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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2019.0000723614

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1053683-43.2018.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante
EDUARDO CARNEIRO DA LUZ (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado ESTADO
DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em 8ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de


São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento parcial, nos termos que
constarão do acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ANTONIO


CELSO FARIA (Presidente sem voto), LEONEL COSTA E BANDEIRA LINS.

São Paulo, 4 de setembro de 2019.

PERCIVAL NOGUEIRA
RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 32.632
Apelação Cível nº 1053683-43.2018.8.26.0053
Comarca: São Paulo / Foro da Fazenda Pública Acidentes do
Trabalho
Apelante: EDUARDO CARNEIRO DA LUZ
Apelada: ESTADO DE SÃO PAULO
JUIZ: Kenichi Koyama

AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO


ADMINISTRATIVO CUMULADA COM
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS Concurso
Público da Polícia Militar do Estado de São Paulo para o
cargo de soldado 2ª classe Candidato reprovado na fase
de investigação social em razão de ter respondido a
inquérito policial por uso de entorpecente e ter primo
usuário de drogas ilícitas Boa-fé do autor ao responder ao
formulário de avaliação de conduta social de reputação e
idoneidade Transação penal em relação ao inquérito
policial por uso de entorpecente Transação penal não gera
efeitos a não ser as estipuladas por modo consensual no
respectivo instrumento de acordo Impossibilidade de
exclusão do candidato do concurso em razão de fatos
praticados por terceiros, ainda que familiares
Inobservância aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade do ato administrativo no caso específico
Anulação do ato de exclusão Danos morais
Inocorrência Invertidos os ônus sucumbenciais
anteriormente fixados Sentença reformada Recurso
parcialmente provido, para determinar a reintegração do
autor ao quadro de candidatos, para que este passe para
próxima fase do concurso.

Trata-se de recurso de apelação tempestivamente


interposto, às fls. 281/285 por Eduardo Carneiro da Luz, contra a r.
sentença de fls. 274/278, cujo relatório se adota, que julgou
improcedente a ação declaratória de nulidade de ato administrativo
cumulada com obrigação de fazer ajuizada em face do Estado de São
Paulo. Em face da sucumbência, condenou o autor a pagar as custas e

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despesas processuais e honorários advocatícios que, com arrimo no


artigo 85, §3º, em seu percentual mínimo, cumulado com §4º do
CPC/15, sobre o valor da causa, ressalvada a justiça gratuita a ele
concedida.

Em apelação o autor explicita ter prestado concurso público


para o cargo de Soldado PM de 2ª. Classe, ocasião em que foi
reprovado na fase de investigação social. Esclarece que informou em
seu formulário de Investigação Social, fls.63, item 41 dos autos, que
experimentou maconha e foi com essa declaração que a requerida
fundamentou sua reprovação.

Menciona ter deixado evidenciado que nos dias de hoje não


faz uso de substancias ilícitas e nem possui parentes que utilizam, bem
como não tem amigos usuários, possui apenas termo circunstanciado
relatado em formulário IS item 63 fls.28ª e 28B. Ressalta que por meio
de transação penal o Termo Circunstanciado já foi plenamente satisfeito
perante o Estado e à sociedade, de forma que não há que se falar em
punibilidade por meio de sua reprovação no certame, pois seria incorrer
no principio do “no bis in idem”. Por fim, argumenta que realizou um
teste toxicológico, no qual foi aprovado.

Recurso tempestivo, recebido em seus regulares efeitos (art.


1.012, caput, do CPC). Apresentadas contrarrazões (fls. 289/295). O
autor, ora apelante, se opôs expressamente ao Julgamento Virtual (fls.
299).

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É o relatório.

Trata-se de ação de declaratória de nulidade de ato


administrativo cumulada com obrigação de fazer, na qual o autor alega
que sua reprovação na fase de investigação social no concurso para o
cargo de Soldado da Polícia Militar - 2ª classe, não foi devidamente
motivado.

No caso em comento consta das informações prestadas


pela Polícia Militar do Estado de São Paulo que o autor foi eliminado
no concurso para ingresso na Polícia Militar na fase de “Avaliação da
Conduta Social, da Reputação e da Idoneidade”, pois a pesquisa social
revelou que o interessado respondeu inquérito policial por porte e uso
de substâncias entorpecentes (drogas ilícitas) por ter sido flagrado
durante abordagem policial realizada por policiais militares na cidade
do Rio de Janeiro, portando tóxico. A pesquisa revelou ainda que o
primo do interessado, igualmente a ele é usuário de drogas ilícitas, fato
que agrava ainda mais a sua conduta reprovável, pois além de usuário
de entorpecentes possui ambiência criminosa, ou seja, é conivente com
a conduta ilícita praticada por seu familiar (fls. 99/144).

Não há dúvidas de estar previsto no Edital de Concurso


Público em comento Edital convocatório, em seu Capítulo II Dos
Requisitos para Ingresso, no item 4 e 4.9, estipula que:
“4. São condições para posse no cargo:
(...)
4.9. ter boa conduta social, reputação e idoneidade ilibadas;”

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O autor não escondeu nenhum dos fatos alegados para sua


reprovação, pelo contrário, apontou-os ao responder ao formulário de
avaliação de conduta social de reputação e idoneidade (fls. 145/175).

Em relação ao inquérito policial por porte e uso de


substância entorpecente, que ocorreu anos antes da investigação social
em questão, restou demostrado ter sido homologada a transação penal
na modalidade pena de multa, no valor de R$ 400,00 (quatrocentos
reais) (fls. 258).

Carreada aos autos, às fls. 251, a certidão negativa de


antecedentes criminais do autor. Importa ainda salientar a juntada de
exame toxicológico negativo (fls. 261).

Já decidiu o C. Supremo Tribunal Federal que, na transação


penal, a “sentença tem natureza meramente homologatória, sem qualquer juízo
sobre a responsabilidade criminal do aceitante. As consequências geradas pela
transação penal são essencialmente aquelas estipuladas por modo consensual no
respectivo instrumento de acordo” (RE nº 795.567, j. 28.05.2015).

No que tange à alegação de que seu primo é usuário de


entorpecentes, o apelante afirma ter informado no formulário de
avaliação de conduta social de reputação e idoneidade sobre um primo
que foi preso e que não faz mais uso de entorpecentes e leva uma vida
regrada. Ademais, a fase de investigação social é destinada a averiguar a
vida pregressa e atual do candidato e não de seus familiares ou amigos,

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sendo certo que a eventual inidoneidade destes não pode acarretar a


exclusão do apelante do certame.

Não restam dúvidas de que o autor pode ter experimentado


constrangimentos e ansiedade em razão de sua exclusão do certame. No
entanto, não chegam tais circunstâncias a caracterizar a dor moral grave
que justifique uma condenação pecuniária com caráter indenizatório.

A respeito, cabe a invocação do ensinamento doutrinário


do Prof. ANTONIO CHAVES que, em sua obra “Tratado de Direito
Civil”, pontifica:

“propugnar pela ampla ressarcibilidade do dano moral não implica


no reconhecimento de todo e qualquer melindre, toda suscetibilidade acerbada,
toda exaltação do amor próprio, pretensamente ferido, a mais suave sombra, o
mais ligeiro roçar de asas de uma borboleta, mimos, escrúpulos, delicadezas
excessivas, ilusões insignificantes desfeitas, possibilitem sejam extraídas da caixa
de Pandora do Direito, centenas de milhares de cruzeiros” (op. cit., 3ª ed. RT, SP,
1.985, vol. III, pág. 637; grifos nossos).

Do mesmo sentir, é o do ensinamento doutrinário do


Desembargador JOSÉ OSÓRIO DE AZEVEDO JÚNIOR que, em sua
obra “Dano Moral e sua Avaliação”, publicada na Revista dos
Advogados nº 49, dez. de 96, AASP, pág.11, afirma:
“Convém lembrar que não é qualquer dano moral que é indenizável.
Os aborrecimentos, percalços, pequenas ofensas, não geram o dever de indenizar.
O nobre instituto não tem por objetivo amparar as suscetibilidades exageradas e
prestigiar os chatos” (grifos nossos).

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E dele não discrepa outro ilustre doutrinador, SÉRGIO


CAVALIERI FILHO, que ensina, em “Programa de Responsabilidade
Civil” (ed. Malheiros, 2.004, pág. 98):
“só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou
humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento
psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu
bem-estar. Mero dissabor, aborrecimentos, mágoa, irritação ou sensibilidade
exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte
da normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até
no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de
romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender,
acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de
indenizações pelos mais triviais aborrecimentos” (grifos nossos).

Dessa forma, diante da ausência de razoabilidade e


proporcionalidade em excluir o autor do certame, é de rigor se reformar
a r. sentença, para decretar a parcial procedência da ação, determinando
a reintegração do autor ao quadro de candidatos, para que ele passe para
a próxima fase do Concurso.

Invertidos os ônus sucumbenciais anteriormente fixados.

Pelo exposto, meu voto é por se dar parcial provimento


ao recurso, para reformar a sentença e julgar parcialmente
procedente a demanda, determinando a reintegração do autor ao

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quadro de candidatos, para que ele passe para a próxima fase do


Concurso.

JOSÉ PERCIVAL ALBANO NOGUEIRA JÚNIOR


Relator
(assinatura eletrônica)

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