) .

Em suma, dirigidas pelos bispos, auxUladas pelos Impera-


dores, as institui!;ÕeS de caridade foram ·se multiplkando dI)
séc. IV ao sêc. VI, a tal ponto que quase todos os territ{)rfos
eclesiásticos tinham suas obras de atendimento em fins do
séc. VI.

2 . AliAs, deve-se notar que as Invasões bárbaras nos


séc. IV/VI desencadearam um estado de desordem ou pânico
mais ou menos generalizado nos territórios do Império Romano
assedIado. Os representantes do Imperador bizantino no Oci-
dente eram figuras fracas, destituldas de autoridade e de meIos
para garanUr a ordem e o bem.estar das populações da Europa
Central, da Gália e da ltAlia. Em conseqüência, o povo das
regiões cristãs se voltava espontaneamente para os bispos, cuja
autoridade assim ia crescendo tanto no plano espiritual como
no temporal; o povo não hesitava em aclamar os bispos como
magistrados civis: e .defensores eivitatls:. (titulo este que seria
próprio dos oficiais do Imperador) ; na verdade, os bispos ze-
lavam eficazmente pelos interesses tempora.:s de seus concida-
dãos, até mesmo em circunstâncias trágicas.
3. Ao lado da ação dos bispos, ~ prec'.so re~strar outros-
sim a dos mosteiros, que foram surgindo na Europa a J:artlr
do séc. VI (São Bento é o Patr:arca. dos mongêS do Ocidente).
Os monges desempenharam pape) notâvel na nlstOrJa da 08."
ridade. Não somente procuraram minorar os sofrimentos e a
pobreza das populações atingidas pela guerra, mas também
instituiram 6. profilaxia contra a indlgênc'o, ensinando nos P')~
vos bárbaros n ngrlcultura, os trabalhos de artesanato e as
-434-
IGREJAS E POBRES

letras; Instrulram a juventude em suas escQlas; ergueram casas


.para doentes, anc1ãOlS e viandantes. Não raro os n:o~ ensl~
naram os camponeses a procurar as fontes de égua, a .corrigir
os cursos dos dos, a prover à irrigação artificial dos campos :
ensinaram também a manusear certos utensllios, a pro: eder
ao enxerto de árvores Irotlferas. a combater as epidemias e
diversas doencas ...
Todo esse trabaJho se prolongaJ1.3. e de5.!llvolver:a nos sé-
culos subseqUentes, como abaixo veremos.

2. Idade M.ldla
Esta fase, que vai do séc. VIII ao séc. XV, foi marcada
por numerosos flagelos, entre os quais a guerra, B peite e a
fome. ~tas circunstâncias excitaram ardorosamente a cari~
dada dos cristãos, que, dentro das SU3.S possibUidade3, procurae
ram aliviar a miséria do.! irmãos. Sejam, como exemplos, re.-
gistrados os seguintes tópIcos:
1) A Igreja sempre aspirou à Paz Universal. Do séc. IV
ao séc. XI os ConclUos empenhBrom-se e$pec'a~mente por obter
este ideal estipulando a trégua de Deus e a inviolabilidade de
certos lugares e pessoas; assim eram Impostos limites às guer-
ras, que a experiência mostra serem constantes na história
dos homens. A trégua se estendia geralmen~e da quarta~felro
à tardinha até a segunda-feira de manhã; abrangia todos os
dias do Advento, da Quaresma, do tempo pascal, as vlgUlas e
as festas de NoSS3. Senhora. Os clérIgos, os lavradores, os c0-
merciantes, os vIajantes, as mulheres eram Invioláveis; os edt-
feios sagrados, os cemitérios, as capelas colocadas à margem
das estradas eram lugares de refúgio intocâve:S aos guerreiros
que perseguissem alguém.
2) Quanto à assistência aos pobres, dist3ngam·se as re-
giões campestres e as cidades.

Nos campos, onde se obsl!rvava o sistema feudal, o s~ nhor


era o defensor natural dos servos e dos ~obre] que recorriam
à proteção do castelAo contra os bandos armados que perco~
riam as regiões. Prestavam-lhe colabora;ão, neste particular,
os sacerdotes das paróquias rurais e 03 mosteiros, que t ·nham
.geralmente um xenodocbJwn e um Gosocomlurn entre as suas
dependências.

-435 -
~ ___cP~_q~ E RESPONDEREMOS~179/l974,-_ _

Nas cidades de maJor lmportAncia, era o bispo qUe criava


·essas obras de assistência em anexo à igreja catearal e contlava
' Q administração das mesmas aos cônegos.

Alem dessas formas de atendimento, deve.se registrar o


trabalho de corporaeões. confrarias e Ordens Terceiras, que se
dedicavam ao próximo necessJtado. Havia outrossIm urdens
Hospitalares. <laS quais a mais famosa 10i a de São João de
Jerusatém i os estatutos desta Ordem foram copiados e epU-
cados na maioria dos hospitais da Europa. A açao dessas iruJ-
t1tu1~ões era tão vultosa que um historiador do séc. XVI.
Jacques de Vitry, referindC)ose às Ordens hospitalares, podia
escrever:
"H' em 1Od., as reglõel do Ocidente um nUmero In••llm'vel d.
Congrtlgaç611 tania de homens como di mulheres que ntnunelam lO mundo
• vi~lm ,••gundo uma Regra Religiosa nu c .... dOS leprolOI e nOJl hoa-
pltals dos pobres, enlulgues com humllct.de • ded!eaçlo ao. culdadoa
dos Indigente. e dos enlermos" ("Hlstolla occld.nt8l1.... Doual 1$91:
"De hotplllllbul pauperum .1 domlbul laprOIORlm").
'4V.l.tf~
Muitoa pormenores se poderiam dtar referentes ao modo
como os pobres e enfennos eram tratados por seus irmãos na
Idade MéCUa. Os estatutos dos hospitais dessa época, por exem·
pIo. nos falam da maneira como os pobres eram recebidos em
tais casas, .. . dos cuidados que se devIam ter para com a dieta l
o leito e os cobertores dos enfermos, . .. da aB3istêncla reUgiosa
que se lhes devia dispensar ... Não raro ocorre a advertêncla
I!vangélica de que deviam ser tratados como o próprio Cristo ;
OS estatutos dos hospitais de Lille, Pontoise et Vernon, por
exemplo, recomendavam «toute dillgence pour voir et warder
les malades et honorer si cwn algoeu.ra et I6rvlr à. eu si eum
à Dlut (honrâ-los <:<>mo senhores e &ervi-los como a Deus).
A Idade Média ficou conhecIda por suas expressões ar-
dentes de fé espontânea, ... expressões que os homens do século
XX. inspirados por outras premissas ~turais, nem sempre
abonam. mas que podem entender caso procurem reviver as
clrcustãnc1as da história medieval.
Sobreveio nova fase da h1st6ria :

3. Os séculos XVI/XVII
. Distinguiremos a Reforma luterana e a Contra-Reforma
católica.

-436-
IGREJAS E POBRES

3.1. Relarma luterlna (Iniciada em 1517)


1. 1t notório que o m<lvlmento luterano, embora tenha sido
marcadamente reHgtoso, teve vestaJ conseqUências poUtlcas.
sociais e econômicas. Os prlncipes e nobres que aderiram a
Lutero, aproveitaraJn.!é da. ocasião para confiscar numerosas
obras de assistência e carIdade pertencentes a mosteiros, pa-
róquias ou instituições católlcas. Conflscaram ... , mas de ime-
diato nada. puderam criar de equivalente para preencher a
'lacuna. Os principias mesme»s de Lutero, contradizendo à vida
religiosa regular ou conventual, assim como às boas obras (no
sentido clAsslco). contribuiram para a dissolução de vârias
obras de caridade. São numerosos os testemunhos desse novo
estado de coisas, dos qunis vão aqui citados alguns.
O próprio Lutero reconhecIa. a situação nos seguintes
termos:
"Desde quo demos e ouvir a p.l.... ra IJINrdadr, os ouvlnles s6 falem
disso. aprovell.m I ocullo par. reClJ1llr-se '0 cumprlm.nto dos devera.

OImol.. ao. pobre., por exemplo? Se I.


Se IOU livre, dizem, poalO 1u:er o que bem m. parece: le nElo , p.lu
obras qu. "gu.m ae salv., por que hei de me Impor prlvaç60s para dar
pesaols nlo dizem Isto literal-
mlnte, toda I oua çonduta d.mon.1rt que tal .. o seu aaereto modo de
penaar. Comportam..e l ete vezel pior sob eate reinado da liberdade que
sob a tirania papal" (citado por Doelllnger, "la R6forme, son d6veloppe-
manl Inl6r1aur, les rbulla!s qu' ella a prodults dans le seln de la soeli!6
Il.Ithérlenne", trad. Penot, lemo I, p. 29G1.

Georg W1zeI, sacerdote que Be' fez luterano e se casou,


escrevIE em 1535 :
"Censuro OI ... Iormado r.a por deslrul rem quase· Inteiramente ou lor·
"arem Inulal. os •• tabaleclmantos fundado. com grande custo por nosaos
pal.l am tnor do. pobres - o qu. i contr'rlo tanto ao amor quanto a
IUluçl para com o pródmo. Cenauro-os por .. apropriarem d08 t . .ouros
da Igreja, aem Iu.r os Indlgentlls aproveUar-.e ... ToOo. conçordl m em
reconhecer que o. pobre. levam uml vIda multo mall dura e alo bem
mil" mlselivela do que outrora, nos tempos da Igreja Roman"," (Ib. t,
pp. 47. G'-59I.
o humanista Erasmo de Rotterdam. descomprometido de
partidos reUgiosos, observava:
"Que pode hever de mal. d.tuttvel do que eltllor as popula~
Ignoranlel a ouvir çhamar P\lbllçamenle o papa de Anlk:dllo a a. ...cer-
dotei de hlp6cllt.. ? .. e conllaalo de plitlça delell6veI? .. a. expre..
• ~ea 'bou obras, m6rlloa, boaa re.oluç6'" de tllrft,tu pur.. ?" (Ib. I p. 11) .
2. Ao passar da Alemanha para e. Inglaterra. verlfiea..se
anãIoga situação. A retonna religiosa introduzIda por Henrl-
-437 -
<PERCUNTE E RESPONDEREMO~ 119/1974

que vm teve desastrosas comeqUênc1as no setor da asslst!nc1a


805 pobres. Escreve, por exemplo. J. TtésaI :
'"Desde o aM da 1540, o Parlamento 101 obrigado a aocorra' a 57
eldade. vitimas de decad'ncla por causa da destrulçlo da abadIas. A
primeira coleta em lavor dOI Indlgenl .., Inicio do femoso Impo.to do.
pobl1la, leve luger em 15311. O paup8llsmo, urna du mala 'elaa chaga
da Inglaterra alual, data da de.Ir:u1ç1o do. moalalros" ("l•• or(glnu du
Ichl.me angllcan" p. 190).

o Cardeal Gasquet O.S.B., erudito hJstorlador em nosso


século XX. comenta o fato;
"O pauperltmo, que SI desencadeia furioso logo derol. da .upra.-
ato do. moslelroa, 6 do1ldo enquanto e.le. subsistem •.. O lolal !lxterml-
nlo do. mosteiro., tio bln'uelos e IndlspensAvel. 6 "Ida do pai., causou
Iman.a mIséria; pouca gente nega o lalo, mas nem todo. percebem o
6eu alcanca. Os autores que tralaram do assunlo do ponto de vista eco-
nômico. alo quaso unAnlmes em ver ne.!a supressAo a aut6ntlce fonta
doa males decorrentes do pauperlsmo" ("HaMlI VIII ai les monast6res
.ngl.I.... Irad. Irançalse, l n, pp . .0482-5011.
Nãe menos de oitocentos mostell'09 - baluarte da edu-
cação dos pobres e da assistência aos anciãos - foram confis-
cados por Henrique vm. O rei vendeu-os ou doou-os a seus
cortesãos e 0. nova aristocracia, que se tomou um dos mais;
fortes esteios da reforma anglleana
Não sendo .poss·vel multiplicar estes testemunhos, volta·
mo-nos para novo subtltu1o. do presente estudo:

3.2. A Contra·Reforma Católica

A f"un de enfrentar a difícil e complexa situação religiosa


qUe se instaurara na Europa do sêc. XVI, reuniu-se o ConclUo
de 'I'rento (1545--1563), que. tendo levado em CO!1ta 03 diversos
aspectos da Igreja na ~pooa, elaborou um conjunte de cãnones
ou normas Importantes. Dentre es que dlz2m rnpelto às boas
obras e ao exercício sistemático do amor frateme. merecem
destaque os seguintes:
"Os b[spos devem epascentar o ,eu rebanho, dando-Iha o 8Kemplo
d. loeIl' es boas obras; tenhem cuidado patarno para com os pobres
e lodos o. amtos" (lesa. XXIII, decrel de Reform. c. I).
"Os bispos .e ampenharlo por que todos os hospitais .eJam bem
e flelmonle administrado. por quem de dlr.lto, qualquar qua sela o lIIulo
d"sos edmlnlstradorOG" (sou. XXII, decrer. de Rerorm, c. 8, e &OSS.
VII, C. 15).

-438-
· IGREJAS E POBRES

OIS. l i ç . ... InsUtuld.. par. recuber de1ermlnado lIpo de f)'regrt-


nos, de doentes ou de outr., pessoas nlo llverem pensionista. ou lIverem
nÍlmllro exlguo deslell, o Cor.clllo ordeM selam 811 rendas da respectI-
vas fundaçôt! aplicadas a alguma oulra obra «;ue 88 8:namelha tanto
quanto pota,yel l anterior. Toce,a ao bispo, assessorado por deIs me",,"
broll pe.llos do Cabido, toma, ali medldu mlla apropriadas" (seu. XXV.
decret. de Relorm. c. 8).

Mais : o Conclllo re<:Omendou a09 bispos que visitassem os


bospi~ pedissem as contas aos adml nls ~radores e, caso hOUe
vesse irregularidade da parte destes, os obrigassem a devolver
o que não lhes pertencia; os bispos poderiam mesmo infligir
censura ecIesJã.stJca aos tunc:onárlos desonestos.

o Impulso de renovacão dado peb Concílio de Trento sus·


citou novas Congregacõe5 e (ammas religIosas na Igreja, dese
tinadas a otender às necessidades ec:pJrituals e materiais dos
homens contemporlneos. Sejam mencionadas as seguintes:

1) Entre 1540 e 1550, João Cludad (ou São João de Dens) ,


de origem portuguesa, fundou uma Congrega ' ão de::llcada aos
enfermos : a lém de professar pobreza, castidade e obedlénc~ a.
os Irmãos faziam (e fazem) o voto de socorrer aos <!oentes.
Na ltâlla os Irmãos são ditos .Fa.te bene Fratelib, em memória
das palavras que São João de Deus npetia nas ruas de Gra-
nada. quando pedia esmola para os seus J;obres: cFazei o bem
a vOs mesmos, meus lrmãos:t. A Ordem de São João de Deus
subsista até hoje.
2) Sio camUo de Lelis (155Q..1614) fundou em 1082 uma.
assocIação de homens destinados a visitar os enrennos e aju-
dá-los a morrer santamente. Tal farnllia religiosa tomou-se a
Congregação dos . Ministros dos Enfennos:t ou cC!lmilianos:t.
Nos trinta prlmeLros an09, 220 ReUgfosos sucumbiram ao con·
tágio de doenças contraldas junto à cabeceira de enfenno J. Em
1630, 55 padres camillanos pereceram em co:1seqüêncla de
guerróS. fome e peste. Em Roma e Ná poles (1656), em Múrela
(1677) e Messlna (1763) , os camilianos foram brutalmente
dizimados por moléstias decorrentes do exercido da sua missão.
3) A.5 Filhas da Oarldade tivE!r8m origem no relo dE! uma
dama. chamada Lu·sa de MarlUac, que enviuvou em 1625, fi-
cando com um filho de doze anos. Aos 35 anos de idade, con-
cebeu o ideal de se consagrar totalmente ao serviço dos p:>bres
e dos enfermos. Tendo-se colocado sob a dire;ão de São Vicente
de Paulo (.Monsleur Vincenb) Lu:sa reuniu algumas jovens
I

-439 -
28._ _ _-'cPE~~~ E RESPONDEREMOS, 179n974

companheiras, e em 1934 fundou a Congregação das FUhas da


Caridade. Esta haveria de a.ssumJr várias tarefas desde os tem-
pos de São :Vicente: a) O tratamento dos enfermos, b) a . edu-
cação das crianças abandonadas, c) a assi.stência aos prislonei-
['OS, reduzidos a trabalhos forçados, d) a dedica:;ão aos ano
ciãos, e) o Clddado dos soldados caidos em campos de batalha.

As Filhas da Caridade tornaram-se uma familla numerosa


e universalmente conheclda. A seu I"6pe1to afinnou o pregador
dominicano Pe. Lacorda1re: cUma Irmã de caridade é uma
demonstracão completa do ' Cristianismo».

A fJgura de São Vicente de Paulo tornou-se no sk. xvn


o s!mbolo vivo e eloqUente da caridade crlstã. O seu zelo, sus-
citado por evidente santidade, tez que a própria autoridade do
rei da França, além de numerosos colatoradores. se lhe asso--
ciasse nos seus generosos empreendlmento3. Não se poderia
silenciar aqui, entre outras famosas obras de 810 VJcente,
o Instituto das Damos de Caridade, até há poueo existente em
numerosas paróquias e voltado especialmente para a cpobreza
envergonhada».

4) Seja mencionada ainda a aeão da Companhia de Jesus,


da qual alguns fUhos notáveis se dedicaram na França aos
cBureaux de Charlté», aos c-Hopltaux Généraux:t e a um con·
junto de 1nst1tu1ç6es carltativas, Que tomaram os mals diversos
nomes através dos paises da Europa: Franca, Espanha. IUUa,
Suíça. Alemanha, Ina;1aterra, Holanda. Bélgica ...
Vê--se assim que o Conerno de Trento, com seu movimento
de autêntica rerorma da Cace humana da 5. Igreja. deu à carl·
dade e ao fervor dos fiéis cat611cos um novo impulso; o sé--
culo xvn pode mesmo ser chamado cO sécuIG dos Santos:t ;
a vitalidade da Igreja, sacudida pela tormenta do século XVI,
mostrou.se então estupendamente revigorada.
Sucedeu·se, porém, nos &éc. XVtn/XIX uma nova Case na
história do exercido do amor Craterno:

4. O. séculos XVIII/XIX
DIstinguiremos a RevoJução Francesa e a resposta cristã
à mesma.
-440-
IGREJAS E POBRES 29

4.1 . A nevoluçlo Françesa


Todo o século XVIII foi caracterizado por forte onda de
racionalismo, principalmente na Fran:a, na Alemanha e na
Inglaterra, chegando ao seu auge a Rev<lluçio Francesa de
1789. Esta foi maJ'C3.damente secu1arizante~ o Estado procurou
assumir a si as obl'8! assistenciais exerclclas pela Igreja. con-
rISCando ou mandando vender hospitais. orfanatos. asllos das
Congregações Religiosas ...
Assim um decreto da Convenção Francesa datado do 19
de genninal do ano m (8 de abril de 1795) mandava suprlmir
sociedades de beneficência, dispensários de gêneros e demais
sOciedades caritativas parti~!J. Tal decreto, aliás. nfio fazia
senão executar uma nonna pouco antes promulgada pela me;..
ma Convenção, segundo 8. qual cnão haveria mais na República
nem pobres nem escravo5; ISOmente do Estado ê que o cidadão
indigente teria o direito de reclamar e deverla diretamente
receber o necessârio para prov.er às suas indigências" (cMonl·
teur" 28 prairlal do ano m). Inspirado por esse princípio,
Joseph Le Bon, membro extremista da Conven;ão, propunha
em Arras (Plreneus), fossem gravadas à entrada dos hospitais
e asilos de Iniciativa particular dnscriçães que proclamassem
a sua futura inutilidade, pois, d1z1a ele, se, uma vez consumada
a Revolutão, ainda tivennos indigentes em nosso meio, nossa
obra revolucionária teri sido vb (Leeestre, cArras sous ]a
Révolution~ n 106).

A titulo de llustração, segue-S& aqui ainda o texto de outro


documento semelhante. a saber: a Convencão, por proposta
da Comissão de Finanç~ sancionou a seguinte lei, datada do
dia 23 de messldor do ano n;
"AS rand,... dos hospitais. das casas de oocono méd ico. do. 8108 r-
Dun. dos poslOI de auxilio aos pobres e de outros es.tabeleclmentos de
benoflcêncla, qualquDr que ,ajl I 8UI d"noml" açAo, do decllv.das ~n­
das do E.3lado. O palrlm6nlo d.,slIs soeledadoo .. Incorpotado ao potrl-
m6nlo do Govamo: lor' Idmlnlstrado ou \tendido de acordo eom IH leb
com o.
qUI "'gam os bens da na.Ao. A CominA0 da Socorros Públlcoilo prover!.
fundoa colocados à a\ll dlsposlçlo. à l noce!l:f.ldedes que ossos
(lStabeleclmonlol possam vir" exporlmenl. '''.

Os historiadores obselvam que a Conven~ão estava cons--


ciente de que a mencionada c:.ComIssão de SOcorros Públicos,
nem sequer existia, servindo tal nome apenas para tranqüillzar
os Anlmos do público (cf. Lallemand, cHistolre de la Charité,
IV 2. 1912, p. 402).
- 441.-
30 cPERGUNIE E RESPONDEREMOS, 179/1974

DIante do decreto acima, vArias comunas de França en-


viaram protestos à Convenção, predizendo funestas co.ueqQên-
elas, ou seja, a rulna dos hospitais do pais.
Tais efeitos não tardaram a se registrar, tomo atestam
documentos guardados nos .Arquivos Nacionais de Franca.
Assim, por exemplo, os administradores da Casa Nacional
de Beneficência (antes da Revolu;io, chamada cMalson-Dieu:to
ou cSanta Casa,) de Auxerre escreviam aos 15 de fructidor
doanom:
"Neste momento, lendo cento e cinqüenta 'ndlgonlN 'nternados e
qllas. oullOS lantos mais ,emotamenle conU.dos .. nossa 6ollcltllde, cal&-
cemos \anto de trigo como de maios flnanc.ollOS pala o adqul.lr" ("Arc:hlve
Nallonalas de Franca". F 15 276).

Os dirigentes do Hospital CentreI de Doual, no mês de


Cructidor do ano ro, proclamavam ;
"O Inverno .S" par. nos acomelar Cle:sprovldo:s de material para o
aquecimento e a IIlImlnaçAo da cot a, doamuldos de um met,o . equer de
pano para cobrir a nudez de no::sos anclaos o de nossos pequeninos,
que se acham IIaJados da farrapos" ("L.\rc)'.lvas Nallonaleg do Franca"
F 15 267).

A direção do AsUo Civil de DoulJens, aos 17 do mês de


pluviõse do ano VI, exprimia nos seguintes tennos uma sitwl-
tão generalizada na FranCa :
"Um crepe fúneb re a sinais do luto {oram cclocad'o~ li. entrad3 dos
a silos desde a lei do 23 de me!SldOt do ano 11. .. ; a morte cellou um
número assustador da Indigentes, desgroçados (I InfellteS de todQ:S as
Idade. e de ambos os GOXtn, pois foram privados de I:m depósito que 6
.agrado aos olhes d. IU~ll ç3 e do human ld3da" (" Archlvas N.llonalos de
France" F 15 3S7).
Em conseqUêncla da situação ca.1amltosa. o Governo fran-
cés se viu obrigado a recuar paulatinamente.
Aos 2 do mês de brumârio do ano IV, a Conven;ão decla-
rava que cada hospital voltaria a gozar provisoriamente das
rendas que Outrora lhe tocavam a t;tulo de proprieclade parti-
cular. Finalmente uma lei de 16 do vindemiário do ano V man~
dava devolver o respectivo patrimônio às institulc6es caritati-
vas particulares.
Mais tarde, sob o regime do Consulado, Chaptal, ministro
do Interior de Franca, convidava de novo às funções hosplta~
lares as Irmãs VicenUnas, louvando ca sua caridade suave e

-442-
IGREJAS E POBRES 31

.Uva. (cin:uJar do dia 10 de nlvOse do ano Xl. Pouco depois,


era o Imperador r:-rapoleã() I quem prom()vla a restauração das
comunidades de RelIgiosas enfenneiras e ensinantes i em. 1801
mandava ele dizer às representantes de 75 Congrega;;õe5 Reli-
giosas destinadas a obras de caridade:
"VOSGO Sobllrano, com lodo o 10:.1 poderio, n!o Julga ter ouflel.nt...
mante rico ptr. pagar os YOS:iOS cl/ldado, o põhllmos" (l.allemand, ob.
clL IV 2. p. <147).

Assim dez anos de persegulcão haviam contribuldo para


pOr em evJd~ncla não só a oportunidade, mas a necessidadP
mesmn das obras de iniciativa particular em prol dos indigen-
tes. Experiência semelhante à da Franca fol feita por outras
nações européias que, pela mesma época. quiseram lalcJzar a
caridade.

4 .2 . O novo surto das Inslitult;oe. de caridade

Embora o Estado em geral, nos pa[ses europeus, se tenha


mais e mais Interessado pela assistênda social, esta não pOde
dlspenSQr li. carldaC;le particular, principalmente quando orga-
nizada pela Igreja. € o que explica que o séc. XIX tenha visto
surgir numerosas iniciativas de carid:lde que visavam a res-
ponder às exigências da época. Dessas recensearemos apenas
a principal entre outras: a Sociedade de São Vicente de Paulo,
com as suas famosas Cónferencias Vieentinas, da qual trata-
rerã,os no nrtigo seguinte.
Na confeeÇlo do artigo que ora finda, multo nos 8erYJmo~ do eSludo
da Louls Prunol ; " Pal/vre, (llIs) 01 I'tgllsu", em " Clclonnal!e Apologóll~u.
de la Foi Cathollque" de A. d'Alês, t. 111. Pada 19t6. cols. 115$5-1735.
Velo lambem
PR <t a/ 1gB1, pp. 522-5~8 (Ju::;Uç~ e carh::laé'el;
PR 53/ 1S62, pp. 184-194 IIgrGla • mla.rl:! doa povos);
PR 6/19153, pp. 247·2:>6 (CrlsU.nlsmo· e flIanlropla);
PR 53/1962, pp. 1~4-202 (ct!.rldeC:e O h"mllhante 1).

-443 -
Quem 1107

antônio frederi(o ozanam e os vicentinos

Em slnteto: Frederico Ozanam (1813-1853) nuceu em Millo (entlo


lerrHótlo I" nch), de I.mlll . e.t6I1c~ pllldoS8. Destinado 'OS estudos da
Olrlllo em Palls. lornou.,e prorOlSor da $olbonno, ., lomou parte nas lutu
pgUllcu de sua ÓpOCI conl1.lrbadL Flente as Idéias soclallstu e anUeI.·
rlceb quo bafejavam 8 França, 018l\8m tomou poslçlo nllldamenl. Cllstl.
t'pondo-sa ao mala,laUsmo, SIm, porém, . complrtllhar OI agrasslv!dade de
outros ,'lIulos do Catolicismo. Admitia 8 democracia, querendo lunda-
menti·la ::;obre o próprio Enng81ho - o que nem 6empte 101 devidamente
ontendldo pelo, sous contemporlneea.
P.ra atender aoa desal10s d. IUI época e apresentar aos Incródulos
o t031amunho da um Cristianismo alulnle, Ozanlm deu Inicio Im 1833 I
primeira. Conlalencla d. Sl o Vlcen'e de Paula, d8111"8da a ,socorrer lOS
pObro,: OI alie .sludanla. lundadores, apesar da oposlçlo Que encon-
traram, conseguiram difundir .8U Id•• I, de modo que sem demora a Con-
ferência pOde fundar novos e novos núcleo. vlcentlnos.
11 Socled.da de Silo Vlunle de Paulo .• "lm constltulda tem dado
bllos 11\1101 do carlda<kr. Preocupa'se nao 56 com 8 dlslllbulçllo clrt
esmolas, mas I. mbirm com a promeçlo. do Indlgante, evita ndo o paterna·
IIsmo ou til dapGnd'ncla do pobre &m relaçlo 80 seu benfeitor. No Brelll,
0fI vlcontlnos ::&0 benemórllos. diGno. .ell gratJdlo a do apolo do nosso
público.

• • •
Comentário: As tristes condic;ões dos pobres no século
passado afligiam de modo especIal cristãos e não cristãos. Na
mesma ~poca viv1am dois homens de estudo e ação que se dedi-
caram a esse problema seguindo orIentações opostas: Karl
Marx (1818-1883) e AntOnio Frederico OLanam (1813-1853) .
Este parece, em S:.la época, ousadamente avançado. Deu pro-
vas. porém, de espJrlto aenlal dentro das Unhas da perfeita or-
todoxia católica. Deixou também uma obra - a Sociedade de
São Vicente de Paulo (com suas Conferências Vlcentlnas) --"
que é testemunho do zelo cristio em favor dos necessitados. Aa
Conferências existem até hoj e, tendo dado notáveis frutos espi-
rituais e temporais, Atualmente procuram adap~se ao espl-
rito de nossos dl.as, que acentua não somente a caridade, mas
também .os deveres da justiça socIal. Os vicentinos sabem que
não se deve Indetinldamente dar esmola, mas tentar emancipar
o pobre da necessidade de pedir esmola.

- 444-
OZANAM E VICENTINOS

Falecido aos 40 anos como Uustre professor da Sorbonne.


Frederico Ozaoom viveu intensamente os p::tucos decênios de
sua existência terTeStre. Teve o olhar. aberto para a prob1emA·
tlca social: conheceu diretamente as teses do soclallsmo mat,e.
Jialista; preferiu·lhes, porém, os princlplos da fé cristã. que el~
p~u traduzir em obras com a m6.xima eficácia possível.
€ o Que nos leva a encarar diretam.e1Uo, nas páginas. que 3e
5egt,lem, os tracos blogrãficos dessl! pioneiro católico e as gran.
eles idéias que inspiram a Sociedade Vlcentlna.

1. Omnom, o honlem público


Aos 23/IV/ 1813 em MUla (cidade francesa. naquela data)
nascia Antônio Fréderico, filho do medico francês João Ant6nlo
Ozanam e de Maria Nantas. Em. 1816, a farnllia transferiu.se
para Lilo (França) , onde Frederico fez seus estudos no Colégio
ReaJ, chegando ao baoalaureado em Letras. Aos 18 anos, coo--
seguiu 6Uper.r wna crise de lé, suscitada pelas variadas cor·
rentes de pensamento que o bafejavam i ele procuraria dora-
vante firmar a sua crença católica. principalmente mediante
estudos de história.
. Em 1831 foi para ParIs, a fim de estudar Direito, por de-
sejo de seu pai. Naquela CApital, encontrou-se com o grande
dentistà Ampêre, que houve por bem hospedar o joVem estu-
dante em sua (asa durante dois anos. Em 1836 doutorou-se
em Direito; aC) que se seguiu o doutorado em Letras no ano
de 1839. Além de conhecer o francês. o inglês, o alemão. o
italiano e o espanhol, Ozanam Q.uis também estudar o hebraico
e o slnscrito.
Em 1840, por concurso, -romou-se professor suplente de
Letras estrangeiras na SOrbonne (Paris). Finahnente em 1844,
por morte do catedrático Prot. Claude Fauriei, veio a ser titular
da cadeira, de acordo com proposta do Conselho Acadêmico.

Em 1841 casou-se com AmálIa Soulacroix, da qual teve


uma fUha, que sempre muito amou.
Desde os seus tempos de estudante. Ozanam tomou parte
nos embates· cIentlflcos, !llo.sóllcos e religiosos que moviam os
pensadores de Paris. Entrou em contato com Chateaubriand.
Lamartlne, Renan, Lammenals, veuWot. Montalernbert. Laco....
daire. propugnando energicamente a llberdad,e da Igreja e da

-445-
31 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 179/1974

escola partlcu1ar !rente ao poder civil e aos avances do socIa-


lismo ou do materiallsmo. Procurou, porém, ser sempre çom-
preens1vo para com seus adverslrlos, e, por Isto, desaprovou
as atitudes violentas de jomaUsta5 católlcos (como i..ouIs
VeulUot). Em 1848, quando El França se vIu agitada, Ozanam
tomou partido pela liberdade po.bUea. Em época monarquista,
acreditava na posslbWdade de uma democracia cristã como
termo do processo polltlco: tal atitude naquele tempo era. sus-
peita de heterodoxJa ou de tralcão' aos · sâ.b!os principias crfs;.
tios. Ozanam, porém, professava tais idéias com tinneza JúcJda
e plenamente crlsti, comei se depreende das palavras abaixo,
dal8das de 1848 :
"Acreditei, • ainda acredito, n.I ponlbllldade da ,democraofa crista,
li ai' nlO creio noulr. coisa em mal. ria polillca ...
O Quanto sei de ,hl,tórla, me permite crer quo. democracia 6 o
tarmo natura' do prog.....o pollllco para o QUII O mundo v" lindo con-
dUl1do. Mas confesso qUI vai aendo conduzJdo . por veredU bem operas
• que, .a acredito nl democracia, , apeuar dos excesaol que ••,Iam
capu •• de fazer os homena . de bem a aborrec~r ••.
Todl a Europa tendo péra a democracia. Ora a democracia nlo
pode vlv&t $.nlo pelo IIc.lI/clo. pera devotamento, pela .Insplraçlo cristA:
no V.tlcano , qua rulde one principio Inlplrador .,.
Noasos pala, noato. Irm'08 e nós moamos IrabaJt.amat na ntalu.
da Uberdade, .. , mas cumpre fazar viver .... est'IUI, cumpra procurar-
~1Ie • vida onda Promtreu a bUlCOU, Isto ., no cfu. O Cllstlanlsmo • que
. .nI. I .Ima da Liberdade.

Q tempo de rtlomlrmos o nosso bem. qUilO dizer: .. . nau velho


e populares IdéIa dt luallça, de ca.lldade, dt f,aternldade. G tempo dI
mostrarmos que t e poda plalte.r a causa dos proJotAtlos. d.votanno-nos
80 alivio du classe. sofredoras e prosseguirmos na abollc;1o do paupe-
rlsmo, som n09 tomarmos .o11d4rl0l com ., pl6dlca.s que desencadearam
• tampe::otade da Junho". I
· Ozanam teve ocasIão de tomar posl-.ão dJante das duas
atitudes que dividJam os católlcos no tocante aos adversâr:los
da tê. Eis as · palavras do mestre escrltas-em 1850 :
"Existam duas ascola, que quorem aeNlr a Deu. pala pena. Um.
pGe , flenla o Sr. da Matstr., que el. auge ,a e desnatur•• Vai om busca
dos parado)(os mais ougdo. óU das tosas mala contealtvelt, contanto
qtJ:I Irritem o .a.,J'Uo moderno. Ess• •scol • •p..... nl. as wrd.d•• M)
hoMem nlo pelo lado que as tam. alr•• nt.a e, alm, p.la lido que as
toma "pulllvls. Nlo .. propOt • IIcondullr oa IncRdulol, ma • .",g..
lIn., as PaJ~ doa 11'11. ,

, t Tr.tav.... de ' lcf61 .. ,toélalltlaa anllerl.IIs,

-448-
OZANAM E VICENTINOS 35

fi. ovlta Iam por 11m " procurar no cOnlçlo tlumano 104" a cordas
UCNt.. que o possam liga, da novo ao Cristlanbmo, dnpertando nela
o amor d. verdade, do bem e do belo, para ""' seguida mOI I,ar.fh" na
" revelada o Idaa' dOlsu três coisa i . qCJal' aspira toda alma; procura
ennm ~rezer parI a " o. uplrltOI dalvladOl a aumentar o nOmero de
crlltto., Conlas.o que prellro .or desta Ciltlmo partIdo e ,nunca "Quecarel
e . ta pillevr. de Slo Francisco de SIII': 'Apanham.,a malt MOICU eom
um. tolhor do mel qo que. tom ' uma Ignllalla de ylnag~' ",
O grande mestre faleceu prematuramente em Marselha aos
8 de' setembro de 1853 em conseqUêncla de moléstia entio .in.
j:urável. Acabava. de regressar de uma viagem fl ltAlla, onde
tratara dos Interesses da assistência social vlcentlna que 1nstJ.
tu!ra'. Sentindo o seu fim próxlmo, pediu os santos sacramen·
tos ; q)mo \l sacerdote o inCitasse Q contJar sem temor na bon-
dade de Deus, respondeu Ozilnam: .Oh! Como posso temer
a Deus, eu que tanto O amo ?~
ImpOrta-11M agora oonsiderar mais detidamente a obra
Vlcentina que Ozanam fundou como expressão de seu zelo
cristio.

2. O ap6stolo da amor e da · justiça


Desde os seus primeiros anos de estudante em Paris, ;Freo.
derIco Ozanam se sentiu desafIado por correntES não cristãs,
que o obrigavam a procurar pensar e viver com a mâxima coe..
rêncla a sua fé cristã, AB cUscuss6es e debates com colegas indl·
ferentes ou 'lncréus 'deram ' finalmente ocasião a. que, em maio
de 1833, ' Ozanam, acompailhado de mais cinco estudantes de
mediclna e um de dlreito, fundasse a primeira cConterêncla de
CarJdade».
z:: o próprio Ozanam quem, vinte anos mais tarde, assim
expUca. o surto dessa obra :
"tramos enllo Inundados por yerdadel ro dilúvio de doutrlnu filo-
f6f1CIIII ~1,todOICU que l e agitavam em fedor d. n6s; senllamos o desejo
e • naceslldade de fortetecer a nontl " em melo aoa .... 110. que lhe
dev,", os dIVllt$OI elslemas deas. cl'ncla fal .. , A[gUnt dOI noSlO' Joven~.
compantilllros cfe esludo orem matarrallll'., alguns selnl-almgnlanos, outro!!:
fourl.rlstas, outros ainda dalll.l. Quando n611, c.t6l1cOI, no • •'orç'vamo.
elll chamar "SII' IrmlOI transviado. do eristl.nlsmo, elu · nol diziam
todos :
'Tendes razlo ee vos relerls 80 pa...do: o Cristianis mo fez oultora
predlAlas: mas tloJe o Crlsllanlsmo Hli mono. CO"I .Ie\lo, vós, que vos
\I'anal. de •• r c.tóllCOI, Que fazoll ? Onde; estio u obras QU. damonstrem
'" VOI" fi • que nO-la ponam faz.r respeitar e admitir ,7 ' :

~«T-
36 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS. 11911'974

Eles Unn.m rulo õ eHe reparo ora multo merecido, Foi entlo que
dllumOl: Ela. pois I MIa. • obr. I e.teJlm 08 nouo. a'oa de acordo
com • nossa f. I U.. qlf8 fazer? Qu. 'uer pari Nr verdadeiramente
ca\6l1cOI 58nao aquilo qUI m"lto Igradl I Deu.: sacorramot, portanto.
o nou o pr6xlmo, como lula J ..us C'lIlo, e ponhamol nau. It sob a
proteç60 da Clfldacla , •. 1"

FoI sob O impulso tIestu Idéias que nasceu o primeiro


núdeo de apóstolos do amor tratemo que se colocava sob a
tutela de Sfio ViOOlte, o grande arauto da mriclade no séc. xvn.
Esse núcleo ehamar-se-la Qonferêocl&, porque os sete estudan-
tes fundadores se haviam conhecido e instigado mutuamente
ao freqüentarem c:Conferêndas de histórlu na Sorbonne sob
a presidência do Prof. Bailly; essas ...Conferências de blstórla.
congregavam católicos e acatólicos que então exprimiam livre.
mente suas dpln16es.
Os membros do pequeno grupo se reuniriam semanalmentej
depois de oração e leitura esplrltual, deliberariam sobre os seus
trabalhos de caridade e relatariam as suas visitas aos pobres.
No fim. realizariam modesta coleta, que servlrla para prover
às necessidades dos indigentes no decorrer da semana seguinte.

Não tardaram a aparecer os adversários do pequeno grupo,


socialistas que impugnavam a prática da esmola em nome da
nova organlzacão da economia, na qual não haveria nem rIcos
nem pobresi propugnavam a Justiça a tal ponto que desdenha~
vam a caridade 'e repeliam a priUca desta. TaIs pensádores ti.;.
ilham razão em repelir o c:paternaUsmo. que toma o pobre um
perene dependente do rico. Ozanam, porém, apontou a lnconsJs.
téncla de suas posIç6es radicais em dois artigos pubUcados no
jornal «ne NouveUe-, CGm OS titulos respectivos: cDa assts..-
têncla que humDha e daquela que hollI'b e «Da Esmola• . No
primeiro destes escritos. dizia. Ozanam :
"Sim ; li a ..lst6ncl.- hl.Hn llha qUllndo 10ma o homem pulo mais blllxo,
pelas necenlda_ terrMtres som.-nte, quando e. clha aperuas para OI
aolrknantos da carne a do 1,10 •.• que procuramos minorar t.-mbém noa
animais . . . A aulaltnel. humilha s . !\IId. lem d8 reçlpRKlO, 18 apena
levaIs ao Irmlo um ~ço dt pio, uma rcupa, um punhado de palt\a, •••
ao o coloc;all na ÇQnun~nçl4l dolorou... da rec.ber um retribuir , •.
M. a uallt'ncla honra quando ao pio que nutre .. acrescente a vllllll
quo consola, o oonMlho que esclarece, o aperto de mio que SOlrgue
• coragem .-batlda ••• , qUendo tratl o pobre com respeito, n80 5()mente
como um Igual, m.. também como um luperlOr, porque solre aquilo que
nunca eolramOl . ..
Entlo e Ullat6ncla tom.... honrces porque pode torne,... m6tua.
Sim: todo homem 'que diz ume pai.."., que cü !,Im conselho, Que t.vtI

-448_
OZANAM E VICEN'rn~'()S 3'1

um COMeti" hoje, pode amanhl nltC:tHlter de uma palavra, de um con-


selho; I mio que IptlMab, a~rI.. ao mesma tempo, a V08ta. Essa laml-
lia Indlgenle que amar., Vf)$ amará, certa coma , que e1a ali terj J6 quI-
tado para convosco da.de quando .... anelA0, aquela piedosa mia de
famllla, esses pequeninos houverem rezada par vó....
No artigo sobre cà Esmola., éSCreVia Ozanam :
"t '..e tavarlt. dM laclallllas essa de denunciarem a esmoll como
Mnda um dos datesl"'.I. iabuaoa da aocl6dade CI"1.I. Dizem que li
esmo" Inl uUa o pobre, porqUI nao lhe permite partir .eu pl.o .um que
reconheça. d.......lo lqu.ln que .. dl.tem aeus bent.lloree; lornllndo-n
obrigado ao. rIcos, o pobre delx. de ser Igue' a esles. Dal concluem
que e eunola, longe da consa:graf a fratemldade, a destr61 . ..
Essa dOlllrlna .. dIrige ao mall plrT6hlca dee eentlmenlDfl humanos,
'quela que palpitA lanlo sob O andraJo quanto stlb a seda • o ouro:
queremos ra'arlr-noe ao orgulho. Sim; • 'I.me eeperança do orgulho
humano , . ta em desligar""", ct. tudo quanto obriga, porque toda obrlg..
çlo Impl;ca depend6nel •• Mae .... uperança , eternamante yl. Nlo
conhecemos um 10 homem, por maIs equlnhoado d09 bens desla mundo,
q" .. pos.. dallar uma aO noite a"rmando qua nada deve 11 nlnguêm.
Nlo sabemos d. um (mico filho qua lenha Jemels pago o que de ..... a eua
ma., nem de um pai de lamltla tloneslo que alguma VêZ nada maIs d9YI
ao amor d. lua mulher ou 1 Juvenlucl'e da "US fIIhoe. ·.. IA. PrQYld'ncta
nlo permlllu que .e rel.ç6es sociais ali balanceassem como o ativo a o
paes/vo d. um com'rclo bem dirigido, nem que 011 negOcio. da humani-
dade 'oseem regulada, como um lIyro em partidas dobrada. Toda a
aMe da Provld'ncla a, por assim dizer, 10do o aeu esforço e. tlo, pelo
con116110, em ligar o pa.. ado ao lululO, as gelllçOae ls geraçOes. o
homem ao homem por uma ,.lIle de banal/elos que comprometam e de
serviço. que nla ee quitam.
. ' . Nem dlglls qua ... queramO! perpetuar a mIséria: a mesma
autorklad. (Jesus Crlato) que noa anuncia que ela sempre exleUr' anlra
nós (cl. Jo 12,11). , tlmbtm aque'e que noe ordena laçamos ludo ptlra
qlJll nlo .xfsla mais. ~ praelum.nt. 'assa emltlenl. dignidade doe pabret
na IgrvJ. d. Deu,', na fr..e de BOISU", QU. 1"108 lanc;a aos pn da' ...
Quando receele obrigar aouete que recabe a esmola, creio que leio eu-
C9de parque nunca · experlmentasl" que ele lamb,," obriga e quem di.
Os que conhacem o caminho de casa do pobre, oa qua I' vetnlram o
pó . das lUas ascad.., "s•• nunca lhaI batem 1 porta .em .um caMo
..ntimento de respeito. Sabem elel que o Indigente os honra recabancSo
deles o pio . ..Im como de Oaus racabe a luz:: sabem que se pode
pagar a enlrada doa lea.ros • f1a. dfverabe. ptlbllcas, mas qua nada
Jamall paga,' duas 16grlmea da a'egrla nos olhoa de uma pobre mio,
nem o apaMo da mio de um homem honrado que lar.hamoa coioeado em
condlçon de poder voltar '0 trabalho •. ,
Nlo hA mllor crime contra o povo do que esta de enelne,..lhe I
dotastar a esmola • a arrancar lO de'graçado o I"1tconheclmanto - a
emma rlQuaza que Iha resla, maa a maior de lodas, porque nada exf.te
qu. ela nlo posaa paoar".
Como se vê, Ozanam e seus companheiros tencionavam
praticar a caridade ignorando ou mesmo contrariando a justiça
38 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 119/ 1974

sodaL Também sabiam que dar esmola a quem pode trabalhar,


pode ser fomento da preguiça. Ora, para se livrar desses es-
colhos, contavam com a colaboro~o da Irmã Rosália, muito
popular no 12' Quarteirão de Paris, Irmã que indicava quais as
famlJas realmente necessitadas de visita e atendimento em
Paris.
A consciência do valor lmpresc.1ndivel da justlca na socie-
dade era assim expressa por Ozanam :
"A Clrldade p6bllcI dev. Int.,.,lr nas Cf"I•• Mls I clr1dade • o
Samlrltano que detta óleo lobre as chiO" do vlljanle Itlcado. ~ s: l
Justiça que abe prtvlnlr os .taques".

Nem sempre compreendido mesmo dentro da Igreja, o


pequeno grupo de sete esbldantes foI-se impondo pelo ardbr
de sua fé e de seu amor, de tal sorte que novos e novos ..mem-
bros &e lhe foram agregando. Em 1834, um ano após a fwlda.-
ção, a Conferência já contava cem membros _ o que a obrigou
n dividir-se e SUbdlVIdir-Se em nOcleos menores. Um século
mais tarde, em 1933, havia 13.164 Conferências Vlcentlnas es-
parsas pejos cinco continentes., com um total de 179.m con-
.Irades. HOje em dia a SOciedade de Slo Vicente de Pa"Ulo cons-
titui o maior grupo de leigos católicos que mititam diretamente
a ~avor da carkladc.

Procuremos agora noticiar sucintamente .


3. A Sociedade Vlcenllna na Brasil
Em nossa pátria. a Sociedade foi lntroduzida no .ano de
1872 por ocasião da celebração da fcata de S~o Vicente de Paulo,
aos 19 de julho i eram os padres da Missão ou Lazaristas que
assim a implantav~ no Rio de Janeiro. Em 1874 a Sociedade
jA se Bchava em São Paulo, devendo aos poucos propagar-se
por todo o Brasil.
Os vicentlnos organizam-se em grupos tradicionalmente
chamados cCOnferêndas_, que se reunem com regulariclad.e e
freqüência. As Conferências são unidas entre si por melo de
Conselhos, de escalão locaI, regional, nad onal e mU :1d.1al. Nas
reuniões são avaliadas as experiências de cada um dos con·
frades, os problemas encontrados e as maneiras de servir
melhor.

-450-
OZANAM E VICENTINOS 39

Após o Conelllo do Vaticano n (1962·65), a SOCIedade


reformou seus estatutosr de modo ,8 Inseri-los na esp1rltualidade
e na Unha de ação suscitadas pelo ConclUo. Conseqüentemente,
é assim expressa a tarefa da Sociedade em sua nova Regra,
parte I, I 4:
"Nenhuma obra de carldado • estranha' SocIedade. A açl!o desta
comprMndl qualquer forma de ajuda por contato JlftSoa' no sentido de
al1vlar o .ofrlmen to a promovar • dignidade e a integridade do homem.
A Socledada nlo .omanla procura mllloar a mlsé,ta, corno lamb6m dGs-
ccbrlr e ,emedlar as aUuaçeo. quo. gor.m. Leva sua ajuda a quantos
dala praclsam, Indepandentem.ente de cor. laça, nacionalidade, credo pell-
Oco ou lellgloso o poslçfo loefar'.

o Presidente Geral da &lcledade Vlcentlna , Sr. Plerr!


ChouaM, assim apresentou ao púbUco as novas diretrizes que
animam a SOciedade:
"/I+. Sociedade da 510 Vicente da Pauto, no conJunto, e lodos 0$
seus membros, tlm por um, lO .entem mais claramenle Interessados pelas
dimensões nOV8' da aclldarladado dos ~,omens. Os entra.".. l Justiça loclar,
"' misérias da fome, os IOlrlmenlos do lubdeaenvol... lmenlo raforam-se 8
todos os ."Icenllnos, mesmo qua pareçam eslar afastados no espaço,
I:-Ihh Imposslval fur1ar-sa a elas: a Imaglnaçlo criadora dave conduzi-lOS
a confarlr as vlth./du do dlAtovo e do conlato pessoal eom lodos ea..~
problema. mundiais qua nlo 8sll0 r&seNadoa untcamente • potlllea In-
tamaclorul.
A9 dtmans6es da 'nosso próximo de hoje' cresceram; é preciso ra. -
opOnde, a alas. O Telcelro Mundo, por seul estudantel, .euI trabalhadora,
atU9 emlgrantel, esta prflSanta no .elo elu cfdades mais 'desanvolvldu',
O engajamenlo nu prollss&es da cooperaçlo poda aar considerado como
uma olCprnwo de vocaçlo vlcantlna, NIIS JO'IIn, comunidades e ,I" .. dos
palse. do Tarçalro MOndo, o fdaal vleantlno JA I.va OI maIs pobr•• a
1QÇ0000r efleumanta outros pobr.s, , a viver aa dlmens6al do amor
crt.tAo. Tudo est' por construir ne.Ia elapa do mundo modemo" (taldo
e)draldo da um opá.eulo que a Sociedade Vlcentlna do Brasil distribuiu
lem data. em traduçlo portuguesa).

Não tenclonamos relatar ponnenores da organlzacão vicen-


tina ; fugirlam ao âmbito deste artigo, que vim apenas a apre-
sentar as Conferências de São Vicente de Paulo como expres-
são do penetrante pensamento dê Ozanam, até nossos: dias pie-
DaJTJente vãllda. Em todo o Brasil contam-se hOjê oito mU Cooa
ferênc1as Vlcentlnas, com um total de mais de 100.000 s6c1os de
todas as Idades, pessoas de ambos os sems e das mais dtversas
posições sociais ; \1ce-Presldeates da Rep"rhJ lca, ~
de Eshom. CoJg1es sfstas. 1Unistros de "ftD:JImais. D ""'rza.-
dores, Almirantes, Marechais, BrIgadeiros, representantes vários
da classe média. ao lado de hutnlldes funcionários, trabalhado-

-451-
40 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 179/1974

res braçais, rodos camponeses, estudantes, soldadoó, marinhei-


ros, todos dentro do maior anonimato.

Possam as Conferências receber em seu grêmlo ainda


nwnerosos arautos da caridade de Cristo, empenhados em aju"
dar seus l.nnAos tanto. no plano esplrltual come) no corporal J
Os lextca da Ozanam clflldOl nu pAginas anlarlor89 foram colhido.
no op6. culo de Cltudlo Peyroux : ··Fr-.:Ierlco Ozanam". Rio de Janeiro
1925. Merecem .'ençAo outroUkn C» IlYroa
P. J. C. M. Colombo, "F~rlço Otanam". P81rnpolbl 1942.
U9r. Baunard. ''FrfrUrle Ounlltll d'8pr& 58 correspondance". P..
ris 1913.

-- x --
Aos noeaol estimado. 'aliaras
Comunicamos ester encerrado o Inquérho a rnpelto da
mudança de titulo di nou. revllta "Pergunte 8 Relpondeo
ntmOI". De cora910 agradecemos a todos quantos n08 pJ1tl-o
laram o obséquio da lua resposta escrita ou oral. Colabor.
ram nlo somente com um "Sim" ou "Nio". mas também
com oplnlae. valiosa.. qllê nOI seria úteIs.
Podamoa dizer que • grande malorta dOI parecer.s rece-
bkIotI tol conb'lIrt. I troca da noma. 'Ito basla para que,
num gasto de nlpello .. oplnllG dos lellores, mantenhamos
o Ji conhec1do Utulo "PERGUNTE E RESPONDEREMOS".
abreviado em PR. se o noma da noua revista le tomou vin-
culo e elo entre a radaçlo • seus leitores, fazemos votOI
para que ..... lIamel de amllâd. e c:olaboraçlo .e eetral-
tem caGa vez mal., a fim de realizarmos uma tarefa autentI-
camente cri".em nDUO Brull. Queiram os amigos continuar
• envlar·nol sugeata.1 • critica. para nossa orlentaçlo.
Gratos • todoe.

A REDAÇAD DE PR

-452 -
A questto IDclal:
(aridade - OU Justiça?

Em IIln~H.: As leis e as normu da Jusllça têm penétrado cada ~a:


"mais no lOeto r das relaçOt s entre os homaM. Em conseqotncla, mullas
·atltudas do banevolêncla outrora usumldas apenas a titulo de .Cllrklad.
hoje IÍllo obrlgalórlu por alalto das lals <.'a jusllça: .ebonos lamllla~,
apcnnladorlas, 16riu remuMradu .. . Aulm a Justiça toma o lugar da
carf.dad"a, que por veze~ lem m'$lTlo um sentido peJorativo, segU(ldO alguns
·comentador". . .
Deve,""aa louvar taIs InIcIativas da Justiça. Todavia elas nlo ·podem
romover as expressCles di caridade ou do amor fraterno, poIs a JustlÇII
sem caridade' um corpo sem alma, como a caridade t;em JUltlça é '110-
laça0 dà ordem e hlpocrllla. .
A Jusllça distribui direito. li deveres d:o maneira por vezes Impes-
soal. ~ a catldade ou o amor que leva em conta as pessoas Interessad as
em um Justo relaclonamenlo. Ademais a caridade nlo é, por 51, humilhante.
Edsta uma dignidade _em saber dar, como ulste também e dignidade de
saber raceber. Quem sab, receber, estll. multo vezas prestando um ·Iavor
ou dandO ao seu doador. No Inlerclmblo "Clar-reeaber" h6 enriquecimento
rnllluo de doador li receptor,

• • •
Comentário: A palavra «caridade», que durante séculos
loi unanimemente valorlzada no vocabulário .cristão néo-latino,
hoje em dia. suscita por vezes certo cetlcismlJ .: é, não raro,
associada a fuga dos deveres da justiça social. maneira. falsa de
;ctranqüillzar:a a consciência. de quem deveria procurar premo-
·ver os seus semelhantes. t: por isto que se pergunta se hoje
ainda é licito apregoar a caridade e <:I. prã.tlca da mesma ·me--
diante esmolas ou obras meramente assistenciais (c8SSl.sten~
·elas:t, neste contexto, opãe-se a cpromoelon1is:t) .
Tentaremos abaixo responder a tal questão, comparando
entre si o papel da justiça e o da caridade nos dias atuais.

1. Justiça social
JustiÇa é a virtude mediante a qual o homem. com vontade
constante, clã. a cada wn o que lhe ê devido. Donde se vê que
e virtude.eminentemente social ; ninguém a exerce para .consIgo
.mesmo.
-.453-
i2 ~PERCUNTE E RESPONDEREMOS, 179/1974

De modo especial, Interessa·!103 aqui a espécie de Justiça,


que se chama expUdtamente cJusU;a social». Esta se baseia
nio em troca. de bens materiais, mas nas obrigações que resul-
tam imediatamente da natureza social do homem e da finali-
dade comunitária que têm os bens terrestres.
Em nossos dias. acontece que não poucas das prescrições
da jusUça social vão sendo expUcltamente promulgadas pela
lei clvll: tomam~ objeto de justiça legal quando outrora eram
tidas como objeto da virtUde 00 caridade; os abonos famüla-
res, as diversas formas de pensões, aposentadorias, as lnstltu1-
~ de prote~lo ao operArio ... Isto se deve ao carãter cada
vez mais complexo da vida sodal : n multiplicação de encargos
e responsabilidades dos trabalhadores em empresas, fAbricas,
e9Crltórlos, etc., levou os legisladores a explicitar cada vez mais
..() qUe é estritamente dever de just'ça (seja comutatJw, seja
social), e o que fJca sendo mera atuação da caridade. Assim
se verlflca a tendência crescente 8 transferir do donúnJo da
caridade ou da Uvre iniciativa. para o setor da justiça ou da
obrigação' certas prâ.tlcas e instituições que antigamente fica-
vam dependentes apenas do bom senso cristão dos proprietãrJ.os.
1: altamente desejável que a legislação procure garantir na
sociedade a observância das necessãrlas obrigaçóes que decor-
rem da natureza social do homem. Ninguém pode pôr em
dú.v~d~ o valor do progresso da legislação social.
. Todavia na exaltação doa deverea Impostos pela justlca
não se deveria negligenciar ou menosprezar o vaJor e a neces-
Bldade do exerc:c1o da caridade. A prât1ca da justiça não BU~
prime a do amor, principalmente amor cristão. Com efeito;
• caridade é a alma da justiça social, de tal modo que o clda-
dlo deve procurar cumprir a lei em espirlto de amor ou carl·
dade. Com outras palavras: a just1~a há. de ser considerada
nlo como algo de absoluto. mas como um requ1s1to da cari-
dade•. . . o primeiro e mais indispensável requisito da caridade.
Els sãblas palavras de PIo XI :
"A JUS11~ .oel.1 deve penelr.r compltlllmenle u In.tl1ulçOa e •
vida Intern. doa pOVOl. SUl. .lIde" verd~ol!am'l\le operanla d_se
manl_tar aobretudo pela ·cll.çao d. um. ordem )urldlca e .oclal que
Informe toda a vida econ6mlca e cuja alma a'l* a c.rldade". (anc.
."QulclraQnlmo Inno").
.
De resto, o próprio fU6aofo pagão Arist6teles (t322 ....C.1
exortava os legisladores a fomentar a compreensão a.migivel

-454-
CARIDADE OU JUSTIÇA!

~ mÍltua entre os cidadãos; Isto Da deverIa preocupar 'maia.


dilJa, do que lazer observar simplesmente a justiça, pois 8 jus.
tlça regula apenas a conduta exterior do homem, ao passo
que a amizade une os corações: cA justiça não seria necessãrla,
se entre os homens relnuse perfeita am1zade., conclui o
filósofo.

2. Justl~ e <arlclade
Em última análise, justiça e caridade são tnseplU'llveJs wna
da outra, de tal modo que justiça sem caridade se torna corpo
sem alma; doutro lado, caridade sem justiça equivale a viola·
-çAo da ordem e hJpocrIsla. Multo a propósito obsel'V6 Pio Xl :

"Uma prataMa carldada que priva G IIp.rirlo do allJlrto a qUI tam


dlrulto, nada 11m da verdadel,.. Cl,ldadei nlo • mab do que '1IIIdade e
a/mullçlo. NIo .. deve dar ao operf,rlo, I titulo d" esmola, o quo lha
'locI .. titulo da Ju.I!;I; e nlngu'm , licito lunar... liI. GrlWfl ob,lgaç6el
Impotlal pala Juallça. concedendo presente. I titulo de mtl.r!córdla"
(.no. "OMn' Redlmplorl.").

A necessidade de Que justiça e caridade E·e entrelacem mu·


tuamente, completando reciprocamente as suu func&s. de--
.preende-se das seguintes consldl!1'1lções:
1) A justiça. leva·nos facllmente a considerar o próximo
'cOo\o utrtnl cldadio, com o qual cada um de nós deve conviver;
o seu papel, portanto, consiste em delimitar e defInlr rigoro-
samente direItos e deveres de cada um ; por isto, tende a acen..
tUar barreiras e dIstAncias.
A carldade, ao conb'ârlo. une, pois leva a considerar o
proxtmo como ·um outro Eu, que devemos amar como· a. nós
,m'esmos. Com razão dIz_ que a ;lustlça. estabelece a ordem.
·os moldes. as estruturas, que a caridade deve encher de vida.
2) A justlça tem pot' obleto apenas o cumprimento de
obri~ ezterlores, sem levar em conta a personalidade ou
o intimo do cldadão. A caridade, ao invés, atinge os coraç6es.
procura compreender casos e pI'Gblemas pessoais, preservando
a .lei de caJr no esquematlsmo e 110 mecanIclsmo estéreis ou
mortais.
.A JustlI" pode talvez extinguir as raizes de conrutos ..,.
'cla1s. mal por si só não consegue aproximar e fundir os Antmos,
Quando talta um vinculo pessoal e afetivo para unir os dda~
.dios, . • experiência ensina que se tomam vás as melhores f~

.- 4.55 .~
" cpmGUNTE E RESPONDEREMOS, 179/197'

mulas"e "as mais slsteniâtlcas organIZações. "Em oonseqüêncla,


aflnna:'se que a 1ustiça, por si só, Constrói um mundo rlgido,
capaz de subjugar, sem contudo atrair .. . .. OU' uma casa bem
arrumada, mas destitulda. de oalor ._. ou ainda uma. mAquina
' 1

tecnicamente perfelta, -mas carente de lubrificante .para suavi·


zar o seu funcionamento.
3) Verifica-se que 8 jWitl.ca dá. apenas o que é emita-
mente devido. Contudo; mesmo depois de preenchidas as es..
.tritas obrIgações da justiça, resta freqUentemente um· vasto
setor de angústias e indig!nclas cuja solução não está contida
dentro de categoria ou sob' titulo algum de justiça. Mesmo' o
Individuo cujos direitos são plenamente respeitados. freqUen-
temente ainda apresenta lacunas dignas de atencão, para as
quais só' a caridade pode dar remédio adequado.
._ LeVe-"se em conta também que o gênero human9 estará
sempre sujeito ao flagelo de inundacÕes, terremotos. erup!:ÕeS
vuleAnicas, invasões de povos belicosos . . _, em conseqüência
do que haverá sempre órfãos, mutilados, anciãos desampara.·
dos ;. também e~í$ão se!1lP~ mala .industriosos e .9utros me-
ço5 Industriosos, os. quais,. co.mo se compreend~, se encaminha-
ráb dIversomente na ·Vlda. Por maJs que se aperfeiçoe a huma-
nidade, jamais será possível evitar as misérias e os sofrimentos
decorrentes destes vários fatores; Dio há, nem ha.verá. forma
.de Governo, por mais aprimorada (tue seja, que· possa . isentar
os povos !1e tais ma1es. _•. E. para dar a ~tes Q·dev)do remédio,
será . sempre necessârla a abnegação generosa que e.s ~e1s do
Estado não conseguem obter, mas Que o amor 11 Deus e. a ca-
ridade cristã podem suscitar.
Em suma, . ,quem age por justiça é um homem correto,
mas sem a caridade não é ainda um homem bom. E mesmo,
levando as coisas. com rigor, nem ~ ainda pert"eil:afllente CQr-
reto. Porque summn.m Ius, sutruna laluria - a justlça rigorosa
·toma·se às vezes ocliosa injustiça; O f.Uho de pais Indigentes
que enriqueceu e di a seus pais apenas a -pensão aUmentar pres-
dita pela lei,. não é justo; é horrIvelmente Injusto. Há uma
única maneira de ser justo: é ser caridoso. A justiça que faz
'abstração do amor, não é mais justlça.. (C. van Gestel. «A.
Igreja e a questão social • . Rio de Janeiro 1956, p. 161).__ .:
4)- Por fun, .pOde..se 'o bservar que. a jusüça,soclal, prece--
·nlzada pela enclcl1ca , Quadrages1mo 8000:10, não. é ~itamente
inspirada · pela fé . crIstA · (ela se deduz. dos' pclnclplos mesmos
·da .sabedol'ia "humana. anterior . à..~velaçã6 trobrenat..uml). Con:;.
CARIDADE OU JUSTIÇA?

tudo ela só .se; desabt:ocba plenamente na. base dos conceitos de


:Deus.e do bJmem que a fé cristã incute. Com efeito, é o Evan-
gelho que leva 8 considerar os bens materi!'lls como . criatW'8S
e".propriedades de Deus, .entregues ao mero uso dos ·homens ;
é também o Evangelho que !a2: apreciar o gênero humano todo
CQtnQ.;a·farnIHa .qos filhos de Deus. A cjustiça socla1~ .adquIre
então seu colorido mais vivo: vem a ser a cjustica de fam1llu
dos fllhos de' Deus. .
. Voltamos' agora a nossa atencão para uma questão multo
Ugada às anteriores :

3. Caridade é humilhante?
Abordaremos o assunto por. e~pas :
.: : 1) ' Existe runa caridade que, pelo modo como é pretlcada,
avass~a ~ htimilha 0 . indigente. Tal caridade sempre Cal e serA
condenada ·pela Moral cristã. Observ~-se que a nota má d~
caridade está unicamente no modo como é executada: ... com
ostentação, com arrogãncia, com exigência de · certa compen-
sação .. ~
Está claro que não é esse tipo de caridade. tão deturpada
pelas' suas, clI'CUI)Stânclas, que visamos a defender. Interessa-
~nos focalizar a caridade em si mesma ou 'como ta1.

2) A caridade é uma virtude.... expressão genuIna (ia


nobre alma humana. Por isto é valor perene, corno a c:Ugnldade
humana é valor perene.
Note-se que a jusUça tende a co.nal1zar a atividade do
.JJomem, mostrando a linha divisória entre o que é dever e o
qúe não é dever; assim a justiça pode facilmente tomar me-
clnlcas e «esclerosadas.. as expressões da personalldade.- Acon-
.têcti, porém, que -8 .alma humana é essencialmente- celástica. e
dlnãmica: é indefinidamente aberta para o bem; desde que ela
se feche dentro dos limites do devIdo e do não-devJdo, depau-
pera-se.
"Depois Que alguém tenha dado ao seu semelhenle tudo I. QUe este
1em direito, fllnde Ilce aber10 amplo setor para a caridade ••• Só haverlt
verdadeira colaboroçlo de Iodos para o bem comum quendo todos po8-
aulrem .. col'IYl.e~.o Inllma da ler (11 mombros dEI uma grande lamn.. e
os /IIhos da um mesmo Pai çalelle, formando um s6 corpo em Cristo':
lPlo XI; ene; "Quad'ragestmo .nno"), .
(6 <PEllGUN'I'E E RESPONDEREMOS. 119/lt14 c•

.Há um genulno valor humano em cdar» e \DII genulDo


valor humano em creconhecer a 6âdiva~, cser grato ao doadon.
Ora esses valores jamais poderio ser suf<lcados por modalidade
alguma de Proere8S0, sem que se mutUe ou defonne 8 alma
hwnana mesma.
Jt o que Claudel tão bem incute na seguinte passagem:
I·A carldldtt nlo t,' como Ilgutll flz:aram cr.r•..• Q ex.relelo di
uma superioridade, da l uperlorkfl,da da quem pOlSul lobre quem nlo
poslul; ela • •Impltsmanta o nome religioso do amor; .ta , • necn.~
dalh qllll lImo. do próximo, nlo .om.n~ do bem quI o próximo r'IOI
podl tuar, m.. do bem Indlspena6v11 qUI alI nos faz pelftllllndo-ttOa .ue
n6I lha laçlrmOS o bem. Come'a • mal, Injusta, a ma" lremanda das
ofensas aque" qUI d,stról <tu dltnlnlul Im n61 o dlr.1l0 .."mo que
lemoa de lazer o bem UNI aoa oultQl •.. O mUlmo da bem ponlvell
E preslll .Iançlo : ... nlo lemo. lomanl. o direito, mas lemOI t.mb~
• capacidade da lazer o bem I Enio , tanll. da pouca monta, a da
aprendermOl a nOI .ervlr de", personagem qUI 6 cada um de nÓl, eom
loda • rlquazA da leuI recunlo," ("Qul na lOuffrl pu .. . .. 1959).
AInda a propósito vêm as pe.Iavms com as quais Ozanam.
no século passado. respondia aos que consideravam a caridade
como algo de aviltante para o pobr~ : .
"Sem dClvlda, nlo blS'a alMar o Incll"anle dia por dia; • pl1KlllO
p6r ml.Ol • raiz do mal I, mltcllanle -'M.. ~Iormu, diminuir aa CaulU
da mla6rla públlCII, NÓI. por'm. allrmamos que I cltncl. d.. reforma
benllllcu .. aprenda menol nOll livrai a n.. tribunas d.. usembJ''''
do que no Irabalho da lublr OI degraUl da cua do pobre, da Acer •
.ua cabacelra, de lofr.r o malme Itlo que .Ie, d, Ih, Irrencar, na ,1\1,10
di uma COlWttH amiga, o '.gredo do .eu coraçlo duoJedo. Depola di
tar de..mpenhado .... , .....fa, nlo por .Igunl mese., mas durante longM
anOl, •.. comaçemM e conheear OI elementos deue tremendo problema
ela m"6rla 'a tamOl o direito da pf'DSIor medida "rlal; entlo, em vez de
lanç.r o ptnlco na . oeledada, levamo....h. caMolo e _peran9l" (er. Lal\-
uc de lIborta, ,.t.. Fendata"r de 'a Soe1616 d. Salnt·VIrM:ent-da-Pav''',
em "Ozan.m. La Uv,. du Canlan",.". Par. 1913, pp. U0-142).
Estes sibl09 dJzerea de Ozanam dlspensam qualquer ~
mentArlo.

-458-
ESTANTE DE LIVRoS...... 41

estante de livros
o homem iI proeu,. ele Dtua, por AtJraham J. Hesehal, Tflduçlo do
Ingl18s por Euclides Carneiro da Silva. - EeI. Paul/nu, Slo Paulo 1974>
110 x 190 mm, 195 pp. .
Abraham JOlhua Htilchel ·' um Ilraellta que fez leu. elludol na
Alemanha e clepolll, coagido pelo necfon ....oclallsmo. eml"rou par. oa
Estados Unidos da América, onde lecionou IHlca JudaIca a MlsUcI no
Semln6J1o Judaico da Arn6rlça. Falaceu em 1972. com 65 anol de Idade.
Teve uma vllllo rellgloaa tio aberta que foi recebido em colóquIO pelo
S. Padre Paulo VI. Elle, anh. em l ua alocuçlo de 31/1/1973, citou um
livro ela Abraham Hesctiel Inlltulado "Deus .. procura do homam", obaar·
vendo que, atram ela leltura desla obra...taramo. a surprela de "'.aco-
brlr que Deus velo ti nossa procura multo anle. que nós começUaemos •
procurl.-Io e que Ela nos procura Infinitamente mais do que 10mOl
capazes de fazê-Io" (cf. "La Oocumanlallon Cathol[qu." n9 11528, p. 153).
Três alo OI livro. mais conhecidos de Heschel : "Deua ti. procure
do homem", ''O homem ti procura de Deus", "O homem nJo .. " 16",
publicados em Iraduçlo portugualL I! o tlgundo dos m..mos qUI aqui
'pfWunlamos.
O lema dominante do livro • ., oraçlo, na medld. am qua ait.
exprime a procura de Deu.. por parta do lIomem. O 8$1110 , "."uaclona'"
mal3 do que especulativo ou .cadlmlco: H..çhal "quer .profundar "lo
oa CloncaUos. mes a.. slluaç*. que .10 ..nterleres aqa conceitos": ...If'l
'anclone propor "uma taologl. cra profundidade". Em conaeqlljnela, e livro
es14 chalo da ep[s.ódloa tlladol do T.lmud e da IradlçAe Judaica, am Que
o homem apnreca na .ua sofreliluldlo de oauI i ne.... allua9Oa. paIM
ha~r oOlaçlo altamenta agr.dAvel • Deus, embo,. 0100 express. por pai..
vras ou lórmulas cfw[caa, mat, .Im, pala .Implt. oOlerta que 00 homem
faOll a Deus !ie seus anaelos D de lua dor de nlo Mr o que desejaria aar •..
Verdade • qua o autor, sendo Judau, nlo alude a C,llto e aos va-
lores explicitamente crlstlos para fundamentar • vida de oraç..lo; aaMHe
principalmente de palcolegla. da lIIoso11a d. Marlln Bubar , d, concep-
ç6Ita rablnlcas. Todoe esles dados, porém, ele perfeItamente .celtá....l. a
um crlstlo: o Crlstlanll mo rol, sim, preparado por [erael e , noa .uttn\lçol
valeree de Israel que o crlstlo enconlr. os prlmOrdl08 da aua "plrltuaa
lidada.
Eis por que eludamOI com pruer a 1raduç;J.o brasileira do livro Iclma
enuncl.do e }ulglmoe que poderA ser allamente utll eo nono publico de
cultufll m6dla, nlo 16 pelo I8U cenlelldo leelÓglco. ma, tamb6'm por cola.
car crlltlos e ludeuI am contalo me'. dlreloO li Iraterno.
Deus te ..pera, pelo Pe. ~llredo Pérez. - EdlOlo partlculer, Rio de
Janelre 1974, 140 lt 210 mm, 273 pp.
O aulor 6 prolellor da Universidade Gama Fllllo (GaJ. onde leciona
Direito C.nOnlco e Cultl,lra Rellglos. par. . . tudante. de Direito. Como
resultado d$ .u. . .ul .. , o Pe. Peru escrevau o livro .ctma, no qual ore-
rece um comp6ndlo de teologia e de mOfal c. tóllces. A obra. ~Iglda em
e,lIlo sucinto 8 precIso, de,lIna-se de modo "er.' aos IIslud.n_, mamo
de glnblOl e col'glo. , assim como a tod •• as pesaoas qua, lora d....
cota, desejam adquirir .lguma lormllçlo rallglosa. T.lvez al"uM leIto,..
estranhem a manelr. tlqulmAtlça como alo formul.dos no 1I'IfO Da prfn-
clpala, t6plcos da doutrIna cat6l1ce; p,eclae.lo de uma aplalenlaçlo oral
da mat4r1a que d, plena vld. e II;nlllca;lo .0 lexl0 do livro.

.-~9 .-
'8 cPERGUN1'E E RESPONDEREMOS. 17911974

Em um ou outro do eeua comentAria. blbllcos, pergunta-$o 10 o lutar


seguiu a senlença mais proyll\tel: assim, por ,exemplo, .. p. 172, pareta .
lupor I un iversalidade do dUtívlo (Gên 6-9) - o que realmente nlo ,
tese aceita, mesma nas escolas exegél1ces católicas maIs ortodoxas: 1
p. 4S, o autor prefere, como mala provável, a hlpóléSe 'Ixlsta, •• gundo a
qual o corpo do homem nlo proc::ede do de um animai Irracional; o evo-
lucionismo n60 8a aplicaria à origem do corpo (1'110 diurnos: .. . dlll
filma,) dos primeiros homens. Ora lambem oa mais seguros lutOro. Clttr
!leoa hoje em dia tem por sentença verosalmll que a evofuçlo do corpo
humano (nlo da alma) a pat1lr do prlma'a é um fato; a dou"ln. da - fé
cal611ca n!o 18 opõe a e", tipo da evolucionismo, desde que I' admita
que 10<11 e qualquar .Ima humana é dlretamenta criada por Deus (cl.
Pio XII, en<:. "Humanl gene rls"),
Estas obsorvaç3es nao prelendam diminuIr O apra,a que merece a
obra do Pe. Péra:, Ela tem seu valor como tltxto-base de aulas mell lalve:
do que como livro de ICilHura IndivIduai.
Inlroduçlo i\ BI~III, VIi. Atos dos Ap6slolol, SIo · Pll.lto • • epl..
tol... aol TossoJoftlcen:ael, 1 e 2 CorlntlOl, G"lal .., Romanos, por T. 8alla-
rll\l. S. Clprl8n~ C. Ghldelll e 011110 •• Treduçlo de Epl'llalm Fellelra AIY8I.
-. Ed, Vozos, Palrópolls 1974, 170 x 273 mm, 558 pp. ~

cinco A::I~m!~ :~ar~~~:d~Ç~~d~Ç~~b~:, ~~r\~I~m :o~u:ll:r~nl~oI~~gfll~·~


LVOllnol, e elaborada por bons o.xegelas lIallanos. Dessa cola,lo lá exl,..
Iam em traduç!o portuguesa o yolume I (Inlroduç!o Gora!), o vol. IV
(Evangelhos) '· e o vol. V dividido em doia lomol (Aios, Eplololas 8 Apo-
calipse), Aguardllm-se ainda os vo[umn da Inlredução especial nos IIvrea
do Antigo Testamenlo.
A.obra " mlnuclo~a e bem orlanl4da, Constitui uma wrdadelra mina
da documentação 8 d. IndlcaçOes hmlonogr"lcas, taol6glcu, arqueológl-
CIS , ." aem perder o seu esU lo claro. aeeulvol. Come!;a por apresentar
O mundo g;ec~romano no tempo dos Ap6-'tolos - o qua serve de fundo
de cena .para Introduzir o livro dos tAIOI e as cartas paullnu; também a
vida do Apóstolo Slo Paulo 6 reconslllulda com as olcllaçlle'l que li
eronologl.a deixa abertal. AI~m das rlOÇIl8. Introdutórias em cada uma das
chamtll:la.s "grandos epll lola.", o. autore' oferecem a exegese de ••cçGq
Importantes desses elclllos, elabolllndo uma 18010gla paullna 01.1 blbllca;
1110 vem suprir, em parte, a lalta de coment6rloa clenUflcOl do Novo Tas-
"manto no Brasil. Nlo s. pode d~lxl!lr de monclonar as 26 fotografias
IIUlu.tlve. que ' . obra reproduz esparsa, entre o, .eus tratado.,
Fazemos volos psra que sa completa ..m demora e pubLlcaçlo <ta
r::oI8t4nea, para que pOS'3a servIr aos nOE",S estudantes de toologla li aOl
" 'Sloa de cutlura em nosso 8rash.
Por· trá, da~ palav l'lI~, por Corlo~ MUlerl, VaI. 1: Um .~tudo tobre
e poria de entrada no mundo da Dlblla. PublIcações CID: Exegose/l·,
- Ed, Vozes, PetrÓpolis t074, 137 x 210 mm, 257 pp.
O autor lá • muno conhecido no Brasil por suas numerosas obras
de Introduç!o e de exagl'" b lbHetls. Deste V8l, apresenta-nos uma Inlro-
d uçlo ' · leltura da BlbUa de caráler poputar, Frei Carlos tem-ae esmerado
no IIpostolado blbllco antre a genle slmplfl: para lanto, procura usar lin-
guagem eXlrelnólmente clara. eM; embora Meslel3 possua notável era-
·ctlçlo, nlo fu ostontllçlo da mesma, mas IImlto·se a expor aa conclus"es
que, decorrem de osttldos profundo~; assim 8 aua ; obra se lorna eces,fvel
·a vasto cIrculo do lellore!l, pllnclpalmonla .ao. que desejam começar a
familiarIzar-se com .. Escrituras Sagrada"
A ','efa que Frei Carlo, M•• t.... vem desenvotv.nclo, atende a real
necessld.de da paslor.' blbl1c•. VA,lu das Imagens e compareçO" que
Ule, 110 lellzes e .... lvezes. eontrlbulndo . para IlumInar poderosamente o
e!plrlto do. lellorn (1enha-se em vista, por .)templo o c, 9, com o titulo
"Ouatro comparaç~", pp, 231-235). ,TodavIa pode-se, pergunlar ae 1'110
ex.gera um lanlo, preocupando-se demais com determinada forma de
vuIgarlzaçlio da Blblla, que dlmlnuf ou silencIa notllvels riquezas ,espiri-
tuais do texto blbllco õ o a ulor 'em am ... Iate quase exclu.lvamenta cerlos
anseios do homem . de hoje, m.s nem aempre realça eullclentemenle o
que o taxto blbllco quar dlur em ai masmo ou em .toda 11 sua profundi-
dade e amplldlo. .
I: e.la ob!>ervaçlo de b.,e qua aese/.mol propor ao aulor; 1'110
lhe . 18rle poulvel (mesmo dentro de pe"pectl... a .de vulgarl;r:açlo) colocar
em aeUl IIvr09 um pouco mais de leologle tllbllca ou desenvolver eer1O$
tama "9undo IOdol os aspectol doulrlnell com que a Blblla os .propOe?

AI fac" do lolrlmento. por Roque Schnelder. Colaçlo "Evangelho


e Vlda-2". Ed, Paullnas, '. Slo Paulo 197<4, 110 ~ 160 mm, 91 pp.
Quem feIa em sofrImento: loca uma teci. Que todo homem I.nte
vibrar dantro de si. pois nlo h' quem nlo ,carregue 8 eua cruz. C pre·
d'Amante am vl,Ia disto que ROQue Schoelder. lulor de várlM opúsculos
de eaplrltuel1dada, aprese nte eo nosso pübllco este precioso volume,
Encara as diversas lac.tes do lolrlmento (a .d. doanç. IIslclI, a d. dor
moral. . .1. procurando mostrar que a conllguraçlo I . Crlsto padecenle 6
penhor de parttclpaçlo na nlssurnllçlo • til 'glória do mesmo J.sua
Cristo. O ...olum. se Inicia com . el s.gulnt•• pslevra. :
"Oac:llco 8'Sle livro a, todos OI coraçees eofrldos que .Inda nlo de$-
cobriram o sentido profundo do IOfrlmsnto . ... Estamos lodos no mesmo
barco, um pouco evarlado, singrando pelo mar lampasluolo da vida . . ,
Companhelrol ,de lorl'\ld., de Ideei. colegas de alegrl., 'e tribulaç6ea,
eacutam bem : Ceus dA ali crute. e OI ombol também, E . " hoje no
mundo nlnQ.uém como Ela 101 lao edmlo 8 · ganlal l na arta d., propor-
Çõel" (p, 5s). I
O ·'.cho do livro m.nclona o seguinte ep!s6dlo: "Certa oc11110.
algu~m conrldancleu ao grande músico Hayden : 'Maslnl, muitos critICam
• sua mu,lca de lora,a, por I.r ,Iegr• • lestl...a'. - 'Nlo t. nho outra
:IIaldl, r.pllcou Hayden. O pensam.nto da O.us. no mau coraçlo, suscita
uma alegria Inllnlla. 'que 1'110 la.1 eecondar''' (p. 117).
~ entre estes tópicos que o autor desenvolve suas' elmplDl e pro-
lundas rell.xO&s aobre o lolrlm.nto. Possa o · livro I......nt.r o Animo de
muitos Irmlos qu., telvez S8m motlv() declltvo, ae senlem prostrados I
A fonnat;1o di comunidade da lov.ns, pelo Pe. L.c.rda s. J. Cor..
çlo "Juvantude • Cr.sclmento na IA" n9 2. - ' Ed. Paullnaa . Slo P.ulo
197"', 110 x 190·mm. 299 pp.
O · PII. Milton Paul O de l.cerda 5, J, 6· o coordenador da Pa.lora'
d. Juventud. da dloce•• d. Santos (SP1. JA tendo mala d. 0110 .nos de
.xper16nclas • pesquls.s neste .elor. O presan!e !lvro vem a ser .a co...
(Continua na pág, "'28)
• • •
(ConlJnu.çlo da "'. capa)
Eu "lo sabia, 6 nlo, que eras Tu_
- Eu te perdoo, disse Ele, mas a glória de servir-me
Nlo podarA locar a U.
Deixando de 'azê--Io a um dos meus,
DelxlSle de '.z6-lo a Mim· ".
R. P. Yubero
o cilsto desconhecido
Há lempos 11 famoso poema Inglês cuja ... Anela desejo
ira'uicrevlr ; . .
liA aldala • • 11'18 em ,••••• Naquele dia o Mestra I. vI, l·
16-1• • • • flo. pederla em uma c .... ninguém sabia quel.
'Oh, se vi. ... ter aqui em cal. I', dizia consigo mesma
seul ••forços par. limpar. arru·
uma mulher. E ·redobt'lva 4:»1
mar • embelezar todo. OI recanto. do seu 'ar. QUlria pre-
parA-Ia par. receber o Senhor com toda a dignidade.
Bateram 11 porta. Emoçio I Seria Ela? Nlo; era uma,
pobre vizinha e.rlbuladà qui. procurava em' busca da consíllo.
'NÃo te posso atendar boje, re'P:Ondau 8 dona de cae•.
Tenho <:ols.. mais Important••, que absttrvem a minha
•.'Inçlo',
A mulhar desolada foi.... Dentro Im pouco bateu • porta
um ançllo magro, 'raco e CiOXO•.
'Permita-ma qUI pare aqui um pouco • descan••, dltse
o desconhecido. Caminhei a manhA Inlelraj agora e.tou com
fome e .lntoLme can.ado'. ~
'Lamento, mas hole nlo te po.so acolher', re.pondeu 8
piedosa tenhor• •
Oepols cintas Inlerrupç&ea, ela ralomou seu trabalho com
mal. aflnco.-Tomava· •• tarde. O Mestre podia chegar a qual-
quer -Inl'anle. .
Bal~ram pel. lercelr. VOL Era entlo um menino da ••m-
blente temo • formoso. Notav.... qUe tinha chorado. Tra-
java roupa velha e andava descalr;o. A quanlo parecia, tinha
caldo j ainda . a via .angue em seus dedo..
'Pobrezlnhol, exclamou a mulher. Slnlo que venha. ne. 'e
momento: Se ·fosse oulro dlal' O menino enlio olhou-. supll-
canle por ·un. ,.gundos. E l ogo desapareceu.
A larde I' adiantava. Era quaso nolla. O Ma.lre teria
Ido para oulra casa? Conludo a mulher contlnurt. upe-:
rando e re:zando. fe:z-.e mela-nolle e o Me.tre 010 viera.
Todo o . eu ' trabalho havia .Ido vlo I
De repente apareceu o Me•• re. Seu I8mblant• • r. nobr.;
.eu olhar, .'rlo ... Assim falou Ele. dona d. caaa :
'Tr" vezas hoje bati • lua porta
Implorando socorro 8 campalxl o,
E Ir', vezes Me de.pachas'e,
Sem me dar auxilio, sem caridade.
Perdeste hoje • blnçlo que Eu te trazia;
A oportunidade da .ervlr-Me esvalu-... .
- Senhor, Senhor ·meu; perdia 1
(Ccmtlnua na 3' Cipa)

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