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Índice

1. Introdução
1.1.Objectivos do Trabalho
1.2.Metodologias
1.3.Breve Discussão da Cultura
2. Cultura e Civilização
2.1.Antecedentes Históricos do Conceito de Cultura
2.2.A Invenção do Conceito Científico de Cultura
2.3.Tylor e a Concepção Universalista de Cultura
3. Conceito de Cultura
4. Características da Cultura
5. O Dinamismo Cultural e os Processos de Enculturação, Aculturação, Inculturação,
Desculturação e os Factores da Cultura
6. Os Factores da Cultura
7. A Interacção entre a Cultura e a Natureza, Sociedade e a Civilização
8. A Cultura do Simbólico e a Cultura do Material
9. A Identidade Cultural
10. Erosão e Permanência da Identidade Cultural
11. A Totalidade cultural, Unidade, Diversidade e Etnicidade
12. Classificação da Cultura
13. Elementos Estruturadores da Cultura
14. A Cultura como Sistema
15. Referências Bibliográficas
16. Conclusão

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1. Introdução

O presente trabalho foi nos incubados no âmbito da disciplina de Sociologia


Desportiva. Que visa abordar á todos aspectos inerentes á Cultura.

Ao longo da história, o ser humano lida com um conjunto de símbolos, na sua maioria
dados, isto é, ele os encontra já em uso corrente na sociedade quando nasce e eles
permanecem em circulação após a sua morte, com alguns acréscimos, subtracções e
alterações parciais das quais pode ou não participar. Ele faz uso de alguns desses
símbolos no decurso da sua vida, certas vezes deliberadamente e na maioria das vezes
espontaneamente, sendo que o propósito é fazer uma construção dos acontecimentos
que constituem a essência da sua vida, para se auto-orientar no “curso das coisas
experimentadas” J. Dewey citado por Geertz, C (1978:1).

Nas leituras realizadas para o desenvolvimento deste trabalho, observamos que o


conceito de cultura, nos últimos tempos, tem se tornado polissémico. É utilizado para se
referir aos costumes e hábitos de um povo, às diferentes maneiras de expressão artística,
a um modo da civilização ou aos saberes produzidos por um determinado grupo,
criando assim diversos segmentos como, por exemplo: cultura da infância, cultura da
favela, cultura do homem do campo ou cultura do indígena, do surdo, do cego, entre
outros. De acordo com Eagleton (2011, p.9) a “cultura é considerada uma das duas ou
três palavras mais complexas de nossa língua [...].” Mais complexa do que o termo
cultura, para o autor, somente o termo “natureza”, que é o seu oposto.

Conforme explica Duarte e Martins (2012), cultura é a actividade humana acumulada,


envolve a acção do ser humano e sua relação com a natureza, para produzir sua
existência. Definindo etimologicamente, cultura significa: lavoura, cultivo, ou seja, é
um elemento que deriva da natureza, de sua transformação pela acção humana.
Nessa direcção, nos últimos anos, esse termo é componente das intervenções de
organismos internacionais1, está obstinadamente nos discursos de chefes de Estado, nas
políticas públicas, na produção de intelectuais, na mídia e nas exigências dos
movimentos sociais, (EAGLETON, 2011).
Além do cenário ambíguo quando se trata de cultura, tem se tornado regra, sob a
primazia ideológica do capital, compreendê-la desarticulada do processo histórico de
formação do ser humano.

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1.1.Objectivos do Trabalho

O trabalho é caracterizado por ter dois (2) tipos de objectivos, que neles são:

 Objectivos Geral:
1. Estudar a cultura, sua diversidade, características, processos que nela ocorrem e
os factores que a influenciam.
 Objectivos Específicos:
1. Definir a cultura;
2. Caracterizar a cultura; e,
3. Indicar a sua importância e dos processos que a compõe para o homem.

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1.2.Metodologias

Para efectivação da pesquisa privilegiou-se o método Qualitativo na medida em que,


este permite estudar questões difíceis relacionadas á Cultura, e é de quantificar como
emoções, crenças, sentimentos, motivações.
Utilizou-se basicamente três tipos de fontes: fontes primárias constituídas por
documentos de arquivos públicos, livros sobre censo e dados estatísticos, entre outros;
fontes secundárias: constituídos por obras literárias editadas ou não editadas, revistas e
brochuras onde foi possível consultar varias obras que abordam o tema já desenvolvido
pelos vários autores. No entanto também houve as discussões em grupo.

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1.3.Breve discussão da Cultura
Compartilhamos do pensamento de Hall (1997) sobre o facto de que “toda acção social
é cultural, que todas as práticas sociais expressam ou comunicam um significado e,
neste sentido, são práticas de significação”, ou seja, toda prática social tem uma
dimensão cultural, da mesma forma que as práticas política e económica, também
possuem uma dimensão cultural. Conforme Neto (2003), não é “tomar a cultura como
uma instância epistemologicamente superior às demais instâncias sociais, mas sim
tomá-la atravessando tudo aquilo que é do social”. Segundo Moreira & Candau (2003),
“aceitando-se esse ponto de vista, não há como se negar a estreita relação entre as
práticas escolares e a (s) cultura (s) ”.
Para Neto (2003), actualmente as questões culturais têm recebido grande atenção, nas
mais diferentes esferas, académicas, políticas, quotidiana e mesmo económica,
crescendo, assim, a importância da cultura para reflectir sobre o mundo contemporâneo.
No campo educacional, não foi diferente, pois, conforme Giroux (1986), a cultura é um
constrito central para a compreensão das relações complexas entre a escolarização e a
sociedade dominante.
Segundo Giroux (1986), nas revisões feitas na teoria marxista, na década de 1970, o
capital cultural passa a ocupar um lugar privilegiado que, antes, era ocupado,
unicamente, pelo capital económico.
A centralidade da cultura não significa que ela é uma dimensão epistemologicamente
superior às demais dimensões sociais, tais como a política, a económica, a educacional,
mas que atravessa toda e qualquer prática social. Essa centralidade indica “a forma
como a cultura penetra em cada recanto da vida social contemporânea, fazendo
proliferar ambientes secundários, mediando tudo”. (Hall, 1997, p. 5).
Para Hall (1997), a cultura sempre foi importante nas ciências humanas e sociais, pois
os estudos das linguagens, da literatura, das artes, entre outros, sempre fundamentaram
o tema, embora não fosse trivial o entendimento de que esses estudos compusessem um
conjunto diferenciado de significados, ou seja, uma cultura, na concepção deste autor. Já
para as ciências sociais, em particular, para a Sociologia, o diferencial da acção social,
ou melhor, do comportamento de um indivíduo, ou grupo, é que a cultura demanda e é
importante para o significado.
São estes sistemas ou códigos de significados que, segundo Hall (1997), dão sentido às
nossas acções, permitem-nos interpretar acções alheias e, quando tomados em seu

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conjunto, formam as nossas culturas, asseguram que toda acção social é cultural, que as
práticas sociais imbuídas de significado são práticas de significação.
A Concepção Normativa da Cultura
Cuche (2002) considera que a invenção do conceito de CULTURA se deu pós-
evolução semântica da palavra CULTURA, que ocorreu na língua francesa no século
XVIII, e só depois se difundiu, por empréstimo linguístico, às línguas alemã e inglesa.
O termo “cultura” no sentido figurado começa a ser utilizado, com mais frequência, no
século XVIII, inicialmente, seguido de um complemento, “cultura das artes”, “cultura
das letras”, “cultura das ciências”, como se fosse necessário que a coisa cultivada
estivesse explicitada; em seguida, para designar a “formação”, a “educação” do espírito;
e posteriormente, num movimento inverso, deixa de ter o significado de “cultura” como
acção (acção de instruir) e passa a “cultura” como estado (estado do espírito cultivado
pela instrução, estado do indivíduo que tem cultura).
Segundo Cuche (ibid.), a “cultura” no século XVIII é sempre empregada no singular, o
que reflecte o universalismo e o humanismo dos filósofos: a cultura é própria do
Homem, além de toda a distinção de povos ou de classes. “Cultura” se inscreve então
plenamente na ideologia do iluminismo: a palavra é associada às ideias de progresso, de
evolução, de educação, de razão que estão no centro do pensamento da época.
2. Cultura e Civilização
Thompson (2009) relata que, no final do século XVIII, a palavra francesa é incorporada
ao alemão, grafada primeiramente como Cultur e, mais tarde, como Kultur.
Cuche (ibid.) afirma que a transposição exacta da palavra francesa se deve ao prestígio
da língua francesa na Alemanha, por dois motivos ― o uso do francês como uma marca
distintiva das classes superiores e a influência do pensamento Iluminista. Contudo, a
palavra Kultur evoluirá muito rapidamente num sentido mais restritivo que sua
homóloga francesa e vai obter um sucesso de público que “cultura” não teria ainda, já
que “civilização” era a preferida no vocabulário dos pensadores franceses.
Para Thompson (ibid.), no início do século XIX, a palavra “cultura” era usada como um
sinónimo para, ou em alguns casos em contraste com, a palavra “civilização”, termo
este, usado na França e na Inglaterra no fim do século XVIII para descrever um
processo progressivo de desenvolvimento humano, um movimento em direcção ao
refinamento e à ordem, por oposição à barbárie e à selvageria.

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2.1.Antecedentes Históricos do Conceito de Cultura
No final do século XVIII e no princípio do seguinte, o termo germânico Kultur era
utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a
palavra francesa Civilization referia-se principalmente às realizações materiais de um
povo. Ambos os termos foram sintetizados por Edward Tylor (1832-1917) no vocábulo
inglês Culture, que "tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que
inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade
ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade". Com esta
definição Tylor abrangia em uma só palavra todas as possibilidades de realização
humana, além de marcar fortemente o carácter de aprendizado da cultura em oposição à
ideia de aquisição inata, transmitida por mecanismos biológicos.
O conceito de Cultura, pelo menos como utilizado actualmente, foi portanto definido
pela primeira vez por Tylor. Mas o que ele fez foi formalizar uma ideia que vinha
crescendo na mente humana. A idéia de cultura, com efeito, estava ganhando
consistência talvez mesmo antes de John Locke (1632-1704) que, em 1690, ao escrever
Ensaio acerca do entendimento humano, procurou demonstrar que a mente humana não
é mais do que uma caixa vazia por ocasião do nascimento, dotada apenas da capacidade
ilimitada de obter conhecimento, através de um processo que hoje chamamos de
endoculturação. Locke refutou fortemente as ideias correntes na época (e que ainda se
manifestam até hoje) de princípios ou verdades inatas impressos hereditariamente na
mente humana, ao mesmo tempo em que ensaiou os primeiros passos do relativismo
cultural ao afirmar que os homens têm princípios práticos opostos: "Quem investigar
cuidadosamente a história da humanidade, examinar por toda a parte as várias tribos de
homens e com indiferença observar as suas acções, será capaz de convencer-se de que
raramente há princípios de moralidade para serem designados, ou regra de virtude para
ser considerada... que não seja, em alguma parte ou outra, menosprezado e condenado
pela moda geral de todas as sociedades de homens, governadas por opiniões práticas e
regras de condutas bem contrárias umas às outras." , (Livro 1, cap.II, §10.).
Finalmente, com referência a John Locke, gostaríamos de citar o antropólogo americano
Marvin Harris (1969) que expressa bem as implicações da obra de Locke para a época:
`nenhum ordem social é baseada em verdades inatas, uma mudança no ambiente resulta
numa mudança no comportamento.

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2.1.A invenção do conceito científico de cultura
Conforme Cuche (ibid.), o conceito de “cultura” emerge na Etnologia para pensar o
problema da especificidade humana na diversidade dos povos e dos costumes. O uso
primitivo da palavra “cultura” nas línguas francesa e alemã tem um sentido normativo;
já na Etnologia, o seu uso já puro é exclusivamente descritivo, ou seja, não se trata de
dizer o que deve ser a cultura, mas de descrever o que ela é, tal como aparece nas
diferentes sociedades humanas.
Segundo Thompson (ibid.), o conceito de cultura tem relação estreita com o
desenvolvimento da disciplina Antropologia, que tem como um dos seus principais
ramos o estudo comparativo da cultura; devido à diversidade de pressupostos e
métodos, adoptaremos aqui três concepções de cultura, seguindo o caminho trilhado
pelo próprio Thompson que traz duas concepções e desenvolve uma terceira.
2.2.Tylor e a concepção universalista de cultura
Cultura ou Civilização, tomada em seu sentido etnológico amplo, é aquele todo
complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e todas as demais
capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade. A
condição da cultura, entre as diversas sociedades da espécie humana, na medida em que
é passível de ser investigada nos princípios gerais, é um tema apropriado para o estudo
do pensamento e da acção humanos, (Tylor, apud Thompson, ibid., p.171).
Conforme Cuche (ibid.), esta é a primeira definição etnológica de cultura e foi dada pelo
antropólogo britânico Edward Burnett Tylor. Trata-se de uma definição descritiva e
não normativa que rompe com as definições restritivas e individualistas de cultura: para
Tylor, segundo Cuche (ibid), a cultura é a expressão da totalidade da vida social do
homem, caracterizando-se por sua dimensão colectiva.
A cultura é adquirida e por isso não depende da hereditariedade biológica. Sendo a
cultura adquirida, então sua origem e seu carácter são, em grande parte, inconscientes.
A palavra “Cultura”, na acepção de Tylor, é uma palavra neutra, que permite pensar
toda a humanidade.
Thompson (ibid.) afirma que uma das tarefas no estudo da cultura, na abordagem
tyloriana é esmiuçar as crenças, costumes etc. ― Que formam um “todo complexo”,
característico de uma determinada sociedade, diferenciando essa sociedade de outros
lugares e épocas diferentes ― em suas partes constitutivas e classificá-las e compará-las
sistematicamente. Assim, a abordagem tyloriana envolve uma série de pressupostos
metodológicos acerca de como a cultura deve ser estudada. Todavia, Tylor defendia o
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princípio do evolucionismo, que acreditava haver uma escala evolutiva de progresso
cultural que as sociedades primitivas deveriam percorrer para chegar ao nível das
sociedades civilizadas.
Contrário à concepção evolucionista, Franz Boas (1858-1942) foi um dos
pesquisadores que mais influenciaram o conceito contemporâneo de cultura na
antropologia americana. Ele é apontado como o inventor da etnografia por ter sido o
primeiro antropólogo a fazer pesquisas com observação directa das sociedades
primitivas. Em seus estudos, Boas concluiu que a diferença fundamental entre os grupos
humanos era de ordem cultural e não racial ou determinada pelo ambiente físico. Sendo
assim, defendia que, ao estudar os costumes particulares de uma determinada
comunidade, o pesquisador deveria buscar explicações no contexto cultural e na
reconstrução da origem e da história daquela comunidade. Decorre dessa constatação o
reconhecimento da existência de culturas, no plural, e não de uma cultura universal.
Diante da multiplicidade de interpretações e usos do termo cultura, adoptamos como
referência neste trabalho três concepções fundamentais de entendimento da cultura, como:
1) Modos de vida que caracterizam uma colectividade; 2) Obras e práticas da arte, da
actividade intelectual e do entretenimento; e 3) Factor de desenvolvimento humano.
Na primeira concepção, a cultura é definida como um sistema de signos e significados
criados pelos grupos sociais. Ela se produz “através da interacção social dos indivíduos,
que elaboram seus modos de pensar e sentir, constroem seus valores, manejam suas
identidades e diferenças e estabelecem suas rotinas”, como ressalta Isaura Botelho
(2001, p.2). Marilena Chauí também chama a atenção para a necessidade de alargar o
conceito de cultura, tomando-o no sentido de invenção colectiva de símbolos, valores,
ideias e comportamentos, “de modo a afirmar que todos os indivíduos e grupos são
seres e sujeitos culturais” (1995, p.81).
Valoriza-se o património cultural imaterial - os modos de fazer, a tradição oral, a
organização social de cada comunidade, os costumes, as crenças e as manifestações da
cultura popular que remontam ao mito formador de cada grupo.
A segunda concepção é dotada de uma visão mais restrita da cultura, referindo-se às
obras e práticas da arte, da actividade intelectual e do entretenimento, vistas sobretudo
como actividade económica. Esta dimensão não se dá no plano da vida quotidiana do
indivíduo, mas sim em âmbito especializado, no circuito organizado. “É uma produção
elaborada com a intenção explícita de construir determinados sentidos e de alcançar
algum tipo de público, através de meios específicos de expressão” (Botelho, 2001, p.2).
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A terceira concepção da cultura ressalta o papel que ela pode assumir como um factor
de desenvolvimento social. Sob esta óptica, as actividades culturais são realizadas com
intuitos sócio-educativos diversos: para estimular atitudes críticas e o desejo de actuar
politicamente; no apoio ao desenvolvimento cognitivo de portadores de necessidades
especiais ou em actividades terapeutas para pessoas com problemas de saúde; como
ferramenta do sistema educacional a fim de incitar o interesse dos alunos; no auxílio ao
enfrentamento de problemas sociais, como os altos índices de violência, a depredação
urbana, a ressocialização de presos ou de jovens infractores. Embora muitos
pesquisadores e artistas critiquem esta visão como sendo utilitária, pois acreditam no
valor da arte em si mesma, é fato que a cultura pode e deve exercer um papel na
formação política e social dos indivíduos. Segundo Néstor Garcia Canclini, é possível
ver a cultura “como parte de la socialización de las clases y los grupos en la formación
de las concepciones políticas y en el estilo que la sociedad adopta en diferentes líneas de
desarrollo” (1987, p.25).
3. Conceito de Cultura
Conceito presente nas elucubrações teóricas mais rebuscadas e nas reflexões quotidianas
menos refinadas, podemos afirmar que cultura é uma preocupação marcante na e da
contemporaneidade. Palavra polissémica, ela tem sido usada com os mais variados
significados e lhe são imputados vários atributos, tais como: popular, erudita, nacional...
O facto é que por cultura se entende muita coisa, a multiplicidade de significados
assumida pelo conceito lhe é marcante.
Cultura é uma palavra de origem latina e seu significado original está ligado às
actividades agrícolas (Santos, 1994). Vem do verbo latino colere, que quer dizer
cultivar. Foram os romanos antigos que ampliaram esse significado inicial do termo,
passando a fazer uso do mesmo significando refinamento pessoal. Comummente se faz
esse uso do termo cultura até hoje.
Santos apresenta-nos duas concepções básicas de cultura:
 Primeira dessas concepções preocupa-se com todos os aspectos de uma realidade
social. Dessa forma, cultura diz respeito a tudo aquilo que caracteriza a existência
social de um povo ou nação. Esse é o significado moderno do conceito que passa a
ser assumido, notadamente no século XIX, atrelado ao desenvolvimento de teorias
científicas sobre a vida e a sociedade e passa a tratar da totalidade das características
de uma realidade social.

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 A segunda concepção refere-se ao conhecimento, às ideias e crenças de um povo,
assim como às maneiras como eles existem na vida social. A cultura, assim, diz
respeito a uma esfera, a um domínio da vida social.
É o mesmo autor que ressalta um importante fato: as duas concepções nos levam a
entender a cultura como uma realidade estanque, parada, negando-lhe sua essência que é
a dinamicidade. Sobre isso, ele nos diz: “se a cultura não mudasse, não haveria o que
fazer senão aceitar como naturais as suas características e estariam justificadas, assim,
as suas relações de poder” (Santos, 1994: 83).
Ulmann (1991) também atribui a cultura dois sentidos:
 Em sentido amplo, cultura designa o modus vivendi que os homens desenvolveram e
desenvolvem reunidos em sociedade.
 Em sentido restrito, cultura significa o modus vivendi global de que participa
determinado povo.
Ele define cultura como sendo “a superação daquilo que é dado pela natureza. Logo, é
aquilo que o homem transforma” (1991: 84).
Tendo como matriz produtora a natureza, a cultura vai além desta. Não é dada
naturalmente, não é decorrência de leis físicas ou biológicas, mas constitui-se numa
construção histórica, um produto colectivo da vida humana, e, assim sendo, assume um
carácter eminentemente libertador, transformador, podendo também se colocar como
factor restringidor, “a cultura ao mesmo tempo liberta e restringe, promove e coíbe,
desvincula e impõe freios” (Ulmann, 1991: 89).
4. Características da Cultura
1) A cultura é simbólica
O símbolo é uma chave para a compreensão da cultura, pois ao tentar formular a
cultura, faz se por intermédio de uma linguagem que é iminentemente simbólica. Não só
a linguagem verbal, mas também os ritos de iniciação, as instituições culturais, as
relações, os costumes e mais, são considerados formas simbólicas.
2) A cultura é social
A cultura pertence à sociedade, representa uma conquista e um cúmulo de séculos, isto
é, o património cultural que a sociedade foi formando durante toda a sua história. A
pessoa é formada pela cultura e o seu comportamento é pautado pela cultura
interiorizada. Neste sentido, nenhum membro da sociedade é desprovido completamente
de cultura, pois ele é uma criação da cultura até certo ponto que antes de realizar o seu

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primeiro acto consciente, já tem uma conduta definida que modela os seus
comportamentos e processos intelectuais.
3) A cultura é estável e dinâmica
 A estabilidade cultural
A estabilidade cultural leva-nos a reflectir sobre a autenticidade cultural, tema que nos
faz pensar no conceito de cultura original, como se fosse uma entidade pura. O conceito
de realidade complexa que implicamos à cultura, torna difícil aceitar tal ideia, embora
reconheçamos que na cultura há sempre algo de estável, que de alguma maneira a
protege dos inevitáveis processos de mudança. Tomemos como exemplo a memória
histórica comum, instituições, normas religiosas e civis, língua, parentesco e território.
 O dinamismo cultural
A cultura é dinâmica pois no seu interior ocorrem mudanças, consideradas como
fenómenos despercebidas ou inconscientes. Trata se de mudanças que consideramos
estruturais, pois é próprio da cultura o movimento interno de funcionamento e
crescimento, reformulando-se constantemente. Neste sentido podemos afirmar que a
cultura nunca é a mesma. Ela cresce e se desenvolve como um ser vivo, que, se
deixar de respirar morre. O funcionamento, o crescimento e as mudanças acontecem
em primeiro lugar por forças endógenas. Martinez (2007:51) afirma que “Uma
cultura abstracta, estática, repetitiva, sempre igual a si mesma está chamada a
desaparecer.”
4) A cultura é selectiva
A cultura é selectiva pois entre duas ou mais culturas pode-se dar um processo que
se inicia com a avaliação de novos elementos, terminando com a aceitação ou
rejeição destes na cultura em causa, como por exemplo a adopção de técnicas
avançadas que implica necessariamente um problema económico, fazendo com que
as técnicas obsoletas sobrevivam ao lado das técnicas avançadas.
5) A cultura é universal e regional
A cultura é universal, pois não existem seres humanos desprovidos de cultura, isto é,
não há povos sem cultura nem homens incultos. Tendo essa universalidade podemo-nos
referir aos aspectos que são comuns a todas as culturas e que denominamos “universais
culturais”. Tomemos como exemplo que todos os povos sentem as mesmas
necessidades de subsistência, de alimentação, de defesa dos perigos da natureza e do

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animais, da comunicação com outros seres humanos, da satisfação das apetências
sexuais, do respeito, da amizade, da ordem social e outros.
Quando falamos de culturas regionais referimo-nos a formas diferentes de um mesmo
fenómeno cultural (culturas particulares). Nestas culturas iremos encontrar as várias
instituições familiares, sociais, políticas, económicas e religiosas.
6) A cultura é determinante e determinada
A cultura faz o homem. Ela se impõe aos indivíduos e estes pouco podem fazer no
sentido de fugir dos padrões culturais. A cultura é determinada pelo homem, pois ele é o
agente activo da própria cultura. As mudanças culturais surgem do esforço adaptativo
do homem frente à realidade que o cerca: o domínio do meio ambiente, da sua própria
sobrevivência, conforto e satisfação, seja no domínio da estética e da inteligência.
7) A cultura tem um aspecto cognitivo
Neste aspecto destacam-se três significados que são:
1. Significados operativos: a cultura dá-nos a conhecer o significado de como agir
ou da maneira justa de agir.
2. Significados cosmológicos: a partir da cultura podemos obter o significado do
mundo que nos rodeia, da natureza, do universo todo, da teologia, das crenças do
povo, a sua explicação ou respostas a questões de ordem diversa.
3. Significados morais – a ética: Os significados dos valores, o que é desejável, não
bom ou não belo.
5. O dinamismo cultural e os processos de Enculturação, Aculturação,
Inculturação, Desculturação e os factores da cultura.
Como fizemos menção em linhas anteriores, o dinamismo cultural reside na ausência de
Estaticidade, o que pressupõe que a cultura está em constante mudança, daí que se
conclui que a cultura “não é algo acabado ou definitivo mas sim algo em contínuo
aperfeiçoamento” Martinez (2007:59).
a) A Enculturação
V.L Grottanelli define a enculturação como o processo através do qual todo o indivíduo
obtém do grupo social em que se insere todos os elementos necessários para a sua plena
inserção social.
Grottanelli afirma ainda que a criança encontra ao nascer uma cultura já completamente
formulada e que vai assimilando-a lenta e inconscientemente ao longo do seu
crescimento. O processo de enculturação se desenrola durante todo o período de vida do
indivíduo, é exclusivamente humano e segundo M. Herskovits é semelhante a um
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tirocínio de instrução e experiência vital. Este processo permite dentre vários aspectos a
adaptação à vida social e permite que o indivíduo se habitue aos modos de vida do seu
grupo, aprendendo as suas formas de comportamento.
b) A Aculturação
Segundo Martinez (2007:79) em Psicologia o termo aculturação é usado no sentido que
na Antropologia se dá ao processo de enculturação. Em sociologia é usado no sentido de
socialização e na Pedagogia no sentido de educação ou condicionamento.
A aculturação teve várias designações provenientes de autores diversos, podendo-se
destacar as seguintes: empréstimo de culturas, disseminação cultural, transmissão
cultural em marcha e processo de mistura de culturas.
Segundo Ítalo Slignorelli, a aculturação é um processo que conduz um indivíduo a
assumir, em tudo ou em parte, modos de cultura de um outro grupo. Desta definição
deve-se pressupor o contacto entre duas culturas, resultando influências e
transformações mútuas.
Este processo constitui um dos factores da dinâmica cultural, pois do contacto entre
duas culturas, haverá elementos duma cultura que se irão integrar na outra através de
processos de mistura e fusão, surgindo como resultado uma nova síntese cultural e um
novo padrão cultural do comportamento.
c) A Desculturação
O termo desculturação deriva de “descultura”, o que por outras palavras significa “falta
de cultura”, porém, que não se subentenda que existam indivíduos sem cultura. Trata-se
aqui duma mera questão sintáctica. Com o termo desculturação, referimo-nos aos
aspectos negativos da dinâmica cultural, isto é, a subtracção e/ou destruição em diverso
grau, do património cultural.
Causas
A desculturação pode ser originada por causas internas ou externas:
a) Causas internas: estas constituem a perda de vitalidade dos elementos duma cultura,
de tal maneira que, se não houver um processo regenerador esses elementos caem
em desuso e desaparecem. Podemos tomar como exemplo a mudança de certos
hábitos familiares, linguísticos, de divertir-se etc.
b) Causas externas: são as crises culturais que resultam dos contactos culturais. A
dinâmica cultural permite a selecção e a integração de novos elementos e o
abandono de alguns traços culturais.

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d) A inculturação
O termo inculturação teve a sua origem no mundo religioso quando os Padres da África
e da Ásia mostraram que a mensagem evangélica não atingia a essência dos povos.
Nestes termos, verificou-se a necessidade de se buscar um conceito que exprimisse um
processo que criasse uma ligação entre a mensagem cristã e a cultura, tendo surgido
primeiramente o termo encarnação, o qual podia ser usado, por exemplo nos seguintes
termos: “O Evangelho precisa de ser encarnado nas culturas” Simbine Jr (2009:13).
Apenas entre 1974 e 19754 é que o vocábulo inculturação passou a fazer parte do
mundo religioso, sendo considerado como a “...encarnação da vida e da mensagem
cristã em uma área cultural concreta...”, não num sentido de mera adaptação de
aspectos religiosos na cultura mas sim que essa mensagem cristã seja um elemento
activo e dinâmico, proporcionando a transformação e recriação da cultura.
Pode-se entender a inculturação como um processo recíproco no qual há introdução de
elementos exteriores na cultura e vice-versa, como se pode notar na concepção de João
Paulo II, segundo a qual a inculturação é o processo pelo qual ocorre a “encarnação do
evangelho nas culturas e simultaneamente a introdução dos povos com as suas culturas
na comunidade eclesial, transmitindo-lhes os seus próprios valores, assumindo o que
há de bom nas culturas e renovando-as a partir de dentro.”
6. Os factores da cultura
Factores da cultura são elementos ou fenómenos que determinam a alteração de certos
aspectos inerentes à cultura.
Existem quatro factores da cultura que são:
1. O homem: o homem como dinamizador da cultura influencia todos os processos
enculturação, inculturação, aculturação e desculturação, portanto ele é um dos
factores da cultura.
2. A comunidade;
3. O meio ambiente; e,
4. O tempo que actua sobre a formação da cultura.
7. A interacção entre a cultura e a natureza, sociedade e a civilização
Essência de uma civilização é a cultura e a vida social, pois a civilização é um tipo de
comunidade ou sociedade humana que conseguiu um determinado nível de cultura. Esse
nível cultural é algo que não é individual, mas sim propriedade do grupo, daí que além
de simples interacção denota-se uma dependência da cultura na sociedade e da
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civilização na cultura. A natureza por sua vez, interage com os restantes fenómenos por
via da grande influência que exerce na cultura, pois o homem, antes de ser um ser social
é um ser biológico e possui, portanto muitos aspectos dependentes da natureza, desde o
seu surgimento, sobrevivência e evolução.
8. A cultura do simbólico e a cultura do material
Os sistemas simbólicos (mito, língua, arte, ciência) são tidos como instrumentos do
conhecimento e da construção do mundo dos objectos (mundo material). Segundo
Claude Levi-Strauss, os símbolos são os equivalentes significativos do significado.
Ainda de acordo com Levi-Strauss, os símbolos são mais reais do que aquilo que
simbolizam, já que o significante precede e determina o significado.
Os factores sociais são simbólicos e desta forma a cultura é simbólica pois pode ser
considerada como um conjunto de sistemas simbólicos, como por exemplo a linguagem,
as regras matrimoniais, as relações económicas, a arte, a ciência, a religião, entre outros.
Deste modo Levi-Strauss considera que a explicação do símbolo pelo material é
ilusória, sendo necessário, portanto que nos instalemos na interpretação da cultura e
abandonemos o naturalismo. Por exemplo, o mito e o ritual não são para serem
compreendidos em função do real.
9. A identidade cultural
A identidade cultural é o conjunto de elementos (valores, princípios, atributos, etc.) que
tornam uma determinada cultura única, permitindo deste modo a sua distinção entre
várias. O elemento da identidade cultural é os usos, os costumes, os feixes de hábitos, as
crenças, as religiões, etc. A identidade é anterior ao indivíduo e por isso este adere a ela
sob pena de se tornar desenraizado. É ela que promove os segmentos culturais que
identificam um povo e que lhe poderão dar uma força exterior e tem como objectivo
proceder conscientemente à distinção entre os grupos.
10. Erosão e permanência da identidade cultural
Com vista as peculiaridades que os diferentes povos buscam manter em seu lugar,
percebe-se que os sistemas de comunicação globalmente interligados, as imagens e
influências da mídia, a busca pela inserção no mercado mundial de estilos e a
velocidade das informações, contribuem para desvincular, descaracterizar e até
desalojar as identidades culturais no espaço e no tempo. A compressão de distâncias e
das escalas temporais proporcionada pelas tecnologias, possibilita a exposição das
culturas locais a influências externas, dificultando a manutenção da identidade cultural

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inata ou o impedimento do seu enfraquecimento em virtude do bombardeamento e
infiltração de outras culturas.
O capitalismo e a globalização são os factores que contribuem em grande escala para a
mitigação das fronteiras culturais, possibilitando a homogeneização das relações sociais
e fazendo com que as crenças e hábitos fiquem descaracterizados.
11. A totalidade cultural: Unidade, diversidade e etnicidade
Sobre este ponto, importa salientar que cada realidade cultural possui uma lógica
própria, como resultado de sua história particular. Toda a cultura tem seus critérios de
organização e é daqui onde se denota a diversidade, entretanto, nenhuma cultura está
isolada, tomando em conta as relações internas assim como externas. Assim tomando
em conta os aspectos geográficos (os grupos étnicos do mesmo país, por exemplo), a
cultura é vista na totalidade.
É preciso focar também que a diversidade não significa negar a existência de
características comuns ou mesmo a existência de uma dimensão universal do ser
humano. Ao se respeitar e valorizar as diferenças étnicas e culturais, não implica
obrigatoriamente em aderir aos valores do outro, mas sim respeitá-los como do outro,
como expressão da diversidade que é em si de todo o ser humano.
A etnicidade é um fenómeno social produzido e reproduzido ao longo do tempo, onde
através da socialização o indivíduo assimila os estilos de vida, as normas, e crenças da
sua comunidade. A etnicidade é um aspecto central para a identidade de um indivíduo
ou de um grupo, oferecendo uma linha de continuidade com o passado, mantida viva
através das práticas das tradições culturais, não sendo estática nem imutável, mas
variável e adaptável.
12. Classificação da Cultura
A cultura, em sua totalidade, é composta por aspectos materiais e não-materiais, reais e
ideais. Para alguns estudiosos haveria ainda mais uma classificação: ser a cultura
subjectiva e objectiva. Para esses cientistas, o carácter de subjectividade ou
objectividade da cultura, na verdade estaria relacionado ao processo de interiorização
(assimilação) e exteriorização (manifestação), ou melhor, a forma como os indivíduos
aprenderiam e expressariam a sua cultura.
Diz-se subjectiva a cultura quando nos referimos ao conjunto de valores,
conhecimentos, crenças, aptidões, qualidades, numa palavra, de experiências presentes
em cada indivíduo. Quando, todavia, falamos de cultura objectiva, estamos nos
referindo a todo conjunto definido por Tylor como cultura, quando exteriorizado. Isto é,
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hábitos, aptidões, ideias, comportamentos, artefactos, objectos de arte, em suma, todo o
conjunto da obra humana de todos os tempos e de toda a face da terra.
A cultura subjectiva é que fornece padrões individuais de comportamento. Isto, em
princípio. Acontece que, na prática, o comportamento humano vai ser resultado da
relação entre cultura subjectiva (aquela porção interiorizada pelos indivíduos) e a
cultura objectiva que cria as situações particulares, (MELLO, 1991, p. 44).
a) Cultura material
Diz respeito a toda criação humana que resulta em produtos concretos, palpáveis,
materiais, os chamados bens tangíveis. Esses produtos materiais são elaborados a partir
do domínio de técnicas e tecnologias, considerando o poder aquisitivo e o acesso à
matéria-prima por parte da comunidade.
b) Cultura não-material
Diz respeito a toda criação humana que resulta em produtos intangíveis, ou seja,
abstractos, não palpáveis. A cultura não-material só pode ser percebida se for manifesta,
expressa, revelada. Para Hoebel (1999, p. 217), “consiste no comportamento em si,
tanto manifesto (actividade motora) quanto não manifesto (que se passa no íntimo das
pessoas) ”.
c) Cultura real
Diz respeito à forma como os indivíduos pensam e põem em prática as suas actividades
quotidianas, o que eles concretamente fazem. “A cultura real é o que todos os membros
de uma sociedade fazem ou pensam em todas as suas actividades na sua rotina total,
exceptuando-se o comportamento verdadeiramente idiossincrático”, (HOEBEL e
FROST, p. 27).
d) Cultura ideal
Diz respeito ao conjunto de comportamentos que os indivíduos, em tese, deveriam ter.
É reguladora (normativa), consiste em normas, regras que estabelecem os
comportamentos, considerados ideais para o grupo ou a sociedade. São modelos tidos
como perfeitos, adequados, bons, mas que geralmente estão fora do alcance, pois
invariavelmente encontram-se longe de serem realizáveis por todo mundo, do mesmo
jeito.
13. Elementos estruturadores da Cultura
A cultura é formada por um conjunto de factores que a organizam e lhe fornecem
estrutura. Esses elementos são: conhecimentos, crenças, normas, valores e signos.

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a) Conhecimentos
Toda e qualquer forma de sociedade possuem um conjunto de conhecimentos,
construído ao longo do processo de evolução histórica da humanidade e de cada grupo
humano em particular. É através do conhecimento acumulado que se transmitem os
ensinamento necessários à sobrevivência de cada nova geração.
b) Crenças
De acordo com o Dicionário Aurélio, a crença é o “acto ou efeito de crer, aquilo que se
crê” ou qualquer “objecto de convicção íntima”. Numa perspectiva antropológica, a
crença consiste em qualquer forma de aceitação de verdade, cientificamente
comprovada ou não. Seria uma espécie de atitude mental ou comportamental do
homem. De acordo com Marconi e Presotto (1985, p. 47- 48) citando J. S. Kahn (1975),
as crenças são de três tipos:
1. Pessoais - as proposições aceitas por um indivíduo como certas, independente das
crenças dos demais.
Exemplo - acreditar em lobisomem.
2. Declaradas - as proposições em que uma pessoa aparenta aceitar como verdadeiras,
em seu comportamento público, e que as menciona apenas para defender ou
justificar suas acções perante os outros.
Exemplo - favorável à democracia, à igualdade dos sexos, ausência de preconceitos.
3. Públicas - as proposições que os membros de um grupo concordam, aceitam e
declaram como suas crenças comuns.
Exemplo - o mistério da encarnação para os cristãos; a reencarnação para os hindus e
espíritas; a hierarquia militar nas forças armadas.
c) Normas
Todas as culturas são constituídas a partir das normas, que apesar de resultarem de uma
herança cultural, são, a cada geração, adequadas, aperfeiçoadas, moldadas às
necessidades do grupo naquele momento. As normas determinam desde como devemos
sepultar nossos mortos, ou criar nossos filhos até o que podemos vestir e quando vestir.
Em outras palavras, nós na qualidade de seres sociais agimos, fazemos, pensamos e
sentimos sancionados pela sociedade. As normas, que nos condicionam, dizem respeito
às regras que orientam e controlam o comportamento, a conduta, o modo de agir dos
indivíduos como membros dos agrupamentos sociais.
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d) Valores
Valor é uma palavra “empregada para indicar objectos e situações consideradas boas,
desejáveis, apropriadas, importantes”, é por assim um termo que revela “riqueza,
prestígio, poder, crenças, instituições, objectos materiais” (MARCONI e PRESOTTO,
1985, p. 48). Os valores servem para orientar, estão relacionados ao significado cultural
que os grupos e os indivíduos atribuem a determinados fatos, acontecimentos, objectos,
comportamentos, ideias, acções e normas. Os valores são estabelecidos pela cultura, não
é individualizado ou personalizado, e é comum ao grupo. Dessa maneira, é possível
esperar uma reacção específica diante de determinado estímulo. Os valores traduzem
gosto, expressam sentimentos e emoções, apreciações objectivas ou subjectivas.
A sociedade estipula o que é bom e o que é ruim, o que é bonito e o que é feio, o que é
certo e o que é errado. Assim, na vida em sociedade, as ideias, as opiniões, os fatos, os
objectos não são avaliados isoladamente, mas dentro de um contexto social que lhes
atribui um significado, um valor e uma qualidade. Os valores sociais variam no espaço e
no tempo, em função de cada época, cada geração, cada sociedade. Até pouco tempo
atrás, por exemplo, o trabalho doméstico e o cuidado dos filhos eram considerados
tarefas exclusivamente femininas. Actualmente isso não acontece mais, pelos menos nas
grandes cidades (OLIVEIRA, 1996, p. 45).
e) Símbolos
Desde a mais remota forma de organização social e desenvolvimento, o homem sempre
procurou sistematizar, classificar, ordenar, conceituar o mundo a sua volta. Dessa forma
as árvores, as pedras, os animais, as acções, os sentimentos, os gestos foram
gradativamente tomados de sentidos, significados. Passaram a simbolizar passagens,
etapas ou acontecimentos importantes.
Os símbolos são criados pelos homens, podemos dizer que são historicamente
constituídos, compõem o património cultural de uma sociedade e são transmitidos de
geração a geração. Por exemplo, pedaços de tecido verde, amarelo, azul e branco,
separados podem não significar nada, mas se reunidos a partir de determinado diagrama
podem formar uma bandeira, assim passam a ser um símbolo, imbuído de sentido e
significado. O símbolo é algo cujo valor ou significado é atribuído pelas pessoas que o
utilizam. Qualquer coisa pode se tornar um símbolo.

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O homem atribui significado a um objecto, uma cor, um hino, um gesto, etc., eles então
se tornam símbolos de riqueza, de prestígio, de posição social elevada. Entre nós, a cor
que simboliza o luto é o preto.
Entre os povos orientais é o branco. Os símbolos são convenções, cada sociedade ou
grupo social pode utilizar-se de formas diferentes para exprimir o mesmo significado
(OLIVEIRA, p. 45-46).
14. A Cultura como Sistema
A cultura é um conjunto complexo, um sistema composto por uma infinidade de
elementos relacionados entre si. Para efeito de estudo podem ser apresentados da
seguinte forma: traço, complexo, padrão, área e subcultura.
1) Traço cultural (também chamado Elemento Cultural)
É a menor parte da cultura, a mais simples. Pode ser expresso de forma material
(objectos: mesa, colar, carro, livro, quadro etc.) e imaterial (comportamentos,
habilidades, atitudes e acções: abraço, oração, aperto de mão, música etc.).
O traço cultural é a unidade identificadora que constitui uma cultura. É importante
ressaltar que o traço cultural é específico de cada cultura, por isso que é identificador,
pois tem significado variado de um grupo para outro.
2) Complexo cultural
É o conjunto, a reunião dos traços culturais, já que estes estão sempre combinados para
formar o todo, com carácter funcional. Como afirma Marconi e Presotto (1985), o
complexo cultural é um “sistema interligado, interdependente e harmónico, organizado
em torno de um foco de interesse central”. Os traços devem estar inter-relacionados em
torno de uma actividade qualquer, por exemplo, a festa de São João é um complexo
cultural pois resulta da reunião de uma infinidade de traços culturais: comidas, fé,
música, instrumentos musicais (sanfona, triângulo e zabumba), vestuário e danças.
3) Padrão cultural
É a forma que assume os complexos culturais. Refere-se aos padrões de conduta e
comportamento estabelecidos pela sociedade, são representados pelos costumes, usos,
pela moral, pela lei, e precisam ser obedecidos. Além de seguidos e respeitados, os
padrões culturais devem ser defendidos e preservados. Caldas (1986, p. 15) diz que os
padrões culturais são normas, regras, leis, convenções, condutas e um conjunto de
valores que o indivíduo deverá respeitar e obedecer para manter o equilíbrio e o
funcionamento normal da sociedade. (...) São formas relativamente homogêneas e

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socialmente aceitas de pensamentos, sentimentos e ações, assim como objetos materiais
que lhes são correlatos.
Existe padrão de comportamento para homem, mulher, criança etc, por exemplo os pais
são responsáveis por ensinar aos filhos, de acordo com o sexo, o comportamento
adequado, desde as brincadeiras aos brinquedos permitidos.
4) Área cultural
Refere-se ao lugar, territórios geográficos, no qual se encontram traços e complexos
culturais comuns, similares. Numa área cultural predomina complexo cultural
específico, o que faz com que nestas áreas os indivíduos demonstrem semelhanças,
desde o gosto alimentar ou musical às ideias, valores e crenças.
5) Subcultura
Em nenhum momento sinónimo de inferioridade, mas sim de divisão, variação. Refere-
se às partes que formam uma cultura total ou nacional - que seria portanto um conjunto
formado a partir das subculturas. Geralmente uma subcultura identifica-se com uma
área cultural, por exemplo, o regionalismo é uma das formas assumidas pela subcultura.
Nesse sentido também faz parte do contexto da subcultura aspectos geográficos,
históricos, políticos, religiosos. Para Ferrari (1983, p. 137) a subcultura pode se
expressar em “macrossubcultura” que estaria relacionada às culturas regionais,
exemplo: nordestinos, gaúchos, sulinos, mineiros; e “microssubcultura” que estaria
relacionada a grupos com culturas desviantes ou classes ou etnias, com grau maior de
intimidade e dependência, exemplo: bairros de chineses, árabes, ciganos, favelas etc.

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15. Conclusão
Das literaturas consultadas foi possível constatar que a cultura é adquirida, isto é, ela
não é transmitida biologicamente mas sim o homem adquire os valores culturais na
sociedade em que se encontra inserido. A cultura é diversificada, vasta e muito
complexa. Ninguém a pode conhecer na totalidade nem mesmo viver ou cumprir na
totalidade as exigências culturais, dada a sua vastidão.
Todas as culturas são igualmente dignas. Nenhuma cultura é melhor ou superior à outra,
existem apenas características específicas que distinguem uma determinada cultura de
tantas outras, reforçando a identidade do grupo detentor da mesma. De igual modo que
não existem indivíduos sem cultura.
A cultura é dinâmica e o seu dinamismo é garantido pelo homem, muitas vezes de
forma inconsciente. Ela tem uma relação muito forte com a natureza, com o ambiente e
com a sociedade, porquanto ela é um factor social.
É facto que a sociedade moderna caracteriza-se por ser uma sociedade de mudanças.
Elas -as mudanças-marcam, na verdade, a história do próprio homem. Ele é o grande
agente e paciente das mudanças.
Um quadro perturbador marca a contemporaneidade dada a velocidade e força com que
as mudanças ocorrem. Isso se evidencia na questão cultural e, sobretudo, na questão das
identidades culturais, que mudam de acordo com a forma como o sujeito é
conceptualizado, conforme visto em Hall, e que sofrem o impacto dos fenómenos
políticos e ideológicos da época, a exemplo da globalização. A perda de um sentido de
si, consequência das mudanças profundas que marcam as sociedades modernas e pós-
modernas, abalam as referências que davam aos indivíduos uma certa estabilidade e
segurança.
Não se faz aqui apologia ao conservadorismo, no entanto, é preciso conservar sim,
aquilo que é fruto de toda uma construção colectiva e histórica, que nos é peculiar, que
nos identifica nesse mundo de iguais, como quer o discurso global. Outro facto é que
não pode discutir cultura ignorando as relações de poder estabelecidas nas sociedades.

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