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TRINDADE
Deus é um e são três

J. I. Packer

Teologia concisa; síntese dos fundamentos históricos da fé cristã (São Paulo: Cultura
Cristã, 1999), pp. 38-40.

“Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: ‘Eu sou o
primeiro e eu sou o último, e além de mim não há Deus’”. (Is 44.6)

O Velho Testamento insiste constantemente que há somente um Deus, o Criador auto-

revelado, que deve ser adorado e amado exclusivamente (Deuteronômio 6.4-5; Isaías 44.6 –
44.25) O Novo Testamento concorda (Marcos 12.29-30; I Coríntios 8.4; Efésios 4.6; I
Timóteo 2.5), mas fala de três agentes pessoais, Pai, Filho e Espírito Santo, trabalhando
conjuntamente afim de revelar a salvação (Romanos 8; Efésios 1.3-14; II Tessalonicensses
2.13-14; I Pedro 1.2). Esta histórica formulação da Trindade (da palavra latina trinitas,
significando "três") não é uma tentativa de explicá-la, algo que está além do nosso
entendimento. Ela provê os limites e salvaguardas para o nosso pensamento diante do
mistério, que nos confronta com, talvez, o mais difícil pensamento que a mente humana
pode conhecer. Não é um pensamento fácil; mas é um pensamento que trata da verdade.

A doutrina provêm dos fatos históricos da redenção registrados e explicados no Novo

Testamento. Jesus orou a seu Pai e ensinou aos Seus discípulos a fazerem o mesmo, embora
os tenha convencido de que Ele mesmo era pessoalmente divino. A crença em Sua
divindade e de que é correto oferecer a Jesus adoração e oração, é básica para a fé do Novo
Testamento (João 20.28-31, cf. 1.1-18; Atos 7.59; Romanos 9.5; 10.9-13; II Coríntios 12.7-
9; Filipenses 2.5-6; Colossenses 1.15-17; 2.9; Hebreus 1.1-12; I Pedro 3.15). Jesus
prometeu enviar o "outro Consolador" ou "Parácleto" para dar continuidade à Sua obra
como o primeiro Consolador (João 14.16,17). Um "parácleto" é um advogado, ajudador,
auxiliador, e um sustentador (João 14.26; 15.26-27; 16.7-15). O Ajudador prometido era o
Espírito Santo, que veio no Pentecoste cumprir o Seu ministério. Desde o início foi ele
reconhecido como a terceira Pessoa divina; e mentir a Ele, disse Pedro não muito depois do
Pentecoste, é mentir a Deus (Atos 5.3-4).

Cristo prescreveu o batismo "em nome (singular) – um Deus, um nome do Pai e do Filho e
do Espírito Santo" – três pessoas que são um Deus a quem os cristãos rendem-se a si
mesmos (Mateus 28.19). Desta forma encontramos as três pessoas no registro do próprio
batismo de Jesus: o Pai reconhece o Filho e o Espírito mostra a Sua presença na vida e
ministério do Filho (Marcos 1.9-11). A bênção de II Coríntios 13.14 é trinitária, como é a
oração pela graça e a paz do Pai, do Espírito, e de Jesus Cristo em Apocalipse 1.4-5. João
inclui o Espírito entre o Pai e o Filho pura e simplesmente para ensinar que o Espírito é
divino no mesmo sentido que o é o Pai e o Filho. Estes são alguns dos exemplos mais
notáveis do ensino trinitariano do Novo Testamento. Embora a linguagem técnica da
teologia subseqüente não é encontrada aqui, a fé e o pensamento trinitariano estão presentes
em todas as suas páginas. Neste sentido a Trindade é uma doutrina bíblica.
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Basicamente a doutrina é que a unidade de um Deus é complexa. As três "substâncias"

pessoais (como elas são chamadas) são centros co-iguais e co-eternos da auto-consciência,
cada um sendo "Eu" em relação aos outros dois que são "Tu", e cada um tendo a essência
divina de Deus completa, a existência específica que pertence somente a Deus. Deus não é
uma pessoa que desempenha três papéis separados; este é um erro denominado
"modalismo". Nem há três deuses que parecem um porque eles sempre agem juntos; isto é
o "triteismo". O teólogo B. B. Warfield coloca de forma bem simples: "quando afirmamos
estas três coisas – que há somente um Deus, que o Pai, o Filho e o Espírito Santo é, cada
um, Deus, e que o Pai, o Filho e o Espírito Santo é, cada um, uma pessoa distinta – nós
enunciamos a doutrina da Trindade em sua completude." Isto sumariza o que foi revelado
através das palavras e obras de Jesus, e é a realidade que sublinha a salvação apresentada
no Novo Testamento.

Falando de uma forma prática, a doutrina da Trindade requer de nós que rendamos honra
igual a cada uma das três Pessoas na unidade de um Deus. Além disto, conhecer esta
doutrina aprofunda a nossa fé pessoal, tanto quanto enriquece o saudável senso de unidade
com outros cristãos.