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VIVENCIANDO O LOUVOR: Uma relação entre a expressão artística da fé e o

fenômeno religioso1

NUNES FERNANDES, Gersonita Barros 2

COSTA, Waldney3
RESUMO

O presente estudo discorre sobre a vivência do louvor numa relação entre a


expressão artística da fé e o fenômeno religioso. Através das experiências
vivenciadas por mim, enquanto cantora da música gospel apresentarei uma análise
sobre a explosão do gospel e a influencia na sociedade brasileira, bem como
analisarei os protestantes evangélicos e a influencia da música gospel na sua vida,
pois, sabemos que a grande maioria da população brasileira pertence a uma
determinada religião. Neste sentido que ela se manifesta através das questões
espirituais, físicas, morais e éticas, influenciando o homem psicologicamente e
socialmente. No entanto, o homem sempre buscou algo que preenchesse o seu
interior, algo que desse sentido a sua vida e falasse também a sua alma, dando -lhe
respostas às suas indagações, aos seus conflitos existenciais, algo que norteasse o
seu caminho. A religião tem esse caminho, pois direciona o homem a transitar entre
o mundo real e o não real, entre a razão e a fé, a tristeza e a alegria, a dor e o
prazer, o invisível e o visível, do objetivo ao subjetivo, até que ele encontre o seu
EU, encontrando-se naquilo que escolheu para si, nessa relação que vai de encontro
com a natureza e Deus, dos seus hábitos pessoais aos familiares, da cultura a
costumes e valores pessoais, da profissão a serviços sociais, dentre outros. Torna-
se essencial uma pesquisa quantitativa com análise de dados registrados por
pessoas que foram transformadas ouvindo a palavra de Deus por intermédio do
louvor.

PALAVRAS- CHAVE: Música, Arte, Religião.

ABSTRAT

The present study deals with the experience of praise in a relationship between the
artistic expression of faith and the religious phenomenon. Through her experiences
as a singer of gospel music, I will present an analysis of the explosion of gospel and
influence in Brazilian society, as well as the evangelical Protestants and the influence
of gospel music in their lives. Brazilian population belongs to a particular religion. It is
in this sense that it manifests itself through spiritual, physical, moral, and ethical
issues, influencing man psychologically and socially. However, man has always
sought something that fills his interior, something that gave meaning to his life and
also spoke his soul, giving answers to his questions, to his existential conflicts,
something that would guide his way. Religion has this path, for it directs man to move

1
Artigo apresentado ao Departamento de Ciências da Religião da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte no Campus Avançado de Natal (UERN/CAN) como requisito parcial para obtenção
do título de Licenciada em Ciências da Religião.
2
Estudante do Curso Ciências da Religião da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte. E mail
<barrosgersonita@hotmail.com>
3
Doutor e Mestre em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF),
professor do Departamento de Ciências da Religião da UERN, CAN.
between the real and the nonreal world, between reason and faith, sadness and joy,
pain and pleasure, the invisible and the visible, from the objective to the subjective,
until he finds his self, finding himself in what he has chosen for himself, in that
relationship that goes against nature and God, from his personal habits to his
relatives, from culture to personal customs and values, from profession to social
services, among others. A quantitative research with analysis of recorded data by
people who have been transformed by listening to the word of God through praise is
essential.

KEY WORDS: Music, Art, Religion.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo discorre sobre a vivência do louvor numa relação entre a


expressão artística da fé e o fenômeno religioso. Dentro deste contexto religioso
destacaremos como a música gospel pode ser influência de uma transformação
espiritual na vida das pessoas que apresentam dificuldades em relacionamentos
familiares, bem como usuários de drogas ou que procuram uma paz interior.
Respondendo a essa problematização, utilizaremos alguns relatos
vivenciados por mim (cantora evangélica) e amparada por alguns teóricos que
discorrem sobre essa temática, tais como: Porto (2005), Schiavo (2004), Gilmar
Mata da Silva (2003), Marconi e Presotto (2009) e Reck (2011), entre outros.
Desta maneira, teremos uma revisão de literaturas sobre a explosão do
gospel evangélico e a força do pentecostalismo até os dias de hoje. Será uma
pesquisa qualitativa, pois, resultou de análise de relatos vivenciados.
Objetivando esta pesquisa, iremos resgatar na história do gospel alguns dos
principais momentos que foram benéficos para sua existência até os dias atuais.
Mais especificamente, quer apresentar uma analise dos efeitos da música
gospel ou evangélica na vida do ser humano.
Justificando o porquê desta pesquisa, ressaltamos que a escolha do tema foi
devido ao trabalho que desenvolvo desde criança, mas, dez anos com CD gravado
com música gospel evangélica, e percebo que as pessoas buscam respostas sobre
os questionamentos da sua vida em relação ao seu emocional através do louvor.
Mediante a isto, em primeiro momento descreverei sobre a explosão do
gospel e a influência na sociedade brasileira.
Em segundo momento, descreverei sobre os protestantes evangélicos e a
influência da música gospel, pois, sabemos que a música tem um papel muito
importante na vida do ser humano, é forte na cultura e no dia a dia das pessoas.
Em se tratando de arte suas manifestações se desenvolvem e se renovam
constantemente e se apresentam em expressões pessoais.
A religião faz com que o indivíduo se encontre com o sagrado que transcenda
com o divino, experimentando o milagre, a cura. E assim a ela marca a sociedade, a
vida, uma etnia, e um indivíduo a procura de um sentido.
Em terceiro momento, apresentarei como relato de experiência os efeitos
causados na vida do ser humano quando ouvem um louvor e se entregam à ele de
corpo e alma, já que, “cantar” causa um efeito muito poderoso nos seres humanos,
diversas reações podem surgir de alguém em ouvir ou cantar uma canção.
Quase todas as religiões usam a música como uma maneira de aproximação
dos fiéis à Deus. Das grandes religiões monoteístas – islamismo, judaísmo,
cristianismo, todas usam o antigo testamento da Bíblia como livro revelado e
trabalham suas práticas musicais litúrgicas para esclarecer diferentes aspectos da
ação mútua humana com a música, contribuindo para o equilíbrio e o
desenvolvimento espiritual.
O cristianismo tem produzido uma pluralidade de sons através de vários
segmentos, como o catolicismo tradicional, como também os movimentos
carismáticos, os pentecostais e neopentecostais/evangélicos.

2 MÚSICA GOSPEL COMO RELIGIÃO

2.1 O QUE É O GOSPEL?

Segundo as analises de leituras realizadas durante o processo de produção


deste referencial teórico, um fenômeno tem marcado as igrejas nas últimas duas
décadas, o movimento gospel, e por isso a forma de culto e liturgia tem sido
modificado, como também a forma de viver o cristianismo.

Muitos estudos referentes à cultura religiosa cristã na América Latina e no


Brasil na contemporaneidade já foram realizados, a partir deles, é inegável
reconhecer que um fenômeno tem marcado as igrejas nas últimas duas
décadas e está relacionado à música e à mídia: o advento e a consolidação
do movimento gospel e a consequente transformação no modo de cultuar e
de viver o cristianismo da parte de um significativo número de igrejas.
(CUNHA 2013, p.203)

Com o advento do movimento gospel e as mudanças acarretadas por ele


aparece juntamente diversas formas culturais se inserindo no modo de vida cristão,
sendo elas: a cultura do mercado e a cultura das mídias.
De acordo com Cunha (2003, p?) “a cultura do mercado é o modo de vida Commented [T1]: Que página?

determinado pelo consumo, sendo assim o consumo determina a formação de


valores e orienta a conduta do ser”.
A cultura das mídias, segundo a autora supracitada é produto da midiatização
da sociedade, que traz consigo uma nova forma de estruturação da sociedade, e ela
se expressa por meio dos sons, imagens, espetáculos que ocupam o tempo de lazer
oferecendo formas de comportamentos sociais e ainda faz parte do mercado,
trabalhando como uma indústria para servir o mercado. Commented [T2]: Foi Cunha quem disse?
Se sim, qual a página? É o mesmo ano ?
Em consequência desses novos elementos culturais, surgem novas
significações religiosas, e por isso causa a presença de distintos grupos cristãos no
mercado e na mídia, o que acarreta uma nova formação de vida religiosa, ou seja,
ocorre a inserção das igrejas e cristãos no mercado e na mídia.
Nas palavras de Cunha, (2007, pag. 204), entendemos que “as igrejas, em
geral, nunca rejeitaram os meios eletrônicos de comunicação social”, pois, viam na
mídia uma forma de convencer o outro ao evangelho, ocorrendo assim o
crescimento do cristianismo.
Além disso, tornava- se possível uma publicidade das igrejas e sua percepção
nos meios sociais. Esse crescimento ocorreu principalmente dentro do mercado
fonográfico motivado pelo movimento gospel.
Com o passar do tempo há uma nova configuração da relação mídia e
religião.
Hoje, a programação é variada e adaptada à dinâmica dos programas
seculares (busca da modernidade), com ênfase no entretenimento. A cura, o
exorcismo e a pregação da salvação em Cristo já não mais predominam nos
espaços evangélicos; cedem espaço ao entretenimento. (Cunha 2007,
pag.205).

Diante da exposição acima nos deparamos inicialmente com os anos de 1990


e os primeiros anos do século XXI quando o enfoque religioso na mídia era
diferenciado.
Os programas religiosos davam ênfase aos cultos, as pregações, as missas,
tendo por objetivo de evangelização para o crescimento do cristianismo. Trazendo
para a atualidade houve uma mudança significativa, pois agora o foco está voltado
para o entretenimento ressaltando a pregação da prosperidade e respostas para
questões como depressão, drogas e crises.
Podemos compreender que o segmento cristão é um mercado em plena
expansão, barganhando o espaço religioso para ganhar dimensões mais amplas.
Com a midiatização disseminando a cultura gospel, o alvo não é mais a igreja, os
laços comunitários, mas uma vivencia religiosa e o consumo de bens, possibilitando
uma aproximação com Deus em forma de entretenimento.
A música por sua vez, como vista anteriormente, ganha grande proporção no
advento do movimento gospel, em vários lugares encontramos pessoas escutando
canções que expressão a sua fé.
Em outras palavras, essas canções são ou podem ser expressões artísticas
de fé, assim, ela também pode ser expressa através de comunidades, instituições,
artes e etc. Com o acúmulo de fé é gerada a tradição, que é um aglomeramento de
expressões de fé.
A tradição pode ser tomada como modelo a ser seguido, e as instituições
colocam-se como aquelas que definem o que é certo e o que é errado, contudo é
perceptível que canções e crentes são possuidores de certa liberdade e relação a
isso.
(...) embora as instituições batistas, reformadas e pentecostais projetem a fé
cristã de modos razoavelmente distintos, tanto crentes quanto canções
possuem um grau de liberdade em relação a esses projetos. (COSTA 2019
pag.40)

Dessa forma a música gospel ganha uma proporção para além das
instituições religiosas, ganhando espaço também social, econômico, político e
cultural.
Nesta retrospectiva dos desenvolvimentos apresentados pelos mais variados
autores, ponderamos nossos conhecimentos que a música gospel ganha uma forte
influência na sociedade e na vida de todos aqueles que buscam respostas e alento
para seu viver.
Cunha relata sobre como o termo gospel originou-se nos Estados Unidos,
sendo utilizado normalmente para identificar a música religiosa moderna ou a Música
Contemporânea Cristã.
Contudo em sua origem diz respeito a um tipo nascido nas comunidades
protestantes negras no início do século XX, e não a toda a música religiosa
contemporaneizada.
O âmago deste gênero musical é encontrado no negro spirituals, estando ele
na base de toda música americana.

Os negros spirituals nascem da experiência da escravidão (séculos XVI e


XVIII), quando os escravos negros dançavam e cantavam fosse nas poucas
horas de descanso ou durante o tempo nas lavouras para marcar a
velocidade do duro trabalho (labor songs). (CUNHA, 2007, p 27)

Os escravos negros convertidos ao cristianismo em tempos de angustias e


dor marcados pelo duro labor, em seu tempo de descanso externavam na música
um novo tempo de esperança com Deus.
Afirmando as palavras de Cunha, Sant'Ana (2013, p. 25) explica que “origem
do gospel associa- se à história da escravidão, consequentemente, ao imaginário
de lutas pela liberdade, construído em torno dessa história. Segundo Sant'Ana
(2013, p. 25):
A música gospel é um gênero musical de origem afro-americana, nascido
nas fazendas de escravos no sul dos Estados Unidos. Em sua forma original
era geralmente interpretada por um solista, acompanhada de um coro e um
pequeno conjunto instrumental. Atualmente nos Estados Unidos e em
outros países, o Gospel está incluído como uma categoria tradicional de
música cristã.

Primeiro se populariza nos Estados unidos e é transplantado para o Brasil no


início dos anos 90. De acordo com Cunha “o gospel é música religiosa moderna ou Commented [T3]: Ano?

Música Cristã Contemporânea (MCC), que une estilos musicais seculares com o
conteúdo religioso”. Ao passar dos anos, a música gospel veio crescendo o
ocupando mais espaço no âmbito musical, considerada atualmente como um
fenômeno religioso.
O termo Gospel ou até mesmo palavras que estão associadas a ele podem vir
acompanhadas pela palavra movimento. Essa palavra é justificada em conformidade
com o surgimento de novas práticas que iniciaram com a profissionalização dos
músicos, cantores e grupos musicais evangélicos, aliados também ao
desenvolvimento da mídia evangélica no Brasil, enfatizando assim a valorização do
louvor e da adoração nos cultos.
Como toda ação tem consequências essa não foi diferente, e em decorrência
a essas práticas aliadas com a mídia agora se tem o privilégio ao lugar da música na
prática das igrejas.
A modernização para os cantos congregacionais, a adoção de vários gêneros
musicais, a apresentação de danças ou expressões corporais nos cultos, o
surgimento dos louvores, os artistas gospel passam a serem conhecidos e entre
outras consequências.
No entanto, pesquisar a música gospel como religião é pesquisar a mesma
coisa que pesquisar religião por religião, ou, outras denominações. O fato de uma
música ser composta por um cantor da Igreja Batista, não obriga ela ser cantada
somente em igrejas Batista. (COSTA, 2019).
O movimento gospel ganha espaço mais amplo no Brasil nos anos de 50 e 60
com o crescimento pentecostal, nessa fase o pentecostalismo rompe com a tradição
da hinologia pentecostal e agora ocorre a popularização dos chamados “corinhos”,
que tinham melodias e letras simples. Logo após surgiram grupos de jovens que
tinham o intuito de evangelização, nesse contexto os grupos que iam se forma ndo
interagem com a música, compõem e passam a gravar sua canções com letras mais
detalhadas para serem cantadas nos cultos.

Os grupos ou conjuntos jovens de organizações paraeclesiásticas


assumiram a missão de compor e apresentar as canções de conteúdo
religioso para serem mensagens inseridas nos momentos de culto. Era a
versão popular e jovem clássico canto coral. (CUNHA, 2007, p. 128, 129)

Ao passar dos anos a música gospel veio crescendo e ocupando mais espaço
no âmbito musical, e chegamos aos anos 90, que é quando ocorre a explosão do
gospel considerada atualmente como um fenômeno religioso.
Essa explosão na verdade foi a junção de todo o processo desde os anos 50,
que culmina com a sua grande ascensão nos anos 90 e até os dias de hoje, porém
em maiores proporções.
O gospel no Brasil foi introduzido através da igreja Renascer em Cristo com
os bispos Estevan e Sônia Hernandes, sendo a marca patenteada por eles.
Podemos compreender que apesar do gospel ter um forte articulador que é o
movimento musical, ele não está restringido apenas a isso, na verdade esse
movimento alcançou a mídia, o mercado e o entretenimento.
O que se faz notório é que o gospel torna-se um movimento cultural religioso
em que gera um modo de ser evangélico, interferindo na prática religiosa e no
comportamento recorrente.

Esse prodígio desde os anos 90 do século XXI, no Brasil, tem despertado


novos cantores capacitados para falar de Deus através do louvor gospel e dos
instrumentos musicais. Nos conceitos de Cunha (2007, p. 45) quando:

Os conjuntos de rock evangélico passam por uma adaptação poético-


musical em que as composições atravessam temas mais
contemporaneizados e associados à juventude, por vezes com diminuição
do conteúdo religioso e maior uso de linguagem coloquial; e as melodias
escolhem gêneros como o heavy metal e o hard rock como matrizes
possíveis.

Para Sant'Ana (2013, p. 46) “a música cristã no Brasil se chama gospel”.


Segundo a autora, a música gospel:

Originou um novo tipo de festa chamada balada gospel, onde são proibidas
as bebidas alcoólicas, drogas e até mesmo cigarros. O objetivo principal é a
evangelização, ou seja, que as pessoas confraternizem e conheçam a
palavra de Deus. Os eventos se espalham pelo País, com um número cada
vez maior de adeptos que reúnem o prazer de uma bela música, com as
informações e conhecimentos religiosos. O cenário gospel está diversificado
com a formação de bandas de evangelismo a bandas de louvor e adoração,
com os mais variados ritmos desde rock até baião. (SANT'ANA, 2013).

Segundo a autora, este estilo de música é para muitos um conceito cultural,


visto que, ela é mais ouvida pelo grande número de evangélicos brasileiros. A
música gospel, no entanto, tende a transmitir a paz interior, muitos consideram que
ao ouvir, ouvem a voz a própria voz de Deus.
Ao compreendermos a influência da música gospel na sociedade brasileira e
a noção de hibridismo cultural buscamos leituras em Hall, segundo ele a noção do
hibridismo cultural “trata-se de um processo de tradução cultural, agonístico uma vez
que nunca se completa, mas que permanece em sua indecidibilidade.” (BHABHA,
1997, p. 69 apud HALL, 2003, p.74) sendo ainda:

É um processo. Através do qual se demanda das culturas uma revisão de


seus próprios sistemas de referência, normas e valores, pelo distanciamento
de suas regras habituais ou "inerentes" de transformação. Ambivalência e
antagonismo acompanham cada ato de tradução cultural, pois o negociar
com a "diferença do outro” revela uma insuficiência radical de nossos
próprios sistemas de significado e significação.
Para Cunha (2007, p. 102) essa “cultura ficou compreendida como o processo
social geral de dar e assimilar sentidos”, ou seja, através deste processo cultural é
desenvolvido por uma determinada transformação no âmbito sociopolítico-cultural
(Cunha, 2007).
Vale ressaltar que a evolução da cultura da música gospel no Brasil, foi
trazida pelos milionários pentecostais. Essas músicas tinham o objetivo de romper
com “a visão conservadora de algumas correntes radicais evangélicas que
pretendiam ironicamente “preservar” uma musicalidade que é por essência fruto das
trocas ocorridas no meio diaspórico multicultural americano” (Santana, 2017, p.32).
Desta maneira, houve a explosão da música gospel. Devido às inúmeras
apresentações realizadas por vários cantores evangélicos em todos os cantos do
mundo, os meios de comunicação ajudaram a divulgação dos shows em toda parte.
As agendas dos cantores passaram a ser preenchida rapidamente e a aculturação
gospel enraizou na sociedade brasileira.
Dentro destes agendamentos, as empresas televisivas começaram a ocupar
um espaço fundamental. Muitos cantores evangélicos já se (re)apresentaram, nos
mais diversos canais televisivos. Essa valorização da música gospel coopera para
que possamos estar acompanhando o crescimento da evangelização.
Cantores como Aline Barros, Ana Paula Valadão, Lázaro, Cassiane, Fernanda
Brum e Regis Daneze, dentre outros, são recordistas de venda de CD’s no Brasil e
possuem suas músicas, vinculadas em todos os meios de comunicação, chegando
até mesmo a protagonizar um programa especial de Fim de Ano na Rede Globo
intitulado de “Festival Promessas”.
Sobre esta abertura para a cultura gospel Anna Virginia Balloussier, colunista
do jornal Folha de São Paulo declara:

A estratégia de aproximação começou há dois anos, após o "Jornal


Nacional" fazer uma série de reportagens sobre trabalho social de igrejas.
Desde então, a rede tem dado destaque em seu noticiário a eventos da
comunidade evangélica. A presença de músicos gospel nos programas de
Xuxa e Faustão cresceu, e há planos para um programa aos sábados
(FOLHA DE SÃO PAULO, 2011).

Essa relação dos cantores se apresentarem em programas televisivos


permitem a sociedade evangélica de classe baixa, onde só a televisão é sua fonte
de distração, estar adorando a Deus através dos louvores.
Neste contexto, a cultura musical gospel brasileira começa a romper
paradigmas preconceituosos e ocupa grande parte das prateleiras das revendas de
CDs e DVDs, pois, a indústria musical e midiática passou a ser vista como uma
“esfera crucial para investimentos” (YÚDICE, 2004, p.30), onde a arte musical
evangélica passa a ser tratada como qualquer outro recurso. Para Yúdice o papel da
cultura no acumulo de capital não é limitado, ela é essencial ao processo da
globalização que “revigorou o conceito de cidadania cultural” (YÚDICE, 2004, p.40).
Nas concepções de Cunha (2007, p. 63), a história da explosão do gospel
invadiu fontes até então, não imagináveis. A autora descreve que “foi Hernandes
quem patenteou o termo gospel no Brasil” e ressalta:

Ainda detendo seus direitos de uso e registrando uma série de produtos


religiosos: a gravadora Gospel Records, a teledifusora Rede Gospel, a
radiodifusora Gospel FM, o festival SOS da Vida Gospel, a Editora Gospel,
o portal da internet gospel, o sistema de atendimento telefônico Gospel
Ligaki, o periódico Gospel. E para além destas mídias, o termo ainda foi
utilizado em empreendimentos como o curso pré-vestibular Gospel e o
cartão de crédito Gospel Card Bradesco (CUNHA, 2007, p. 63).

Outro marco importante na história da do gospel brasileiro foi quando o


ministério da cultura decretou na Lei 8.313/91 a música como mecanismo importante
no processo cultural do cidadão brasileiro. Com isso, os programas governamentais
começaram a beneficiar com valores financeiros e com uma enorme influência e
participação na construção da área de políticas culturais na América Latina, a ênfase
desses autores é na importância da valorização e do intercâmbio de culturas
populares e locais com a produção erudita e midiática (GARCÍA CANCLINI, 1987;
MILLER, YÚDICE, 2002).
Nessa retrospectiva dos desenvolvimentos apresentados pelos mais variados
autores, ponderamos nossos conhecimentos afirmando que a música gospel tem
uma forte influência na sociedade brasileira e que as manifestações religiosas
cooperam com a história dos protestantes evangélicos.

2.2 PROTESTANTES EVANGÉLICOS E A INFLUÊNCIA DA MÚSICA GOSPEL

Após ter enfrentado as inúmeras dificuldades nos anos 90 com a influência da


música gospel, pode-se dizer que o pentecostalismo é o grupo de religiosos que
mais cresce no Brasil. Em toda a sua história, o grupo do pentecostalismo nunca se
apresentou como um grupo homogêneo, sempre exibiu distinções eclesiásticas e
doutrinárias (Mariano, 1999).
Nos dias atuais, esse grupo subdivide-se em várias denominações
pentecostais que diferenciam- se pelos conceitos internos Giumbelli, (2001, p.125).
Segundo o autor:

Um, mais abrangente, caracteriza os graus de ecumenismo das diversas


igrejas, maior entre os protestantes do que entre os pentecostais e, no
interior destes, tanto menor quanto mais nos aproximamos da terceira
geração, em cujos grupos ocorre a demonização de várias expressões
religiosas. O outro eixo é interno aos pentecostais e expressa-se nas
dicotomias entre igreja/agência de serviços e entre comunidade/clientela.
Serve para opor os pentecostais de primeira aos de terceira geração,
formando, assim, uma categoria híbrida, a dos pentecostais de segunda
geração.

A multiplicação dos grupos vem ocorrendo a partir de 1950, sendo


influenciada principalmente pelo grupo das cruzadas nacionais de evangelização
que adentram por todo país.
Quando falamos em dificuldades, falamos também na organização dos
templos religiosos quais eram improvisados com tendas e o anúncio efetuado nas
rádios existentes da época. Essas caraterísticas marcam o grupo da segunda
geração.
A febre do pentecostalismo estava muito forte nessa época. Em 1956 o ex-
pastor assembleiano e depois quadrangular, Manuel de Melo, iniciou uma divisão
nestas duas igrejas. Dessa divisão surgiu a Igreja o Brasil para Cristo.
Esta igreja foi um pouco mais rígida que a quadrangular e um pouco menos
exigente que a Assembleia de Deus e teve um crescimento espantoso chegou a
ordenar, na época, mais de trezentos pastores num só dia. Chegaram a ter o maior
templo protestante no Brasil na cidade de São Paulo, ou seja, chegaram a ter mais
de um milhão de membros.
A última pesquisa realizada antes da morte do presidente, o número
apresentado foi de 197.000. E com isso, o trabalho deixou de ter o crescimento
expressivo que marcou o seu início. Tem perdido muitos membros para as divisões
das assembleias e para os neopentecostais.
A terceira geração é classificada por pós-pentecostais ou neopentecostais. O
pentecostalismo, no entanto:
Surge a partir da década de 1970, classificado como terceira onda por
Freston (1994), neopentecostais por Mariano (1989, 2004), pós-
pentecostais, por Siepierski, a que mais vigora é o conceito de
neopentecostais representado pelo modelo da igreja Universal do Reino de
Deus (PICOLOTTO, 2015, p. 78).

Aronson (2012) discute as diferenças entre pentecostalismo e


neopentecostalismo, expõe que algumas semelhanças são a teologia e aplicação
prática do carisma, especialmente o batismo no espírito santo, a glossolalia, a cura,
a profetização.
Além destas características, o louvor é entendido e recebido também como
um ato profético, onde, através dele, pode ocorrer o batismo no espírito santo e a
cura da alma bem como de doenças.
Com a desenvoltura destes grupos pentecostais podemos destacar a nova
configuração da relação entre “Religião e Mídia”. Segundo Cunha (2007, p.89):

Nos anos de 1990 e nos primeiros anos do século XXI a presença dos
grupos religiosos na mídia possui um perfil diferenciado do que foi
conceituado “Igreja Eletrônica” nas décadas anteriores. Esta mudança
reflete as próprias transformações no contexto sócio-histórico-cultural-
político-econômico.

Sobre suas proposições, podemos dizer que, diante das dificuldades de se


apreender o sentido de Deus em diversas religiões atualmente; podemos salientar a
fundamentação da expressão musical na Igreja, que sempre foi, especialmente a
partir da Idade Média, um caminho para se atingir sensações sublimes, que fariam
ponte para a conexão com Deus. Assim o louvor era o instrumento para afugentar os
males e aproximar o bem:

O louvor tinha o poder de afugentar satanás, conforme dizia Lutero. Para


ele, o louvor deveria ser algo presente na liturgia do culto, e, com a defesa
da doutrina do sacerdócio universal dos crentes, indicou a necessidade de
participação de todos nos cânticos. Por isso Lutero rompeu com a tradição
católica de utilizar somente o canto gregoriano e fez uso de melodias
populares para compor seus hinos, que seriam cantados na Igreja (PORTO,
2005, p. 17).

Com isso, não se poderia dizer que a música desvinculada de uma realidade
vivenciada e praticada trazia uma representação que possibilitasse a reflexão, a
apropriação do que a música (quanto ao seu sentido expresso em melodia) pode
transmitir.
A música sem letra despertava já os mecanismos de encontro às sensações
superiores, ao encontro com a Divindade, mas a ausência de letras que
comunicassem aos fiéis os distanciava da realidade do ouvir (própria da Bíblia),
dentro de uma perspectiva cristã.
Com o tempo, as comunidades que procuravam o sentido da existência na
Palavra, na Igreja, em Deus, passaram a precisar de um ponto em comum com o
seu vetor cultural.
Seria necessária, nessa situação, uma experiência religiosa diferenciada,
calcada em aspectos cotidianos dos membros dessas mesmas comunidades.
É por essa vereda que a divindade realizaria, logo, a experimentação (pela
música) no cerne do interior de cada ser humano. A música envolve não apenas
aspectos religiosos, mas aspectos individuais e culturais.
Com isso, aproximamo-nos do pensamento de Schiavo (2004), segundo o
qual esse recurso de ascensão espiritual:

(...) não é patrimônio exclusivo das igrejas. É fruto da história dos povos e a
eles pertence como um dos elementos mais significativo e importante de
suas culturas; porque ela, antes de ser a estruturação de certa experiência
religiosa é, e representa, o anseio humano de se transcender e de se
encontrar com aquele Ser, no qual a humanidade encontra respostas às
suas perguntas profundas (SCHIAVO, 2004, p. 77).

Dizer que a música serve como ponte para responder às indagações mais
profundas da humanidade choca-se diretamente com questionamentos como: quem
sou eu? De onde vim? Para onde vou? Para que vivo? Porque morremos? Porque
nascemos? Deus existe? Quem é Deus? Quem criou o universo? Qual é a religião
certa?. Proporcionando um enriquecimento para uma construção modelar em função
da conceituação do que é música elencando as suas múltiplas qualidades em
diferentes camadas humanas e sociais, não deixando de mencionar as espirituais.
Eis a importância de se discutir a música frente ao cotidiano, à sociedade e
essa junção entre homem moderno e a produção subjetiva pela musicalidade
religiosa.
Vejamos o pensamento de Reck:

As músicas que o sujeito produz e consome em seu dia-a-dia são


vivenciadas de acordo com sua posição em determinada trama de relações
sociais, e suas preferências e renúncias musicais são influenciadas por
elementos que fazem sentido a partir de seus significados, inseparáveis de
seu contexto. Sob a perspectiva do cotidiano, o processo de análise
pedagógico-musical propõe a superação de modelos metodológico-
instrumentais universais ou de categorias amplas e generalizantes (RECK,
2011, p. 30).

Nessa linha lógica, Silva (2003) também faz uma referência à secularização
com as necessárias interações entre arte e religião, estabelecendo laços próprios de
um universo que reuni contexto (história, cultura, economia) e inquietações pessoais,
cujos anseios não são resolvidos perante a ciência, à filosofia e a outras formas
sistemáticas de pontuação didática conceitualista.
Nos dias atuais, existe uma básica qualificação para os que levantam os sons
da música na Igreja, por exemplo, “os ministérios de música, onde se consideram
portas - vozes de Cristo, não só no sentido de levar uma mensagem de amor e paz
aos homens, mas também de estabelecer o contato entre Deus e o povo” (SILVA,
2003, p. 03).
Quanto à música em consonância com a religião, temos o pesquisador
Ribeiro Porto (2005), cujos estudos expressam as variedades históricas das
representações desse movimento artístico, presente na religião (especialmente no
culto cristão) desde tempos imemoriais.
Ele faz com que realizemos um passeio pelos diversos períodos cronológicos
para notar as relações que se originaram e se desfizeram para se reestruturarem
dentro de uma nova contextualização situacional eclesiástica ou dogmática ou
compositiva, como possível perceber a seguir:

A música tem o seu lugar determinado no culto cristão. Nas Escrituras a


utilização de salmos, hinos e cânticos espirituais é destacada como parte da
celebração ao Senhor. O seu uso ao longo da história da Igreja foi
instrumento de controvérsias. Um exemplo: é a Igreja Romana Medieval
aprisionou as artes de uma forma geral, e com elas, a própria música. A
Igreja Católica, atingindo um extremo, tirou-a ao povo, entregando-a apenas
a alguns clérigos, que deveriam cantar da forma determinada pelo papa
Gregório, com um estilo e idioma estranhos ao povo, e como consequência,
tendo pouca significação para este. A Reforma Protestante representou o
resgate da adoração cantada, que trouxe novamente ao povo a liberdade de
entoar músicas em sua própria língua, e com melodias populares ao
Senhor. A contemporaneidade representa um novo momento no uso
eclesiástico da música. Se antes esta era escrava da Igreja, o outro extremo
é atingido, sendo a Igreja escrava da música, uma vez que esta é
encontrada nas mais variadas formas, concordando ou não com os
princípios estabelecidos bíblica e historicamente. (PORTO, 2005, p. 11-12).
A música, entretanto, não é o próprio culto. Existem alguns pontos que
merecem um segundo olhar para que fiquem postuladas as definições e as
interligações entre ambas.
Para o aprimoramento dessa ideia, temos Marconi e Presotto (2009), que
esclarecem especificamente os pormenores pragmáticos (pela sua simbologia
subjetiva) da música:

(...) manifestação dos sentimentos por um ou vários indivíduos, em qualquer


meio, através da ação. Embora de caráter religioso ou mágico, não é tão
persistente quanto o culto. Consiste em um tipo de atividade padronizada,
em que todos agem mais ou menos do mesmo modo, e que se volta para
um ou vários deuses, para seres espirituais ou forças sobrenaturais, com
uma finalidade qualquer (MARCONI; PRESOTTO, 2009, p. 152).

Portanto, destacamos principalmente a importância de se conhecer a música,


em primeiro plano, como arte, para que, então, seja possível conciliá-la com as
práticas religiosas que permeiam o subjetivo e o individual.
Desta maneira, gerando experiências pessoais capazes de transformar a
vida, as concepções e inclusive operar mudanças drásticas na vida de qualquer
sujeito que realize profundamente a experimentação musical pelo sentido religioso.

3. METODOLOGIA

Esta pesquisa é de caráter qualitativo, por meio de revisão narrativa de


literatura. A revisão de literatura:

É o processo de busca, análise e descrição de um corpo do conhecimento


em busca de resposta a uma pergunta específica. “Literatura” cobre todo o
material relevante que é escrito sobre um tema: livros, artigos de periódicos,
artigos de jornais, registros históricos, relatórios governamentais, teses e
dissertações e outros tipos. (MATTOS, 2015, p.09)

No entanto, nesta pesquisa utilizaremos da revisão de literatura com ênfase


na narrativa. A revisão narrativa de literatura:

Permitir estabelecer relações com produções anteriores, identificando


temáticas recorrentes, apontando novas perspectivas, consolidando uma
área de conhecimento e constituindo-se orientações de práticas
pedagógicas para a definição dos parâmetros de formação de profissionais
para atuarem na área. (ROCHA, 1999, p.13).
Este tipo de literatura segundo o autor é o mais utilizado entre o meio
acadêmico, no entanto, ele permite uma interação com os outros autores e com
outros textos já publicados dando-lhes a liberdade de expressar uma opinião própria
sobre o tema pesquisado através da resposta do problema da pesquisa.
Conforme Noronha e Ferreira (2000), as revisões de literatura são estudos
importantes quando o objetivo é identificar, conhecer e acompanhar o
desenvolvimento da pesquisa em determinada área do conhecimento. Além disso,
esse tipo de pesquisa direciona para o desenvolvimento de novas pesquisas, uma
vez que permite através das leituras a complementação e identificação dos espaços
em brancos deixados pelo escritor.
Portanto, alinhado aos objetivos deste estudo foi necessário à entrevista com
três pessoas da cidade de Natal- RN, quais relataram em seus testemunhos, a
influencia da música gospel evangélica por intermédio de questionários.
Neste questionário, João e Fernanda afirmam ser da Igreja Assembleia de
Deus e Rebeca da Igreja Renovada.
As pesquisas realizadas para a construção do projeto e posteriormente a
conclusão deste artigo científico foram pautadas em leituras de artigos já publicados
e em bibliografias conceituadas e renomeadas sobre a Música Gospel, e não tem
nenhuma intenção de fazer generalizações sobre o gospel, e sim, explorar
significados que as pessoas envolvidas atribuem à música num todo.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os resultados apresentados são decorrência de uma pesquisa de campo.


Durante a estruturação do projeto de pesquisa foi elaboradas questões nas quais
buscamos a aplicação com três pessoas. As pessoas entrevistadas terão suas
identidades preservadas, assim usaremos nomes fictícios.
Dentro delas, João, 30 anos, casado, pai de uma filha, residente em Natal-
RN. João nasceu em uma comunidade chamada Favela do Mosquito onde moraram
até os 10 anos de idade com seus pais.
Ao relatar partes de sua vida triste, ele ressalta que:
Minha mãe sempre foi uma mulher que lutou para criar os filhos, junto com
ela eu e meus irmãos vivíamos nas ruas pedindo esmolas para se alimentar,
não tivemos educação, passamos muitas dificuldades, morávamos em casa
de taipa de madeira e barro.

Em lágrimas, ele relata que todo esse sofrimento era fruto do alcoolismo e do
uso de drogas de seu pai, pois, o que ganhavam nas esmolas ele trocava por
drogas.
Com isso, à família passava dias sem se alimentar. O efeito das drogas e do
álcool fez com que o pai agredisse inúmeras vezes sua mãe e em outras tantas,
levou-a prisão o que levou ao desprezo da própria família.
Diante de todas essas dificuldades passavam os anos e crescia dentro do seu
coração o desejo de uma mudança de vida. Desta maneira, eles saem da favela e
vão morar no Bairro das Quintas, onde João começa a trabalhar em uma carroça
para pegar comida de porcos. Sua mãe passou a se prostituir para conseguir
alimentos.
Aos 12 anos de idade ele entra pra o mundo das drogas fica viciado na
maconha depois vai cheirar cocaína e daí segue para o mundo do crime vira um
assaltante.
Anos após, muda de endereço e vai morar na favela do Japão com seus
irmãos, logo vai morar em Nova Natal na zona norte, segue com sua vida de vícios,
crimes e trafico de drogas onde seu ponto de entrega era próximo a uma igreja
evangélica.
João relata que foi cada dia ficando mais violento e revoltado, mas:

Tinha o pastor que sempre me dava uma palavra de esperança e um dos


meus irmãos tinha se convertido passou a me dar conselhos também. Meu
irmão também gostava muito de ouvir músicas. Até que em uma noite
resolveu assistir um culto evangélico e fiquei do lado de fora ouvindo os
louvores. Tempos depois, sai para cometer um assalto encontrei um casal
numa parada de ônibus e roubei os pertences do casal. Em seguida fugi
para dentro de um matagal passei três noites escondido.

Foi neste momento em que estava escondido que Deus começou a fazer a
transformação na vida de João. Segundo ele:

Ouvi uma voz pra abrir a bolsa roubada. Eu disse para o “compassa” que
estava ficando louco, estava ouvindo vozes, e quando abri a bolsa encontrei
a Bíblia Sagrada. Olhei pra o companheiro e disse que tinha roubado um
crente e quem rouba crente fica amaldiçoado.
Comovido pelo Espirito Santo, ele volta pra sua casa, ainda meio atordoado.
Ao chegar a casa encontra seu irmão ouvindo louvores e a música que ouvia tocou
fortemente seu coração. Intitulada “Há uma saída” na voz da cantora Shirley
Carvalhes, composta por Fabiano Barcelos.

Bem distante eu te vi parado a beira do caminho


Cabisbaixo e sem direção se sentindo tão sozinho
Coração batendo angustiado em seu peito
Você vive maus momentos
É todo o dia a mesma coisa
E você se cansou de tanto sofrimento
Mas eu declaro que chegou a hora e Deus
Vai tirar você desse vento.
(BARCELOS, 2003, n.p)

Ele relata que nesta noite ele acabou adormecendo e a meia noite aparece
uma viatura com mais duas pessoas que estavam com ele. Os policias colocaram
um saco de estopa na cabeça dele. Levaram pra um local para exterminá-lo e não
conseguiram matá-lo porque os revolveres disparava, mas, não saiam às balas.
Um dos marginais, assustado com o que estava acontecendo perguntou se
ele era crente porque o revolver tinha disparado quatro vezes e as balas não saíram.
Ele volta pra casa muito comovido. Quando chega encontra o seu irmão
cantando e ouvindo a mesma música.
É neste momento que Deus através da música trabalha na vida de João. Ele
relata que teve uma visão de um homem de branco e outro homem de chapéu. Os
dois estavam do lado dele. Um dizia que ele tinha promessa e outro dizia que ia
levar ele para o inferno.
Nas palavras de João entendemos que o que Deus fez foi tremendo, pois, “o
homem de branco se aproximou de mim e jogou uma bola de fogo na minha boca e
comecei a falar em línguas estranhas”.
Daquele dia em diante “me senti outra pessoa” diz João feliz e agradecido a
Deus. O que mais lhe motivou a mudar de vida foi à letra da música que o irmão
ouvia e cantava que decerta maneira, tomava conta dos seus pensamentos. Ele
afirma que foi com a letra dessa música que ele ouviu que Deus mudou
completamente a sua forma de viver.
Neste relato de experiência vivenciado por João, é possível entender
juntamente com Cunha (2008) entender que:
As novas formas de experimentação do sagrado nas favelas do Rio de
Janeiro, com foco nas práticas pentecostais de traficantes de drogas que
incluem o gospel. Assim, entendemos que se esses estudos não fazem um
diagnóstico sobre a música gospel, despontam, apesar disso, como ela
pode ser ponto de partida para uma série de outros temas relevantes nos
estudos contemporâneos sobre religião, como sexualidade, violência,
performance e mediação.

É através destes estudos que passamos a entender o desenvolvimento da


música gospel e nesta perspectiva, entendemos que ela é um mecanismo que abre
o caminho para as pessoas ouvirem a mensagem.
Em outras palavras, podemos dizer que a música gospel evangélica
quebranta o coração das pessoas e que começam a determinar posses para si
mesmo, como: eu aceito, eu confio, eu creio, eu quero, entre outas.
Foi através de uma das canções da cantora Gersonita Barros que Fernanda
cooperou com seu relato de vida
A história de Fernanda não foi cheia de conturbações como a de João, em
seu relato traz uma narrativa de conversão ao evangelho, em um momento em que
ela se encontrava triste, com alguns transtornos psicológicos.
Segundo ela sua infância e adolescência foram tranquilas, seus pais são
pessoas humildes mais que a educaram para ser uma pessoa honesta. Vem de uma
família católica, tem quatro irmãos, e a sua cidade onde reside é Pedra Grande no
interior do Estado do Rio grande do norte onde mora até hoje.
Na fase adulta sua vida teve algumas tristezas, como a perda dos seus avôs,
esse fato lhe causou muitos transtornos e dor a ponto de não querer mais viver. Foi
ai que em um dia de muita angústia decidiu ir para uma festa onde teve vontade de
se embriagar.
Com medo do que poderia acontecer foi para casa e entrou em seu quarto e
falou consigo mesma, dizendo que iria à uma igreja evangélica onde estava
acontecendo um congresso, que se Deus existisse e falasse com ela naquele culto
pessoalmente através de uma pessoa que nunca havia lhe visto, ela mudaria sua
forma de viver.
Fernanda vai à igreja e num determinado momento do culto uma cantora por
nome Gersonita Barros, que estava na programação ministrava o louvor com uma
canção que tem por título Tome Posse do compositor Moises Cleyton.

Tome posse da vitória e seja abençoado


Deus mandou e o milagre já foi decretado
Ninguém toma a tua benção, chegou pra você
Levante as mãos e glorifique Deus está contigo
Pise agora na cabeça do inimigo
Seja cheio de unção e de poder.
(CLEYTON, 2008, p.n)

Aquela canção entrou em seu coração, a cantora veio até ela e disse que
Deus estava lhe dando mais uma chance e que naquele dia mudaria sua história, ela
sentiu uma forte emoção e aceitou Jesus através da letra daquela canção e sua vida
foi totalmente mudada, hoje é formada em Serviço Social, presta serviços à
prefeitura da cidade e tem uma vida equilibrada, crer na existência de Deus e tem a
Bíblia como regra de fé para sua vida.
Temos mais um relato de vida da Senhora Rebeca, 28 anos, filha do seu
Francisco e da dona Zélia, natural da Cidade de Açu-RN, passou sua infância no
interior do Estado do Rio grande do Norte na Cidade de Ipanguaçu, morando com os
pais.
Na sua adolescência tornou-se líder de grupos religiosos na igreja católica,
aos 16 anos começou a trabalhar como educadora de jovens e adultos, aos 19 anos
deixou a doutrina católica e passou a frequentar a igreja evangélica onde tomou a
decisão de confessar o nome de Jesus.
Passou o tempo e descobriu que estava acometida de uma enfermidade
incurável, com um câncer e que não poderia engravidar, em meio a essas
impossibilidades e nesse momento de desespero da sua vida conheceu a música
Não ceda do Compositor Ronaldo Malta interpretada pela cantora Rose Nascimento.
A letra da música diz:

Quando tudo enfim parece acabado (sabe o que acontece?)


Logo vem o sentimento de perder
Mas é Deus quem dá a última palavra
Ele ama e sei que vai lhe socorrer
A esperança em Cristo é certa e nunca morre
Deus não vai deixar você ficar sofrendo assim
Ele tem, tem nas mãos a chave da vitória
Não desista meu amigo, pois não é o fim.
Não ceda, agora, confia que a história não terminar assim.
(MALTA, 2006, p)

Segundo Costa (2019) “a canção tem muito a revelar”. Foi aí que ao ouvir
essa canção começou a ter fé, e a viver livre do medo. Iniciou o tratamento e após
onze meses descobriu que estava gravida e curada, a emoção de saber que estava
grávida e curada foi um extasse para sua vida.
Até então meses antes sua vida era de sofrimento e dor, meses depois
descobriu que estava curada e seu filho hoje já tem quatro anos, foi uma alegria
indescritível em saber que onde a medicina não pode ir Deus pode ir.
Nesse caso a letra da música trouxe um impulso para acreditar em sua cura,
em seu milagre, sem precisar de intervenção médica.

CONCLUSÕES

Como vimos, a música gospel tem uma letra e uma melodia estrutural capaz
de influenciar as pessoas de maneira inexplicável. É certo que a capacidade de
sermos tocados pela vontade de Deus através de um louvor é imensa. Como nos
relatos, as mudanças aconteceram, pois, era a vontade de Deus agir naquele
momento, no entanto, muitos podem ouvir simplesmente para adorar a Deus, ou
fazer do louvor uma oração.
Podemos ainda expressar que a música pentecostal tem grande importância
como forma de expressão religiosa e como meio para se conseguir uma mudança
subjetiva e transformação pessoal. É possível, portanto, conseguir alcançar a
possibilidade de experimentações transcendentes, ou uma aproximação maior com
a divindade, o Deus único e poderoso.
A música gospel, no entanto, é considerada um instrumento importante na
transformação pessoal do ser humano em geral, o que torna lamentável é saber que
não estão conseguindo separar as coisas mundanas com o espiritual e acabam
usando o termo gospel em coisas mundanas como: Festa do Semáforo Gospel, ou
mesmo as Festas Juninas Gospel onde o foco é Jesus.

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