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Memória é Luta!
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Boletim do Núcleo de Pesquisa Marques da Costa . Ano VII . No21 . Outubro de 2011
Caixa Postal 14576 . CEP.: 22410-971 . Rio de Janeiro . RJ . emece1924@yahoo.com.br . http://marquesdacosta.wordpress.com
A GUERRA SOCIAL
IMPRENSA, SINDICALISMO E MILITÂNCIA LIBERTÁRIA (1911-1912)
revolucionários sindicalistas não haveria ou- ilustres na propaganda libertária no Brasil e
tra forma para se chegar ao socialismo em na América Latina como Neno Vasco, Manoel
uma sociedade modernamente urbanizada e Moscoso, Ernesto Herrera, José Cordeiro,
industrializada. Polydoro Santos, Leão Aymoré e outros. Sua
forma de distribuição era de vendas avulsas
As idéias anarquistas ganhavam cada vez mais
ou assinaturas. O jornal fazia questão de
espaço no seio da sociedade, principalmente
anunciar que a sua circulação dependia única
através da imprensa, que foi o meio utilizado
e exclusivamente dos próprios trabalhadores,
pelos anarquistas para a difusão de seus ideais
e que esses também poderiam contribuir para
libertários.
sua divulgação. Já na primeira edição o jornal
A partir de 29 de junho de 1911, é lançado deixa claro que:
no Rio de Janeiro o periódico anarquista A
“O melhor processo para que A Guerra Social
Guerra Social, criado por um grupo de mili-
chegue a ter uma larga circulação, é cada um
tantes anarquistas que tinha o mesmo nome
dos nossos camaradas, que a recebem, conseguir
do jornal. Este periódico serviu de veículo
arranjar-nos assignantes. Supondo que sejam
de ação revolucionária dos trabalhadores na
2.000 o número daquelles a quem mandamos
Capital Federal da República. O jornal teve
o jornal e que cada um nos mande uma lista de
seu último exemplar em 16 de outubro de
A cidade do Rio de Janeiro em meados do 5 assignantes [...]”2
1912, que foi o de número 32. No período de
século XIX passava por grandes transforma-
um pouco mais de 15 meses em que o jornal Outra forma de levantar fundos em prol do
ções sociais, sendo as principais a transição
esteve em circulação, contribuiu muito para Guerra Social era a organização de festas em
de mão-de-obra escrava para assalariada,
classe de trabalhadores de sua época, sendo forma de quermesses, que contavam sempre
o aumento demográfico, as mudanças na
um dos mais importantes meios de propa- com a presença e a colaboração dos ope-
paisagem urbana, etc. Sendo assim, houve
ganda operária no Rio de Janeiro. rários. As festas também eram uma forma
um considerável aumento no seu mercado
de difundir os ideais libertários, pois em tais
consumidor de produtos industrializados, A proposta do jornal era circular semanal-
eventos eram apresentadas peças de teatros
com destaque para as indústrias têxtil, de mente, mas os primeiros exemplares foram
de autores anarquistas:
calçados, móveis, vestuários, alimentos e da quinzenais. Só foi possível cumprir o que
construção civil. estava previsto a partir de 3 de fevereiro “Um grupo de companheiros de São Paulo está
de 1912. “[...]a Guerra Social pulicar-se-a organizando uma festa de propaganda, que será
A maior parte desta população de trabalhado-
semanalmente; entretanto os seus primeiros ali realizada dentro de um mez, em beneficio da
res era migrante das áreas rurais e imigrantes
números apparecerão quinzenalmente, até que Guerra Social”. Serão apresentados o bello drama
estrangeiros, que vinham para capital federal
tenhamos em completa anarquia o nosso serviço Amanhã de M. Laranjeira, o Pecado de Simomia, a
atraídos por uma oportunidade no mercado
de expedição.” 1 interessante comédia de Neno Vasco, e uma outra
de trabalho. Foi neste contexto de transições
peça ainda não determinada, havendo também
econômicas e sociais que se formou a classe O periódico, que indicava como administra-
uma kermesse, para qual os companheiros já
trabalhadora do Rio de Janeiro. Esses novos dores João Arzua, Salvador Alacid, Maximo
poderão ir arranjando as suas prendas.”3
trabalhadores, na sua maioria imigrante vindos Soares, Luiz França, Manoel Gonçalves de
principalmente da Itália, Portugal e Espanha, Oliveira, José Rodrigues e Astrogildo Pereira, O periódico estava sempre reservado para
sofreram uma série de privações, que incluíam: ficava localizado na Rua Dias da Costa nº 9, difundir o quotidiano do trabalhador que,
longas jornadas de trabalho, salários baixos, Rio de Janeiro. A partir de fevereiro de 1912, muitas das vezes, podia ser identificado na
riscos de acidentes, superexploração, etc. a redação foi transferida para a Rua do Senado seção fixa chamada O Mundo Operário, que
n° 100. Mas foi na Rua da Alfândega no 182- tinha como função a divulgação da vida de
Foram as idéias anarquistas que predomina-
sobrado, no Centro do Rio, que o jornal se conflitos no mundo do trabalho, dentro e
ram no processo de formação da classe tra-
instalou definitivamente. fora da cidade do Rio de Janeiro. Isto nas mais
balhadora, principalmente no Rio de Janeiro
diferentes categorias de trabalho, informando
e em São Paulo. A estratégia a ser utilizada O jornal tinha o formato de 54x37 cm e qua-
sobre os acontecimentos como greves, aci-
foi o sindicalismo revolucionário. Para os tro páginas.Teve como colaboradores figuras
dentes de trabalho, mortes, denunciando as
intermináveis jornadas de trabalho, a explo- No mês de fevereiro, deu-se destaque para o deveriam se organizar em forma de sindicato,
ração dos menores, os abusos e condições tema da festa de carnaval. No dia 28 daquele não esperando pelas autoridades constituídas,
de trabalho das mulheres, etc. mês, um autor chamado Tristão dizia assim formando um Sindicato dos Inquilinos, como
se denominar por estar muito triste, pelo havia em Paris:
“O Mundo Operário”
fato da sociedade carioca esquecer-se da
“Suponhamos que trêz quartos da população
Esta coluna não só mantinha os trabalhadores luta social em razão da festa mascarada (o
desta capital, sejam espoliadas pelos capitalistas,
informados sobre os acontecimentos no seio carnaval). Mas também destacava que a festa
estes três quartos, unidos poderão ajir da forma
da classe trabalhadora, mas também funcio- tinha um lado positivo, pois a mesma popu-
mais simples, propondo o pagamento das cazas
nava como uma forma de conscientização do lação esquecia-se também dos seus objetivos
em que habitamos ao preço por metros cúbicos;
operariado de sua exploração. Como aconte- patrióticos. O internacionalismo, a rejeição da
e os terrenos não edificados por metro quadra-
ceu no Rio de Janeiro, no dia 16 de junho de idéia de pátria também é um ideal anarquista.
do... afim de que nos atendam dentro do prazo
1911, com a greve na Estrada de Ferro Central Dez dias antes daquele carnaval, o Barão do
maximo de 30 dias e cazo não nos atendam
do Brazil. Os trabalhadores constantemente Rio Branco, considerado um grande patriota,
suspender-se-á o pagamento dos alugues...”10
reclamavam de sua exploração na ferrovia, havia falecido. E por este motivo, a população
pois sofriam punições por problemas gerados deveria estar de luto. Mas, por causa da festa A Guerra Social, no seu segundo número, deu
pela própria condição de trabalho e não por de carnaval, os cariocas “esqueceram-se” do destaque aos trabalhadores do comércio,
falha humana. A falta de qualidade da matéria luto, caindo nas graças da mascarada.“A prova comparando-os com os demais operários. Os
prima utilizada nas obras da ferrovia acarre- disso é que [...], dez dias depois (em Niterói, a comerciários classificavam sua situação como
tava na interrupção da construção da linha e vinte minutos do Rio, estiveram animadíssimos a pior entre as demais categorias, sendo eles
no tráfego ferroviário: aos festejos carnavalescos, no domingo, quando os mais desprovidos da liberdade, porque
tinham extensa carga horária de trabalho,
“Si o carvão era de péssima qualidade e não ainda quente o cadáver do Barão)”:
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