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1 14 MIUON LAHUERTA

novo e autonomizado dos esquemas consagratórios do Estado Novo, só que suas


colocações,em face da conjuntura dramatizada e polarizada pela conflagração
mundial, foram evidentemente politizadas e lidas como uma exortação para que /
os escritores e/ou aprendizes de escritores se tornassem política e ideologicamente EDUCAÇÃOEPOLITICA NOSANOS20:
/
ativos. Wilson Martins, de forma simplista,chegaa afirmar que "Mário estava
A DESILUSÃO COM A REPUBLICA
pregando o novo evangelho do 'escritor comprometido', isto é, ideologicamente
ativista, mas literariamente tendencioso".õ4 E O ENTUSIASMO PELA EDUCAÇÃO
Em realidade,ainda que de maneira ambígua,e que, portanto presta-sea
múltiplas interpretações, creio não ser arbitrário dizer que Mário já antecipava o
que seria mo(!emo em termos de identidade intelectual no futuro: isolar-sena
"torre de marfim", não trair a condição de intelectual tentando se confundir com
a política. Moderno daí para diante seria, cada vez com maior nitidez, o intelectual
profissional, especialista, para quem pesam mais as instituições do que a vocação
pública e o sentido de missão.Mas, para que tal vaticínio se realizasseplenamente, MARRA MARCA CHAGAS DECARVALHO'
o país ainda teria que passar por outro surto de modernização conservadora.
Enquanto isso, a disponibilidade relativa da intelectualidade a manteria, com seus
traços difusamente anticapitalistas, nos marcos de uma problemática de Mle//@en
tsfa: buscando assimse aproximar do popular como forma de realizar o moderno,
radicalizando unilateralmente nessesentido a autocrítica que Mário havia feito
do modernismo. Portanto, entre intelectuais, ainda por mais três décadas, moder-
no serásinónimo de nacionalismo e de proximidade com a cultura popular.
Nesta minha fala farei um recorte bem delimitado, propondo-me a tratar do
tema a partir de trabalho que realizei, já há alguns anos, sobre a Associação
Brasileira de Educação (ABE).Justifico o recorte por sua pertinência ao tema cm
debate neste Seminário, visto que a ABE é apontada como principal instância de
articulação e propaganda do chamado movimento de renovação educacional, que
sedesenrolou no Brasil nos anos 20 e 30. Promovendo inquéritos, debates, cursos
e, especialmente, organizando congressosnacionais de educação, a ABE constitu-
iu-se, sem dúvida, na principal instância em que se gestaram as políticas educaci-
onais que se desencadearama partir de 1930.
Em outubro de 1924, um grupo de intelectuais funda, na EscolaPolitécnica
do Rio de Janeiro, a Associação Brasileira de Educação. Eram advogados,
médicos, professores e, principalmente, engenheiros que, desiludidos com a
República e convencidos de que na educação residia a solução dos problemas do
país, decidiram organizar uma ampla campanha pela ca sa ed cacfona/, propon'
do políticas, constituindo objetos e estratégias de intervenção e credenciando-se
a si mesmos como quadros intelectuais e técnicos de formulação e execução
destas.

64 MARTINS, W., op. cit. 1978, p.]78 l Professora da Faculdade de Educação USP São Paulo
MORTA MARIA CHAGAS DE CARVALHO A DÉCADA DE 1920 E AS ORIGENS DO BRASIL MODERNO 117
1 16

Inicio minha exposição partindo de uma fala de Lourenço Filho na sessãode ele uma das vertentes do processo de avaliação da República instituída encetado
abemirada Vll ConferênciaNacional de Educação,promovida pela ABE,em por intelectuais que, desiludidos, propunham-se a "republicanizar a República",
1935. Fazendo um balanço da campanha educacional até então desencadeada pela movendo-se nos interstícios de um programa liberal sintetizado no lema "repre-
Associação, Lourenço Filho rememorava: sentação e justiça" e de um prometonacionalista de "soerguimento moral da socieda-
de". Quando essasbandeiras confluem para propostas de disseminaçãoda instru-
Dez anos passados, nada abala nossa fé na educação, como instrumento indispen- ção popular como seu instrumento principal é que, segundoNagle, surgepropri-
sávelao progresso social do país .- Nações há que procuram resolver os problemas de amente o "entusiasmo pela educação" que teria, em síntese, a seguinte formulação:
eficiência, mesmo à custa das liberdades individuais. Outras, que preferem manter
todos os ditames de uma romântica liberdade individual, pereça embora a eficiência
a ignorância reinante é a causa de todas as crises; a educação do povo é a base da
Entre tais extremos, simplistas ambos e ambos perigosos, os estadistasmais avisados organização social, portanto o primeiro problema nacional; a difusão da instrução é
começam a compreender que "eficiência com liberdade" ou "liberdade com eficiên- a chave de todos os problemas sociais, económicos, políticos e outros.4
cia". só num cadinho se fundem -- e esseé o da educação. Dificuldades ou defeitos de
disciplina social e, portanto, de eficiência. Pemlrbações da eficiência -- baixa das
Nagle critica o "entusiasmo pela educação" como "percepção 'romântica' dos
condições de vida social e defeitos de disciplina. Liberdade e eficiência não represen'
tam, assim, no mundo de hoje, pontos de partida, nem aspirações românticas. Mas, problemas da sociedade brasileira e de suassoluções", que teria resultado em uma
ao contrário, têm que se apoiar em uma grande reforma de costumes,que ajuste os "superestimação do processo educacional", fruto de um deslocamento das "rela-
homensa novascondições e valoresde vida, pelapertinácia da obra de cultura, que a ções básicas da sociedade brasileira" para um "plano derivado". Exemplifica:
todas atividades impregne, dando sentido e direção à organização de cada povo.:
o fenómeno oligárquico era conhecido dos educadores, bem como as dificuldades da
A fala de Lourenço Filho dá conta, pensoeu, da abrangênciados propósitos situação económico-financeira e os empecilhos para o desenvolvimento de uma
e das práticas dos intelectuais aglutinados na ABE. Dá conta também da acentuada sociedade aberta. No entanto estes eram problemas derivados da incultura reinante
modernidade de seu programa, que investia na montagem de um aparelho escolar no país: as oligarquias só podem ser combatidas pelo esclarecimento que a educação
proporciona, pois elas se sustentamgraçasà ignorânciapopular; fruto da falta de
que assegurasse a organização da "nação" por meio da "organização da cultura patriotismo ou da cultura "prática" ou da formação técnica, as dificuldades económi-
Este investimento, centrado na escola, abrangia uma série de dispositivos capazes co-financeiras são eliminadas por vimide da educação, formadora do caráter e das
de ampliar o poder de influência desta instituição na sociedade,mantendo-o sob forças produtivas.5
controle. Entre eles, ressaltaa própria organização da ABE como instância de
propagação de um conjunto de convicções e de práticas capazesde organizar as Fruto dessa"percepçãoromântica" da sociedadebrasileira, o "entusiasmo
instituições escolares num sistemanacional e de modelar as práticas educativas. pela educação"ter-se-ia distinguido, segundoNagle, dos movimentos que Ihe
Mas a fala de Lourenço Filho é também elucidativa a respeito de um dos deram origem por ter-se autonomizado do referencial mais amplo que, naqueles
sentidos que assumiu, na ABE, este programa de "organização nacional através da movimentos, conformaram a valorização da educação.Isto teria dado origem à
organização da cultura". A representação da educação como cadinho em que se transformação de "um programa mais amplo de ação social num restrito programa
fundem liberdade e eficiência flexiona a "grande reforma de costumes" prevista de formação",expressoem propostasde aperfeiçoamento
e disseminação
da
no referido programa como reforma de recorte explicitamente moderno, destina- educaçãoescolar.' Esta transformação teria resultado em uma despolitizaçãodo
da a ajustar os "homens a novas condições e valores de vida". Reforma que, ao
definir liberdade como disciplina, evidencia-seprometomarcadamenteautoritário
republicano. Rio de Janeiro: Difel, 1977. t.2, v.3, p.261-91 (História Geral da Civilização
de conformação nacional.
Brasileira). Cf., também, NAGLE, J. Edznação e Sociectzdend Primeira Repúb/fm. 1. reimp.
Jorge Nagle situa o aparecimento da ABEno interior de um amplo movimento SãoPaulo, Rio de Janeiro: EPU-FundaçãoNacional de Material Escolar, 1976. p.97-124.
educacional-- o «entusiasmopela educação".' Tal movimento é consideradopor 4 NAGLE, op. cit., 1977, p.263.
5 Ibidem.
6 "0 entusiasmo pela educação e o otimismo pedagógico, que tão bem caracterizam a década
2 LOURENÇO FILHO, M. B. Discurso na aberturadaVllConferênciaNacionaldeEducação de vinte, começam por ser, no decênio anterior, uma atitude que se desenvolveu nas correntes
In: CONFERENCIANACIONAL DE EDUCAÇÃO,7, 1935, Rio de Janeiro.Anais-., Rio de de idéias e movimentos político-sociais e que consistia em atribuir importância cada vez
Janeiro: ABE, 1935. p.22. maior ao tema da instrução nos seus diversos níveis e tipos. Ê essainclusão sistemática dos
3 Cf. NAGLE, J. A educação na Primeira República. In; FAUSTO, B. (Org.) O Brdsl/ assuntoseducacionais nos programas de diferentes organizações que dará origem àquilo que,
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campo educacional, tendo-se restringido os temas da escolarização,segundo caso, de operar mecanismos de constituição e validação da campanha. A eficácia
Nagle, "a formulações puramente educacionais ou pedagógicas" desprovidas de da operação depende do funcionamento do discurso em que se articula, articu
qualquer vínculo com projetos políticos. Isto marcaria o advento do "técnico" em lando-se ele próprio como espéciede máquina que põe a funcionar, no seu campo
educação e a conseqüente segregação das formulações pedagógicas em um domí- retórico, fragmentos de outros campos discursivos, operando por alusõesque
nio especializado. constituem tais fragmentos significações consensuais de validação da causa edw-
Pretende-se aqui deslocar a interpretação de Nagle sobre o chamado "entu- cacfona/. Na operação, o discurso se move na pressuposição e como produção de
siasmo pela educação" dos anos 20, evidenciando-seo seu caráter político de um campo consensualque Ihe permite avançar. Se isto consiste numa estratégia
programa de constituição da nacionalidade. Para tanto, importa analisar os discursiva de tipo persuasivo que constitui a campanha justificando-a, atraindo-lhe
discursosque constituíram a educação como "grande problema nacional", refe- adeptos, dando-lhe coesão etc., é, ao mesmo tempo, uma operação que, ao fazê-lo,
rindo-os à sua situação particular de enunciação. Isto significa lê-los como práticas mistura signos de razões e crenças, resíduos teóricos, linguagens de temores e
cívicasde constituição da campanhaeducacionale de organizaçãoda ABE no esperanças,exemplos, imagens, prescrições, amalgamando tais formações discur-
período. Tal leitura permitirá afirmar que as referênciasà educaçãodesignam, sivas na constituição da ca sa ed cacloníz/.P
neles, um programa consistente de intervenção política no que era entendido Neste sentido, o enf sfasmo pe/a educação articulado na ABE é, sem dúvida,
como processode constituição da nacionalidade, programa a que se articulam as romântico, para recuperaraqui a crítica de Jorge Nagle, masseu romantismo não
propostas "especializadas" e aparentemente apolíticas de remodelação e restrutu- consiste primordialmente no efeito iludido e ilusório da representação, deslocada
ração escolar nos anos 20 e 30.
para um plano secundário, do que é essencial; antes, é o romantismo do projeto
As práticas discursivas das organizações cívico-nacionalistas da Primeira de unidade e unificação nele implícitas. O Pa/az/ródo vazio das proclamações
República têm merecido pouca atenção dos historiadores: palavrório vazio,
arremedo de ideologia a indicar a impotência política da burguesia.' No casoda
ABE, tal descasoconduz a que as alusões à importância da educaçãosejam e promovem, ao mesmo tempo, a comunidade de espírito, atraindo novos aderentes e
interpretadas apenas como expressão de convicção que, inventariando os proble fornecendo confirmação e firmeza aos veteranos"(p.46}. O trabalho, contudo, não avança
analiticamente na direção proposta por Scheffler. Incorpora sua indicação no sentido de
masnacionais,escalona-ostrazendopara o primeiro lugar, na ordem de impor- encaminhar a análiserejeitando uma avaliaçãoque considere estritamenteo sentido literal
tância, a questão educacional. veiculado pelos s/ogans, mas, a partir daí, encaminha-se, principalmente, no sentido de
Tais alusõesnão devem, entretanto, ser entendidas apenasliteralmente e como pensar os s/ogíznscomo dispositivos de atualização, no discurso educacional, de temas e
questões privilegiadamente presentes no debate cultural e político do período. Deste modo,
representação do real. Na prática cívica da ABE, as referências à "grande causada
a análise dos s/ogans em sua "pretensão prática", na expressão de Scheffler, implica, neste
educaçãonacional" funcionam como s/ogízns,no sentido definido por Scheffler: trabalho, referi-los ao contexto em que surgiram, mas não avalia-losno sentido proposto
"símbolos que unificam as idéias e atitudes chavesdo movimento".' Trata-se, no pelo autor. O que importará, aqui, é evidenciar que a referência à questão educacional
recobria uma gama variada de questõesnão qualificáveis como questõespedagógicasno
sentido estrito do termo. Pretende-sesustentar que, metamorfoseadase traduzidas em
na décadade vinte, estásendodenominadode entusiasmopela educaçãoe otimismo termos de um discurso pedagógico, firmavam-se posições de caráter político comprometidas
pedagógico. A passagemde uma para outra dessassituações não foi propriamente gerada com um tipo de estratégia para lidar com a chamada "questão social", posições essas
no interior desta corrente ou daquele movimento. Ao atribuírem importância ao processo comprometidas com a defesa de uma solução autoritária para os problemas brasileiros. Para
de escolarização, prepararam o terreno para que determinados intelectuais e 'educadores' isso, será necessário que o s/og zn-ffPo: "A educação é o grande problema nacional" não seja
principalmente os 'educadoresprofissionais' que aparecemnos anosvinte -- transformassem analisado como peça autónoma das formações discursivas nas quais foi articulado. Ao
um programa mais amplo de ação social num restrito programa de formação, no qual a contrário, implica que as imagens, argumentos, termos, questõesque de alguma forma
escolarização era concebida como a mais eficaz alavanca da História brasileira" (NAGLE, estiveram associadosa ele numa formação discursiva sejam incorporados na explicitação do
OP.cit., 1976,P.IO1:2). seu significado. Além disso, é a presença desse tipo de s/OEíznque nos servirá para a
7 Cf., por exemplo, CARONE, E. A Repúb/ícz Ve/ba Instituições e classessociais(1889 constituição de um corpus de análise específico no conjunto dos documentos examinados,
1930). 4.ed. Rio de Janeiro, SãoPaulo: Difel, 1978. v.l, p.162-77. c07Pus que denominamos discurso cít/fco (&z.4BE.
8 SCHEFFLER, 1. A /ffzguagem(&zed cação. Trad. Balthazar Barbosa Filho. São Paulo: 9 O discurso cívico, como discurso de função predominantemente emotiva e cujo fito principal
EDUSP,Saraiva,1974. p.46. Incorpora'se aqui a concepçãode Scheffler a respeitodo é a persuasão, é parasitário do imaginário do público a que se destina. Por isso, as imagens
funcionamento dos s/ogansno discurso educacional; "Em educação os s/ogíznsproporcionam que mais freqüentemente articula, a recorrência de certos termos, as alusõesque efetua
símbolos que unificam as idéias e atitudes chaves dos movimentos educacionais. Exprimem conotam uma zona consensualimplicada na adesãoao movimento educacional.
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cívicas que o articulam é estratégico e convém ao objetivo consensual de desen- seconstroem no discurso. As referências à obra educacional determinam-na como
cadearum amplo movimento cívico pela educação.E justamenteesteobjetivo -- reiterada operação de apagamento do presente e promessa de um futuro grandi-
central para os organizadores da ABE -- que é de certa forma expelido do que se oso. Nela, a figura de um brasileiro doente e indolente, apático e degenerado,
poderia chamar de campo educacional, numa perspectiva de análise como a de perdido na imensidão do território nacional -- Jeca Tatu,:: em cuja representação
Nagle. E este mesmo objetivo que permite relacionar, em especial, a desilusão com exemplar confluem determinismos cientificistas de várias ordens -- representa,
a República instituída e o entusiasmo pela educação. O amplo programa de anão alegoricamente,a realidade lastimada. Afirmar a importância da educaçãoera,
social incluía a mesmacampanhacívica, ela própria entendida como obra de muitas vezes, espéciede exorcismo de angústias alimentadas por doutrinas deter-
educação.Isto porque o termo educaçãojentendido como direção imprimida à ministas que, postulando efeitos nocivos do meio ambiente ou da raça, tornariam
infundadas as esperançasde progresso para o Brasil, país de mestiços sob o
sociedade por uma elite, abrangia o trabalho de construção e consolidação de uma
hegemonia cultural, processo este em curso na intensa mobilização cívica de que trópico.:: Esperava-se
superar o JecaTatu no trabalhador produtivo, tarefa da
se constituiu a campanha educacional. educação, concebida deterministicamente, como alteração do meio ambiente.
Tratava-se de introduzir, medindo pela ação de e/ires esc/arecfdaspela campanha
Não-explicitação de pressupostos e da particularidade dos procedimentos
educacional, um novo tipo de fator determinante no que era pensado como
discursivos; encenação metafórica de utopias como positividade desejável e de
processo necessário de colzstífnição do poz/o brasileiro: a educação.
perigos que ameaçam o presente como negatividade execrável; vazio mitológico
da referência do discurso e generalidade decorrente; signos emotivos de apelo ao Desta maneira, a campanha educacional tinha para os integrantes da ABE
destinatário; redundância e ênfase na apropriação assistemáticade vários códigos importância em si mesma, pois produzia uma taineana fempeznfurn mora/ que
- tais procedimentoscaracterizamo discurso cívico que, na prática da ABE, combatia o que era diagnosticado como sintoma principal: a pretextada incapa-
constitui a educaçãocomo o maior problema nacional. cidade das e/ires políticas brasileiras, indiferentes ou céticas quanto à necessidade,
Produzindo o efeito geral de uma norma da excelênciaà qual se subordina a à possibilidade e à eficácia de operar a regeneração do homem brasileiro. Por isso,
carência dos que nela não participam, massão instados a fazê-lo, o discurso cívico o discurso que se produz avançapor oposiçõesque constituem, pelo negativo, a
da Associação produz ciuismos: civismo de elfles idealistas e devoradas às causas importância do movimento educacional: pessimismo, desánfmo, mação, Uff/jfa-
nacionais; civismo do Fofo laborioso e ordeiro, dedicado à produção de riquezas
- civismos de que se esperaa abertura ao país dos caminhos que conduzam ao que
é entrevisto como progresso. 11 Cf. LOBATO, M. Àlr. S/ange o Brasa/e proa/emat/ffa/. São Paulo; Brasiliense,1950, p.256;
Como máquina persuasiva, o discurso cívico da ABE opera maniqueisticamen- "0 Brasil é um paísde doentesno sentido literal da expressão.A nossamiséria financeira e
económicaé o reflexo da desnutriçãoorgânica que converte a maioria dos nossoscontida
te, produzindo imagens de realidade brasileira que opositivamente se interquali-
duos em inúteis unidades sociais, incapazes de concorrer com a quota do seu esforço para o
ficam. O presente é reiteradamente condenado e lastimado, sendo caracterizado
aumento da riqueza comum. A nossaincapacidade militar é o resultado sintético da fraqueza
de modo a fundamentar temores de catástrofesiminentes, que atingiriam o país
física de uma enorme população rural estiolado pelos germes da moléstia. A nossa falta de
se a campanha educacional não obtivesse os resultados desejados. O futuro é energiamoral é o precipitado ético da deterioração cerebral e nervosade um povo inválido
insistentemente aludido como dependente de uma política educacional: futuro de Cf. também "Trajetória do JecaTabu" e "0 Jecae a divisão social do trabalho" in ESCOBAR,
glórias ou de pesadelos,na dependênciada ação condutora de uma e/ife que A. J. V. Po/ítfca e poder rre/7exõessobre os anos ufnle). São Paulo: Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas USP, 1984. (Mimeogr.)
direciona, pela educação,a transformação do país. Na oposição construída por
12 Cf., por exemplo, a obra de Carneiro Leão, em que o autor assinalaa "supremacia absoluta
imagens de um país presente lastimado e condenado e de um país futuro desejado,
da educação "sobre outros meios de progresso social", supremacia "sobre os fenómenos de
país de prosperidade, é que se constitui a importância da educação como espécie hereditariedade e condições mesológicas nas elaborações sociais" (LEÃO, C. A. Proa/amas
de chave mágica que viabilizaria a passagem do pesadelo para o sonho.:' Romper de educação.Rio de Janeiro; A. J. Castilho Editor, 1919). Também Vicente Licínio Cardoso
com a sociedade presente, transforma-la em passado, supera-la são operações que e Everardo Backeusermovem-senos quadros do determinismo, pela importância que
conferem à educação no equacionamento do "caso brasileiro". A respeito de Vicente Licínio
Cardoso. cf. TINOCO, M. M. C. de C. O pensízmenloe a .zf anãope(ügóglcade Wcen/e
10 A educação é, no imaginário dos integrantes da Associação, essacbaue mágica aludida, Lfcílzlo Cardoso.São Paulo, 1975. Dissertação(Mestrado) -- Faculdadede Educação,
panacéia miraculosa, mas chave que, não obstante, funciona no discurso como dispositivo Universidade de São Paulo. cf. também BACKEUSER, E. A esfmlara PO/ítícízdo Brasa/.Notas
prático, que faz girar os emperramentos e as aberturas, alternâncias de males do presente e prévias. Rio de Janeiro; Mendonça, Machado e Cia., 1926. Ao contrário de Licínio,
benesses do futuro. Backeuser é racista.
] 122 MARTA MARIA CHAGAS DE CARVALHO A DÉCADA DE 1920 E AS ORIGENS DO BRASIL MODERNO 12 3

rlsmo, ego&mo, descrençasão termos que dramatizam o mal, contra o qual se entendendo a ação das multidões na história como irrupção de forças sentimentais
prescrevea reação.Contribuíam para a encenaçãoideologias por vezesconflitan- fermentadas e dirigidas por idéias de uma e/ife condutora.:' Nisto não se afastava
tes que, sob este aspecto, amalgamaram-se no movimento educacional. Resíduos também de intelectuaisque, empenhadosem pensaro Brasfl com o recursoa
de positivismo e organicismo congraçavam-seaí com o catolicismo que ganhava modelos organicistas,tendiam a superestimara importância de elffes, pensando
força entre osintelectuais. sua organização como grupo e sua formação ideológica como constituição de um
O movimento católico, que se organizavasobretudo no Centro D. Vital, em cérebro dfrefor da transformação orgânica do país.zi
torno, principalmente, de Jackson de Figueiredo, postulava a missão das e/ires Articulando-se de modo a expressar temores, esperanças, impressões,inten-
católicasnuma campanha de reação idealista contra tudo o que era identificado ções, o discurso cívico da ABE constrói imagens da realidade brasileira sempre de
como tentativa de conturbação da ordem social: "a Revolução é nos seusprincí- forma a fornecer suporte aos sentimentosexpressos.Fala-seem crise, em borns
pios mesmos" -- ardia Jackson de Figueiredo -- "tão hostil, tão contrária à felicidade praz/Êsfmczs,
significando-se algum perigo enorme que ameaçada o país se a obra
humana, à vida em sociedade, que, para combatê-la, é necessário pregar-se não já de civismo da campanhaeducacionalnão prosseguisse.Produzindo efeitosde
a contra-revolução, mas o contrário da Revolução".IS Se esseradicalismo ultra- catástrofeiminente, o discurso referendava,tornando-a inevitável, a obra de
conservador tinha sua vigência confinada a alguns círculos católicos, a urgência constituição do poz/o brasileiro a que se propunham os intelectuais da ABE:
de uma reação pelo "progresso dentro da ordem" era firmada como convicção da 'Vitalizar pela educação e pela higiene" -- prescrevia Miguel Couto -- "toda essa
autodenominada "geração dos homens nascidos com a República", convencida gente reduzida pela vermina a meio-homem, a um terço de homem, a um quarto
que estavade que "em sociologia o caminho seguro para andar mais ligeiro é de homem" era a única "salvação".zz A incumbência de "dar consciência a esses
aquele que evita os desatinos das correrias revolucionárias perigosas e intempes- cidadãos" era alçada por Fernando Magalhães como tarefa sagrada a executar "à
tivas".:' O interesse de Jackson de Figueiredo em um movimento de reação das beira do abismo, ante o precipício".:;
e/ffes intelectuais brasileiras que se afirmasse como "fé na idealidade construtora, A representação privilegiada da crise que o discurso da ABE constantemente
na força do espírito",:s era largamente comungado por essesintelectuais: "Agite- teatraliza correspondeà figura do marasmo das e/ffes, cénicas,indiferentes,
mosa argila brasileira, com o sopro criador de nossasidéiase de nossascrenças' inativas; do podo, doente, improdutivo, viciado, vegetando na imensidãodo
era o imperativo demiúrgico que lançavam, em depoimento conjunto'' e que de território do país.Sea imagemde um marízsmoreferido às e/ffesincide critica
alguma forma ecoava na ABE, nos termos deste seu lema: "Se não é possível encher mente sobre atributos de ordem moral que a campanha educacional se incumbe
de gente sã o imenso território do Brasil, povoemo-lo de idéias sadias".i' Os ideais, de erradicar pela cobrança de uma atitude legível no apelo cívico que a caracteriza,
pregavaJackson de Figueiredo, "vivem de dois modos: conscientes num pequeno a imagem de um marasmo referido às populações brasileiras opera a própria
número de homens, como sentimento, como expressãodogmática, na maioria dos dissolução das representações de poz,o articuladas no discurso, diluindo-as em
indivíduos".:8 Fazer que os ideais de uma minoria impregnassema massacomo imagens que conotam seu caráter de matéria informe e plasmável pela ação
:pura força sentimental"tP era a missão que propunha aos católicos. Nisto não se educacional ideada. Essaoperação discursiva tem seu equivalente na desmesura
distanciava de outros intelectuais que, principalmente com Gustave Le Bon, da ambição da ABE, evidenciada num dos seus lemas de propaganda: "Ao cabo de
haviam recitado catecismo semelhante a respeito da "psicologia dos povos' um século de independência temos apenas habitantes no Brasil. Transformar esses
habitantesem povo é o programa da AssociaçãoBrasileira de Educação".z'

13 FIGUEIREDO, J. de. Co/umasde /OEO.Rio deJaneiro; Edição do Centro D. Vital Anuário 20 Gustave Le Bon é o autor mais citado nos discursos dos intelectuais sediados na Associação.
do Brasil, 1925. p.49-51 (Eduardo Prado, SérieA). Cf., especialmente, LE BON, G. Palco/agia (&zsm /ffdões. Rio de Janeiro: F. Briguiet e Cia.,
14 CARDOSO, V. L. et al. Prefácio. In: . (Org.) .4 margem (ü bisfó7'rada Repzíb/lc.z rideais, 1938
crenças e afirmaçõesJ. Inquérito por escritores da geração nascida com a República. Rio de 21 E o caso, especialmente, de Vicente Licínio Cardoso. Cf. TINOCO, op. cit., 1975, cap. ll.
Janeiro: Annuario do Brasil, 1924. p.15. 22 COUTO, M. No Bus// só bá nm proa/ema nacfona/ -- a educação do poz,o. Rio de Janeiro:
15 FIGUEIREDO, op. cit., 1925, p.50. Tip. Jornal do Comércio, 1927. p.14.
16 CARDOSO, op. cit., 1924, página de rosto. 23 MAGALHAES, F. Discurso de agradecimento às homenagens prestadas pela Universidade
17 Lema impresso em material de propaganda da ABE Arquivos da ABE, Rio de Janeiro. de Minas Gerais, em nome da Segunda Conferência Nacional de Educação. In: Àffnízs Gerais.
18 FIGUEIREDO, op. cit., 1925, p.50. órgão Oficial dosPoderesdo Estado.Belo Horizonte, 8 de novembrode 1928.
19 Ibidem.
24 Lema veiculado em material de propaganda. Arquivos da ABE, Rio de Janeiro.
124 MARCA MARCACHAGAS DE CARVALHO A DÉCADA DE 1920 E AS ORIGENS DO BRASIL MODERNO 12 5

Ativado pelo marasmoque tem equivalentessemânticosem imagensde A referência à doença, ocasião de exercícios de estilo, era freqüentemente
amorfia e doença, o discurso cívico da ABE propõe a terapêutica da nação, desejada indicativa de propósitos políticos que, no limite, propunham-sea sanear a
organismosão.Ao construir um modelo de análiseda ideologiaautoritária na sociedade extirpando os elementos considerados perturbadores de seu bom
Primeira República, Bolívar Lamounier examina algumas das concepções vincu- funcionamento, convertendo questões sociais e políticas em questões de higiene.
ladasao uso de metáforas organicistas por intelectuais brasileiros do período. Belisário Penna, sanitarista de larga circulação no meio educacional e figura de
Salienta a "conotação forte" do termo "organização" quando utilizado, por grande presençana Associação, acreditava, por exemplo, que, "saneados o corpo
exemplo, por Alberto Torres ou Oliveira Vianna, autores de enorme vigência na e o espírito da população", estapoderia "distinguir os bons dos maus,os capazes
ABE: "Trata-se de imprimir forma, de produzir estrutura e diferenciação funcional e os incapazes", aprendendo, com isso, a "escolher os seus dirigentes e impor-lhes
numa sociedade percebida como amorfa, amebóide".:S Esta foi uma das conota- um regimede ordem,com plenaliberdadede pensamento,
de críticae de
çõesdo termo ozgamfzação, de larga circulaçãono movimento educacional.A fiscalização", regime que era considerado "a melhor garantia da boa gestãodos
encenaçãode uma catástrofeiminente a rondar o país teve suporte na nação negócios públicos e da conveniente solução dos problemas de interesse coletivo".:;
concebida como organismo em estágio de indiferenciação funcional e amorfia. Belisário Pennaprescrevia a higiene como medida de proteção do "organismo
Constituir o país como nação, orgíznfzá-/o,era tarefa de e/ires, pensadascomo individual e coletivo" porque ensinaria"a modificar ou a removere eliminar de
cérebro que dirige o desenvolvimento orgânico. Ao analisar o modo como a qualquer ambienteas causasque nos debilitam".29
metáfora organicista dá conta da transformação e da mudança social, Lamounier
Medidas higienistas do tipo aludido não eram explícita e generalizadamente
enfatiza também a importância concedida ao controle desseprocesso: "A mudança
defendidas no círculo da ABE. A concepção de higiene que nele dominou, contudo,
tem como finalidade a produção da forma a qual exige como primeiro requisito
era utilizada de modo a designar medidas de construção de um "meio social"
a constituição de um cérebro, de um centro coordenador". Impulsionando e dire
favorável ao desenvolvimento físico, intelectual e moral dos indivíduos, inspiradas
cionando a transformação orgânico-vitalista, salvaria o país "do processo de de-
na convicção de que existiriam "desvios mais graves a evitar do que o da coluna
generescência
ou pelo menosdo amorfismo invertebrado que o caracterizaria".:ú
vertebral".30A inexistência de fronteiras nítidas entre a ação higienista, assim
Condensando os males do Brasil na metáfora de um brasileiro doente e concebida, e a educação, pensada também no horizonte intelectual do determi-
indolente e as esperanças de erradicação dessesmales na ação de uma e/ile dotada nismo como alteração do meio ambiente, permite que a metaforizaçãoda ação
de poderes demiúrgicos, o discurso cívico da ABE é intervenção profilática erigin- educacional em obra de saneamento seja procedimento discursivo de grande
do a questão sanitária em metáfora da situação nacional e a obra de educação em eficácia descritiva das expectativas que os intelectuais enganadosna ABE nutriam
obra de saneamento. Na já aludida conferência de Miguel Couto na ABE, em 1927, com relaçãoà educação.
a ignorância é caracterizadacomo "calamidade pública" equivalente à "guerra",
à "peste", a "cataclismos"; a falta de educação é comparada ao "câncer que tem A similaridade entre a campanha educacional promovida pela ABEe a prática
a volúpia da tortura de corroer célula a célula, fibra por fibra, inexoravelmente, cívica das organizações nacionalistas do período não foi registrada na historiogra-
o organismo", levando a nação à "subalternidade e à degenerescência".z' fia educacional. Nagle insiste na importância das organizações nacionalistas na
origem do "entusiasmo pela educação", mas dissocia os dois movimentos ao
A inegável gravidade da questão sanitária no país reforçava o poder persuasivo afirmar uma autonomizaçãodo campo educacional. Com isto, é subestimadoo
da propaganda educacional. Além disso, a metáfora sanitária é recurso retórico papel organizador da prática cívica na constituição de espaços de atuação consen
de grande eficiência sensibilizadora: a imagem negativa e um tanto abstrata da sual não somente no interior de cada uma dessasorganizações, mas também no
ausênciade educação é substituída, com vantagem, pela imagem concretizante da espaçode sua confluência. Com isto também é minimizada a grande circulação
doença que induz a imaginação do ouvinte a visualizar, no horror análogo do que tiveram no período as imagens da doença, do vício, da falta de caráter, da
câncer ou da degenerescência física, os malefícios da situação educacional do país.

28 PENNA, B. Solução de um problema vital. In: ALBERTO, A. A. et al. A esmo/a


regfona/de
25 LAMOUNIER, B. Formação de um pensamento político autoritário na Primeira República. Mlerfff. Rio de Janeiro: CBPN/INEP, 1968. p.72.
Uma interpretação. In: FAUSTO,op. cit., 1977, t.lll, v.2, p.362. 29 Ibidem, p.72.
26 Ibidem, p.363. 30 OLIVEIRA, C. A. B. de. Depoimento ao inquérito O proa/ema brasa/eira(ü esmo/aseculz(a-
27 COUTO,op. cit., 1927,p.31. rfa. Rio de Janeiro: ABE, 1929. p.107.
MORTA MARIA CHAGAS DE CARVALHO A DÉCADA DE 1920 E AS ORIGENS DO BRASIL MODERNO 12 7
126

amorfia, capturadas como indícios de passividade das populações brasileiras. O tais e/ÍZespara unificar, disciplinar, moralizar, homogeneizare hierarquizar as
papel dessegênero de figuração na produção de ideologias autoritárias tem sido populações brasileiras, com vistas à efetivação de um particular prometode
destacado por estudiosos.n A circulação dessas imagens no movimento educaci- sociedade. O elz/usfasmo pe/a ed cação produzido na ABE soma de receios,
onal não tem sido, contudo, suficientementeregistrada e explorada. esperançasc vagas convicções teóricas posta a funcionar na máquina do discurso
As referênciasà causaedwcacfona/na prática cívica da ABE,tal como foi cívico - arquitetava uma utopia: a de um país no qual brasileiros saneados,

sucintamente descrita aqui, articulam imagens que compõem uma concepção de educados c laboriosos se juntariam nas cidades e nos campos também saneados,
sociedadeem que a amorfia atribuída às populaçõesbrasileirasdá a exata moralizadose produtivos. Saúde,mora/ e fraga/bo compunham o trinâmio sobre
dimensãodo que é sua contrapartida indissociável:o papel atribuído a e/ífes na o qual se deveria assentar a educação do poz,o.

direção política dos processosde transformação social. As referênciasà educaçãono discurso da ABEentrelaçam os três elementos
Este papel diretor impregna as propostas de organização do sistema escolar do trinâmio de forma indissociável.Nas tesesapresentadas
às Conferências,os
defendidascomo fasesnas Conferências Nacionais e nos inquéritos que a ABE temas relativos à educação moral e sanitária são os mais freqüentes. Nelas se monta
promoveu. Torna compreensívela relevância que tem o tema relativo à função um jogo de espelhos:hábitos saudáveismoralizam; uma vida virtuosa é saudável;
formativa da escola secundária pensada como agência de constituição, homoge- moralidade e saúdesão condição e decorrência de hábitos de trabalho; uma vida
neização e disseminação de uma cn/t ra média. Explica a posição estratégica da laboriosa é uma vida essencialmentemoral e saudável etc. Nesse espelhamento, o
questão da formação dos professores da escola primária, pensados como "orga- trabalho aparece como síntese da sociedade que se pretende instaurar. Sinónimo
nizadoresda alma popular". E, finalmente, esclarecea concepçãode ensino de vitalidade, o trabalho é o elemento ausente na deplorada situação que se quer
universitário do grupo de Vicente Licínio Cardoso, nucleado na Seçãodo Ensino reverter. As encenaçõesda amorfia nacional, rebatidas nas imagensde um Jeca
Superior do departamento carioca da ABE, que propunha a Universidade como Tabu indolente e doentio, perdido nos sertões, capturam referênciasa uma
usina mental" em que deveriam formular-se "programas de vida" para a nação. população citadina resistente ao que era entendido como "trabalho metódico,
Na conjunção dessaspropostas, possibilita compreender a permanência de uma adequado,remunerador e salutar", constituindo como imigrantes a "fermentar de
rígida demarcação entre dois universos: o relativo à chamada "educação de elite" anarquia" o "caráter nacional" ou como escravos libertos e seus descendentes,
e o destinadoà "educaçãodo povo", assegurando-se
prioridadeestratégica
ao dissolvidos na "vadiagem" porque "não adestradas nas imposições da liberdade
primeiro.
'Organizar o trabalho" no país era a fórmula que condensava as expectativas
Assegurara efetividade da direção política nas mãos de uma e/ife não era de modernização e controle social depositadas na educação. Freqüentemente
questão consignada apenas à estruturação formal do aparelho escolar. Dependia
tematizada no discurso da ABE, a fórmula é sempre referida como questão
do controle político efetivo deste, questãoque estavaem jogo no movimento
incontroversa cuja estrita nomeação funciona como argumento irrecusável na
educacional, na organização dos intelectuais aglutinados em torno da causa
defesa da importância da educação. Sua nomeação implica, contudo, conotações
educado/za/, especialmente através das Conferências Nacionais. E por isso, espe'
diversas em diferentes situações de uso. Referida à escola, designa medidas de
cialmente, que o alcance político das propostas que circularam na ABE não pode
racionalização do trabalho escolar segundo o modelo da fábrica. Referida ao país,
ser medido fazendo-se abstração da prática em que se articularam. Estava em curso
no movimento, como dizia um participante da SegundaConferência, um "traba- designaum conjunto de dispositivosde distribuição, integração,dinamização,
disciplinarizaçãoe hierarquização das populações.Nesta acepção,remete a três
lho de unificação pela cultura real dos espíritos".3z
questões nucleares para os entusiastas da educação sediados na ABE: podia
A amorfia atribuída ao poro brasileiro não dimensiona, apenas,o papel designar o funcionamento proposto para o sistema escolar na hierarquização dos
diretor atribuído a e/ires mas,com ele, o próprio espaçodelineadopara a ação papéis sociais formando e/ffes d/reforas e Fofo dfrzgfdo; podia estar referida a uma
educacional. Obra de moldagem, a educação era o instrumento com que contavam política de distribuição racfona/ da população entre campo e cidade, fazendo da
Escola Regional um instrumento de contenção do processo migratório para os
centros urbanos; ou, finalmente, podia designar um conjunto de dispositivos
3 1 Cf., por exemplo, ROMANO, R. A fantasmagoria orgânica. In: . Corpo e crfsfa/: Marx
romântico. Rio de Janeiro: Guanabara,1985. Cf. também LAMOUNIER, op. cit., 1977. escolarese paraescolaresde disciplinarização das populações. Nesta última acep
32 BARROS, J. de. Anais da SegundaConferência. In: Minas Gerízfs.Orgão Oficial dos Poderes ção, correspondia ao que era proposto como educação fnfegra/, por oposição à
do Estado.Belo Horizonte, novembro de 1928. ffzsfrzíç'iopzzrae slmp/es, a?ma perigosa, cuja disseminação não era bem vista na
12 8 MARTA MARIA CHAGAS DE CARVALHO
A DECADADE 1920 E AS ORIGENS
DO BRASILMODERNO 129

ABE. Na confluência dessasacepções, designava dispositivos de integração da


a "discernir no ambiente que a cerca, nas coisas mais simples e aparentemente
populaçãonum corPOsacia/,constituindo a nação. mais banais assim como na solidariedade humana, todo o tesouro de beleza que
Os intelectuais aglutinados na ABE partilhavam a convicção de que não cabia encerram, elevando asalmas e enobrecendo a vida".3s Educaçãodos sentimentos,
"ao analfabetismoa culpa do atraso, do desgoverno,da anarquia c dos muitos dos gestos, do corpo e da mente, assim se diferenciava a educação preconizada --
males" que afligiriam o país. Antes, acreditavam, eram mais "nocivas, culpáveis e capaz de "transformar cada indivíduo em fator social útil, de eleva-lo moralmente,
condenáveis as elites mal preparadas que nos governam e as legiões sempre de fornecer-lhe melhores elementos de conforto e felicidade" da "instrução pura
crescentesde semi-alfabetosque as sustentam".s3 Censuravam, portanto, a avali- e simples", arma perigosa.
ação dos empecilhos à consolidação da República que fazia residir na ausência de
A educação cívica, amplamente forjada por rituais de constituição de corpos
instrução ou no analfabetismo a razão dos males nacionais. Operava'se, assim, um
saudáveise de mentese coraçõesdisciplinados,era recurso para evitar que a
deslocamento na equação dfÉasão do ensino = canso/ilação (Zz Repzíbllca. Sua
educação, arma perigosa, viesse a ser fator de desestabilização social. SÓ uma
pertinência era condicionada à qualidade do ensino ministrado. A "instrução pura
'educação integral" era garantia do "trabalho metódico, adequado, remunerador
e simples" era vista como "uma arma" que era, "como toda arma, perigosa
e salutar", de "disciplina conscientee voluntária e não apenasautomáticae
Coloca-la nas mãos da população requeria medidas que preparassemquem a
apavorada", como também da "ordem sem necessidadedo emprego da força e de
recebesse"para maneja-la benfazejamente para si e para os outros"." Tais medidas
medidas restritivas à liberdade"." Por isso, Heitor Lyra da Salvapodia falar em
deveriam garantir que a população aprendessea "viver mais racionalmente, nome da ABE:
ajudando a sanearo meio e conhecendoos recursosde higiene individual e
coletiva"; a "executar um trabalho maiseficiente e portanto mais remunerador
Creio interpretar a maioria senão a totalidade dizendo que não temos o fetichismo
da alfabetização intensiva e que estamos convictos, salvo pequenas divergências secun
dirias, de que o levantamento do nível popular tem que repousar sobre tríplice base:
33 SODRE, A. A. de A. O proa/ema da ed cação lzaclofza/. Rio de Janeiro; Tip. Jornal do
moral, higiénica e económica, o que significa que sem a cultura dasqualidades do caráter,
Comércio, 1926. p.27. sem a melhoria das condições de saúde da massa da população e sem uma racional
34 "Estamos,aqui, felizmente emancipadosdo preconceito de que o mero conhecimento da
organização do trabalho é utopia esperar que a alfabetização rápida e quase instante
leitura, da escrita e das contas, possui vimides intrínsecas, capazesde transformar cada nca, se possível, viessea transformar para o bem as atuais condições de nosso país.37
indivíduo em fator social útil, de eleva-lo moralmente, de fornecer-lhe melhores elementos
de conforto e felicidade. Sabanos, ao contrário, que a instrução pura e simples é uma arma,
e como toda arma, perigosa. Sabanos que incumbe a quem a entrega, o dever estrito de O tema da organização do frab.z/bo frcqüentemente constava processos
preparar quem a recebe para maneja-la benfazejamente,para si e para os outros". Esta tayloristas de racionalização do trabalho industrial. Propunha-se que a escola
afirmação faz parte de um discurso proferido por Heitor Lyra a 22 de abril de 1925, por organizasse
a atividadedo aluno em moldes fabris: "No momentoem que o
ocasião do lançamento da pedra fundamental do edifício da Escola Regional de Menti, mundo proclama métodos de organização do trabalho como fator essencialde
iniciativa de educação popular nos subúrbios do Rio na qual estiveram empenhados vários
prosperidade económica", o engenheiro Barbosa de Oliveira queria que a escola
sócios fundadores da Associação (Cf. SILVA, H. L. da. Missão educacional. In; ALBERTO,
et al., op. cit., 1968, p.65). Compare'se a afirmação de feitor Lyra com a de Levi Carneiros
desseaos alunos "desde os primeiros passos... uma diretriz segura para a
"Nem basta cuidar do ensino primário. Reconhecidamente,ele, por si só, nada vale, ou 'racionalização' unanimemente prescrita em todos os ramos da atividade huma-
pouco vale, ou é talvez nocivo em certos casos.A velha crença na eficácia do ensino primário na", guiando sua liberdade para que o "máximo de frutos" fosse "obtido por um
não foi destruída senão corrigida. As observações mais recentes confirmam o que se fez em mínimo de tempo e esforço perdidos".3s
NovaYork: 65% dos criminosos acabaram o curso primário, mas só o curso primário. Assim,
em relação ao ensino profissional, teríamos ainda, apenaspara exemplificar, a criação de
b reanx de orientação da vocação, e a educaçãodoméstica; quanto ao ensino cívico, as 35 SALVA, op. cit., 1968, p.65
conferências, as excursões, as publicações, as festividades comemorativas; quanto ao ensino 36 PENNA, op. cit., 1968, p.69.
secundário e superior, a sua inadiável remodelação; enfim, a iniciação da alta cultura, o 37 SILVA, H. L. da. Discurso pronunciado na Associação Brasileira de Educação. In: OLIVEI-
estímulo dos estudos superiores, de que carecemos tanto como do ensino primário, e tão RA, C. A. B. de. (Org.) /n memorlamHei/or l.yra da Sf/z,.z.
Rio de Janeiro; Mendonça,
necessário, como este, para que uma nacionalidade se mantenha e se afirme". Cf. CARNEI- Machado &: Cia., s. d. p.232.
RO, L. F. A primeira coisa a fazer. Á Educam'io(Revista Mensal Dedicada à Defesa da 38 OLIVEIRA, C. A. B. de. A escola regional nos seus aspectos urbano, rural, marítimo e fluvial.
Instrucção no Brasil) (Rlo de/aneflo), v-X, n.7-8, jul./ago. 1925 (Número Especial Dedicado In: VV. AA. A asco/aregfona/.Rio de Janeiro; Biblioteca da AssociaçãoBrasileira de
à "Associação Brasileira de Educação"). Educação, Imprensa Nacional, 1931. p.21.
130 MARTA MARCA CHAGAS DE CARVALHO
A DECADA DE 1920 E AS ORIGENS DO BRASIL MODERNO 13 1

Não era, entretanto, esta a única acepçãodo tema organizaçãodo frnbcz/óo. As referências ao tema da "organização do trabalho", nesta acepção, freqüen-
Para Vicente Licínio Cardoso -- e, provavelmente,para muitos outros de sua temente remetiam a questões de distribuição e fixação das populações. Ao registro
geração, dado o seu prestígio intelectual no período, a questão da organização do de Licínio sobre os fluxos contínuos do "elemento rural emancipado para os bairros
trabalho remetia ao problema da transição do trabalho escravopara o trabalho fabris das grandescapitais" somam-sevários, em que o perfil da cidade é delineado
livre. Colocada nestestermos, era condição inarredável do processode consoli como espaço invadido pelo migrante -- preponderantemente os libertos e os seus
dação da República. descendentes -- que, como "vadio", estava a exigir intervenção disciplinadora.
Revendo a historiografia estabelecidasobre o advento do regime republicano, Referências constantes ao "congestionamento das cidades", ao "pauperismo urba
Vigente Licínio Cardoso nela criticava a desconsideração"dos fenómenos no com seusperniciosos efeitos" têm como contrapartida uma nostalgia romântica
sociais e económicos postos em jogo com a emancipação dos escravos".39No da vida rural, prenhe "das virtudes higiênicas do asseio, da temperança, da labo-
seu entender, tal desconsideração não somente impedia a compreensão ade riosidade".'z A escolaregionalizada, funcionando como força centrípeta em sua
quada do processoque tinha conduzido à proclamaçãocomo também induzia a vizinhança, como instrumento de "incorporação da massasertanejaàs partes vivas
uma percepção equivocada dos problemas que marravama efetiva republicaniza- e ativasdo corpo social" condensava muitas das expectativas de redenção nacional
ção do país. pela educação. Emprestada da astronomia, a metáfora as explicitava como
Entendendo "democracia" como "organização do trabalho livre" e "Repúbli-
ca" como "forma política dessaorganização",VicenteLicínio Cardosofazia deslumbrante perspectiva de vermos concluída, a breve prazo, a condensaçãoda
nebulosa demográfica brasileira para dar lugar a um sistema de núcleos em harmoniosa
equivaler a "republicanização do país" à "organização do trabalho". A equivalên- gravitação social e política em que se congreguem populações laboriosas, cultas,
cia era referendadapor uma avaliação de que ainda era sensívelo impacto da animadas dos mais altos ideais.43
Abolição. A emancipação dos escravosteria complicado, "sem resolver, a solução
da economia do país, criando, além da complexidade do problema económico A utopia deste "sistema de núcleos em harmoniosa gravitação" opunha-se o
agrícola (campónios sem instrução e sem máquinas) a gravidade do problema pesadelo de fluxos de população ameaçadoramente errantes, porque miseráveis e
doentes:
industrial urbano num país de capitais pequenosde um lado e, de outro, de
recursos frouxíssimos em ferro e carvão".40Desorganizada a economia rural com
3/4 dos brasileiros vegetam miseravelmente nos latifúndios e nas'favelas da cidade.
a Abolição, teria havido "um verdadeiro êxodo dos emancipadospara os centros
pobres párias que no país de nascimento perambülam como mendigos estranhos,
urbanos", determinando a "oferta do braço operário barato". Disto teria decor- expatriados na sua própria pátria, quais avesde arribação de região em região, de
rido "umaorganizaçãoindustrialurbanaartificial", fruto de política protecionista cidade em cidade, de fazenda em fazenda, desnutridos, esfarrapados, famintos,
que acabavapor funcionar como "uma válvula de descargaaberta, atraindo ferreteados com a preguiça verminótica, a anemia palustre, as mutilações da lepra
continuamente o elemento rural emancipado para os bairros fabris das grandes difundindo sem peias estes males,

capitais". Crescimentourbano desordenadoe encarecimentoda vida nas cidades


denunciava Belisário Penna.440 espetáculo da miséria e da doença dessaspo
seriam os efeitos mais tangíveis de um processo de transição inadequado da
pulaçõeserrantes é descrito com minudente horror pelo jornalista Crispim Mira
economia agrícola fundada na escravidão para a "fase industrial do operário
urbano livre": "Sem capitais fáceis como a Fiança e a Inglaterra, sem o artifício O comboio que faz o percurso de Maceió a Natal ... é assaltado em cada estaçãopor
técnico em abundância como a Alemanha e outros países, sem carvão na medida mendigos horrendos. Uns são tuberculosos, outros paralíticos, outros trazem
de suasnecessidades e sema indústria de ferro organizada",o Brasil, como a cancros na boca, nos olhos, nas faces. Há os que são dos pés à cabeça uma chaga
Rússia,"não podia resolver com facilidade o problema gravíssimoda transição nauseabunda.Há os que tremem, os que se sacodeminterminavelmente, atirando a
agrícola, baseadana escravidão do campónio, para a fase industrial do operário cabeçapara um e para outro lado, batendo os maxilares, gaguejando, acotovelando-se,
urbano livre". Como na Rússia, no Brasil haveria apenas "o braço operário barato
mas com o inconveniente da falta de instrução".'' 42 A expressão é de Belisário Penna.
43 Documento de propaganda da IV Conferência Nacional de Educação.Arquivos da ABE, Rio
de Janeiro.
39 CARDOSO, op. cit., 1924, p.331 44 PENNA, B. A educaçãorural -- o problema brasileiro e sua enorme importância social e
40 Ibidem, p.332. económica. In; VV. AA. A esmo/aregfona/. Rio deJaneiro; Biblioteca da AssociaçãoBrasileira
41 Ibidem.
de Educação, Imprensa Nacional, 1 931. p.57.
1 32
MARTA MARCA CHAGAS DE CARVALHO

grunhindo, gemendo,implorando, estendendoo chapéuesfrangalhadopelaportinho


la do vagão.4'

A fixação das populaçõesno campo cra o antídoto largamentereceitado


contra o que o médico Fernando Magalhãeschamava de "distribuição humana
desordenada". Deter os fluxos populacionais que invadiam as grandes cidades,
nuclear aspopulações rurais em comunidades devidamente higienizadas e educa-
das com o concurso imprescindível da escola era, para muitos, o cerne do
programa de redenção nacional pela educação. Belisário Penna, por exemplo,
propunha uma "política agro-sanitária, colonizadora e educadora" que, extinguin-
do o latifúndio e incrementando a pequena propriedade familiar, apresentava-se
como um programa de "ressurreição agrícola do país"- Tratava-se, no seu enten-
der, de uma política de "valorização" do homem pelo "vigor físico resultante do
gozo do trabalho em terra própria, com esclarecimento da inteligência pela instru-
ção e educação".'õ A vida rural é representada como fonte de vitalidade, morali-
dade e patriotismo; o papel principal da escoladeve ser o de cultivar essegênero
de vida, prenhe de lições educativas, que conduz à "prática das virtudes higiênicas
do asseio,da temperança, da laboriosidade e do conveniente aproveitamento e
uso dos elementosnaturais e essenciaisà vida -- a terra, a água, o ar e o sol".47
Como encenaçãourbana do campo subordinadaao interessede conter a
migração para as cidades, propostas como a de Belisário Penna eram pro)etos de
organizaçãodo trabalho" voltados à fixação e à distribuição daspopulações.A
nostalgia romântica da sociedadeagrária que figuram é, mais que um programa
de "ressurreição agrícola do país", a utopia de um "corpo social" que, como na
metáfora emprestada da astronomia, funcionasse como "sistema de núcleos em
harmoniosa gravitação social". Era a contrapartida utópica do pesadelo dissecado
por Vicente Licínio Cardoso,para quem o paísera um aglomeradode "poeiras
humanas sem consciência ainda dos seus próprios destinos", um "mundo social
em formação", uma "nacionalidade em ser",'* faltando-lhe

coesão, densidade social ... peças de ligação imprescindíveis, tecidos sociais


económicos fundamentais ... órgãos aparelhados que pudessem facilitar a unidade
nacional almejada de um organismo de flexibilidade social escassa,perdendo energias
-- já de si mal cultivadasem atritos e resistências
passivasformidáveis."

45 MIRA. C. Através de revistas e jornais. Educação (S.io Pau/o), Órgão da Diretoria Geral da
Instrução Pública e da Sociedade de Educação de São Paulo, v.lll, n.l, jan. 1928.
46 PENNA, op. cit., 1931, p.58.
47 Ibidem, p.52.
48 CARDOSO, y. L. A margem da blslórfa do Brczsf/.SãoPaulo: Companhia Editora Nacional,
1933. P.187; CARDOSO, V. L. Pefzsamenfosamerlca/zos.Rio de Janeiro: Est. Gráfico Praça
Cruz Vermelha, 1937. p.178 e 218.
49 CARDOSO. V. L. Pensamentosbrasileiros. Rio de Janeiro: Annuario do Brasil, 1924. p.88

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