Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
hispanique médiévale
Barros Clara. Convencer ou persuadir : análise de algumas estratégias argumentativas características do texto da Primeyra
Partida de Afonso X. In: Cahiers de linguistique hispanique médiévale. N°18-19, 1993. pp. 403-424;
doi : https://doi.org/10.3406/cehm.1993.1094
https://www.persee.fr/doc/cehm_0396-9045_1993_num_18_1_1094
ARGUMENTATIVAS CARACTERÍSTICAS
DE AFONSO X
L'argumentation: essai d'une logique discursive, Genève, 1976, pp. 58-59. A dis-
cussâo em torno da definiçâo do discurso argumentativo estende-se até à p. 69.
404 CLARA BARROS
5) Na origem da palavra catequizar está de facto o verbo xa-njxéto -o> : ressoar; fazer
ressoar ou ecoar nos ouvidos; ensinar (auditivamente); instruir de viva voz na
fé, donde xai:r\x.r\csoLç : catequese; ensino auditivo religioso.
6) Diz-nos o autor no título III, 719-721, «E como quer que sse faca grande alóga-
mëto ñas palavras del teemos por grá dereyto de poermos ... ».
7) Os processos de justificaçâo podem ser muito variados e os argumentos podem
ser de índole diversa; de ordem ética, estética, normativa em gérai, ou até simples-
mente de ordem prática; de momento só váo ser analisadas as tres estrategias
argumentativas referidas.
ESTRATEGIAS ARGUMENTATIVAS DA PRIMEYRA PARTIDA 407
«Linguagë grego como quer que seia linguagë ha en elle hüas pala-
vras certas que mostrâ grâ rrazô» (111,204-206).
ainda aqueles em relaçâo aos quais nâo se pudesse emitir opiniáo contraria,
como os deuses, o (próprio) pai ou os (próprios) professores {Retórica, liv. II,
cap. 21, XI, 1398 b; ed. Utilizada: Rhétorique II, Paris, Les Belles Lettres, 1967).
11) Em latim, exemplum, segundo A. Ernout /A. Meillet, Dictionnaire
Étymologique de la Langue Latine, 14e éd., aug. et corrig., Klincksieck, Paris, 1979,
significa va «échantillon; exemple, modèle; copie exemplaire; exemplum est
proprement l'object distingué des autres, et mis à part pour servir de modèle».
Na Idade Média, a palavra exemplum tinha pelo menos dois sentidos,
segundo J. Claude Schmitt (J.C.S. éd., Prêcher d'Exemples; Récits de
prédicateurs du Moyen Âge, Paris, 1985, p. 10): «Le plus commun, hérité de l'Antiquité,
est celui d'exemple à suivre, de modèle de comportement ou de vertu, que ce
mot désigne une action ou un personnage 'exemplaire', un saint, ou le Christ
lui-même. Parallèlement un sens particulier du mot s'est dégagé
progressivement dans l'histoire de la grammaire et de la rhétorique; l'exemplum comme
type particulier de récit». Note-se que o discurso justificativo da Primeyra Partida
utiliza o exemplum nestes dois sentidos; utiliza Cristo como modelo de compor-
tamento e virtude, mas também como protagonista de pequeños episodios
narrados.
12) Cf. Perelman {Traité de l'Argumentation, p. 490): «Le fait de suivre un modèle
reconnu, de s'y asteindre, garantit la valeur de la conduite; l'agent que cette
attitude valorise peut donc, à son tour, servir de modèle: [ . . . ] sainte Thérèse
sera inspiratrice de la conduite des chrétiens, parce qu'elle-même avait comme
modèle, Jésus».
410 CLARA BARROS
«E esto se dá a entender por Ihesu Cristo que foy brâco e lïpho e sen
mazela e a ssemelhâte do cordeyro» (111,658659);
«daquelas cousas que ouue e ha en Nostro Senhor Ihesu Cristo onde
ela rreçebeu nome ca o balssamo sse entende por boa fama e o olio
por boa vóotade. E destas duas cousas ouue en ssi enteyramente
Nostro Senhor Ihesu Cristo mais ca ne hüu home que fosse ne seeria»
(111,107-112);
«esto sse entende por Nostro Senhor Ihesu Cristo que he luz uerda-
deyra e alumea todalas cousas cada hüa següdo conuê» (111,380-381).
13) Dá-se, neste caso, sensivelmente, o que diz V. Florescu (La rhétorique et la
néorhétorique. Genèse. Évolution. Perspectives, 2e éd. entièrement revue) a
propósito dos pregadores: «La différence capitale entre Y ars praedicandi, que d'aucuns
appellent, en exagérant, 'la rhétorique chrétienne' et la discipline traditionelle
consiste d'abord en la qualité de l'auditoire. Le prédicateur parle devant un
public déjà convaincu. Il n'a pas à transformer une res dubia en res certa».
A persuasâo está, portanto, facilitada em relaçâo a outros textos e as
estrategias argumentativas nâo sendo muito variadas, sao usadas repetidamente.
14) Op. cit., p. 4899.
ESTRATEGIAS ARGUMENTATIVAS DA PRIMEYRA PARTIDA 411
«Ca assi como este feyto tangue no espirital e no tëporal, assy aquel
que contra el for entendudo deue dar pea segundo justiça <de Deus>
e segundo [a] do mudo» (111,900-903).
«como das leteras naçe uerbo e dos uerbos partes e da parte rrazô
assy naçe do usso tëpo e do tëpo custume e do custume foro» (11,8).
15) outrossy tem um comportamento duplo. Tanto pode ser introdutor de mais um
caso (acrescentado à enumeraçâo), que constitui acréscimo à disposiçâo
anteriormente enunciada, ten do o valor de e também, o mesmo, a mesma coisa, como
pode ser introdutor de uma afirmaçâo que nao confirma ou contraria a dispo-
siçâo(ôes) anterior(es), sendo sinónimo de pelo contrario.
412 CLARA BARROS
(L C V) A (V C P) A (P C R)
(U < T) A (T < C) A (C < F)
L C V C R
U < C < F
16) A tendencia para atribuir sentidos ocultos a todos os números referidos vinha
já das tradicóes supersticiosas da cabala.
ESTRATEGIAS ARGUMENTATIVAS DA PRIMEYRA PARTIDA 413
17) Esta tendencia tem raízes antigás na tradiçâo retórica do Cristianismo. Recor-
de-se que já Sao Paulo falava da Igreja como corpo de Cristo»; cf. I Cor 12,12-28;
Ef 1,22 ss.
18) alegoría significa etimológicamente «discurso que faz entender outro», como
se pode ver na definiçâo, também etimológica, de H. Lausberg (Handbuch der
literarischen Rhetorik, München, 1973, § 895): «die Allégorie steht zum gemeinten
Ernstgedanken in einem Vergleichsverháltnis».
O texto da Primeyra Partida utiliza estruturas de tipo alegórico no sentido
em que procura urna correspondencia entre a realidade humana e o texto das
Escrituras e estabelece um sistema de constantes relaçôes entre dois mundos;
os elementos constitutivos de um desses mundos (o humano) adquirem, através
da analogía com elementos do mundo divino, o valor de símbolos e têm as mais
diversas significacóes segundas, de ordem moral e teológica.
414 CLARA BARROS
19) Observam-se por exemplo no texto do Foro Real, complexos usos retóricos como
o seguinte exemplo de estrutura característicamente alegórica: «assy como a
infimidade e a chaga que é grande eno corpo nó pode saar sé grandes maestrias
ne se grandes meezinhas por ferro e por queymas, assy a maldade dos que sô
endurados e pefyosos en fazerlhys mal non lha poden toller seno per graves
penas» (FR 1,83-86).
Observa-se aqui, também, a tendencia para a analogia organicista ou de inspi-
raçâo somática.
20) Como se pode ver no seguinte exemplo: «Nome da crisma he posto muy con
rrazó ca tato quer dizer como ungüento que he feyto per mâdado de Nostro
Senhor Ihesu Cristo, que amolenta e desata as durezas dos coracóes duros ...»
(1111,35-38).
ESTRATEGIAS ARGUMENTATIVAS DA PRIMEYRA PARTIDA 415
21) Cf. H. Lausberg, Handbuch der literarischen Rhetorik, München, 21973, § 900.
22) Cf. J. Murphy, Rhetoric in the Middle Ages, Londres, 1974, pp. 310-312.
Cf. também H. Caplan, «The four sensés of scriptural Interprétation
and the Medieaeval theory of Preaching», in Spéculum, a journal of medieval
studies, IV, pp. 282-290.
23) Cf. Perelman, op. cit., p. 540: «C'est même l'absence de fusion qui nous
obligerait à voir dans l'allégorie, dans la parabole, des formes conventionnelles, où
la fusion est, par tradition, systématiquemente refusée».
416 CLARA BARROS
24) Cf. as conclusóes parciais e final da lei 111.a do IIII? título, que figura em anexo.
ESTRATEGIAS ARGUMENTATIVASDA PRIMEYRA PARTIDA 417
25) Poderíamos ser tentados a afirmar que a utilizaçâo desta estrutura próxima da
sermonística decorre do facto de se tratar na Primeyra Partida de direito
canónico, mas a análise de alguns fragmentos da Segunda Partida, por escassos que
sejam, revela urna estrutura discursiva idéntica: asserçâo sentenciosa inicial;
argumentacáo com recurso a Modelo e comparaçâo; conclusâo; veja-se, por
exemplo, a estrutura da lei XI.a, do título XXI.°, da Segunda Partida, cf. José
de Azevedo Ferreira (éd.): «Dois Fragmentos da Segunda Partida de Afonso X»,
in Arquivos do Centro Cultural Portugués, vol. XXIII, Lisboa-Paris, 1987,
pp. 230-271.
26) Cf. J. Murphy, Rhetoric in the Middle Ages, pp. 301-303, que analisa
particularmente a obra do monge beneditino do século XI, Guibert de Nogent.
27
418 CLARA BARROS
A + B C
aiuntados ambos em hüü
Cristo
aiuntaméto [a que] chama crisma
420 CLARA BARROS
Clara BARROS,
Universidade do Porto.
422 CLARA BARROS
ANEXO
TITOLO IIII
Ley IIIa
ios Duas cousas som aquelas de que deue seer feyta a crisma
e nó d'al: a hüa [balssamo], a outra olio linpho d'oliuas.
E esto he de feyto per muy gram significaba daquelas cousas que
ouue e ha en Mostró Senhor Ihesu Cristo onde ella rreçebeu
nome. Ca o balssamo sse entëde por boa fama e o olio por
no bôa vóotade. E destas duas cousas ouue en ssi enteyramente
Nostro Senhor Ihesu Cristo mays ca ne hüü home que ffosse
ne seeria. Ca el ouue bôa fama conprida por que sempre fez bë.
E ouue boa uoontade por que todos os seus feytos e todalas
ssas obras foro con piadade e con merçee. E demays o olio do
lis balssamo e das oliuas som en muytas cousas, ssen estas cousas
duas que dissemos, ssemelhantes a Jhesu Cristo. E assy como
o balssamo achâ en hüü logar soo e no en mays em todo o
mudo, assy Nostro Senhor Ihesu Cristo he achado por Filho
de Santa Maria que foy sempre uirgë ante que delà naçesse e
120 entô e depoys; outrossy he el soo santo // (fol. 24 d) por que
noca foy ne seera Deus e home aiütado en hüü seno el. E ajnda
ha hy outra rrazô que assi como Nostro Senhor Deus he
poderoso sobre todalas cousas, assy Nostro Senhor Deus he
poderoso sobre todo. E assy como Ihesu con seu Padre e cô
125 o Spiritu Santo <som> Trijdade e unidade, outrossy o
balssamo pero he hüa aruor (que) ha en ssy tres uertudes de maney-
ras: a primeyra rayz do criamëto que sse étende polo Padre.
A a maneyra da aruor <he> que sse cria [o]nde que cauâ
e laura e poda per que sal ende cousa que tem a todos prol que
130 sse entende polo Filho que rreçebeu marteyro en muytas maney-
ras e tomou morte por nos saluar. A IIIa he a grrosura que en
sal que he dita balssamo que sse entende polo Spiritu Santo.
Ca assy como este olio sal da criança da aruor e do lauor que
en ella fazë, assy o Espiritu Santo saiu da onrra do Padre e da
135 omildade do Filho. E ainda hy ha outra semelhâça que
assy como o balssamo nó sse pode dañar ne conrronper ne
leixa esso ffazer aas cousas en que tange, outrossy Nostro
Senhor Ihesu Cristo que nuca foy conrronpudo ne dañado néno
pode seer eno corpo ne ena alma guarda que o nó seiâ os que
ESTRATEGIAS ARGUMENTATIVAS DA PRIMEYRA PARTIDA 423