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Este trabalho apresenta uma nova análise do material de uma pesquisa realizada
por uma das autoras em 2006. Tal estudo realizou-se com seis alunos da 2ª série
do Ensino Fundamental de uma escola municipal do Bairro Santa Marta, região
onde vivem catadores de resíduos sólidos para a reciclagem da cidade de São
Leopoldo –RS. O material examinado é composto por cadernos de matemática e
entrevistas. Os resultados de uma pesquisa são sempre parciais e provisórios.
Disso resulta o exercício realizado, em que se procurou atribuir outros sentidos ao
que outrora foi produzido. O objetivo da pesquisa foi identificar e analisar jogos de
linguagem que constituem a matemática escolar e aqueles praticados pela forma
de vida daquela comunidade, e que se identificou como possuindo semelhanças
de família com a matemática escolar. Como ferramentas teóricas, utilizou-se a
Etnomatemática em seus entrecruzamentos com o pensamento pós-estruturalista,
em especial com ideias de Michel Foucault e teorizações presentes na obra de
maturidade de Ludwig Wittgenstein. Esta pesquisa identificou e examinou
algumas marcas dos jogos de linguagem da matemática escolar, como o
formalismo, a abstração, a escrita, a linearidade e a transcendência em
contraposição às marcas da oralidade, da estimativa e da contingência presentes
nos jogos de linguagem da forma da vida do Bairro Santa Marta.
Introdução
Aportes teóricos
Nota-se que o modo de calcular o troco que este aluno enuncia é diferente
da forma que se ensina na escola. Na escola, para resolver uma situação-
problema em que fosse necessário calcular o troco de uma compra,
invariavelmente se ensinaria os alunos a realizarem um cálculo de subtração.
Assim, se a situação descrita fizesse parte de um exercício escolar, para saber
quanto alguém receberia de troco caso utilizasse uma nota de dez reais para
comprar um pacote de pregos que custa quatro reais e cinqüenta centavos, o
aluno deveria “armar” um cálculo em que primeiro “cortaria” as vírgulas para após
começar a subtrair pela “casa” das unidades, localizada mais a direita do número,
avançando no sentido direita/esquerda até a “casa” das centenas. Tudo isso
utilizando, é claro, um método capaz de “conferir certa confiabilidade” ao cálculo,
ou seja, a escrita. Diferentemente desse processo, o aluno entrevistado subverte
essa lógica descrevendo o jogo de linguagem de calcular o troco utilizando um
cálculo oral de adição iniciado pela casa mais a esquerda dos números.
Observamos que os jogos de linguagem utilizados por esses sujeitos para
resolverem as situações cotidianas, diferem dos jogos que são legitimados na
matemática da escola. No espaço escolar o “lugar certo” das coisas do currículo
além da escrita dos algoritmos, não permite que ao invés de iniciar a adição ou a
subtração pelas unidades, se inicie o processo pelas dezenas, que se
decomponha os números para efetuar as operações matemáticas, ou se realize
estimativas. Dessa forma, ao desconsiderar esses jogos, a escola contribui
significativamente para a construção de discursos como “a matemática é difícil”,
“a matemática é para poucos”, entre outros que circulam pelos espaços
escolares. Entretanto, pensamos que se torna difícil gostar, aprender algo que
não encontra eco nas práticas matemáticas próprias de cada forma de vida. O
que ocorre aqui é uma “operação” etnocêntrica, efetivada por aqueles que
possuem o saber socialmente legitimado e que, por isso, caracterizam como sem
valor o que não seja sua produção cultural (KNIJNIK, 2006a).
As práticas orais, que marcavam os jogos de linguagem que identificamos
como possuindo semelhanças de família com a matemática em que fomos
socializadas, não têm uma receita, e parecem estar sempre em constante
processo de renovação e recriação. Já na matemática praticada na escola, a
resolução de cálculos se efetiva através de regras de certo modo invariáveis,
como as que mencionamos acima. Para Knijnik (2006b), devemos indagar que
pedagogias estão sendo postas em ação nas práticas escolares marcadas pela
escrita e nas práticas orais. Sendo os jogos de linguagem marcados pela
oralidade, transmitidos no âmbito familiar, eles estão sempre a “re-inventar-se”, ao
contrário dos jogos de linguagem escolares que são marcados pela repetição de
um modelo (Ibidem). Assim, “ensina-se o algoritmo, como se ele fosse a-histórico,
“puro”, transcendente. E então, “pede-se” aos sujeitos escolares que “apliquem”
tal conteúdo em uma situação concreta...” (Ibidem, p. 7).
Considerações finais
REFERÊNCIAS