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| CONTRAMÃO • RAFAEL ALCADIPANI

MACHO, ADULTO
E BRANCO
ma jovem recém-contratada como trai- O que parece um discurso clichê é a mais pura
nee participava de uma reunião de boas realidade, apesar de todo o falatório em contrá-
vindas em seu novo emprego, uma gran- rio. Ana Paula Diniz, mestre pela Universidade
de empresa historicamente comandada Federal de Minas Gerais (UFMG), explicita, em
por engenheiros. Perfilados na mesa de honra do sua excelente dissertação de mestrado, discursos
auditório, estavam o presidente e os diretores cor- gerenciais-administrativos que atuam sobre as mu-
porativos da companhia, todos do sexo masculi- lheres e as constituem como desprivilegiadas no
no, brancos e de meia idade. Para o desespero da espaço de trabalho. Dados do Censo 2010 indicam
gerente de Recursos Humanos, a trainee levou a que as profissionais do sexo feminino ganham 30%
sério o fato de que poderia perguntar o que qui- menos do que os homens no Brasil. Apesar delas
sesse. Levantou a mão e sapecou: representarem metade da população,
“Vejo apenas homens sentados nas ocupam apenas 20% das posições de
posições de comando. Uma mulher, ORGANIZAÇÕES SÃO comando no País.
como eu, tem alguma chance?”. Além disso, cada vez mais executi-
Silêncio no auditório.
AMBIENTES NOS vas abrem mão de ter uma família em
A história contada por um amigo QUAIS HOMENS nome da carreira. É comum que pro-
que estava no recinto durante o acon- fissionais com filhos recém-nascidos
tecimento mostra uma realidade ain- PODEM MOSTRAR SEU tenham que trabalhar de casa já nas
da presente nas empresas do nosso PODER E MULHERES primeiras semanas após o nascimen-
país: homens brancos são a maioria to de seu rebento. As organizações
entre as pessoas que ocupam cargos PRECISAM ADOTAR brasileiras raramente respeitam como
de chefia. Questionar o patriarcado desejo legítimo o fato da mulher que-
organizacional gera desconforto. UMA POSTURA rer constituir uma família.
No último mês de junho, assistia na MASCULINA PARA O comando masculino é também
Universidade de Gotemburgo (Suécia) heterossexual. Diversos estudos mos-
a um seminário com as professo- CRESCER NA tram que homens e mulheres homos-
ras Marta Calás e Linda Smircich, sexuais precisam esconder sua vida
ambas docentes da Universidade de HIERARQUIA íntima no ambiente de trabalho. Qual
Massachusetts (EUA) e pioneiras em seria a reação de executivos heterosse-
estudos sobre gênero nas organizações. As pesqui- xuais se um colega aparecesse em um jantar da cor-
sadoras discutiam que, apesar do aumento da pre- poração com seu companheiro ou companheira do
sença feminina nas empresas, a desigualdade ain- mesmo sexo? Organizações em geral e empresas em
da persiste de forma clara e marcante. Corporações particular são lugares nos quais ser homem e heteros-
são ambientes onde a dominação masculina sempre sexual é uma vantagem. O mesmo se aplica às ques-
prevaleceu. Nesses locais, os homens podem mos- tões de raça. Os brancos de ascendência europeia são
trar e exercer seu poder, e muitas mulheres preci- a maioria nas posições de chefia. O macho, adulto
sam adotar uma postura masculina para crescer e branco segue no comando. A grande questão é o
na hierarquia. motivo de tamanhas discrepâncias existirem até hoje.

RAFAEL ALCADIPANI > Professor da FGV-EAESP > rafael.alcadipani@fgv.br

| 74 GVEXECUTIVO • V 12 • N 1 • JAN/JUN 2013

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