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Gravidez na Adolescência

“A reflexão colectiva sobre as razões que geram a gravidez


na adolescência deve se pautar por argumentos de carácter objectivo
e que não adoptem moralidades particulares, mas sim universais”1.

O corpo aparece como um domínio central nas sociedades modernas e a sexualidade


como um elemento incontornável, rotulada segundo uma idade, um contexto ou uma
prática, e enquadrada em determinado ciclo das nossas vidas. Ela esta sujeita a um
conjunto complexo de normas e concepções, que ao longo do século XX, e sobretudo
nos seus últimos 30 anos foram confrontadas com profundas mudanças entre as
quais se destaca, pelo seu efeito nesta esfera, o desenvolvimento da tecnologia
médica, que com a vulgarização dos métodos anti-concepcionais libertou o exercício
da sexualidade heterossexual da reprodução, e com a introdução de variados
fármacos, possibilitou além do aumento da esperança de vida “o prolongamento da
actividade sexual até idades mais avançadas”2.

Desde o ponto de vista biológico, também ocorreram assinaláveis transformações ao


longo do século XX - a menstruação que é a expressão externa de que a mulher está
em plena capacidade reprodutiva, adiantou-se por volta de quatro meses por década,
sendo que a idade media para que ocorra é de 12,5 a 13, 5 anos. Assim o século XX
então pode ser considerado especialmente relevante no que respeita a ampliação do
ciclo de vida sexual.

O prolongamento da actividade sexual até idades mais avançadas, acompanhada da


possibilidade de prolongamento do ciclo reprodutivo feminino com recurso a
diferentes tratamentos médicos é visto por todos/as com bons olhos. Também o
exercício da sexualidade fora dos limites da união tornou-se amplamente aceitável e
a não “conservação da virgindade até o casamento” já não é um estigma social, pelo
menos nos centros urbanos (se bem que não temos tido notícias de calças ramangadu

1
Heilborn Maria Luiza. “Gravidez na adolescência e pânico moral”.
2
Kanauth Daniela Riva. “Sexualidade e Ciclo de Vida”.
ti kanela, nos últimos vinte anos). Já a iniciação sexual mais temprana e os resultados
que desta actividade advém muitas vezes – a gravidez não planificada e na
adolescência3, é fortemente condenada e as mães adolescentes passaram a ser alvo de
intensa recriminação social.

A gravidez na adolescência constituiu-se numa das grandes preocupações do mundo


moderno, sendo geralmente encarada como um problema a ser solucionado, uma
epidemia que deve ser detida, um mal a ser extirpado, apesar de que provavelmente
tal como eu e outras mulheres da minha geração (hoje na casa dos 50), casamos ou
não, mas engravidamos e até tivemos filhos/as quando ainda éramos adolescentes.

As raízes destas posturas, estão vinculadas com os prejuízos que acarreta na


qualidade de vida e nas oportunidades futuras das adolescentes, nas implicações
físicas, emocionais, familiares e económicas, que atingem as jovens isoladamente e a
sociedade como um todo. Especificamente no tocante a saúde e a educação, os efeitos
são quase sempre graves. No que respeita à saúde, a grávida adolescente muitas
vezes, seja por medo ou por vergonha, esconde a sua situação e se afasta dos serviços
de atendimento pré-natal, pondo em risco a sua saúde e a da criança que carrega
consigo, apesar de já estar amplamente divulgado o facto de que, “se a adolescente
grávida fizer o atendimento pré-natal correctamente, ela e o bebé não terão mais
problemas do que uma grávida adulta”4 . No que tange à educação e pelas mesmas
razões apontadas acima, ou por imposição disciplinar, como ocorre no nosso país, a
grávida, interrompe temporária ou definitivamente o processo de educação formal, o
que nos faz concluir que o risco real da gravidez na adolescência é mais social do
que biológico.

Esse risco social, que muitas vezes se corporiza em posturas incriminatórias esta
intimamente relacionado com duas questões: os conceitos moralizantes, e as
profundas transformações ocorridas nas sociedades ocidentais no século XX, tais

3
Não podemos dizer que toda gravidez na adolescência é indesejada, mas a maioria da gravidez na adolescência é não
planejada, isto é acontece sem intenção, causadas por diferentes factores individuais ou sociais.
4
htpp://www.adolescencia.org.br. “Cartilha da gravidez na adolescência”.
como a incorporação massiva das mulheres ao mundo do trabalho, o aumento da
escolaridade, a mudança das expectativas de vida no que se refere as vivências
(idade para estudar, idade para namorar, idade para casar, idade para ter filhos), ou
seja, relaciona-se com as expectativas sociais sobre o que é “politicamente correcto na
adolescência”.

No nosso país, o tratamento desta questão não foge a regra e a gravidez na


adolescência é encarado como uma questão que assume proporções preocupantes e
constitui temática de discussão e tomada de posições que evidenciam a natureza das
posturas ao abordar a questão. Dois acontecimentos recentes ilustram a situação.

O primeiro, e no qual tive a oportunidade de participar activamente, foi um


encontro, organizado pelo Cine Club “Kafuca”, realizado no Palácio da Cultura “Ildo
Lobo”, no qual pessoas provenientes de instituições governamentais e da sociedade
civil, pertencentes a diferentes quadrantes políticos e a diferentes grupos etários,
incluindo adolescentes, depois de visualizarem um filme que abordava a questão da
gravidez na adolescência5, discutiram de forma aberta e descomplexada o assunto e
como não podia deixar de ser foram mencionadas as disposições adoptadas pelo
Ministério da Educação sobre essa matéria em 2001, ficando como pano de fundo a
necessidade de se reflectir sobre o assunto em todas as suas variantes.

O outro facto, foi a publicação dum artigo publicado no jornal “A Semana”6, com
destaque na primeira página “Grávidas desaparecem das escolas”. A priori e ainda
sem ler o conteúdo, podia-se concluir que o mesmo continha dados que mostravam
que o problema da gravidez na adolescência tinha sido resolvido no nosso país.

Ao finalizar a leitura o(a) leitor(a) compreende que o entendimento inicial não tinha
nenhuma relação com as constatações: o artigo mostra “que apesar de existir uma
relação mais liberal com o preservativo no seio das famílias cabo-verdianas (...) as
moças continuam a engravidar a um ritmo assustador, (mas), o espectáculo pouco
5
O caso tratava-se especificamente duma gravidez indesejada, pois era produto de um estupro...
6
ASemana. Sexta-feira, 17 de Junho de 2005.
desejável das grávidas nas escolas desapareceu, porque as pessoas acabaram por
entender a medida”7, ou melhor diria eu, acabaram por aceitar e render-se perante a
medida, pois contra factos não a argumentos: as adolescentes grávidas tem de anular
a matrícula, ou seja, o referido despacho é aplicado, pelo menos sempre que a
gravidez seja uma evidência visual, ou seja, assumida publicamente pela jovem.

A leitura do artigo me levou a revisitar o despacho “Orientações gerais para uma


melhor gestão da questão da gravidez nas escolas”, emitido pelo Ministério de
Educação em 2001, o qual entre outras ideias justificativas invoca “que a gravidez
das alunas tem criado constrangimentos no funcionamento, pois as escolas não tem
condições (nem em termos de estrutura física e equipamentos, nem em termos de
apoio/aconselhamento psicológico e/ou outro) e que além disso muitos professores
não se encontram preparados para lidar com tal situação”8.

Face a isto pode concluir-se que apesar da escola geralmente ser considerada um
local de integração e protecção social, em Cabo Verde, devido a natureza de nossos
estabelecimentos e das concepções que nela circulam, é necessário proteger as
grávidas e seus respectivos bebés da escola.

Em 1992, com o processo de democratização do acesso ao Ensino Secundário foi


permitida a frequência e permanência das alunas grávidas na escola. Essa medida de
1992, representou, um avanço em relação a equidade entre os sexos e em relação as
práticas anteriores ao ser permitido o acesso a escola as grávidas, mas não
equacionou em profundidade o assunto, ao ser omissa em relação aos marcos da
permanência e dos mecanismos de apoio a grávida, para garantir o seu sucesso
escolar.

O avanço no caminho da democratização e da garantia da equidade de géneros,


deveria ter-se traduzido em 2001 na criação de condições nas escolas, que

7
Adaptado de “ASemana. Sexta feira, 17 de Junho de 2005. “Grávidas desaparecem do panorama escolar”.
8
Ministério de Educação, Cultura e Desporto, Gabinete do Ministro. “Orientações gerais para uma melhor gestão da questão da
gravidez nas escolas” 2001.
estipulassem não só o acesso, como a possibilidade de opção pela permanência ou
não na escola, respeitando a opção pessoal da jovem grávida, assim como o
reconhecimento dos direitos que ela como mulher possui, de desfrutar duma licença
de parto.

A sensação inicial que o carácter da medida tomada em 2001 me provocou era a de


que apenas era a tradução, sob a forma de orientação, duma postura conservadora e
que tinha como objectivo dar satisfação ao pânico moral duma sociedade, que esta
sendo confrontada com o facto das práticas tradicionais do exercício da sexualidade,
tanto no marco (conjugalidade) como na função (apenas reprodução), mudaram
radicalmente; saiu reforçada agora, sobretudo pelo teor das opiniões citadas e que
explicitam que “a medida veio a moralizar a escola”9, porque a escola é considerada
um espaço sacralizado. Afinal o que se pretendeu não foi a protecção da jovem mãe e
da sua criança, mas sim, a protecção da escola da epidemia representada pelas
adolescentes grávidas.

Contudo voltados 4 anos sobre a divulgação das referidas orientações, parece


oportuno reequacionar o assunto, porque como o próprio despacho aponta, “não se
trata de uma questão específica das estudantes, mas sim de um problema que vem
atingindo as adolescentes em geral e que exige da sociedade no seu todo, uma
reflexão profunda por forma a encontrar soluções consensuais para debelar o mal”10.

O debate que mencionei parece apontar esse caminho: reflectir, pesquisar, debelar a
nossa realidade e os factores que estão na base da gravidez na adolescência,
encontrar os caminhos a serem percorridos e que de facto ponham no centro da
atenção as nossas adolescentes e os problemas que elas enfrentam, é necessário fazer
tudo para diminuir a gravidez na adolescência e para evitar os riscos sociais que se
abatem sobre a jovem mãe, mas sem tabus e sem falsa moral, porque é preciso
encarar sem subterfúgios a questão que o artigo coloca: a medida trouxe satisfação pelo

9
“ASemana. Sexta feira, 17 de Junho de 2005. “Grávidas desaparecem do panorama escolar”.
10
Ministério de Educação, Cultura e Desporto, Gabinete do Ministro. “Orientações gerais para uma melhor gestão da questão da
gravidez nas escolas” 2001.
carácter moralizador, mas o problema, longe de deixar de existir agudiza-se, porque apenas foi
escondido debaixo do tapete – só e unicamente só por isso é que as grávidas desapareceram do
sagrado espaço escolar.

Maritza Rosabal

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