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Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo

BEATRIZ DE CARVALHO PINHEIRO

Análise do filme ​“Vatel – Um


Banquete Para o Rei”​ a partir
de Rousseau.
O filme “Vatel – Um Banquete Para o Rei” é um drama que gira em torno da
tentativa do Príncipe Conde de salvar sua província de uma crise econômica através
de um banquete oferecido ao rei, para assim tentar impressioná-lo com a boa
elaboração e grandeza dos preparativos de seu mordomo François Vatel. Essa
explicação generalizada do filme já indica um dos principais conceitos indicados por
Rousseau: o amor-próprio, que por definição é a característica do homem em viver
para agradar os outros, agir por aparências, e não para si.

No desenrolar da trama é possível observar alguns outros conceitos de


Rousseau, que parte sua teoria da definição do “Homem primitivo/natural”. Apesar de
não poder ser encaixada em nenhum personagem, pode ser deduzida teoricamente:
em meio à preparação do banquete existem as relações entre os nobres e os
trabalhadores, onde os últimos eram vistos e tratados praticamente como homens
primitivos, sem que seus sentimentos e relações pessoais fossem consideradas,
observados apenas com suas funções físicas e laborais, sem capacidade de raciocínio
e inteligência, descartáveis e comparáveis a qualquer outro animal. Um exemplo
pontual é o caso da trabalhadora que invade o pátio onde o rei está para exigir justiça
em relação a morte de seu filho que morreu em guerra, e é retirada brutalmente do
local sem o menor cuidado e sem ser ouvida, para posteriormente ser açoitada como
uma punição de seu comportamento. Isso reforça a interpretação de que os mais
pobres eram vistos como seres primitivos, sem qualquer direito de serem diferentes.

Apesar do raciocínio lógico ser bastante relevante para a diferenciação do


animal e do homem segundo Rousseau, não é ele o ingrediente principal. Temos a
“liberdade” e a “perfectabilidade” como divisores de águas. No filme a busca
incessante de Vatel para o melhor resultado possível dos preparativos do banquete
exemplifica bem a “perfectabilidade” do homem definida por Rousseau, que seria a de
aprender e progredir em suas ações para obter melhores resultados (capacidade não
observada nos animais). Já a teoria da “liberdade” é identificada na própria morte de
Vatel onde ele vê-se livre para ir contra as “leis da natureza” (no caso ele foi contra o
sistema e as ordens dadas) mesmo que isso o prejudique, onde a única forma que ele
encontrou para libertar-se foi tirando a própria vida.
Falando em tantos conceitos sobre a razão é necessário ressaltar as paixões
descritas por Rousseau e frequentemente indicadas no filme. Primeiramente o “amor
de si”, que por definição é um instinto de autoconservação do homem sobre aquilo que
lhe pode ser prejudicial, dentro deste podemos indicar dois exemplos: um deles já
usado, que é o do Príncipe do Condé que promove o banquete para tentar salvar sua
província, o que pode ser visto como autoconservação também dele mesmo; e o outro
que aparece mais evidentemente são os casos de Anne de Montausier, que é amante
do rei, ao mesmo tempo gosta de Vatel e é ameaçada pelo Marquês de Lauzun que
sabe de seus dois casos. Para preservar-se Anne deita-se com o rei sempre que lhe é
imposto, pois caso não o faça, provavelmente sairia prejudicada por desobedecer-lhe,
e posteriormente também cede as ameaças do Marquês para não ser delatada.
Ambas as atitudes são fruto desse “amor de si” descrito, como cautela e proteção
própria.
Outra paixão/impulso do homem é a compaixão, que define-se pela
sensibilidade de identificar-se com o outro e não querer vê-lo sofrer ou passar por
alguma dificuldade. Segundo Rousseau, essa capacidade foi perdida gradativamente
nas mãos do homem civilizado, tornando-se cada vez mais rara, porém é possível
identificá-la em muitas atitudes de François Vatel ao longo do drama: primeiramente, a
sua relação com Colin, onde o mordomo dá todo respaldo e atenção que consegue,
pois o garoto não tem mais ninguém com quem possa contar; mais a frente ocorre o
episódio das aves que precisam ser mortas para seu sangue ser usado na cura da
gota do Príncipe de Conde. A princípio Anne de Montausier oferece suas aves para o
feito, porém Vatel sente-se mal por ela e concede suas araras no lugar para o
sacrifício, e assim é feito.
A falta de compaixão também está presente e mostra-se explicitamente no
episódio do acidente de um trabalhador durante uma apresentação grandiosa do
banquete, onde a morte dele é completamente ignorada e a única preocupação é se
aquilo atrapalharia o desenrolar do espetáculo.

Por último temos o instinto de reprodução como uma paixão do homem, que
apesar de tratar-se de uma ação primitiva sem vínculos e pura e simplesmente física,
é completamente relacionável com os acontecimentos do filme. As relações sexuais
apresentadas em sua maioria são superficiais e fugazes, sem criação de nenhum
vínculo afetivo e sem exclusividade de parceiros: a ligação do Rei com Anne de
Montausier e também com outras participantes da corte, e a de Marquês de Lauzun
também com Anne de Montasier.

Após a exposição das paixões do homem, Rousseau explica o caminho do


homem natural até o homem civilizado, e a primeira etapa foi deixar de lado a vivência
individual e passar a depender de seus semelhantes para superar situações problema,
porém ainda sem criar vínculos. Durante a preparação do banquete alguns
acontecimentos como a falta de ovos inesperada para preparação de uma receita foi
resolvida quando um dos cozinheiros pediu auxílio para Vatel, que rapidamente
improvisa uma mistura e salva o prato.
Em geral a relação da corte com seus criados exemplifica bastante essa
relação. Mas essa dependência é bastante explícita e exagerada em algumas tarefas
que deveriam ser individuais, mesmo que no homem civilizado, por exemplo: logo no
início da história temos a cena do Rei indo ao banheiro e depois um serviçal é
responsável por limpá-lo, o que comumente seria tarefa da própria pessoa. E essa
perda da independência total do indivíduo, segundo Rousseau, também resulta no
pontapé inicial para a desigualdade entre os homens, o que reforça esse último
exemplo dado em relação ao filme, afinal eles acontecem por pura desigualdade social
daquele meio.

Por fim, temos a ideia de propriedade privada, que resultou finalmente na


desigualdade propriamente dita, e é ela que circula durante todo o banquete e todos os
conflitos: os que têm e os que não têm, e o que isso trás de direito sobre eles. É bastante
clara a discrepância de tratamento e tarefas designadas para os personagens de acordo com
sua posição social, portanto, de acordo com suas posses. No contexto do filme temos a
desigualdade moral e política (baseada numa condição estabelecida ou escolhida pelo grupo
de homens envolvidos) de forma atenuada, e infelizmente ainda em “Estado de Guerra” que
era o de conflito por desigualdades sem nenhuma espécie de acordo ou pacto social, e que
só acabava quando uma das pessoas envolvidas morre, teoricamente é exatamente o que
acontece no desfecho da história: a desigualdade e o descaso entre a corte e Vatel resultam
no suicídio do mordomo, que não aguenta a pressão e a injustiça que desmoronam cada vez
mais sobre ele.

O mais relevante que podemos apontar na relação das teorias filosóficas de


Rousseau e “Vatel: um banquete para o Rei” é justamente que estamos tratando de homens
civilizados, que teoricamente já ultrapassaram todas as fases necessárias para chegar até
aquele ponto, e agem muitas vezes como homens primitivos, dominados pelo amor-próprio
da forma mais destrutiva que o mesmo pode ser e deixando claro que estão no último termo
de desigualdade, o mais profundo de todos e o mais preocupante: “​Transformação do poder
legítimo em poder arbitrário”.

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