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FRAGMENTO NIETZSCHE

Julio Larroyd

No centro do palco a atriz inicia a cena de cabeça baixa, enquanto


toca Richard Wagner

ATRIZ

Certa tarde eu estava em um café quando ouvi no dialogo que se passava na


ao meu lado nome um nome ser pronunciado: Friedrich Nietzsche. A partir
daquele momento pedi uma caneta ao garçom e no próprio guardanapo passei
a tomar nota do dialogo, ainda tenho este guardanapo comigo, o diálogo era
mais ou menos assim:

-Nietzsche está doente, muito doente. Ele precisa da sua ajuda.


disse a mulher ao homem que a acompanhava.
- Mas qual é a natureza da doença dele? Quais são os seus sintomas?
- Dores de cabeça. Em primeiro lugar, dores de cabeça lancinantes. E surtos
constantes de náusea. E uma ameaça de cegueira. Sua visão vem
gradualmente se deteriorando. E problemas estomacais: às vezes, não
consegue comer durante dias. E insônia: nenhum remédio consegue fazê-lo
dormir, de modo que toma doses perigosas de morfina. E tontura: às vezes,
fica mareado em terra firme vários dias de uma vez."
( fragmento do livro Quando Nietzsche Chorou de Yrven Yalow)

Aos poucos compreendia que se tratavam de um casal de atores, e estavam


em uma leitura de mesa naquele momento. Foi então que percebendo minha
curiosidade enceram o dialogo e partiram. Fiquei ali por mais alguns instantes
com aquele nome ecoando em minha mente: Nietzsche, Nietzsche,
Nietzsche...

Eu nunca havia lido nada de Nietzsche, e me questionava por que naquele


momento um profundo desejo de conhecer a sua hora me assolava por
completo.

Fiz sinal ao garçom, pedi a conta e dali fui direto à biblioteca da cidade que
ficava poucos metros De onde eu estava. Em poucos minutos estava diante
daquele prédio imponente, tomado por uma sede que não era exatamente de
agua, ansiava descobrir, saber, conhecer.
Apos uma rápida orientação do bibliotecário
eu estava no corredor procurando os livros de Nietzsche. Peguei um dos
exemplares, na capa o titulo: Ecce Homme! Sem querer perder tempo com o

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que diziam sobre Nietzsche fui direto ao texto como quem está sedento e tem a
sua frente uma fonte de agua límpida.

Li algumas páginas, sem compreender muito bem, não era uma questão de
não conseguir decodificar, mas sim de não conseguir alcançar a grandiosidade
de pensamento daquele homem.
Passei o restante da tarde com aquele livro nas mãos, cada palavra, cada
frase eram como um golpe em minha existência, em poucas horas eu sangrava
com os golpes desferidos em minha carne. Em meio à vertigem me assolava
compreendi que devia ir embora, o termino do expediente da biblioteca
aproximava-se. Fechei o livro com tamanha dor que minhas pernas não
suportavam o peso de minha pequena existência.
Voltei para casa entre os transeuntes, eu não sentia nada além daquela dor
imensurável, ao chegar em casa nada mais me restava além de jogar meu
corpo em cima da cama e chorar copiosamente, como uma criança fracassada
que descobre a grandiosidade de seu pai, e se apequena perante ela.
Cinco, somente cinco anos mais tarde tive coragem novamente de abrir um
livro que trouxesse em sua capa o nome Nietzsche.
Compreendi naquele momento que precisava superar meus medos, que
deveria crescer. Me sentia mais forte para receber os golpes daquelas
palavras...
Já no primeiro livro quem me falava era um louco:

NARRADOR (Deus está morto)

Nunca ouviram falar do louco que acendia uma lanterna em pleno dia e
desatava a correr pela praça pública gritando sem cessar:

LOUCO

“Procuro Deus! Procuro Deus!” Mas como havia ali muitos daqueles que não
acreditam em Deus, o seu grito provocou grande riso. “Ter-se-á perdido como
uma criança” dizia um.
“Estará escondido?” Terá medo de nós? Terá embarcado? Terá emigrado?”
Assim gritavam e riam todos ao mesmo tempo. O louco saltou no meio deles e
trespassou-os com o olhar. “Para onde foi Deus?” Exclamou, é o que lhes vou
dizer. Matamo-lo... vocês e eu! Somos nós, nós todos, que somos seus
assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos isso? Como
conseguimos esvaziar o mar? Quem nos deu uma esponja para apagar o
horizonte inteiro?

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Que fizemos quando desprendemos a corrente que ligava esta terra ao sol?
Para onde vai ela agora? Para onde vamos nós próprios? Longe de todos os
sóis? Não estaremos incessantemente a cair? Para adiante, para trás, para o
lado, para todos os lados? Haverá ainda um acima, um abaixo? Não estaremos
errando através de um vazio infinito? Não sentiremos na face o sopro do
vazio? Não fará mais frio? Não aparecem sempre noites? Não será
preciso acender os candeeiros logo de manhã? Não ouvimos ainda nada do
barulho que fazem os coveiros que enterram Deus? Ainda não sentimos nada
da decomposição divina... ? Os deuses também se decompõem! Deus morreu!
Deus continua morto! E fomos nós que o matamos! Como haveremos de nos
consolar, nós, assassinos entre os assassinos! O que o mundo possui de mais
sagrado e de mais poderoso até hoje sangrou sob o nosso punhal. Quem nos
há de limpar desde sangue? Que água nos poderá lavar? Que expiações, que
jogo sagrado seremos forçados a inventar? A grandeza deste ato é demasiado
grande para nós. Não será preciso que nós próprios nos tornemos deuses
para, simplesmente, parecermos dignos dela? Nunca houve ação mais
grandiosa e, quaisquer que sejam, aqueles que poderão nascer depois de nós
pertencerão, por causa dela, a uma história mais elevada do que, até aqui,
nunca o foi qualquer história.

NARRADOR

O louco silenciou neste momento e olhou novamente para os seus ouvintes:


também eles se encontravam em silêncio e olhavam com estranhamento para
ele. Finalmente, ele lançou seu candeeiro ao chão, de modo que este se partiu
e apagou.

LOUCO

“Eu cheguei cedo demais, disse ele então, eu ainda não estou em sintonia com
o tempo. Este acontecimento extraordinário ainda está a caminho e
perambulando – ele ainda não penetrou nos ouvidos dos homens. O raio e a
tempestade precisam de tempo, a luz dos astros precisa de tempo, atos
precisam de tempo, mesmo depois de terem sido praticados, para serem vistos
e ouvidos. Este ato está para os homens mais distante do que o mais distante
dos astros: e, porém, eles o praticaram!”

NARRADOR

Conta-se ainda que o homem desvairado adentrou no mesmo dia várias igrejas
e entoou aí o seu Requiem aeternam deo. Acompanhado até a porta e
questionado energicamente, ele retrucava sem parar apenas o seguinte:

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LOUCO

“O que são ainda afinal estas igrejas, se não túmulos e mausoléus de Deus”.

NARRADOR (Vontade de potência)

Mas se deus está morto, o que rege movimenta o universo? A que deve o
homem seguir? A resposta? Sua vontade!

A questão é saber se consideramos a vontade como realmente eficiente, ou se


acreditamos na causalidade da vontade, se for assim — e no fundo é isso o
que implica nossa crença na causalidade — estamos obrigados a fazer esta
experiência, e colocá-la como hipótese, como uma causalidade da vontade.

A "vontade", naturalmente, não pode laborar mais que sobre uma "vontade" e
não sobre uma "matéria" (sobre os nervos, por exemplo), numa palavra, deve
chegar a colocar a proposição de que sempre que se constatam "efeitos"
devem-se à ação de uma vontade sobre outra vontade. Todo processo
mecânico, na medida em que é alimentado por uma força eficiente, revela
precisamente uma “vontade-força”. Suponho, finalmente, que se chegasse a
explicar toda nossa vida instintiva como o desenvolvimento da vontade — da
vontade de potência, é minha tese — teria adquirido o desejo de chamar a toda
energia, seja qual for, vontade de potência. O mundo visto por dentro,
definido e determinado por seu "caráter inteligível" seria — precisamente
“vontade de potência” e nada mais.

HOMEM 1

Hoje todos se permitem exprimir seus desejos, o seu mais caro pensamento:
vou, portanto, dizer, eu também, o que mais desejo hoje e qual foi o primeiro
pensamento que desejei realizar este ano; vou dizer qual é o pensamento que
deve tornar-se razão , a garantia e a doçura de toda a minha vida! É aprender
cada vez mais a ver o belo na necessidade das coisas: é assim que serei
sempre aqueles que tornam as coisas belas. Amor fati: seja esse de agora em
diante o meu amor.
Não quero fazer guerra ao feio. Não quero acusar, nem mesmo os acusadores
. Desviarei meu olhar – será essa, de agora em diante , a minha negação! E,
por fim, não quero , a partir de hoje, ser outra coisa senão alguém que diz sim!

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NARRADOR (O Ubermensch)

E que resultaria disto? Que se transformaria o homem que deve vazão à sua
vontade? Um homem já anunciara isto:

Chegando à cidade mais próxima, enterrada nos bosques, um encontrou uma


grande multidão na praça pública, porque estava anunciado o espetáculo de
um bailarino de corda. E ele falou assim ao povo:

ZARATUSTRA

“Eu vos anuncio o Super-homem”. “O homem é superável. Que fizestes para


o superar? Até agora todos os seres têm apresentado alguma coisa superior
a si mesmos; e vós, quereis o refluxo desse grande fluxo, preferís tornar ao
animal, em vez de superar o homem? Que é o macaco para o homem? Uma
irrisão ou uma dolorosa vergonha. Pois é o mesmo que deve ser o homem para
Super-homem: uma irrisão ou uma dolorosa vergonha.
Percorrestes o caminho que medeia do verme ao homem, e ainda em vós resta
muito do verme. Noutro tempo fostes macaco, e hoje o homem é ainda mais
macaco do que todos os macacos. Mesmo o mais sábio de todos vós não
passa de uma mistura híbrida de planta e de fantasma. Acaso vos disse eu que
vos torneis planta ou fantasma?
Eu anuncio-vos o Super-homem! O Super-homem é o sentido da terra. Diga a
vossa vontade: seja o Super-homem, o sentido da terra. Exorto-vos, meus
irmãos, a permanecer fiéis à terra e a não acreditar naqueles que vos falam de
esperanças supra-terrestres. São envenenadores, quer o saibam ou não.

São menosprezadores da vida, moribundos que estão, por sua vez,


envenenados, seres de quem a terra se encontra fatigada; vão-se por uma vez!
Noutros tempos, blasfemar contra Deus era a maior das blasfêmias; mas Deus
morreu, e com ele morreram tais blasfêmias. Agora, o mais espantoso é
blasfemar da terra, e ter em maior conta as entranhas do impenetrável do que
o sentido da terra.
Noutros tempos a alma olhava o corpo com desdém, e então nada havia
superior a esse desdém: queria a alma um corpo fraco, horrível, consumido de
fome!
Julgava deste modo libertar-se dele e da terra. Ó! Essa mesma alma era uma
alma fraca, horrível e consumida, e para ela era um deleite a crueldade!
Irmãos meus, dizei-me: que diz o vosso corpo da vossa alma? Não é a vossa
alma, pobreza, imundície e conformidade lastimosa?

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O homem é um rio turvo. É preciso ser um mar para, sem se toldar, receber um
rio turvo. Pois bem; eu vos anuncio o Super-homem; é ele esse mar; nele se
pode abismar o vosso grande menosprezo. Qual é a maior coisa que vos pode
acontecer? Que chegue a hora do grande menosprezo, a hora em que vos
enfastie a vossa própria felicidade, de igual forma que a vossa razão e a vossa
virtude. A hora em que digais: “Que importa a minha felicidade! É pobreza,
imundície e conformidade lastimosa. A minha felicidade, porém, deveria
justificar a própria existência!”
A hora em que digais: “Que importa minha razão! Anda atrás do saber como o
leão atrás do alimento. A minha razão é pobreza, imundície e conformidade
lastimosa!”
A hora em que digais: “Que importa a minha virtude? Ainda me não enervou.
Como estou farto do meu bem e do meu mal. Tudo isso é pobreza, imundície e
conformidade lastimosa!”
A hora em que digais: “Que importa a minha justiça?! Não vejo que eu seja
fogo e carvão! O justo, porém, é fogo e carvão!”
A hora em que digais: “Que importa a minha piedade? Não é a piedade a cruz
onde se crava aquele que ama os homens? Pois a minha piedade é uma
crucificação”.
Já falaste assim? Já gritaste assim? Ah! Não vos ter eu ouvido a falar assim!
Não são os vossos pecados, é a vossa parcimônia que clama ao céu! A vossa
mesquinhez até no pecado, isso é que clama ao céu!
Onde está, pois, o raio que vos lamba com a sua língua? Onde está o delírio
que é mister inocular-vos?
Vede; eu anuncio-vos o Super-homem: “É ele esse raio! É ele esse delírio!”

NARRADOR

Assim que Zaratustra disse isto, um da multidão exclamou: “Já ouvimos falar
demasiado do que dança na corda; mostra-o agora”. E toda a gente se riu do
homem. Mas o dançarino da corda, julgando que tais palavras eram com ele,
pôs-se a trabalhar.

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