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Edição revisada
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
__________________________________________________________________________________
S36a
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-3620-2
O som....................................................................................................................................139
Elementos formadores do som..................................................................................................................139
A composição musical..............................................................................................................................147
E na escola: quando e como se ouve música?..........................................................................................149
Referências............................................................................................................................197
Apresentação
Isis e Consuelo
Saber ver:
quais são as chaves?
P
ara Bruno Munari (1968, p. 19-20), “cada um vê aquilo que sabe. Conhecer
as imagens que nos rodeiam significa também alargar as possibilidades de
contato com a realidade; significa ver mais e perceber mais”.
Mas, o que significa isso? O que isso quer dizer?
Ora, de acordo com Munari, nossas experiências e conhecimentos influenciam
nosso olhar. Portanto, conhecer vai além da capacidade de enxergar ou de ouvir.
Conhecer é compreender, é ser capaz de extrair de um objeto seus sentidos ou
suas razões. Por isso, conhecer, longe de ser uma absorção passiva do repertório
de alguém, exige do apreciador um repertório e um esforço de interpretação das
formas simbólicas, para percebê-las como a expressão de outro sujeito e como
uma mensagem a ser compreendida.
Para que se realize um efetivo exercício de leitura das imagens em sala de aula, o
educador em arte deve conhecer as especificidades das linguagens artísticas, pois saber
ler implica um processo de alfabetização visual. De fato, ler uma imagem exige o domí-
nio do conhecimento de que ela é depositária, de modo que a leitura aplicada à obra
de arte está estreitamente relacionada com a construção de significados a partir
do repertório, da experiência cultural e da posse dos conhecimentos essenciais
requeridos na apreciação.
Trazendo esse raciocínio para a temática de nossa aula, saber ver uma obra de
arte – destacando o sentido da palavra sapere, do latim – é “ter gosto” em fazer algo.
No caso, ter gosto em ver. Isso pressupõe o domínio do conhecimento artístico ne-
cessário à assimilação dos seus sentidos ou daquilo que pretende exprimir. E esse é
o objetivo de nossa aula: refletir sobre o que é necessário saber para ver mais, o que
é preciso conhecer para apreciar ou saber ver a arte, em especial as artes visuais.
Carlos Drummond de Andrade (1967, p. 139), de uma maneira poética, dá
pistas sobre o caminho:
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Saber ver: quais são as chaves?
demos deduzir dessa junção de livro aberto e máscara? O que pode significar um
livro aberto? Na sua opinião, pode significar um convite à leitura?
Observe a imagem.
Lectura. Concebido em 1984, realizado em 1989. Joan Brossa. Técnica mista, 9 x 63 x 32cm.
Na sua visão, por que Brossa colocou uma máscara sobre o livro? Quais
sentidos podemos extrair desse “livro mascarado”? Como o artista vê o pro-
cesso de leitura?
Que relações podemos estabelecer entre a obra Lectura, criada por Brossa, e
“as mil faces secretas da palavra”, de que fala Carlos Drummond de Andrade?
Pois bem, o desafio é este: buscar as chaves que nos permitam ver as mil fa-
ces, os inúmeros sentidos escondidos numa pintura, desenho, gravura, escultura,
ou seja, num objeto que denominamos artístico, qualidade que distingue a arte de
outros objetos, como os utilitários, por exemplo.
É uma cadeira. Não precisamos explicar sua função, pois é obvio que todos
nós, porque utilizamos constantemente esse objeto, sabemos muito bem para que
serve. Mas, é claro que “saber” o sentido dos objetos utilizados no dia a dia é
muito fácil, não é? A facilidade está exatamente no uso que fazemos desse objeto
na vida diária. Por isso, quando vemos uma cadeira qualquer, não perguntamos “o
que é isto?”: simplesmente a usamos!
No entanto, quando se trata de uma obra de arte, a situação muda total-
mente e a pergunta “o que é isto?” passa a ser, habitualmente, feita pela maioria
das pessoas porque, muitas vezes, não sabemos qual é a função desse objeto
qualificado de artístico.
Pois bem, vamos relembrar primeiro o que diferencia as imagens ou obras
de arte de outros objetos, como os prático-utilitários.
Observe o Sofá para Combinar com Pintura, de Jorge Duarte.
para desenhar? Que relações podemos estabelecer entre os desenhos desse objeto
e o título da obra?
Será que o título da obra – Sofá para Combinar com Pintura – não nos dá
uma chave para decifrar o sentido da representação do sofá nessa pintura?
Extraia do título as palavras-chave – sofá, combinar, pintura – e inverta as
posições, como por exemplo pintura, combinar, sofá. Agora pense: não podemos
estabelecer alguma relação entre o título dado ao quadro por Jorge Duarte e a práti-
ca – inclusive muito comum! – de comprar pinturas que combinem com o sofá?
Podemos deduzir que o artista fez um trocadilho, um jogo de palavras.
Isso significa que Jorge Duarte se utilizou desse objeto e do trocadilho como
um elemento explicativo e revelador do comportamento das pessoas frente à arte,
estabelecendo uma conexão entre o modo como a usamos ou a função que atribuímos a
ela. Ora, para a maioria das pessoas, um quadro serve para decorar. Portanto, uma
pintura tem que combinar, por exemplo, com os móveis e as cortinas da sala.
Nesse sentido, por meio da representação desse objeto, o artista critica a
prática de comprar quadros que combinem com o sofá e de atribuir aos objetos
artísticos a função de, unicamente, decorar.
Jorge Duarte, por meio de linguagem artística, cria uma imagem que ironiza
e questiona a ideia que muitas pessoas têm de que arte cumpre uma função mera-
mente decorativa. É uma provocação do artista e, com seu Sofá para Combinar
com Pintura, ele nos leva a rever nossa visão sobre a função da arte. Podemos
entender que, para Jorge Duarte, a função de uma pintura não se reduz a combinar
com qualquer coisa, muito menos com um sofá.
Além de superar a visão utilitária do objeto representado na
leitura de uma obra de arte, que outras chaves nos permitem avançar
na análise?
Mas podemos
extrair desse Voltando à imagem, podemos ver que, depois do título, há outras
informações: a técnica, as dimensões e o ano de realização da obra. Nes-
objeto outros
se caso, temos uma pintura a óleo, mas o que vemos sobre a tela não são
sentidos? desenhos? Olhando esses desenhos, se já vimos pinturas que são cópias
quase fotográficas de uma cadeira, podemos nos perguntar: será que um
rápido desenho de um sofá é arte?
A resposta só pode ser encontrada na própria história dos objetos artísti-
cos e, nesse caso, principalmente no conhecimento das técnicas. Se recorrermos à
História da Arte, podemos afirmar que essa obra exemplifica uma prática muito
comum na contemporaneidade: a mistura das técnicas, pois vemos desenhos (um
com linha branca e outro com linha preta), pintura e o fundo chapado em azul.
Em segundo lugar, esse quadro, da década de 1980, é de autoria de um artista
brasileiro que nasceu em 1958, pertencente a uma geração que não pretende mais
fazer da arte um meio fotográfico de representação da realidade. Aqui temos
mais uma chave: a técnica e as inovações propostas pelos artistas contemporâne-
os, pois o fazer artístico só pode ser adjetivado de criador quando supera a mera
repetição de fórmulas acabadas.
Contudo, a técnica entendida como maestria e habilidade para realizar uma
cópia do real, a exemplo de muitos mestres do passado, ainda hoje é muito valo-
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Saber ver: quais são as chaves?
O que podemos
deduzir disso?
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Saber ver: quais são as chaves?
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Saber ver: quais são as chaves?
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Saber ver: quais são as chaves?
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Saber ver: quais são as chaves?
Na sua opinião, por que Magritte deu o título A Traição das Imagens (Isto
Não É um Cachimbo) a esse quadro?
Resumindo
Para finalizar, destacamos os cinco principais pontos deste capítulo.
Saber ver uma obra de arte é ter gosto em ver.
Apreciar a arte é não abrir “mão da inutilidade, o princípio do prazer
superando o princípio utilitarista” (JUSTINO, 1999, p. 201), e isso
implica novos olhares. A apreciação exige a formação dos sentidos,
um trabalho contínuo e sistemático com a produção cultural que
inclui, mas não se restringe às obras de arte como via de familiari-
zação cultural e o domínio dos conhecimentos artísticos sistemati-
zados na forma de História da Arte. Além de proporcionar prazer, a
arte é uma forma de conhecimento, de trabalho criador e expressão
– portanto, é uma linguagem denominada artística.
O “sofá” de Jorge Duarte, diferentemente desse objeto no dia a dia,
não cumpre uma função meramente utilitária, mas faz uma conexão
entre o modo como ele vê a função da arte e o modo como muitas
pessoas a veem: mero objeto decorativo que deve combinar com um
sofá. Da mesma maneira, a “cadeira elétrica” de Andy Warhol. Para
o artista, a possibilidade de alguém pendurar o quadro da “cadeira
elétrica”, sobretudo se as cores combinarem com as cortinas, de-
monstra a que ponto chegou a banalização da arte, perdendo-se de
vista que esse quadro não é apenas uma bela composição de cores,
mas também uma forma de desvendamento da violência e do poder
de vida e morte de alguns poucos sobre a maioria.
A ideia da inutilidade da arte pode levar a dois equívocos: reduzir a
arte à beleza e “entender por função uma determinação imediatista e
prática, esquecendo-nos que qualquer objeto tem função, desempe-
nha um papel dentro de uma cultura” (JUSTINO, 1999, p. 201).
Para ler uma obra de arte, precisamos de várias chaves, dentre as
quais destacamos saber a função da arte no contexto em que está
inserida. Outras chaves – como conhecer os artistas, os estilos e se
as técnicas são inovadoras, o que pretendem e quais os temas ou
gêneros mais enfatizados num movimento ou período artístico – são
igualmente importantes.
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Saber ver: quais são as chaves?
Lembramos que as reflexões sobre a função da arte não estão descoladas da prática escolar. A
distinção entre um objeto artístico e um prático-utilitário deve estar presente nas conversas com os
alunos e nas atividades propostas pelo professor. Por isso, é fundamental um constante estudo dos
conteúdos das linguagens para que, de fato, tenhamos condições de desenvolver com segurança as
atividades de leitura ou apreciação da imagem, aliadas ao exercício com as técnicas do desenho, da
pintura, da gravura, da modelagem, da dobradura etc.
Os textos complementares vêm nessa direção: subsidiar o professor no planejamento de
suas aulas de arte.
Para aprofundar o estudo sobre essa temática, sugerimos a leitura de dois textos da coleção Arte
da Editora Módulo, escrita por Consuelo A. B. D. Schlichta, Isis M. Tavares e Rose Meri Trojan.
O primeiro texto – “Cadeiras” – foi extraído do Livro do Professor, e o segundo, com uma varie-
dade de atividades sobre essa temática, do Livro do Aluno, da 1.ª série do Ensino Fundamental.
Cadeiras
(SCHLICHTA, et. al., 1996, p. 52-57)
A cadeira é uma peça do mobiliário que se compõe de assento, para uma ou mais pessoas,
e geralmente um encosto. Em todo caso, uma cadeira é um objeto que foi inventado pelo homem
para sentar. E como diz Bruno Munari, continua a ser inventado:
Há anos se conta que arquitetos e designers de todo mundo (até eu projetei dois ou três) projetam milhares de
modelos de cadeiras e poltronas, todos diferentes, todos inventados, mas parece que o problema ainda não foi
resolvido, pois os arquitetos e os designers continuam atualmente a projetar cadeiras e poltronas, como se até
hoje tudo não passasse de um equívoco.
A partir dos materiais utilizados na sua fabricação, também podemos identificar uma gran-
de variedade: de madeira, de madeira com palha, de vime, de ferro, de plástico, de alumínio,
revestida de couro ou fórmica, com assento de tecido ou plástico etc. Cada um dos materiais pode
ser mais ou menos sofisticado, cada tipo de cadeira pode combinar diferentes materiais entre si
para a estrutura, para o assento ou encosto, para os braços, e assim por diante:
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Saber ver: quais são as chaves?
Com todos esses materiais, um bom designer pode fazer uma cadeira ou uma poltrona desmontável, encartá-
vel, giratória, fixa, com rodas, transformável, que pode ser descida ou subida, reclinável, móvel, para todos
os usos. (MUNARI)
Por tudo o que já foi dito, acreditamos não ser necessário justificar a escolha desse tema que,
além de oferecer boas condições de análise e observação do objeto no próprio espaço vivido pelo
aluno, na propaganda, nas revistas, na televisão etc., é também tema de obras de arte.
1.ª série
Esse tema é abordado na 1.ª série, tomando como ponto de partida uma pesquisa em revistas,
folhetos de propaganda e jornais, de diferentes modelos de cadeira. É importante que o aluno ob-
serve bem as formas, os detalhes e todos os aspectos já indicados anteriormente.
Na literatura infantil, também podemos encontrar a cadeira como elemento significativo, como
é o caso da história dos Três Ursos e outras que professor e aluno podem pesquisar.
Apresentamos, ainda, dois quadros de Van Gogh – A Cadeira de Van Gogh com Cachimbo e
A Cadeira de Gauguin, – para que o aluno observe, além do aspecto técnico e formal, o aspecto
simbólico que esse objeto adquire na obra do artista.
Para concluir a abordagem, pedimos que o aluno observe desenhos de crianças sobre o tema e
alguns modelos diferentes do objeto e também desenhe. Esta unidade pode ser enriquecida com um
trabalho sobre volume e formas tridimensionais por meio de modelagem em argila ou construção
de uma cadeira a partir de caixas de papelão, como embalagem de remédios, perfumes, chás etc.
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Saber ver: quais são as chaves?
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Saber ver: quais são as chaves?
1. Assista ao filme O Enigma de Kaspar Hauser (1974), do cineasta alemão Werner Herzog. É a
história de um jovem, criado em um sótão, sem nenhum contato humano, que vai para a casa de
um criminalista, em Nuremberg, por volta de 1828.
2. Para ampliar a reflexão sobre a construção do olhar, sugerimos também o livro Kaspar Hauser
ou a Fabricação da Realidade (1995), de Izidoro Blikstein, da Cultrix.
3. Para conhecer um pouco mais sobre as diferentes funções da arte, ler o artigo de Maria José
Justino, “A admirável complexidade da arte”, do livro Para Filosofar (1999), da Scipione.
4. Ler para seus alunos o livro O Frio Pode Ser Quente? (1991), de Jandira Masur com ilustra-
ções de Michele, da Ática, pois a autora apresenta, de modo poético, a ideia de que as coisas, as
situações e a realidade podem ser vistas a partir de diferentes olhares. É um livro de literatura
infantil para adultos também.
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Saber ver: quais são as chaves?
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A técnica na arte:
os fazeres artísticos
A experiência mostra que estamos habituados com todo tipo de utensílio, mas muito distantes
da arte!
Embora estejamos mergulhados num mundo de coisas, de sons, de cheiros agradáveis ou não,
e nosso olhar vislumbre desde um lindo pôr do sol até a degradação da humanidade – a miséria, a
violência, a opressão, a solidão, a feiúra das cidades tomadas pelo concreto, as árvores e praças su-
focadas nas metrópoles, o abandono das crianças etc. – pouco prestamos atenção a tudo que nossos
olhos absorvem.
Diariamente, estamos envolvidos em diferentes fazeres!
Desde as primeiras horas da manhã, nossos sentidos são constantemente solicitados: ouvimos a
campainha do relógio, pela janela podemos ver se o céu está claro e, conforme a temperatura, escolhemos
a roupa e os acessórios que combinem, ajeitamos o cabelo. Tomamos café e corremos para o trabalho. No
percurso até o trabalho, vemos os sinais de trânsito, um outdoor, alguém correndo na calçada, ouvimos
o barulho da buzina de um carro, uma freada brusca e sentimos o cheiro de borracha queimada, de
gasolina, mas também de pão quentinho quando passamos em frente da padaria.
E quando chegamos ao trabalho, quantas coisas fazemos, não é?
Quem sabe ensinamos aos nossos alunos uma operação matemática como a adição, realizamos
uma pesquisa sobre a altura e a idade de nossos alunos para estudar os cânones ou medidas da figura
humana, lemos um texto poético, analisamos um mapa do Brasil, investigamos alguns grupos de plan-
tas, coletamos folhas, pedaços de tronco, raízes, exploramos suas texturas, analisamos suas cores.
Recebemos muitos estímulos ou mensagens do entorno e nosso dia a dia é repleto de ações
habituais que exigem muito de nossos sentidos. Mas além de receber podemos também transmitir,
por meio de nossos sentidos, quaisquer mensagens e usar diferentes sistemas de comunicação: oral;
visual; escrito; tátil, como o sistema braile; acústico, por exemplo o código morse; o código gestual,
os gestos empregados pelas pessoas com deficiência auditiva.
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
Dalí com Seis Anos de idade. 1950. Salvador Dalí. Óleo sobre tela,
27 x 34cm.
Símbolos.
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
período, mas sem nenhuma preocupação cronológica ou linear, pois nosso objeti-
vo é aprofundar o conhecimento dos modos de fazer.
Sem dúvida, não basta ver muitas imagens para entender seus sentidos e
muito menos para saber como foram produzidas. Por isso, relembramos que a
familiarização cultural, por meio do acesso à História da Arte, contribui sobre-
maneira para a formação do olhar.
Para conhecer mais sobre a técnica na arte, partimos das perguntas que a
grande maioria faz quando está diante de uma imagem, pois as dúvidas, muitas
vezes, têm referência nesse ponto. Pergunta-se, por exemplo: O que é isto? Uma
pintura, um desenho? É um retrato, uma paisagem? Como foi feito? Qual a técnica
empregada? O estilo?
Pelas dúvidas, podemos perceber que, embora muitas pessoas não tenham
um grande conhecimento de arte, elas sabem distinguir uma pintura de um dese-
nho e, obviamente, quando se trata de uma obra figurativa, conseguem identificar
a temática ou o gênero. Em relação à Mona Lisa, por exemplo, sabem que é uma
pintura e um retrato.
Vejamos então quais são essas técnicas nas artes visuais.
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
A pintura
A reprodução em larga escala de quadros figurativos na técnica da pintura a
óleo, além de popularizar essa maneira de pintar e esse material, levou muitas pes-
soas a verem essa técnica como a verdadeira arte. No entanto, as pinturas com giz de
cera, lápis de cor, guache, e até mesmo com aquarela – que demanda muito domínio
–, contraditoriamente são vistas como coisa de criança, talvez em razão da presença
constante desses materiais em sala de aula, em detrimento de outros, como a tinta
acrílica e o giz pastel, que são mais caros e, portanto, pouco conhecidos.
A Mona Lisa, ou Gioconda, de Leonardo da Vinci, por exemplo, é conside-
rada uma obra-prima do Renascimento. No entanto, ao admirarem esse quadro,
muitas pessoas são seduzidas somente pela habilidade do artista em representar a
realidade fotograficamente. Mas o que representa essa pintura? Ora, esse retrato
sintetiza o domínio da perspectiva, do chiaroscuro para modelar as feições por
meio de luz e sombra, na técnica do sfumato, o nível que atingiu a capacidade cria-
dora dos artistas do Renascimento e só pode ser apreciado a partir desses critérios.
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
1 A partir de 1914,
Duchamp cria os
p r i m e i r o s re a d y - m a d e s :
objetos retirados do uso
co mu m e u s ad o s f or a do
seu contexto habitual. Um
dos mais emblemáticos e
f a m o s o s re a d y - m a d e s é
a Fonte, que nada mais é
que um urinol girado a 90 L.H.O.O.Q, 1919. Marcel Duchamp. Lápis sobre uma
graus, de modo a tornar
impossível o seu uso. Sua
reprodução da Gioconda. 19,7 x 12,4cm.
intenção não era convertê-
-los em objetos de arte, mas
ativar novos significados, A Mona Lisa de Duchamp, de 1919, cujo título é L.H.O.O.Q. – em francês, lê-se fone-
transfigurar os objetos,
combinando-os numa nova
ticamente Elle a chaud au cul (“Ela tem fogo no rabo”) – é um dos mais irreverentes e
ordem. A atitude estética irônicos ready-mades1 de Marcel Duchamp. Aliás, muito se especulou a propósito desse
dos dadaístas questionava título, porém não se chegou a nenhuma conclusão. O que fica claro, contudo, é que, entre
a ordem tradicional e a
noção corrente de arte, outras coisas, ele traduz a atitude cética do artista perante os valores da arte. (MINK,
numa atitude de revolta, 1996, p. 63)
particularmente contra a
sociedade burguesa, con
siderada a responsável por
Esse trabalho não passa de um postal da Mona Lisa ao qual foram acrescen-
todos os males existentes.
A violência e a revolta do
tados, a lápis, um bigode e um cavanhaque. Essa atitude irreverente do artista, em
Dadaísmo eram um reflexo relação à pintura do artista da Renascença, não representa uma desvalorização da
do horror provocado pela
Primeira Guerra Mundial obra de Leonardo da Vinci, pois a condição de obra-prima desse retrato é inques-
(1914-1918), que teve
como resultado – como tionável, ainda mais por parte de um outro pintor.
qualquer guerra – o
sacrifício da humanidade. Na realidade, Duchamp pretendia romper com um padrão de pintura adequa-
O Dadaísmo caracterizou-
s e p e l a e l i m i n a ç ã o d a do aos cânones do Renascimento, mas superado à sua época. Seu objetivo era ultra-
tradição, pelo jogo de
absurdos e pela negação
passar a pintura “retiniana”: subordinada à representação dos dados perceptivos.
a b s o l u t a , c a r a c t e r í s t i c a s
essas que podem ser Duchamp, considerado um divisor de águas na arte do século XX, nasceu em
e n c o n t r a d a s n a p r o p o st a
estética de Duchamp, a Blainville, França, em 1887, e com sua atitude provocativa e inovadora ele abriu
qual assume a crise cultural
do século XX.
caminhos para outros artistas.
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
O desenho
Como vimos, qualquer forma de representação artística se realiza por
meio do uso de um suporte e de um instrumento. No caso da pintura, os artistas
recorrem à cor no desenho, privilegiam o traço gráfico ou a linha com grafite,
com lápis de cor, com giz de cera, com carvão, com lápis de cor aquarelável, com
rotuladores (espécie de pincel atômico) etc.
A linha está relacionada à particularidade da operação ou do estilo do artis-
ta e também do movimento da mão: lento, veloz, rígido, calmo, impetuoso, rítmi-
co, contínuo, descontínuo, uniforme etc. Pode, também, ser analisada segundo a
pressão da mão – solta, firme, segura, insegura etc. – em função do suporte e do
material – duro, macio, fino, espesso, liso, saliente ou enrugado etc.
Mas, na leitura da imagem, o traço (isso é muito importante!) deve ser anali-
sado principalmente em razão da intenção do artista.
Seara com Ciprestes. 1889. Van Gogh. Pastel de giz preto, pena e bambu sobre papel, 47 x 62cm.
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
A fotografia
Além do desenho – composição bidimensional –, destaca-
mos ainda a fotografia na técnica conhecida como fotorrealismo
ou hiper-realismo, nas técnicas da colagem e da fotomontagem,
sem perder de vista que esses procedimentos, além de se mescla-
rem, incorporam novos materiais.
O artista brasileiro Vik Muniz, por exemplo, criou uma
técnica nada convencional, utilizando materiais pouco comuns,
como açúcar, chocolate, macarrão e molho em seus trabalhos,
que depois são fotografados.
Não podemos esquecer que a escolha dos materiais não é
casual, pois tem relação com a temática abordada. Na Imagem de Jacynthe Loves Orange Juice
(Imagem de criança feita com
Criança, o artista utiliza açúcar para fazer o retrato das crianças açúcar). Série The Sugar Chi-
filhas de trabalhadores dos canaviais e em Ícone o chocolate é dren, 1996. Vik Muniz.
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
A gravura
Além da pintura, do desenho e da fotografia, destacamos também a gravura
em metal, o linóleo, a xilogravura, a litografia, a serigrafia etc. No entanto, hoje é
comum a utilização de técnicas nada convencionais de reprodução: desde o famo-
so “carimbo com batatas” até o xerox.
Rosana Paulino utiliza-se de procedimentos bem contemporâneos, como o
xerox. Nas suas gravuras, ela associa a imagem feminina a elementos cultural-
mente relacionados ao seu universo: tecidos, costura, bastidor, dando ênfase a
mulheres, na maioria, negras.
Sem título. 1997. Rosana Paulino. Xerox transferido e costura sobre tecido
montado em bastidor, 31,3 x 310 x 1,1cm.
A linha (ou o traço gráfico) é utilizada por Rosana Paulino para “costurar”
partes do rosto das mulheres. Como você interpreta essas “costuras”?
Os objetos tridimensionais
Em relação à composição tridimensional, destacamos a escultura, o móbile,
a escultura mole etc. Neles, utilizamos as três dimensões (altura, largura e profun-
didade). Além disso, esses objetos artísticos podem ser fixos ou móveis.
Vejamos primeiramente a obra Moisés, uma escultura de Michelângelo Buo-
narroti, artista do Renascimento italiano que nasceu em Florença, em 1475, e mor-
reu em 1564. Ele era chamado por seus admiradores de “O divino Michelângelo”,
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
Observe que o título da obra de Cildo Meireles – Parla, palavra italiana que
significa “fala” – lembra-nos a expressão de Michelângelo diante de sua escultura.
Assim, que relação podemos estabelecer entre o título da obra Parla e a expressão
usada por Michelângelo?
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
Podemos deduzir que Cildo Meireles se apropria desse fato para questionar o
conceito de que só são “verdadeiramente arte” as obras que resultam da habilidade do
artista e, nesse sentido, são tão semelhantes a um modelo ideal que “só faltam falar”.
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
Xilogravura
Você certamente já brincou com carimbos de borracha. Se olhar de perto, você verá que os
carimbos têm um pequeno desenho, em relevo, e que a tinta só pega na parte alta desse relevo. Esse
é o princípio da xilogravura: a matriz de madeira funciona como um carimbo. A tinta só fica em sua
parte mais alta, aquela que não foi cavada, e o papel só vai ser “carimbado” pelas áreas que estiverem
cobertas de tinta (Catálogo: A gravura de Lasar Segall, 1998, p. 21).
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
Gravura em metal
Na gravura em metal, o processo é diferente. A placa de cobre, latão ou
zinco é desenhada com instrumentos pontudos ou com ajuda de ácidos corrosivos
que criam sulcos na sua superfície.
Depois de receber uma camada de tinta, a placa é limpa para a retirada do
excesso e a tinta só fica em sua parte mais baixa. Para imprimir uma gravura em
metal, é necessária uma prensa que exerça uma pressão muito grande, para que o
papel entre em contato com a tinta que está dentro dos sulcos da placa (Catálogo:
A Gravura de Lasar Segall, 1998, p. 22).
Prensa. Cópia.
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
Impressão de folhas, plantas, flores etc. Cópia negativa de folhas, plantas, flores etc.
Criando carimbos
Recortar formas ou “carimbos” e im-
primir, montando pequenas composições. In-
centive seus alunos a darem título às compo-
sições.
Gravura com matriz de isopor, papelão etc.
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
Técnica de monotipia
Ensine aos alunos a técnica da monotipia,
isto é, a impressão de uma única cópia, usando
uma base alternativa: uma forma, uma bandeja
ou placa de fórmica. O aluno pode criar alguns
desenhos, que podem ser figurativos ou não,
sobre a matriz. Depois, coloca uma folha e,
para imprimir, pressiona com as mãos.
Impressão em monotipia.
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
Resumindo
Podemos apresentar a mesma mensagem por meio de diferentes có-
digos: a palavra escrita, a fotografia, os sinais com as mãos e com
bandeiras, a pintura, o desenho etc.
Além das linguagens usadas cotidianamente, existem as linguagens ar-
tísticas – as artes visuais, o teatro, a música, a dança, a literatura –,
que também “falam” de alguma coisa, representam algo e estão re-
pletas de significados.
No caso das artes visuais, podemos nos expressar por meio de diferen-
tes fazeres: o desenho, a pintura, a gravura, a fotografia, a escultura, a
colagem etc., interagindo com os outros e com o mundo.
A atividade de apreciação, na escola, pode começar com uma leitura
mais descritiva da imagem até chegar – por meio da investigação
sobre a função da arte e do conhecimento das técnicas ou estilos ar-
tísticos – a uma abordagem mais reflexiva.
O fazer artístico engloba o exercício com as diferentes técnicas, que
não podem faltar nas aulas de arte, pois a arte, enquanto linguagem, é
um instrumento que os alunos podem utilizar para “dizer” o que pen-
sam ou representar suas ideias, seus pontos de vista ou suas visões de
mundo.
1. Para enriquecer seu conhecimento sobre as técnicas e ampliar o leque de sugestões de ativida-
des a serem desenvolvidas com alunos das séries iniciais, sugerimos os seguintes livros de Ann
Forslind:
2. Para dar visibilidade ao trabalho também com alunos das séries iniciais, sugerimos a leitura das
atividades com as técnicas da aquarela e da pintura a óleo, do livro da 1.ª Série da Coleção Arte,
da Editora Módulo, de Consuelo A. B. D. Schlichta, Isis M. Tavares e Rose Meri Trojan.
3. Leia para seus alunos o livro de Ziraldo Alves Pinto: O Menino Marrom, da editora Melhora-
mentos. É uma verdadeira aula sobre as cores, exige uma atitude curiosa e investigativa dos lei-
tores, encantando pequenos e grandes. A história tem até um disco de Newton, que a professora
mostra. É incrível a maneira de Ziraldo construir uma história. Vale a pena conferir!
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
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A técnica na arte: os fazeres artísticos
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Os gêneros:
o que vemos e o que se esconde na imagem?
A
s respostas à pergunta “o que é?” exigem conhecimentos tanto da função da arte em nossa
vida e das técnicas – o desenho, a pintura, a gravura, a fotografia, a escultura – quanto dos
gêneros artísticos. Mas, no caso das artes visuais, quais são os gêneros? E por que estudá-los
na escola? Além disso, quando podemos empregar esse conceito nas artes visuais?
De acordo com o Dicionário Oxford, o termo gênero é
empregado na história e na crítica da arte para designar as pinturas que representam cenas da vida cotidiana. Pode
ser aplicado à arte de qualquer época ou lugar, mas geralmente refere-se aos temas domésticos favorecidos pelos
artistas holandeses do século XVII. Num sentido mais amplo, o termo é empregado para designar um ramo ou
categoria particulares da arte: a paisagem, o retrato e a natureza-morta, por exemplo, são gêneros de pintura, e o
ensaio e o conto são gêneros da literatura. (CHILVERS, 1996, p. 43-44)
Esse conceito é usado aqui no segundo sentido: designar um ramo ou uma temática particular
para classificar as obras de arte a partir das temáticas mais abordadas pela maioria dos artistas – na-
tureza-morta, retrato, paisagem, cenas do cotidiano, históricas, mitológicas e religiosas. Contudo, não
podemos esquecer que muitas obras não se encaixam nesses gêneros, por exemplo, a Escada I, de
Jorge Barrão.
Jorge Barrão, da Geração 80, faz par-
te de um grupo que se apropria de materiais
não convencionais e, sob a influência da Arte
Conceitual, cria objetos com características
dos ready-mades.
O artista coloca uma escada – obje-
to que nos permite subir para alcançar algo,
limpar uma vidraça ou, metaforicamente, al-
cançar um outro patamar – sobre carrinhos
de brinquedo. “Somando” esses objetos, es-
cada mais carrinhos, o artista cria um novo
objeto que provoca surpresa e estranhamento,
levando-nos a ver as situações cotidianas nas
quais esses objetos estão presentes com ou-
tros olhos.
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
Retrato
O retrato constitui-se na representação da imagem de uma pessoa por meio
do desenho, da pintura, da gravura etc. Porém, retratar uma pessoa não é apenas
reproduzir sua fisionomia, mas mostrar seu modo de ser, sua expressão.
Esse gênero é bastante explorado pelos artistas e está presente no cotidiano
das pessoas, por isso a abordagem desse tema, principalmente no Ensino Funda-
mental, pode ser feita por meio da pesquisa de retratos em diferentes momentos
da vida das crianças, de seus amigos e pessoas da sua convivência, e de retratos
produzidos por vários artistas, em diferentes momentos da História da Arte.
O professor pode ainda analisar retratos com duas ou mais pessoas, com
representação de rostos em perfil, frontal e na posição em três quartos e introdu-
zir o estudo da figura humana e dos diferentes cânones de representação: a figura
humana grega, a egípcia, a renascentista etc.
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
Natureza-morta
Uma natureza-morta pode conter desde arranjos de frutas e vasilhas rica-
mente decoradas até aves e peixes em bandejas sobre toalhas ou tecidos abertos
cobrindo uma mesa, uma variedade de objetos. Nesse gênero, o artista pode ainda
revelar nas formas, cores e linhas os aspectos estéticos subjacentes à aparência
dos objetos, colocando coisas comuns – livros, canetas e objetos de uma escriva-
ninha, cachimbos, paleta e os pincéis de um pintor – numa nova ordem visual.
Essa temática passou a ter uma maior relevância no campo da produção
artística e uma certa independência a partir do século XVII, mas para a maioria
das pessoas continuou em segundo plano e até o fim do século XIX não era con-
siderada um tema sério para a pintura.
Segundo Cumming (1996, p. 53), “havia uma hierarquia nos temas, e a pin-
tura histórica, que incluía cenas da Bíblia, era o gênero principal”. Para esse autor,
“embora muitos quadros importantes contenham primorosos detalhes de nature-
za-morta, ainda assim uma tela representando apenas objetos inanimados não era
considerada suficiente para expressar os objetivos e ideais da Grande Arte”.
Podemos deduzir então que é importante problematizar as definições e os
conceitos. Nesse caso, questionar por que temos tantas pinturas com essa temática
se a natureza-morta não era considerada séria para a “grande arte”. Discutir por
que os quadros de cenas históricas, por exemplo, foram tão valorizados no Brasil
do século XIX.
Tradicionalmente, muitas pinturas de natureza-morta
eram composições simbólicas destinadas a significar vani-
Além disso, será que uma tas: a vaidade das posses e a fragilidade da vida huma-
natureza-morta na. Isso costumava ser indicado por um crânio como um
nada mais é do que um símbolo ligado por convenção à morte, lembrando-nos que
novo arranjo visual? havemos de morrer.
E os objetos, numa natureza-morta, quais sentidos
simbólicos contêm então?
Segundo Frascina (1998, p. 87),
A pintura oferece um paradigma de representação no qual a imagem pode ser lida por es-
pectadores acostumados às convenções associadas à semelhança com as “coisas” do mun-
do. Uma imagem com alto grau de semelhança, ou identidade, com o mundo das “coisas”
é sempre referida como icônica. Exemplos do icônico em outros sistemas de representação
são a linha reta num mapa, significando “estrada reta” em virtude de uma propriedade
comum, ou uma linha curva num sinal de trânsito, significando “curva na estrada”.
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
Cenas históricas
É a representação de cenas com ênfase nos heróis e na exaltação de senti-
mentos nobres. Esse gênero sempre foi muito utilizado como uma forma de regis-
tro dos fatos históricos considerados relevantes para o poder instituído, como uma
forma de construção e manutenção da memória nacional.
No Brasil, a pintura histórica Independência ou Morte!, de 1888, de Pedro
Américo, é considerada um verdadeiro ícone da nossa história oficial e representa
o olhar de um pintor influenciado pelo Romantismo.
Independência ou Morte! 1888. Pedro Américo. Óleo sobre tela, 760 x 415cm.
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
Com esse quadro de Goya3, podemos constatar que nem todas as pinturas
que retratam cenas históricas são representações idealizadas da realidade ou têm
por finalidade a realização de um ideal de virtude, nobreza e superioridade, como
no Neoclassicismo e no Romantismo brasileiro do século XIX, por exemplo. Além
disso, ainda nessa época, muitas obras eram encomendadas por um patrono que,
geralmente, definia o tema e o ponto de vista a serem retratados. Os principais
patrocinadores eram a Igreja Católica, os nobres e a aristocracia da Europa.
O quadro Os Fuzilamentos de 3 de Maio de 1808 é uma impressionante
descrição do fuzilamento de cidadãos espanhóis que haviam se revoltado contra a
ocupação francesa liderada por Napoleão Bonaparte, entre 1808 e 1814.
Picasso, indignado com o bombardeio da cidade de Guernica pelos fascis-
tas, retratou o sofrimento de seus habitantes. Não pintou um quadro com o mesmo
realismo heroico de Goya, mas, por meio de formas mais simbólicas, brutalmente
distorcidas, transmitiu a angústia e o sofrimento da humanidade.
Para muitas pessoas, um quadro deve representar alguma coisa sempre de
forma bela, e por isso criticam Picasso perguntando “Por que é que ele foi pin-
tar uma coisa tão violenta?” Além disso, acham difícil “ler” o quadro, porque é
impossível destacar uma parte como principal e identificar uma “coisa ordenada,
toda inteira”. Na representação do cavalo, no Guernica, algumas partes da figura
misturam-se com outras figuras e o fundo e estão desencaixadas e distorcidas.
Picasso utiliza procedimentos técnicos do Cubismo – a fragmentação das formas
e do espaço, a fusão de figura e fundo, sem privilegiar um ou outro – para criar a
atmosfera própria da fragmentação do homem e da realidade.
Essa imagem sintetiza, à maneira cubista, o esfacelamento, a fragmentação
da humanidade diante do horror da guerra.
3 A pintura de Goya é
uma cena histórica,
considerada um símbolo
das lutas pela liberdade, e
representa o fuzilamento,
em 3 de maio de 1808,
por soldados franceses,
de cidadãos espanhóis
contrários à ocupação de
seu país pelo imperador
Napoleão I. Por meio
Guernica (detalhe). 1937. Pablo Picasso. Óleo sobre tela, desse quadro, Goya
350 x 782cm. expressa, de forma geral,
as lutas pela liberdade e
contra a tirania.
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
Os cidadãos espanhóis, por sua vez, estão de braços abertos, sem armas, em
posição inferior diante do outro grupo. Visualmente, a posição dos condenados
comunica insegurança e submissão diante da bestialidade dos militares franceses
e do poder das armas.
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
2. Podemos perceber, na obra de Picasso, uma evolução que parte de uma re-
presentação mais naturalista de um touro, na qual ele utiliza a técnica do
claro-escuro, até chegar a um processo de abstração no qual representa o
animal com poucas linhas.
Numere as imagens do touro na sequência, de 1 a 5, tomando como referên-
cia o processo de representação do animal do figurativo à forma esquemática.
Picasso. Desenhos.
Cenas da mitologia
As cenas da mitologia estão presentes na produção de muitos artistas, como
O Nascimento de Vênus, de aproximadamente 1485, uma das obras mais famosas
de Sandro Botticelli. Esse artista deu grande valor aos temas mitológicos e neles
se inspirou para produzir alguns de seus quadros.
Há várias interpretações dessa obra: às vezes, é vista como delicada e frágil
e, em outras, como símbolo da humanidade desamparada. A deusa do amor, para
alguns estudiosos, representa o ideal da Verdade; para outros, o da Beleza.
Cenas religiosas
No século XV, as pinturas de cenas religiosas eram muito difundidas, pois
essas obras podiam ilustrar as histórias da Bíblia com muita clareza.
De acordo com Woodford (1983, p. 8), “a Igreja estava profundamente inte-
ressada em evangelizar o maior número possível de pessoas”. Essa autora acres-
centa o seguinte comentário do papa Gregório Magno: “as pinturas podem fazer
pelos analfabetos o que a escrita faz pelos que sabem ler”. Isso significa que “as
pessoas simples poderiam receber a mensagem das Sagradas Escrituras olhando
para ilustrações como essa, de fácil compreensão”.
Uma pintura de Da Vinci pode ilustrar com maestria uma história da Bíblia,
mas sua obra tem um valor que extrapola o papel meramente ilustrativo de uma
cena religiosa. Nesse sentido, é necessário conhecer a contribuição de um artista
ao período em que viveu. No caso de Da Vinci, sua maior contribuição foi desen-
volver, ao nível de maestria, a representação das figuras por meio da técnica do
chiaroscuro (sombreado suave que vai do claro ao escuro), do sfumato (sombreado
à maneira de fumaça) e da perspectiva (representação da terceira dimensão, isto
é, da profundidade).
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
Para nós, que conhecemos a tradição cristã, é fácil reconhecer o tema des-
sa imagem e mesmo que não soubéssemos o título do quadro
conseguiríamos apreender seu significado, pois é a represen- Mas qual a finalidade
tação de uma cena religiosa que ilustra, com clareza, o último dessa pintura?
encontro de Cristo com seus discípulos.
1. Por que ilustrar uma história que está registrada nas Sagradas Escrituras?
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
Cenas do cotidiano
A obra O Almoço dos Remadores é uma tela muito apreciada, tanto por sua
atmosfera agradável como por seu colorido, e muitas pessoas relacionam a expres-
são da pessoa retratada e os sentimentos que são percebidos com o significado do
quadro. Consequentemente, interpretam o quadro com base apenas nos aspectos
aparentes: a amizade da moça com o cão, as cores alegres etc. Segundo Parsons
(1992, p. 112), muitas pessoas dizem:
“Tem as cores lindas. É o que eu gosto mais. Gosto de quadros alegres.”
“Parece que a jovem está contente, porque não tem lágrimas no rosto.”
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
“Gosto do quadro, no conjunto, mas não gosto desse tipo de quadros assim...
é a maneira como eles usam o pincel... Se fosse mais suave, e uma cor misturada
como deve ser” (PARSONS, 1992, p. 131-132).
Como podemos perceber, a maioria pode admirar as cores alegres, mas con-
siderar “errada” a técnica de Renoir é desconhecer que suas pinceladas, sem “mis-
turar”, são uma característica da maneira impressionista de pintar. Esquecem que,
no Impressionismo, os artistas representam a luminosidade atmosférica por meio
de um profundo conhecimento de teoria da cor e que aproveitam certos efeitos de
iluminação, quer natural, quer artificial, fazendo-os coincidirem com a distribui-
ção de manchas claras e escuras na imagem.
Assim, só quando adquirimos maior conhecimento sobre arte incluímos em
nossa leitura observações sobre o estilo do artista para fundamentar a análise.
Da mesma maneira, o modo de pintar de Van Gogh no quadro Os Come-
dores de Batatas (1885) também é criticado, pois as pessoas entendem que ele
poderia ter feito camponesas mais bonitas, sob uma cor mais alegre.
Van Gogh, consciente disso, faz o seguinte comentário sobre esse quadro
numa carta ao irmão:
E até pode ser que ele seja uma verdadeira pintura de camponeses. Eu sei que ele é isto.
Mas quem preferir ver camponeses edulcorados que passe ao largo. Por mim, estou con-
vencido que afinal obtêm-se melhores resultados pintando-os em sua rudeza que conferin-
do-lhes uma beleza convencional. Com sua saia e sua camisola azuis, cobertas de poeira
e remendadas, e que sob o efeito do tempo, do vento e do sol tenham tomado os mais de-
licados matizes, uma camponesa é, na minha opinião, mais bonita que uma dama, que ela
se vista como uma dama, e tudo que há de verdadeiro nela desaparece. Um camponês é
mais belo entre os campos em suas roupas de fustão, do que aos domingos quando vai à
igreja ridiculamente vestido como um senhor. E da mesma forma, seria um erro, na minha
opinião, dar a uma pintura de camponeses um certo polimento convencional. (VAN
GOGH apud RUPRECHT, 1986)
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
2. Por que Van Gogh diz que “seria um erro dar a uma pintura de camponeses
um certo polimento convencional”?
3. Para Van Gogh, “um camponês é mais belo entre os campos em suas roupas
de fustão, do que aos domingos quando vai à igreja ridiculamente vestido
como um senhor”. Na sua visão, na atualidade, o que deve expressar uma
verdadeira pintura de camponeses?
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
Paisagem
Outro gênero é a paisagem, até a Idade Média muito utilizada para comple-
mentar o fundo dos quadros com o objetivo de dar sentido às figuras principais.
Seu tema essencial é a representação de um lugar, uma cidade, uma floresta, com
a presença de figuras ou não.
As paisagens cujo tema é o mar são chamadas de marinhas. As paisagens
urbanas ou casarios representam um lugar ou conjunto de casas ou uma cidade.
Uma paisagem pode ser também idealizada, quando representa cenas exaltando
uma visão romântica da realidade, ou realista, quando mostra a realidade sem
retoques.
Assim como Van Gogh, Monet, com o quadro Impressão: nascer do sol,
exposto em 1874, foi bastante atacado. Os críticos definiram a pintura de Monet
com desprezo, a partir do nome do quadro, como “impressões”. Daí o nome do
movimento de que Monet fez parte: Impressionismo.
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
A paisagem, por sua vez, até a Idade Média, era muito utilizada para com-
plementar o fundo dos quadros com o objetivo de dar sentido às figuras principais.
E, ainda hoje, as paisagens bem coloridas são muito apreciadas, principalmente
quando são representações que exaltam a harmonia e a beleza e refletem uma vi-
são idealizada da natureza.
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
Autor.
Gênero.
Técnica.
Estilo do artista.
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
2. Observe o Retrato de Dora Maar, pintado em 1937, por Picasso. Ele reflete
o abandono do realismo, da perspectiva e do claro-escuro. Esse modo de
pintar, que chamamos de Cubismo, apoia-se na decomposição da figura em
vários pontos de vista, nas formas geométricas, sem se preocupar com a
aparência das coisas. Picasso representa, ao mesmo tempo, várias posições
da figura, por exemplo, os dois olhos num rosto de perfil.
Autor.
Gênero.
Técnica.
Estilo do artista.
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
3. Andy Warhol, artista pop, dirigiu sua atenção para a sociedade de consumo
norte-americana e baseou seus trabalhos em temas da cultura de massa.
Seus trabalhos deram um novo sentido para objetos como latas de sopa,
garrafas de coca-cola, ou à imagem de celebridades como Elvis Presley,
Marilyn Monroe etc.
Autor.
Gênero.
Técnica.
Estilo do artista.
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
Resumindo
As temáticas mais abordadas pela maioria dos artistas são a natureza-mor-
ta, o retrato, a paisagem, as cenas do cotidiano, as históricas, as de mitologia e as
religiosas. Contudo, não podemos esquecer que muitas obras não se encaixam
nesses gêneros.
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
O estudo dos gêneros, na arte, deve subsidiar a prática escolar. Por isso, é importante pesquisar
obras e artistas dentro das diferentes temáticas, em diversos períodos da História da Arte.
Para subsidiar o professor no planejamento de suas aulas de arte, recortamos algumas propostas
de trabalho sobre o gênero retrato e autorretrato para alunos da 2.ª Série, da coleção Arte, de Consuelo
Schlichta, Isis M. Tavares e Rose Meri Trojan, da Editora Módulo.
Autorretrato
Autorretrato é quando fazemos nosso próprio retrato. Geralmente usa-se um espelho ou uma
foto como modelo.
Muitos artistas costumam fazer seu autor retrato.
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
Autorretrato de Rembrandt
Rembrandt foi um pintor que nasceu na Holan-
da em 1606 e viveu até 1669. Ele gostava tanto de se
autorretratar que chegou a pintar 48 autorretratos.
Ele usava a luz como principal meio de
expressão. Observe neste quadro, pintado em
1634, como o reflexo luminoso sobre o rosto
deixa tudo o mais na sombra. A essa forma de
trabalhar na pintura com luz e sombra chama-
mos de claro-escuro.
Exercício de leitura
de autorretratos
1. Observe atentamente os dois autorretratos.
2. Analise e discuta com a sua turma as informações que vocês leram sobre os artistas e os
seus quadros e que mostram dois modos diferentes de pintura.
A partir das observações e informações obtidas, relacione e numere as características citadas
a sueguir com as obras correspondentes, considerando a obra de Rembrandt como número 1,
e a de Van Gogh, número 2.
( ) O rosto parece iluminado por um foco de luz.
( ) A figura está bem definida por uma linha de contorno.
( ) Usa variações de cor, do azul para o verde.
( ) O fundo do quadro é pintado com cores muito escuras, não deixando perceber direito
o contorno da pessoa.
( ) Percebe-se o movimento circular das pinceladas.
( ) Usa-se contraste de luz e sombra para produzir claro-escuro (SCHLICHTA; TAVA-
RES; TROJAN, 1996, p. 33-36).
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
1. Para aprofundar seu conhecimento sobre os gêneros nas artes visuais, sugerimos a leitura do
livro de Susan Woodford: A Arte de Ver a Arte, da Zahar Editores, de 1983.
2. Ler para seus alunos o livro O Menino Mais Bonito do Mundo, de Ziraldo Alves Pinto, da Me-
lhoramentos. Esse livro é ilustrado com desenhos da menina Apoena H. G Medina e pinturas a
óleo de Sami Matar. A última ilustração do livro, aliás belíssima, lembra a Vênus de Botticelli.
Vale a pena ver!
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Os gêneros: o que vemos e o que se esconde na imagem?
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Alfabetização visual
e códigos da linguagem
A
leitura das obras de arte é uma forma não só de fruição de prazer estético, mas também de co-
nhecimento. Portanto, conhecer, longe de ser uma absorção passiva do repertório de alguém,
exige do apreciador um esforço de interpretação das formas simbólicas para percebê-las como
a expressão de outro sujeito e como uma mensagem a ser compreendida.
Nessa linha de raciocínio, a apreciação, enquanto uma outra produção – que chamamos de con-
sumo –, é uma forma não só de fruição, de prazer estético, mas também de conhecimento.
O homem se constrói no interior da prática social, na qual ele educa seus sentidos e forma sua sensi-
bilidade. Portanto, essas funções, chamadas de naturais, são inteiramente modeladas pelo contexto históri-
co e social. Além disso, a evolução dos gestos que definem esses “costumes” é indissociável da evolução da
sensibilidade e, nesse sentido, estão profundamente incorporadas. Esses “sentimentos levam à formação de
regras de conduta que constroem um consenso sobre os gestos que convém ou não fazer – gestos que, em
contrapartida, contribuem a modelar a sensibilidade” (HEINICH, 2001, p. 12).
Partindo-se da premissa de que a sensibilidade estética não é um atributo inato ao sujeito e nem
o senso estético é uma qualidade natural do objeto, entendemos, então, que a formação dos sentidos
humanos é tarefa do ensino de Artes. Assim, cabe ao educador em Arte, no âmbito da escola, uma
investigação sobre as possibilidades de leitura das obras de arte como um outro fazer.
Por isso, é necessário cuidado com a visão de que basta cultivar uma atitude de contemplação
e acolhimento para captar o que a imagem revela, pois essa visão é correlata da ideia de inspiração
e genialidade, qualidades atribuídas ao artista para justificar o não acesso da maioria das pessoas ao
conhecimento das artes. Nessa perspectiva, justifica-se que só faz arte quem nasceu com “dom” e só
consegue “saber” o que quer “dizer” uma obra de arte aquele que também nasceu com alguma “capa-
cidade sobrenatural” de “receber” a mensagem das obras por meio da simples contemplação.
No entanto, a capacidade de “ler” uma imagem não é uma qualidade inata do ser humano e sim
uma prática humana que requer um campo de conhecimentos interdisciplinares, tanto históricos e antro-
pológicos quanto estéticos, necessários à aprendizagem de estratégias de interpretação das imagens. Ler
uma imagem constitui-se num processo de criação de sentidos e de construção de interpretações tanto
do artista quanto do leitor. Desse modo, a apreciação pressupõe a formação dos sentidos e o domínio do
conhecimento. Assim, precisamos tanto de informações visuais obtidas de nossa experiência quanto dos
conhecimentos que armazenamos.
O artista, por meio da imagem, explicita verdades ou mentiras, mostra coisas bonitas ou feias,
significativas ou triviais, apresenta ou representa uma visão da realidade, de acordo com certa inten-
ção. Logo, uma imagem está sempre carregada de um sentido ideológico.
Mas só o conhecimento dos elementos visuais – forma ou superfície, linha, cor, luz e sombra, vo-
lume – não nos permite compreender o significado de uma imagem, pois podemos identificar formas, li-
nhas, cores sem apreender seu sentido naquela composição. Trata-se de compreender que não utilizamos
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Alfabetização visual e códigos da linguagem
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Alfabetização visual e códigos da linguagem
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Alfabetização visual e códigos da linguagem
A composição visual
Para ampliar o conhecimento da composição visual, das técnicas e dos elemen-
tos formais, extraímos do Currículo Básico da Secretaria Municipal da Educação de
Pinhais, no Paraná, os conteúdos fundamentais para o trabalho no Ensino Funda-
mental.
(PINHAIS, 2000, p. 170-175)
Nas Artes Visuais, a composição refere-se à distribuição e à organização
dos elementos formais ou partes em uma obra, ao estudo dos elementos formais
e também, dos princípios através dos quais podemos fazer um desenho, uma
pintura, uma escultura, por isso, vamos abordar os elementos formais, relacio-
nando-os sempre à composição.
No estudo da composição, a primeira coisa a destacar é que estas podem
ser bidimensionais ou tridimensionais.
Bidimensional: quando utilizamos duas dimensões (altura e largura).
Nesse caso, podemos destacar: o desenho com grafite, com lápis de cor, com
giz de cera, com carvão. A pintura a óleo, com aquarela, com giz de cera, com acrí-
lica. A gravura em metal, o linóleo, a xilogravura, a litografia, a serigrafia.
A fotografia na técnica conhecida como fotorrealismo ou hiper-realismo,
na qual se reproduz uma fotografia em pintura com o máximo de fidelidade.
Também destacamos as técnicas da colagem e da fotomontagem que são feitas
a partir da composição com partes de várias fotografias, por meio de recorte e
colagem ou sobreposição de negativos.
Na realidade, essa divisão, como em qualquer estudo no campo das artes, não
é nada rígida. Por isso temos uma série de obras nas quais vemos indicado técnica
mista, porque muitos artistas trabalham duas ou mais técnicas ao mesmo tempo.
Por exemplo: desenho e pintura, pintura e gravura, até mesmo peças tridimensio-
nais são colocadas na parede, espaço tradicionalmente destinado à pintura.
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Alfabetização visual e códigos da linguagem
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Alfabetização visual e códigos da linguagem
União Pan-Americana. 1940. Diego Rivera. Afresco em dez murais transportáveis, altura
total: 6,74m, largura total: 22,5m, área total pintada: 151,88m².
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Alfabetização visual e códigos da linguagem
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Alfabetização visual e códigos da linguagem
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Alfabetização visual e códigos da linguagem
A estrutura e o centro
geométrico e o perceptivo da
composição
A divisão interna do campo visual – pla-
no básico – pode apresentar um esquema bem
tradicional: dividido em duas outras partes,
com centro geométrico ou centro perceptivo.
Observe a divisão em três partes do retrato
de Mona Lisa, de Leonardo da Vinci.
85
Alfabetização visual e códigos da linguagem
A representação
das formas
Nessas composições, as representações podem
ser figurativas ou abstratas. Nas figurativas, man-
tém-se uma certa fidelidade ao objeto real e, mesmo
quando modificamos ou deformamos, ainda assim
temos o predomínio da figuração. Uma imagem fi-
gurativa é aquela que permite identificar os objetos
representados. No caso da abstração, temos uma re-
presentação independente do mundo real.
Podemos considerar a deformação como ou-
tro recurso para a representação das formas e, tal
como indica, esse recurso permite deformar obje-
tos tendo em vista o aspecto para o qual se queira
Isto Não É uma Maçã. 1964. Magritte.
chamar atenção.
Óleo sobre tela, 62,2 x 81cm.
86
Alfabetização visual e códigos da linguagem
A representação figurativa
Muitas pessoas ainda associam o que julgam “verdadeira” arte com míme-
sis: representação fiel dos objetos ou seres do nosso entorno. Nesse caso, o artista
tem por objetivo copiar, por meio da linguagem plástica, os aspectos visíveis do
mundo. No entanto, não podemos perder de vista que nem mesmo a cópia é um
exercício passivo, mas fruto de uma escolha do artista.
Na sua opinião, por
Ora, a fruta pintada por Magritte em Isto Não É uma Maçã,
embora ilusoriamente tão realista, continua sendo apenas uma pin-
que Magritte deu o
tura, assim como a palavra maçã também não constitui a fruta. título Isto Não É uma
Maçã para um de
Observe este outro quadro de Magritte.
seus quadros?
87
Alfabetização visual e códigos da linguagem
A deformação na arte
Já o princípio da deformação está presente nas obras dos artistas expressionistas. Seu objetivo:
representar as coisas não como as viam e sim como as sentiam, plasmando as angústias do ser huma-
no e a força das suas emoções por meio da distorção das formas e das cores.
A obra expressionista O Grito é considerada um símbolo da fragmentação social e do isolamen-
to das pessoas nos tempos modernos. Apesar de
representar uma figura humana, Munch não pre-
tende fazer uma simples cópia. O próprio título do
quadro revela que a intenção do autor era outra.
Seu trabalho expressa dor, solidão, angústia, ele-
mentos da subjetividade humana.
Munch, numa anotação em seu diário, escla-
rece a finalidade da pintura: “Não devemos pintar
interiores com pessoas lendo e mulheres tricotan-
do; devemos pintar pessoas que vivem, respiram,
sentem, sofrem e amam” (23.ª BIENAL, 1996, p.
120).
Sua obra dá visibilidade à subjetividade e
aos sentimentos mais íntimos, captando, no com
portamento humano fundamentado no individua-
lismo, o que caracteriza o mundo moderno.
88
Alfabetização visual e códigos da linguagem
A estilização e a abstração
Outro recurso usado pelos artistas é a estilização, que requer uma simplifi-
cação, uma redução de detalhes visuais.
Ora, quanto mais realista é uma imagem, mais icônica ela é. A iconicidade
constitui-se no grau de fidelidade da imagem em relação ao objeto real. Nesse sen-
tido, a fotografia de um objeto qualquer reproduz esse objeto com maior fidelidade
do que um desenho, que é, portanto, menos icônico do que uma foto.
A Série de Árvores, de Mondrian, por exemplo, revela uma escala de iconi-
cidade, desde a pintura quase realista de uma árvore até a sua abstração. Há uma
abstração da temática por meio da redução de seus elementos (formas, cores, li-
nhas) a representações independentes do mundo real.
89
Alfabetização visual e códigos da linguagem
A ( ) B ( ) C ( ) D ( )
A forma e a estrutura
A forma constitui-se no aspecto exterior das
coisas e define-se visualmente por seus limites,
que são dados por linhas (contornos) e superfí-
cies, configurando, em alguns casos, um volume
por meio da técnica do claro-escuro. Todos os
elementos visuais apresentam uma forma. Assim,
se nos referimos à forma de um sofá como um
objeto tridimensional, estamos falando de volume,
ou seja, a propriedade que o objeto tem de ocupar
o espaço. Mas se nos reportamos à representação
bidimensional, chamamos de forma a porção de su-
perfície plana delimitada pela linha de contorno.
Tanto os objetos como os seres vivos apre-
sentam uma estrutura. Observe como Matisse che-
ga a uma síntese da figura humana, na obra Nu Azul
Nu Azul IV. 1952. Matisse. Guache recortado, IV, por meio de recortes.
103 x 74cm.
90
Alfabetização visual e códigos da linguagem
Simetria
Uma composição tem um formato e uma estrutura. Se traçamos linhas dia-
gonais e eixos horizontal e vertical imaginários sobre uma composição, podemos
perceber que ela apresenta um certo esquema estrutural. Um elemento colocado,
por exemplo, bem no centro da composição sugere um efeito de equilíbrio, esta-
bilidade e repouso. Quando colocado no alto, embaixo, na direita, na esquerda,
sugere maior dinamismo e uma ideia de movimento.
Simetria significa “justa proporção”: harmonia resultante de certas combi-
nações e proporções regulares ou correspondência, em grandeza, forma e posição
relativa de partes situadas em lados opostos de uma linha ou plano médio, ou
ainda que se acham distribuídas em volta de um centro ou eixo.
Simetria axial
A forma mais comum de simetria é a axial, que apresenta um eixo vertical
ou horizontal que divide a composição em duas partes iguais.
Podemos perceber que Modigliani, na página seguinte, além da simetria
axial, recorre a outros procedimentos, por exemplo, as formas simplificadas e
91
Alfabetização visual e códigos da linguagem
Simetria radial
Observe, agora, a obra de Ken-
neth Noland. Esse tipo de simetria,
chamada radial, pressupõe um mo-
vimento que se dá a partir de um
eixo, enfatizando-se, dessa forma,
Luz Sombria. 1965. Kenneth Noland. Acrílico sobre tela, 259 x 264,2cm.
uma direção. Dividindo essa ima-
gem com um eixo central (vertical
ou horizontal), obtemos lados iguais
que apontam para fora como se fos-
sem setas.
93
Alfabetização visual e códigos da linguagem
94
Alfabetização visual e códigos da linguagem
O ritmo visual
O ritmo visual possibilita a criação de composições mais ou menos dinâ-
micas e pode ser classificado nas seguintes categorias: uniforme, variável, alter-
nado, crescente, decrescente e concêntrico. O ritmo pode ser uniforme quando
repetimos uma forma regularmente e variável quando mudamos a forma, a cor
ou a sequência. Por exemplo: quadrados um ao lado do outro, com a mesma dis-
tância, aumentando de tamanho, mudando de cor etc. Também podemos utilizar
o ritmo alternado, quando duas ou mais formas se repetem regularmente. As
formas podem também apresentar um ritmo crescente e decrescente para cima,
para baixo, para a direita ou para a esquerda. Quando utilizamos uma forma que
muda de tamanho sem modificar a posição do seu centro, conseguimos ritmos
concêntricos.
Ritmo
crescente.
95
Alfabetização visual e códigos da linguagem
96
Alfabetização visual e códigos da linguagem
97
Alfabetização visual e códigos da linguagem
Resumindo
Não podemos analisar todos os objetos artísticos e a arte de qualquer tem-
po sempre com os mesmos critérios, pelos motivos a seguir.
Em primeiro lugar porque a função da arte muda em razão do contexto
histórico.
Em segundo lugar porque a compreensão dos significados das obras
pressupõe o estudo do processo de inovação técnica, o uso de materiais
e instrumentos, pois o domínio dos recursos e gêneros para chegar à
técnica (o singular é importante!) é um processo fundamental para a
criação artística.
Em terceiro lugar porque frente a uma obra de arte podemos analisar
os procedimentos de composição: simetria, figura e fundo ambíguo,
perspectiva etc. Isso porque não é por acaso tanto o uso de um de-
terminado material quanto da cor ou da linha, por exemplo, numa
pintura ou num desenho.
Concluindo: para analisar as imagens, precisamos conhecer também a
“gramática da composição visual”.
98
Alfabetização visual e códigos da linguagem
Para aprofundar seu conhecimento sobre composição nas artes visuais, sugerimos a leitura de
Universos da Arte, de Fayga Ostrower (Campus, 1983). Depois da leitura, faça um levantamento
dos pontos mais importantes que você encontrou no livro.
99
Alfabetização visual e códigos da linguagem
100
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
J
andira Masur parte da pergunta “O frio pode ser quente?” para refletir sobre a maneira como
vemos o mundo. De uma maneira poética, ela argumenta: “As coisas têm muitos jeitos de ser//
Depende do jeito da gente ver...”
Realmente, dá para pensar e perguntar: “Por que será que numa noite a lua é tão pequena
e fininha e outra noite ela fica tão redonda e gordinha para depois ficar de novo daquele jeito
estreitinha? Depende do quê? Depende do dia que a gente vê.”
A autora (MASUR, 1991, p. 1-32) encerra sua brilhante reflexão – é um livro para crianças –
dizendo:
Curto e comprido
Bom e ruim
Vazio e cheio
Bonito e feio
São jeitos das coisas ser
Depende do jeito da gente ver
Ver de um jeito agora e de outro jeito depois
Ou melhor ainda ver na mesma hora os dois
Não é uma verdadeira aula de filosofia? Aliás, temperada com muita criatividade! A autora
resumiu (no seu livro para crianças) conceitos que, há séculos, muitos tentam explicar e outros tantos
entender. Por exemplo: não existe só o bom ou só o mau, não há só a beleza – o homem criou também
a feiúra. As aparências, muitas vezes, enganam; o mundo é contraditório, a história é dialética, as
pessoas não pensam todas da mesma maneira.
Mesmo assim, ainda hoje, muitas pessoas, quando apreciam um quadro, levam em consideração
apenas o realismo da imagem, considerando como “verdadeira” arte somente aqueles quadros em que
os artistas misturam bem todas as cores.
101
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
102
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
103
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
Quando um quadro deixa de ser entendido como cópia da realidade e faz pon-
te com o universo artístico composto de muitos quadros e pintores, modifica-se a
forma de analisá-lo, incluindo-se, nesta leitura, conhecimentos de História da Arte.
Nas cores das gravuras Mulheres à beira-mar, de Munch, por exemplo, há uma
atmosfera angustiante e um sentimento de profunda solidão.
Neste trabalho gráfico, Munch investigou o poder que a cor exerce sobre o clima e o
significado. Estas duas xilogravuras fazem parte de uma série que foi impressa num
período de 30 anos. A versão mais antiga [...], feita em 1898, mostra uma velha mulher e
uma moça em pé numa praia verde contra um céu azul. Após muitas variações de cor, a
impressão final de 1920 mostra o cabelo laranja da moça intensificado por um vermelho-
sangue enquanto o preto intenso da velha mulher sutilmente a transforma na figura da
morte. (COLE, 1994, p. 47)
104
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
O disco de Newton.
Assim, podemos afirmar que, com a soma ou síntese das cores do espectro 1 As três cores para pin-
tar (cor-pigmento) são
magenta (embora em muitos
solar (as cores-luz), obtemos a luz branca. livros didáticos apareça a
denominação cor vermelha
no lugar do nome dessa cor);
Observe como obtemos a luz branca mesclando as três cores luz: azul- cian ou ciano (ou azul-claro,
como é mais conhecido) e
-escuro, verde e vermelho. Podemos deduzir então que, com a soma dos pigmentos amarelo.
105
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
primários, teoricamente, chegamos ao preto. O preto e o branco não são cores: re-
presentam o claro e o escuro e servem para que se obtenha nuances de uma cor.
Podemos distinguir também as cores quentes: vermelho, amarelo, laranja e
suas derivações. As cores frias tendem para o azul – a gama de azul-verde-violeta.
A luz branca é obtida com as três cores- O preto é a soma dos pigmentos primários:
luz: azul-escuro, verde e vermelho. magenta, amarelo e ciano.
As cores podem ser combinadas por meio do uso de uma mesma tona-
lidade, isto é, de escalas cromáticas e também por meio do contraste. Pode-se con-
seguir o contraste máximo com a utilização de amarelo e violeta, azul e laranja, ver-
melho e verde.
Domingo à Tarde na Ilha da Grande Jatte. 1884-1886. Georges Seurat. Óleo sobre
tela, 202 x 300cm.
106
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
Grandeza relativa das figuras representada pela Sobreposição das figuras no quadro Domingo à
ideia de maiores à frente e menores atrás. Tarde na Ilha da Grande Jatte.
Cor e luz: feito de longe e perto representado por Representação da profundidade por meio
meio de cores quentes e frias, nítidas ou esfumadas. da perspectiva.
107
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
O volume na arte
As composições bidimensionais são realizadas sobre um suporte plano
ou bidimensional e, para representar sobre um plano a tridimensionalidade
do espaço e as luzes e sombras do mundo real podemos utilizar alguns recur-
sos – o contraste de claro e escuro e a perspectiva – que nos permitem dar a
ideia de volume e profundidade.
O contraste de luz e sombra, para dar a sensação de volume, é conseguido,
na pintura ou no desenho, mediante o uso da técnica do claro-escuro.
Observe como Escher utiliza o claro-escu-
ro para dar ideia de volume na representação das
mãos. Podemos perceber que as mangas ainda são
simples desenhos, pois são apenas linhas de con-
torno. As mãos, no entanto, em razão das sombras
criadas com a técnica do sfumato, parecem “de
verdade”, pois já estão representadas com tridi-
mensionalidade ou com volume.
Outro recurso que nos permite representar
o volume dos objetos sobre o plano é a perspecti-
va. Nesse caso, podemos sobrepor figuras numa
Desenhando-se. 1948. Escher. Litografia, 28,5 x 34cm. composição, colocar figuras maiores na frente e
figuras menores atrás. Também podemos desta-
car por meio da ênfase nos detalhes e na intensi-
dade das cores e pela definição das formas no
primeiro plano, em contraste com formas e cores
pouco definidas ao fundo.
Observe A Avenida Meddelharnis, de
Meindert Hobbema (1638-1709), e compare com
o esquema para ver alguns truques de perspecti-
va utilizados por muitos artistas.
A linha vermelha representa a linha do horizonte entre o
céu e a terra. O ponto no meio desta linha é o ponto de
fuga. As linhas do quadro dirigem-se ao ponto de fuga.
Marcamos algumas linhas em azul – chamam-se orto-
gonais. (STURGIS, 1995, p. 12)
109
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
Girassóis. 1888. Van Gogh. Óleo sobre tela, Girassóis. 1995. Botero. Lápis e aquarela,
92 x 73cm. 132 x 101cm.
110
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
111
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
O estilo na arte:
diferentes maneiras de pintar
Há muitas experiências vividas pelos próprios artistas que comprovam que
é comum a crítica a respeito das técnicas inovadoras.
Picasso, por exemplo, viveu a situação abaixo.
Uma senhora, diante de um de seus quadros, exclamou:
– Mas isto aí até meu filho faz!
Picasso respondeu de imediato:
– Seu filho pode fazer, mas a senhora não!
Está implícito, no comentário da mulher, que
a verdadeira arte está longe daqueles rabiscos. E, na
resposta de Picasso, apreendemos o argumento de
que os artistas só conseguem ter liberdade de ex-
pressão, como vemos nos desenhos das crianças, por
meio de muito trabalho e pesquisa.
Numa exposição de desenhos infantis, em
1946, Picasso declarou que, desde pequeno, já sa-
bia desenhar como Rafael. Mas, acrescentou: “levei
muitos anos para desenhar como as crianças” (apud
STRICKLAND, 1999, p. 136).
Observe a pintura A Primeira Comunhão, que
Picasso realizou aos 14 anos de idade.
Podemos perceber que Picasso, quando jovem,
já dominava a representação das formas e do espaço,
que se constituiu num grande desafio para os artistas
do Renascimento, exigindo a criação de um método
denominado perspectiva.
A Primeira Comunhão. 1895-1896. Picasso.
Óleo sobre tela, 166 x 118cm. Todos esses conhecimentos – que se referem
às finalidades, aos gêneros, às técnicas e ao domínio
4 David Hockney nasceu
em 1938, em Bradford, da composição – são fundamentais à alfabetização
Yorkshire, e tornou-se um
dos nomes mais conheci-
visual do leitor.
dos do mundo das artes
nos anos 1960, mas no Por exemplo, A Cadeira de Gauguin, de Hockney4, exigiu conhecimentos
final da década afastou-se
da Pop Art, movimento de arte, não só do artista mas também do observador. O conhecimento da História
artístico que influenciou
sua produção inicial.
da Arte, para uma melhor compreensão do sentido desse objeto, inclusive da razão
112
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
A Cadeira de Gauguin. 1888. Van Gogh. A Cadeira de Van Gogh. 1888. Van Gogh.
Óleo sobre tela, 90,5 x 72cm. Óleo sobre tela, 93 x 73,5cm.
113
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
114
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
Para Van Gogh, “é simplesmente o meu quarto. É a cor que faz tudo, dan-
do, por meio da simplicidade, maior estilo às coisas, e sugerindo a ideia de calma
ou, naturalmente, de sono. Em resumo, a presença do quadro deve acalmar a
cabeça, ou melhor, a fantasia” (VAN GOGH apud CRISPINO, 1996, p. 46).
Para Lichtenstein, no entanto, esse quadro é uma ponte por meio da qual é
possível dialogar com outro período da História da Arte.
A Vênus de Willendorf
As esculturas de figuras femininas também foram encontradas em grande
quantidade nessas cavernas, e mostram mulheres de formas volumosas, principal-
mente seios e ventre, ressaltando características relacionadas à fertilidade.
115
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
116
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
rante a Antiguidade clássica (600 a.C. a 300 a.C., aproximadamente) e no período que vai da
época do Renascimento (a partir do século XV) até inícios do século XX. (1983, p. 11)
117
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
5 Cânon ou cânone é
uma palavra de origem
grega e significa “regra”,
“padrão”, “modelo”, “norma”. Estudo da Representação da Figura Hu-
mana. Dürer.
118
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
O cânone de Le Corbusier
O arquiteto Le Corbusier criou o modulador, um cânone baseado
no corpo humano, do qual se derivam as proporções dos objetos de uso
diário, a construção das casas, a medida padrão das roupas etc.
Le Corbusier. O Modulador.
119
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
Sugira aos alunos que façam uma cópia em xerox do cajado da Fênix e
criem “braços” e “pernas” para a figura.
Resumindo
Podemos ampliar as reflexões sobre as técnicas e os gêneros com exercí-
cios que envolvam os elementos formais: forma, linha, cor e luz, volume, figura
e fundo, simetria etc. Também é fundamental um exercício constante de análise
das imagens, que pode começar por meio de uma leitura mais descritiva e avan-
çar para uma interpretação mais reflexiva.
1. Para aprofundar o estudo sobre essa temática, sugerimos a leitura do módulo “Figura humana”
e do texto “Composição plástica”, extraídos do Livro do Professor, e as sugestões de atividades
sobre essa temática para alunos de 1.ª a 4.ª série, de Consuelo Schlichta, Isis M. Tavares e Rose
Meri Trojan para a Coleção Arte: Ensino Fundamental. Curitiba: Módulo.
2. A leitura do livro Cores: jogos e experiências, de Ann Forslind, pode fundamentar a prática dos
professores no trabalho com a teoria da cor.
3. Sugerimos ainda que leia e mostre para seus alunos o livro de Audrey Wood: A Casa Sonolenta.
Observe as ilustrações e como o desenhista foi usando as cores para dar a ideia de um início
da manhã, por exemplo. As cores vão, pouco a pouco, mudando, conforme o período do dia.
Não dá para perder!
122
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
123
Estilo: diferentes modos de ver e de representar
124
A arte de ouvir
E
m todos os locais, em praticamente todos os momentos, estamos rodeados de sons. São os
sons do nosso corpo, da natureza, das músicas tocadas nos rádios ou aparelhos de som, da voz
das pessoas, das buzinas de carros...
Querendo ou não, gostando ou não, ouvimos sons quase o tempo todo!
Reflita um pouquinho, lembre dos sons que você ouve no seu dia a dia e responda as per-
guntas a seguir.
a) Qual é o primeiro som que você ouve ao acordar?
125
A arte de ouvir
Com essa reflexão, você deve ter percebido que o som faz parte da nossa
vida desde a concepção até a morte. Por isso, é muito importante que estudemos
um pouco dos sons do mundo, com os quais se faz música.
Mas, para estudar esses sons é necessário que tenhamos um caminho, uma
forma de trabalhar com a música, na escola, que garanta o mínimo de conheci-
mento e capacidade expressiva dentro dessa linguagem artística.
A música, que tem como fonte de trabalho o som, deve ser trabalhada na
escola da mesma maneira que as outras linguagens artísticas, seguindo algumas
orientações:
teatro – trabalha com a representação;
dança – trabalha com o movimento expressivo;
artes visuais – trabalham com a imagem.
Mas que orientações são essas?
Essas orientações, esse caminho para trabalhar com música na escola, estão
sistematizados na nossa proposta de encaminhamento metodológico.
Encaminhamento metodológico
Para compreender e trabalhar com a música como uma linguagem artística,
por meio da qual o homem conhece, expressa e compreende a realidade humana,
temos de pensar em muitas questões, como a relação entre as atividades de apre-
ciação e produção musical, a realidade cultural da escola como ponto de partida
do trabalho, a articulação entre conteúdos dos diversos grupos.
126
A arte de ouvir
129
A arte de ouvir
Articulação entre os
conteúdos dos diversos grupos
Os conteúdos básicos de música a serem trabalhados na escola estão orga-
nizados a partir de grupos: elementos formadores do som, técnicas de execução
musical, gêneros musicais, movimentos ou períodos da história da música e
composição musical.
130
A arte de ouvir
Blocos de
conteúdos de música Desenho de Nicola Heindi para CD de Putumayo.
Composição musical
Dependendo da maneira como os elementos formadores do som se estrutu-
ram nas músicas, temos princípios de composição diferentes:
instrumental – música apenas tocada;
vocal a capella – música apenas cantada;
música mista – música cantada e tocada;
programática – música que segue um programa e tem como fonte inspi-
radora uma ideia não musical.
131
A arte de ouvir
Gêneros musicais
Primeira grande classificação das músicas de acordo com quem as executa
e com que intenção:
étnicas – músicas primitivas, feitas há centenas de anos da mesma forma:
música indígena, povos africanos e asiáticos etc.;
folclórica – músicas criadas e executadas pelas comunidades rurais e
litorâneas, sem autor conhecido: cirandas, frevo, fandango etc.;
popular – música dos centros urbanos, com autor conhecido: Chico Bu-
arque, Caetano Veloso, Marisa Monte etc.;
erudita – música feita por acadêmicos e que segue ou rompe tendências e
normas estabelecidas;
indústria cultural – música de massa, comercial, que tem um grande
apoio da mídia, mas curto período como sucesso: vários grupos de axé,
pagode etc.
132
A arte de ouvir
Depois de vermos todos esses nomes diferentes que se referem a uma série
de tipos de música que você, com certeza, já conhece, vamos começar a
organizar melhor tudo isso, respondendo algumas questões.
133
A arte de ouvir
O que é música?
Responder a essa pergunta é praticamente impossível!
Leia um trecho do texto “Miragens de uma definição”
para começar a pensar sobre essa questão.
134
A arte de ouvir
Depois de ler esse trecho do texto de Candé, tente chegar a uma definição
de música.
Som e ruído
Os sons que ouvimos podem ser agradáveis,
fortes, fracos, irritantes, relaxantes... Qualquer que
seja o som, ele é resultado da vibração de uma fonte
sonora. Para produzir sons, a fonte sonora deve vibrar
e suas vibrações podem ser levadas, por meio do ar,
da parede, da água, do chão (ou outro meio de condu-
ção) na forma de ondas sonoras até nossos ouvidos.
Como todo som é resultado de uma vibração,
mesmo as pessoas que possuem algum tipo de de-
ficiência auditiva podem “escutar” por meio de sua
pele, pois as vibrações (por meio de ondas sonoras)
chegam à pele de todos nós assim como chegam aos
nossos ouvidos. Caçador da Floresta Amazônica.
135
A arte de ouvir
As ondas sonoras não são sempre iguais: elas podem ser desenhadas e suas
formas variam. É justamente de acordo com o desenho dessas ondas sonoras que
os sons são classificados em sons e ruídos. Quando as ondas sonoras possuem
desenhos regulares, os sons que representam são chamados sons; quando as ondas
são irregulares, ruídos.
Essa diferença entre som e ruído acontece apenas em relação à física, pois
em música todos os sons, mesmo os que são considerados ruídos pela física, po-
dem ser musicais se usados com intenção de fazer música.
E o silêncio?
O silêncio total não existe, pois onde houver vida existirá um som acontecen-
do, por mais suave que seja. Algumas vezes, os sons são tão suaves que quase
não conseguimos ouvi-los, e por isso determinados ambientes podem parecer em
silêncio.
Na música, esses momentos em que praticamente não ouvimos sons
são as pausas.
Para encerrar esse início de conversa sobre música, leia o texto de Lino:
Assim como abrimos os olhos e enxergamos todo um campo visual em nosso redor, o
mesmo acontece com o nosso ouvido: escutamos quase todo o contexto sonoro que nos
envolve. Educar esse ouvir é a tarefa principal da escola onde a escuta se amplia à medida
que promovemos estratégias que levam a experiências de produção, percepção, reflexão
e representação musicais. Para que possamos ser agentes dessa construção, é necessário
que, enquanto professores, acreditemos que somos capazes de fazer música, ser produto-
res e pensadores musicais, capazes de gostar de música, arriscar-se a descobri-la, inves-
tigar, cantar, dançar, perceber, apreciar, refletir etc. O professor deve viver a experiência
sonora passando por sua expressão e percepção que levam à comunicação; afinal, a música
é uma linguagem e, como tal, um meio de comunicação. O fundamental é que você, como
professor, tenha a paixão de ensinar e aprender. (LINO, 1999, p. 68-69)
Resumindo
Estamos cercados por sons dos mais diversos tipos e para entendê-los
precisamos ter um caminho, uma forma de trabalhar com a arte de
forma geral, e a isso chamamos encaminhamento metodológico.
A arte se estrutura em quatro linguagens artísticas: teatro (represen-
tação), música (som), dança (movimento expressivo) e artes visuais
(imagem).
Os três eixos principais do encaminhamento metodológico são a re-
lação entre a atividade de apreciação e produção musical; a realidade
cultural da escola como ponto de partida do trabalho e a articulação
entre os conteúdos dos diversos grupos.
Os conteúdos de música estão organizados neste material em cinco
grandes grupos: elementos formais, princípios de composição, gêne-
136
A arte de ouvir
137
A arte de ouvir
2. Você acha importante que o professor vivencie a música para trabalhá-la na escola? Por quê?
138
O som
O
homem faz música com os sons e esses sons não são sempre iguais, podendo ser represen-
tados por ondas sonoras que diferem em relação a muitos elementos. Por exemplo, o som
de um cachorro latindo produz ondas sonoras com dimensões e características diferentes
do som de um violão. Essas características próprias de cada som são seus elementos formadores ou
elementos formais do som.
Crianças tocando.
139
O som
Vamos estudar um pouco das questões básicas referentes aos sons e seus
elementos formadores, isto é, aqueles elementos que estão presentes em todos os
sons e que nos permitem diferenciar um som do outro.
Os elementos formadores do som são o timbre, a intensidade/dinâmica, a
duração/ritmo, a altura/melodia e a densidade/harmonia.
Timbre
É por meio do timbre que podemos diferenciar os sons e, quem sabe, identi-
ficá-los. Muitos autores dizem que o timbre é a cor do som, e que se não existissem
timbres diferentes seria como se o mundo todo fosse cinza...
Quando ouvimos um som, podemos identificar sua fonte sonora pelo seu tim-
bre. A fonte sonora é justamente o material que provoca as vibrações e produz o
som. Por exemplo, ao ouvirmos o som de uma voz humana, identificamos que ela
é feita pelo corpo humano e, caso conheçamos a pessoa que está falando, pode-
mos identificá-la por sua voz. Contudo, muitas vezes ouvimos sons e não sabemos
quais são suas fontes sonoras. É tarefa do professor de música trabalhar com a
apreciação musical para que os alunos conheçam, identifiquem e analisem o maior
número de timbres possível. Porém, isso não deve ser feito de maneira mecânica
ou como um mero exercício de capacidade auditiva. A identificação dos timbres
deve propiciar ao aluno condições para que compreenda, por exemplo, por que em
determinada música o compositor usou o violino e não um pandeiro, ou por que,
na Idade Média, alguns timbres de determinados instrumentos eram considerados
impuros e não podiam ser usados nas músicas religiosas. Portanto, ouvir e identi-
ficar diversos sons faz parte do trabalho com o timbre, mas, se não contextualizar-
mos esses timbres e não usarmos esses conhecimentos para ouvir e fazer música,
nosso trabalho ficará incompleto.
Quais são as fontes sonoras, existentes no nosso mundo, com as quais po-
demos fazer sons ou música? Podemos usar nossa voz, nosso corpo, elementos
da natureza (animais, vento, rio, chuva, pedras, galhos etc.) ou objetos diversos
(carros, copos, martelos, buzinas, instrumentos musicais etc.).
140
O som
Intensidade
A intensidade de um som depende da for-
ça com que é produzido. Quanto mais energia
for usada na produção do som pela fonte sonora,
maior será o tamanho (amplitude) da onda sono-
ra e mais intenso (forte) será o som.
Por exemplo, no meio do pátio, na hora do
recreio, as crianças correm e gritam produzin-
do sons com grande intensidade, todo o apare-
lho fonador das crianças trabalha de maneira a
produzir o som intenso do grito. Mas, na sala
de aula, elas sabem que devem falar mais sua-
vemente, com menos intensidade, mesmo que,
às vezes, não consigam. Os sons mais fortes,
intensos, produzem ondas sonoras maiores e,
consequentemente, os menos intensos produ-
zem ondas sonoras menores.
Assim como existem muitas unidades de
medida que usamos no nosso dia a dia, como os
metros, centímetros, quilos etc., também exis-
Tocador de flautas, século XV-XVI, Nigéria.
tem unidades de medida para calcular alguns
elementos formadores do som. No que se refere
à intensidade, essa medida são os decibéis (dB).
Uma conversa normal, por exemplo, tem apro-
ximadamente 60 dB.
As mudanças e variações de intensidade
dos sons em uma música criam a dinâmica da
música.
Uma música com dinâmica constante é aquela que não tem muitas variações
de intensidade do início até o fim, como uma canção de ninar, por exemplo. Já as
que começam suaves e vão crescendo em intensidade são consideradas músicas
com dinâmica crescente.
141
O som
3. Existe nessa música uma voz ou um instrumento que sejam tocados com
mais intensidade do que os outros? Qual?
4. Você acha que podemos mudar uma música mexendo na sua intensidade?
Experimente ouvir a música que você escolheu e ir mudando sua inten-
sidade no botão de volume do aparelho de som. É possível, alterando a
intensidade dos sons, tornar a música mais agitada, calma ou monótona?
Altura
Já vimos que o som é vibração. Quando puxamos uma corda de violão, por
exemplo, percebemos que ela vai e volta ao ponto de partida inúmeras vezes. Esse
movimento de ir e voltar à sua posição original pode ser chamado de ciclo. O número
de ciclos (idas e vindas) que acontece durante um segundo determina a frequência
dos sons, que é medida pela unidade chamada Hertz (Hz). Assim, dependendo da
velocidade das vibrações, o som terá uma frequência que determinará sua altura.
Vamos revisar para que não ocorra nenhuma confusão. A intensidade tem
relação com a força e a altura. Mesmo que usemos esse último termo normalmente
para nos referir ao volume dos sons, na verdade ele se refere aos sons graves, agu-
dos, médios etc.
Medindo a frequência dos sons por meio dos hertz, podemos dizer se eles
são graves ou agudos e se correspondem a uma nota musical: dó, ré, mi etc. Por-
tanto, é a altura dos sons que determina as notas musicais.
Os sons que são criados por vibrações mais lentas possuem frequências
mais baixas e são mais graves (grossos), já os mais agudos (finos) têm vibrações
mais rápidas.
A melodia de uma música é justamente a sequência de alturas dos sons nes-
sa música. Muitas vezes, essas alturas são expressas por notas musicais.
A atividade mais comum em que a melodia de uma música é usada com
outra letra é conhecida como paródia.
O termo paródia, de acordo com o Dicionário Oxford de Música, refere-se a
um tipo de composição do período renascentista em que eram usadas melodias ou
trechos de melodias preexistentes em composições novas. O termo também é em-
pregado para designar composições humorísticas em que se utilizam melodias ou
aspectos de um compositor ou período já usados para compor uma nova música.
Reconhecer pequenos trechos de melodias e
continuar cantando as músicas que completam esses
trechos; realizar determinados movimentos nos sons Escolha melodias que
ou pequenas melodias mais agudas e outros movi- seus alunos conheçam e criem
mentos nas melodias mais graves; ouvir músicas com
novas letras para elas,
melodias contrastantes ou só cantadas por vozes gra-
ves ou agudas, reconhecendo-as e conversando sobre humorísticas ou não.
elas são algumas atividades para trabalhar com a al-
tura e a melodia.
143
O som
Duração
Todos os sons ou os momentos de silêncio (pausa) ficam acontecendo duran-
te algum tempo, isto é, possuem uma duração. O elemento que está diretamente
relacionado com a duração dos sons e dos silêncios é o ritmo.
Definir ritmo é muito difícil, mas basta saber que o ritmo pressupõe haver
uma sequência de durações de sons e silêncios. Inevitavelmente, portanto, o ritmo
está relacionado diretamente com o tempo.
O pulsar do nosso coração ou o tiquetaque de um relógio, por exemplo, têm
ritmo regular, ou seja, os tempos entre sons e pausas são constantes e iguais. Mas,
também existem ritmos irregulares, como nosso piscar de olhos em algumas si-
tuações, os pingos da chuva, as ondas do mar ou os sons de alguém digitando no
teclado de um computador.
Normalmente, quando nós, ocidentais, ouvimos uma música com ritmo ir-
regular ficamos incomodados, como se a música tivesse algo de errado, que não
conseguimos compreender. Muitos povos africanos, árabes ou asiáticos utilizam-
-se de ritmos irregulares, isto é, dividem o tempo de uma forma diferente do tique-
taque do relógio a que estamos tão acostumados.
Veja o que diz Murray Shafer, em seu livro O Ouvido Pensante (1991, p.
88-89), sobre esse assunto:
O fato é que todos os meios antigos de medir o tempo (relógios de água, de areia, de sol) eram
silenciosos. O relógio mecânico é audível. Pela primeira vez na história, a duração foi dividida
em células de tempo proporcionais que soavam. O nosso método tradicional de notação rítmica
quantitativa – que começou a existir com os assim chamados compositores da Ars Nova , no
século XIV, logo depois da invenção do relógio – divide as notas em células de tempo, cada
uma numa relação proporcional com a outra. É completamente diferente do que acontece
144
O som
145
O som
Densidade
Nem todos os estudiosos da música conside-
ram a densidade dos sons como elemento formador.
Nesse material, vamos considerá-la como elemento
formador e analisar sua importância na música.
A densidade tem relação direta com o núme-
ro de ondas sonoras acontecendo ao mesmo tempo
em um mesmo espaço. Um som é um conjunto de
várias ondas sonoras e, portanto, já possui determi-
nada densidade, mas esse assunto é específico da
acústica e não vamos nos aprofundar nele. A densi-
dade a que nos referimos diz respeito, de forma es-
pecífica, ao número de ondas sonoras acontecendo
simultaneamente no mesmo ambiente.
Se formos analisar determinados ambientes,
veremos que alguns deles possuem pequena densi-
dade sonora, como um shopping fechado. Mas esse
mesmo shopping, no dia anterior a uma data come-
morativa importante, pode apresentar uma grande
densidade sonora, isto é, uma grande quantidade de
sons acontecendo simultaneamente.
Na música, a análise é a mesma. Quando
Aula de música. todos os participantes de um coral cantam juntos,
temos uma grande densidade. Quando apenas um
deles canta, temos uma pequena densidade.
A densidade dos sons tem relação com a harmonia da música. Nas com-
posições musicais, sempre que mais de um som estiver acontecendo simultanea-
mente, dizemos que a música tem harmonia, que, portanto, refere-se a sons que
são executados ao mesmo tempo. Podemos, por exemplo, dividir os instrumentos
musicais em harmônicos e melódicos. Os harmônicos são os que têm a capacidade
de executar mais de um som ao mesmo tempo. Já os melódicos só podem executar
um som de cada vez. Portanto, como podemos ver, harmonia não se refere a paz
ou beleza.
O cantochão é um tipo de música religiosa da Idade Média. Existiam
várias formas de cantochão: em uma delas, por exemplo, um cantor entoava
uma frase e o coro repetia ou dava uma resposta a essa frase. Nesse tipo de
diálogo, que acontece também nas músicas de capoeira, por exemplo, per-
cebem-se claramente as diferenças de densidade sonora nos momentos em
que um cantor executa sozinho e o coro responde. Analisar músicas desse
tipo e recriá-las com os alunos é uma forma interessante de trabalhar com a
densidade sonora, em sala de aula.
146
O som
A composição musical
A composição musical, que normalmente cha-
mamos de música, é justamente a articulação desses
cinco elementos formais: duração, intensidade, tim-
bre, altura e densidade.
Dependendo da maneira como o compositor
(quem cria as músicas) ou o intérprete (quem toca ou
canta) ou até o ouvinte estabelece as relações entre
os elementos formadores do som, a composição terá
resultados diferentes, assumirá determinado caráter
e provocará reações diversas nos ouvintes. Algumas
vezes, essa reação é a que o compositor desejou, ou-
Coro de Cantores. Willian Hogart.
tras vezes, não.
Inicialmente, podemos pensar que gostar ou
não gostar de uma música não tem relação direta com
qualquer conhecimento técnico sobre os elementos
formais e sua combinação nas composições, mas como
professores temos a obrigação de compreender esses
conteúdos e trabalhá-los na escola, para que os alu-
nos possam gostar ou não de determinadas músicas de
forma crítica e consciente, pois o mais importante não
é que a criança goste ou não de ópera ou rock, mas que
ela conheça os princípios de composição de cada forma
musical, seu papel na história da música, sua intenção e,
mesmo que não goste da música, compreenda-a como
expressão da realidade humana.
147
O som
2. Em uma música feita para funeral, você acha que a melodia escolhida pelo
compositor deve estar mais na região aguda, grave ou com grandes varia-
ções de altura? Por quê?
3. Uma música de Carnaval deve ter um ritmo mais calmo ou agitado? Por quê?
4. Se você fosse compor uma canção de ninar, ela teria muitas variações de
dinâmica? Por quê?
5. Pense na música que você mais gosta. Como são trabalhados os elementos
formadores do som nessa música? Explique.
148
O som
E na escola: quando e
como se ouve música?
A música faz parte de nosso dia a dia desde o útero materno. Mas, na esco-
la, qual é o contato que as crianças têm com a música? Como é esse contato? Que
tipo de música se ouve dentro da escola?
Algumas das mais comuns situações de contato da criança com a música
na escola acontecem na hora do recreio, nas festas comemorativas, antes do
lanche e nas aulas de música.
Experimentos musicais.
149
O som
Resumindo
Os sons não são sempre iguais, os elementos que nos permitem dife-
renciar um som do outro são os elementos formadores do som, um dos
grupos de conteúdo de música.
Os elementos formadores (ou formais) do som são o timbre (caracterís-
tica do som), a intensidade (que tem relação com a dinâmica da música
e refere-se à força com que os sons são executados), a altura (que gera as
melodias das músicas e tem relação com os sons graves e agudos), a du-
ração (que gera o ritmo da música e refere-se ao tempo em que os sons
e silêncios ficam acontecendo) e a densidade (que tem relação com a
harmonia e com a quantidade de sons acontecendo simultaneamente
no mesmo espaço).
A composição musical é o resultado da articulação dos elementos for-
mais e depende da escolha do compositor e do intérprete.
Na escola, muitas vezes, a música é usada apenas como pano de fundo
ou motivo de recreação e descontração. Como manifestação artística,
ela deve ser vista como uma linguagem com conteúdos próprios que
deve ser entendida e executada pelas crianças constantemente.
O professor deve conhecer os conteúdos de música e exercitar suas
capacidades dentro dessa linguagem para que possa trabalhar de forma
mais profunda e segura com seus alunos.
Para encerrar essa unidade, vamos estudar um texto de Ilza Zenker sobre educação musical.
cultura são elos importantes para a formação global da criança. Os alunos são sensíveis e sentem
[sic] a capacidade e o envolvimento do professor. Portanto, se ele tem uma preparação sólida e
coerente, a dose de admiração e respeito tende a crescer, elevando também as possibilidades de
um bom ambiente para o desenvolvimento do programa de ensino. É importante que elos sejam
estabelecidos e que haja uma cumplicidade crescente entre professor e alunos para que a sala de
aula seja acolhedora, segura e que integre professor, alunos e conhecimento.
2. De que tipo de música você gosta mais e de que tipo de música gosta menos? Por quê?
3. Que tipo de conhecimento você acha que precisa ter para trabalhar com música com seus alunos?
151
O som
152
Muitos tipos de música...
D
ependendo da época e do lugar em que vive o compositor, da sua intenção com a música, dos ins-
trumentos musicais que tem à disposição, do público a que se destina a música e de muitos outros
fatores, a composição musical pode pertencer a determinados gêneros e formas musicais.
As expressões gêneros e formas musicais muitas vezes recebem definições diferentes de acordo
com o estudioso ou teórico musical. Não discutiremos neste material essas diferentes definições, mas
sim ressaltaremos que, independentemente do nome utilizado, devemos abarcar todos os “tipos” de
música durante o trabalho na escola.
153
Muitos tipos de música...
Gêneros musicais
Essa primeira classificação leva em consideração quem
executa a música, em que situações e, de uma maneira geral,
por que ela é executada.
Dentro dessa perspectiva, consideramos como gêneros:
música étnica;
música folclórica;
música popular;
músicas criadas pela indústria cultural;
música erudita.
Dentro de cada classificação, encontramos composições
com uma intenção:
Tocadora de flauta da antiga Roma.
religiosa; ou
profana.
Música folclórica
A música folclórica normalmente é aquela cria-
da e aceita coletivamente, que mostra ideias e senti-
mentos comuns de um grupo. A maioria das músicas
folclóricas é transmitida por tradição oral, tem compo-
sitor desconhecido e é divulgada e transformada com
o passar do tempo.
É característica das regiões interioranas, litorâ-
neas e rurais. São músicas executadas, muitas vezes,
por toda a comunidade em situações importantes,
como festas de casamento, festas de colheita, festas
de trabalho, festas religiosas ou por pura diversão. Na
maioria das vezes, são acompanhadas de danças e brin-
cadeiras, mas nem sempre. Como exemplos, temos as
cirandas, o frevo, as diversas músicas infantis (“Ciran-
da cirandinha”, “Eu perdi o meu galinho”, “Sambalelê”
etc.), os repentes nordestinos e muitas outras.
Ouçam diversas músicas folclóricas, infantis ou não,
com seus alunos. Montem um pequeno livro com letras
de músicas folclóricas que as turmas conheçam e façam
pesquisas sobre músicas folclóricas da sua região, junta-
mente com seus alunos e outros profissionais da escola. Banda de Pífanos. Zé Caboclo.
155
Muitos tipos de música...
Música popular
É a música feita por autor conhecido e que, normalmente, alcança todas as
camadas da sociedade. A maior parte das músicas populares possui grandes produ-
ções artísticas e certo apoio da mídia, e é característica dos centros urbanos.
Compositores como Raul Seixas, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto
Gil, Roberto Carlos e outros são exemplos típicos da Música Popular Brasileira
(MPB) atual.
Não somente a MPB deve ser trabalhada na escola, mas também a mú-
sica popular de outros países pode e deve ser explorada. Assim como esta, a música fol-
clórica e étnica de outros lugares do mundo merece atenção e análise por parte do
professor e, consequentemente, dos seus alunos.
As poesias e composições de Vinicius de Moraes, compiladas no disco A Arca
de Noé, são bons exemplos de músicas populares infantis acessíveis e de boa qualida-
de para serem trabalhadas na escola. A coleção Palavra Cantada, de Paulo Tatit e Sandra
Peres, também oferece uma série de opções de CDs de ótima qualidade com músicas
infantis bem estruturadas e com uma variedade grande de opções de atividades para o
professor.
156
Muitos tipos de música...
Música erudita
É a feita normalmente por pessoas que estudaram
ou estudam música formalmente. Considera-se música
erudita toda música que não é popular, étnica, folclórica
ou comercial.
De acordo com Magnani (1996, p. 112), “a mú-
sica erudita possui, por sua própria natureza, ambições
de comunicar mensagens estéticas universalmente vá-
lidas”. Isso quer dizer que a música erudita segue pa-
drões de composição criados em determinados contex-
tos, ou então rompe com esses padrões.
Os períodos da história da música erudita referem-
-se, quase que totalmente, a esses padrões de composi-
ção: música medieval, renascentista, barroca, romântica,
impressionista etc. Os padrões de composição referem-
se ao período histórico em que as músicas eruditas foram
compostas. A valsa, a sinfonia, o concerto, as sonatas e
muitas outras formas musicais pertencem a esse gênero. Antonio Vivaldi.
157
Muitos tipos de música...
tas, o nome do período, as obras mais famosas etc. Essas são informações impor-
tantes, mas podem ser oferecidas por meio de jogos, progressivamente, à medida
que as crianças escutam, dançam e trabalham com as músicas de maneira lúdica.
Lembrem-se de que, inicialmente, vocês, professores, precisam ter o mí-
nimo de informações sobre o período para depois passar essas informações em
quantidade e profundidade coerentes com a faixa etária com a qual trabalham.
Vamos pegar o exemplo de uma música medieval – o cantochão. Inicialmen-
te, pode-se ouvir o cantochão, conversar sobre a altura das vozes, a maneira como
os cantores cantam, a ausência de instrumentos musicais (com exceção do órgão),
a ausência de mulheres cantando, a característica do canto recitado etc. Depois,
pode-se contar para as crianças que essa música era feita há muito tempo, na épo-
ca dos castelos e das lutas com espadas, mas que esse tipo de música só era feito
nas igrejas e por homens, e que é uma música que fala dos textos da Bíblia. Para
uma turma de jardim 1, jardim 2 ou jardim 3, e até mesmo para uma 1.ª série, essas
informações são acessíveis e suficientes. Dessa maneira, a música erudita está
sendo trabalhada assim como os períodos da história da música.
Quanto menores forem as crianças, mais se trabalhará com informações
mais básicas. Contudo, isso não quer dizer que o estudo esteja incompleto: apenas
que as informações estarão coerentes com o nível de desenvolvimento infantil.
Músicas religiosas
Em todos os cinco gêneros de música (étnica, folclórica, popular, indústria
cultural e erudita), podemos encontrar músicas religiosas, ligadas à espiritualida-
de e à religiosidade dos povos. Independentemente da crença religiosa, todos os
povos possuem músicas para rezar, agradecer, celebrar, abençoar ou pedir bên-
çãos aos seus deuses.
Muitas músicas indígenas, por exemplo, são executadas em rituais dedica-
dos aos deuses. As músicas da Festa do Divino ou até algumas das festas juni-
nas, que falam dos santos padroeiros, são exemplos de músicas religiosas
folclóricas. Algumas músicas gospel e outras músicas religiosas são criadas pela
indústria cultural. Muitos compositores de MPB, como o próprio Roberto Carlos,
compõem músicas religiosas e, na música erudita, temos os réquiens (música para
a missa dos mortos da Igreja Católica), o cantochão, já citado, e muitas outras
formas musicais religiosas.
159
Muitos tipos de música...
Músicas profanas
Considera-se música profana toda aquela
que não é religiosa: músicas de divertimento,
de dança, para dormir, guerrear, trilhas sonoras,
para relaxar etc. Em todos os gêneros, encontra-
mos músicas profanas.
Faça uma lista de intenções das músicas profanas que você conhece.
Princípios de composição
Usamos o termo gênero para uma classificação
mais abrangente, mas existem ainda muitas subdivisões
dentro de cada gênero, de acordo com a organização
dos elementos formadores do som nas composições. Por
exemplo, de acordo com a escolha tímbrica do compo-
sitor, podemos classificar as músicas em instrumental,
vocal a capella e mista.
160 Natureza Morta. Antoine Vollon.
Muitos tipos de música...
a sociedade entrou numa fase atualmente conhecida como Renascimento. As artes flo-
resceram durante o Renascimento, financiadas por ricaços e pela realeza, que amavam as
artes e não pagavam impostos.
Um dos mais famosos compositores italianos do Renascimento foi Giovanni da Palestri-
na (1525-1594). Palestrina era um dos grandes favoritos do Papa e tornou-se famoso por
compor somente para vozes, sem acompanhamento instrumental. À diferença do canto
gregoriano, a música de Palestrina não era apenas uma melodia cantada em uníssono
(todos cantam a mesma nota simultaneamente). Pelo contrário, ele explorou harmonias
fantásticas, que provinham do canto simultâneo de diversas melodias independentes. [...]
O madrigal
A forma musical mais popular para essas músicas era o madrigal. Madrigal é uma peça para
pelo menos três vozes, geralmente sem acompanhamento. Durante o Renascimento, famílias
ou grupos de amigos se reuniam para cantar esses madrigais, cada pessoa assumindo uma li-
nha vocal diferente e dando cotoveladas em quem desafinasse. [...] (POGUE; SCOTT, 1998)
Nesse texto, bem divertido, temos uma ideia de uma música vocal a capella
do Renascimento. Qualquer música pode ser executada apenas por vozes, ou ape-
nas por instrumentos. Quando classificamos as músicas nesses grupos, estamos
levando em consideração o que o compositor pensou como escolha tímbrica, sa-
bendo que cada intérprete poderá adaptar essa composição como achar melhor.
Muitas vezes, os professores perguntam como formar um coral na escola.
Isso não é tão simples. Normalmente, um coral infantil possui acompanhamen-
to instrumental, mas isso raramente acontece nas escolas, pois o acompanhador
(pessoa que vai tocar teclado ou violão enquanto as crianças cantam) precisa ser
remunerado e conhecer bem a linguagem musical.
162
Muitos tipos de música...
163
Muitos tipos de música...
Resumindo
De acordo com a época e o lugar em que vive o compositor, e de acor-
do com a sua intenção com a música, ele fará escolhas diferentes de
sons, o que fará com que sua música pertença a determinado gênero
ou forma musical.
Os gêneros musicais, de acordo com esse material, são: música tra-
dicional ou étnica (feita pelos povos que vivem de forma primitiva,
com grande ligação com a natureza), a música folclórica (feita pelas
comunidades rurais e tendo compositor anônimo), a música popular
(feita nos centros urbanos, com autor conhecido e certo apoio da mí-
dia), as músicas criadas pela indústria cultural (muitas feitas com es-
truturas de fácil assimilação, com total apoio da mídia, desaparecen-
do do mercado e sendo substituídas rapidamente) e a música erudita
(feita por acadêmicos que rompem ou seguem determinados padrões
de composição de diversas épocas).
Qualquer um dos cinco gêneros musicais pode ser encontrado nas
músicas religiosas (de qualquer religião, mas que tenham sentido de
oração, agradecimento, pedido ou contato com Deus) ou nas músicas
profanas (toda música que não é religiosa, como as músicas de guer-
ra, para dançar, brincar etc.).
De acordo com a escolha tímbrica do compositor ou do intérprete,
isto é, do tipo de sons que quer usar em sua composição, as compo-
sições musicais podem ser classificadas em instrumental (só tocada),
vocal a capella (só cantada, sem acompanhamento instrumental) e
mista (executada por instrumentos musicais e vozes).
Para encerrarmos este capítulo, vamos ler um texto que fala, de forma básica, sobre a música
erudita brasileira.
164
Muitos tipos de música...
o primeiro compositor brasileiro a alcançar projeção mundial foi Carlos Gomes, que conquistou a
plateia italiana com sua ópera Il Guarany (1870).
O segundo compositor de renome internacional na música erudita brasileira foi o carioca
Heitor Villa-Lobos, que desde cedo entrou em contato com vários instrumentos, principalmente
o violão. As várias viagens que fez pelo Brasil, pesquisando a música popular e o folclore, for-
neceram-lhe matéria-prima para suas composições, que constituem uma síntese bem-sucedida
entre as raízes musicais brasileiras e as influências estrangeiras (especialmente Stravinsky), do
que resulta uma música de valor universal.
Iniciador do modernismo musical brasileiro, esse regente e compositor teve participação espe-
cial na Semana de Arte Moderna de 1922. Seu trabalho sofreu inicialmente alguma resistência, mas
a seguir alcançou reconhecimento internacional, destacando-se inicialmente em Paris. Abundante,
sua produção abrange vários gêneros, como ópera, sinfonia, música de câmara, música sacra, música
para piano. Uma de suas composições mais conhecidas, as Bacchianas, constitui uma síntese muito
original entre elementos do folclore brasileiro e a música de Bach.
Cabe notar que os expoentes da música erudita brasileira sofreram influência do samba, da
polca, do choro, do xote, da mazurca, da quadrilha, do tango brasileiro, do maxixe, como ocorre
com a obra de Francisco Mignone e com parte da de Camargo Guarnieri.
Outros compositores eruditos ainda podem ser citados por seus méritos, como Osvaldo Lacerda,
Almeida Prado, Walter Smetak, Conrado Silva, Gilberto Mendes, entre outros.
Villa-Lobos.
Faça uma pesquisa sobre Villa-Lobos e sua obra. Com certeza, você usará muito do que pesqui-
sar com suas crianças na escola!
165
Muitos tipos de música...
166
Improvisação e
grafia musical: duas maneiras
de trabalhar a composição musical
Improvisação
I
mprovisar, em música, significa criar a composição musical no momento da execução, seja ela ins-
trumental, vocal a capella ou mista. Por improvisação também se entende incorporar detalhes, dar
a forma final ou fazer alterações numa música no momento em que ela está sendo executada.
A arte de improvisar faz parte da música ocidental desde a Idade Média, quando os cantores
aprendiam como acrescentar uma nova linha melódica a um canto litúrgico. Em todos os períodos da
história da música existiram formas musicais que permitiam os improvisos durante sua execução.
Entre as formas musicais em que a improvisação é uma técnica importante temos o jazz, o
blues, as ragas indianas, a composição aleatória, os repentes nordestinos, entre outras.
167
Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
168
Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
Jazz
Não se sabe, ao certo, a origem da palavra jazz, mas possivelmente essa
origem é africana. No início, escrevia-se jass. O jazz é uma forma musical criada
no início do século XX pelos negros norte-americanos, sendo uma mescla das
músicas europeia, americana e africana.
Entre os principais elementos da estrutura do jazz, encontram-se a improvi-
sação e o uso de alturas distorcidas.
A improvisação no jazz não é totalmente livre, pois os músicos têm como
referência uma marcação rítmica e uma melodia e sobre elas criam novas me-
lodias e harmonias que devem sempre combinar com o que está sendo mantido
pelo grupo. Um tema é tocado por todos e, depois, cada músico tem seu momento
de improvisar. Quando esse músico termina sua improvisação, todos voltam a
tocar juntos o mesmo tema e, depois de um tempo, outro músico improvisa, e
assim por diante.
O uso de alturas distorcidas no jazz refere-se a alguns momentos na música,
quando algumas notas musicais sofrem distorções, ficando um pouco mais graves
do que originalmente, como se elas fossem tocadas de maneira desafinada.
Muitos estudiosos dizem que a improvisação individual no jazz começou
com o trompetista, cantor e chefe de orquestra Louis Armstrong (1900-1971), para
muitos o maior músico de jazz de todos os tempos.
Vale a pena ouvir jazz com as crianças, mostrando o som dos instrumentos
musicais utilizados, falando sobre os compositores e instrumentistas, dando infor-
mações básicas sobre essa forma musical tão conhecida e marcante.
É importante, além de trabalhar com a apreciação do jazz, conhecer um
pouquinho sobre sua história, seus intérpretes e instrumentistas mais famosos,
os instrumentos mais usados etc., trabalhar também com a improvisação usa-
da nessa forma musical. Por exemplo, distribua instrumentos musicais para as
crianças e, tendo elas explorado suficientemente os instrumentos e depois de ter
passado o “tempo de euforia”, faça uma roda com todas elas, cada uma com seu
instrumento.
Você, professor, será o maestro, isto é, aquela pessoa que comandará e or-
ganizará a execução instrumental. Ao seu sinal, combinado anteriormente com a
turma, todos improvisarão coletivamente, mas quando você indicar uma criança,
todo o resto da turma vai tocar muito suavemente enquanto a indicada tocará for-
te, improvisando livremente. Quando essa criança acabar sua improvisação, todos
voltam a tocar juntos e depois de um tempo outra criança será indicada.
Aos poucos, vocês conseguirão organizar melhor a improvisação coletiva,
criando uma batida rítmica básica, controlando um pouco a intensidade dos
sons ou, para os momentos em que a criança improvisará sozinha, será criada
uma batida para todos da turma fazerem suavemente. Dessa forma, a criança
improvisa livremente, mas começa a organizar a improvisação para poder tocar
coletivamente.
169
Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
Música aleatória
A música aleatória é uma forma musical em que algumas escolhas de execu-
ção e interpretação ficam a critério de cada intérprete. Muitas vezes, a grafia desse
tipo de música é simbólica, apenas sugerindo o desenvolvimento da execução.
John Cage é um dos principais compositores desse tipo de música. Esse
compositor norte-americano nasceu em 1912 e morreu em 1992, e é muito conhe-
cido no meio da música contemporânea. Ele compôs usando recursos eletrônicos e
inventou o piano preparado, colocando diversos objetos entre as cordas de um pia-
no de cauda para conseguir tocar inúmeros objetos e instrumentos de percussão
apenas com as duas mãos. Ao entrar em contato com filosofias orientais, resolveu
incorporar o princípio do acaso nas suas obras. Compôs músicas jogando cara ou
coroa, grafou outras inúmeras composições de maneira completamente imprecisa
e chegou a compor uma obra em que nenhum som, além dos sons do ambiente em
que estivesse o público, é tocado.
Como o próprio nome já diz, a música aleatória pode ser executada de ma-
neira completamente improvisada. Relatar esses fatos para as crianças é bem in-
teressante, e até usar o recurso da moeda com cara e coroa é possível. Se cair cara,
por exemplo, a criança pega determinado instrumento, se cair coroa, improvisa
com a voz. Também é possível confeccionar cartelas com figuras ou nome dos
instrumentos, para que a criança tire uma cartela e toque aquele instrumento ou
ordem de instrumentos sugeridos nas cartelas, mudando a cada vez que for sua
hora de tocar ou cantar.
170
Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
Desafio
Desafio é um diálogo popular cantado. Pode fazer parte de qualquer música
ou qualquer dança, pois é um processo de cantar improvisado. É uma forma musi-
cal que veio de Portugal e foi mantida como tradição principalmente no Nordeste
do Brasil. Os instrumentos que podem acompanhar os desafios são violas, rabe-
cas, sanfona e violão, com algumas variações dependendo da região.
Em várias partes do mundo, existe o costume de diálogos improvisados,
mas no Brasil a característica mais marcante do desafio é a rivalidade entre os
participantes, o caráter de duelo entre os músicos.
No repente nordestino, dois cantadores, com suas violas, vão improvisando
versos. A letra é improvisada dentro de uma estrutura fixa. Existem regras quanto
ao número de versos em cada estrofe, às rimas e até ao número de sílabas em cada
verso. É muito importante ouvir repentes nordestinos com as crianças, analisando
o modo de cantar, os instrumentos – que normalmente são as violas –, as rimas e
os temas sobre os quais são cantadas etc.
Algumas músicas infantis podem sugerir diálogos entre grupos de crianças
que podem ser transformados numa espécie de repente. Dividir a turma em dois
grupos e propor que cada um cante uma parte da música é uma forma de explo-
rar a estrutura do repente nordestino. Também é possível propor que as crianças
criem, coletivamente ou em grupos, pequenas quadrinhas sobre determinado as-
sunto. Depois, cada grupo canta sua quadra para outro grupo responder.
Veja um exemplo de duas estrofes de “Martelo agalopado”, de Otacílio Batis-
ta e Diniz Vitorino, um tipo de repente nordestino. Perceba como o duelo é agressi-
vo e, algumas vezes, ofensivo. Tudo isso é criado no momento da execução.
Resposta de Diniz:
Já peguei um bichinho como o senhor
Dei-lhe um murro com tal disposição
Que arranquei o fígado, o coração
Foi preciso ele ir ao doutor
O médico sarou logo o tumor
171
Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
É claro que vocês não vão trabalhar dessa forma com as crianças, pois elas
poderiam se envolver demais na atividade e acabar até brigando. A ideia é que se
use o princípio da improvisação para criar quadrinhas, sem competição entre os
grupos, como uma forma de diálogo sobre determinado assunto.
Grafia musical
A grafia musical, a partitura, é a representação gráfica dos sons, a escrita
da música.
Há mais de nove séculos, foram criadas formas de escrita musical e, atual-
mente, existem muitas maneiras de escrever música. Fazem parte da escrita mu-
sical todos os sinais que representam sons. Na Idade Média, aproximadamente no
período do canto gregoriano, os monges criaram um tipo de grafia para escrever
sua música religiosa, que, até então, era transmitida apenas por tradição oral.
Partitura musical.
172
Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
Pentagrama tradicional.
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Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
Grafia contemporânea
Existem músicas que não podem ser grafadas na partitura tradicional. Para a
grafia dessas músicas, utilizam-se símbolos, desenhos, cores e até palavras. Além
disso, existem compositores que não querem utilizar a grafia do pentagrama tra-
dicional, pois, como já dissemos, ela é mais precisa e alguns compositores têm a
intenção de que sua música seja interpretada de várias formas, por cada pessoa
que for tocá-la ou cantá-la. Nesse caso, para grafar as suas obras, os compositores
tiveram de criar símbolos alternativos. As onomatopeias são bastante utilizadas na
grafia contemporânea, ou seja, na grafia das músicas do final do século XX.
Como os músicos começaram a usar sons diferentes daqueles tradi-
cionalmente produzidos pelos instrumentos musicais mais conhecidos, foi
preciso criar símbolos para esses sons, até então considerados ruídos. Como
colocar, no pentagrama tradicional, o som de uma cadeira sendo arrastada, um
cacarejar de galinha ou um telefone tocando? Foi para resolver esse impasse que
muitos compositores começaram a usar cores, símbolos, onomatopeias, letras e
desenhos para grafar as músicas que criavam.
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Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
Com as crianças bem pequenas, o trabalho com a grafia pode ser iniciado
a partir de figuras de objetos que sugiram sons. Em revistas, recorte ilustrações
de telefones, relógios, eletrodomésticos, animais etc. – objetos e seres que façam
sons conhecidos pelas crianças. Mostre a imagem e peça a elas que façam o som
correspondente. Crie pequenas sequências com essas imagens, dividindo a turma
em dois grupos para que eles façam sons diferentes simultaneamente.
Mesmo sem uma formação específica, pode-se trabalhar com esse conteú-
do, mas, se você puder, faça uma pesquisa sobre a grafia tradicional e
tente entendê-la melhor para depois trabalhar com seus alunos. Você
também pode chamar um professor de teoria musical ou de algum ins- Viram como
trumento específico que com certeza domina esse tipo de grafia para a grafia musical
explicá-la para seus alunos. não é um bicho
de sete cabeças?
Formas musicais
Seria impossível listar e explicar todas as formas musicais que existem e por
isso abarcaremos neste material apenas algumas delas, mais conhecidas e mais
acessíveis.
As formas musicais são tipos de música compostos com determinadas ca-
racterísticas em comum, dentro daqueles cinco gêneros (étnico, folclórico, popu-
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Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
lar, erudito, criado pela indústria cultural). Cada forma musical possui uma estru-
tura e, dentro dessa estrutura, pode-se compor diversas músicas. Como exemplos
de formas musicais, temos concerto, valsa, sonata, fuga, sinfonia, suíte, ópera,
rock, poema sinfônico, ópera de Pequim, bossa-nova, canção, ragas indianos, rap,
samba, modinha, lundu etc.
Um Concerto. Fragonard.
Valsa
A valsa foi uma das danças de salão mais populares do século XIX. Mas,
inicialmente, foi muito criticada, pois, além de seus movimentos de rodopio serem
muito rápidos e provocarem tonturas e desmaios em muitos pares, na época era
considerada indecente: os casais tinham de ficar muito abraçados para dançar...
A valsa é uma música ternária, isto é, se organizarmos as durações dos sons
que a compõem, poderemos contar regularmente 1, 2, 3; 1, 2, 3; 1, 2, 3... Muitas
outras danças, desde a Idade Média, eram ternárias, mas sem dúvida nenhuma a
valsa foi e é a mais famosa de todas elas.
Johann Strauss (1825-1899) foi um dos compositores mais famosos de val-
sas, ao lado de seu pai, também chamado Johann Strauss (1804-1849). Os dois, pai
e filho, chegaram a ter orquestras rivais, mas acabaram se unindo e trabalhando
juntos.
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Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
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Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
Rock
Considera-se música pop, desde os anos 1960, todo movimento musical pa-
trocinado pela indústria fonográfica e apoiado pelos grandes meios de comunica-
ção. São as formas musicais capazes de agradar a um grande público, vendendo
milhões de discos e, por meio de seus astros e modismos, influenciando o compor-
tamento de jovens do mundo inteiro.
Entre as principais características dessas formas musicais temos a simplici-
dade da estrutura da composição, para que a música seja decorada e reconhecida
facilmente, a utilização de solistas ou pequenos conjuntos e a busca de novas so-
noridades por meio de diversos equipamentos elétricos e eletrônicos, sistemas de
amplificação, experimentos acústicos na gravação de discos etc.
O rock é uma das principais expressões da música pop, tendo sido favore-
cido pelas telecomunicações e pela indústria do disco, que o tornaram o primeiro
grande produto da música comercial e fazendo com que seja considerado a música
do século XX.
O termo rock designa, de forma generalizada, todo um conjunto de formas
musicais que surgiram em meados do século XX nos Estados Unidos e que vêm
se transformando continuamente. Possui ritmo acelerado e suas raízes incluem a
mistura de elementos da música negra (blues e rhythm’n’blues) e branca (músi-
ca country) e o uso de guitarra elétrica. Possui linguagem simples, apoiada em
ritmos que estimulam a dança. Desde seu surgimento, vem se transformando e
dando origem a uma série de outras formas musicais.
Nos anos 1950, o rock foi mostrado ao público pela primeira vez e em 1954
Elvis Presley (1935-1977) alcançou a fama. Elvis foi um artista que hipnotizou as
massas de adolescentes e foi consagrado o “rei do rock”.
A partir daí, o rock passou por inúmeras modificações, e muitos grupos
ficaram famosos por tocarem e cantarem essa forma musical, tanto nos Estados
Unidos como em muitos outros países.
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Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
Traga um filme de Elvis para ver com as crianças. Escolha um trecho ani-
mado, com canto e dança, para que vejam como era o rock antes de elas nascerem!
Cante e dance com a turma rocks antigos e de bandas atuais, ressaltando o ritmo
animado, o uso de guitarras elétricas e a forma despojada de cantar.
Sinfonia
A palavra sinfonia tem dois significados. Refere-se a uma obra musical
composta dentro de determinadas regras, mas o termo sinfonia também é usado
como sinônimo de orquestra sinfônica, que é um grupo de músicos que interpreta
sinfonias e outras formas musicais também.
A sinfonia, como forma musical, existe há mais de 200 anos. É uma música
feita para ser tocada por um grande número de instrumentistas e, geralmente,
dividida em quatro grandes partes, chamadas movimentos. De forma geral, os
movimentos de uma sinfonia são independentes: quando termina um movimento,
faz-se alguns minutos de silêncio antes de começar o próximo – mas, de alguma
forma, existe uma relação entre eles.
Na maioria das sinfonias, o primeiro movimento (parte) é mais animado e
rápido; o segundo é mais relaxante e lento; o terceiro é dançante, normalmente
em ritmo ternário (três tempos em cada compasso); e o último é alegre, rápido e
intenso.
Muitos compositores criaram sinfonias durante o período clássico (de mea-
dos do século XVIII até o início do século XIX). A sinfonia foi uma das formas
instrumentais que mais fez sucesso, e um de seus mestres foi Joseph Haydn (1732-
-1809), que compôs mais de cem sinfonias.
Conta a história que Haydn era animado e agradável e que, durante a in-
fância, na Áustria, ouviu muita música folclórica, chegando à conclusão de que a
música deveria ser feita para o desfrute e o prazer do ouvinte. Na época de Haydn,
era comum os compositores trabalharem nos palácios reais, compondo e tocando
para os reis. Haydn também passava os dias compondo e tocando para o príncipe,
o que lhe deu estrutura e tempo para se tornar o “pai da sinfonia”.
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Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
Resumindo
Improvisar, em música, significa criar a composição musical no mo-
mento da execução ou incorporar detalhes e fazer alterações em uma
música no momento em que ela está sendo executada.
Em muitas situações em sala de aula, quando as crianças tocam, dan-
çam e cantam livremente, estamos trabalhando com improvisação.
A improvisação livre é muito importante, mas é necessário que o pro-
fessor proporcione momentos em que a improvisação vá sendo limi-
tada e direcionada para garantir que a criança consiga se expressar e
organizar sua ação musical.
O jazz, a música aleatória e o desafio são exemplos de formas musi-
cais que utilizam a improvisação como elemento constitutivo.
A grafia musical é a representação gráfica dos sons e uma partitura
musical é a escrita da música. A grafia mais usada e conhecida no
mundo todo é o pentagrama tradicional, mas existem muitos outros
tipos de escrita musical que utilizam símbolos, cores, desenhos e
onomatopeias como representação de sons. Todas as formas de grafia
podem e devem ser estudadas com as crianças.
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Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
Para encerrar esta unidade, vamos refletir mais um pouco sobre a educação musical com o texto
de Ilza Zenker.
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Improvisação e grafia musical: duas maneiras de trabalhar a composição musical
atribuído ao uso que tem sido feito dessa área de conhecimento e da atividade profissional decor-
rente dela. A atividade musical, em geral, está à disposição dos aspectos promocionais das escolas,
com o objetivo de preparar um repertório musical para ser apresentado em comemorações cívicas
e religiosas. No entanto, esse tipo de prática tem pouca ou nenhuma relação com os objetivos da
educação musical e reflete uma defasagem no processo de desenvolvimento e reconhecimento da
área musical em relação às outras áreas do conhecimento.
1. Você concorda com a afirmação de que “existe um preconceito com relação ao que é fazer músi-
ca, proveniente da ideia de que o acesso ao conhecimento musical estaria restrito aos talentosos
e aos economicamente privilegiados”? Justifique sua resposta.
2. Você acha que a música não é considerada uma disciplina séria dentro das escolas? Por quê?
3. Na sua escola, a música é usada nas festas? Que tipo de música é usado? Você concorda com a
escolha das músicas usadas nas festas da sua escola? Por quê?
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As coisas que fazem sons...
Instrumentos musicais
U
m instrumento musical é qualquer objeto utilizado para fazer música, desde um garfo até um
piano. Todos nós conhecemos muitos instrumentos musicais, mesmo que não saibamos deta-
lhes sobre sua utilização, confecção ou seu nome completo.
Normalmente, os professores dizem não ter instrumentos musicais na escola e justificam, com
isso, a ausência da execução instrumental nas aulas de música. Pela definição acima, qualquer objeto
pode ser usado para fazer música. Por isso, depois desse trabalho, com certeza você tocará e criará
uma série de instrumentos com seus alunos!
Escolha gravações de músicas instrumentais (executadas apenas por instrumentos) que você
tenha em casa e traga para ouvir com a turma. Converse sobre as gravações e procure descobrir quais
instrumentos estão sendo executados.
Para exercitar a audição e ampliar os conhecimentos da turma, escolha músicas em que se uti-
lizem instrumentos musicais diferentes dos que você está acostumado a ouvir.
Leia e reflita sobre um texto de Menuhin Yehudi sobre a confecção de instrumentos musicais.
(YEHUDI; DAVIS, 1990)
O homem quase nada inventa. Na maior parte das vezes descobre, recorrendo à sua experiên-
cia do mundo exterior e de seu mundo interior, quer se trate da descoberta do princípio da roda ou
da Teoria da Relatividade. Ambas foram deduções inspiradas a partir da realidade imediata. Todo o
nosso desenvolvimento se faz, de fato, através de análise, associação de indícios, observação e refle-
xão para chegar, finalmente, à criação de algo novo. Tais descobertas me parecem estar relacionadas
com a capacidade inata do castor de construir um dique ou das abelhas de construírem uma col-
meia. Mas não tenho a intenção de menosprezar a extraordinária capacidade humana para sonhar
e, de preferência, eu a definiria através de duas notáveis criações – a música e a linguagem.
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As coisas que fazem sons...
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As coisas que fazem sons...
1. Você concorda com Yehudi? As músicas que você acha bonitas são as mes-
mas que seus colegas acham?
2. Que instrumento musical você considera como o som mais agradável aos
seus ouvidos?
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As coisas que fazem sons...
Faça uma busca com seus alunos na escola ou peça para que tragam de casa
elementos da natureza, como pedras, galhos, conchas... Experimentem suas sono-
ridades e confeccionem instrumentos musicais simples, como chocalhos, clavas
(uma madeira que bate na outra) ou uma bateria natural! Não tentem emendar um
material no outro com cola, por exemplo, pois isso vai dificultar muito o trabalho,
demorar para secar e esse tipo de material nunca fica muito firme.
Depois, forme equipes e crie pequenas composições para serem apresenta-
das e gravadas, pois de nada adianta confeccionar instrumentos se eles não forem
utilizados!
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As coisas que fazem sons...
Instrumentos de percussão
Os instrumentos de percussão são aqueles cujo som é obtido por meio de
batidas ou sacudidas. Alguns deles emitem sons ao se bater em uma membrana:
são os instrumentos de percussão membranofones. Outros produzem sons, na
maioria das vezes, ao serem sacudidos: são os instrumentos de percussão idiofo-
nes. Como exemplos de instrumentos de percussão, temos tambores, pandeiros,
bateria, clavas, chocalhos etc.
Muitas vezes, achamos, por exemplo, que confeccionar chocalhos é uma
atividade desinteressante e comum, mas o chocalho é um instrumento usado em
muitas formas musicais, desde a música indígena até a salsa, mambo ou músicas
para orquestra. É claro que cada forma musical utiliza um tipo de chocalho, feito
com materiais e formatos diferentes.
O chocalho mais tradicional feito nas escolas é o de areia ou arroz dentro de
latinhas ou copinhos de iogurte, grudados com fita crepe. Muito bem, você pode
começar por esses, mas lembre-se que, dependendo do recipiente e do que vai
dentro, os chocalhos terão sonoridades completa-
mente diferentes. Dá para criar uma orquestra de
chocalhos usando materiais simples! Experimen-
te! Porém, tome muito cuidado caso utilize vidros,
Confeccionar esses instrumentos
pois aquele instrumento feito com garrafas de vi- é bastante divertido e acessível
dro contendo água tem um som muito bonito, mas a todas as faixas etárias.
é muito perigoso na mão de crianças.
Caxixi.
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As coisas que fazem sons...
Instrumentos de sopro
Os instrumentos que são soprados para que o som
seja produzido são os instrumentos de sopro, que possuem
um ou mais tubos onde o ar vibra. Como exemplos, temos
as flautas doce e transversal, trombones, saxofones, ber-
rantes, clarinetes, apitos etc.
Confeccionar instrumentos de sopro é mais difícil
em sala de aula. O melhor é utilizar apitos, bocais de flau-
ta, cornetas de plástico e similares, que são baratos e estão
à venda em diversas lojas. É melhor do que confeccionar
instrumentos que não dão certo!
Muitos livros ensinam a fazer flautas e apitos, mas as
medidas e materiais devem ser exatos para que eles soem.
É difícil, e as crianças, além de praticamente “enlouque-
cerem” seus professores, ficam muito frustradas!
Clarinete baixo.
Instrumentos de corda
Já os que possuem cordas e as suas vibrações são responsáveis pela obten-
ção do som, são os instrumentos de corda. A vibração das cordas pode ser feita
diretamente pelo movimento dos dedos do executante ou por meio de arcos ou
palhetas. Como exemplos, temos violão, guitarra, cavaquinho, violino, harpas,
contrabaixo e muitos outros.
Cordas do piano.
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As coisas que fazem sons...
Instrumentos exóticos
Já vimos que, nos primórdios da humanidade, o
homem dispunha apenas de madeira, pedra e ossos para
confeccionar seus instrumentos musicais, mas, atual-
mente, é muito difícil enumerar os materiais que temos
disponíveis para esse fim. Qualquer material pode ser
utilizado na confecção de um instrumento musical.
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As coisas que fazem sons...
A voz
Apenas os seres humanos são capazes de
usar a voz com a intenção de expressar emoções.
Os animais usam a voz para se comunicarem,
mas por uma questão de sobrevivência e não de
expressão. A única voz que é usada como recur-
so expressivo e estético é a voz do ser humano, o
instrumento musical primordial.
A voz é o resultado do som produzido na
laringe pela saída do ar (expiração), que atravessa
as cordas vocais e as faz vibrarem. A produção
da voz é resultado de um processo corporal muito
intenso e complexo, e por isso a educação da voz
é importante para todo profissional que tenha na
voz seu instrumento de trabalho, como nós, pro-
fessores. Desenvolver o controle da respiração,
controlar o grau de relaxamento ou tensão do cor-
po, trabalhar com a ressonância e a articulação
das palavras etc., é de vital importância para uma
boa saúde vocal.
Para que o processo da fala ou do canto não
cause danos ao aparelho fonador, existem exercí-
cios específicos para vários elementos ligados à
emissão vocal que podem e devem ser feitos, in-
clusive pelas crianças, como podemos ver nesse
texto de Dulcimarta Lemos Lino.
Cantora de flamenco.
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As coisas que fazem sons...
A voz
(LINO, 1990)
Trabalhar com a voz é trabalhar com o corpo, uma vez que este é nosso
instrumento musical por excelência. Ao conhecer seu corpo, a criança aprende a
percebê-lo, a gostar dele, a querê-lo, sem se envergonhar por causa dele. Dessa
forma, inicialmente torna-se necessário explorar o espaço pessoal que esse corpo
ocupa, conhecendo suas partes e funções. O canto é uma delas e, para realizá-lo
com eficiência, é necessário trabalhar inicialmente com a respiração, uma vez que,
para cantar, temos que inspirar e expirar. O percurso do ar é o seguinte: o ar en-
tra pelo nariz – inspiração – que com os seus pelinhos ajudam a limpar e aquecer
o ar de fora; este mesmo ar desce por um canal até os pulmões que, depois de
levar o oxigênio aos músculos de todo o corpo, expira através da boca, isto é,
coloca para fora o ar pelo mesmo canal. Quando o ar passa pelas cordas vocais
(que ficam no pescoço), elas vibram fazendo sair sons, nossos cantos. Experi-
mente fazer com seus alunos alguns exercícios de respiração antes de começar
a atividade vocal:
deitados no chão, com um balão na boca, solicite que as crianças inspi-
rem pelo nariz (enchendo a barriga de ar e não os ombros) e depois
expirem, fazendo o balão se encher de ar;
imagine que seu dedo indicador é uma vela, leve-o até a altura de
seus olhos, assopre-a de leve, sem apagá-la;
sopre uma língua de sogra e a mantenha esticada até aguentar; não
pode encher a bochecha de ar;
movimente o diafragma para baixo matando mosquitos, tss tss tss tss
tss tss...
Assim como um carro anda melhor depois de estar aquecido, o mesmo
acontece com a voz – devemos aquecê-la para cantar melhor. Uma forma de
aquecer a nossa voz é realizar alguns exercícios de massagem nas cordas vo-
cais, de fortalecimento dos músculos do rosto, de colocação e de articulação
vocal. Vejamos outras sugestões:
vamos cortar grama? Utilizando os sons prrr, brrr e trr, um de cada
vez, faça uma escala de cinco degraus até o agudo e volte para o
grave;
coloque a mão em cima da cabeça e comece, de boca fechada, a soltar
um som com a consoante “m”. Sinta a vibração de seu rosto, agora
sua caixa de ressonância;
com a boca fechada, cante uma canção utilizando a consoante “m”.
Não faça força;
abra a boca o mais que puder, agora feche; faça várias vezes; coloque
a língua para fora e para dentro da boca; tente encostar a sua língua
no nariz; agora no seu pé (cuidado para não mexer a cabeça);
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As coisas que fazem sons...
Faça sozinho e com seus alunos esses exercícios antes de cantar. Isso pode
precaver uma série de problemas como nódulos nas cordas vocais, tão comuns na
maioria dos professores.
O corpo e a voz
O corpo é o responsável pela emissão da voz. Assim, um corpo
tenso e nervoso produzirá uma voz tensa e nervosa. Quantas vezes
você já foi apresentar um trabalho na sala de aula, dar uma palestra ou
fazer uma entrevista e sua voz soou estrangulada, para dentro, e sua
respiração tornou-se ofegante? Quem já não passou por uma situação
dessas?
Nossa voz reflete nosso estado de espírito. Se estamos preocupa-
dos, tristes ou nervosos, com certeza nossa voz estará diferente do
normal. Por isso, antes de falar ou cantar, os exercícios de relaxamen-
to são imprescindíveis. Execute os exemplos abaixo.
Espreguice-se esticando os braços para cima.
Boceje demorada e exageradamente.
Dinho, vocalista do Capital
De pé, com os braços soltos ao lado do corpo e pernas leve- Inicial.
mente flexionadas, gire a cabeça suavemente três vezes no
sentido horário e três vezes no sentido anti-horário, de olhos
fechados.
Abaixe o corpo, lentamente, como se estivesse fazendo um arco com
o tronco, até que suas mãos cheguem perto do chão.
Volte à posição normal e dê mais uma espreguiçada!
Viu como seu corpo está mais relaxado depois de exercícios bem simples?
Expressividade vocal
Quando vemos professores, palestrantes ou locutores com um discurso
tenso e sem graça, que não consegue prender a atenção dos ouvintes, estamos
diante de pessoas inexpressivas vocalmente, que não nos passam nenhuma
emoção enquanto falam ou cantam.
Gal Costa, cantora de MPB.
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As coisas que fazem sons...
Existem vários cantores e cantoras que iniciaram a sua carreira ainda crian-
ças, e existem muitas crianças famosas que se apresentam pelo mundo todo.
É importante mostrar exemplos de cantores infantis e discutir o uso da voz
da criança em várias formas musicais.
Que tipos de música têm mais a ver com crianças? Que temas são enrique-
cidos ou salientados se cantados por crianças? Que produtos usam a voz de
criança nas suas propagandas? Qual a intenção por trás desse uso?
Mudando a própria voz
Essa mudança da voz tanto pode se dar por um uso diferente do aparelho
fonador como pela expressividade do cantor ou locutor.
É muito difícil delimitar o que e como fazer para que nesse tipo de atividade
as crianças não forcem demais seu aparelho fonador. O importante é que
não sintam dor de espécie alguma durante os exercícios.
Resumindo
Um instrumento musical é qualquer objeto utilizado para se fazer mú-
sica. É necessário conhecermos vários instrumentos musicais, seu
nome e detalhes sobre sua utilização e confecção para trabalhar com
as crianças.
O ser humano confecciona instrumentos musicais há milhares de
anos, inicialmente utilizando materiais naturais e depois qualquer
tipo de material que tenha à disposição.
Os instrumentos podem ser classificados de acordo com diversos cri-
térios: tamanho, forma, cor, material, local em que foi criado, tipo de
som etc.
A classificação mais comum dos instrumentos musicais é a que os
divide de acordo com a forma como o som é produzido nos instru-
mentos. Essa classificação compreende quatro grupos principais: per-
cussão (os instrumentos são batidos ou chacoalhados para se obter o
som), sopro (o som é gerado por uma coluna de ar em vibração), cor-
da (a vibração ou fricção de uma corda gera o som), eletrônicos (os
instrumentos dependem da eletricidade para que o som seja gerado).
Além dos instrumentos musicais convencionais, é possível fazer mú-
sica de forma profissional ou amadora com instrumentos de brinque-
do e com instrumentos exóticos, feitos com materiais alternativos e
que produzem sons exóticos.
O corpo é o principal instrumento que temos à nossa disposição, tanto
pelos sons que podemos fazer batendo no nosso corpo como pelas
possibilidades de expressão vocal que possuímos.
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As coisas que fazem sons...
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