Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
ILUSTRANDO
Você pode imaginar o que é sentir isto ?
“De repente os olhos embaçaram, eu fiquei tonto, não conseguia
respirar, me sentia fora da realidade, comecei a ficar com pavor
daquele estado, eu não sabia aonde ia parar, nem o que estava
acontecendo…”
” …era uma coisa que parecia sem fim, as pernas tremiam, eu não
conseguia engolir, o coração batendo forte, eu estava ficando cada
vez mais ansiosa, o corpo estava incontrolável, eu comecei a
transpirar, foi horrível…”
“Depois da primeira vez eu comecei a temer que acontecesse de
novo, cada coisa diferente que eu sentia e eu já esperava… ficava
com medo, não conseguia mais me concentrar em nada… deixei de
sair de casa, eu não conseguia nem ir trabalhar.”
“Quando começa eu já espero o pior, “aquilo” é muito maior do que
eu, o caos toma conta de mim, é como uma tempestade que passa
e deixa vários estragos… principalmente eu me sinto arrasado. Eu
sempre fico com muito medo de que aquilo ocorra de novo… minha
vida virou um inferno.”
Por estes relatos de diferentes pessoas que sofrem de Síndrome
do Pânico, é possível identificar o grau de sofrimento e impotência
que estas pessoas sentem..
Parece haver algo errado com o corpo, que reage de modo
“estranho“, “louco“. Porém os exames clínicos não detectam nada
de anormal.
Como entender?
Nas crises de Pânico o corpo reage como se estivesse frente a
uma ameaça, com sintomas como taquicardia, respiração curta,
tremor etc – numa estado de “medo sem saída”. Como não há
nenhum ameaça no ambiente que justifique estas reações, a
mente se volta para as reações do corpo como se estas fossem
perigosas, disparando pensamentos catastróficos, imaginando as
piores consequências desta aparente perda de controle.
Vamos compreender o que acontece e como se pode sair desta
armadilha.
Curto-circuito Corpo-Emoção-Pensamento
Podemos identificar a emoção de medo/ansiedade ocorrendo em
três níveis:
– como reações fisiológicas: alterações nos batimentos cardíacos,
na pressão sanguínea, hiperventilação, suor, etc
– como reações emocionais: ansiedade, medo, apreensão,
desamparo, desespero etc
– como reações cognitivas: preocupação, pensamentos negativos,
ruminações etc
O estado emocional de ansiedade é acompanhado de reações
fisiológicas como taquicardia e respiração curta, por
exemplo. A pessoa tende a interpretar estas reações como
perigosas – sinal de doença, de catástrofe iminente, etc. Estas
interpretações, na forma de pensamentos catastróficos, acabam
por gerar mais emoção de ansiedade, o que por sua vez aumenta
as reações fisiológicas que vão reforçar os pensamentos
catastróficos.
Cria-se assim um curto-circuito infindável onde as reações
fisiológicas naturais de medo/ansiedade são interpretadas
equivocadamente como perigosas, o que acaba por produzir mais
ansiedade, que por sua vez alimenta os pensamentos
catastróficos, num processo sem fim. Enquanto a pessoa não
interromper este curto-circuito ela não consegue se livrar das
crises de pânico.
Prisioneiro do Futuro
A ansiedade é uma emoção de expectativa de perigo, de uma
ameaça que pode ser difusa, não claramente identificada. A mente
ansiosa acaba imaginando cenários, se projetando em situações
sentidas como potencialmente ameaçadoras: “e se… e
se acontecer… eu vou passar mal…”.
O estado de ansiedade leva a automatismos no processo de
atenção e pensamento. A atenção passa a se deslocar
descontroladamente, monitorando o corpo e o ambiente em busca
de algo que possa representar perigo. O enfraquecimento da
capacidade de controle voluntário da atenção está relacionado à
dificuldade de concentração frequentemente relatada pelas
pessoas ansiosas.
Sob ansiedade a mente é tomada por um fluxo intenso de
preocupações, pensamentos negativos e ruminações e há pouco
domínio da mente.
Assim, o ansioso vive boa parte do tempo tomado de expectativa
ansiosa e tem dificuldade de se sentir presente e inteiro no
momento atual.
Neste contexto, criar presença e fortalecer a atenção são focos
importantes no tratamento.
Auto-Regulação
Observa-se que nas pessoas com Síndrome do Pânico a função de
auto-regulação não está bem desenvolvida. No início da vida, a
regulação pelo vínculo será o modelo a partir do qual se
desenvolverá posteriormente a capacidade auto-regulação
emocional. Inicialmente a mãe ajuda a regular o corpo da criança
até que o corpo um pouco mais maduro possa se auto-regular. A
mãe acalma a criança assustada, pegando-a no colo, dirigindo-lhe
palavras num tom de voz sereno, ajudando deste modo a diminuir a
ansiedade e a agitação da criança.
É comum as pessoas que desenvolvem Pânico terem
tido experiências vinculares problemáticas, que atrapalham
o desenvolvimento desta capacidade de auto-regulação, criando
uma pequena janela de tolerância à excitação interna. A pessoa se
sente facilmente ansiosa, vulnerável e desamparada frente as
reações que dominam o seu corpo, sem saber como apagar o fogo
que arde dentro de si. É comum solicitar a presença de
alguém para trazer segurança. Assim se busca compensar a
dificuldade de auto-regulação através de uma regulação pelo
vínculo.
TRATAMENTO
Objetivos Principais
Há algumas diretrizes importantes para o tratamento da Síndrome
do Pânico:
1 – Etapa Educativa: compreender o que é o Pânico, assumindo a
atitude certa para lidar com a ansiedade e as crises
Os sintomas do pânico são mais difíceis de lidar enquanto não são
compreendidos. A crise de pânico é um estado de intensa
ansiedade, na qual o corpo reage como se estivesse sob ameaça e
sem saída. A mente interpreta este estado interno como perigoso,
gerando pensamentos negativos, fantasiando uma catástrofe, o
que vai alimentando as reações de pânico.
Nesta etapa vamos aprender o que é a ansiedade, o que ocorre
numa crise de pânico, compreender as reações do corpo como
tentativa de sair do estado de ameaça congelada que acabam
sendo mal interpretadas como ameaças internas, gerando mais
congelamento e ansiedade. Temos que esclarecer o papel do curto-
circuito emoção-corpo-pensamento na criação e manutenção do
pânico.
2 – Auto-gerenciamento: desenvolvendo a capacidade de regulação
emocional
A pessoa com pânico precisa desenvolver uma melhor capacidade
de regulação emocional, permitindo e facilitando os recursos
naturais de auto-regulação do seu corpo e
aprendendo estratégias para influenciar positivamente seu estado
emocional.
Através do rastreamento das reações somáticas é possível
identificar e facilitar os processos que o corpo precisa para sair do
estado de ameaça sem saída, que caracteriza o pânico.
Precisamos rastrear, reconhecer e facilitar as tentativas do corpo
descongelar através de tremores, movimentos inacabados e
expressões emocionais.
Este processo é facilitado pelo aprendizado de técnicas de auto-
gerenciamento. Utilizamos um repertório de técnicas de auto-
gerenciamento que incluem trabalhos
respiratórios, trabalhos com atenção e presença (Mindfulness,
Open Focus Brain), técnicas visuais (convergência binocular
focal), reorganização da forma somática através do Método dos
Cinco Passos, técnicas de relaxamento etc. Estas técnicas influem
sobre os estados internos, ampliando a capacidade de auto-
regulação.
3 – Aumentar a janela de tolerância à excitação interna
A pessoa com pânico tende a interpretar muitas reações de seu
corpo como se fossem sinais catastróficos, indicadores de um
perigo iminente, como desmaio, morte, perda de controle etc. É
necessário enfraquecer esta associação automática corpo-perigo
e ajudar a desenvolver uma nova relação com as reações
somáticas.
Para ajudar aumentar a janela de tolerância em relação ao que é
sentido somaticamente, utilizamos dois caminhos básicos.
(1) Técnicas de atenção dirigida às reações do corpo sem
interferência – observação quase neutra – permitindo acompanhar
os processos naturais da emoção e da regulação somática.
(2) Técnicas de exposição interoceptiva, onde utilizamos exercícios
cuidadosamente graduados de produção intencional das reações
corporais temidas.
Estes recursos ajudam na compreensão das reações do corpo que
podem parecer “ameaçadoras” mas que muitas vezes são
tentativas do corpo sair de um estado paralisado de ameaça. Ao
invés de serem combatidas, estas reações deveriam ser apenas
acompanhadas para que o processamento somático permita a
saída do estado de perigo congelado.
4 – Trabalhar com os pensamentos automático negativos
Sob estado de ansiedade a pessoa é inundada de distorções
cognitivas, com pensamentos que projetam cenários futuros
catastróficos e interpretando as sensações em seu corpo como
sinais de perigo iminente.
É importante trabalhar no desenvolvimento da capacidade de auto-
observação identificando e diferenciando-se dos pensamentos
catastróficos que derivam da ansiedade e contribuem para se criar
mais ansiedade. Neste processo se aprende a observar e
reconhecer os padrões de pensamentos e as expectativas
catastróficas sem ser dominado por eles. Aprende-se a ancorar o
ego no “eu que observa” e não no tumultuoso “eu que pensa”.
5 – Processar as memórias traumáticas
Assim como as primeiras crises de pânico podem ter se
constituído como experiências traumáticas, reativando sua intensa
carga emocional a cada nova crise, os eventos traumáticos
anteriores da história de vida podem estar se reeditando nas
experiências atuais de pânico, mantendo a pessoa aprisionada no
processo de ansiedade e crises. Muitos casos de Síndrome do
Pânico tidos como resistentes e difíceis só podem ser superados
quando se faz o processamento de memórias traumáticas. Para
isso utilizamos as técnicas de EMDR e Brainspotting.
Os melhores resultados são obtidos por um tratamento que
contemple todos estes objetivos: a compreensão do processo do
pânico, o desenvolvimento da capacidade de auto-regulação, o
aumento da janela de tolerância, o trabalho com os pensamentos
automáticos negativos e o processamento das memórias
traumáticas.
Uma combinação destes objetivos é a melhor solução para um
tratamento eficaz da Síndrome do Pânico.
Sobre a Medicação
Os remédios podem ser recursos auxiliares importantes para o
controle das crises de pânico, trabalhando conjuntamente com a
psicoterapia para ajudar na superação da Síndrome do Pânico.
Porém, há algumas ponderações sobre a sua utilização . Primeiro,
é necessário ter claro que os remédios não ensinam. Eles não
ensinam à pessoa como ela própria pode influenciar seus estados
internos e assim a superar o sentimento de impotência que o
pânico traz. Não ensinam a pessoa a compreender os sentimentos
e experiências que desencadeiam as crises de pânico. E não
ajudam a pessoa a perder o medo das reações de seu corpo e a
ganhar uma compreensão mais profunda de seus sentimentos. Os
remédios – quando utilizados – devem ser vistos como auxiliares do
tratamento psicológico.
Algumas pessoas optam por um tratamento conjugado de
medicação e psicoterapia enquanto outras optam por tratar o
pânico somente com uma psicoterapia especializada. Na
psicoterapia especializada utilizamos técnicas de auto-
gerenciamento – para manejar os níveis de ansiedade e controlar
as crises – e ao mesmo tempo trabalhamos as questões
psicológicas envolvidas. A opção mais precária seria tratar o
pânico somente com medicação, visto que o índice de recaídas é
maior quando há somente tratamento medicamentoso do que
quando há também um tratamento psicológico. Os remédios mal
administrados podem acabar mascarando por anos o sofrimento ao
invés de ajudar a pessoa a superá-lo.
Atualmente é possível tratar a pessoa com Síndrome de Pânico
sem a utilização de medicação e temos obtido bons resultados
tanto com pessoas que estão paralelamente tomando medicação
como com aquelas que preferem não tomar remédios.
Melhora: Um Horizonte Possível
Para uma pessoa ficar boa do Pânico não basta controlar as crises,
é necessário integrar as sensações e sentimentos que estavam
disparando as crises e assim superar o estado interno de
fragilidade e desamparo.
A melhora advém quando a pessoa torna-se capaz de sentir-se
identificada com seu corpo, capaz de influenciar seus estados
internos, sentindo-se conectada com os outros à sua volta,
podendo lidar com os sentimentos internos, se reconectando com
os fatores internos que a precipitaram no Pânico e podendo lidar
com eles de um modo mais satisfatório.
Superar a experiência da Transtorno de Pânico pode ser uma
grande oportunidade de crescimento pessoal, de uma retomada
vital e contemporânea do processo psicológico de vida de cada
um.