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PUC SP
Salomão Ginsburg
(1890 – 1909)
MESTRADO EM HISTÓRIA
São Paulo
2017
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC SP
Salomão Ginsburg
São Paulo
2017
Banca examinadora
___________________________________
___________________________________
___________________________________
Agradecimento especial:
Aos meus pais; à minha noiva Maria Ângela da Hora; aos professores do
departamento de pós-graduação de História da PUC SP, em particular o
professor Dr. Fernando Torres Londonõ que orientou essa pesquisa; a
Alessandra Oliveira de Proença, da Fonte Editorial, que primeiro me sugeriu
estudar o protestantismo dentro da realidade brasileira; à professora Drª Sandra
Colucci, da PUC SP, que ainda na graduação, como professora de Historiografia
na UNICASTELO me incentivou a prosseguir os estudos no strictu sensu; ao
amigo Paulo Ricardo Lima, advogado e atualmente mestrando em Políticas
Públicas pela Universidade Federal do ABC (SP), e aos funcionários da
biblioteca “Dirce Kaschel” da Faculdade Teológica Batista de São Paulo por toda
a solicitude na fase de consulta às fontes e de redação da presente dissertação.
A todos os meus mais sinceros agradecimentos.
Prefácio. 16
Introdução. 18
1. Os primeiros anos. 31
5. Os missionários. 161
7.6. Inferências institucionais dos EUA na vida social brasileira por meio
da atividade missionária. 190
Bibliografia. 275
Abreviaturas:
AD – Assembléias de Deus
Prefácio
Julho 2017.
1
LÉONARD Émile G. O Protestantismo Brasileiro, p. 106 – 116.
2
MENDONÇA Antonio Gouveia de. O Celeste Porvir, p. 81 – 82.
3
LIMA Eber Ferreira Silveira. Entre a Sacristia e o Laboratório, p. 32 – 46.
18
Introdução
4
Asa Routh Crabtree (1889 – 1965). Missionário batista norte-americano enviado pela Junta de
Richmond para o Brasil, em 1921. Pastoreou a Igreja Batista da Tijuca, no Rio, concliando essa função com
a de professor no STBSB onde assumiu a direção interina de 1939 a 1940 e em caráter efetivo de 1945 a
1954, retornando aos EUA jubilado em 1958. A respeito de Crabtree, ver PEREIRA José Reis. História
dos Batistas no Brasil, p. 293.
5
CRABTREE A.R. História dos Batistas no Brasil, I, p. 37.
21
Diáspora6. E quanto a Daniel Kidder, que atuou como agente da SBA no Brasil
no período regencial percorrendo o país e recolhendo impressões que mais tarde
constituiriam o material das suas recordações de viagem, publicadas após seu
retorno aos EUA, em 1840, suas idéias cogitavam na verdade uma reforma dos
costumes religiosos do país, até por conta de suas simpatias pelas idéias
reformistas do regente do Império, o padre Diogo Feijó, como observou Léonard,
ao invés de uma conversão progressiva da nação ao protestantismo7. Esse
formato conversionista só foi assumido na segunda metade do século XIX
quando da chegada do médico escocês Robert Kalley e dos missionários
presbiterianos, e a aproximação destes dos elementos ligados às instâncias de
poder, o que é facilitado pelo fato de que tanto os protestantes quanto as
camadas liberais da sociedade compartilhavam de uma mesma ideologia (o
liberalismo) e de um mesmo espaço de atuação (a maçonaria). Para exemplificar
esse fato – um exemplo apenas, dos muitos que teremos a seguir – lembramos
que os relatórios encarregados de propor melhorias no sistema de parceria,
feitos na década de 1850, com a intenção de fortalecer a imigração europeia por
meio do regime de colonização, sugeriram a contratação de pastores para
atender os colonos protestantes que fossem enviados para as lavouras de café
além do que, que se resolvesse o quanto antes o problema dos casamentos
desses colonos, o que só ocorreu em 1861 quando do reconhecimento do
casamento de acatólicos. É claro que em um contexto onde homens de alta
posição flertam com idéias que não são aquelas que moldaram a configuração
política e religiosa do Estado Brasileiro, e o liberalismo protestante não deixava
de ser uma delas, ficava mais do que evidente que de modo algum a “religião
oficial do Estado” tinha opinião predominante dentro da sociedade brasileira.8
Compreender as relações entre o chamado “Protestantismo Histórico” e os
diversos segmentos da sociedade brasileira, em particular durante o período
republicano, é a tarefa proposta por essa pesquisa.
6
Ver o artigo sobre o Protestantismo de ABREU Martha e CARVALHO Maria Lígia Rosa. In
VAINFAS Ronaldo (diretor). Dicionário do Brasil Imperial, p. 595 – 597.
7
LÉONARD Émile G, op cit, p. 45 – 47.
8
COSTA Emília Viotti. Da Senzala à Colônia, p. 129.
22
9
Ver CAMPOS Leonildo de Oliveira. “Evangélicos de Missão: em declínio no Brasil”. In
TEIXEIRA Faustino; MENEZES Renata. Religiões em Movimento. O censo de 2010, p. 150. Sobre o
relatório Braga/Grubb, The Republic of Brazil: a Survey of the Religions Situation (1932) ver CAMPOS
Breno Martins; DOLGHIE Jacqueline Ziroldo. “Declínio Católico, Estagnação Protestante e Crescimento
Pentecostal”, in LEONEL João (org.). Novas Perspectivas do Protestantismo Brasileiro, II, p. 25.
10
PEREIRA José Reis, História dos Batistas no Brasil, p. 172.
23
11
CAMPOS Leonildo, In TEIXEIRA Faustino; MENEZES Renata, op cit, p. 148.
12
BRAGA Henriqueta Rosa Fernandes. Música Sacra Evangélica no Brasil, p. 192 – 193.
24
13
Sobre o Evangelho Social, ver TILLICH Paul. Perspectivas da Teologia Protestante, séculos
XIX e XX, p. 41 e 93. Ver também REILY Duncan Alexander. História Documental do Protestantismo no
Brasil, p. 275 – 277.
14
http://www.memoriadamusica.com.br/site/index.php/historia-e-musica-na-universidade2/95-
estrategias-de-uma-missao-salomao-ginsburg-e-a-construcao-do-ideario-batista-1890-1927 acesso
17/05/17.
25
Desde o início fica evidente que quanto mais tempo em atividade no país,
mais profundamente vai Ginsburg se enfronhando nas entranhas do poder
político, quer no âmbito local por meio das relações com chefes políticos de
localidades interioranas – ele logo percebe que sem esses canais de
comunicação seu ministério de pregação não irá prosperar – quer no âmbito
nacional por meio de contatos com políticos e mesmo com o Congresso Nacional
quando sente que nem ele, nem seus companheiros, estão devidamente
seguros. Esse pormenor é significativo: a longa permanência de Ginsburg no
país faz com que sua intransigência quanto aos “princípios batistas” comece a
dar lugar a formas de negociação que não poucas vezes entram em colisão com
alguns aspectos fundamentais desses mesmos princípios (embora,
paradoxalmente, não em contradição com o sentido da missão em relação aos
povos por ela visitados como veremos ao longo desse estudo). Daí porque a
pesquisa se concentre nas relações institucionais com grupos influentes da
sociedade brasileira do período inicial da República e, a partir daí, examinar as
demais conexões que são estabelecidas com outros extratos sociais,
notadamente naquelas áreas onde foi possível se verificar uma expansão
significativa das igrejas protestantes, isto é, nos territórios onde a ausência de
uma presença católica, institucional ou leiga, favoreceu a ocorrência desse
evento.
15
(1886 – 1962), bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul, Rio de Janeiro
(1916), especializado em Homilética pelo Seminário Batista do Sul de Louisville (1924), presidente da
Convenção Batista Brasileira (1919, 1925, 1928 e 1929) e bacharel em Filosofia pela Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Rio, em 1929. De 1917 a 1962 foi pastor da Primeira Igreja Batista de
Niterói, fundada por Ginsburg no começo do seu ministério no Brasil. Compositor, escreveu 26 hinos do
Cantor Cristão, o hinário batista compilado por Ginsburg. PEREIRA José Reis, op cit, p. 210 – 211.
16
GINSBURG Salomão L. Um Judeu Errante no Brasil, p. 7.
17
Ibidem, op cit, p. 7.
18
Idem. p. 16.
27
19
BLOCH Marc. Apologia da História, p. 89.
20
GAJANO Sofia Boesch. “Literatura Hagiográfica”. In BERNARDINO Angelo di; FEDALTO
Giorgio; SIMONETTI Manlio (org.). Dicionário de Literatura Patrística p. 909.
28
21
TULCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso, p. 14.
22
LÉONARD Émile G, op cit, p. 25.
23
BOURDIEU Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas, p. 88.
29
Usaremos o conceito de Igreja proposto por Max Weber dado que ele se
aproxima bastante do conceito de Denominação24, já bem arraigado nos círculos
24
No meio acadêmico brasileiro, “Igreja” e “Denominação” tornaram-se praticamente sinônimos
dada a regularidade quanto ao uso do último termo e a proximidade conceitual de ambos. Ver REILY
Duncan Alexander, op cit, p. 38 – 39.
30
25
WEBER Max. Economia e Sociedade, 2, p. 368.
26
Ibidem, p. 369.
31
CAPÍTULO I
1. Os primeiros anos
27
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 19.
28
Idem, p. 19.
29
JOHNSON Paul. História dos Judeus, p. 369 – 377.
32
de Nicolau I, em 1844, e que também não deu em nada, pode ser considerada
uma iniciativa nesse mesmo sentido30. O resultado disso é a decomposição da
vida social e intelectual das comunidades judaicas sujeitas ao regime czarista,
situação que não foi vivenciada pelos judeus da Alemanha e da Áustria, a
despeito as medidas restritivas só terem caído no curso do século XIX, bem
depois da revolução francesa, o que decerto contribuiu para que os pais de
Ginsburg se decidissem por educa-lo no estrangeiro.
30
BRENNER Michael. Breve História dos Judeus, p. 206 – 213.
31
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 20.
32
Idem, p. 20.
33
Este foi o ponto de partida. Eu fui ouvi-lo explicar aquele maravilhoso capítulo
profético, e ainda que não o pudesse entender inteiramente naquele dia ele ficou-me no
coração. O missionário pediu-me para ler o Novo Testamento, e quando me chamou a
atenção para as maravilhas da vida do Messias e como cada profecia se cumpriu em Jesus,
logo me convenci de que o Filho de Maria, o Crucificado, era o Filho de Deus, o Filho de
Israel, o Rejeitado do meu povo. Oh! Como eu chorei quando cheguei à leitura da cena
da crucificação, e li todas essas loucas palavras: “o seu sangue seja sobre nós e sobre os
nossos filhos”! Parecia-me que eu havia tomado parte ativa no assassínio do Inocente, e
compenetrei-me pela primeira vez da razão da História terrível dos judeus, dos
sofrimentos e das perseguições por que eles têm passado e o que ainda sofrem34.
33
Idem, p. 23 – 24.
34
Idem, p. 24.
34
Finalmente o Senhor teve piedade de mim e me deu paz, o que aconteceu dessa
maneira: como de costume eu fui ao Wellclose Square Mission, e nesse domingo à tarde
o reverendo João Wilkinson ia pregar. Tomou por base o texto de Mateus 10.37: “quem
ama o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim”. Ele reforçou especialmente
a última frase – “não é digno de mim” – não é digno de Jesus. Tudo que o pregador disse
parecia tocar a minha alma e, quando ele pediu testemunhos, eu não podia deixar de
levantar-me e, trêmulo, disse: “eu quero ser digno de Jesus”!35.
35
Idem, p. 27.
35
Uma vez já estando preparado para aceitar aquela verdade que se mostra
de modo mais aparente, todo o esforço mental de Ginsburg converge para a
busca de satisfação e gozo nessa verdade, ou melhor: na maneira como tal
apresentação da verdade se revela mais satisfatória. A afirmação “tudo que o
pregador disse parecia tocar a minha alma”, leva para essa idéia de pré-
aceitação do que foi colocado anteriormente e para o qual o futuro missionário
já se encontra há certo tempo predisposto. Lembremos que Ginsburg nasceu e
viveu nos seus primeiros anos numa comunidade judaica segregada dentro de
uma sociedade retrógrada e que nesse contato já havia rejeitado um dos pilares
dessa sociedade, que é o Catolicismo, mas não só o Catolicismo como todas as
tradições cristãs que dialogassem com os ícones. Daí porque ele não se
aproxima dos ortodoxos russos, nem dos anglicanos ingleses, que prosseguem
dentro da tradição católica do diálogo com as imagens. Sua relação com o
Cristianismo se dará apenas com os iconoclastas e com os que rejeitam os
sistemas institucionais moldados pelas relações com o Estado, razão pela qual
se aproximará dos movimentos independentes e manifestará simpatias por
elementos ligados a esses grupos como Charles Spurgeon.36
36
Idem, p. 37. Spurgeon (1832 – 1894), pastor batista inglês, foi pregador e dirigente do
Tabernáculo Metropolitano em Newigton, de 1861 até sua morte.
37
FOUCAULT Michel. A ordem do Discurso, p. 16.
38
Idem, p. 17.
36
Creio que essa vontade de verdade assim apoiada sobre um suporte institucional,
tende a exercer sobre os outros discursos (...) uma espécie de pressão como que um poder
de coerção. Penso na maneira como a literatura ocidental teve de buscar apoio, durante
séculos, no natural, no verossímil, na sinceridade, na ciência também – em suma, no
discurso verdadeiro. (...) o discurso verdadeiro não é, com efeito, desde os gregos, aquele
que responde ao desejo ou aquele que exerce o poder, na vontade de verdade, na vontade
de dizer esse discurso verdadeiro, o que está em jogo senão o desejo e o poder? O discurso
verdadeiro que a necessidade de sua forma liberta do desejo e liberta do poder, não pode
reconhecer a vontade de verdade que o atravessa; e a vontade de verdade, essa que se
impõe a nós há bastante tempo, é tal que a verdade que ela quer não pode deixar de
mascará-la39.
39
Ibidem, p. 17 – 19.
40
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 239 - 240.
41
Ibidem, p. 239.
37
42
Isto é, o Catolicismo da Contrarreforma do Concílio de Trento, cujos decretos foram
promulgados em 1563.
43
LÉONARD Émile G, op cit, p. 125.
38
44
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 32 – 35.
45
Ibidem, p. 37.
46
FOUCAULT Michel, op cit, p. 21.
39
47
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 41.
48
Ibidem, p. 41
49
O termo “não-conformista” (por vezes substituído por “independentes” ou “separatistas”), foi
aplicado na Inglaterra a todos os grupos religiosos que recusaram a soberania de um “rei humano” e,
consequentemente, a tutela do Estado, como os batistas e os quacres. Ver HILL Christopher. O Mundo de
Ponta Cabeça, São Paulo, Companhia das letras, 2002. Ver também HILL Christopher. A Bíblia e as
Revoluções Inglesas no século XVII. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003.
40
apologéticos e o primeiro chama-se “Pedro Nunca foi Papa”, para o qual teve o
auxílio de um tal Sr. Jones, um comerciante batista independente ligado ao
tabernáculo de Charles Haddon Spurgeon cujo ministério foi, em grande parte,
marcado por violentos debates apologéticos contra os católicos e os batistas
gerais de tradição arminiana50. O panfleto seguinte, de título ainda mais
provocador – “A Religião dos Trapos, Ossos e Farinha” – lhe valeu o convite para
que se retirasse do país, encerrando-se assim sua passagem pela nação
portuguesa51, cujo desdobramento lembra bastante o que se passou com o
próprio Robert Kalley na Ilha da Madeira meio século antes. A expulsão de
Portugal parece ter contribuído para fomentar ainda mais o seu radicalismo:
O que eu mais aprendi [do período em que esteve em Portugal] foi o estudo da
religião católica em Portugal desde que ela foi transportada para a colônia e que hoje,
com mui pouca modificação, é a religião que predomina no Brasil. A maioria do clero no
Brasil é portuguesa, cujo único objetivo, parece, é juntar fortunas e então voltar à Pátria
e viver prosperamente. As mesmas superstições, a mesma ignorância, a falta de idéias
acerca da responsabilidade individual perante Deus e perante os homens. Roma arruinou
Portugal e fê-lo objeto de escárnio de outras nações. Roma está fazendo a mesma coisa
com o Brasil hoje. O Brasil, apesar de ser o país mais rico do mundo está atualmente
degradado pelas manhas e intrigas da Igreja Católica Romana, exatamente como tem sido
com todos os povos, nações e tribos que tem caído debaixo de sua funesta influência.52
Aqui há muita coisa para se dizer: Primeiro: chama atenção o fato de que
mesmo tendo conhecido os dois países e havendo passado mais de trinta anos
de sua vida no Brasil, o missionário Salomão Ginsburg não tenha conseguido
identificar significativas diferenças entre o Catolicismo Romano e o do Padroado
Ibérico e mesmo deste daquele catolicismo praticado no interior do Brasil onde
as formas episcopais nunca conseguiram se aprofundar e assim levar o regime
eclesiástico católico até as partes mais remotas do país. Como escreve Hugo
Fragoso, o padroado ibérico implantado no Brasil tornava inefetiva qualquer
50
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 45.
51
Idem, p. 47.
52
Ibidem, p. 48.
41
53
FAGUNDES João et al. História da Igreja no Brasil, tomo II. p. 237
54
Apenas para ficarmos no período e nos estados onde Ginsburg missionou, RJ e PE, (1893 –
1909) temos que na diocese (e a partir de 1897, arquidiocese) do Rio, no mesmo período, passaram três
bispos, dos quais somente um, Dom José Fernando Tiago Esberard (1893 – 1897) era estrangeiro, nascido
na Espanha. Esberard foi precedido pelo paulista Dom José Pereira da Silva Barros (1891 – 1892) e
sucedido pelo pernambucano Dom Joaquim Arcoverde (1897 – 1930). Na Diocese (e a partir de 1910,
Arquidiocese) de Olinda, passaram dois bispos nessa época, o maranhense Dom Luis Raimundo Faria Brito
(1901 – 1915) e o paulista dom Sebastião Leme (1915 – 1921).
55
Ver FAORO Raimundo, Os Donos do Poder, I, p. 281 – 282. Ver também o verbete sobre a
Abertura dos Portos de FARIA Sheila de Castro, in VAINFAS Ronaldo (direção) Dicionário do Brasil
Imperial, p. 14 – 15 e SIMONSEN Roberto. História Econômica do Brasil, p. 504 – 505.
56
KIDDER Daniel P. Reminiscências de Viagens e Permanência no Brasil, p. 246.
42
57
LÉONARD Émile G, op cit, p. 42 – 43.
58
MARIÁTEGUI José Carlos. Sete Ensaios de Interpretação da Realidade Peruana, p. 169 – 183.
59
MORSE Richard M, O Espelho de Próspero, p. 42.
60
Ibidem, p. 43.
43
No Brasil a catedral ou a igreja mais poderosa que o próprio rei, seria substituída
pela casa grande e pelo engenho (...) a igreja que age na formação brasileira, articulando-
a, não é a catedral com o seu bispo a que se vão queixar os desenganados da justiça
secular, nem a igreja isolada e só, os de mosteiro ou abadia (...) é a capela de engenho.
Não chega a haver clericalismo no Brasil. Esboçou-o o dos padres da Companhia [de
Jesus] para esvair-se logo, vencido pelo oligarquismo e pelo nepotismo dos grandes
senhores de terra e escravos62.
61
Ibidem, p. 42.
62
FREYRE Gilberto. Casa Grande & Senzala, p. 271.
63
Ibidem, p. 38.
64
MARIATÉGUI José Carlos, op cit, p. 180.
44
O desconhecimento de qualquer forma de convívio que não seja ditada por uma
ética de fundo emotivo representa um aspecto da vida brasileira que raros estrangeiros
chega a penetrar com facilidade (...) nosso velho catolicismo, tão característico, que
permite tratar os santos com uma intimidade quase desrespeitosa e que deve parecer
estranho às almas verdadeiramente religiosas, provém ainda dos mesmos motivos (...)
culto amável e quase fraterno, que se acomoda mal às distâncias e suprime as distâncias
(...) um culto que dispensava no fiel todo esforço, toda diligência, toda tirania sobre si
mesmo, o que corrompeu pela base o nosso sentimento religioso65.
65
HOLANDA Sergio Buarque de, op cit, p. 257 - 258.
45
66
WIRTH Lauri Emílio, cit em LEONEL João (org.), op cit, p. 31.
46
67
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 50.
68
CASALECCHI José Ênio. O Partido Republicano Paulista, p. 13.
69
Ibidem, p. 13 – 14.
70
Ver o verbete sobre as eleições no Brasil imperial de GRINBERG Keila in VAINFAS Ronaldo
(diretor), Dicionário do Brasil Imperial, op cit, p. 223 – 225.
47
Para reforçar essa verdade lembremos mais três fatos. Primeiro: em 1858
o Dr. Robert Kalley recebeu parecer favorável de juristas do Império (Nabuco de
Araújo, Urbano Pessoa de Mello e Caetano Alberto Soares) acerca de uma série
de questões formuladas pelo missionário escocês com vistas a se respaldar
juridicamente acerca de sua atividade missionária no Brasil contra eventuais
73
ROCHA João Gomes da. Lembranças do Passado, I, p. 95 – 96.
74
Ibidem. I, p. 172.
75
Metódio Maranhão destaca a respeito dessa lei que seu objetivo era, de fato, “repelir a forma
puramente civil do casamento, e dar-lhe um caráter completamente religioso, mesmo quando não fosse
católico”. MARANHÃO Metódio. O Direito e a Religião, p. 46.
76
ROCHA João Gomes da, op cit, I, p. 172.
77
BRAGA Henriqueta Lopes Fernandes, op cit, p. 71 – 73 (Igreja Anglicana) e p. 88 – 89 (Igreja
Luterana).
78
ROCHA João Gomes da, I, p. 73.
79
LESSA Vicente Themudo, Annaes da Primeira Igreja Presbiteriana de S.Paulo, p. 19 – 20.
80
ROCHA Isnard, Pioneiros e Bandeirantes do Metodismo no Brasil, p. 37.
81
LÉONARD Émile G, op cit, p. 77.
82
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 93 – 94.
83
HAUK João Fagundes et al, op cit, II, p. 237.
49
84
Os dados estão em Nosso Século, I (1900 – 1910), p. 11 e em FAUSTO Boris (direção) História
Geral da Civilização Brasileira, 8, III, 1, p. 17.
50
85
COSTA Emília Viotti, Da Monarquia à República, ob cit, p. 182.
86
Ibidem, p. 183.
87
JÚNIOR Caio Prado. História Econômica do Brasil, p. 188 – 189.
88
COSTA Emília Viotti da. Da Monarquia a República, op cit, p. 230.
89
CASALECCHI José Ênio, op cit, p. 26 – 27.
51
90
HOLANDA Sergio Buarque de; op cit. 205.
91
Ver o artigo de LANGE Lana, “As Constituições da Bahia e a reforma do clero tridentino no
Brasil”, in FEITLER Bruno; SOUZA Evergton Sales de (orgs). A Igreja no Brasil, p. 147 – 177.
52
92
VIEIRA David Gueiros. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil, p. 33
– 35.
93
ZAGHENI Guido. Curso de História da Igreja, vol. IV, p. 21 – 43.
94
HAUSER Arnold. História Social da Literatura e da Arte, p. 654.
53
própria Questão dos Bispos mostra isso: concordando com Sergio Buarque de
Holanda, Fernando de Azevedo lembra que o que estava em jogo na celeuma
“não era, certamente, a intolerância religiosa”, mas simplesmente o direito dos
bispos de exercerem sua “autoridade legitima em assuntos puramente
espirituais”, sobre o clero e as confrarias expostas à crescente influência
maçônica e à intervenção dos agentes públicos que viam os clérigos como meros
funcionários do Estado95. Daí a conclusão do episcopado brasileiro, na pastoral
coletiva de março de 1890, ano da chegada de Ginsburg ao Brasil de que o
padroado era, afinal de contas, “uma proteção que nos abafava”. 96 A expansão
diocesana no período subsequente a 1889 confirma o impacto positivo que a
República teve na propagação do catolicismo romanizado.
Fica evidenciado aqui que o Império representa não o ápice, mas o nadir
na História da Igreja Católica no Brasil. De fato, observando a tabela acima é
possível perceber que a maior expansão de dioceses se deu com a República,
com 36 dioceses criadas no Centro-Sul e 26 no Nordeste. A região Sul foi a que
mais se beneficiou desse crescimento, saindo de uma situação de quase total
insularidade para o de verdadeira irrupção episcopal, já que foi ali onde mais
diretamente se sentiu todo o impacto da romanização do catolicismo brasileiro
implantado a partir do final do século XIX. Nessa região, graças ao fluxo
imigratório contínuo e ao fato de as tradições luso-africanas não haverem ali se
95
AZEVEDO Fernando de. A Cultura Brasileira, p. 262.
96
HOLANDA Sergio Buarque, op cit, p. 206.
97
http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-218-65.htm acesso 06 jan. 2017.
54
98
HISTÓRIA DA IGREJA NO BRASIL, III, 2, 3/2, p. 538.
99
Ibidem, p. 274.
100
Ibidem, p. 275.
101
Ibidem, p. 595 – 595.
102
Ibidem, op cit, p. 425 – 426 e 428 – 431.
103
Ibidem, op cit, p. 421.
55
104
AZEVEDO Fernando de, op cit, p. 269.
105
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 47.
106
Ibidem, p. 49.
56
107
BRAGA Henriqueta Rosa Fernandes, op cit, p. 192 – 193.
108
Idem, p. 53. O texto é baseado na tradução de 1970, vertido do original em inglês de 1922, p.
52. Na edição de 1931 o tradutor Manoel Avelino de Souza suprimiu esse comentário com a seguinte
tradução: “mas não há ganho algum em resistir a uma multidão de 100 fanáticos guiados por um padre sem
valor nenhum”, p. 57.
109
Ibidem, p. 222.
57
110
O missionário pentecostal sueco Otto Nelson que desembarcou em Alagoas em 1915 também
fez comentários análogos ao tratar de uma prosélita, uma das primeiras aquisições feitas pela AD naquele
estado “preta como carvão, mas lavada no sangue de Jesus”. ALENCAR Gedeon. Assembléias de Deus,
origem, implantação, militância, p. 66. O racismo no meio pentecostal também aparece na incipiente
produção literária dos primórdios do movimento nos EUA. Myer Pearlman (1898 – 1943), também oriundo
do meio judaico, nesse caso, do ambiente inglês, e como Ginsburg convertido ao cristianismo após
dolorosas experiências pessoais, transferiu-se para os EUA onde assumiu funções docentes no Central Bible
Institute em St. Louis, Missouri, um dos centros do movimento pentecostal estadunidense, onde formou
seminaristas que depois serão enviados como missionários ao Brasil, a exemplo de Niels Lawrence Olson
(1910 – 1993), autor de revistas de escola dominical e apresentador do programa radiofônico A Voz das
Assembléias de Deus, transmitido do Rio de Janeiro, a partir de 1955. Pearlman escreveu alguns livros que
depois serão publicados no Brasil por meio de grupos editoriais conservadores como a editora Vida, entre
os quais, Através da Bíblia, Livro por Livro, adotado como livro-texto no Instituto Bíblico das Assembléias
de Deus de Pindamonhangaba (SP), e no Instituto Bíblico Pentecostal, do Rio, também ligado às AD. Em
Através da Bíblia aparece a tese da “maldição da Cam” na p. 20. Um registro biográfico de Pearlman pode
ser encontrado em ARAUJO Isael, Dicionário do Movimento Pentecostal, p. 547. Sobre Olson, mesma
obra, p. 531.
111
GINSBURG Salomão L, op cit, p 52.
112
Ibidem, p. 53.
58
113
Ibidem, p. 126.
114
BRAGA Henriqueta Gonçalves Fernandes, op cit, p. 193 – 195.
59
Para Ginsburg o que fará o Brasil um “país cristão” é o fato de ele se tornar
uma realidade em cada casa, em cada família, mas isso só é possível na
perspectiva da conversão e conversão a um novo sistema religioso, a uma nova
relação de fé e sociedade. Os “crentes” são chamados a fazer esse esforço,
apregoando o evangelho e o dom da vida inerente na sua mensagem. Fica claro,
assim, que nesse hino, Ginsburg não só não vê o Brasil como um país cristão ou
que tenha uma idéia do que seja a mensagem cristã, como ainda, que só por
meio do protestantismo batista essa mensagem poderá ser efetivamente
transmitida e vivenciada.
115
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 61 – 62.
116
Ibidem, p. 66 – 68.
60
117
Idem, p. 68.
118
NOVAES Carlos. “Vocação para a Intolerância. Controvérsias e cisões na História dos
Batistas”, in PINHEIRO Jorge; SANTOS Marcelo. Batistas. Controvérsias e vocação para a Intolerância,
p. 10.
119
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 63.
120
Ibidem, p. 29.
61
Gonçalves dos Santos121, o sucessor dos Kalleys na IEF, tenha influído na sua
decisão de se reunir aos batistas cujo trabalho era mais recente e onde o conflito
de egos, pelo menos naquele momento, ainda não existia ou não tinha tomado
vulto maior122.
121
Rev. João Manoel Gonçalves dos Santos (1842 – 1928). Membro da Igreja Evangélica
Fluminense desde 1859, tendo sido recebido pelo próprio Robert Kalley, estudou na escola de pregadores
fundada por C H Spurgeon em Londres, formando-se ali em 1875. De volta ao Brasil presidiu a Igreja
Evangélica Fluminense do Rio de 1876 a 1914 e a SBBE no Brasil de 1879 a 1901. É o primeiro pastor
brasileiro consagrado estritamente para este ministério.
122
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 47 – 48.
123
Ibidem, p. 70.
62
condenar os que perseguem outros por não concordarem com as suas idéias124”,
mas, ao mesmo tempo, afirma que a questão do rebatismo dos
congregacionalistas era de teor diferente. “Considerei ser meu dever
incontestável ao menos explicar-lhes que as havia deixado em erro por
ignorância125.” Ginsburg ainda registra que muitos crentes que batizou em Niterói
durante sua passagem pela IEF haviam sido “por minha influência (grifo meu)
(...) guiadas a Cristo, sabendo que me ligara aos batistas, começaram logo a
estudar a questão do batismo sob nova luz (grifo meu) e com a Bíblia aberta”.126
Acrescenta ainda o missionário que muitos prosélitos do grupo de Niterói foram
depois apresentados ao missionário Willian Bagby o pioneiro batista, e mais
tarde organizaram a PIB na antiga capital fluminense, feito que Ginsburg atribuiu
sem pejo algum ao seu testemunho de fé embora para ele isso de maneira
nenhuma signifique proselitismo.127
124
Ibidem, p. 73.
125
Idem, p. 73.
126
Idem, p. 73.
127
Idem, p. 73.
128
Idem, p. 74.
63
129
Idem, p. 76.
130
Desde o início do seu ministério no Brasil que Ginsburg manifesta preocupação quanto ao
“testemunho exterior” da comunidade. Na época de sua transição do congregacionalismo para a Igreja
batista, Ginsburg lembra que os batistas de Pernambucano “tinham má reputação”; GINSBURG Salomão
L, op cit, p. 207.
131
Idem, p. 258.
64
132
Idem, p. 258.
133
ARAÚJO João Pedro Gonçalves de. História, Pensamentos e Tradições Batistas, p. 24.
134
Ibidem, p. 25.
135
Ibidem, p. 25.
65
vezes, a primeira por conta de sua situação de amásia e a segunda por ter ficado
grávida ainda que tivesse deixado aquele relacionamento, é bem ilustrativo do
modo como as relações de gênero eram tratadas na PIB baiana, e que refletem
o estado de espírito da Igreja Batista de um modo geral e do próprio Salomão
Ginsburg em particular, posto que ele ocupa uma posição de protagonista no
incidente tendo em vista que no momento em que se deu o fato (setembro de
1892) ele se acha respondendo por aquela igreja. De fato, é preciso aqui chamar
atenção para aquilo que Gonçalves de Araújo descreve como sendo a
disparidade dos conceitos de moral formado pelos brasileiros que membravam
na igreja e o dos missionários, já que enquanto os primeiros votavam pela
recepção da peticionária, os últimos tomaram partido contrário. Diante da
posição favorável dos brasileiros, Ginsburg substituiu o moderador da reunião
colocando em seu lugar outro elemento mais sensível às suas convicções e
forçando assim a Igreja a rejeitar o ingresso da solicitante.136 Pode ter sido em
virtude desse fato, talvez um resquício da influência precedente de Taylor, que
Ginsburg tenha se decidido por depurar aquela igreja afastando dela aqueles
elementos que seriam, segundo ele, a razão do mau testemunho da comunidade
no âmbito da sociedade local.
136
Idem, p. 26.
137
Idem, p. 33 – 44.
66
138
Idem, p. 32.
139
ALMEIDA Rute Salviano de, Vozes Femininas no Início do Protestantismo Brasileiro, p. 182
– 183.
140
YAMABUCHI Alberto Kenji, O Debate sobre a História das Origens do Trabalho Batista no
Brasil. Tese de doutorado em Ciências da Religião, p. 127.
141
Em seu artigo sobre o ministério pastoral feminino, Mia Fabiano já destaca a mudança de
mentalidade em igrejas batistas e que no âmbito das duas convenções batistas brasileiras (CBB e Convenção
Batista Nacional) se percebe uma recepção à ordenação de pastoras, mesmo porque as missionárias no
campo já exercem trabalho análogo ao dos pastores, por exemplo, batizando e celebrando a ceia, “coisa que
antes as próprias convenções não permitiam”. FABIANO Mina. “Provocações de Gênero: Mulheres
Pastoras”, in PINHEIRO Jorge; SANTOS Marcelo, op cit, p. 119.
142
ALMEIDA Rute Salviano de op cit, p. 181 – 183.
67
Nos três casos, a despeito das variáveis doutrinárias de cada igreja e das
regiões onde elas se instalaram, permanece a mesma situação: a negação do
sujeito feminino tanto do ponto de vista do seu papel na vida da comunidade
143
JUNIOR Cleofas Lima Alves de Freitas, As Práticas e Representações Femininas no
Protestantismo de Campina Grande: a Igreja Evangélica Congregacional (1927 – 1960). Dissertação de
Mestrado em História, p. 107 – 109.
144
DANIEL Silas. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, p. 219.
145
Op cit, p. 224. Na defesa dessa dissertação, o professor Gedeon Alencar, componente da banca,
destacou que o não-acatamento da resolução do presbitério carioca pela convenção estava mais relacionado
ao conflito de poderes (precisamente por se tratar de ato do presbitério de uma igreja e não da convenção)
e não na de contrariedade com as normas (N.A).
68
146
ARAÚJO João Pedro Gonçalves de, op cit, p. 41 – 42.
147
ALMEIDA Rute Salviano de op cit, p. 184.
69
148
MEIN John. A Causa Batista em Alagoas, p. 9 – 13.
149
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 77 – 78.
150
TARSIER Pedro. História das Perseguições Religiosas no Brasil, vol. II, p. 8. Tarsier cita como
fonte a Revista de Missões Nacionais, de 28 de dezembro de 1905.
151
Samuel Howard Ford (1819 – 1905). Teólogo e historiador batista, nascido na Inglaterra,
mudou-se para os EUA onde se formou em teologia pela Universidade Estadual de Colúmbia no Missouri.
Pastor em Memphis, Louisville e Sant Louis e editor do Western Recorder de Louisville, Kentucky. Durante
a Guerra de Secessão (1861 – 1865), representou o Kentucky no Congresso Confederado em Richmond de
dezembro de 1861 a fevereiro de 1862.
70
152
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 78.
153
Ibidem, ob cit, p. 78.
154
No meio batista as igrejas fundadas nos EUA seguiam orientação calvinista (isto é, aceitavam
o dogma da predestinação conforme consubstanciado por Calvino), sendo a doutrina acentuada (Confissão
da Filadélfia) ou atenuada (Confissão de New Hampshire), conforme o meio eclesial em que ela se
inserisse. Esses batistas eram comumente chamados de particulares, posto que criam no caráter seletivo da
salvação por parte de Deus, em detrimento dos batistas gerais, muito numerosos no Reino Unido, e que
seguiam as idéias teológicas do teólogo holandês Jacob Hermensz (conhecido como Armínio) onde a
predestinação não excluía a responsabilidade humana. Ver a respeito PINHEIRO Jorge e SANTOS
Marcelo, op cit, p. 24 – 29.
155
BOURDIEU Pierre, op cit p. 57.
71
156
Ibidem, p. 57.
157
TARSIER Pedro, op cit, I, p. 198.
158
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 80 – 81.
72
conferência seguiu o ritmo de praxe, isto é, Ginsburg fez uma exposição sobre a
diferença entre as doutrinas batistas e o Catolicismo Romano e distribuiu
algumas bíblias das quais uma foi parar nas mãos de um indivíduo que parece
ter se atemorizado por “ter um livro proibido pelos padres em seu poder”, e tanto
assim que se dispôs a queimá-lo com a maior urgência. Ocorreu, contudo, que
um padeiro, que já tinha tido algum contato com protestantes, pediu emprestada
a Bíblia para lê-la com sua esposa e, segundo Ginsburg, a primeira mensagem
que leram foi a de Êxodo 20 sobre os Dez Mandamentos, mais precisamente a
passagem “onde o culto aos ídolos é claramente proibido”, após o que ambos
destruíram todas as imagens de santos que haviam dentro da casa. Ginsburg
destaca o sucesso de sua missão em Amargosa com o fato de que uma igreja
batista havia sido fundada na região e que depois de alguns anos ela já “crescia
satisfatoriamente”159.
159
Ibidem, ob cit, p. 83 – 84.
160
CUNHA Euclides. Os Sertões, p. 465.
161
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 87.
73
162
Ibidem, p. 90.
163
MEIN John, op cit, p. 27.
164
Ibidem, p. 27.
74
De fato, segundo John Mein, por ocasião dessa crise, Ginsburg propôs
uma solução em nome da Missão nos seguintes termos: “A Missão, representada
pelos senhores missionários W.H. Canada e Salomão L. Ginsburg dissera que
continuaria a auxiliar esta igreja caso ela revogasse o que deliberou
relativamente à maçonaria, caso contrário, retiraria todo o auxílio”. Esse auxílio
era o pagamento do aluguel do ponto de pregação e o subsídio pastoral, ficando
a “evangelização do estado” por conta dos nacionais165. É possível que essa
atitude impositiva de Ginsburg tenha colaborado para que a crise antimaçônica
prosseguisse por mais tempo só sendo efetivamente solucionada em 1910, com
a chegada do missionário R.E Pettigrew, que, por meio de um discurso de
pacificação e sem imposições prévias, conseguiu restabelecer a união das
igrejas batistas dissidentes e revogar o edito de 1905 que expulsava os maçons
da denominação, fato para o qual colaborou também o esvaziamento do
movimento antimaçônico que, nesse momento se achava reduzido a três
membros da igreja batista de Pilar, que foi, por essa razão, extinta.166 Desse
modo, encerrou-se o cisma maçônico alagoano sem a saída dos maçons, o que
significou, na prática, o triunfo da posição defendida por Salomão Ginsburg,
ainda que por outros meios.
165
Ibidem, p. 28.
166
Ibidem, op cit, p. 31 – 32.
167
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 121 (porém, alguns irmãos maçons não podiam tolerar essa
perseguição...).
168
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 264.
169
Ibidem, p. 278.
170
Conforme David Gueiros Vieira, as relações entre presbiterianos e maçons eram bastante
cordiais no decorrer do século XIX embora destaque que a colaboração nem sempre era recíproca, pois
75
enquanto os missionários presbiterianos estavam a par de muitas decisões da Maçonaria, por outro,
cooperavam com aqueles de modo restrito, limitando-se a fornecer livros e literatura anticatólica. Já os
maçons que aderiram à Igreja Presbiteriana “entravam com satisfação” na luta contra o Catolicismo.
Evidentemente havia exceções em relação à Maçonaria no meio presbiteriano como o missionário
Alexander Blackford, que tinha uma opinião mais crítica acerca da Irmandade, mas não eram
predominantes. Gueiros não encontrou evidências de uma colaboração nos mesmos moldes entre a
Maçonaria e os congregacionalistas, por certo, devido à falta de confiança de Robert Kalley na Irmandade.
Op cit, p. 278.
171
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 47.
172
Sobre a participação de D. Pedro I na organização do maçonismo no Brasil ver VIEIRA David
Gueiros, op cit, p. 41 – 42.
173
Acerca da inserção da Maçonaria no Brasil e seu desenvolvimento durante o século XIX ver
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 40 – 47.
174
Ibidem, p. 278.
175
Ibidem , p. 279.
176
DOCUMENTOS DA IGREJA. Carta “Exortae in Ista”, 29 de abril de 1876, 2.
76
no curso do século XIX lojas “em quase todas as cidades”, ainda segundo
Blackford em sua correspondência privada177. Como escreveu Metódio
Maranhão: “a Maçonaria teve sempre entre nós, um grande prestígio, sem a
mínima incompatibilidade com os membros e autoridades da Igreja Católica”.178
A narrativa de Ginsburg não fala quando, como e onde ele foi cooptado
pela Irmandade, mas destaca o fato com as cores mais nítidas e revela nessa
afirmação uma necessidade imperativa: a de que o estudo das relações
177
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 278.
178
MARANHÃO Metódio, op cit, p. 58.
179
LÉONARD Émile G, op cit, p. 172.
180
ARAUJO João Dias de, “Igrejas Protestantes e Estado no Brasil”, in CADERNOS DO ISER,
7 p. 29.
181
BOURDIEU Pierre, op cit, p. 70.7
77
182
Lembramos que o período estudado por David Gueiros Vieira é o do segundo império até o
encerramento da Questão dos Bispos (1874).
183
Ver GNACCARINI José C. “A Economia do Açúcar. Processo de Trabalho e Processo de
Acumulação”. In FAUSTO Boris (org.). História Geral da Civilização Brasileira, vol. 8, p. 311 – 315.
184
Ibidem, 8, p. 318 – 319.
78
185
Ibidem, 8, p. 320 – 322.
186
FAORO Raimundo. Os Donos do Poder, vol. II, p. 72.
187
VIANA Oliveira. Populações Meridionais do Brasil, p. 108.
79
188
TARSIER Pedro, op cit, I, p. 197.
80
189
GINSBURG Salomão L, op cit. p. 91 – 93.
190
Ibidem, p. 94.
191
Ibidem, p. 95.
192
Ibidem, p. 96.
81
193
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 246.
83
É bem possível que Ginsburg tenha pensado nesse fato antes de eleger
aquela região como base de suas operações, e uma vez que repetirá o
expediente em Pernambuco a especulação não é de todo infundada embora seja
apenas uma hipótese. Contudo, por se tratar de uma região de grande
adensamento populacional, com circulação de dinheiro e serviços urbanos
disponíveis como ferrovias, bancos e jornais, a tese não pode ser de todo
descartada. De fato, somando as populações dos municípios de Campos
(90.706 habitantes), Macaé (42.015) e São Fidélis 25.195), temos um total de
157.916 pessoas morando nesses três municípios contra um total de 926.035
em todo o estado do Rio em 1900197. Se pensarmos que a região norte do estado
do Rio, como a zona da mata norte de Pernambuco, correspondia a uma área
de grande giro comercial e econômico motivado pela lavoura da cana-de-açúcar,
teremos então um padrão na atividade missionária de Ginsburg, que priorizava
194
JUNIOR Caio Prado, op cit, p. 137.
195
VIANA Oliveira, op cit, p. 304.
196
TSCHUDI J.J op cit, p. 19 – 22.
197
SYNOPSE DO CENSO 1900, p. 75 – 77.
84
198
PIEDRA Arturo, A Evangelização Protestante na América Latina, I p. 94 – 97. Piedra também
chama atenção para a relação entre a atividade missionária e econômica com os missionários exercendo o
papel de divulgadores dos recursos naturais do continente latino-americano e enfatizando a
interdependência das nações do Cone Sul com os EUA.
199
De fato, no censo de 1900, Niterói, então capital do estado do Rio, contava com 30.869
habitantes contra os 90.706 de Campos. SYNOPSE DO CENSO, 1900, op cit, p. 76.
200
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 97.
201
Ibidem, p. 98.
85
Mais uma vez, Ginsburg não percebe que o que ele considera ser um
anticatolicismo nato na sociedade brasileira é, na verdade, uma aversão a
determinada forma de catolicismo, nesse caso o ultramontano, em detrimento
daquele de influência galicana ou jansenista. David Gueiros, a exemplo de
Sergio Buarque de Holanda, lembra que o galicanismo decorre da própria
conjuntura do padroado ibérico e que foi preservado pelas autoridades régias
202
Idem, p. 98 – 99.
203
Idem, p. 100.
204
Idem, p. 101.
205
Idem, p. 101.
206
TARSIER Pedro, op cit, vol. I, p. 177.
86
207
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 28 – 29.
208
ALBERIGO Giuseppe. “O Concílio do Vaticano I” (1869 – 1870) in ALBERIGO Giuseppe
(org.) História dos Concílios Ecumênicos, p. 367 e 388.
209
Ver nota 91.
87
210
GINSBURG Salomão L, op cit p. 102.
211
Ibidem, p. 103.
88
212
TARSIER Pedro, op cit, I, p. 167 – 168.
213
Ibidem, p. 104.
214
Ibidem, p. 105.
215
O carioca Manuel Martins Torres nasceu em 1843 e morreu na mesma cidade em 1905.
Formado pela faculdade de direito de São Paulo (1864). Juiz de Direito em Santa Catarina, Mato Grosso e
Bahia, delegado de polícia na Paraíba, deputado provincial na província do Rio de Janeiro, assumiu a
primeira vice-presidência do estado na administração de Francisco Portela (1889 – 1891) sendo depois
reconduzido ao cargo no governo de Tomás Porciúncula. Governou interinamente o estado de setembro de
1893 a março de 1894, quando do afastamento de Porciúncula, ao mesmo tempo que respondia pela chefia
da polícia do Distrito Federal durante a Revolta da Armada.
http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/TORRES,%20Manuel%20Martins.pdf
acesso 24 dez. 2016.
216
(1852 – 1913), fluminense de Sapucaia, formado pela faculdade de medicina do Rio de Janeiro
(1876), estabelece-se na cidade natal onde exerceu a clínica e a política ao mesmo tempo. Foi vice-
governador do estado do RJ (1892 – 1894) e depois assumiu o governo (1894 – 1897) após o que tornou-
se deputado federal pelo estado do Rio. http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-
republica/ABREU,%20Maur%C3%ADcio%20de.pdf acesso 24 dez. 2016.
217
(1839 – 1924). Natural de Campos, médico formado pela faculdade de medicina do Rio,
clinicou nos hospitais da Misericórdia e Beneficência Portuguesa até 1903 além de ser fundador e primeiro
presidente da Sociedade Médico-Farmacêutica e de Beneficência de Campos, fundada em 1878. Agraciado
com o título de barão em 1888, foi vice-presidente do estado do Rio (1892 – 1894), deputado federal (1900
– 1905) e senador (1905 – 1921) sempre pelo estado do RJ.
http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/BATISTA,%20Almeida.pdf acesso 24
dez. 2016.
89
que no final do debate o missionário foi enviado à prisão onde ficou dividindo a
cela com cerca “de quarenta criminosos para cima”, após o que foi transferido
para o salão dos soldados antes de ser enviado para a Casa de Detenção em
Niterói.218 É só depois que o próprio presidente do estado, Tomás Porciúncula219,
fica sabendo a respeito do fato é que finalmente Ginsburg foi solto e ainda se
desculpa do desaire, argumentando que apenas as circunstâncias especiais
decorrentes da revolta da Armada que determinara aquela prisão 220. Ginsburg
não fala sobre de que modo o então presidente do estado do Rio tomou ciência
do fato e chama atenção o fato de ele pedir desculpas argumentando que
somente a conjuntura política determinou aquele desentendimento221, mas é
possível que a resposta esteja na confusão de nacionalidade que os funcionários
fluminenses fizeram a respeito de Ginsburg quando, em São Fidélis, o
confundiram com um cidadão norte-americano222. Deve-se lembrar que antes
dessa entrevista, Ginsburg tinha se avistado com o cônsul português, que ele
descreve como seu amigo pessoal, e que prometeu mediar a sua soltura, embora
sem muita esperança de lograr êxito devido ao sentimento anti-português
reinante tanto no Rio quanto em Niterói223. O que parece mais provável – embora
a narrativa não dê muito subsídio para pensarmos desse modo – é que o status
estrangeiro de Ginsburg, mais as suas boas relações com diplomatas e políticos,
deve ter interferido em sua libertação. Devemos também lembrar que naquele
momento as circunstâncias especiais determindas pela revolta da Armada havia
218
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 107.
219
(1854 – 1901) fluminense de Petrópolis, formou-se em Medicina pela faculdade de medicina
do Rio de Janeiro (1878). Médico em Petrópolis e fundador da Sociedade Médica e Cirúrgica do Rio de
Janeiro, ligando-se desde essa época ao movimento republicano, assumiu interinamente, após a
proclamação do novo regime, o governo do Maranhão (1889 – 1890), elegendo-se depois governador do
estado do RJ. Em seu mandato (1892 – 1894) ocorreu a segunda revolta da Armada e por conta da ameaça
dos amotinados que tentam forçar o desembarque do qual resulta o feroz combate da Ponta da Armação,
em Niterói, decide transferir a capital para Petrópolis onde o poder executivo funciona até 1903. Após
deixar o governo fluminense, Porciúncula é nomeado ministro plenipotenciário no Uruguai, assumindo
depois os mandatos de deputado federal (1895 – 1897) e senador (1897 – 1901) pelo estado do Rio.
http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-
republica/PORCI%C3%9ANCULA,%20Jos%C3%A9%20Tom%C3%A1s%20da.pdf acesso 27 dez.
2016.
220
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 108.
221
Ginsburg estava ciente do modo como as forças políticas governistas se livravam dos opositores
no correr da revolta da armada: “o processo como eles se livravam dos inimigos políticos era fardá-los e
pô-los na praia onde os marinheiros os assassinariam imediatamente”. Ginsburg acreditava que o delegado
de São Fidélis estava imbuído desse intento quando decidiu por remover o missionário de volta para Niterói,
mesmo com a revolta em andamento. Op cit, p. 108.
222
Ibidem, p. 103.
223
Idem, p. 107.
90
224
NABUCO Joaquim. A Intervenção Estrangeira na Revolta de 1893, p. 89 – 100.
225
A tradução das memórias de Ginsburg publicada no Brasil em 1931 informou de forma errada
a data do término da revolta da Marinha, 13 de março de 1892, ao passo que a edição norte-americana
registra acertadamente o encerramento do levante em 13 de março de 1894, na p. 105.
226
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 109 – 110.
227
Ibidem, p. 111.
228
Ibidem, p. 111 – 112.
91
229
Mesmo o historiador batista Crabtree não consigna os relatos deixados por Ginsburg durante
sua passagem por Campos ao passo que os incidentes em São Fidélis e Macaé, especialmente os últimos,
são descritos todos com base nas próprias narrativas de Ginsburg.
230
TARSIER Pedro. Op cit, vol. I, p. 173.
231
Ibidem, ob cit, p. 173.
232
Idem, p. 173.
233
Idem, p. 193.
234
Idem, p. 204.
92
235
Idem, p. 178.
236
Idem, p. 181.
237
Ver notas 60,61 e 63.
238
TARSIER Pedro, op cit, I, p. 180.
239
LÉONARD Émile G, op cit, p. 127 – 128.
93
Mas o fato que é mais marcante no período de sua passagem pela região
é a conversão de certo senhor Curindiba, um fato que não chamaria maior
atenção não fosse pelos predicativos que semelhante personagem traz em sua
biografia. De fato, o tal Curindiba, a julgar que dele nos fala o próprio Ginsburg,
é um agregado ligado a uma das famílias dominantes da política local e que
auxiliava mediante intimidação e achaques a perpetuação do domínio das forças
políticas locais, “um homem usado pelos políticos para aterrorizar a população,
principalmente nos dias de eleição”.242 Como a esposa e as filhas desse homem
frequentavam os cultos, parece que Ginsburg soube bem se aproveitar do
caráter façanhudo, bem como dos elementos que este senhor arregimentara em
seu trabalho e conseguiu com isso quebrar as resistências dos elementos
católicos na região, inclusive com uso de violência.243 Tinha o missionário muita
razão, portanto, em se regozijar com a conversão desse homem e de sua família,
bem como Antonio Neves de Mesquita em descrever os métodos de
evangelização de Ginsburg como “peculiares”.
240
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 125.
241
LÉONARD Émile G, op cit, p. 133.
242
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 118.
243
Idem, p. 119.
94
244
HOLANDA Sergio Buarque de, op cit, p. 253.
245
Ibidem, p. 253.
246
GINSBURG Salomão, op cit, p.121
247
Ver nota 214.
248
(1865 – 1917), filho de Manoel Martins Torres, governador interino do estado do RJ na
administração de Tomás Porciúncula, formado em Direito pela faculdade do Recife (1885), foi deputado
estadual (1892 – 1893) e federal (1893 – 1896) pelo estado do Rio. Ministro da justiça de Prudente de
Morais (1896 – 1897), governador do estado do Rio (1897 – 1900) e ministro do Supremo Tribunal Federal
a partir de 1901. Nacionalista, esboçou seu pensamento nos livros O problema nacional brasileiro e A
95
para dar fim aos distúrbios.249 Pela segunda vez em sua carreira ministerial no
estado do Rio, Salomão Ginsburg fez uso dos seus contatos políticos para
assegurar liberdade de movimentação e pregação e com isso consegue ser
plenamente bem sucedido a darmos crédito ao relato de Crabtree que destaca
que na inauguração do templo batista em Macaé, em 1898, o próprio vice-
presidente (que ele também não menciona) esteve presente, tendo na ocasião
abraçado o missionário e ainda feito votos para que a “causa batista” tivesse
êxito no estado.250
organização nacional (ambos publicados em 1914) e As fontes da vida no Brasil (1915) onde defende o
estado agrário, infenso a qualquer tentativa de industrialização.
249
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 123 – 124.
250
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 179. Como nos incidentes em São Fidélis em que Ginsburg foi
se entrevistar com o “vice-presidente” sem citá-lo nominalmente, também Crabtree comete aqui uma
descompostura histórica ao não citar nominalmente quem seria esse personagem lembrando que haviam
três vice-governadores em exercício do cargo na ocasião. http://www.cbg.org.br/novo/wp-
content/uploads/2012/07/rj-governadores.pdf acesso 28 de dez. 2016.
96
251
MEIN David, Esboço Histórico do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, p. 4.
252
FORSYTH Willian B. Jornada no Império, p. 210 – 211.
253
LÉONARD Émile G, op cit, p. 101 – 102.
254
CRABTREE A.R ob cit, I, p. 85 – 86.
255
LÉONARD Émile G, op cit, p. 102.
256
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 132.
97
257
De fato, enquanto a população do estado do Rio passa de 819.604 habitantes, em 1872, para
926.035 no censo de 1900, e Pernambuco de 841.539 para 1.178.150 no mesmo período, o Rio Grande do
Sul pulou nessa época de 446.962 habitantes para 1.149.070 e São Paulo de 837.534 para 2279.608
habitantes, fato para o qual, sem dúvida, influenciou o movimento imigratório intenso no Centro-Sul do
país. SYNOPSE DO CENSO, 1900, op cit, p. X.
258
GNACCARINI José C, in FAUSTO Boris (org.), op cit, vol. 8, p.315.
98
259
FAORO Raimundo. Os Donos do Poder, vol. II, p. 72.
260
Ibidem, ob cit, vol. II, p. 73. Faoro faz ainda um paralelo entre a ascensão dos estados sulinos,
particularmente São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul, onde a propaganda Republicana foi mais ativa, em
detrimento do Nordeste ainda muito próximo do Império cujas elites (Joaquim Nabuco e Rui Barbosa) estão
vinculadas à idéia de um princípio federativo com a preservação da Monarquia.
261
“Populações das capitais dos estados do Brasil” (1872, 1890, 1900 e 1910)
http://seculoxx.ibge.gov.br/images/seculoxx/arquivos_download/populacao/1908_12/populacao1908_12v
1_022.pdf acesso 08 de dez. 2016.
262
(1835 – 1913) bacharel em Direito pela Faculdade do Recife (1858), juiz de direito em
Pernambuco, na Paraíba e na cidade do Rio; chefe de polícia no Ceará (1869); presidente das províncias do
Rio Grande do Norte (1872), Pernambuco (1872 – 1875), Bahia (1877 – 1878) e Rio Grande do Sul (1886
– 1887). Deputado geral por Pernambuco (1885 – 1889), agraciado com o baronato (1888). Desembargador
do Superior Tribunal de Justiça, depois Supremo Tribunal Federal, nomeado em 1875; governador de
Pernambuco (1890) e ministro do governo do marechal Deodoro da Fonseca, ocupando as pastas da
Agricultura, Justiça e Fazenda, em 1891.
http://www.stf.jus.br/portal/ministro/verMinistro.asp?periodo=stf&id=213 acesso 07/03/17.
263
(1839 – 1905) formado pela faculdade de Direito do Recife (1864), agraciado com o baronato
(1889). Governador de Pernambuco (1891 – 1892), foi deposto por interveniência do governo federal,
retirando-se, a seguir, da vida pública. http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-
republica/CORREIA,%20Ant%C3%B4nio%20Epaminondas%20de%20Barros.pdf acesso 07/03/17.
264
(1862 – 1931), militar, deputado constituinte pelo Ceará (1890 – 1891), foi nomeado por
Floriano governador de Pernambuco exercendo seu governo de forma autoritária até 1896, procurando
realizar melhoramentos nas áreas de saúde, educação e transporte. Deputado federal (1896 – 1911),
99
primeiro por Pernambuco, depois pelo Rio Grande do Sul e, por fim, pelo Distrito Federal, retornou ao
Exército em 1912 chegando ao generalato. É pai do jornalista Alexandre Barbosa Lima Sobrinho (1897 –
2000), membro da Academia Brasileira de Letras a partir de 1937 e governador de Pernambuco de 1948 a
1951. http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-
republica/LIMA,%20Alexandre%20Barbosa.pdfv acesso 07/03/17.
265
TARSIER Pedro, op cit, I, p. 177.
266
(1847 – 1929), bacharel pela faculdade de Direito do Recife (1878), ministro da justiça do
último gabinete do Império (1889). Deputado constituinte por Pernambuco (1891), deputado federal (1891
– 1896) e senador (1896 – 1898 e de 1903 – 1929) pelo mesmo estado, vice-presidente da República na
chapa encabeçada por Campos Sales de 1898 a 1902.
267
(1843 – 1901) advogado formado pela faculdade do Recife (1864), professor da mesma
instituição (1870), deputado geral por Pernambuco ainda no Império (1878 – 1881), senador pelo mesmo
estado (1894 – 1896 e de novo de 1900 a 1901) e governador de Pernambuco de 1896 a 1900.
268
TARSIER Pedro, op cit, I, p, 177.
269
Ibidem, I, p. 178.
270
Ibidem, I, p. 177 – 178.
100
271
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 325 – 329.
272
Ibidem, p. 326 – 327.
273
MARANHÃO Metódio, op cit, p. 63.
274
Ibidem, p. 327.
275
Idem, p. 337.
276
MARANHÃO Metódio, op cit, p. 63 – 64.
277
FREYRE Gilberto Ordem e Progresso, op cit. P. 837 – 840.
101
gênero no país278. Os objetivos do Instituto eram bem claros desde o ato de sua
fundação: manter a hegemonia cultural de Pernambuco, o “Leão do Norte”, sobre
as províncias vizinhas, mas também “preservar o passado como um escudo
contra um futuro incerto”, como escreve Robert Levigne, citado por Lilia Moritz
Schwarcz279. O segundo momento – que sob certo aspecto não deixa de ter
relação com o primeiro – é o aparecimento da obra de Gilberto Freyre. É
impressionante o modo como Gilberto Freyre se refere às elites agrárias
pernambucanas, usando e abusando de uma terminologia que em tudo se
assemelha com aquela empregada por Oliveira Viana em seu louvor aos
feudatários fluminenses. Com efeito, para Gilberto Freyre, o senhor de engenho
também é um tipo de homem, refinado, elegante, brioso de sua importância e
independente de modos. Criou não apenas uma sociedade, mas amalgamou-lhe
os próprios costumes dando-lhe formas, como se constituísse uma civilização
com características bastante próprias. “E era na verdade uma gente que tinha
piano de cauda e livros em casa. Que recebia bem. Que apreciava a boa
cozinha. O doce fino. O quitute delicado. O bolo bem feito”. Uma aristocracia
que, no testemunho insuspeito dos estrangeiros que visitaram o Brasil dos
oitocentos, era em tudo superior àquela que se formara em torno da cultura do
café280. É, portanto, em meio a um ambiente onde as camadas dirigentes velam
pelo seu passado e tradições avoengas que vem Ginsburg desenvolver o seu
ministério. Uma região que, conforme a terminologia machadiana sentia
saudades de si própria (Memorial de Aires).
278
SCHWARCZ Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças, p. 153.
279
Apud SCHWARCZ Lilia Moritz, op cit, p. 154.
280
FREYRE Gilberto. Nordeste, p. 54.
102
281
SYNOPSE DO RECENSEAMENTO, op cit, p. 66 – 67.
103
(CE) e Bom Jesus da Lapa (BA), a romaria de São Severino do Ramo, localidade
situada no município de Paul d’Alho e cuja força de atração vai além da zona da
mata pernambucana, alcançando os estados vizinhos. A devoção, iniciada em
época incerta – também não existem informações sobre quando e como a
imagem de São Severino foi encontrada – tem como núcleo o engenho Ramos,
ou engenho de Ramos, cuja primeira menção data de 1761. O engenho,
localizado na então povoação de Ribeira do Pau d’Alho, nessa época termo da
freguesia de São Lourenço da Mata, da qual foi separada em 1883, para se
constituir em município autônomo, encerrou suas atividades em 1924. Contudo,
ao tempo desses eventos, a região já assistia romarias de devotos em direção à
capela do antigo engenho onde, desde 1854 se mencionavam ocorrências de
milagres, embora também esse detalhe não possa ser datado com precisão.
Para os efeitos dessa pesquisa o que de fato nos interessa é destacar o esforço
adotado pela arquidiocese de Olinda e Recife, em se apropriar desse evento,
sem descaracterizá-lo de sua essência.
Com efeito, dada a amplitude das romarias foram iniciadas reformas para
ampliação da capela, em 1906 e depois em 1918 quando esta ganhou um altar
próprio “fato indicador da estabilização das romarias”. Outro fator que também
pode ter sido influenciado pela devoção e que com certeza contribuiu para a sua
disseminação, decorre da construção da rede ferroviária, posto que a Great
Western of Brazil Railway, empresa de capital inglês fundada em 1875, havia
recebido concessão dos governos imperial e provincial para explorar o transporte
na região da zona da mata pernambucana. O serviço ferroviário previa uma linha
ligando o Recife a Limoeiro e o trecho passando por Paul d’Alho foi inaugurado
em 1881, o que, sem dúvida, teve efeito na ampliação das caravanas de
romeiros. Em 1918, atendendo uma solicitação do cardeal arcebispo de Olinda
e Recife, dom Sebastião Leme, o papa Bento XV criou a Diocese de Nazaré,
junto com as de Garanhuns e Pesqueira e com isso as romarias passaram a ter
um acompanhamento mais próximo da diocese282. Como escreveram Sergio
Lobo de Moura e José Maria Gouvêia de Almeida, a propósito, do catolicismo
282
MARINHO Ana Lúcia da Silva. O Sagrado nas Redes Geográficas do Turismo. Um estudo
sobre o santuário de São Severino, Paul d’Alho, Pernambuco. Dissertação de mestrado em Geografia, p.
48 – 49. Ver também, PEREIRA Antonio Inácio. O Santuário de São Severino do Ramo. Características
de uma devoção na Diocese de Nazaré. Dissertação de mestrado em Ciência da Religião, p. 41 – 42.
104
283
MOURA Sergio Lobo de; ALMEIDA José Maria Gouvêia de. “A Igreja na Primeira
República”. In FAUSTO Boris (org.). História Geral da Civilização Brasileira, vol. 9, p. 325.
284
MEIN David, op cit, p. 4.
285
Ibidem, p. 4.
105
286
ALMANACH EVANGÉLICO BRASILEIRO, ob cit, p. 66. Ver também LESSA Vicente
Themudo, op cit, p. 702 – 705.
287
FERREIRA Júlio Andrade, História da Igreja Presbiteriana do Brasil, vol. I, p. 60.
288
Ibidem, p. 266.
289
Idem, II, p. 34 – 36.
290
Idem, II, p. 84 – 85.
291
Idem, I, p. 401 – 402.
292
Idem, II, p. 82 – 84.
293
Idem, II, p. 202 – 204.
294
ALMANACH EVANGÉLICO BRASILEIRO, op cit, p. 67. Ver também BRAGA Henriqueta
Rosa Fernandes, ob cit, p. 167; ROCHA Isnard, ob cit, p. 52; VALVERDE Messias, “Uma Leitura do
Metodismo” in DIAS Zwínglio Mota, RODRIGUES Elisa, PORTELA Rodrigo (orgs.) Protestantes,
Evangélicos e (neo) pentecostais, p. 145.
295
MESQUITA Antonio Neves, História da Igreja Batista no Brasil, vol. II, p. 29.
296
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 277 – 278.
106
Cumpre destacar o fato de que embora esta tenha sido apenas a primeira
das três grandes crises que quase fecharam o STBNB (as outras duas
decorreram da Questão Radical e do Movimento Neoradical que assolaram com
um inflamado discurso nacionalista as igrejas batistas do Nordeste nos anos 20
e no final dos anos 30)300, todas elas tem o mesmo pano de fundo que uniu em
uma causa comum os batistas e os presbiterianos nordestinos: a idéia de uma
identidade nacional reforçada pelos vínculos regionais que se recusa a aceitar
tanto a dependência da junta estrangeira como a tutela das igrejas mais ricas do
Sul do país. Portanto, é muito mais do que uma mera questão religiosa, mas uma
reação nativista que buscava na autonomia semineral reforçar a sua própria
identidade e especificidade regional inserida dentro de um discurso nacionalista.
O próprio fato de que o seminário tenha sido um dos epicentros tanto do
297
MESQUITA Antonio Neves de, op cit, II, p. 100.
298
MEIN David, op cit, p. 10.
299
O missionário norte-americano David Mein (1919 – 1995) foi professor do STBNB de 1948 a
1984 e presidiu a instituição de 1952 a 1984. Foi também pastor da Igreja Batista do Cordeiro, no Recife,
de 1951 a 1981. Ver MEIN David op cit, p. 33 – 35 e PEREIRA José Reis, História dos Batistas no Brasil,
p. 294.
300
Sobre a Questão Radical e seus efeitos sobre o STBNB, ver MEIN David, op cit, p. 15 e p. 20
– 22.
107
301
LÉONARD Émile G, op cit, p. 200, nota 30.
302
MEIN David, op cit, p. 35 – 37.
303
Ibidem, op cit, p. 33.
108
304
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 134.;
305
TARSIER Pedro, op cit, I, p. 178.
109
306
LÉONARD Émile G, op cit, p. 103.
307
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 129.
308
Ibidem, op cit, p. 130.
309
Ibidem, p. 130 – 131.
310
Idem, p. 130.
110
311
Até 1930 alguns estados possuíam senado estadual como São Paulo e Pernambuco.
312
TARSIER Pedro, op cit, I, p. 188.
313
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 147 – 148.
314
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 136.
315
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 149.
316
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 137.
111
317
Ibidem, p. 137.
318
Ibidem, p. 137.
319
Ibidem, p. 138.
112
A rigor o que chama atenção nesse depoimento não é tanto o fato de que
Ginsburg confessa o suborno de um juiz de Direito para soltar indivíduos de sua
grei que se achavam na cadeia. O que chama atenção é ele reconhecer a
existência de um traço nada decoroso nas relações sociais brasileiras, que é a
320
Ibidem, p. 138 – 139.
113
idéia de se obter algum tipo de vantagem por meio das relações com outrem, e,
do mesmo modo, fazer uso desse fato para conseguir lograr a soltura dos seus
irmãos da prisão. A narrativa mostra que ele não vê com censura nenhuma nem
o suborno e nem a decisão do juiz de aceita-lo, embora reconheça que a prisão
de pessoas sem provas seja algo revelador de flagrante injustiça. Além do mais,
se lembrarmos do seu comportamento “ortodoxo” no episódio da irmã Maria
Madalena, que não pôde tornar-se membro da PIB baiana por estar grávida de
um homem que não era seu marido, é inegável que seu conceito de moral
variava bastante conforme o grupo, ou então, que ele reconheceu ou passou a
reconhecer que na relação proselitista que vinha praticando pelo país afora,
seriam necessárias algumas negociações para o pleno andamento de sua obra
missionária. Também é preciso destacar a reação tanto dos seus
contemporâneos quanto a narrativa histórica subsequente. Entzminger,
testemunha de alguns dos acontecimentos, enfatizou a atuação de Ginsburg em
favor da soltura dos acusados “esforçando-se heroicamente em prol desses
mártires. E além do trabalho insano que isso lhe acarretou, viu-se obrigado a
despender nada menos de quinze mil cruzeiros com a defesa”.321 Mas não
menciona o suborno. Crabtree, por sua vez, limita-se a reproduzir o incidente em
Bom Jardim recorrendo à imprensa diária e ao relato de Entzminger, sem citar a
versão de Ginsburg para os fatos322.
321
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 149.
322
Ibidem, p. 147 – 149.
323
HOLANDA Sérgio Buarque de op cit, p. 250.
114
324
Ibidem, p. 253.
115
Também não podemos esquecer que Ginsburg está escrevendo não para
o público brasileiro, mas sim para o norte-americano, e, nesse caso, as
expectativas são bem outras. Ali, a imagem predominante do continente latino-
americano em geral e do Brasil em particular, era a de uma região moralmente
degradada. Como observado por Arturo Piedra, “esse interesse [dos
protestantes norte-americanos] pela realidade religiosa da América Latina não
conseguia esconder os preconceitos racistas. A preocupação com o continente
baseou-se, principalmente, nas supostas condições morais (ou imorais) de sua
gente.326” a descrição da América Latina, incluindo o Brasil como “áreas escuras
ou tenebrosas” vinculava-se tanto a questões raciais quanto a ético-morais. Essa
impressão foi progressivamente reforçada ora por declarações de missionários
como Robert Speer, que dizia que “os latino-americanos careciam de virtudes
fundamentais anglo-saxônicas como a dignidade, energia, franqueza e
integridade” e que suas elites eram dominadas “pela apatia que era manifesta
em sua ciência, política e religião”,327 bem como por livros como The Neglected
Continent (O Continente Abandonado), editado por Lucy Guinness em 1894
onde os povos latino-americanos eram descritos como degradados e amorais328.
É inegável que Ginsburg está dominado por esse tipo de impressão quando
descreve esse episódio que de outro modo teria sido omitido como o foi por
Crabtree que em seu livro sobre a História dos Batistas está em diálogo com os
prosélitos nacionais. Ginsburg, nesse relato, está, desse modo, coadunando e
reforçando conscientemente essa impressão e lhe dando o embasamento de
sua própria experiência missionária.
325
CANCLINI Nestor Garcia, Culturas Híbridas, p. 76. BURKE Peter. História e Teoria social,
p. 161 – 162.
326
PIEDRA Arturo, op cit, I, p. 73.
327
WIRTH Lauri Emilio, in LEONEL João (org.), op cit, p. 41.
328
PIEDRA Arturo, op cit, I, p. 73.
116
O trabalho batista é relativamente novo. Pouco mais de meia geração. Muitas das
atividades deste trabalho foram desenvolvidas por irmãos que ainda vivem. Não se
poderia esperar que em tudo eles fossem exímios e perfeitos. Houve muitos senões. Fazer
uma análise anatômica de tudo que se fez, certo ou errado, seria ofender irmãos que
fizeram o melhor que puderam nas circunstâncias em que se encontraram. Outros heróis
que já tombaram estão ainda quentes em nossa memória e ninguém gostaria que se
metesse o bisturi em suas atividades. Seria uma profanação330.
329
MESQUITA Antonio N, op cit, II, p. 58.
330
Ibidem, II, p. 14.
331
CRABTREE A R, op cit, I, p. 286 – 287.
117
Era com esse personagem com o qual Ginsburg e Entzminger iriam medir
forças a partir de 1897 quando tem início no Recife uma violenta polêmica na
imprensa, colocando de um lado o jornal católico A Era Nova e do outro o Jornal
do Recife que cedeu um espaço para as respostas dos missionários batistas. A
332
LESSA Vicente Themudo, op cit, p. 215.
333
Ibidem, ob cit, p. 216. Ver também LÉONARD Émile G, op cit, p. 125, nota 23. Ver também
VASCONCELOS, Micheline Reinaux. As Boas Novas pela Imprensa: impressos e imprensa protestante
no Brasil (1837 – 1930), tese de doutorado em História, p. 60.
118
334
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 140.
335
Ibidem, op cit, p. 140.
336
GAJANO Sofia Boesch, in BERNARDINO Angelo di; FEDALTO Giorgio; SIMONETTI
Manlio (orgs), op cit, p. 910.
337
MARANHÃO Metódio, op cit, p. 95.
119
338
TARSIER Pedro, op cit, I, p. 198.
339
Ibidem, op cit, I, p. 218, nota 223.
340
Ibidem, op cit, I, p. 219, nota 223.
341
Ibidem, op cit, I, p. 219 – 220, nota 224.
342
Ibidem, op cit, I, p. 220, nota 224.
343
Ibidem, op cit, I, p. 199.
120
344
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 142 – 143.
345
TARSIER Pedro, op cit, II, p. 9.
346
Ibidem, op cit, II, p. 7.
347
Ibidem, op cit, II, p. 5.
348
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 145.
121
349
“Em sua busca por apoio econômico, algumas instituições missionárias protestantes almejavam
ter contato com empresas comerciais que já tinham alguma presença na região ou procuravam abrir
mercados”. PIEDRA Arturo, op cit, cit, I, p. 95.
350
GINSBURG Salomão L, p. 146.
351
Ibidem, p. 150.
352
CASCUDO Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro p. 58 – 59.
122
353
Ver também MELLO José Octávio de Arruda. História da Paraíba, p. 156.
354
Os poemas estão em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000012.pdf acesso
12/03/17.
355
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 150.
123
entrar nas localidades como também para usufruir de benefícios mais valiosos
como hospedagem e alimentação) tomou conhecimento de que o cangaceiro lhe
andava a procurar, mas não deu muita atenção para o fato, imaginando ter se
livrado dele na estrada. Porém, apenas bastando que se recolhesse na casa do
“chefe político”, eis que o próprio cangaceiro aparece diante dele causando um
ambiente de desolação e devastação na casa. “O chefe político estava pálido e
tremia, e sua mulher, irmã, duas senhoras franzinas, esfregavam as mãos e
choravam muito.”356 A partir desse momento, segundo o missionário, deu-se o
seguinte diálogo entre ambos:
Dirigindo-me para o homem sentia-me forte, disse: “o senhor deseja me ver? Que
quer de mim”? “O senhor me conhece”? Perguntou ele depois de um instante e eu
respondi. “Sim, o senhor é o capitão Antonio Silvino”. “O senhor sabe por que eu vim
aqui?” Ele perguntou e eu disse. “Sim, o senhor está contratado para me matar. “É
verdade”. Ele disse. Orei ao meu Pai celeste enquanto estava diante deste bandido,
pedindo-lhe para auxiliar-me e tomar cuidado da minha esposa e dos filhinhos. Passados
alguns minutos sem ele se mover eu disse: “então por que não leva a efeito o seu intento”?
(...) finalmente ele disse: “Não, eu não quero mata-lo, eu não quero matar um homem
como o senhor. Hoje de manhã quando eu o esperava perto de Sapé, o senhor parou o
animal e falou comigo tão gentil e bondosamente, que me surpreendeu. Disseram que o
senhor era um indivíduo perigoso, que suas doutrinas e ensinamentos eram uma maldição
para o meu povo e que mata-lo seria uma obra de caridade para muitos. Mas o senhor me
falou tão bondosamente que que resolvi saber mais alguma coisa a seu respeito. Estava
presente enquanto o senhor estava pregando, ensinando, orando e cantando e digo ao
senhor que não vou matar um homem que está fazendo uma obra tão boa357.
356
Ibidem, p. 153.
357
Ibidem, p. 153 – 154.
358
Ibidem, p. 154.
124
A esse respeito, Sofia Boesch Gajano nos lembra que, assim como o
monopólio da transmissão das legendas medievais foi transmitido por um clero
de baixa erudição (não apenas literária), permitindo-lhe adaptar livremente a
narrativa com incrementos de dramaticidade ímpar como perseguições, torturas
359
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 165 – 167.
360
Ginsburg recebia cartas de alunos de escolas dominicais e membros de sociedades batistas e
chegou a publicar uma dessas missivas enviada de uma tal Sociedade de Moças de Americus, Geórgia, na
qual a autora, possivelmente a secretária da entidade escreveu: “meu caro irmão Salomão Ginsburg. Hoje
é nosso dia missionário e temos estudado a seu respeito e seu trabalho e temos orado ao nosso Pai Celeste
para abençoá-lo, guarda-lo e protege-lo de todo o perigo e usá-lo poderosamente em seu serviço”.
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 155. A missiva revela tanto a mentalidade do ambiente que acompanhava
e financiava a atividade de Ginsburg no Brasil como também do próprio Ginsburg que ao divulga-la, quer
demonstrar mais uma vez a singularidade do seu ministério já que a mesma teria sido escrita no próprio dia
do seu “encontro” com Antonio Silvino.
125
361
GAJANO Sofia Boesch, in BERNARDINO Angelo di; FEDALTO Giorgio; SIMONETTI
Manlio (orgs), op cit, p. 908.
362
Ibidem, op cit, p. 908.
363
BOURDIEU Pierre, op cit, p. 69.
364
GINSBURG Salomão, op cit, p. 156.
126
365
TARSIER Pedro, op cit, I, p. 176.
366
GINSBURG Salomão, op cit, p. 156.
367
Ibidem, p. 157.
368
TARSIER Pedro, op cit, I, p. 193.
369
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 158.
370
Ibidem, p. 159 – 161.
371
Ibidem, p. 158 – 159.
127
372
Ibidem p. 159.
373
VINGREEN Ivar, O Diário do Pioneiro Gunnar Vingreen, p. 57.
128
Richmond e sua esposa visitaram a cidade onde lhes foi oferecido um jantar
pelos “melhores cidadãos” da localidade.374
Após deixar Pernambuco em 1909 Ginsburg atuou por algum tempo como
missionário no vale amazônico onde auxiliou o missionário batista Eurico Nelson
a quem já conhecia desde que presidiu o concílio que o recebeu como
missionário em 1897, depois de aprovar a sua “ortodoxia” 375. Depois retornou à
Bahia onde, pela segunda vez, presidiu PIB de Salvador, voltando dali para o
Rio de Janeiro onde residiu e trabalhou na Casa Publicadora Batista até 1925
salvo o período em que esteve nos EUA, em 1913, em gozo de férias, mas
também para divulgar as atividades missionárias batistas no país, sendo por isso
aquinhoado com uma ajuda de R$ 30 mil dólares que recebeu da Convenção
Batista do Arkansas e que usou mais tarde para a compra do terreno onde depois
foi instalado o Colégio Batista do Recife. Em 1925 muda-se para São Paulo junto
com a família a fim de tomar parte na abertura do trabalho batista em Goiás,
enquanto sua esposa e filhas foram trabalhar como professoras no Colégio
Batista Brasileiro de Perdizes e foi na capital paulista que o missionário veio a
falecer na madrugada de 01 de abril de 1927 com sessenta anos incompletos376.
Depois de mais de vinte anos de lutas e perseguições o protestantismo batista
alcançava seu lugar dentre os “melhores cidadãos” da sociedade brasileira, a
exemplo dos congregacionalistas, dos presbiterianos e dos metodistas. Não era
apenas mais um grupo religioso reconhecido dentro da sociedade, mas também
fazia parte dela, desfrutando do bom prestígio e relações entre os seus extratos
sociais mais elevados. Ginsburg desse modo, foi um dos poucos missionários a
permanecer por um longo período no país, a exemplo Tucker, Kennedy,
Blackford e Schneider, e também, a exemplo destes, entreteve relações com
grupos sociais dos mais influentes a fim de conseguir assegurar-se de condições
para o empreendimento de suas atividades missionárias pelo país afora.
374
GINSBURG Salomão, op cit, p. 160.
375
Ibidem, op cit, p. 128. Ver também PEREIRA José Reis. Eurico Nelson, o Apóstolo da
Amazônia, p. 39 – 40.
376
Sobre os demais dados da vida de Salomão Ginsburg não contemplados nesse estudo, ver
MESQUITA Antonio Neves de op cit, II, p. 114, 122 – 125; e 152.
http://www.museubatistadosertao.org/past_salomaoLuis.html acesso 03 de agosto de 2016. Ver também
CRABTREE A R, ob cit, I, p. 110 – 112, 126 – 128.
129
CAPÍTULO II
377
MENDONÇA Antonio Gouvêia de. FILHO Prócoro Velasquez, Introdução ao Protestantismo
no Brasil, p. 27 – 30.
378
WIRTH Lauri Emílio: “Protestantismos Latino-Americanos entre o Imaginário Eurocêntrico e
as Culturas Locais” in LEONEL João (org.) Novas Perspectivas sobre o Protestantismo Brasileiro, I, p. 34
– 46. Ver também o verbete de GOUVEIA Antonio Gouvêia de. “Protestantismo no Brasil” in
DICIONÁRIO BRASILEIRO DE TEOLOGIA, p. 824.
130
379
PEREIRA José Reis, História dos Batistas no Brasil, op cit, p. 241 – 249.
380
WIRTH Lauri Emílio in LEONEL João (org.), op cit, p. 36 – 37.
381
DREHER Martin N, Igreja e Germanidade, p. 78.
131
382
WIRTH Lauri Emílio in LEONEL João (org.) op cit, p. 45.
383
MENDONÇA Antonio Gouvêia de. FILHO Prócoro Velasquez, op cit, p. 25.
384
Ibidem, p. 24. Os dados do censo de 2010 que apontam estagnação e declínio das igrejas
protestantes “históricas” e a estabilização das comunidades pentecostais parecem confirmar a tese que
Gouvêia de Mendonça lançou nos anos 80. Ver a esse respeito os artigos de CAMPOS Leonildo Silveira,
132
2.1. Congregacionalistas
“Evangélicos de Missão’ em declínio no Brasil”; e de JÚNIOR Paulo Gracino; MARIZ Cecília L. ‘As
Igrejas Pentecostais no censo de 2010’. In: TEIXEIRA Faustino; MENEZES Renata. Religiões em
Movimento. O censo de 2010, p. 127 – 160 e 161 – 174.
385
FORSYTH Willian B, op cit, p. 15.
386
Ibidem, op cit, p. 15 – 22.
387
Ibidem, p. 128 – 131.
133
2.2. Presbiterianos
388
BRAGA Henriqueta Rosa Fernandes, op cit, p. 111.
389
ROCHA João Gomes da, op cit, I, p. 95 – 96.
390
SERMÕES ESCOLHIDOS DE SIMONTON, p. 9. Ver também HAHN Carl Joseph. História
do Culto Protestante no Brasil, p. 172 – 187.
391
Sobre os primórdios de Simonton no Brasil e informações biográficas ver FERREIRA Júlio
Andrade, op cit, I, p. 9 – 30.
392
FERREIRA Júlio Andrade, op cit, I, p. 41 – 43.
134
393
LÉONARD Émile G, op cit, p. 72 – 76.
394
FERREIRA Júlio Andrade, op cit, I, p 15 e 79.
395
Ibidem, op cit, I, p. 76 – 78.
396
Ibidem, I, p. 77 – 78.
397
LESSA Vicente Themudo, op cit, p. 75 – 77.
398
FURTADO Celso. Formação Econômica do Brasil, p. 166 – 171.
135
2.3. Metodistas
399
BUYERS Paul E. Manual para os Membros da Egreja Methodista, p. 55. Ver também REILY
Duncan Alexander, op cit, p. 107.
400
REILY Duncan Alexander, op cit, p. 51 – 53.
401
ROCHA Isnard, op cit, p. 23 – 25.
402
Ibidem, p. 26 – 28.
403
Ibidem, p. 29 – 32.
404
ROCHA João Gomes da, op cit, I, p. 14.
405
Sobre a imigração confederada para o Brasil ver VIEIRA David Gueiros, p. 215 – 216. Ver
também JONES Judith Mac Knight. Soldado Descansa!, p. 57 – 85, 201 e 259. Sobre a introdução do-
Metodismo em Piracicaba ver LOIOLA José Roberto Alves. Protestantismo, Escravidão e os Negros no
Brasil, p. 130 – 134.
406
ROCHA Isnard, op cit, p. 33 – 35.
407
Ibidem, op cit, p. 34. Ver também BUYERS Paul E, op cit, p. 55.
136
Wesley quando este organizou as sociedades metodistas dos EUA (1784) 408 e
também pela sua teologia arminiana409, distinta do calvinismo dos outros grupos,
embora muito dependente das leituras do próprio Wesley410. Mas a maior
diferenciação está na estratégia de evangelização adotada pelos metodistas, ou
pelo menos pela variante sulista que surgiu do cisma de 1844 que dividiu a Igreja
Metodista dos EUA por conta da questão da escravidão, a IMES, já que a Igreja
Metodista Episcopal (estados do Norte dos EUA), concentrou-se, em tese, na
região Norte do país, e dizemos em tese, porque, de fato, o missionário a ela
ligado, o reverendo Justus Nelson (1850 – 1925)411 embora nomeado desde
1880 por um bispo e uma conferência regular para atuar no Pará, exerceu seu
ministério de forma praticamente autônoma na região, sem vínculos efetivos com
sua denominação412. Já a IMES centralizou suas operações no Centro-Sul a
partir de dois núcleos iniciais, o Rio de Janeiro, onde o missionário John James
Ramson (1854 – 1934), enviado para iniciar o trabalho da denominação entre os
nacionais, inaugurou a primeira igreja daquele ministério, em 1878413, e
Piracicaba, no interior paulista, onde o esforço educacional teve grande
destaque414. O envio de missionários por juntas de missões com o objetivo de
organizarem a igreja no país é um detalhe que, do ponto de vista institucional,
aproxima o Metodismo do Presbiterianismo.
408
LELIÉVRE Mateo. João Wesley, sua vida e obra, p. 309 – 318.
409
Ver nota 154.
410
Ibidem, ob cit, p. 249 – 264.
411
ROCHA Isnard, op cit, p. 40 – 43.
412
Ibidem, op cit, p. 40 – 41. Ver também REILY Duncan Alexander, op cit p. 198 – 199.
413
ROCHA Isnard, op cit, p. 36 – 39.
414
REILY Duncan Alexander, op cit, p. 109.
415
ALMANACH EVANGÉLICO BRASILEIRO, p. 61.
137
2.4. Batistas
416
Ibidem, op cit, p. 66.
417
Ibidem, op cit, p. 68.
418
AZEVEDO Fernando, op cit, p. 265.
419
PEREIRA José Reis, História dos Batistas no Brasil, p. 67.
420
Ibidem, ob cit, p. 68. Ver também CRABTRE A.R, op cit, I, p 58 – 59.
138
421
JONES Judith Mack Knight, op cit, p. 263. Ver também PEREIRA José Reis, História dos
Batistas no Brasil, op cit, p. 68 – 69.
422
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 65 – 69.
423
Ibidem, p. 74 – 75.
424
Idem, p. 93 – 95.
425
Idem, p. 85.
426
Ver notas 253 e 254.
427
Idem, p. 74.
139
428
ARAUJO João Dias de, op cit, p. 27.
429
ROSA Edvaldo Fernandes. Pastores Novos em Igreja Antiga. Dissertação de Mestrado em
Ciência da Religião, p. 97.
430
Sobre a “Associação Evangélica Denominada Batista”, ver CRABTREE A.R, op cit, I, p. 102
– 105. Sobre a “União Batista Leão do Norte” ver MEIN David, op cit, p. 4, e sobre a “União Batista
Paulistana”, http://cbesp.org.br/index.php/sobre-nos/pequeno-historico acesso 26 de setembro de 2016.
140
431
Ver os “Anais, Relatórios e Pareceres da Quadragésima Assembleia Anual da Convenção
Batista Brasileira, 1957, proposições de 1 a 6”. REILY Duncan Alexander, op cit, p. 188 – 190. Ainda nos
anos 90 a redução da ajuda financeira dos “irmãos norte-americanos” foi sentida, juntamente com os efeitos
da crise econômica, especialmente no setor educacional, particularmente na manutenção dos seminários.
Ver PEREIRA Clóvis Monteiro, “Atualização 1982 – 2001” in PEREIRA José Reis, História dos Batistas
no Brasil, op cit, p. 439.
432
De fato, conforme José Reis Pereira, enquanto no período de 1911 – 1920 a Igreja Batista havia
experimentado um crescimento da ordem de 102%, no período de 1921 – 1930, isto é, na fase mais intensa
do movimento radical, esse percentual baixou para 70,6% e no período de 1931 – 1940 caiu ainda mais,
para 58%. Op cit, p. 172.
433
ALMANACH EVANGÉLICO BRASILEIRO, p. 60. Sobre os ministros congregacionalistas,
ibidem, p. 62.
141
434
CRABTREE A.R, op cit I, p. 249.
435
PEREIRA José Reis, Eurico Nelson, Apóstolo da Amazônia, p. 26 – 46.
436
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 209 – 212.
142
próprio fazer missionário que norteou a ação dos batistas pioneiros em terras
brasileiras.
3.1. Evangelismo
437
LÉONARD Émile G, op cit, p. 300.
438
Ibidem, p. 300.
439
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 243.
440
HAHN Carl Joseph, op cit, p. 372.
143
Como escreve a professora Cathryn Smith, a EBD “define a missão entregue por
Jesus à Igreja (...) Evangelizar, Batizar e Doutrinar, ou seja, fazer discípulos...”441
Isso, porém, não se fez sem que surgissem dificuldades, como, por
exemplo, a alocação de pastores para os novos campos abertos pela atividade
dos missionários e dos evangelistas. Em 1915 as atas da Missão Batista no
Norte do Brasil registraram essa observação: “temos evangelizado tanto que o
trabalho tem se tornado desproporcionado. Há mais igrejas que pastores. Muitas
igrejas no território da Missão têm possibilidades, e desejam sustentar seus
pastores, no entanto, não encontram pastores a altura das responsabilidades”.442
Não deixa de chamar atenção o fato de que as atas do seminário do Recife
registrem essas conclusões quando a Igreja Batista já se achava estabelecida
há mais de três décadas no país, contando, inclusive, com um pastorado
nacional já há um bom tempo estabelecido no campo.
441
SMITH Cathryn. Manual da Escola Bíblica Dominical, p. 53.
442
MEIN David, op cit, p. 8.
443
HAHN Carl Joseph, op cit, p. 373.
144
444
REILY Duncan Alexander, op cit, p. 242.
445
HAHN Carl Joseph, op cit, p. 373.
446
Ibidem, p. 373.
447
BOURDIEU Pierre, op cit, p. 57.
145
podem lançar mão do capital religioso na concorrência pelo monopólio de gestão dos
bens de salvação e do exercício legítimo do poder religioso, enquanto poder de modificar
em bases duradouras as representações e as práticas dos leigos, inculcando-lhes um
habitus religioso, princípio gerador de todos os pensamentos, percepções e ações,
segundo as normas de uma representação religiosa do mundo natural ou sobrenatural, ou
seja, objetivamente ajustados aos princípios de uma visão política do mundo social448
3.3. Landmarquismo
448
Ibidem, p. 57.
449
Ver SANTOS Marcelo. “Raízes Históricas e Teológicas dos Batistas: de onde viemos”? In
PINHEIRO Jorge e SANTOS Marcelo, op cit, p. 14 – 18.
450
Ibidem, p. 44 – 45.
146
451
SANTOS Marcelo, PINHEIRO Jorge, op cit, p. 45.
452
Ver a respeito CRABTREE A.R, op cit, I, p. 31 que descreve as práticas aspersionista e de
batismo infantil dos demais grupos protestantes como “erros” que desviam o crente da “rota da verdade”,
p. 31.
453
SANTOS Marcelo, in PIHEIRO Jorge; SANTOS Marcelo, op cit, p. 45 – 46.
454
Ibidem, p. 44.
147
5) Foi a esta mesma Igreja que o Senhor Jesus outorgou autoridade de pregar o
evangelho e administrar os sacramentos: Mateus 28.19-20; 1 Coríntios 12.27-28;
6) Foi a essa Igreja que Jesus deu o seu Santo Espírito antes do dia de Pentecostes:
João 20.19-21;
7) Essa Igreja, assim afirma o Espírito Santo de Deus, permanece para sempre:
Daniel 2.44 e Mateus 16.18;
8) Jesus Cristo mesmo organizou essa Igreja: Marcos 3.13-14 e Mateus 10.
Ora, se Jesus foi batizado por pregador batista e os pregadores da Igreja do Novo
Testamento também foram batizados por pregadores batistas, não é razoável, lógico e de
acordo com as Escrituras afirmar que a Igreja do Novo Testamento, a Igreja de Jesus, foi
Igreja Batista?455
455
Ibidem, p. 16 – 17.
456
Ibidem, p. 16.
457
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 32.
148
458
Ibidem, p. 27.
459
STRONG Augustus Hopkins, Teologia Sistemática, II, p. 1565.
460
Ibidem, II, p. 1565.
461
ARAÚJO João Pedro Gonçalves, op cit, p. 140.
149
4. O sentido da missão
Uma Igreja protestante que a si mesma se visse como parte de uma vida nacional,
de modo que fosse apenas uma faceta da organização do Estado – a instituição
encarregada do e responsável pelo bem-estar espiritual de todos os seus cidadãos, e tendo
sempre, pois, uma ligação extremamente íntima e direta com as agências do governo –
veria um empreendimento missionário à luz do seu caráter próprio; enquanto uma Igreja
que se visse como um agrupamento de pessoas redimidas pela ação de Deus no seio de
uma humanidade perdida, veria a sua obrigação missionária de um ponto de vista
consentâneo com a sua natureza essencial462.
O que se viu, todavia, acerca daquilo que recebeu o nome de Missão, foi
um empreendimento voltado ou para a conversão de pessoas de uma religião
para a outra, por meio da implantação de igrejas destinadas ao trabalho
proselitista, ou uma responsabilidade vocacional transmitida a indivíduos no
sentido de realizar esse trabalho conversionista; ou ainda a imposição da
mudança de hábitos em relação aos prosélitos como condição preliminar de sua
aceitação dentro da nova comunidade, como lembra o professor Leontino Farias
dos Santos do Seminário Teológico da Igreja Presbiteriana Independente do
Brasil464. Essa idéia de missão perpassa o trabalho dos missionários pioneiros,
eles são propagadores de um sistema religioso, e no caso de Ashbel Green
Simonton e de Salomão Ginsburg, ambos estão perfeitamente cônscios disso.
“É honra minha”, diz Ginsburg, “ter acompanhado e testemunhado o crescimento
da Causa Batista no Brasil nos últimos trinta anos, e me parece isto que anima
os nossos irmãos que alegre e voluntariamente contribuírem para a Causa das
Missões Estrangeiras, considerar (...) o que os batistas estão fazendo no
462
DUNSTAN J. Leslie. Protestantismo, p. 136 – 137.
463
HODGE Charles, Teologia Sistemática, p. 1612.
464
DICIONÁRIO BRASILEIRO DE TEOLOGIA, op cit, p. 655.
151
465
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 247 - 248.
466
TEOLOGIA PARA A VIDA, “Relatório pastoral do reverendo Ashbel Green Simonton”, p. 9
e 10 manuscrito fac símile.
467
ROCHA João Gomes da, op cit, I, p. 68.
152
468
LINDBERG Carter, As Reformas na Europa, p. 325.
469
DELUMEAU Jean. Nascimento e Afirmação da Reforma, p. 206 – 207.
153
470
PRINS Gwyn. “História Oral”. In BURKE Peter (org), A Escrita da História, novas
perspectivas, p. 168 – 170.
154
471
PIEDRA Arturo, op cit, I, p. 125.
472
Ibidem, p. 125.
473
Idem, p. 139 – 140.
474
Idem, p. 167.
155
pelos missionários que atuavam na região e até pelo próprio Ginsburg que
lembra que somente quinze por cento da população brasileira em sua época
sabia ler e escrever475. Daí a conclusão da conferência do Panamá de que a
evangelização passava pela educação como instrumento de transformação
integral do indivíduo vindo daí também a sua conversão. Essa conclusão,
decerto, decorria da própria experiência missionária já vivenciada pelas igrejas
protestantes em países como o Brasil onde metodistas, presbiterianos e batistas
realizaram empreendimentos educacionais em praticamente todos os campos
da educação, do ensino básico ao técnico.
475
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 242.
476
NETO Luiz Longuini, O Novo Rosto da Missão, p. 96.
156
477
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 37 – 45.
478
ROCHA João Gomes da, op cit, I, p. 12.
479
PIEDRA Arturo, ob cit, I, p. 30.
480
Ibidem, p. 31.
481
Idem, p. 30 – 31.
157
482
Ibidem, p. 39 – 40.
483
Idem, p. 41.
484
Idem, p. 42.
485
WIRTH Lauri Emílio, in LEONEL João (org.), op cit, p. 41.
158
486
WIRTH Lauri Emílio, in LEONEL João (org.), op cit, p. 41.
487
Idem, p. 41.
488
PIEDRA Arturo, op cit, I, p. 73.
489
WIRTH Lauri Emilio, in LEONEL João (org.), op cit, p. 41.
490
PIEDRA Arturo, op cit, I, p. 73.
491
EWBANK Thomas. Vida no Brasil, p. 127.
159
A crítica aos padres também faz parte desse retrato depreciativo da vida
social e moral do país, com ênfase na baixa qualidade intelectual e moral dos
clérigos brasileiros, refletida nas frequentes denúncias de amasiamento de
padres ou do seu comportamento nada condizente com a dignidade do cargo,
em relação a mulheres ou moças jovens. Kidder, visitando a província de São
Paulo, entrevistou-se com um diácono partidário das idéias do padre Diogo Feijó
(1784 – 1843), antigo regente do Império, acerca da abolição do celibato dos
padres, já que a proibição do casamento tornava “a situação de muitos padres
(...) pior do que se fossem casados, com grande escândalo para a religião”. 494 O
já citado Thomas Ewbank disse quase a mesma coisa: “em todas as seitas de
todos os países encontram-se clérigos imorais, mas no Brasil as más
consequências do celibato dos padres são admitidas como sendo gerais e do
mais revoltante caráter.”495 Até o cientista pomerano Hermann Burmeister, cético
em matéria de religião, embora oriundo de um ambiente luterano, protestava
contra o mau comportamento dos padres da região de Mariana (MG), que ele
visitou em 1850, tanto do ponto de vista do relaxamento moral quanto da falta de
cultura geral496.
492
KIDDER Daniel Parish, op cit, I, p. 113.
493
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 171.
494
KIDDER Daniel Parish, op cit, I, p. 262- 263.
495
Ibidem, ob cit, p. 111.
496
BURMEISTER Hermann. Viagem no Brasil, p. 216.
160
5. Os missionários
497
RIBEIRO Boanerges. Protestantismo no Brasil Monárquico, p. 77.
498
Idem, p. 77, nota 47. A tentativa que Boanerges Ribeiro faz de tentar associar as “pressões do
inconsciente” ao relativismo moral da sociedade brasileira do período colonial atribuindo a isso a influência
católica, não é corroborada pela História Protestante. No V Congresso Evangélico Brasileiro que se reuniu
em São Paulo, em dezembro de 1936, o presidente da Federação da Juventude Evangélica da Igreja
Presbiteriana Independente do Brasil, Eduardo Pereira de Magalhães, chamou atenção para a crise moral
identificada na época entre os jovens protestantes brasileiros: “a mocidade oculta seus problemas morais
(...) sondando a mocidade evangélica, ficamos assombrados com a sua decadência moral. Grande parte de
nossa mocidade frequenta os lupanares e essa é uma razão porque não professam a fé (...) cinema, bailes,
moda, diversões, conversa, jogo, bebidas, etc, não há folhetos sobre esses notáveis assuntos, e quando eles
se enfrentam no púlpito ou na imprensa, torna-se atitude negativista, sem discussões abalizadas, sem
paixões poderosas, sem atitude construtiva”. AMARAL Epaminondas Melo do. Apreciação e Diretrizes,
Quinto Congresso Evangélico do Brasil, p. 78 – 82.
161
499
REILY Duncan Alexander, op cit, p. 77 – 82.
500
Ibidem, p. 77.
501
ROCHA Isnard, op cit, p. 29 – 32.
502
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 61 – 82. Ver também HAHN Carl Joseph, op cit, p. 156 –
157.
162
visitou o país no fim do período regencial, entre 1839 e 1841, deixou um precioso
relato de sua viagem e trabalhos (Sketches of Residence and Travel in Brazil,
traduzido para o português como Reminiscências de Viagens e Permanência no
Brasil e publicado pela primeira vez em inglês em 1845); quanto a Fletcher, uma
rara exceção do meio protestante norte-americano que atuou no Brasil dada a
sua formação nortista e educação cosmopolita503. este exerceu funções
consulares no Rio de Janeiro entre 1852 e 1853, ao mesmo tempo que atuava
como capelão da Sociedade Americana de Amigos dos Marinheiros, outra
instituição paraeclesial distribuidora de bíblias, além de contribuir para a
historiografia brasileira com um preciso relato do país no Segundo Reinado, (O
Brasil e os Brasileiros: esboço histórico e descritivo, publicado em 1855);
participou também da vida brasileira travando relações com políticos e
intelectuais afeitos ou simpatizantes do protestantismo504. Hugh Clarence Tucker
(1857 – 1956)505, metodista, agente da SBA, e de espírito tão cosmopolita e
desembaraçado quanto Fletcher, legou seu nome à História do Protestantismo
no Brasil por meio do ICP, entidade de assistência social inspirada nos moldes
do evangelho social norte-americano, fundado e organizado por ele no Rio, em
1906506. Além disso, participou da comissão organizadora da primeira tradução
protestante da Bíblia realizada no Brasil, a chamada Tradução Brasileira,
publicada entre 1903 e 1917507.
503
Fletcher estudou em Princeton bem como na França e na Suíça durante um ano. Ver VIEIRA
David Gueiros, op cit, p. 62.
504
Para Osvaldo Hack, Fletcher por suas atividades diplomáticas e de agente da Sociedade Bíblica
Americana, antes da chegada de Simonton, é, de fato, o pioneiro do presbiterianismo no Brasil. HACK
Osvaldo Henrique. Instituto Cristão de Castro, p. 29.
505
ROCHA Isnard, op cit, p. 237 – 241.
506
REILY Duncan Alexander, op cit, p. 282 – 286. Ver também GIRARDI Luiz Antonio, A Bíblia
no Brasil República, p. 102 – 104.
507
GIRARDI Luiz Antonio, op cit, p. 146 – 150.
508
ROCHA João Gomes da, op cit, I, p. 14.
509
Idem, p. 18 – 19.
163
tido contato com essa obra por meio do reverendo Fletcher a quem conheceu
através do seu trabalho na capelania entre os marítimos, no Rio.510
5.2. Os colportores
510
HAHN Carl Joseph, ob cit, p. 172 – 173.
511
GIRALDI Luiz Antonio, op cit, p. 159.
164
512
Ibidem, p. 68 – 69.
513
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 175.
514
Ibidem, op cit, p. 175 – 176.
165
515
ROCHA Isnard, op cit, p. 33 – 35.
516
AMARAL Othon Ávila do. “Os Batistas de Santa Bárbara d´Oeste. In PEREIRA José Reis.
História dos Batistas no Brasil, p. 468 – 469. Ver também CRABTREE A.R. op cit, I, p. 57 – 63.
517
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 49.
166
6. Estratégias missionárias
6.1. A imprensa
518
ROCHA João Gomes da, op cit, I, p. 46 – 50. Ver também VASCONCELOS Micheline
Reinaux, op cit, p. 33 – 34.
167
519
SANTOS Edwiges Rosa. O Jornal Imprensa Evangélica, p. 47.
520
Ibidem, op cit, p. 147.
521
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 194.
522
Ibidem, p. 194.
168
523
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 258 – 259.
524
MEIN John, ob cit, p. 53 – 57.
169
525
ROCHA João Gomes da, op cit,. I, p. 122.
526
Ibidem, p. 280 – 281.
527
Idem, p. 282.
528
Idem, p. 282.
529
SERMÕES ESCOLHIDOS D E SIMONTON. 18 e 24.
530
Ibidem, p. 49.
531
Idem, p. 142.
170
532
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 246.
533
Ibidem, p. 44 – 47.
534
Idem, p. 78 – 79.
535
LÉONARD Émile G, op cit, p. 130.
171
O campo educacional foi sem dúvida uma área em que a Missão atuou
com o maior regozijo. À exceção dos congregacionalistas todas as demais
igrejas inseridas no Protestantismo de Missão investiram seus esforços na
expansão do ensino, mas não de um ensino qualquer. A educação concebida
pelos missionários estava pautada dentro de um modelo baseado na experiência
educacional norte-americana e por isso refletia não apenas as concepções
pedagógicas como também a visão de mundo daquele país, e tanto que o termo
“Escola Americana” ou “Colégio Americano” estavam associadas do mesmo
modo ao Protestantismo e aos EUA. Conforme Duncan Alexander Reily, as
escolas reproduziam, a idéia de uma sociedade educada e moldada pela religião
com papel ativo na vida social do país, regulando as relações morais e
promovendo seus valores de liberdade individual, de consciência, etc., mas,
acima de tudo, uma religião normativa, já que sua função exponencial é a de
organizar e padronizar as relações sociais536.
536
REILY Duncan Alexander, op cit, p. 37.
537
FREYRE Gilberto. Ordem e Progresso, op cit, p. 411.
538
AZEVEDO Fernando de, op cit, p. 265.
539
HACK Osvaldo Henrique. Protestantismo e Educação Brasileira, p. 59.
172
540
FREYRE Gilberto. Ordem e Progresso, p. 97.
541
Ibidem, op cit, p. 844. Ainda nessa página, Freyre destaca a influência do Protestantismo em
certos extratos do universo rural paulista, mais tarde estudados por Gouvêia de Mendonça, bem como na
zona da mata pernambucana. Mas lembra também que “este alastramento foi precedido pela influência
sobre as elites brasileiras, do protestantismo, ao mesmo tempo que do anglo-saxonismo, através de colégios
para filhos de aristocratas e burgueses estabelecidos no Brasil ainda no Império”.
173
Não há como negar o quanto tal pensamento encontrou ressonância nas elites
brasileiras, conhecedoras e seguidoras de idéias liberais, que desejavam, tal como os
missionários, fazer do Brasil um país segundo os moldes da Europa e dos EUA. Houve
uma convergência de interesses entre liberais e protestantes no Brasil. Se as idéias em
comum com as elites fizeram com que o Protestantismo tivesse algum êxito na educação
brasileira num determinado período, pelo mesmo motivo ele se distanciou mais ainda das
massas. No mesmo movimento residiam a força e a fraqueza do Protestantismo no
Brasil545.
542
RIBEIRO Lídice Meyer Pinto. “Protestantismo Rural: um protestantismo genuinamente
brasileiro”. In LEONEL João (org.) op cit, p. 197 – 236.
543
MENDONÇA Antonio Gouvêia de. O Celeste Porvir, p. 96.
544
Ibidem, p. 140.
545
CAMPOS Breno Martins & DOLGHIE Jaqueline Ziroldo. “Campo Cristão Brasileiro no século
XX: Declínio Católico, Estagnação Protestante e Crescimento Pentecostal”, in LEONEL João (org.) op cit,
p.39.
174
presbiteriano George Nash Morton nos EUA, em 1917, Júlio de Mesquita, que
foi seu aluno no “Colégio Morton”, fundado por aquele missionário em Campinas,
em 1869, dirigiu-lhe um ditirambo em que o homenageado era descrito como o
“protótipo do educador”, mostrando assim seu reconhecimento pelos princípios
pedagógicos adotados pela escola.546 E que princípios eram esses? Salas
mistas, método intuitivo, estudo silencioso em detrimento da pura e simples
decoração das matérias, uso da Bíblia como livro básico em matéria de moral,
etc.547 a fundação do Colégio Mackenzie, em São Paulo, em 1870 (e que muito
ganhou com o fechamento do Morton)548, bem do Colégio Gamom, em Lavras,
no interior mineiro, em 1895549, contribuíram para consolidar a presença
presbiteriana no Sudeste além de associar a denominação com a causa
educacional550. Mas não apenas no Sudeste. Em Natal, em 1897, foi fundada,
por missionários presbiterianos, uma escola nos mesmos moldes do Mackenzie
e do Gamom e também supervisionada por uma educadora trazida dos EUA,
Rebeca Morrissette. A descrição dos métodos pedagógicos implantados na
escola lembra muito o que Themudo Lessa descreveu do antigo Mackenzie. 551
546
LÉONARD Émile G, op cit, p. 148 – 149.
547
LESSA Vicente Themudo, op cit, p. 451.
548
Ibidem, ob cit, p. 86.
549
FERREIRA Júlio Andrade, op cit, I, p. 350 – 361.
550
LESSA Vicente Themudo, op cit, p. 452 – 453.
551
FERREIRA Júlio Andrade, op cit, I, p. 396.
552
Ibidem, p. 398.
553
LESSA Vicente Themudo, op cit, p. 450.
554
MENDONÇA Antonio Gouveia de, op cit, p. 114.
175
Desse modo fica configurada uma atividade missionária regular que tem
como principal característica o proselitismo por meio da pregação, bem como a
construção de uma relação de poder ligando esses missionários às camadas
médias urbanas e as elites agrárias da sociedade brasileira do século XIX e início
do XX, por meio desse mesmo tipo de discurso. O esforço educacional está por
inteiro tomado por essa idéia. No caso presbiteriano, conforme lembra Osvaldo
Hack, “uma das iniciativas da Missão da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos
era evangelizar por meio da educação. Portanto, a abertura de escolas fazia
parte do plano missionário de cada obreiro enviado ao Brasil”. 555 A obra
educacional completava a pregação por meio do convencimento de que os males
do Brasil só poderiam ser solucionados por meio de uma mudança radical de
valores e visão de mundo e que só o Protestantismo conseguia levar a contento.
A seguinte citação do historiador batista Crabtree, muito elucidativa, é
confirmadora dessa estratégia:
555
HACK Osvaldo Henrique. Instituto Cristão de Castro, op cit, p. 42.
556
CRABTREE A.R, op cit,139 – 140.
176
557
ARAUJO João Dias de, op cit, p. 28 – 29.
558
CRABTREE A.R, op cit., I, p. 140.
559
LÉONARD Émile G. op cit., p. 148.
560
Sobre Alceu do Amoroso Lima, ver o estudo de CURY Carlos Roberto Jamil. Alceu Amoroso
Lima. Coleção Educadores, MEC. Recife, Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010.
177
561
MARANHÃO Methódio, op cit, p. 142.
562
LÉONARD Émile G, op cit, p.148.
563
MENDONÇA Antonio Gouvêia de, op cit., p. 96.
178
Nos EUA não existe uma união Estado-Igreja, mas isso não quer dizer
que exista uma laicidade plena já que temos ali o elemento da religião civil, e
nessa “religião civil” o Cristianismo ocupa uma posição de destaque. Há um
capelão no Congresso e também oficiais de capelania nas forças armadas,
sustentados pelo erário público, isenção de impostos para templos, etc.564 Essa
“religião civil” faz parte da vida social do país, embora, na verdade, não tenha
um desenho institucional, nem uma identidade confessional. Ela não está
alicerçada por dogmas, embora estes também existam, mas antes se insere
dentro daquilo que Alexis de Toqueville que visitou os EUA na primeira metade
do século XIX, descreve como sendo o “mundo moral” que não perpassa por
sistemas ou convenções dogmáticas, mas que se impõe pelas regras morais e
que são essas regras, transformadas em um sistema religioso, que norteiam as
relações sociais e políticas. “A religião que, entre os americanos, nunca se
envolve diretamente no governo da sociedade, deve ser considerada, pois, a
primeira de suas instituições políticas, porque, conquanto não lhes dê o gosto
pela liberdade, facilita-lhes singularmente seu uso”.565 Eles até podem não ter fé
em sua religião, mas com toda certeza, ainda segundo Toqueville, a consideram
importante para a manutenção e consolidação das instituições republicanas e
para a sua própria liberdade individual, ou seja, para Tocqueville, o papel da
Igreja na consolidação das liberdades civis é puramente supletivo, mas
indispensável. Essa confusão pública entre a confessionalidade cristã e o
sentido estrito do termo cristão ou nação cristã também foi percebida mais
adiante, na segunda metade do século XX, pelo teólogo teuto-alemão Paul
Tillich: para Tillich:
Sempre ouvimos aqui nos Estados Unidos, discursos que dizem “nós somos uma
nação cristã”. Que quer isso dizer? Certamente não somos uma nação cristã em sentido
empírico. Somos extremamente anticristãos, como de resto, todas as nações da terra.
Talvez se queira dizer que há em nossa vida secular, e nas diversas expressões de nossa
vida nacional, uma substância que tem sido moldada pelo cristianismo. Se entendemos
564
REILY Duncan Alexander, op cit, p. 37.
565
TOQUEVILLE Alexis de. A Democracia na América, I, p. 342.
179
assim, talvez a frase esteja correta, embora seja muito perigosa, especialmente quando
usada em propaganda anticomunista. Nesse momento, a frase se torna inaceitável, pois
nenhuma nação é totalmente cristã ou pagã, não importando as teorias seguidas pelos
governantes. Nenhum dos lados é correto.566
Vi americanos se associarem para mandar padres (sic) aos novos estados do Oeste
e ai fundar escolas e igrejas; eles temem que a religião venha a se perder no meio das
florestas e que o povo que lá se cria não possa ser tão livre quanto aquele de que nasceu.
Encontrei ricos habitantes da Nova Inglaterra que abandonaram sua terra natal a fim de
lançar no Missouri ou nas pradarias do Illinois, os fundamentos do Cristianismo e da
Liberdade. Assim, nos Estados Unidos, o zelo religioso se aquece sem cessar ao pé do
fogo do patriotismo. Você acha que esses homens agem unicamente pensando na outra
vida, mas se engana: a eternidade é apenas uma de suas preocupações. Se você interrogar
esses missionários da civilização cristã, ficará surpreso ao ouvi-los falar com tanta
frequência dos bens desse mundo e de encontrar políticos onde acreditava ver religiosos.
“Todas as repúblicas americanas são solidárias umas das outras”, irão dizer-lhe. “Se as
repúblicas do Oeste caíssem na anarquia ou sofressem o jugo do despotismo, as
instituições republicanas que florescem a beira do Oceano Atlântico estariam em grande
566
TILLICH Paul, Perspectivas da Teologia Protestante, séculos XIX e XX, p. 147.
567
TOQUEVILLE Alexis de, op cit, I, p. 343.
180
perigo. Portanto, temos todo interesse e que os novos Estados sejam religiosos, para que
nos permitam continuar livres”568.
568
Ibidem, I, p. 342.
569
REILY Duncan, op cit, p. 37.
570
PIEDRA Arturo, op cit, I, p. 89.
571
Ibidem, p. 91.
181
572
REILY Duncan Alexander, op cit, p. 38.
573
Ibidem, p. 38.
574
Idem, p. 39.
575
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 65.
576
HAHN Carl Joseph, op cit, p. 184.
182
577
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 41.
578
HACK Osvaldo, Protestantismo e Educação Brasileira, op cit, p. 59.
579
WEBER Max, op cit, 2, p. 368 – 369.
580
REILY Duncan Alexander, op cit, p. 42.
183
581
HODGE Charles, op cit, p. 16.
582
LEITH John H. A Tradição Reformada, p. 187.
583
Ibidem, p. 216.
184
584
FERREIRA Júlio Andrade, op cit, I, p. 77.
585
ALMANACH EVANGELICO BRASILEIRO, p. 60. Judith Mac Knight Jones lembra também
que em 1866 o sínodo da Carolina do Sul pediu a Assembléia Geral da PCUSA para que enviasse ministros
para os colonos norte-americanos no Brasil. JONES Judith Mac Knight, op cit, p. 189.
586
ROCHA Isnard, op cit, p. 33 – 35.
587
Ibidem, op cit, p. 36 – 39.
588
JONES Judith Mac Knight, op cit, p. 217.
589
ROCHA Isnard op cit, p. 158 – 160.
590
Ibidem, op cit, p. 142 – 145.
185
591
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 212.
592
TILLICH Paul, op cit, p. 41. Tillich concorda que o liberalismo teológico europeu influenciou
o unitarismo norte-americano, mas com a diferença de que lá essa influência foi profundamente eclesial.
“Enquanto na Europa o liberalismo se limitava a ser um movimento dentro do sistema eclesial das igrejas
territoriais, nos EUA ele se transformou numa igreja, no unitarismo”.
593
Willian Ellery Channing (1780 – 1842), teólogo unitarista norte-americano que polemizou com
os ministros calvinistas ortodoxos no começo do século XIX resultando da controvérsia unitária o
deslocamento de um número significativo de igrejas congregacionais situadas na Nova Inglaterra, do campo
calvinista. Channing também gastou muito tempo procurando diferenciar o Unitarismo do Socinianismo.
594
Henri Ware (1764 – 1845), teólogo unitarista norte-americano. Professor da Faculdade de
Teologia da Universidade de Harvard desde 1805, participou do processo de transição dessa instituição de
ensino do campo calvinista para o unitário. Sobre Channing e Ware, ver
ttp://archive.vcu.edu/english/engweb/transcendentalism/authors/wechanning/channingunitarian.html
acesso 29 de agosto de 2016.
595
STRONG Augustus Hopkins, op cit, I, op cit, p. 13.
186
digno de nota que o teólogo Robert Louis Dabney (1820 – 1898) professor do
Union Theological Seminary de Richmond, sendo já nessa época reputado como
um teólogo competente, ainda que fervoroso partidário da escravidão tenha
declinado de lecionar no Norte do país por não aceitar o modo de vida dos
yankees e isso não apenas com relação à escravidão, mas também quanto a
outros temas como o industrialismo nortista.596 Em suma, embora a escravidão
fosse o pomo de discórdia, não era essa a única razão pela desavença religiosa,
mais decorrente das diferenças culturais que permeavam a religião do que
propriamente por questões pontuais específicas.
596
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 212 – 213.
597
PIEDRA Arturo, op cit, I, p. 74.
187
autor do primeiro manual para a instrução semineral da Igreja Batista: “Quem ler
esta obra há de notar a grande influência dos meus mestres, doutores Strong,
Clark598, Mullins599, Hodge e outros. Estudei cuidadosamente as obras destes
autores e, por isso mesmo, não posso deixar de manifestar aqui (...) a minha
dívida de gratidão para com todos eles”600. Como Hodge, Strong também investe
contra a escola liberal alemã, posto que enquanto o teólogo presbiteriano ataca
o pensamento teológico de Friedrich Schleiermacher (1768 – 1834),601 o batista
investe contra a obra de Albrecht Ritschl (1822 – 1889)602. Langstom, além de
exercer o magistério teológico, esteve bem próximo de Ginsburg com quem
organizou um instituto bíblico na Bahia, em 1911, com obreiros nacionais e
missionários estrangeiros e do qual, ao seu término, teria, segundo Ginsburg,
resultado no batismo de mais de mil pessoas, afora crentes que haviam se
“reconciliado” e tornado ao redil batista.603 Sem dúvida, Langstom é influência-
chave para entender a recepção da teologia de Hodge-Strong tanto pelo meio
batista brasileiro em geral quanto pelo próprio Ginsburg em particular.
598
Provavelmente John Clarke (1609 – 1676), médico e ministro batista, um dos fundadores da
colônia de Rhode Island e da primeira igreja batista na Nova Inglaterra, em Providence, Rhode Island, em
1639. Perseguido pelos puritanos de Massachussetts por negar a validade do batismo infantil, apelou ao rei
Carlos II em 1663 sendo a sua petição, a famosa Rhode Island Royal Charter, um dos primeiros documentos
redigidos em prol da liberdade religiosa nas colônias inglesas. Após a independência, a carta permaneceu
como documento legal até 1843.
599
Edgar Young Mullins (1860 – 1928). Formado em Teologia pelo Seminário Batista do Sul de
Louisville, em 1885, foi recusado pela Junta de Missões de Richmond para ser missionário no Brasil embora
não deixasse de atuar na causa das missões tornando-se mais tarde secretário da Junta de Missões
Estrangeiras, em Richmond. Foi também professor e depois diretor do Seminário de Louisville (1899) e
perto de sua morte eleito presidente da Aliança Batista Mundial. Seus escritos exerceram profunda
influência no meio batista do começo do século XX, especialmente a Baptist Faith and Message, que se
tornou a declaração de fé dos batistas do Sul dos EUA, publicada em 1925 e revista em 1963, 1998 e em
2000 onde foram aprofundadas as teses conservadoras.
600
LANGSTON A B Esboço de Teologia Sistemática, p. 5.
601
HODGE Charles, op cit, p. 123.
602
STRONG Augustus Hopkins, op cit, I, p. 13.
603
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 164 – 165 e, p. 231.
188
604
São Paulo, Mundo Cristão, 2003.
605
REILY Duncan Alexander, op cit, p. 43 – 44.
606
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 57.
607
HAHN Carl Joseph, op cit, p. 180 – 181.
189
mesma opinião sobre o Catolicismo, isto é, de que era “apóstata”, etc., opinião
essa que, com raras exceções608 era seguida pela quase totalidade do
movimento protestante brasileiro a ela filiado609.
608
O reverendo metodista John James Ranson reconhecia como válido qualquer batismo, inclusive
o católico, posto que fosse feito em nome da Santíssima Trindade. HAHN Carl Joseph, op cit, p. 274.
609
REILY Duncan Alexander, ob cit., p. 227.
610
PIEDRA Arturo, op cit, I, p. 74 – 75.
611
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 44.
612
Ver capítulo I, 3.2.
190
7.6. Inferências institucionais dos EUA na vida social brasileira por meio
da atividade missionária.
613
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 246.
614
Ibidem, p. 246.
615
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 137.
191
616
Ibidem, op cit, p. 63 – 64.
617
Ibidem, p. 84 – 85.
618
Idem, p. 85.
619
Idem, p. 85 – 86.
192
620
Idem, p. 88.
621
Idem, p. 90.
622
Idem, p. 91.
623
Idem. 91 – 92.
624
Idem, p. 93 – 94.
625
ROCHA João Gomes da op cit, I, p. 12.
626
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 95 – 103.
193
627
Ibidem, p. 121 – 123.
628
Ibidem, p. 158.
629
Idem, p. 157 – 158.
630
Idem, p. 160.
631
HAHN Carl Joseph, ob cit, p. 173.
632
RENDERS Helmuth. “Evangelho Social”; in DICIONÁRIO BRASILEIRO D E TEOLOGIA,
op cit, p. 410.
633
REILY Duncan Alexander, op cit., p. 282 – 287.
194
634
GIRALDI Luiz Antonio, op cit, p. 94 – 104 e p. 145 – 151.
635
NABUCO Joaquim. Minha Formação, p. 174.
636
Ibidem, p. 178.
637
PRADO Eduardo. A Ilusão Americana, p. 11.,
195
contrário, esse foi apoiado pelos ingleses.638 Os EUA não eram solidários, mas
não poucas vezes adversários do mundo hispânico não apoiando e muitas vezes
hostilizando seu processo político de independência.639 As relações com os
vizinhos como o México eram pautadas pela dominação e não pelo respeito.640
“Nos Estados Unidos”, escreve Eduardo Prado, “a palavra América significa a
parte do novo continente que obedece ao governo de Washington. Respeitam
os americanos a soberania da Inglaterra no Canadá e, por todas as outras
nações há, nos benévolos, numa grande indiferença, e nos outros um sentimento
acentuada superioridade, que é feito de amor próprio e de desprezo pelos sul-
americanos”.641 É curioso que Eduardo Prado não veja a ação da política inglesa
na América do Sul como imperialismo, mesmo quando esta exercia o domínio
territorial sobre parte do continente. A violência e a pretensão de dominar
grandes territórios por meio de achaques e torpezas diplomáticas são premissas
do governo de Washington e os exemplos da guerra contra o México e os
ataques de flibusteiros norte-americanos na América Central na década de 1850
são para o escritor paulistano, ilustrações de suas teses nesse sentido.
638
Ibidem, p. 15.
639
Idem, p. 19.
640
Idem, p. 29 - 32.
641
Idem, p. 91.
642
AZZI Riolando; GRIJP Klaus van der. História da Igreja no Brasil, III, 2, 3/2, p. 62.
643
MEIN John, op cit, p. 51.
196
8. Grupos sociais
644
PRADO Eduardo, op cit, p.111.
197
645
LÉONARD Émile G, op cit, p. 110.
646
CRABTREE A.R, ob cit, I, p. 252. Crabtree destaca que na sua primeira pregação na região,
Zachary Taylor contou com um público seleto constituído pelo juiz da comarca, promotor e delegado de
polícia. “Graças a prudência do coronel Ramiro o evangelho estava gozando liberdade e até de aceitação”.
Op cit, p. 252.
647
LÉONARD Émile G, op cit, p. 111.
198
Isso, porém, não quer dizer que apenas grandes proprietários de terras
tenham contribuído para a disseminação do protestantismo no Brasil, mas que
sem dúvida eles foram parcela influente desse processo. Todavia, nos primeiros
estágios da expansão protestante, ainda durante o Império, é possível identificar
648
ROCHA Isnard, op cit, p. 210.
649
FREYRE Gilberto, Ordem e Progresso ob cit, p. 596.
650
Ibidem, p. 998.
651
Idem, p. 284.
652
Idem, p. 596.
199
correntes de prosélitos protestantes entre sitiantes sendo fato que um dos grupos
mais antigos organizados no interior do país seja aquele que se estabeleceu
entre Brotas, Rio Claro, Borda da Mata e Dois Córregos, no estado de São Paulo,
onde o presbiterianismo fez considerável progresso653. Por vezes também podia
acontecer de o fazendeiro exercer outra atividade rentável na região como era o
caso do pai do pastor presbiteriano Eduardo Carlos Pereira, o capitão Francisco
Joaquim Pereira, proprietário de terras, mas também farmacêutico na região.
Eber Ferreira Lima, estudioso da vida de Eduardo Carlos Pereira, destaca, como
Léonard654 e Antonio Gouvêia de Mendonça655, a imprecisão dos termos sitiante
e fazendeiro para definir com exatidão os donos de terra naquela região. “A
expressão ‘fazendeiro’ era utilizada largamente englobando sitiantes médios e
grandes proprietários. Certamente o capitão Francisco não contava entre os
grandes proprietários”.656 Mas era seguramente um proprietário de terras e tinha
na terra parte dos seus rendimentos. Como lembra Gouveia de Mendonça, o
crescimento do protestantismo em geral e do presbiterianismo em particular, na
segunda metade dos oitocentos, está muito mais ligado à sua assimilação pelas
camadas rurais, particularmente em São Paulo e zonas fronteiriças de Minas
Gerais, do que ao estabelecimento de igrejas em áreas urbanas, como Rio e São
Paulo. “Ali encontraram-se”, escreve Gouveia de Mendonça sobre as igrejas
formadas nas áreas rurais paulistas e mineiras, “as condições para expandir-se
e fixar-se definitivamente657”.
653
LÉONARD Émile G, op cit, p. 111.
654
Ibidem, op cit, p. 111.
655
MENDONÇA Antonio Gouveia de, op cit, p. 124.
656
LIMA Eber Ferreira Silveira, op cit, p. 37.
657
MENDONÇA Antonio Gouveia de op cit, p. 118.
658
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 154.
200
de renda e de prestígio e foi sem dúvida pensando nisso que fixou como seu
principal campo missionário, as zonas agrícolas dedicadas à economia agrária
de exportação, a região do norte fluminense e a zona da mata pernambucana.
659
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 221 – 223.
660
LÉONARD Émile G, ob cit, p. 76 – 79. Ver também VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 152 –
156.
661
LÉONARD Émile G, op cit, p. 113.
662
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 267.
663
LÉONARD Émile G. op cit, p. 115.
664
PEREIRA José Reis, História dos Batistas no Brasil, op cit, p. 129 – 130.
201
665
LÉONARD Émile G, op cit, p. 113.
666
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 217.
667
Ibidem, p. 114.
668
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 150 – 151.
669
MEIN John, op cit, p. 43 – 44.
670
YAMABUCHI Alberto Kenji, op cit, p. 148 – 149.
671
CRABTREE A.R, op, cit, I, p. 141.
672
AZEVEDO Fernando de, op cit, 265.
202
673
FREYRE Gilberto. Ordem e Progresso, op cit, p. 412.
674
LIMA Eber Ferreira Silveira, op cit, p. 64 – 65.
675
Ver BENATTE Antonio Paulo. “A Infantaria da Evangelização. Colportagem assembleiana e
leitura da Bíblia no Brasil”. In OLIVA Alfredo dos Santos; BENATTE Antonio Paulo (orgs). 100 Anos de
Pentecostes, p. 103 – 104.
203
676
LÉONARD Émile G, op cit, p. 114.
677
MENDONÇA Antonio Gouvêia de, op cit, p. 124. Gouvêia de Mendonça entende que a posse
da terra por sitiantes alcançados pela pregação protestante, mesmo em se tratando de grandes herdades, não
significava acesso ao sistema capitalista uma vez que os sitiantes não atuavam como produtores de bens de
exportação. Mas não ignora o fato de que, em se tratando de proprietários sitiantes, não podem também ser
enquadrados dentro da concepção proletária de mão-de-obra avulsa que tem apenas a força de trabalho para
oferecer.
678
ALENCAR Gedeon, Assembléias de Deus. Origem, implantação e militância, p. 43.
679
MENDONÇA Antonio Gouveia; FILHO Prócoro Velasquez, op cit, p. 34 – 44.
680
LÉONARD Émile G, op cit, p. 112.
681
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 81.
204
682
LESSA Vicente Themudo, op cit, p. 264.
683
Ibidem, p. 297.
684
LÉONARD Émile G, op cit, p. 113.
685
ARAUJO João Dias de, ob cit, p. 27.
686
Ibidem, p. 29.
205
8.4. Os “ilustres”
687
AMARAL Epaminondas Melo do op cit, p. 49 – 50, 56 – 57.
688
ROCHA João Gomes da op cit, I, p. 82 – 83.
206
enquanto dona Henriqueta se mudava para São Paulo689. Esse fato evidencia a
atração que o protestantismo exerceu também sobre elementos de status social
bem alto, particularmente pela linha feminina, como destaca Gouvêia de
Mendonça690, embora não só por ela, como fica bem exemplificado pelos casos
de Miguel Vieira Ferreira, da família Nogueira Paranaguá, que aderiu à Igreja
Batista no Piauí, ou da família Fernandes Braga, que se tornou membro da IEF.
Contudo, é inegável que o elemento feminino foi predominante: no Maranhão,
além de dona Maria Bárbara, casada com o primo, Francisco de Paula Belfort
Duarte, engrossaram os quadros da igreja presbiteriana daquele estado dona
Maria da Glória (mais tarde esposa de Miguel Vieira Ferreira) e Clementina
Shalders (mãe do Dr. Carlos Shalders, primeiro diretor da Escola Politécnica de
São Paulo)691. Em São Paulo houve o caso de Maria Antônia da Silva Ramos,
filha do barão de Antonina, batizada em 1878 na Igreja Presbiteriana 692, e em
1882 da sua neta, Ernestina Rudge da Silva Ramos, que após ser recebida na
igreja casou-se no mesmo ano na Escola Americana, um verdadeiro
acontecimento social na Paulicéia.693 Essas conversões configuram a formação
de um grupo que Émile Léonard chama de “os ilustres”, por pertencer aos
extratos mais altos da sociedade brasileira dos oitocentos. A maioria dessas
conversões notáveis ocorreu nos primórdios do protestantismo no Brasil e
confirma a impressão de que o fato se deu como parte de uma resposta
afirmativa de uma elite curiosa, mas retrógrada, às novas idéias que foram
desembocando no Brasil desde a abertura dos portos e, de maneira mais
acelerada, com a independência. É de se assinalar, contudo, que, a adesão
propriamente dita ao protestantismo acabou permanecendo em um nível muito
aquém das expectativas concebidas, se lembrarmos que praticamente todas as
denominações tinham em vista a conversão das camadas ricas locais por meio,
principalmente, do esforço pedagógico, o que não ocorreu, não obstante a
fundação de “escolas americanas” que eram consideradas exemplo de prática
pedagógica e de formação, mas que não conseguiram se impor como força de
atração sobre essa parcela mais rica e influente da sociedade brasileira do final
689
LESSA Vicente Themudo, op cit, p. 42 – 43.
690
MENDONÇA Antonio Gouvêia de op cit, p. 122 – 123.
691
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 156.
692
LESSA Vicente Themudo, op cit, p. 155
693
Ibidem, ob cit, p. 205.
207
do Império, sendo logo sua influência quebrada pelo Positivismo tanto no plano
social quanto do político.
694
FRANCA padre Leonel s.j. A Igreja, a Reforma e a Civilização. Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira, 1928.
209
695
ANDERSON Perry. Linhagens do Estado Absolutista, p. 326 – 327.
210
696
LESSA Vicente Themudo. Lutero, op cit, p. 248.
697
SILVEIRA Guaracy, Lutero, Loyola e o Totalitarismo, p. 262.
698
Ver TAYLOR A.J.P. Bismarck, o homem e o estadista, p. 151 – 152. Ver também ZAGHENI
Guido. Curso de História da Igreja, IV, p. 172.
211
9.1. As ocorrências
699
SILVEIRA Guaracy, op cit, p. 181.
700
TARSIER Pedro, op cit, I, p. 166 – 205 e II, p. 5 – 14.
212
701
O professor Metódio Maranhão também não informa sobre a qual denominação pertencia o
templo depredado, mas destaca o fato de o incidente ter se dado “em uma capital de estado, como o Recife
e numa de suas “ruas mais movimentadas”, op cit, p. 95.
214
702
Tarsier destaca o pouco registro de perseguições religiosas no Rio Grande do Sul, mas para ele
o motivo se devia “a ausência quase completa de dados e não na de crueldade dos romanistas”. Op cit. II,
216
de Metodismo no
Brasil” 1928, p.
202.
1904 Cortez PE Ataque a culto Batista Intervenção Jornal do Recife
jul. protestante policial 10/07/1904703
1904 São Paulo Queima de s/d s/d O Puritano
jul. bíblias e 14/07/1904
folhetos
1905 Vila do Rio Expulsão do Presbiteriana (?) s/d O Puritano
Pardo MG miss. Manuel 23/03/1905
Alves de Brito
1905 Porto Real MG Expulsão do Presbiteriana s/d O Puritano 30/05
maio. miss ver. e 11/07/1905
Gamon e Lino
da Costa
1905 São Paulo Ataque contra Presbiteriana s/d O Puritano
o reverendo 11/10/1905
B.V. Rancken
1905 Maceió Expulsão de s/d s/d Revista de
colportor Missões
Nacionais
28/12/1905
1905 Tatuí SP Ataque contra s/d s/d s/d
Francisco do
Amaral
Camargo
“opulento
negociante”
1 Monte Alegre Incêndio de IEP s/d “Esboço Histórico
1906 (Timbaúba, PE) igreja da Escola
Dominical da
Igreja Evangélica
Fluminense”,
1932, p. 309704.
1906 Goiana PE Agressão a Batista s/d “Os Batistas em
batistas Pernambuco”, p.
115.
1907 Timbaúba PE Incêndio de Batista s/d “Os Batistas em
igreja Pernambuco”, p.
122.
1907 Bom Jardim RJ Destruição de Batista s/d O Puritano
igreja 12/01/1907
p. 6. Acrescenta ainda que a zona missioneira, de povoamento mais antigo, testemunhou muitas violências
contra protestantes, mas não cita fontes.
703
O episódio do ataque a um culto batista em Cortez, localidade da zona da mata sul de
Pernambuco, onde até “inofensivas viúvas” teriam sido seviciadas por um grupo de trinta indivíduos
aliciados pelo padre Jerônimo de Assunção, é o único registro contemporâneo recolhido por Tarsier de uma
perseguição contra batistas, mas mesmo assim, extraído de um jornal secular. Op cit, II, p. 6.
704
Esse incidente, relatado por Metódio Maranhão (op cit, p. 95) e também recolhido por Léonard,
(p. 131) não é mencionado na obra de Tarsier.
217
São Paulo 5 4 9
Sergipe – – –
No caso de Pernambuco isso fica muito claro: foram vinte e três ocorrências
somente no período de 1890 a 1910 contra apenas cinco nos vinte anos
seguintes. E se lembrarmos que a maior parte desse período corresponde à
época em Ginsburg está em atividade missionária no estado, isto é, entre 1898
a 1909, somos levados a concordar com Émile Léonard que chama atenção para
o fato de que o ministério missionário de Ginsburg realmente instigava e
fomentava esses conflitos705. Do mesmo modo no estado do Rio onde são
verificadas dezesseis ocorrências entre 1890 e 1910 contra apenas uma no
período seguinte, sendo que dos dezesseis incidentes registrados no primeiro
período, quatro se deram em regiões onde Ginsburg desenvolveu atividade
missionária, isto é, Niterói, Macaé Campos e São Fidélis. Por outro lado, o estado
de Alagoas onde ocorreram apenas quatro episódios de violência entre 1890 e
1910, assistiu a um salto das intercorrências com dez incidentes assinalados
entre 1910 e 1930, coincidentemente, o período de atividade do missionário
batista John Mein naquele estado, quando a “causa batista” registra a sua
primeira grande expansão. Lembrando que o tom polemista de Mein é
praticamente o mesmo de Ginsburg – “as igrejas evangélicas segregam os seus
fiéis da influência corruptora da igreja romana”, diz Mein a certa altura 706 – está
explicado em parte a amplitude da perseguição verificada contra os protestantes
alagoanos no período posterior a 1910.
Outra coisa que chama atenção é que as perseguições são movidas por
grupos de sectários instigados por padres, portanto, não se trata de uma ação
articulada pelo clero mais alto707. Mesmo a atuação de Dom Luis Raimundo da
Silva Brito no episódio da queima de bíblias no Recife, em 1903, não evidenciou
que tenha partido deste bispo a ordem de incineração das mesmas. São,
portanto, perseguições de âmbito local, alimentadas e instigadas por vigários
paroquiais, em grande parte ligados ao clero secular dos quais alguns nomes
foram preservados como os dos padres Rocha, de Bonfim, na Bahia; Bulção, de
São Vicente de Paula, no interior do estado do Rio; e Jerônimo de Assunção, de
Cortez, na zona da mata sul pernambucana. A militância de religiosos
monásticos como o padre Júlio Maria em Minas Gerais, ou de frei Celestino
705
LÉONARD Émile G, op cit, p. 125.
706
MEIN John, op cit, p. 56.
707
Léonard segue o mesmo pensamento, op cit, p. 132.
220
708
TARSIER Pedro, op cit, I, p. 167 – 168.
709
LÉONARD Émile G, op cit, p. 132.
710
MARANHÃO Metódio, op cit, p. 92 – 94.
224
entidade privada com sede nos EUA e que naquele momento respondia
diretamente pela administração das comunidades de prosélitos organizadas no
país, deve ter certamente pesado na decisão do governo mineiro em deslocar
força policial para a região, a fim de impedir a consumação do vandalismo. Isso,
contudo, não se constitui uma regra e as depredações ou incêndios de igrejas
protestantes, como aqueles perpetrados contra as igrejas congregacional e
batista no município pernambucano de Timbaúba, em 1906 e 1907,
respectivamente, evidenciam as limitações do estado de direito no período da
República Velha.
711
FORSYTH Willian, op cit, p. 205.
225
convencê-lo não só que a nossa bíblia era falsa, mas que também devia ser
queimada, organizaram uma queima pública da Bíblia”712.
712
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 141.
713
ALVES Herculano. Documentos da Igreja sobre a Bíblia, p. 129.
226
714
ROCHA João Gomes da; op cit, I, p. 58.
715
GIRALDI Luiz Antonio, op cit, p. 59 – 60.
716
Ibidem, p. 60.
717
DOCUMENTOS DA IGREJA. DOCUMENTOS DE GREGÓRIO XVI E PIO IX, (Inter
Praecipuas, 1840), 2.
718
Ibidem, 3,4.
719
Ibidem, 8.
227
P. Que deveria fazer um cristão, se lhe fosse oferecida a Bíblia por um protestante
ou por algum emissário dos protestantes?
720
Ibidem, Syllabus Errorum, 18, § IV.
721
file:///C:/Users/Edson%20Douglas/Downloads/Catecismo_Sao_Pio_X.pdf acesso 06/03/17.
228
CAPÍTULO III
722
Ver LUTERO Martinho, Obras Selecionadas, VII [Carta do Dr. Martinho Lutero sobre os
Intrusos e Pregadores Clandestinos, 1532], p. 115 – 124.
229
Mas a memória simbólica vai além do discurso religioso. Ela também pode
resultar na construção de um discurso no qual a fronteira entre a autobiografia e
a construção ficcional, mesmo que sob um formato histórico, tornam-se muito
tênues. Tais obras são vistas por Bourdieu como construções, ora na direção de
uma nova configuração simbólica, ora na transformação do sujeito narrador em
personagem principal de uma nova categoria de romance, categoria essa
formulada dentro de premissas metodológicas bem distintas. Como escreve
Bourdieu:
De fato, vivendo aos olhos da posteridade uma vida cujos mínimos detalhes são
dignos de coleta autobiográfica, é integrando através do gênero “memórias” todos os
momentos de sua existência na unidade reconstruída de um projeto estético, em suma, ao
fazer de sua vida uma obra de arte e a matéria da obra de arte, os escritores estimulam
230
uma leitura biográfica de sua obra e sugerem se conceba a relação entre a obra e o público
como uma comunhão pessoal entre a “pessoa” do criador e a “pessoa” do leitor723.
723
BOURDIEU Pierre, op cit, p. 185.
724
Ibidem, p. 186.
231
2. Conceituação de hagiógrafo
725
GAJANO Sofia Boesch, in BERNARDINO Angelo di; FEDALTO Giorgio; SIMONETTI
Manlio (org.), op cit, p. 904.
232
Gerôncio (século V), a Vida de Macrina, de Gregório de Nissa (século IV) entre
outros – Paixões, coleções de narrativas de milagres e até os processos judiciais
do qual resultou o martírio dos santos também podem se constituir em
hagiógrafos. Nem sempre esses últimos se tratam de documentos judiciais
propriamente ditos sendo que “as mais das vezes trata-se antes de forma literária
do que de verdadeiros protocolos e processos legais.”726 Não raro, o próprio
autor do relato tem ciência de que o mesmo pode não passar de um apócrifo,
como no caso de Jacopo Varazze a respeito de São Jorge.727 Mas mesmo assim
não chega a lhe questionar a sua utilidade para a edificação e também, se for o
caso, o combate a heresia e a superstição (outra função importante do
hagiógrafo)728.
726
ALTANER Berthold; STUIBER Albert. Patrologia, p. 99.
727
VARAZZE Jacoppo, Legenda Áurea, p. 365.
728
GAJANO Sofia Boesch, in BERNARDINO Angelo di; FEDALTO Giorgio; SIMONETTI
Manlio (org.), op cit, p. 910.
729
Ibidem, p. 908 – 909.
730
Idem, p. 911.
731
ALTANER Berthold; STUIBER Albert, op cit, p. 102.
732
ATANÁSIO S. Vida e Conduta de Santo Antão, prefacio.
233
733
GAJANO Sofia Boesch, in BERNARDINO Angelo di; FEDALTO Giorgio; SIMONETTI
Manlio (org.), op cit, p. 911.
734
Ibidem, p. 912 – 913.
735
LUTERO MARTINHO. Obras Selecionadas VII [Um belo Hino dos Mártires de Cristo
queimados em Bruxelas pelos sofistas de Louvain, 1522], p. 485 – 489.
736
GEORGE Timothy. Teologia dos Reformadores, p. 297.
737
MICHAEL SATTLER, op cit, p. 31 – 42.
234
São tristes estes tempos em que nós estamos vivendo. Sim, são tempos muito
mais perigosos do que aqueles dos nossos antepassados que sofriam a morte em
consequência do testemunho do Senhor (...) estes dias são muito mais perigosos porque
naqueles tempos Satanás vinha abertamente, quando o Sol estava alto no céu, rugindo
com um leão. Era fácil identifica-lo e, às vezes, até se esconder dele. Além disso, seu
objetivo era destruir o corpo natural. Mas agora ele se aproxima de noite ou no crepúsculo
do dia. Se apresenta de forma estranha, porém agradável, para espreitar a alma. (...) ele
procura mostrar que o mundo é um lugar lindo e glorioso. Isto faz através da
concupiscência da carne, da concupiscência dos olhos e da soberba da vida. Praticamente
todos os homens têm seguido esses prazeres, adorando-os como se fossem a rainha de sua
vida739.
738
PEREIRA José Reis, História dos Batistas no Brasil, p. 45 – 47.
739
O ESPELHO DOS MÁRTIRES, p. 7 – 8.
235
740
BOURDIEU Pierre, op cit, p. 68.
741
Ibidem, ob cit, p. 59.
236
742
Ibidem, ob cit, p. 57.
237
comissionados para tal mister) a produção desse tipo de literatura. Além dos
clássicos presbiterianos como O Apóstolo de Caldas, (1950) do reverendo Júlio
Andrade Ferreira, dedicada à vida do pastor Miguel G. Torres; da Galeria
Evangélica (1952), do mesmo autor, um sumário da vida e ministério de figuras
eminentes do presbiterianismo brasileiro, e de O Padre Protestante (1948) do
reverendo Boanerges Ribeiro, temos o exemplo dos metodistas que na década
de 20 lançaram, através da Imprensa Metodista, a coleção Os Fundadores do
Metodismo, com biografias de John e Charles Wesley, Thomas Cocke, Peter
Cartwright, etc, todas com propósito explicitamente edificativo e apologético. Nos
anos 60, com claro intento de destacar a ação dos ministros nacionais e
estrangeiros, Isnard Rocha publicou os Pioneiros e Bandeirantes do Metodismo
no Brasil, uma obra muito parecida com a Galeria Evangélica. Entre os batistas,
além da autobiografia de Ginsburg existem os relatos acerca da vida da
missionária Noêmia Campêlo (1906 – 1928), pernambucana que faleceu no
exercício de suas atividades missionárias junto aos índios craôs do Maranhão.
O primeiro surgiu na década de 50 pela lavra de Stella Câmara Dubois (A
Heroína de Craoanópolis, 1959) e o segundo da parte do ex esposo da mesma,
pastor Zacarias Campêlo (Minha Vida e Minha Obra, 1970). Nos anos 40 o pastor
José Reis Pereira publicou uma biografia do missionário Eurico Nelson (1945),
que atuou no extremo Norte do país, igualmente de caráter hagiográfico. No
Pentecostalismo, os relatos dos fundadores das ADs, Gunnar Vingreen (O Diário
do Pioneiro Gunnar Vingreen, editado por seu filho Ivar Vingreen) e Daniel Berg
(Memórias), bem como do fundador da Congregação Cristã no Brasil, Luigi
Francescon, (o Resumo de uma ramificação da obra de Deus, pelo Espírito
Santo, no século atual) também possuem características hagiográficas743. De
igual modo, a coletânea Heróis da Fé, do missionário norte-americano Orlando
Boyer, com extratos das vidas de Lutero, Wesley, Dwight Moddy e até do monge
dominicano florentino Savonarola, também tem funcionado como um hagiógrafo.
743
Sobre o relato de Francescon ver REILY Duncan Alexander, op cit, p. 367 – 369; sobre a
Congregação Cristã no Brasil, ver LEONARD Emile G, op cit, p. 377 – 380 e do mesmo autor, O
Iluminismo num Protestantismo de Constituição Recente, p. 78 – 108.
238
744
Acerca do chamado ministerial ver HAHN Carl Joseph, op cit, p. 175 – 177, sobre o chamado
de Ashbel Simonton. FORSYTH Willian B. Jornada no Império, op cit, p. 19 – 20 acerca da conversão de
Robert Kalley. Bastante significativo é o relato de José Reis Pereira acerca do batismo de Eurico Nelson,
missionário pioneiro batista na Amazônia, onde a conversão também é demonstração de resistência contra
“todos os adeptos de religiões oficializadas”, nesse caso, referindo-se a Igreja Luterana da Suécia.
PEREIRA José Reis, O Apóstolo da Amazônia, p. 10 – 11.
745
GINSBURG Salomão, op cit, p. 246.
746
ALMEIDA Rute Salviano de, op cit, p. 395.
239
747
LÉONARD Émile G, op cit, p. 26.
748
BOURDIEU Pierre, op cit, p. 185.
749
ROCHA João Gomes da, op cit, I, p. 6 – 7.
750
PEREIRA José Reis, Eurico Nelson, op cit, p. 5 – 10.
241
751
ROCHA Isnard, op cit, ob cit, p. 17.
242
Por causa do seu caráter parcial e imediato, o que os torna cada vez mais
recorrentes quando se busca sinais de tais práticas nas camadas mais baixas da hierarquia
social, fazendo-se presentes, sobretudo, nas classes populares e, mais particularmente,
752
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 165 – 167.
753
VINGREEN Ivar, op cit, p. 19 – 20.
243
entre os camponeses (...) quanto maior for o peso da tradição camponesa numa civilização
tanto mais a religiosidade popular se orienta para a magia754.
754
Ibidem, ob cit, p. 84 – 85.
755
ALENCAR Gedeon, op cit, p. 140.
756
WEBER Max, op cit, 2, p. 370.
757
Ibidem, op cit 2, p. 370.
758
ALENCAR Gedeon, op cit, p. 20.
244
lembrando que enquanto na Igreja Batista pouco mais de vinte anos separam a
fundação da primeira igreja da organização do seminário, no pentecostalismo
isso só irá se dar várias décadas após a fundação da “Missão Fé Apostólica”, o
primeiro nome das AD, e ainda sob fortes resistências, nos fins dos anos 60 e
começo dos 70759, resistências essas que são resquício da fase “carismática” da
denominação assembleiana760. Contudo, mesmo com essa forte resistência, é
importante destacar que, no momento em que prevalece a tese da
profissionalização do corpo pastoral, a fundação e expansão dos “institutos
bíblicos” se dá de forma avassaladora: são quatorze instituições ligadas às AD
fundadas apenas na década de 70 (1971 – 1979)761 contra duas criadas no
período de 1958 a 1971762. A despersonalização da liderança eclesiástica e a
mudança de hábitos sociais dos membros do grupo são passos importantes na
racionalização e organização da Igreja Institucional.
DANIEL Silas, op cit, p. 193 – 196; 250 – 255; 391 – 392; 409 – 410 e 428. Ver também
759
A opção pela religião mágica teria que advir da tradição religiosa formada
nas camadas mais humildes do campesinato e adicionada à experiência
religiosa que estava se inserindo naquele contexto e representada pela prática
do “falar em línguas estranhas” (Glossolalia). “Toda a igreja [a PIB de Belém do
Pará] estava sendo contaminada, pois já muitos falavam as tais línguas, menos
os diáconos que não chegaram a fazer esse progresso”, descreve Antonio Neves
de Mesquita em tom depreciativo o surgimento do “pentecostismo” no Brasil764.
Qual o sentido disso? A busca da resposta imediata de demandas também
imediatas (desemprego, fome, doença, etc) por meio do carisma765, ao passo
que para os grupos que permanecem na igreja batista como os diáconos da PIB
de Belém e as “melhores famílias” da zona da mata norte pernambucana, o que
predomina é a busca do “sentido unitário da vida”, isto é, a “visão coerente do
mundo e da existência humana (...) capaz de fornecer justificativas de existir tal
como existem, isto é, em uma determinada posição social”.766 E aqui voltamos
ao que fora dito logo no começo dessa pesquisa por Antonio Gouvêia de
Mendonça, de que os batistas estão impregnados de um “ideal de classe média”
que os tornam infensos às demandas das camadas populares.767 Quem não está
nesse grupo social quer fazer parte dele. Quem está não quer sair dele.
763
ALENCAR Gedeon, op cit, p. 139 – 141.
764
MESQUITA Antonio Neves de, op cit, II, p. 137.
765
A esse respeito ver o artigo de ARAUJO Arão Inocêncio Alves de, “Sob o Domínio do Presente.
A valorização do tempo presente no pentecostalismo assembleiano brasileiro” (1950 – 1990), in OLIVA
Alfredo dos Santos; BENATTE Antonio Paulo (org), op cit, p. 163 – 170 onde, estudando as cartas enviadas
de várias regiões do país para o jornal da denominação “Mensageiro da Paz”, entre 1933 e 1945, em que se
percebe a drástica redução do relato conversionista em detrimento daqueles dedicados à destacar curas
físicas com a subsequente valorização dos “aspectos terrenos” da vida.
766
BOURDIEU Pierre, op cit, p. 87.
767
MENDONÇA Antonio Gouvêia de; FILHO Prócoro Velasquez, op cit, p. 44.
246
768
VINGREEN Ivar, op cit, p. 43 – 59. Como Ginsburg, Vingreen também denuncia a propaganda
católica contra as “bíblias falsas” protestantes, além de destacar que sua missão é desconstruir “toda a
mentira e toda a superstição que o povo aprendeu desde criança dos sacerdotes católicos”, p. 58. Em certo
momento o relato beira a autocomiseração: “somos atacados por febres tremendas e temos que suportar um
clima quente e severo, que em poucos anos deixa o corpo completamente esgotado. Só com a graça de Deus
é que os missionários podem suportar tudo isso”. Idem, p. 58. Ver também BERG Daniel, Enviado por
Deus, p. 93 – 97 e p. 133 – 143.
769
CORREA Marina. Assembléias de Deus: ministérios, carisma e exercício de poder, p. 47 – 50.
770
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 12.
247
características que são bastante análogas às dos pentecostais, mas que podem
ser encontradas entre outros fundadores do protestantismo brasileiro como
Simonton e Kalley como o chamamento pessoal e o direcionamento desse
chamado para a reforma social da nação onde é desenvolvida a ação
missionária.
Salomão Ginsburg viveu quase quatro décadas no Brasil e por isso pode-
se dizer que ele o conheceu bem. Visitou todas as regiões brasileiras e mesmo
admitindo que o período vivido no Rio de Janeiro e Pernambuco tenha
influenciado sua impressão geral do país, ela não afetou a sua percepção da
771
Ibidem, op cit, p. 155.
248
772
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 241.
773
Ibidem, p. 240 – 241.
774
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 241.
249
irão tomar conta “dessa grande terra”, deixa clara a sua predileção pela mão de
obra estrangeira, particularmente europeia.
775
Ibidem, op cit, p. 204.
776
Ibidem, p. 195.
777
Idem, p. 197.
778
Idem, p. 200.
250
779
MENDONÇA Antonio Gouveia de; FILHO Prócoro Velasques, op cit, p. 44.
780
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 246.
251
Até mesmo quando faz elogios aos brasileiros a fala de Ginsburg está
impregnada da alocução preconceituosa de Speer e Homer C Stunz acerca da
baixa qualidade geral atribuída ao caráter desses povos. Ginsburg dizia que os
brasileiros tinham quatro traços inatos, inteligência, coragem, cortesia e sacrifício
e que quando tem oportunidade, eles revelam clareza, perspicácia de
percepção, clareza de mente e facilidade de aprender de modo maravilhoso” 783
Cita indiretamente Rui Barbosa, talvez por conta de sua defesa da liberdade
religiosa em O Papa e o Concílio, ou talvez pelas suas vinculações com a
Maçonaria; e lista feitos da engenharia nacional como os túneis da E.F. Central
do Brasil e da E.F. Curitiba-Paranaguá,784 como evidencias do brilhantismo da
inteligência nacional. “As classes educadas”, ainda segundo o missionário,
tratam a gente com grande atenção e respeito, especialmente os que vivem no
interior (...) nunca são rudes, grosseiros ou provocantes. Sempre escutam
781
Ibidem, op cit, p. 245 – 246.
782
PIEDRA Arturo, op cit, I, p. 74 – 75.
783
Ibidem, op cit, p. 242.
784
GINSBURG Salomão L, p. 243.
252
785
Ibidem, p. 244.
786
Citado por PIEDRA Arturo, op cit, I, p. 77.
787
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 246.
253
788
PIEDRA Arturo, op cit, I, p. 54.
789
Ibidem, p. 55.
254
Nós não acreditamos que o evangelho estirpe do coração brasileiro o amor pela
sua pátria e pelas coisas da pátria, o interesse vital pelos problemas nacionais, o que este
mesmo evangelho não fez em outras terras. Não acreditamos, muito menos, que o
evangelho deva vir sempre coberto pelo manto de disposições particulares a uma ou outra
raça. Chegamos a pensar que exatamente o mesmo evangelho que, na Inglaterra, se adapta
aos ingleses, e toma características saxônicas, pode fazer o mesmo aqui no Brasil, dando
ao trabalho um encaminhamento e características puramente brasileiros (...) mesmo aqui
no Brasil, o método de trabalho adotado no Rio de Janeiro não servirá sempre para a
Bahia ou para Recife e vice-versa. Vivamos, pois, dentro desta liberdade que o evangelho
nos proporcionou. Por outro lado, tudo ou quase tudo aqui difere dos Estados Unidos da
América do Norte, e as condições religiosas do povo brasileiro, ao mesmo tempo que as
campanhas sem trégua que os ultramontanos dirigem contra nós, exigem que mudemos a
nossa conduta eclesiástica. Os ultramontanos falam que nós somos “vendidos” aos
Estados Unidos. Nós sabemos o quanto tal campanha é tola, ilógica e injusta, mas,
790
LÉONARD Émile G, op cit, p. 180.
255
infelizmente, alguns obreiros agem como se os Estados Unidos fossem a sua sagrada Sé
apostólica791.
791
Ibidem, p. 204, nota 33.
256
792
GINSBURG Salomão L, p. 241.
793
Ibidem, p. 241 – 242.
794
Ibidem, p. 242.
795
Ibidem, p. 241.
257
796
Ver o artigo de BARBOSA Alexandre de Freitas. “O Mercado de Trabalho antes de 1930.
Emprego e ‘desemprego’ na cidade de São Paulo. In CADERNOS DO CEBRAP, nº 80, p. 92 – 93.
797
Ibidem, op cit, p. 95 – 106.
258
América Latina fornecia borracha, cacau, gado, madeira e gado de corte. 798 A
atividade industrial não é vista como relevante já que os EUA contam com seu
próprio parque que produz tanto para dentro quanto para fora do país e que,
além do mais, também não é apreciada pelas elites agrárias locais. Ginsburg
está, portanto, em sintonia tanto com o pensamento dos grupos
agroexportadores nacionais, como também com os grupos econômicos
estrangeiros que vêem o continente latino-americano como mercado fornecedor
de matérias-primas, porém, em um regime de exclusividade já que o pan-
americanismo da doutrina Monroe, evocado sob outra chave na Conferência do
Panamá, coloca a América Latina em bloco dentro da zona de influência norte-
americana.
798
PIEDRA Arturo, op cit, I, p. 97.
799
PRADO Eduardo, op cit, p. 96 – 97.
800
PIEDRA Arturo, op cit, I, 40.
259
Com base no seu relato, não parece haver dúvidas de que Salomão
Ginsburg compartilhava do mesmo pensamento que norteou os esforços da
Conferência do Panamá no que tange o papel da educação para formar uma
nova sociedade. Para ele a educação tinha um efeito poderoso na promoção de
profundas transformações sociais e na elevação moral do país. E nesse sentido
ele destaca as atividades de três educandários batistas com o intento de ilustrar
aquilo que ele descreve em seu livro como sendo “o que os batistas estão
801
Idem, p. 44.
802
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 288.
260
803
GINSBURG Salomão, L, op cit, p. 256.
804
Ibidem, p. 257. Ver também MEIN David, op cit, p. 16.
805
GINSBURG Salomão, op cit, p. 257 – 258.
806
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 288 – 289. Ginsburg também chama atenção para a presença de
padres lecionando nas escolas públicas ou exercendo influência sobre a nomeação de professores, de modo
que “o romanismo é ensinado e praticado abertamente” nas escolas públicas”, ob cit, p. 254.
261
807
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 256.
808
Ibidem, p. 254.
809
WEBER Max, op cit, II, p. 368.
810
FOUCAULT Michel, op cit, p. 41.
262
811
CRABTREE A.R, op cit, I, p. 65.
812
Idem, p. 111.
263
813
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 207 – 212.
814
Ibidem, op cit, p. 212 – 213.
815
MEIN David, op cit, p. 35.
816
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 66 – 70. Ver também p. 206 – 207.
817
Ibidem, p. 210.
264
818
Ibidem, p. 164.
819
Apud ROSA Edvaldo Fernandes, Pastores Novos em Igreja Antiga, Dissertação de Mestrado
em Ciências da Religião, p. 96.
820
Ibidem, p. 95 – 96.
821
Ibidem, p. 96.
822
Harvey Harold Muirhead (1879 – 1957), missionário e educador norte-americano, nomeado
pela Junta de Richmond para o Brasil, desembarcou em Pernambuco em 1907, acompanhado da esposa
Alyna Berth Mills. Dirigiu o Colégio Americano Batista do Recife ao mesmo tempo em que dava aulas no
STBNB até 1927, passando depois para o Rio onde dirigiu o Colégio e o STBSB até 1938 quando retorna
aos EUA para exercer a direção da Casa Editora Batista em El Paso, no Texas. Gilberto Freyre destaca em
seus relatos autobiográficos o papel que Muirhead teve em sua curta passagem pelo “cristianismo
evangélico”. FREYRE Gilberto, De Menino a Homem, p. 88 – 89. Sobre Muirhead, ibidem, p. 89 nota 131
e PEREIRA José Reis, História dos Batistas no Brasil, p. 292.
265
conheceu Sheppard nos EUA durante suas férias passadas naquele país em
1904 e, segundo seu relato, orou para que ele, então aluno do Seminário de
Louisville, se decidisse por missionar no brasil.823 Seu trabalho na organização
dos seminários, particularmente o do Rio, é bastante enaltecido por Ginsburg no
estilo que lhe é peculiar: “o Colégio e Seminário Batista do Rio (...) é hoje um
fator poderoso no Brasil. (...) estou alegre em meu coração por ter apoiado o
irmão Sheppard, com todas as veras do meu coração e a seus planos através
das grandes dificuldades e provações”.824 O missionário Muirhead, também
preparado para a obra educacional, exerceu idêntica atuação no Recife. “Após
preparo especial para a educação, veio para Pernambuco e não demorou muito
para minha senhora e eu vermos que ele era um líder nato, especialmente na
edificação de uma instituição de ensino na grande cidade do Recife”. E lista suas
obras, o Colégio Americano Batista, o Seminário e a ETC.
823
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 213.
824
Ibidem, p. 214.
266
da obra batista pelo país, fato do qual Ginsburg se gaba bastante: “foi honra
minha, não somente guia-los aos pés do Mestre, mas também ao caminho da
utilidade e do serviço”825, jovens esses que foram por ele convertidos e depois
discipulados nos estágios iniciais de sua preparação para o serviço pastoral.
Desse modo, assegura-se a preservação daquilo que Ginsburg chama de
“princípios batistas”, por meio da sua reprodução pela educação semineral e pelo
discipulado que conduzem ambos ao mesmo objetivo exponencial.
825
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 191.
826
Ver nota 10.
827
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 198.
828
Manoel Corinto Ferreira da Paz (1880 – 1926). Batizado pelo próprio Ginsburg (1902) foi aluno
do STBNB no qual se formou em 1906. Pastoreou as igrejas batistas da Gameleira, da Rua Imperial, da
Torre e do Feitosa, no Recife, bem como as igrejas batistas de Maceió, Nazaré da Mata e Gravatá, na zona
da mata norte pernambucana. De 1908 a 1926 fixou-se como pastor titular da Igreja Batista do Cordeiro,
no Recife, onde deu atenção a organização de escolas paroquiais para atender aos filhos dos membros da
igreja. http://igrejabatistadocordeiro.blogspot.com.br/2010_10_01_archive.html acesso 16 de setembro de
2016.
829
GINSBURG Salomão L op cit, p. 199.
830
(1894 – 1972). Nascido na Bahia e formado pelo STBNB (1918) tornou-se pastor da PIB do
Pará, em Belém, fraturada por conta da dissidência pentecostal, reorganizando-a e lhe dando “uma década
de paz e de trabalho” (MESQUITA Antonio Neves de, ob cit, p. 138). Formado em Medicina em Belém,
em 1926, no ano seguinte se transfere para o Recife onde exerce o pastorado na Igreja Batista do Capunga,
mudando-se depois para São Paulo onde pastoreou a PIB paulistana de 1929 a 1970.
http://nossoreijesus.blogspot.com.br/2010/12/batistas-do-brasil-dr-manuel-tertuliano.html acesso 16 de
setembro de 2016. http://www.pib.org.br/institucional.php acesso 16 de setembro de 2016 e MESQUITA
Antonio Neves de, ob cit, II, p. 333.
831
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 203.
832
(1891 – 1969) nascido na Bahia, convertido por Ginsburg (1909) e por ele recomendado para
o STBNB onde se formou (1918), estudou depois na Universidade de Baylor, Texas, EUA. Foi professor
do STBNB (1922) passando depois a pastorear na igreja batista de Jaboatão PE (1923 – 1926), onde tornou-
se expoente do movimento radical batista no Nordeste, transferindo-se depois para o Rio onde tentou
engajar o STBSB Sul sem sucesso. Passando para São Paulo, tornou-se pastor PIB da capital paulista (1927
– 1929), afastando-se depois por alguns anos do ministério pastoral. Retorna nos anos 30 como pastor da
Igreja Batista da Parada Inglesa, atual Igreja Batista Redenção, na zona norte paulistana. Foi vice-presidente
da Aliança Latino-Americana das Igrejas Cristãs (ALADIC) organização de cunho fundamentalista, de
267
1951 a 1954.
http://igrejaredencao.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=30&Itemid=106 acesso 17
de setembro de 2016. http://historiasbatistas.blogspot.com.br/2009/01/pib-jaboatao-pe-1901.html acesso
17 de setembro de 2016. Ver também PEREIRA José Reis, op cit, p 299 – 300.
833
GINSBURG Salomão L, op cit, p. 195 – 197. Na edição de 1931 consta essa nota de rodapé:
“infelizmente o Sr. Adrião desmentiu tudo o que afirma dele neste capítulo. Hoje está separado da Igreja e
entregue a outros misteres” (ob cit, p. 195). A nota, possivelmente, faz menção à participação de Adrião
Fernandes, então pastor da Igreja Batista de Jaboatão, no grande Recife, na Questão Radical que dividiu o
meio batista brasileiro nos anos 20 e cujo epicentro foi justamente Pernambuco e o STBNB (LÉONARD
Émile G, op cit, p. 197 – 207),
834
FOUCAULT Michel, op cit, p. 16 – 17.
268
Considerações finais
Desde o início fica evidente que a sua Missão no Brasil é também um ato
de resistência e de combate efetivo contra aquela instituição que, conforme suas
palavras, é responsável pelo opróbrio geral do país, isto é, a Igreja Católica.
Embora seja possível encontrar um anticatolicismo militante em outros
missionários em atividade no Brasil durante o século XIX como Robert Kalley e
Ashbel Green Simonton, que não se melindram em declarar isso em artigos e
sermões835, é em Ginsburg que esse discurso se apresenta de forma mais
violenta e por vários motivos: primeiro, o fim da monarquia, que também significa
o fim do padroado ibérico e, por conseguinte, do “apoio” do Estado à Igreja, que
abre o caminho para a laicização do Estado, e com isso, fortalece o
Protestantismo, tanto no aspecto organizacional quanto na prática missionária,
que passa a contar com maior liberdade de movimentação e ação (embora, por
outro lado, também tenha fortalecido a Igreja Católica que passou a contar com
uma maior mobilidade de ação, muito maior do que no período do Império). É
bem verdade que nem todos os missionários batistas como de outras
denominações faziam uso desse tipo de confrontação, como Crabtree, inclusive,
destaca, ao mencionar o trabalho missionário de Willian Taylor no estado de São
Paulo que, em comparação com Ginsburg, procurou evitar conflitos de qualquer
natureza836. Mas essa não é uma prática institucional como é, sem dúvida, o
discurso anticatólico, especialmente entre aquelas denominações que já se
encontram predispostas a não aceitar o Catolicismo Romano como uma igreja
cristã, como os presbiterianos e os batistas, e isso desde os EUA, ponto de
835
Sobre o posicionamento anticatólico de Kalley ver ROCHA João Gomes da op cit, I, p. 122 –
124 e 280 – 282. Sobre Simonton, ver SERMÕES ESCOLHIDOS DE SIMONTON, op cit, p. 18 e 24, 49
e 142.
836
CRABTREE A R, op cit, I, p. 286 – 287.
269
837
REILY Duncan Alexander, ob cit., p. 227.
838
VIEIRA David Gueiros, op cit, p. 374 – 375. Vieira destaca o ano de 1872 como o ponto de
partida do que ela chama de “campanha anti-Roma”, isto é, a mobilização de liberais e maçons contra a
Igreja Católica depois que o episcopado suspende de suas ordens o padre José Luiz de Almeida Martins,
por sua notória vinculação à Maçonaria. Ainda conforme Vieira, a união dos protestantes à facção liberal-
maçônica foi toda baseada na crença de que com a crise desencadeada com a Questão dos Bispos se daria
muito em breve a separação entre a Igreja e o Estado, o que não se sucedeu. Ver op cit, p. 375.
839
TARSIER Pedro, op cit, I, p. 177 – 178.
270
840
CRABTREE A.R; op cit, I, p. 47 – 48.
841
MEIN John, op cit, p. 28.
842
NETO Luiz Longuini, op cit, p. 97.
271
843
PIEDRA Arturo, op cit, I, p. 50 – 52.
272
844
LÉONARD Émile G, op cit, p. 148.
845
PIEDRA Arturo, op cit, I, p. 51 – 52.
273
846
MENDONÇA Antonio Gouvêia de. FILHO Prócoro Velasquez, op cit, p. 25.
847
CADERNOS DO ISER, op cit, p. 34 – 38.
274
próprio governo não pode esquecer que já conta o país com cerca de 4.000.000 de
protestantes entre fiéis e congregações848.
Também foi possível notar que, não obstante a situação de quase total
insularidade do meio batista em relação às demais igrejas protestantes naquele
momento histórico, ela reproduziu, através da atividade missionária, o discurso
das agências denominacionais e sociedades bíblicas norte-americanas
enfocado na premissa da superioridade da sociedade anglo-saxônica modelada
pelo cristianismo protestante e eurocêntrico em relação ao mundo latino-
americano e católico. A narrativa de Salomão Ginsburg confirma que sua
preocupação não estava em promover reformas sociais, mas exclusivamente em
converter moralmente uma sociedade ao qual se atribuíam deformidades morais,
embora isso não impedisse o Protestantismo Brasileiro e o batista em particular,
de absorver essas mesmas “deformidades”, adaptando-se assim às relações de
poder e mesmo até reproduzindo o próprio discursos delas dentro de um amplo
processo de acomodação dentro das estruturas de poder oficiais.
848
FREIRE Paulo. 1º Centenário da Igreja Presbiteriana do Brasil, p. 5.
849
ARAUJO João Dias de, CADERNOS DO ISER, op cit, p. 31.
275
BIBLIOGRAFIA
a) Fontes primárias:
b) Fontes secundárias:
CRABTREE A.R. História dos Batistas no Brasil. Vol. I, até o ano de 1906.
2ª edição. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1962.
MESQUITA Antonio Neves de. História dos Batistas no Brasil. Vol. II, de
1906 a 1935. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1940.
d) Bibliografia de consulta:
AZZI Riolando; GRIJP Klaus van der. História da Igreja no Brasil. Ensaio
de Interpretação a partir do povo. Terceira Época. 1930 – 1964. Petrópolis,
Vozes, 2008.
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2012.
CUNHA Euclides da. Os Sertões. São Paulo, UBU editora/ Editora SESC,
2016.
FREYRE Gilberto. Casa Grande & Senzala. 51ª edição. São Paulo, Global
Editora, 2006.
JOHNSON Paul. História dos Judeus. 2ª Edição. São Paulo, Imago, 1995.
LELIÈVRE Mateo. João Wesley. Sua vida e obra. São Paulo, editora Vida,
1997.
OLIVA Alfredo dos Santos; BENATTE Antonio Paulo (orgs). 100 Anos de
Pentecostes. São Paulo, Fonte Editorial, 2010.
d) Dissertações e Teses.