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1. Introdução
Conta-se que certo boi, chamado Bob, vivia contente em todo momento,
enquanto todos reclamavam do capim seco e do feno sem cor. Tudo que se via à
volta era marrom ou acinzentado. A morte parecia certa. Bob, entretanto, era o único
que estava animado e com boa aparência, enquanto os outros reclamavam e
definhavam sem comer.
Qual a diferença entre Bob e os demais bois? O que o tornava diferente?
Quando ainda novo, Bob ganhou uns óculos com lentes verdes. Ele se afeiçoou aos
óculos de forma que não os abandonava. Assim, quando todos viam o capim seco
amarronzado, Bob o via sempre verde. Continuava feliz e se alimentava.
De semelhante modo, ao olharmos as Escrituras, somos influenciados pelas
lentes que utilizamos. A visão macro hermenêutica que possuímos determina a
significação do texto bíblico e a interpretação profética. Como adventistas, somos
convidados a abraçar a visão hermenêutica dos pioneiros, baseada na Doutrina do
Santuário e tendo como pano de fundo o Grande Conflito.
2. A Hermenêutica
A hermenêutica pode ser descrita como “ciência (princípios) e arte (tarefa) de
apurar o sentido do texto bíblico” 1, desta maneira é o método determinante da forma
como abordamos a Bíblia e conduzimos a interpretação de seus textos. A macro
hermenêutica ou “visão” que o indivíduo tem determina a forma como enxergará a
teologia bíblica, levando à prática. Então, se sua teologia for correta, sua prática
também será. O contrário também é verdadeiro.
Em nível macro, a hermenêutica rege nossa filosofia, isto é, a cosmovisão
pela qual enxergamos, determinamos significados e compreendemos o mundo. No
1 ZUCK, Roy B. A interpretação bíblica: meios de descobrir a verdade da Bíblia. São Paulo, SP: Vida Nova, 1994.
nível meso, determina os conceitos e doutrinas. Assim, conduz a sistematização que
se faz do texto bíblico. Destarte, ao nível micro, a hermenêutica conduz o estudo
textual da bíblia, a exegese que se realiza.
Percebe-se que há um movimento do nível macro para o micro, passando
pelo meso. Este fluxo é natural e indutivo. Podemos ilustrá-lo da seguinte forma: se
tenho determinado que uma ovelha é roxa, naturalmente, então, ao ler um texto que
fale de ovelha, a terei como roxa. Assim, vê-se que há uma grande dificuldade nesta
análise, já que nossa cosmovisão pode determinar um significado diferente ao texto
sagrado.
Então, faz-se necessário fazer o movimento inverso de forma intencional:
tenho ovelha como sendo roxa, mas o texto parece indicar algo diferente, logo, devo
aceitar que minha pressuposição não é confiável. O texto (nível micro) deve alterar
nosso conceito (nível meso) para que haja uma alteração de cosmovisão (nível
macro). Esse processo deve sempre se repetir até que a nossa visão seja, dentro do
possível, puramente bíblica. Portanto, aceitamos a Bíblia como intérprete de si
mesma e fonte confiável de toda verdade.
Para Canale, a teologia produzida no nível macro hermenêutico – Teologia
Fundamental – é a base para a produção da teologia bíblica e sistemática. Logo,
tendo uma base sólida e uma teologia posterior bem construída, habilita o intérprete
e posteriormente a igreja, na prática adequada, isto é, conduz à teologia aplicada.
Entretanto, o inverso é perigoso. O pragmatismo religioso é extremamente danoso.
Faz a Bíblia se adequar a nossa prática quando nossa práxis ministerial deveria ser
escrava da Palavra. Dessa forma, a teologia deve guiar a estrutura da igreja, e a
estrutura da igreja, por sua vez, deve preservar o ensino teológico. Quando a
estrutura denominacional se torna tudo, o ministro se torna um agente em ações
diversas e se perde como teólogo, com autoridade bíblica.
Carson2 exemplifica de forma clara a importância do assunto aqui abordado:
“Se alguém cometer um erro na interpretação de umas das peças de
Shakespeare (...), é improvável que isso acarrete consequências eternas.
Mas não podemos aceitar facilmente uma complacência semelhante na
interpretação das Escrituras. Estamos lidando com os pensamentos de
Deus; somos obrigados a nos esforçar ao máximo para entendê-los
verdadeiramente e explica-los com clareza.”
2 CARSON, D. A. Os perigos da interpretação bíblica. 2. ed. São Paulo, SP: Vida Nova, 2007.
Assim, a Igreja Adventista do Sétimo Dia assume a responsabilidade de
apresentar a Bíblia e somente a Bíblia como a verdadeira Palavra de Deus, fonte de
fé e prática, tendo uma solene mensagem para o mundo.
7. Conclusão
O referencial para compreensão da Bíblia por parte dos pioneiros foi a
Doutrina do Santuário, o pano de fundo do Grande Conflito, a interpretação
gramatico-histórica, juntamente com o abandono da tradição protestante e da
filosofia Católica Romana. A mudança de ênfase da igreja da teologia para a prática
levou ao abandono do estudo das Escrituras e eclipsou a revelação bíblica e sua
autoridade. É indubitável a possibilidade de retomar o caminho, reafirmar nossa
teologia, ser o remanescente e cumprir a missão.