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Resumo
Todos desejam ter uma vida boa, sentir que a felicidade realmente permeia o
cotidiano, poder afirmar que, apesar dos revezes apresentados pela vida, o bem estar
predomina. Para que estas sensações passem a figurar o cotidiano das pessoas, no entanto, é
fundamental que a postura seja em atitudes capazes de gerar gratificação. Mas ao contrário do
senso comum, os melhores momentos da vida não são passivos, receptivos ou relaxantes, eles
ocorrem quando o corpo e a mente encontram-se empenhados em realizar algo desafiador. Por
mais difíceis que sejam enquanto executadas, estas raras ocasiões tornam-se depois
referências de como a vida deveria ser e ficarão guardadas na memória por muito tempo. O
estado mental em que estas experiências ocorrem é denominado estado de fluxo ou flow. E
uma via amplamente relatada de alcançar o estado de fluxo é através da execução,
composição ou improvisação musical. Este trabalho visa identificar o alcance do flow na
Orquestra Sinfônica da UCS (OSUCS) durante as atividades de ensaios e concertos públicos
através do emprego de metodologia específica. Através dos dados levantados, foi possível
evidenciar que, por meio da música, os entrevistados percorrem o estado mental de fluxo e em
decorrência disto, usufruem dos benefícios subjacentes em suas vidas profissionais e pessoais.
Introdução
que no momento em que acontecem, as atividades podem não ser especialmente prazerosas,
mas ao lembrar delas posteriormente, as pessoas relatam que foi uma boa experiência e
gostariam que acontecesse novamente.
A resposta encontrada por Csikszentmihalyi a partir dos resultados da pesquisa,
originou o que ele chamou de flow (em português, fluxo ou fluir), utilizando esse termo por
ter sido um termo usado por muitas pessoas para descrever como se sentiam, em sua melhor
forma. Flow é o estado no qual o indivíduo se encontra ao estar tão envolvido em uma
atividade, que todo o resto parece não importar. A experiência, por mais desafiadora que seja,
é tão agradável por si só, que as pessoas a farão pela simples questão de fazê-la
(CSIKSZENTMIHALYI, 1990).
A sensação do alcance do estado de flow é periodicamente relatada durante as
atividades de execução, composição e improvisação musical, como é o caso das performances
de Jazz (HYTÖNEN-NG, 2013). Estudos também mostram o alcance de um estado de
consciência similar por solicitas improvisadores quando estes tocam seus instrumentos
(PARNCUTT; MCPHERSON, 2002). Neste contexto, a música apresenta-se como uma via
capaz de influenciar o bem estar e o estado emocional das pessoas, pois a partir de seus
elementos constituintes, o ritmo, a melodia, o timbre e a harmonia, a mesma é capaz de afetar
todo o organismo humano, de forma física e psicológica. O receptor da música será
influenciado tanto afetiva quanto corporalmente (FERREIRA, 2005).
Em face ao exposto, fica estabelecido o foco deste trabalho, pelo qual se pretende
compreender melhor o alcance do estado de fluxo no ambiente musical, tendo como contexto
de estudo a Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul (OSUCS).
REFERENCIAL TEÓRICO
do dia e companhias impactam nos sentimentos. Não há nenhuma norma que obrigue a
experimentar a vida de uma única maneira. Sob o aspecto das emoções, Seligman (2004)
adiciona que são, em determinada maneira, os elementos mais subjetivos da consciência, elas
podem estar ligadas ao passado, ao presente e ao futuro. As emoções positivas ligadas ao
presente abrangem alegria, êxtase, calma, entusiasmo, animação, prazer e flow – a plenitude, a
experiência de fluir.
Lyubomirsky (2008) realizou um grande estudo que revelou que existem três grandes
fatores que influenciam a felicidade: O primeiro é genético, responsável por 50% da variação
dos nossos níveis de felicidade, ligado aos temperamentos biológicos; 10% são determinados
pelas circunstâncias, níveis de renda, escolaridade, regiões onde vivem; e 40% são atividades
intencionais, determinada pelos pensamentos e comportamentos.
Seligman (2004) expõe que para uma vida boa é necessário usar diariamente as forças
pessoais, concebendo assim felicidade autêntica e gratificação abundante. Neste aspecto,
Csikszentmihalyi (1997) propõe que é possível melhorar a qualidade da própria vida
destinando energia psíquica em atividades que tenham maior possibilidade de produzir fluxo,
condição que denomina de “estado mentalmente positivo”. E uma maneira simples para
melhorar a qualidade de vida é investir em ações próprias, fazendo o que realmente agrada.
1) Metas são claras e o feedback é imediato – O indivíduo deve ter conhecimento preciso
das tarefas que precisa completar, momento a momento e o feedback deve ser
imediato, a cada ação deve-se deixar claro se o desempenho está aproximando a
pessoa de sua meta.
2) Há equilíbrio entre oportunidade de ação e capacidade: as habilidades e os desafios
percebidos são elevados e equivalentes – O indivíduo sabe que é inteiramente capaz de
fazer determinada atividade. As habilidades devem estar plenamente envolvidas em
superar um desafio que está no prelúdio de sua capacidade de controle.
3) Sensação de controle – A pessoa tem a habilidade de controlar o próprio desempenho.
MÉTODO DE PESQUISA
Objetivos do Trabalho
Para Campos (2008) o método é a parte mais importante da pesquisa. Esta importância
se evidencia por garantir a autenticidade do conhecimento descoberto. O método utilizado
neste estudo é o fenomenológico. Este método, segundo Vergara (2010), afirma que algo
somente pode ser concebido a partir da perspectiva das pessoas que estão vivendo e
experimentando. Ainda, segundo a autora, o método possui caráter transcendental e subjetivo,
busca compreender o fenômeno, interpretá-lo, identificar seu significado, fazendo uma
radiografia.
O tipo de pesquisa deste estudo é descritiva, bibliográfica e um estudo de caso.
Segundo Vergara (2010), a pesquisa descritiva apresenta particularidades de determinada
população ou de determinado fenômeno; pode demonstrar correlações entre variáveis e definir
sua natureza; não tem obrigação de explicar os fenômenos que descreve, mas serve de base
para a explicação. A pesquisa bibliográfica, para Marconi e Lakatos (2010), abrange toda a
bibliografia publicada relacionada ao tema do estudo. E o estudo de caso se caracteriza pela
profundidade e detalhamento, e é restrito a uma ou poucas unidades, como pessoa, família,
produto, empresa, órgão público, comunidade e até país (VERGARA, 2010).
De acordo com Creswell (2010) as abordagens podem ser: qualitativa, quantitativa e
mista. A pesquisa qualitativa é a mais adequada para a obtenção dos objetivos propostos pelo
presente estudo, tendo em vista que a experiência de flow possui essência subjetiva. Para
Creswell (2010), na abordagem qualitativa, o pesquisador busca estabelecer o significado de
um fenômeno a partir da ótica dos participantes. No método fenomenológico, segundo
Vergara (2010), os dados são obtidos através da observação, em entrevistas e questionários
não estruturados, nas histórias de vida, em conteúdos de textos, na história de países,
empresas, organizações em geral, ou seja, em tudo que possibilite reflexão sobre processos e
interações.
O instrumento de coleta de dados adotado para atingir os objetivos do presente estudo
foi a entrevista, formulada com base no referencial teórico e em entrevistas já utilizadas para a
identificação do flow. Kamei (2014) julgou mais adequado para descrever esta experiência a
narrativa dos próprios sujeitos, registrando seus depoimentos por meio de entrevistas. Esta
técnica também norteou esse estudo, assim como, a utilização de um gravador de voz digital e
um formulário de dados pessoais, mencionadas pelo autor.
Vergara (2010) define população como um conjunto de elementos que possuem as
particularidades que serão o alvo do estudo. E população amostral ou amostra é uma parte
desta população escolhida através de um critério representativo. Conforme Figura 2 (Estrutura
da Orquestra Sinfônica da UCS) a população desta pesquisa é composta por 36 (trinta e seis)
músicos divididos por naipes. Sendo 23 (vinte e três) músicos no Naipe de Cordas, 08 (oito)
músicos no Naipe de Madeiras, 08 (oito) músicos no Naipe de Metais e 01 (um) músico no
Naipe de Percussão. Além do Diretor Artístico e Maestro Titular, e o Regente Assistente. Os
coordenadores de cada naipe integram da composição de músicos descritas acima.
Com base na transcrição e na leitura sistemática das respostas dos entrevistados, foram
adotadas cinco dimensões principais do flow: 1) motivacional, 2) emocional, 3) cognitiva, 4)
perspectiva e 5) consecutiva (relacionada às consequências), conforme modelo adotado por
Kamei (2014).
Ainda conforme modelo do autor, a Figura 3 e tabelas subjacentes retratam as
dimensões subdivididas em categorias e subcategorias observadas para cada dimensão do
flow. Os números entre parênteses apresentam a quantidade de citações os quais visam
comprovar a importância de cada tópico.
Algumas categorias e subcategorias foram modificas ou criadas, tendo em vista que a
pesquisa utilizada por Kamei (2014) foi dirigida a dança de salão. Para determinar as citações
representativas, o número de citações foi divido pela quantidade total de subcategorias. Foram
obtidas 622 citações e 46 subcategorias, resultando em 13,5 citações em média por
subcategoria. Considerando a relevância de cada subcategoria e o número de citações, o
estudo apresentará como citação representativa subcategorias com médias a partir de 8,0.
Na dimensão motivacional as respostas foram subdivididas em duas categorias de
maior relevância, motivação intrínseca (34) e motivação extrínseca (10). Na motivação
intrínseca destaca-se duas subcategorias, satisfação (24) onde os entrevistados relatam
sentimentos como: gostar, paixão, amor e sonhos e um sentimento descrito por eles como
“proporcionar bem-estar ao próximo”, sintetizando a satisfação no momento que estão
tocando. Já nas emoções positivas (10) foram verificados sentimentos como: motivação,
prazer, realização e valorização, conforme citam os entrevistados: “O que me motiva é sem
dúvida a paixão” (A), “É uma profissão que me permite ter um contato direto com o público e
ver o resultado, fazendo bem ao próximo” (B), e “A música é hoje o que me realiza” (C).
Na motivação extrínseca observa-se a maior parte dos depoimentos relacionados a
fatores sociais (10) e diretamente ligados a profissão, com citações tais como: “escolha como
profissão” (A), “opção profissional” (B), “ganha pão” (C), e “amor a profissão” (D).
Para Kamei (2014) as atividades que levam a experiências ótimas são intrinsecamente
compensadoras e estão relacionadas às emoções experimentadas no processo e não na
atividade concluída. E ainda, que as recompensas extrínsecas sozinhas não são suficientes
para explicar o fenômeno do estado de fluxo. Nenhum músico da OSUCS relatou apenas
motivações extrínsecas, contudo todos mencionaram motivações intrínsecas e em quantidade
muito superior as extrínsecas, confirmando o exposto pelo autor.
Na dimensão emocional, através da categoria mais representativa, emoções (47), todos
os músicos mencionaram emoções positivas (36). Apenas uma minoria mencionou emoções
negativas (08) durante a música, no entanto todas elas relacionadas à necessidade de
assertividade durante a apresentação, são elas: preocupação, nervosismo e uma apreensão
sobre ter estudado suficiente.
confortável, eu gosto” (B), e “Adrenalina, prazer, tocar em público é como pular de bungee
jump” (C).
Ferreira (2005) conclui que a música, através de seus elementos constituintes, é capaz
de afetar todo o organismo humano, de forma física e psicológica. A maior parte das citações
na dimensão emocional foram de alta excitação, especialmente no momento em que os
músicos estão apresentando um conserto ou recital. Algumas citações como “a mão sua” (A) e
“quando subo no palco sentindo dor de cabeça ou dor de dente, isso acaba sumindo” (B)
exemplificam exatamente o exposto pelo autor.
Para Csikszentmihalyi (1992), os seres humanos se sentem melhor no fluxo, quando
estão plenamente envolvidos em lidar com um desafio, descobrir algo novo ou resolver um
problema. Nesse aspecto, é possível entender que as emoções negativas, neste contexto, são
como um impulso para estimular a ocorrência do fluxo.
Na dimensão cognitiva, as categorias relevantes estão divididas em pensamentos,
atenção e concentração. Na categoria pensamentos (30), observa-se o foco no presente, mais
precisamente nos elementos da música (30). Essa foi a subcategoria com maior número de
citações. Alguns relatos dos entrevistados são: “Não penso em nada fora da música” (A),
“Muito bem concentrado, se eu pensar em outras coisas vou me perder” (B).
Na categoria atenção (23) constatou-se que os músicos encontram-se atentos durante a
execução musical. Duas subcategorias mostraram-se relevantes: foco nos elementos da
música (08), através de citações como: “afinação” (A), “compasso” (B), “partitura” (C),
“sonoridade” (D); e foco nos colegas e no maestro (15), bem exemplificada através da
citação: “presto atenção na afinação, sonoridade e no ritmo do maestro e demais colegas” (A).
Quando ocorre numa experiência de flow, para Kamei (2014), a atenção precisa estar
focada no presente, todos os pensamentos sobre o passado e o futuro desaparecem, pois não
existe mais espaço na consciência. No flow o indivíduo esquece todos os fatos ou problemas
da vida e cria uma espécie de fuga que o leva a maiores níveis de complexidade, elevando
assim gradativamente seus níveis de desafios e habilidades. Os músicos da OSUCS
comprovam na categoria pensamentos, foco no presente na sua totalidade e, no quesito
atenção, demonstram estar focados nos elementos da música como um todo.
Outra categoria da dimensão cognitiva é a concentração (20). Essa categoria foi
responsável por verificar o nível de concentração dos músicos enquanto estão tocando. Ficou
claro que para a música soar com “perfeição”, segundo os próprios músicos, todos precisam
estar altamente concentrados (20). Essa subcategoria foi a mais relevante. Nas palavras dos
entrevistados: “Eu fico bastante concentrado” (A), “Quando você tem prazer, você fica
concentrado e curte cada momento” (B).
Csikszentmihalyi (1999) afirma que quando alguém gosta do que faz e está inspirado e
motivado a fazê-lo, focar a mente se torna mais fácil mesmo quando existem grandes
dificuldades. Além disso, a alta concentração em metas límpidas e compatíveis torna mais
provável a experiência de fluxo. Para o autor, controlar a atenção significa controlar a
experiência.
A dimensão perceptiva é a mais ampla. Ela agrupa grande parte das categorias da
pesquisa e em especial a relação entre habilidades e desafios tão importantes na teoria da
experiência ótima. Segundo Csikszentimihalyi (1990) o flow ocorre quando os desafios são
equivalentes as habilidades.
Analisando a categoria desafios (20), foram identificadas duas subcategorias
relevantes e que receberam igual peso de citações, a dificuldade do instrumento e técnica (10)
e a dificuldade de tocar em grupo (10).
Os músicos da OSUCS relataram as dificuldades com alguns instrumentos que
possuem particularidades mais complexas do que outros. As dificuldades técnicas estão
relacionadas com músicas que exigem dos entrevistados uma performance de alto
nos ensaios e que na maioria das vezes ocorre quando colegas erram e é necessário repassar
várias vezes.
Mas nenhum músico mencionou que sente tédio quando precisa repassar várias vezes
até alcançar o nível desejado, muito pelo contrário, observou-se um sentimento de obstinação.
Outra questão que chamou a atenção é que nem mesmo uma música considerada fácil faz com
que tocar fique entediante.
Na categoria controle (12), a maioria das citações revelou que os músicos se sentem no
controle de si mesmos (12). Esta foi a subcategoria mais representativa da categoria e releva a
percepção dos músicos sobre seu corpo e instrumento, porém não da orquestra como um todo,
uma vez que o desempenho de um, depende e é influenciado pelo desempenho dos demais,
conforme relatam os entrevistados: “Só consigo transmitir se tenho o controle” (A), “O
sentimento de controle precisa ter o tempo inteiro. Tenho que estar no controle, o meu
treinamento foi feito e preparado para que independente na situação goste ou não, eu esteja
com o controle absoluto da ação” (B).
Para Kamei (2014), se as habilidades e os desafios estiverem em níveis iguais, a
probabilidade de que a pessoa experimente uma sensação de controle é muito alta. Portanto,
entende-se que a sensação de controle existe entre os músicos da OSUCS e corrobora a
proporcionalidade nos níveis de desafios e habilidades, já mencionada em outra categoria
desta mesma dimensão.
Na categoria feedback (32), questionou-se os músicos sobre quando e como ele ocorre
em suas performances. Neste quesito, não houve dúvidas, todos os entrevistados relataram
que identificam imediatamente através da sonoridade, ou seja, o feedback é instantâneo (32):
“É muito nítido, quando a gente não está fazendo uma coisa bem feita” (A), “Na hora a gente
sabe quando erra, quando toca mal e quando toca bem, quando está desafinado” (B).
Csikszentmihalyi (1999) diz que uma das características da atividade de fluxo é que
ela oferece um feedback imediato. Cada ação demonstra se o desempenho está aproximando o
indivíduo da sua meta. O mesmo autor exemplifica que a cada compasso é possível escutar se
as notas que o músico tocou correspondem à partitura.
Na categoria tempo (36), todos os músicos citaram que o tempo passa rápido (36)
especialmente quando a música está agradável. E essa é uma das características do flow mais
frequentemente mencionada, segundo Kamei (2014), o que é corroborado pelas palavras do
entrevistado A: “Às vezes não sinto, o tempo desaparece. Perco a noção completamente”, e do
entrevistado B:
Eu não sinto passar o tempo, por exemplo, domingo eu estava estudando e
eram seis da tarde. Eu moro em apartamento, em que barulho é permitido até
10:00 da noite. Eu não costumo estudar até esse horário, estudo até
aproximadamente 20:30. Mas eu estava tão imerso no que eu estava fazendo
que eu não vi o tempo passar. Então meu colega de apartamento chegou e
perguntou: cara você sabe que horas são? Não, não faço a menor ideia, deve
ser 19 ou 20 horas. E ele respondeu: não, cara, são 23:30.
orquestra você aprende o trato com as outras pessoas, o convívio faz você superar muitas
coisas e se tornar uma pessoa melhor” (A), “Eu me identifico com o mundo através da
música” (B), “Me sinto uma pessoa mais madura para o mundo e para a vida, vejo tudo com
outros olhos” (C).
A partir da compilação dos dados do formulário da escala de atitudes, para a análise
dos resultados do nível de flow, foram determinados os seguintes grupos:
Tabela 1 – Por naipe, Tabela 2 – Por tempo que toca o instrumento, Tabela 3 – Por
idade, Tabela 4 – Por antes e depois da música.
Tabela 1: Nível dos músicos – por naipe – em uma escala de 1 a 10 das oito características do
Flow
Número de
músicos Naipes Escala mínima Escala máxima Média da escala
09 músicos Cordas 7,00 9,13 8,13
06 músicos Madeiras 7,88 9,75 8,80
03 músicos Metais 7,75 9,13 8,59
Tabela 2: Nível dos músicos – por tempo que toca o instrumento – em uma escala de 1 a 10
das oito características do Flow
Número de Tempo que toca o
músicos instrumento Escala mínima Escala máxima Média da escala
04 músicos 05 a 10 anos 8,13 9,13 8,66
06 músicos 11 a 20 anos 7,75 9,13 8,63
05 músicos 21 a 30 anos 7,00 9,75 8,18
02 músicos Acima de 30 anos 7,50 7,88 7,69
Tabela 3: Nível dos músicos – por idade – em uma escala de 1 a 10 das oito características do
Flow
Número de
músicos Idade Escala mínima Escala máxima Média da escala
04 músicos 20 a 29 anos 7,88 9,13 8,41
08 músicos 30 a 39 anos 8,5 9,75 8,94
05 músicos 40 a 49 anos 7,00 9 7,73
01 músico Acima de 50 anos - - 7,88
Observou-se que a faixa etária dos músicos da OSUCS é ampla: o músico mais jovem
possui 20 anos e o mais velho possui 50 anos. Essa característica propiciou a observação
sobre a relação entre idade e alcance do estado de flow.
Os músicos com até 39 anos alcançam um nível de experiência ótima
aproximadamente 0,90 pontos acima do que os músicos com idade superior de 40 anos. A
diferença apresenta um resultado relevante, porém não evidencia nenhuma tendência de
quanto maior a idade, menor a possibilidade de alcance da experiência ótima.
Segundo Csikszentimihalyi (1999) a escolha que leva ou não a experiências de flow
não é determinada pela condição humana comum, pelo nível social e cultural, tão pouco
aleatoriamente. Para o autor isso dependerá da iniciativa pessoal e da escolha de cada um.
Ainda segundo o autor “Viver significa experimentar – por meio de atos, sentimentos,
pensamentos” (Csikszentimihalyi, p. 17, 1999).
Contudo, avalia-se que os resultados encontrados nas entrevistas dos músicos da
OSUCS relevam características desse grupo e que não estão pré-determinadas na teoria do
estado de flow, que relaciona a mesma a uma pré-disposição atrelada ao comportamento.
Tabela 4: Nível dos músicos – antes e depois de começar a tocar – em uma escala de 1 a 10
das duas consequências do Flow
Número de Antes e depois
músicos da música Escala mínima Escala máxima Média da escala
Antes = quando
ainda não tocava 3,50 8,50 6,06
18 músicos Depois = depois
de começar a
tocar 7,50 10,00 9,00
Nessa tabela o objetivo foi identificar a percepção dos músicos da OSUCS sobre as
consequências da experiência ótima nas suas vidas e também fazer uma relação entre o
“antes” – quando a música não fazia parte da sua vida e “depois” – hoje.
Verificou se uma diferença de 4,0 pontos, considerada extremamente significativa
entre as escalas mínima e máxima do “antes”, evidenciando percepções muito distintas como
ponto de partida da percepção do fortalecimento da autoestima e crescimento pessoal. A
diferença de 2,50 pontos entre as escalas mínima e máxima do “depois” também é relevante,
mas não comparada à anterior, aproximando o momento atual das consequências do alcance
do estado de flow entre os músicos.
Analisando a diferença média das escalas, de aproximadamente 3,0 pontos, fica
evidente a percepção dos músicos quando ao fortalecimento da autoestima e crescimento
pessoal. Esse resultado deixa claro que a experiência ótima proporciona a evolução do
indivíduo. “O que torna o flow um instrumento ainda mais significativo, é o seu potencial para
melhorar a qualidade de vida a longo prazo” (CSIKSZENTIMIHALYI, 2004 apud KAMEI,
2014, p.109).
Considerações Finais
O tema estudado neste artigo apresenta um estado mental capaz de mudar a percepção
do homem à cerca da felicidade, a razão de viver, o estar no aqui e agora e a sensação de levar
uma vida boa. Por este motivo trata-se de um tema importante e contemporâneo, dado o
descompasso causado pela vida cada vez mais acelerada que as pessoas vêem-se obrigadas a
levar. A causa do descontentamento com a vida pode não estar atribuída ao exercício de uma
ou outra carreira profissional, tão pouco ao fato de o indivíduo não possuir hobbies, mas à sua
incapacidade de, nestas atividades, encontrar o estado mental que realmente propicie o
surgimento dos sentimentos que resultem em gratificação, bem estar e consciência plena.
Do mesmo modo, poder investigar os relatos dos entrevistados à luz de rigorosa
metodologia científica, bem como, desvendar e compartilhar dos sentimentos que se fizeram
presentes em todas as entrevistas foi uma experiência marcante e inspiradora para os
pesquisadores. O ambiente de estudo, completamente diverso às formações dos autores,
instigou os mesmos a buscarem uma compreensão mais ampla do significado do trabalho,
àquele que está mais relacionado à paixão em detrimento da remuneração. Esta diversidade de
formações, ao mesmo tempo, permitiu o enriquecimento deste trabalho através dos pontos de
vista díspares.
Diante dos dados encontrados sob a ótica de cinco diferentes dimensões de requisitos
para o alcance do flow, é incontestável o fato dos músicos da OSUCS experiencializarem o
estado de fluxo durante os ensaios e concertos públicos da Orquestra. Por meio dos dados
qualitativos das entrevistas, a constatação pode seguramente ser expandida ainda para âmbito
dos ensaios individuais, visto que as características e condições necessárias para o alcance do
estado metal permeiam os relatos na vida privada dos músicos.
Aponta-se que igualmente significativo ao encontro do flow pelos entrevistados são os
reflexos que esse hábito tem em suas vidas. Sentimentos de gratidão, aprovação, superação,
sentir-se um ser humano melhor e ver uma sociedade melhor, perceber-se intelectualmente
mais rico, mais maduro, mais persistente, mais produtivo, com maior capacidade de
concentração, permearam todas as entrevistas. E em vista dos benefícios que a atividade
musical proporcionou aos entrevistados, conclui-se que a mesma é uma via factível para o
alcance do flow, do bem estar e da felicidade.
Referências Bibliográficas
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University of Chicago Press, 1994.
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Campinas: Alínea, 2008.
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CSIKSZENTMIHALYI, M. A psicologia da felicidade. São Paulo: Saraiva, 1992.
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<https://www.ted.com/talks/mihaly_csikszentmihalyi_on_flow?language=en#t-857421>.
Acessado em: 17 jul. 2016.
DE MANZANO Örjan; THEORELL, T.; HARMAT, L.; ULLÉN, F. The psychophysiology of
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DESENVOLVIMENTO CULTURAL, S. de. Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias
do Sul: Programação 2016. Caxias do Sul: EDUCS, 2016.