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COMPORTAMENTO DOS MÚSCULOS CERVICAIS EM


INDIVÍDUOS COM FALA ESOFÁGICA E LARINGE ARTIFICIAL

Behavior of cervical muscles in individuals


with esophageal speech and artificial larynx
Cristina Bellini dos Santos (1), Paulo Henrique Ferreira Caria (2),
Darcy de Oliveira Tosello (3), Fausto Bérzin (4)

RESUMO

Objetivo: avaliar através da eletromiografia de superfície o comportamento dos músculos esterno-


cleidomastóideo e paraespinhais cervicais bilateralmente em pacientes que se comunicam por meio
da fala esofágica e laringe artificial, para determinar se o tipo de voz utilizada altera o comportamento
dos músculos cervicais. Métodos: foram avaliados dez voluntários (duas mulheres e oito homens),
idade média de 49,7 anos, com laringectomia total, tempo de pós-operatório médio de 2,6 anos, com
limitação dos movimentos do pescoço, divididos em dois grupos: grupo 1: cinco voluntários (laringe
artificial); grupo 2: cinco voluntários (voz esofágica); grupo 3 controle (sete voluntários). Resultados:
na fonação não houve alteração no padrão de ativação muscular dos indivíduos que utilizam a voz
esofágica e a laringe artificial, com relação ao grupo controle. No entanto, na condição de repouso
houve diferença significativa, comparando-se os valores médios de Root Mean Square dos grupos 1
e 2 com o grupo 3, para o músculo esternocleidomastóideo direito e para os músculos paraespinhais
cervicais direito. Conclusão: o tipo de opção vocal não interferiu no padrão de ativação muscular
durante a fonação, bem como não existiu diferença no padrão de ativação muscular na fonação dos
voluntários quando comparados a indivíduos sem intercorrências no aparelho fonador.

DESCRITORES: Eletromiografia; Laringectomia; Voz Esofágica; Laringe Artificial

n INTRODUÇÃO o gênero masculino, entre 50 a 70 anos, tendo o


tabagismo e o alcoolismo como o principal fator de
O câncer é uma das doenças mais graves risco 1.
que acometem a laringe, atingindo principalmente Dependendo do estágio clínico, da localização
e da extensão do tumor, o tratamento pode resul-
(1)
Fisioterapeuta; Mestranda do Programa de Pós-graduação tar sequelas que comprometem a qualidade de
em Biologia Buco-Dental na área de Anatomia da Facul- vida do paciente de maneira temporária ou perma-
dade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Esta- nente 2,3. Em estágios iniciais o tratamento pode ser
dual de Campinas, UNICAMP, Campinas, SP, Brasil.
(2)
Cirurgião-Dentista; Professor do Departamento de Morfo-
realizado através da radioterapia e da quimiotera-
logia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Uni- pia, com a finalidade de preservar a laringe 4. Nos
versidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Campinas, casos mais avançados pode existir a necessidade
SP, Brasil; Doutor em Biologia Patologia Buco-Dental pela do tratamento cirúrgico (laringectomia parcial, onde
Universidade Estadual de Campinas.
(3)
Cirurgia-Dentista; Professora Livre-docente do Departa-
apenas parte da laringe é removida ou total, que
mento de Morfologia da Faculdade de Odontologia de Pira- consiste na retirada total da laringe) combinados ou
cicaba da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, não com radioterapia e quimioterapia 5,6. Na grande
Campinas, SP, Brasil; Doutora em Biologia Patologia Buco- maioria das cirurgias ocorre a remoção dos linfono-
Dental pela Universidade Estadual de Campinas.
(4)
Cirurgião-Dentista; Professor Titular do Departamento de
dos cervicais a fim de evitar metástases e garantir
Morfologia da Faculdade de Odontologia de Piracicaba melhor prognóstico ao pacientes 7,8.
da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Cam- A laringectomia total provoca significativas modi-
pinas, SP, Brasil; Doutor em Ciências pela Faculdade de
Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de
ficações no paciente, em especial na respiração e
Campinas. na fonação. As alterações podem envolver altera-
Conflito de interesses: inexistente ções físicas, comprometendo em maior ou menor

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grau a imagem corporal e funções vitais como a anos, que se comunicavam através da laringe
respiração, deglutição e a mobilidade do pescoço eletrônica.
podendo resultar em dor, alterações posturais Grupo 2: cinco voluntários do sexo masculino,
e dificuldades em desempenhar tarefas do coti- com média de 61,4 anos e tempo de pós-operatório
diano 9-11. Dentre essas sequelas a perda na capa- médio de 2,34 anos, que se comunicavam através
cidade de comunicação pode comprometer a quali- da voz esofágica.
dade de vida dos pacientes e requer um trabalho de Grupo 3: sete voluntários, sendo dois do sexo
reabilitação vocal bastante intenso 12,13. feminino e cinco do sexo masculino, com média de
Existem várias formas de comunicação que 59 anos de idade, que não sofreram intercorrências
podem ser utilizadas pelos pacientes laringectomi- no aparelho fonador, constituindo o grupo controle.
zados totais, entre elas a comunicação escrita, a Os critérios de inclusão para os grupos 1
fala bucal, a voz traqueosofágica, a voz esofágica e e 2 foram: voluntários com diagnóstico de câncer
a voz utilizando a laringe artificial 9,14-16. envolvendo a cabeça e o pescoço submetidos à
A voz esofágica é produzida pelo ar que ao laringectomia total ou ressecção tumoral, radiote-
penetrar na boca atinge a porção alta do esôfago rapia pós-cirúrgica e esvaziamento cervical, com
e ao ser expulso faz vibrar as paredes do mesmo, a presença de limitação dos movimentos do seg-
emitindo som. Já a laringe eletrônica produz o som mento cervical da coluna vertebral.
pela vibração da membrana de um cilindro de metal Todos os voluntários realizaram terapia fono-
movido a pilhas, que ao ser colocado externamente audiológica individual, em que foram apresentadas
na porção lateral do pescoço ou da bochecha, e ali as diferentes formas de reabilitação vocal, como a
mantido durante o tempo em que o indivíduo estiver eletrolaringe, a fala esofágica e a prótese traqueo-
falando, ampliará de forma audível os movimentos sofágica, sendo escolhido o método que melhor se
articulatórios sem som feitos pelo paciente 12,13. adaptava às necessidades individuais.
A literatura especializada relacionando a ava- Os voluntários foram submetidos a avaliações
liação eletromiográfica dos músculos cervicais em fonoaudiológica e fisioterápica. A primeira buscou
pacientes laringectomizados totais, considerando investigar queixas de alteração vocal, hábitos dos
os diferentes tipos de fala é extremanente escassa. indivíduos, uso de medicamentos, presença de dis-
No entanto, estudos semelhantes foram encontra- túrbios orgânicos e tipo de comunicação realizada,
dos avaliando a atividade elétrica dos músculos sendo realizada pelo fonoaudiólogo. Na avaliação
cervicais em pacientes disfônicos, constatando a fisioterápica, realizada por um fisioterapeuta, foi
presença de alterações posturais e sintomatologia feita anamnese, exame físico e história clínica do
de dor, juntamente com alterações no padrão de paciente. Foram obtidas informações sobre a cirur-
ativação muscular desses indivíduos 17,18. gia, radioterapia, esvaziamento cervical e complica-
Considerando as alterações sofridas no apare- ções gerais do tratamento. No exame físico foram
lho fonador e na musculatura cervical de pacien- avaliadas alterações articulares, musculares, sensi-
tes laringectomizados totais que se comunicam tivas, posturais e presença de dor.
por meio da fala esofágica e de laringe artificial, o As medidas dos movimentos do segmento cer-
presente estudo teve como objetivo, analisar a ati- vical da coluna vertebral (flexão, extensão, late-
vidade eletromiografia dos músculos esternocleido- ralidade direita, lateralidade esquerda, inclinação
mastóideos (ECM) e paraespinhais cervicais (PC), direita e inclinação esquerda), foram realizadas
a fim de avaliar se o tipo de voz utilizada altera o através do teste goniométrico, para constatar a pre-
comportamento dos músculos cervicais, além de sença de limitações nos movimentos cervicais 19.
determinar uma possível influência da presença de
Uma análise clínica subjetiva da postura de
limitação cervical e alteração postural no padrão de
cabeça e pescoço também foi realizada através da
ativação muscular.
inspeção visual na avaliação física com o auxílio
de um Simetrógrafo. As alterações posturais foram
n MÉTODOS observadas com os voluntários na posição ortos-
tática, nas vistas: anterior, posterior, lateral direita
Participaram desse estudo 17 voluntários e lateral esquerda. Os critérios analisados foram
(4 mulheres e 13 homens), com idade mínima de a presença ou não de anteriorização da cabeça e
54 anos e máxima de 74 anos (média de pescoço na vista lateral 20.
59,82 anos), divididos em 03 grupos de acordo com A presença de dor também foi avaliada,
a opção de fala utilizada: mediante a utilização da escala verbal de quatro
Grupo 1: cinco voluntários, sendo dois do sexo pontos, composta de quatro adjetivos, sendo que
feminino e três do sexo masculino, com média de o voluntário deveria escolher uma das alternativas
62 anos e tempo de pós-operatório médio de 1,87 disponíveis que melhor representasse a dor sentida

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no momento da palpação muscular (0 = ausência Foram utilizados: um Módulo condicionador


de dor, 1 = dor leve, 2 = dor moderada, 3 = dor de Sinais, MCS-V2 (Lynx Tecnologia Eletrônica
severa) 21. Ltda.) com 12 bytes de resolução de faixa dinâ-
Foram excluídos desse estudo os voluntários mica, filtro do tipo “Butterworth” de passa-baixa de
que já haviam realizado qualquer tipo de tratamento 1000 Hz e passa-alta de 1 Hz, ganho de 100 vezes;
fisioterápico, presença de doenças neurológicas ou Placa conversora A/D (modelo CAD 12/36 da
qualquer patologia relacionada com a musculatura Myosystem - BR1 versão 2.52.) com frequência de
cervical e ombros. amostragem de 1 KHz e; Programa Aqdados versão
Outro critério de exclusão analisado foi a pre-
4.18 (Lynx Tecnologia Eletrônica Ltda) para apre-
sença de tecido cicatricial extenso envolvendo a
sentação simultânea dos sinais de vários canais e
superfície dos músculos esternocleidomastóideos,
tratamento do sinal. Para a captação dos potenciais
para que não houvesse interferência na captação
do sinal eletromiográfico. de ação dos músculos esternocleidomastóideo e
Em função da não possibilidade do conheci- paraespinhais cervicais bilateralmente, foram utili-
mento da dose total de radioterapia de alguns zados eletrodos de superfície ativos simples dife-
voluntários, foram excluídos os voluntários que não renciais, da Lynx Tecnologia Eletrônica Ltda, com
realizaram radioterapia. impedância de entrada de 10 GW, CMRR de 130
Também foram excluídos desse estudo os dB e 2 picofaraday, ganho de 100 vezes, com passa
voluntários que apresentavam comprometimento do alta de 20Hz e passa baixa de 500Hz, bem como
nervo espinhal acessório. Em função da ausência um eletrodo de referência retangular (terra), de aço
de informações que confirmassem a presença de inoxidável para reduzir o ruído durante a aquisição
lesão do nervo espinhal acessório em alguns volun- do sinal eletromiográfico, posicionado na superfície
tários da pesquisa, foi considerado de acordo com da pele na porção distal da ulna dos voluntários.
Lech et al. 22, comprometimento do nervo acessório
Todos os registros eletromiográficos foram
espinhal, a presença dos seguintes sinais clínicos:
realizados com os voluntários sentados conforta-
queda ou depressão do ombro, escápula alada,
velmente em uma cadeira, com as mãos sobre as
atrofia do músculo trapézio, inabilidade em abduzir
o braço acima de 90º e dor generalizada na cintura coxas, os pés apoiados no chão, cabeça ereta e
escapular, porém, vale ressaltar que o comprometi- olhar direcionado para frente. Posteriormente os
mento do nervo acessório espinhal pode estar pre- eletrodos foram posicionados sobre a pele, pre-
sente, em menor grau, sem manifestações clínicas. viamente limpa com algodão embebido em uma
solução de álcool etílico a 96GL e fixados com fita
Parâmetros de EMG avaliando a atividade Micropore – 3M®. Após prova de função muscular
dos músculos os eletrodos foram posicionados no terço médio dos
Os sinais eletromiográficos foram coletados no músculos esternocleidomastóideo, bilateralmente
interior de uma gaiola eletrostática de Faraday devi- de acordo com as recomendações do Surface
damente aterrada, para isolar o campo eletromag- Electromyography for the Non-Invasive Assessment
nético do ambiente. of Muscles – SENIAM 23 (Figura 1).

A B
Legenda: A: Músculo Esternocleidomastóideo; B : Músculos Paraespinhais Cervicais.

Figura 1 - Posicionamento dos eletrodos para a coleta do sinal eletromiográfico

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Comportamento muscular na fala esofágica 85
Nos músculos paraespinhais cervicais, os ele- realizada. Os valores de RMS foram normalizados
trodos foram fixados paralelos ao processo espi- pelo pico máximo do sinal eletromiográfico, por
nhoso da quarta vértebra cervical (C4), aproxi- apresentar o menor desvio padrão 25.
madamente a 2 cm da linha média bilateralmente A realização deste estudo foi aprovada pelo
(Figura 1) 24. Neste nível, os eletrodos captam sinais Comitê de Ética da Faculdade de Odontologia de
dos seguintes músculos: porção superior do mús- Piracicaba – UNICAMP, nº 100/2005, e os voluntá-
culo trapézio, esplênio da cabeça e do pescoço, rios assinaram um termo de Consentimento Livre e
semi-espinhais da cabeça e semi-espinais cer- Esclarecido.
vicais, por isso ao conjunto desses músculos foi
Os testes estatísticos de Wilcoxon e Kruskal –
denominado paraespinhais cervicais 24.
Wallis foram utilizados para a comparação das
Os sinais eletromiográficos foram analisados médias dos valores de RMS, com nível de signifi-
durante a fala realizada através da laringe eletrô- cância de p ≤ 0,05.
nica (grupo 1), voz esofágica (grupo 2) e fala espon-
tânea (grupo controle). Os voluntários foram orien-
tados a realizar a leitura de um texto padronizado n RESULTADOS
durante dez segundos. Previamente à aquisição do
sinal eletromiográfico os sujeitos foram instruídos De acordo com os resultados obtidos através da
a realizarem a leitura do texto a fim de se familia- goniometria, somente os voluntários dos grupos 1
rizarem com o material. Todas as análises foram e 2 apresentavam limitação na amplitude dos movi-
obtidas em triplicata, onde foram obtidos os valores mentos do segmento cervical da coluna vertebral
de RMS (Root Mean Square) para cada condição (Tabela 1) .

Tabela 1 - Distribuição dos voluntários de acordo com o gênero, idade, tempo de pós–operatório,
presença de alteração postural, presença de dor e graduação da dor

Principal Presença
Tempo de
Grupos Voluntários Gênero Idade/ anos Alteração de dor/
PO
postural graduação
Cabeça
1 M 74 7 anos
anteriorizada
Cabeça
2 M 60 2,5anos leve
anteriorizada
Grupo1
Cabeça
3 F 62 2,6anos leve
anteriorizada
4 F 50 1ano
5 M 64 1,3 anos
Cabeça
6 M 70 2 anos leve
anteriorizada
Cabeça
7 M 57 1 ano Moderada
anteriorizada
Grupo 2
8 M 60 1,2 anos
Cabeça
9 M 47 7 meses Moderada
anteriorizada
10 M 73 7 anos
11 M 54
12 F 56
13 M 57
Grupo 3 14 M 55
15 M 57
16 F 58
17 M 63
Legenda: M (masculino), F (feminino), PO (pós-operatório).

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Na avaliação postural, a anteriorização de n DISCUSSÃO


cabeça estava presente em seis voluntários tam-
bém pertencentes aos grupos 1 e 2. Desses seis A laringectomia total é uma cirurgia mutilató-
voluntários, cinco possuíam sintomatologia de dor ria que traz várias complicações para a região do
em região cervical, sendo que três apresentavam pescoço alterando as vias aérea e digestiva pela
dor de intensidade leve e dois moderada, avaliadas retirada total da laringe e pela realização da traque-
mediante o uso da escala verbal (Tabela 1). ostomia. Tais procedimentos muitas vezes compro-
No exame eletromiográfico, os resultados foram metem as funções básicas como a deglutição, res-
obtidos primeiramente através da comparação piração, fonação e principalmente a mobilidade do
das médias dos valores de RMS dos músculos do pescoço e ombros 10,12.
grupo 1, durante a fala com a laringe eletrônica e do Indivíduos submetidos à laringectomia total dis-
grupo 2, durante a fala com a voz esofágica. Pos- põem de alguns meios de produção de voz para a
teriormente foram comparadas as médias dos valo- reabilitação da comunicação oral 9,16. Vários estu-
res de RMS dos grupos 1 e 2 com as médias dos dos atualmente estão sendo desenvolvidos com
valores de RMS dos músculos do grupo controle, o propósito de determinar qual a melhor opção de
na condição de repouso e durante a fonação. reabilitação vocal para os pacientes, baseados na
Na comparação dos resultados obtidos pelo inteligibilidade da fala, qualidade vocal, aspectos
grupo 1 e pelo grupo 2, não houve diferença signifi- acústicos, capacidade de adaptação da prótese e
cativa para os músculos avaliados durante a leitura uso da opção vocal escolhida 14,26,27.
do texto, ou seja, o padrão de ativação muscular Apesar de ter sido encontrada apenas uma
não foi diferente durante a fala dos voluntários que única referência sobre a utilização da eletromiogra-
utilizam a voz esofágica dos que utilizam a laringe fia com o propósito de avaliar os músculos cervi-
eletrônica como forma de comunicação (Tabela 2 cais nos pacientes laringectomizados totais relacio-
e Figura 2). nando com tipos de fala 28, estudos semelhantes
Também não houve diferença significativa para foram encontrados avaliando a atividade elétrica
os músculos avaliados, durante a fala realizada dos músculos cervicais em pacientes disfônicos,
pelos grupos 1 e 2, comparada com a fala espon- considerando a presença de alterações posturais
tânea realizada pelo grupo controle. Sendo assim, ou sintomatologia de dor juntamente com altera-
o padrão de ativação muscular dos grupos que uti- ções no padrão de ativação muscular desses indi-
lizam tanto a voz esofágica ou a laringe-eletrônica víduos 17,18.
com forma de comunicação não foi alterado com Na amostra desse estudo, seis voluntários apre-
relação ao grupo controle (Tabela 3). sentavam como principal alteração postural a ante-
Na condição de repouso, comparando-se os riorização da cabeça. Desses, três apresentavam
valores médios de RMS dos grupos 1 e 2 com o dor de intensidade leve, dois moderada e um não
grupo controle, o músculo esternocleidomastóideo apresentava dor. A presença da dor é um fator que
direito apresentou aumento nos valores médios de compromete a reabilitação do paciente pelo meca-
RMS, porém esses valores não foram significativos nismo de proteção, resultando em encurtamentos
(p=0,07). Já para os músculos paraespinhais cervi- musculares e consequentemente alterações postu-
cais direito, houve diminuição nos valores médios rais, em especial na cabeça e ombros 29.
de RMS, dos grupos 1 e 2 em relação ao grupo De acordo com os resultados dessa pesquisa,
controle, com diferença significativa de p=0,01 houve alteração no padrão de ativação muscular
(Tabela 4 ). dos voluntários dos grupos 1 e 2 durante repouso,

Tabela 2 - Valores de significância e desvio padrão das médias dos registros eletromiográficos (RMS
normalizados em microvolts), dos músculos esternocleidomastóideos e paraespinhais cervicais, do
grupo 1 durante a fala realizada através da laringe eletrônica e do grupo 2, através da voz esofágica

ECME PCE ECMD PCD


Músculo
Média DP Média DP Média DP Média DP
Grupo 1 0,45 0,14 0,45 0,13 0,51 0,13 0,47 0,12
Grupo 2 0,38 0,12 0,53 0,15 0,59 0,15 0,6 0,14
Valor p 0,91 0,6 0,59 0,75
Legenda: ECME (M.esternocleidomastóideo esquerdo), ECMD (M.esternoocleidomastóideo direito), PC D (M.m paraespinhais cer-
vicais direito), PCE (M.m paraespinhais cervicais esquerdo). Os testes estatísticos de Wilcoxon e Kruskal – Wallis, com nível de
significância de p ≤ 0,05.

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Comportamento muscular na fala esofágica 87

Legenda: Valores Bruto de RMS: Esternocleidomastóideo Esquerdo: 2,88 uV; Esternocleidomastóideo Direito:6,26 uV; Paraespinhais
cervicais Direito: 4,10 uV e Paraespinhais Cervicais Esquerdo: 5,80 uV.

Figura 2 - Traçado eletromiográfico dos músculos paraespinhais cervicais e esternocleidomastóideos


bilaterais de um dos voluntários do grupo laringectomizado total durante a fonação com uso da
laringe artificial

Tabela 3 - Valores de significância e desvio padrão das médias dos registros eletromiográficos (RMS
normalizados em microvolts), dos músculos esternocleidomastóideos e paraespinhais cervicais, dos
grupos 1 e 2 durante a fala realizada através da laringe eletrônica e voz esofágica, respectivamente e
do grupo controle, na fala espontânea

ECME PCE ECMD PCD


Músculo
Média DP Média DP Média DP Média DP
Grupo 1e 2 0,36 (0,27) 0,50 (0,25) 0,41 (0,27) 0,50 (0,27)
Grupo Controle 0,52 (0,27) 0,44 (0,26) 0,60 (0,25) 0,55 (0,22)
Valor p 0,18 0,4 0,18 0,34
Legenda: ECME (M.esternocleidomastóideo esquerdo), ECMD (M.esternoocleidomastóideo direito), PCD (M.m paraespinhais cer-
vicais direito), PCE (M.m paraespinhais cervicais esquerdo). Os testes estatísticos de Wilcoxon e Kruskal – Wallis, com nível de
significância de p ≤ 0,05.

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88 Santos CB, Caria PHF, Tosello DO, Bérzin F

Tabela 4 - Valores de significância e desvio padrão das médias dos registros eletromiográficos (RMS
normalizados em microvolts) dos músculos esternocleidomastóideos e paraespinhais cervicais dos
grupos 1 e 2, comparados ao grupo controle, na condição de repouso

ECME PCE ECMD PCD*


Músculo
Média DP Média DP Média DP Média DP
Grupo 1 e 2 0,63 (0,24) 0,51 (0,20) 0,61 (0,23) 0,49 (0,23)
Grupo Controle 0,64 (0,29) 0,47 (0,27) 0,53 (0,26) 0,57 (0,20)
Valor p 0,28 0,18 0,07 0,01
Legenda: ECME (M.esternocleidomastóideo esquerdo), ECMD (M.esternoocleidomastóideo direito), PCD (M.m paraespinhais cervi-
cais direito), PCE (M.m paraespinhais cervicais esquerdo). * Músculos com diferença siginificativa nos valores médios de RMS. Os
testes estatísticos de Wilcoxon e Kruskal – Wallis, com nível de significância de p ≤ 0,05.

onde valores médios de RMS apresentaram-se alteração no traçado eletromiográfico na fala espon-
aumentados para o músculo esternocleidomastói- tânea dos músculos esternocleidomastóideos e tra-
deo direito, e diminuídos para os músculos para- pézio (fibras superiores), porém encontrou altera-
espinhais cervicais direito, comparados ao grupo ção para os músculos infra-hióideos, na avaliação
controle. Os resultados desta pesquisa concordam eletromiográfica de indivíduos disfônicos 18.
com os resultados obtidos em estudo semelhante, Resultados semelhantes foram encontrados por
em que foram avaliados os músculos esternocleido- Heaton et al, 2004 28 que, ao avaliarem pacientes
mastóideos, trapézio fibras superiores e infra-hiói- laringectomizados totais, que se comunicavam por
deos de indivíduos disfônicos, constatando redução meio da eletrolaringe e prótese traqueosofágica,
significativa dos valores médios de RMS obtidos na encontraram alterações nos traçados eletromiográ-
situação de repouso para todos os músculos ava- ficos dos pacientes durantes a fonação nos múscu-
liados após a aplicação da TENS (Estimulação elé- los infrahiodeos, enquanto que para os músculos
trica nervosa transcutânea) 18. esternocleidomastóideos as alterações eletromio-
A anteriorização de cabeça pode ter resultado gráficas foram mais evidentes na avaliação da
no aumento dos valores de RMS comparados ao movimentação cervical.
grupo controle, uma vez que 60% dos voluntários Na comparação da fala de indivíduos que fazem
apresentavam anteriorização de cabeça como uso da voz esofágica com os indivíduos que usam a
principal alteração postural. A hiperatividade e o laringe eletrônica como forma de comunicação, tam-
encurtamento do músculo esternocleidomastóideo bém não houve diferença significativa no padrão de
é um dos principais efeitos da posição cefálica ante- ativação muscular, supondo que fatores individuais,
riorizada 30, uma vez que os músculos esternoclei- como a presença de fibrose, encurtamentos muscu-
domastóideos permanecem encurtados quando a lares, dor, inabilidade com o aparelho (laringe artifi-
cabeça está posicionada à frente 20. cial) e dificuldade cognitiva, tem interferência maior
Ao contrário do que foi observado para o mús- na fala, podendo resultar na alteração do padrão
culo esternocleidomastóideo direito, os músculos muscular, do que o tipo de fonação escolhida 26.
paraespinhais cervicais direito apresentaram os
valores médios de RMS diminuídos na condição de
repouso, quando comparados ao grupo controle. A n CONCLUSÃO
manutenção da postura de cabeça é determinada
pelo equilíbrio de forças entre os músculos cervi- O tipo de opção vocal (laringe artificial e voz eso-
cais anteriores e posteriores (agonistas e antago- fágica) não interferiu no padrão de ativação mus-
nistas), onde a excessiva atividade de um músculo cular durante a fonação, bem como não foi encon-
encurtado pode resultar em inibição de seu antago- trado diferença no padrão de ativação muscular na
nista 31. Esse princípio pode justificar que o aumento fonação desses voluntários quando comparados
nos valores médios de RMS do músculo esterno- a indivíduos que não sofreram intercorrências no
cleidomastóideo direito resultou na diminuição dos aparelho fonatório. No entando, é importante con-
valores de RMS dos músculos paraespinhais cervi- siderar que os pacientes submetidos a laringecto-
cais esquerdo pelo princípio da inibição muscular. mia total geralmente apresentam sequelas como
Durante a fonação não houve alteração no alterações postuais, encurtamentos musculares e
padrão de ativação entre os grupos experimentais e dor, que podem interferir na atividade elétrica dos
controle. Estudo semelhante também não encontrou músculos cervicais. A eletromiografia de superfí-

Rev. CEFAC. 2010 Jan-Fev; 12(1):82-90


Comportamento muscular na fala esofágica 89
cie mostrou ser um método favorável na avaliação n AGRADECIMENTOS
terapêutica dos pacientes, porém são necessários
novos estudos para se ter o perfil mais completo Agradecemos à CNPQ pelo apoio financeiro
destes aspectos. concedido para a realização dessa pesquisa.

ABSTRACT

Purpose: to evaluate by the surface electromyography the behavior of the sternocleidomastoid


and cervical paraspinalis muscles, bilaterally in patients who use esofagic and artificial larynx as
alternative to talk and to determine if these conditions modify the cervical muscles behavior. Methods:
ten volunteers were evaluated (two women, eight men), with average age: 49. 7 years, with total
laryngectomy, average time of postoperative: 2.6 years, with neck movements limitation, divided
in two groups: group 1 with five volunteers (artificial larynx); group 2 with five volunteers (esofagic
voice); and group 3 control (seven volunteers). Results: there was no significant difference in the
muscular activation pattern during phonation in individuals with esofagic voice and the artificial larynx
compared to the control group, however, in the rest condition, there was a significant difference
comparing the average values of Root Mean Square (RMS) of groups 1 and 2 with group 3, for the
right sternocleidomastoid muscle and the right cervical paraspinalis muscles. Conclusion: the vocal
option did not interfere on the muscular activation pattern during the phonation, as well as there was
no difference in the muscular activation pattern comparing the experimental groups with the control
group.

KEYWORDS: Electromyography; Laringectomy; Speech, Esophageal; Larynx, Artificial

n REFERÊNCIAS 7. Kuntz AL, Weymuller EA. Impact of neck


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RECEBIDO EM: 05/05/2008


ACEITO EM: 01/06/2009

Endereço para correspondência:


Cristina Bellini dos Santos
Av. Nove de Julho, 3730 ap. 41
Jundiaí – SP
CEP: 13208-056
E-mail: bellinicris@fop.unicamp.br

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