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Mitra-Varuna: O mito do rei e do juiz


22 MAIO '15
FLAVIO MORGENSTERN

Se a esquerda política parece desvencilhada de seu passado


marxista, sua insistência em uma teoria que acredita em “classes
sociais”, tão bem aceita que se confunde com uma verdade
incontestável da análise social, continua sendo correligionária das
velhas doutrinas do chamado “pensamento classista” e do
materialismo histórico-dialético.

A crença é a de que existem classes sociais (taxonomia mais


estanque do que “espécie”, “gênero” ou “família”) que estão em
luta pelo mesmo quinhão. A teoria marxista, ainda que abra O
Capital explicando o que é uma mercadoria, tem dificuldades em
entender que riqueza é criada, e não tomada de um pelo outro,
existindo sempre em quantidade idêntica no mundo.

Assim, Marx (e nenhum caudatário da esquerda moderna escapou


desta conceituação, mesmo os esquerdistas mais anti-marxistas
de todos) conclui que se alguns possuem riqueza (em sua época,
a classe burguesa era a que estava enriquecendo, com a nobreza
perdendo sua antiga opulência) é porque eles estão tomando tal
riqueza de outra pessoa. Surge a teoria da exploração, que saiu
com morte cerebral diagnosticada após ser rebatida por Eugen
von Böhm-Bawerk, no seminal A Teoria da Exploração do
Socialismo-Comunismo (livro que, para manter esquerdistas na
esquerda, é sumariamente ignorado na Academia).

Os argumentos econômicos são bem conhecidos dos liberais. A


esquerda, todavia, não os conhecendo, crê que não funcionam,
com a superstição de que liberalismo é qualquer coisa que não
funcionou, exceto o que é o liberalismo de fato (o sistema
econômico da Suíça, Chile, Canadá, Estônia, Reino Unido,
Alemanha, Áustria, Japão, Israel e estes outros países
“subdesenvolvidos”).

Contudo, há também um mito fundador no marxismo, para mantê-


lo tão atrativo a jovens, a despeito de seu fracasso prático. Com
efeito, marxistas apelam tanto ao rigor da estatização para evitar
a “desigualdade” e a “burguesia” que preferem expropriar os ricos
para torná-los iguais aos pobres, e comemorar tal feito como uma
vitória, do que reconhecer o fracasso marxista-estatal em
enriquecer os pobres para torná-los iguais aos ricos.

No discurso, esquerdistas falam sempre em “reforma” (já que o


termo “revolução” perdeu o apelo de marketing) contra o
capitalismo, mas na prática, todos preferem ter o menor salário da
Suíça, da Coréia do Sul, da Holanda ou de Luxemburgo do que os
maiores salários de Cuba, Vietnã, Venezuela, Zimbábue, Coréia do
Norte ou Congo, que possuem sistemas que eles defendem. Na
prática, fogem espavoridos da sua própria sombra como qualquer
cubano usando geladeira como bote para fugir do materialismo
histórico-dialético posto em prática.

Isto se dá não por argumentos econômicos, completamente


divorciados do que esquerdistas lêem. Tal se dá por uma vocação
mitológica no marxismo, que buscou substituir a sabedoria antiga
por uma Sião terrena, o que o liberalismo, técnico e analítico, não
possui. O que também explicará a torção representada pela
esquerda 2.0, que começou apenas nesta década de 10 a vicejar
no Brasil.
O filologista e mitólogo francês Georges Dumézil ficou famoso por
seus estudos das sociedades proto-indo-européias, percebendo
uma correlação frequente de poder e soberania nos arranjos
sociais destes povos. Nascia a hipótese trifuncional de classes
sociais nas sociedades antigas (classes entendidas em sentido
vernacular e correto, como funções sociais tão adentradas no ser
público que a função do indivíduo se confunde com sua própria
constituição individual – não como as falsas “classes sociais” da
sociologia moderna).

Leia também:  É preciso ter cuidado com oportunistas nas horas que
sucedem as tragédias

Estas funções, comuns a todos estes povos, mesmo que com


nomes e variações bastante distintas entre povos que variam da
Rússia e da Índia a Portugal e Noruega, são da soberania sagrada,
a força e a fecundidade.

Contudo, a soberania política e/ou religiosa (sobretudo em


sociedades cósmicas , na terminologia de Eric Voegelin), é uma
categoria dual, como Dumézil iria posteriormente demonstrar. De
um lado, há o rei-mago (raj, rex), de outro, o jurista-clérigo
(brahman, flamen).

A figura do jurista ou do clérigo, como conhecida em nossa


própria sociedade, atua durante a paz, estabelecendo regras de
conduta, pré-definidas ou transcendentalmente reveladas (como a
proibição do assassinato). Ele controla através da criação de
laços (nexum) e também por dívidas. É a figura de Mitra na Índia,
de Numa em Roma, de Têmis na Grécia, mesmo de Miguel na
hagiografia semita.

Já o rei-mago é a figura do grande


conquistador que toma seu direito pela
força e inicia a violência, granjeando assim
seu poder. É o rei ou deus cuja soberania é
definida por laços mágicos ou obrigações.
Seu reinado é o do poder pela força –
ainda que sem uma definição fixa a priori
sobre sua moral ou justiça. É a figura de
Varuna na Índia, Romulus em Roma, Zeus
na Grécia. Os deuses da conquista e
dominação.

Em um livro não coincidentemente chamado Mitra-Varuna, em que


trabalha este aspecto dual da soberania através dos povos,
Dumézil analisa como a diferença da relação de força-magia da
figura de Varuna, o rei-mago, deus violento da conquista e da
obrigação imposta, e do legislador racional, representado por
Mitra, que inicia a soberania jurídica por pactos (mutuum) e fé.

Esta última figura do legislador preserva a sociedade não pelo


mando, e sim pela validade de contratos e pela distribuição e pelo
cumprimento de responsabilidades.

Estas duas forças mitológicas encontram eco fácil na discussão


política moderna, ainda mais em sociedades que cada vez mais
copiam de mal a mal suas influências indo-européias.
Ora, é fácil enxergar como há figuras políticas contemporâneas
que apresentam seu projeto de poder pela conquista e soberania,
seja “lícita”, pela conquista de votos, ou pela conquista forçada de
todo o sistema anterior através da violência. Qualquer golpe de
Estado, justo ou não, encontra antes ecos em Varuna, em Cronos
devorando os próprios rebentos após mutilar seu pai Urano, para
ter um fim torpe justamente pelas mãos do mais frágil de seus
filhos, Zeus – este também um deus conquistador de soberania.

Também há figuras legislativas buscando uma ordem social não


calcada na violência e num projeto central (considerado ou não
justo), mas sim na mútua adesão voluntária a pactos firmados na
paz, buscando a ordem não em um projeto de justiça contra uma
injustiça (suposta ou não) anterior, mas antes na fé mútua e
pública, na responsabilidade e no estabelecimento de regras a
serem seguidas de livre vontade.

O primeiro projeto, o da força, é o modernismo denunciado por C.


S. Lewis como um caminho aberto para a aceitação de tiranias.

Isto é, uma visão de mundo que queira corrigir abstrações (a


desigualdade, o racismo, o machismo, a homofobia, a visão errada
das pessoas) não pode enxergar ações individuais, e sim forças
cósmicas que só podem ser corrigidas pela tomada de poder
total, pela força e por um projeto não baseado no livre contrato,
mas na tomada de poder para se obter tal “justiça”.

Leia também:  O lugar de Michel Temer na História


Por isto, C. S. Lewis percebia que desde
Thomas Hobbes e seu Leviatã, tornou-se
comum às pessoas de mentalidade que
abstraía da realidade ou reformistas
sociais aceitarem a tirania não apenas
como desculpável, mas mesmo como a
única forma de corrigir a sociedade. Não
se pode corrigir uma abstração de
injustiça, real ou falsa, claramente definível
ou sem regras claras, por livre contrato.

É o mundo de Hobbes e Maquiavel, de Marx e Hitler, de Lenin e


Pol-Pot, de Chávez e Hobsbawm. Críticos da “moral burguesa” da
troca livre, preferindo corrigir toda a sociedade por um plano
central, aparentemente justo ou não, pela tomada do controle total
de seus laços, sua mentalidade, seus símbolos, sua cultura, sua
natureza mesma.

Já o reino de Mitra prefere criar uma ordem social pela paz e pela
troca que seja mutuamente benéfica. É uma mentalidade em que
o poder ao invés de estar concentrado, está diluído em diversos
órgãos, cada um com limites contratuais para suas atribuições,
nenhum podendo ter uma soberania suprema sobre todo o corpo
social.

Qualquer injustiça percebida nessa ordem tenta ser corrigida


através do próprio acordo mútuo, pela mudança pacífica de
mentalidade, pela escolha entre ter relações com um pactuante
distinto daquele que causa mal, ou do qual não se gosta.

O deus do comércio grego, Hermes, não à toa é o deus de todas


as trocas: mensageiro, deus da velocidade, mediador entre deuses
e homens, promotor da fertilidade, criador do alfabeto para
transmitir conhecimento – inclusive o conhecimento implícito e as
mensagens ocultas do pensamento difícil, hermético.

Não à toa, sociedades liberais, ao contrário do que estatistas


pensam, precisam de um povo culto – não é uma coincidência ou
acidente de percurso, mas sua própria sustentação depende desta
cultura mútua para que a sacralidade de seus contratos seja
válida. Todavia, por acarretamento lógico, uma sociedade
orientada pelo Estado, exatamente ao contrário, ganha ainda mais
poder com um povo dependente e acrítico.

Exatamente por esta razão, e mesmo que o exemplo aponte para


longe da perfeição, países liberais produzem prêmios Nobel
científicos um atrás do outro (América, Reino Unido e Alemanha
são os campeões, com a diminutíssima e ultra-mega-master-
power-blaster liberal Suíça em 7.º lugar), enquanto países
socialistas, supostamente “salvadores” de seu próprio povo, à
exceção da cultíssima Rússia já de antes da Revolução, só
produzem Prêmios Nobel de literatura dissidente proibida no
próprio país pelo regime (Aleksandr Solzhenitsyn com seus Um
Dia na Vida de Ivan Denisovich e Arquipélago Gulag, Ivan Bunin,
Boris Pasternak, Czesław Miłosz, Elias Canetti, o último Jaroslav
Seifert, Joseph Brodsky, Herta Müller), ou prêmios Nobel da Paz
pelos inimigos do regime totalitário quando conseguem enfrentá-
lo e diminuí-lo com vida (Andrei Sakharov, Lech Wałęsa, Mikhail
Gorbachev, Shirin Ebadi, Liu Xiaobo, Tawakkul Karman, Malala
Yousafzai).

A validade do livre contrato de Hermes na Antigüidade não é tão


diferente do livre acordo que é a base do capitalismo, em
oposição à coação estatal dos reformistas socialistas e “sociais”,
como demonstra Hans Hermann-Hoppe.

Uma sociedade de contrato, ou contemporaneamente, uma


sociedade liberal, é sempre inimiga do poder concentrado, do
planejamento central de Procustes, do “conserto” social pela força
(sejam impostos médios ou altos, seja a economia dirigida, seja
até o extremo do Gulag e da câmara de gás contra “inimigos do
povo”).
Leia também:  O defeito do conservadorismo (primeira parte)

Ver a distinção entre a esquerda com seus planos “sociais”,


muitas vezes aparentemente lindos em teoria, mas de consecução
necessariamente forçosa, nos leva a entender as forças
mitológicas que permanecem ainda em nosso imaginário
científico moderno.

Enquanto os liberais atuam sempre pelo estabelecimento de


adesões voluntárias (sendo inimigo figadal de monopólios, do
“capitalismo” de Estado que paga por empresas antes de
podermos escolhê-las ou de reformas sociais culturais impostas
de cima para baixo pela “soberania”, mesmo aquela do voto), a
esquerda ainda busca o poder pela força, sempre encontrando
uma nova “injustiça” a combater e, então, conquistar – imitando,
com este verbo, uma paródia de aventura épica em que o bem
acaba triunfando pelas mãos dos novos heróis.

Ora, heróis também reproduzem, em escala individual ou social, a


mesma distinção (e o quanto de heroísmo irreal não se atribui a
figuras ocas modernas, como Che Guevara, Lenin, Simon Bolívar,
Barack Obama, Yasser Arafat, Nelson Mandela, Lula e Dilma?).
Os mitos heróicos, ou modelos arquetípicos, nos mostram tanto
uma aventura interna quanto inauguram uma ordem social. Jasão,
Orfeu, os profetas bíblicos, Odisseu, Siegfried, Édipo, Cú Chulainn,
Enéas, Hanuman mostram-nos exemplos de superação interior
que devem nos inspirar. Moisés, Buda, Jesus, Lao-Tsé, Wotan,
Maomé são heróis sociais, cuja mensagem deve ser obedecida.

É exatamente a tentativa de reproduzir modernamente, sem o


conhecimento dos antigos, este arquétipo que cria tantos
salvadores fracassados no mundo.

Ora, o projeto social implica a soberania violenta que impõe laços


forçados com poder concentrado – ou seja, a Revolução (seja
Francesa, Russa, Iraniana), com seus heróis forjados.

É por isto que a esquerda, ao invés de se preocupar em criar laços


por vontade própria (casamentos, comércio, intercâmbios
culturais – tudo o que Alain Peyrefitte definiu como os laços livres
e contratos válidos que garantem mais o futuro de uma sociedade
livre do que uma política econômica adequada), preocupa-se tanto
com a Revolução – ou, em linguagem esquerdista 2.0, com
“empoderamento”, “emancipação”, “participação política”,
“representação” ou até a “nova classe média”, supostamente
criada pelo poder soberano dos novos Varuna.

O marxismo, falho em cada vírgula como teoria, mas perfeito


como método de tomada de poder, hoje busca estes novos
problemas, muitos criados ad hoc, para continuar atrativo como
mito da conquista (basta-se sentir o peso psicológico desta
palavra para entender seu apelo).

O liberalismo, perfeito para enriquecimento dos pobres (ao


contrário do marxismo e do centralismo, que nunca enriqueceram
ninguém – pelo contrário), precisa entender suas próprias
ligações os mitos ligados a Mitra e aos juristas-sacerdotes para
conseguir rivalizar com tal violento apelo a conquistar tantos
jovens ávidos de poder sobre toda a população.
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Flavio Morgenstern

Analista político, palestrante e tradutor. Escreve para o jornal


Gazeta do Povo , além de sites como Implicante e Instituto
Millenium. Lançou seu primeiro pela editora Record Por trás da
máscara, sobre os protestos de 2013.

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