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HORÁRIO
14h às 17:00h
PROPÓSITOS DO CURSO:
2. Preparar o aluno para que seja um pastor com qualidades de integridade, imitando assim, a
pessoa de Cristo. Isto porque, a liderança baseia-se, primordialmente no caráter, não na
personalidade.
4. Preparar o aluno para enfrentar os diversos desafios que o trabalho pastoral exige.
5. Preparar o pastor para ser um capacitador de líderes, para que, no exercício de sua vocação,
seja também um grande apoio, eficiente e eficaz, ajudando assim, outros na igreja a
conhecerem e desenvolverem seus dons na igreja local.
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PROGRAMA
Tarefa para fazer em casa: Os alunos deverão dedicar um tempo fazendo uma avaliação de si
mesmos e do seu ministério pastoral
Aula 2 Manhã (08h às 12h) 1. Dez prioridades básicas e centrais do ministério pastoral
Aula 4 Manhã (08h às 12h) 1. Aprendendo a lidar com as críticas no ministério pastoral
2. O pastor e o aconselhamento
Aula 6 Manhã (08h às 12h) 1. Por que pastores precisam de apoio pastoral?
AVALIAÇÃO
a) O aluno deverá fazer a leitura dos textos indicados pelo professor e fazer algumas
anotações sobre as lições aprendidas para compartilhar em sala de aula. As anotações
devem ser entregues ao professor.
3. Trabalho após o curso 30% (O aluno deverá escrever um paper sobre um dos assuntos
abordados no curso- 7 a 10 páginas). O texto deve seguir as normas acadêmicas
conforme regulamentadas pela ABNT. (Entregar impresso na secretaria do Seminário
até dia 30 de setembro)
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AULA 01
10 PRIORIDADES BÁSICAS E CENTRAIS DO
MINISTÉRIO PASTORAL
Todos estão ocupados. Esta é a realidade da nossa cultura moderna. Há
trabalho que precisa ser feito, uma família para cuidar, uma casa e carro para
zelar, amizades para cultivar, médicos para visitar. Há atividades das crianças
para agendar e convidados a hospedar. Para aqueles de nós que são cristãos,
você pode adicionar à ocupação normal da vida de participação na igreja,
possivelmente voluntariado uma vez por semana. A vida no século XXI parece
uma corrida frenética e sem fim. Nós somente diminuímos o ritmo quando uma
crise ou uma doença nos forçam a fazer uma pausa.
Aqueles que pastoreiam o povo de Deus vivenciam muitas das mesmas
exigências, pressões, demandas e responsabilidades que outros cristãos. E
porque um pastor é chamado para estar envolvido nas vidas das pessoas em
sua congregação, ele também deve aprender a conciliar a sua própria agenda
com os horários ocupados e agitados dos membros de sua igreja. Suas vidas
ocupadas criam tensão adicional no ministério, fazendo com que muitos pastores
falhem, mesmo antes de começarem.
Muitos pastores caem em duas armadilhas aqui…
Em alguns casos, um pastor rapidamente percebe que ele não consegue prover
um cuidado adequado à sua congregação, logo ele não cuida. Mesmo em uma
congregação menor, não é possível estar em cada cirurgia, jogo de futebol,
funeral, visita médica, convite familiar, dia de trabalho na igreja e solicitação de
aconselhamento. Desanimados, alguns param completamente de tentar. Um
pastor pode escolher se concentrar de forma mais ampla na administração de
grandes atividades, gestão de programas ativos e supervisionar o funcionamento
geral da igreja local, deixando a obra do “ministério” para os outros, ou
negligenciá-la completamente.
Por outro lado, alguns pastores resolutos reconhecem que eles não podem fazer
tudo, mas eles se arriscam a passar por sofrimento. Eles colocam uma mão
ávida no arado e esperam que, com esforço suficiente, eles pelo menos
conseguirão agradar algumas pessoas. Mas, esta abordagem tem seus próprios
perigos. O pastor está agora escravizado às exigências e necessidades de sua
igreja. A congregação, direta ou indiretamente, em grande parte determina como
o seu tempo é gasto. Sua fidelidade e frutificação serão baseadas em quão
contente a congregação está com os seus esforços, e enquanto alguns serão
satisfeitos, sempre haverá pessoas que nunca poderão ser satisfeitas. Agradar
as pessoas se torna a sua maneira de medir a fidelidade, mas isso o fará sentir-
se esgotado e vazio.
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AULA 02
QUALIDADES DE UM BOM PASTOR
O pastor é alguém que desempenha uma das funções mais
privilegiadas do planeta. Ele é comissionado a proclamar a Palavra de
Deus, cuidar do rebanho por quem Jesus derramou seu sangue,
conduzir o povo de Deus em adoração e mobilizar a igreja a levar o
Evangelho da salvação aos perdidos em todas as nações. As almas dos
santos foram confiadas a ele (Hb 13.7), o Evangelho da verdade foi
encomendado a ele (2Tm 2.14) e o governo da igreja foi delegado a
ser partilhado entre ele e outros líderes (1Tm 3.15). Todos esses
privilégios são também acompanhados por grande responsabilidade.
Diante disso, é possível compreender melhor a difícil pergunta do
apóstolo Paulo: “Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2Co
2.16). Certamente o Senhor é quem capacita seus servos para o
desempenho do ministério sagrado.
1. Conversão
2. Caráter Provado
Muitos dos problemas na igreja local e global nos dias atuais são
causados pelo fracasso em atender a este simples princípio. Vários
pastores têm gerado escândalos na igreja pela falha de caráter. Muitos
cristãos poderiam ser poupados de tantos traumas se suas igrejas se
recusassem a colocar na liderança alguém que não possui o caráter
exigido por Deus.
pelas ovelhas que lhe foram confiadas. O interesse por servir, ajudar e
cuidar das pessoas é fundamental no exercício da vocação pastoral.
4. Consagração a Deus
5. Confiabilidade
- Valdeci Santos
[3] BAXTER, Richard. O pastor aprovado. São Paulo: PES, 1989, p. 59.
AULA 03
ENFRENTANDO O DESÂNIMO NO MINISTÉRIO
PASTORAL
Pastorear a igreja de Cristo não é uma tarefa fácil, mas também não é impossível!
O apóstolo Paulo afirma que os pastores são dádivas de Deus e expressão de sua
graça sobre a comunidade do povo de Deus, “tendo em vista o aperfeiçoamento
dos santos” (cf. Ef 4.7-12). O problema, porém, parece ser: será que os pastores
olham para a igreja como bênção de Deus para eles?
Tendo feito a análise acima, não se pode ignorar que, de fato, há inúmeros
motivos para muitos se sentirem desanimados no ministério pastoral. Vivemos
em um mundo caído e diariamente nos relacionamos com pessoas fragmentadas.
Além do mais, em nós mesmos temos a comprovação dos efeitos da queda, pois
nossa inconsistência nos flagela a todo momento. Dessa forma, é de se esperar
que o aspecto relacional do ministério resulte em uma luta contínua contra o
desalento. John Stott certa vez observou que “o desencorajamento é risco
ocupacional do ministro cristão”.[1] Logo, saber lidar com esse fenômeno é
crucial para cada pastor que deseja cumprir cabalmente o seu ministério.
Dos muitos conselhos sábios que tenho recebido sobre esse assunto, o melhor
tem sido: pregue o evangelho para você mesmo! Pastores pregam o evangelho
toda semana. Eles se colocam no púlpito e proclamam as riquezas da graça em
Cristo, o perdão dos pecados, a consolação do Espírito e inúmeras outras
verdades. Todavia, nem sempre se apropriam dos benefícios resultantes desse
evangelho. Dessa forma, pregar o evangelho para si mesmo é uma excelente
maneira de enfrentar os desânimos comuns no ministério pastoral.
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A afirmação de Paulo sobre o amor do Pai foi feita em um contexto em que ele
lembrava seus leitores de que “somos entregues à morte todos os dias; fomos
considerados como ovelhas para o matadouro” (v36). Dessa maneira, considerar
o amor de Deus por nós é importante para se perceber a luz nas trevas e a
providência daquele que nos dará, com Cristo, todas as coisas (v 32).
Por essa razão, querido pastor, pregue o evangelho do amor do Pai para você
mesmo! Medite no fato de que o amor de Deus não depende do seu desempenho
diário, mas da graça dele para contigo. Esse amor é a garantia de que o Pai nunca
o desamparará.
Paulo contrasta os sofrimentos do presente com a glória a ser revelada por causa
de Cristo. O fato é que sofrimentos e dificuldades não deveriam surpreender o
crente que vive no mundo de aflições. O problema é que ainda que nós pastores
tenhamos consciência dessas verdades, muitas vezes acabamos caindo na
“armadilha do ministério bem-sucedido” e passamos a esperar um pastorado sem
dificuldades e oposições.
O pastor deve se lembrar sempre que o fato dele ser representado por Cristo, e
não pelo seu sucesso ministerial, é a base segura de sua aceitação. Em outras
palavras, sua identidade em Cristo é mais importante do que sua aceitação social.
a. Ore. Separe alguns momentos para derramar seu coração diante de Deus,
expondo a Ele suas angústias a dores;
b. Lembre-se de que você está engajado em uma batalha espiritual. Alguns
elementos do desânimo podem ter sua origem nas investidas do inimigo, e ele
certamente tenta se aproveitar de nossos desapontamentos;
c. Interceda por aqueles que têm agido de maneira negativa em relação a você.
Jesus nos ensinou a amar nossos inimigos (Mt 5.42-44), o que, por extensão,
deve nos motivar a interceder por aqueles que são acidamente críticos ao nosso
trabalho, a nossa pessoa ou a nossa família;
d. Compreenda que o processo de mudança é, na maioria das vezes, lento.
Certamente desejamos mudanças de uma noite para o dia, mas não é assim que
o Senhor geralmente age. Pois no processo de transformar outros, ele também
nos amadurece; e essas coisas podem levar tempo;
e. Procure encontrar meios de se alegrar e demonstrar o seu amor pela igreja local.
O rebanho precisa ser assegurado do amor do seu pastor. Procure se lembrar
dos pequenos gestos de afeto pelos quais você deve ser grato e motivado a
demonstrar seu amor pelos membros de sua igreja;
f. Cuide de sua saúde física. Algumas vezes justificamos nosso cansaço, mal-estar
e fadiga pelas pressões a que somos submetidos. Todavia, é importante
observarmos que esses mesmos problemas podem ser causados por obesidade,
falta de sono ou péssima alimentação, que fazem parte do estilo de vida de
alguns pastores.
Valdeci Santos
AULA 04
ERROS RELACIONAIS COMUMENTE
COMETIDOS POR PASTORES
Os primeiros dias de um novo pastorado são geralmente acompanhados por alegrias e
expectativas. Depois de uma espera angustiante, orações, contatos e até lágrimas, chega
o momento em que o ministro recebe o convite de uma igreja local ou a nomeação de um
presbitério para o novo campo. No íntimo, ele deseja realizar um bom trabalho. Em sua
mente, há tantas ideias e projetos que envolvem melhorias na Escola Dominical,
vivificação de várias atividades da igreja, o crescimento espiritual e maior firmeza
doutrinária dos membros, bem como um testemunho vibrante dos santos na comunidade.
Com respeito aos defeitos da igreja há que se considerar que algumas expectativas dos
membros em relação ao ministro são até desumanas. Para alguns, ele não pode demonstrar
qualquer fraqueza e por mais que ele se esforce para realizar um bom trabalho, nunca
conseguirá agradar a todos. Na verdade, o membro da igreja sempre quer encontrar seu
pastor sorridente, disponível e concedendo atenção indivisível, como se ele fosse a única
alma a ser pastoreada. Também, algumas igrejas acreditam terem recebido o “mandato
celestial” para manterem seus pastores humildes e por isso os deixam vivendo em
condições de miséria. O salário nem sempre é dos melhores e reajustes ocorrem somente
mediante imposição de instância superior (o presbitério). Há ainda o jogo de “críticas e
comparações”, pois todos parecem conhecer um pastor que é melhor do que aquele por
quem são cuidados. Haverá sempre um pastor midiático que gostariam de ter ou
geralmente farão referência ao pastor antecessor, deixando claro a rejeição ao atual. Para
piorar, a família do pastor ainda é submetida ao escrutínio dos membros da igreja. Sua
esposa nem sempre é aceita nos grupos femininos e seus filhos serão continuamente
observados e criticados. Nesse contexto, é difícil o pastor não se sentir ferido!
No entanto, o propósito principal desse artigo é refletir sobre alguns erros comumente
cometidos pelos pastores, especialmente no trato com suas ovelhas. Não serão tratados
os pecados grosseiros que geralmente resultam em despojamento, mas aquelas falhas que
ainda que imperceptíveis aos seus autores, acabam afetando a imagem do pastor,
dificultando sua aceitação no campo e ao final, rompendo os laços ministeriais.
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Infelizmente, a lista abaixo não é exaustiva, mas apenas representativa. Há outros erros
que possuem o mesmo efeito cumulativo que não temos condições de abordar aqui. Por
enquanto, nossa atenção recai sobre estes mencionados abaixo.
No texto de Efésios 4.11-12, o apóstolo Paulo afirma que pastores são bênçãos do Cristo
glorificado para a igreja terrena, pois quando ele subiu acima de todos os céus, concedeu
uns para “pastores e mestres”. Todavia, isso foi feito “com vistas ao aperfeiçoamento dos
santos”, ou seja, o objetivo dessa santa vocação é lidar e ajudar irmãos imperfeitos.
Embora algumas situações e pessoas na igreja machuquem o pastor e tornem o seu
ministério mais sofrido e difícil, a existência desses estorvos evidenciam o quanto o
trabalho pastoral é necessário. Deus não enviou pastores para uma igreja glorificada ou
completamente aperfeiçoada. No rebanho terreno o ministro encontra não apenas ovelhas
feridas, mas bodes que chifram e “lobos vorazes que não pouparão o rebanho” (cf. At
20.29). Nesse contexto, o obreiro necessita imensa graça e a convicção de que, de fato,
ele foi vocacionado por Deus para esse ministério de abençoar a igreja consolando alguns,
confrontando outros e amando sacrificialmente aqueles que Cristo lhe confiou.
O pastor sábio sempre procurará ser honesto com a igreja, deixando claro o que é um
princípio de fé e o que simplesmente reside no campo de suas opiniões e escolhas. Na
verdade, ele será mais respeitado pelos membros de suas igrejas quando assim o fizer.
6. Usar a ira como instrumento de expressar seu zelo pastoral. De fato, nem sempre é
fácil manter o domínio próprio diante dos desafios do ministério. A insistência de irmãos
na prática do erro que já foi abordado, o surgimento de falsos mestres difundindo heresias
entre as ovelhas, a inércia e apatia de muitos em desenvolver sua salvação e tantas outras
coisas, desafiam a paciência de qualquer líder eclesiástico zeloso. Em um sentido, a ira
em algumas dessas ocasiões é até justificada, pois o Senhor Jesus reagiu com tal zelo pela
casa de Deus que expulsou aqueles que contaminavam o templo com suas negociatas (cf.
Jo 2.15-16). Mas o ministério de Cristo não foi caracterizado pelas explosões iracundas.
É possível que alguns no ministério acabem confundindo ira com zelo santo e, por causa
disso, desejam invocar “fogo do céu” para consumir os opositores (cf. Lc 9.54). Mas
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provavelmente, esses serão repreendidos pela palavra do Senhor que diz: “vós não sabeis
de que espírito sois” (Lc 9.55). Dessa maneira, diante da tentação de explodir em raiva
em algumas ocasiões do ministério, o pastor deve sempre considerar se sua ira é razoável
(cf. Jn 4.4). Além do mais, devemos sempre lembrar que prestaremos contas de como
tratamos nossas ovelhas ao Supremo Pastor que nos confiou o rebanho (cf. 1Pe 5.1-4).
7.Se esquecer de onde, de fato, reside sua identidade. Uma das maiores bênçãos do
Evangelho da graça está no fato de que a identidade do cristão reside em Cristo. Ou seja,
o que deveria ser mais importante para o crente é como Deus o vê em Cristo, coberto com
a justiça do Redentor, aceito pelos méritos do Salvador e co-herdeiro com o Senhor. No
entanto, nessa terra, facilmente nos esquecemos disso e depositamos nossa identidade
naquilo que as pessoas pensam de nós ou em nossas próprias realizações. Nesse contexto,
o trabalho excessivo, a busca pelo estrelato midiático, o desejo de agradar (ou não
desagradar) pessoas, se tornam tentativas de mantermos nossa identidade em segurança.
O problema, porém, é que todas as vezes que fundamentamos nossa identidade em
elementos tão vulneráveis como a opinião de pessoas ou nossos próprios feitos,
dificilmente estaremos seguros. Assim como acontece com um ioiô pendurado no dedo
do seu possuidor, nossa identidade experimentará altos e baixos dependendo de onde a
“amarramos”. Portanto, se esquecer que o fundamento da identidade do crente se encontra
na aprovação de Deus em Cristo é essencial para o ministro do evangelho continuamente
avaliado pelas pessoas ao seu redor.
8.Deixar de cuidar de si mesmo e pastorear sua família. Há vários textos nas Escrituras
recomendando que líderes eclesiásticos cuidem de si mesmos (cf. At 20.28 e 1Tm 4.16).
No entanto, devido à natureza do ministério, esses mesmos líderes se entregam para servir
outros e se esquecendo do cuidado próprio. Não é incomum encontrar pastores cansados,
emocionalmente fatigados, com dificuldades para dormir, acima do peso e com vários
problemas de saúde. Além do mais, é comum encontrar pregadores que leem a Bíblica
para seus sermões ou para ensinar outros, mas infelizmente já abandonaram a prática de
leitura devocional, para alimentar sua própria alma.
Concluindo, há muitos e variados erros que o obreiro local pode cometer em seu
relacionamento com a congregação. Por isso, o final do relacionamento ministerial não
pode ser tributado somente aos membros da igreja local. Algumas das falhas do pastor
podem parecer imperceptíveis, mas possuem efeito cumulativo. Dessa maneira, é
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AULA 05
UM PADRÃO OBSERVADO NA QUEDA
DE PASTORES
Introdução
Atuar como Secretário Geral de Apoio Pastoral da IPB tem sido uma fonte de alegria e
contentamento, mas algumas vezes esse trabalho resulta em muita tristeza e angústia!
Talvez, nada seja mais difícil nesse sentido do que confrontar um pastor que se desviou
do caminho da santidade, ouvir uma esposa machucada pela atitude do marido e ver filhos
desacreditados por causa do exemplo do pai. Tudo isso sem falar ainda das repercussões
que a queda de um pastor traz à igreja local. De fato, Satanás parece obter enorme
vantagem quando consegue seduzir um líder do povo de Deus, a fim de desanimar o
rebanho comprado pelo sangue de Cristo!
Ao falar sobre a queda de pastores não me refiro aos “pecados corriqueiros”, pois
ninguém espera que um pastor seja imune ao pecado. Todavia, o que dizer dos “pecados
escandalosos”, que roubam a irrepreensibilidade do ministro diante do seu rebanho e da
sociedade (cf. 1Tm 3.2)? O que dizer do adultério, da desonestidade na administração,
das dívidas descontroladas, das atitudes violentas, do abuso doméstico, etc? Certamente,
é possível descrever uma enorme lista que acaba caracterizando o desvio, a queda e a
ruína de muitos pastores na igreja de Cristo.
Deus criou a igreja para ser muitas coisas, incluindo uma comunidade onde as pessoas se
ajudam mutuamente a lutar contra o pecado e a amar melhor o Redentor. Deus nos chama
a relacionamentos nos quais podemos falar a verdade uns aos outros (Efésios 4.15, 25),
confessarmos nossos pecados uns aos outros (Tiago 5:16) e a amar o suficiente àquele
que se desvia (cf. Mateus 18.10-20; Gálatas 6.1-2; Tiago 5: 19-20). Em outras palavras,
a igreja é uma comunidade onde podemos prestar contas uns aos outros e isso é uma
bênção na nossa caminhada com Cristo.
Por isso, pergunto: quem, de fato, é seu amigo? A quem você regularmente presta contas
e compartilha os segredos e angústias da alma? Quem não só tem permissão, mas
atualmente está agindo com essa permissão, para lhe fazer perguntas diretas e penetrantes
sobre o seu andar com Cristo? Em outras palavras, quanto mais você se isolar, mas
vulnerável se torna aos ataques de Satanás e mais tempo pode permanecer cativo das
trevas do prazer pecaminoso.
Quando alguém cai em pecado, isso é uma prova de que aquela pessoa não guardava o
seu coração (Provérbios 4.23). No caso de líderes, eles também não guardavam o coração
das pessoas que deveriam proteger. Em vez disso, eles se tornaram cegos pelo engano do
pecado (Efésios 4.22; Hebreus 3.13) e foram levados para o fosso da destruição (Mateus
15.14).
Por isso, pergunto: De que maneira você está flertando com o pecado? Que provisões
você está fazendo para a carne em relação à luxúria (Romanos 13.14)? Que detalhes você
está escondendo? Quais os e-mails que você está excluindo? Quais históricos de busca na
Internet você está apagando?
É possível que o pecado esteja agachado em sua porta (Gênesis 4.7) e o tentador
procurando uma oportunidade para atacar (1Pedro 5. 8). Dessa forma, fuja do pecado;
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não flerte com ele (Gênesis 39.6-12; Provérbios 5-7, Romanos 6.12-13; 2 Timóteo 2.22
e 1 Pedro 2:11).
Por isso, insisto: não permita que seu coração fique gelado em relação ao Senhor. Busque-
o diariamente, momento após momento, sabendo que ele é melhor do que qualquer prazer
fugaz que possa atrair seu coração. Não busque o Senhor apenas em dias de desespero,
mas diariamente e sistematicamente. Não despreze sua devocional individual, sua leitura
bíblica, seus momentos de derramar o coração diante do Senhor. Lembre-se de que
comunhão é algo a ser cultivado e o mesmo acontece em nosso relacionamento com o
Redentor.
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Finalmente, é importante saber que o padrão de queda acima exposto não se aplica
somente a pastores, mas também aos presbíteros, diáconos, pedreiros, encanadores, mães,
jovens e assim por diante. Na verdade, o pecado não faz acepção de pessoas e se o inimigo
percebe que uma estratégia foi bem-sucedida com alguém, ele logo tentará estender o seu
experimento a outros. Por isso, embora esse artigo se dirija a pastores, os princípios aqui
deveriam ser observados por todos os crentes em Cristo.
Aula 06
VANTAGENS DO CONFLITO
Antes de mais nada, precisamos reconhecer que nem sempre o conflito deve ser encarado como
algo ruim. Podemos vê-lo também como um instrumento útil para a nossa vida cristã. A
incapacidade de se resolver o conflito geralmente acontece porque não o aceitamos. Podemos
errar se pensarmos que pelo fato de amar uns aos outros, não podemos ter nossas diferenças. O
conflito não é apenas inevitável, até certo ponto, ele tem suas vantagens.
Vejamos algumas:
1
JANSEN, Ernst Werner. Conflitos: oportunidade ou perigo? A arte de transformar conflitos em
relacionamentos sadios. Editora Esperança. 2007. p. 13,14
2
POIRIER, Alfred. O Pastor Pacificador – um guia bíblico para a solução de conflitos na igreja. Editora
Vida Nova. 2011. p. 31
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Mas por que as pessoas têm tanta dificuldade em se entenderem? Por que surgem os conflitos?
Se o conflito é inevitável, a pergunta mais importante agora não é como evitar o conflito, mas é
como lidar com ele de modo que agrade a Deus. Nem sempre podemos escolher se vamos ou não
ter que enfrentar um conflito. No entanto, devemos saber como lidar com ele. Gostaria de sugerir
algumas dicas que podem ser muito úteis.
Para isso precisamos ser humildes e admitir que o erro pode estar em nós mesmos e não no outro.
Devemos perguntar a nós mesmos: “O que há a meu respeito que está causando esta discórdia”.
Para tomar esta atitude precisamos estar prontos a confessar nosso pecado de egoísmo, ira, inveja,
soberba, autocomiseração, hipocrisia, etc.
Numa crise de relacionamento, costumamos pensar que as coisas só serão resolvidas quando o
outro mudar seu modo de ser. Raramente pensamos que nós também precisamos mudar. Isso me
faz recordar a história de um pai que orava constantemente dizendo: “Deus, muda o coração do
meu filho”. Até que um dia, ele passou a orar: “Deus, muda o coração do pai do meu filho”.
Colocar a culpa sobre os outros é um dos grandes obstáculos à verdadeira solução dos conflitos.
(Lc 6:42). Resistindo a ideia de jogar a culpa no outro, tiramos de foco das pessoas, e buscamos
encontrar a verdadeira razão ou raiz do conflito. Jesus disse que temos que “tirar a trave do nosso
olho, a fim de enxergarmos melhor para tirar o cisco no olho do outro”. Mt 7.3-5
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Eis uma terceira dica. Você precisa se esforçar para compreender o ponto de vista de outra pessoa.
Talvez este seja um passo muito difícil a ser dado, mas ele é muito importante. Caso contrário, o
conflito não poderá ser solucionado. E para compreender o outro, quatro aspectos merecem nossa
atenção:
1) Desejo sincero de compreender. Nunca conseguiremos resolver conflitos
sem “entrar na pele” da outra pessoa. Nossa tendência natural é ver a
situação somente da nossa perspectiva. Precisamos ver as circunstâncias
do ponto de vista da outra pessoa. (Hb 4:15,16).
2) Saber ouvir. Pv 18:13. Um erro que comumente cometemos é que
enquanto uma pessoa fala expondo seu ponto de vista, estamos
formulando mentalmente um ataque ou defesa. Um passo fundamental
para entender o outro e lidar com o conflito é saber ouvir. No processo
de escutar é importante entender os fatos concretos, porém, os aspectos
emocionais, subjetivos não deverão ser desconsiderados.
3) Respeitar a opinião do outro. Compreender não significa que você está
concordando com a outra pessoa, mas a respeita por pensar diferente de
você.
4) Não condene ou julgue. “É preciso resistir à tentação de colocar a culpa
nos outros, de acusar a outra parte, ou de levantar problemas que não
pertencem àquele fórum de discussão.
4. Disponha-se a perdoar. Uma terceira dica na solução de conflitos é tratar com nossos
ressentimentos. A nossa responsabilidade é conceder perdão aos outros assim como Deus
nos perdoou (Ef 4:32), o que envolve não guardar o pecado ou erro da outra pessoa para
depois “jogar na cara” ou usá-lo contra ela. Devemos entregar a ofensa e o ofensor ao
Senhor; pois Ele é o justo juiz (Mt 16:27; II Tm 4:8).
Além de ajudar na solução do conflito, precisamos entender que a atitude de não perdoar prejudica
a nós mesmos. Quando estamos magoados com alguém, é como se estivéssemos presos numa
cadeia.
Ausência de perdão gera tormentos na vida daquele que não quer perdoar. Quem não perdoa está
envenenando seu próprio coração, “destrói a ponte que ele mesmo há de atravessar um dia”.
A primeira pessoa a se beneficiar com o perdão é sempre quem o oferece. Manter a mágoa no
coração é como segurar uma brasa na mão. O estrago pode ser grande.
5. Busque ajuda de um conselheiro. Pv 11.14; 15.22
“Na multidão de conselheiros há segurança" (PV.11.14). Em Mt 5.9, Jesus diz que “bem-
aventurados são os pacificadores”.
O conselheiro ou o pacificador é um cristão maduro que procurará agir como um mediador entre
as partes conflituosas. Ele deve adotar uma atitude neutra e imparcial. Sua principal função é
ouvir as partes e juntos buscarem descobrir as reais causas ou fontes do conflito, procurando os
meios de conciliação.
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Conclusão e aplicação
Chegamos ao final de nossa aula de hoje. É bem provável que enquanto a aula foi transcorrendo
você fez uma avaliação sobre como anda os seus relacionamentos. Talvez tenha chegado à
conclusão que existiu ou existe alguém com quem precisa se reconciliar. A título de aplicação,
seguem algumas perguntas para nossa reflexão e ação:
1) Existe hoje em seu círculo de relacionamento alguma pessoa com quem você está tendo
conflito? Quem?
2) Você sabe qual a razão ou os motivos que geraram esta dificuldade de relacionamento?
3) Você consegue identificar algo que você fez ou deixou de fazer que contribuísse para o
desgaste neste relacionamento?
4) Como você tem procurado lidar com este conflito? Sobrepujando, “apaziguando”, evitando,
sentindo-se injustiçado, ou envidando esforços para sua solução?
5) Você sente-se em paz quando tem que se relacionar com esta pessoa?
6) Diante deste artigo, você consegue perceber qual a vontade de Deus para a restauração deste
relacionamento? O que você pretende fazer?
3
POWLISON, Como alcançar o coração do conflito. Coletâneas de aconselhamento bíblico, Atibaia, SBPV,
v.5, p. 100-117, 2006. p.100
33
Aula 07
Pouca atenção havia sido dada a esse fenômeno até que, mais
recentemente, Thom Rainer, pesquisador batista, passou a arquivar e
organizar por temas, testemunhos de algumas esposas de pastores[2].
Além de serem solidárias com as pesquisas, as esposas de pastores
foram muito transparentes quanto ao que contribuía para seu
sentimento de solidão no ministério. Embora a pesquisa originalmente
tenha sido conduzida no contexto americano, os resultados são
elucidativos para a realidade brasileira. Dessa maneira, passo a
ressaltar dez razões mais comuns, das doze apresentadas por Rainer,
que mais refletem a realidade brasileira e explicam algumas causas da
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solidão das esposas dos pastores. Para tanto, serão utilizadas as frases
de algumas das entrevistadas, pois elas parecem ser representativas
da maioria.
dar ao luxo de ter a vida social que eles têm. Nem roupa para isso eu
possuo. Assim, melhor me afastar”.
- Valdeci Santos
[1] WELCH, Ed. A pastor’s wife: The toughest job on the planet.
Disponível em:https://www.ccef.org/pastor-s-wife-toughest-job-
planet/. Acesso em: 03.03.2013; CULLEN, Lisa Takeuchi. Think Your
Job Is Tough? Try Being a Pastor’s Wife. TIME Magazine. Disponível
em:http://business.time.com/2007/03/29/think_your_job_is_tough_t
ry_be/. Acesso em: 29.04.2019.
[2] Rainer, Thom. Twelve reasons pastor’s wives are lonely. Disponível
em:https://thomrainer.com/2014/02/12-reasons-pastors-wives-are-
lonely/. Acesso em: 29.04.2019.
36
Aula 08
Preparando Sermões
NOTA: Este esboço foi condensado a partir de John R. W. Stott, Entre Dois Mundos
(Grand Rapids: Eerdmans Publishing Co., 1982), pp. 211-216.
A. A introdução não deve ser elaborada, mas suficiente para estimular sua
curiosidade, para molhar seus apetites e para introduzir o pensamento
dominante. Isto pode ser feito por uma variedade de meios: explanando o
cenário da passagem, história, o evento ou assunto atual, etc.
B. A conclusão não deve ser meramente recapitular seu sermão - ela deve
aplicá-lo. Obviamente, você deve aplicá-lo durante todo o tempo, mas você
deve guardar algo para o fim que persuadirá seu povo a fazer algo. "Nenhuma
intimação, nenhum sermão". Pregue tanto para a cabeça como para o coração
38
B. Ore a Deus para lhe capacitar para "tanto possuir a mensagem, que a
mensagem o possua".
39
Aula 09
O que é um sermão expositivo?
A pregação expositiva não é só um estilo de sermão, mas refere-se
essencialmente ao conteúdo. “A pregação expositiva, em sua essência, é mais
uma filosofia do que um método”. Como alguns teólogos e pregadores, podemos
afirmar que estamos na pista errada se pensarmos na pregação expositiva
simplesmente como um estilo escolhido de uma lista (tópico, devocional,
evangelístico, textual, apologético, profético ou expositivo).
John H. Leith, ao escrever sobre João Calvino, diz que ele compreendia a
pregação como a explicação da Escritura. ”O sentido da passagem é a
mensagem do sermão. O texto governa o pregador.” A passagem em si é a voz,
o discurso de Deus; o pregador a boca e os lábios, e a congregação, […] o ouvido
em que a voz soa”.
G. Campbell Morgan diz: ”Ao verificar que o nosso texto está na Bíblia,
avançamos para descobrir seu real sentido e, depois, para elaborar a sua
mensagem. O texto tem postulados, implicações, deduções e aplicações”. “Ao
pregar, a exposição é a interpretação detalhada, amplificação lógica e aplicação
prátíca da Escritura”.
II. O conceito
III. A explicação
Aula 10
ACONSELHAMENTO BÍBLICO
O discípulo ajudando outros a crescer na vida cristã
Introdução
Provavelmente você já tenha ouvido o velho ditado: “Se conselho fosse bom, ninguém
dava, vendia”. Bom, isso é um dito popular que acreditamos estar totalmente errado. Na
verdade, o aconselhamento é muito bom. Mais que isso, o aconselhamento é bíblico. Uma
prática que pode, e muito, nos ajudar na prática do discipulado em nossa igreja. Nós, os
cristãos, não estamos imunes aos problemas que a vida trás. Também enfrentamos a
depressão, abuso de álcool e drogas, ansiedade, medo, distúrbios diversos, preocupação
com as finanças, crise no casamento, dificuldades na criação de filhos e uma variedade
de outros problemas que resultam em sofrimento.
Entendemos que algumas pessoas são chamadas por Deus e capacitadas com dons
específicos para desenvolverem o ministério de aconselhamento numa escala maior e com
mais profundidade (Ef. 4.11,12,16; I Co 12.7,12-27; I Pe 4.10). Não obstante, de acordo
com as Escrituras, todos os cristãos deveriam em alguma medida estarem aptos a
aconselhar em certas situações.4
O ensino das Escrituras é que todo crente pode e deve ser um conselheiro bíblico.
Podemos ver esse ensino à luz de Gálatas 6.1-5: “Irmãos, se alguém for surpreendido
nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te
para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis
a lei de Cristo”. Lemos também em Colossenses 3.16: “Habite ricamente em vós a
Palavra de Cristo; ensinai e aconselhai uns aos outros com toda a sabedoria, e cantai
salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão no coração”.
4
Eyrich, Howard & Hines, Wiliam. Cura para o coração. São Paulo – SP: Cultura Cristã, p. 65.
45
Quando Paulo escreveu aos crentes da igreja de Roma (Rm 15.14) disse: “E certo estou,
meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito de que estais possuídos de bondade, cheios
de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros”. Era a
compreensão do apóstolo que toda a igreja, e não apenas os líderes, admoestasse uns aos
outros, em outras palavras, que se aconselhassem mutuamente.
Lemos em Tito 2.1-6 que o Apóstolo Paulo encarregou homens e mulheres mais velhos
de instruir os homens e mulheres mais jovens, respectivamente. Todo crente é chamado
para que “fale cada um a verdade com o seu próximo” (Efésios 4.25), e ainda: “exortai-
vos mutuamente cada dia” (Hebreus 3.13).
Como fica claro nessas passagens, corrigir, aconselhar, ensinar, não são responsabilidades
restritas aos pastores e oficiais da igreja. O mandamento é para o cristão.
2) Aconselhamento bíblico não é uma atividade opcional para a Igreja. Na Bíblia vemos
em várias situações Deus nos instruindo quanto ao cuidado que devemos ter uns com os
outros. Os chamados "mandamentos recíprocos", aparecem pelo menos 36 vezes no NT.
E são imperativos, ou seja, são mandamentos, são ordens de Deus à sua igreja, e não uma
opção. Por exemplo: "Acolhei-vos uns aos outros" (Rm. 15:7); "Tende igual cuidado uns
pelos outros" (I Co.12:24b-25); "Confessai os vossos pecados uns aos outros" (Tg. 5:16);
"Perdoai-vos uns aos outros" (Ef. 4:31,32).
A questão não é se a Psicologia, como ciência que alega ser, é ruim ou não. A questão é
que ela não se utiliza da Escritura Sagrada com a finalidade de conhecer e aconselhar as
pessoas (2 Tm 3.15-17; 2 Pe 1.4). A Bíblia sim, tem sempre a última palavra sobre o
homem, valores e sobre a vida. No aconselhamento bíblico, fazemos uso da Palavra de
Deus e não dos ensinamentos de pensadores como Freud, Adler, Jung, Erickson, dentre
outros. A Bíblia, seguramente, tem orientação para nossa vida, em todas as áreas. A Bíblia
é nossa única regra de fé e prática.
(Cl 3:16) e advertir (Cl 1:28; II Ts 3:15) e sempre dá a ideia de mostrar ao irmão o seu
erro através da Palavra de Deus e auxiliá-lo na correção deste. Pelo menos é isso que
Paulo fala do propósito da Escritura. Diz ele: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e
útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para
que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra." (3.15-16).
A Bíblia nos ensina como podemos fugir da corrupção que existe no mundo e em nosso próprio
coração. Ela nos ensina como podemos ser eficientes no ministério cristão; como ser bons
maridos e esposas, pais e filhos; como ser bons cidadãos, como amar a Deus e ao nosso
próximo (2 Pe 1.3,4). A Bíblia também nos ensina como resolver nossos problemas à maneira
de Deus (1 Co 10.13; Rm 8.32-39). Ela nos ensina como ter alegria, paz, mansidão, paciência,
bondade, amabilidade e autocontrole (2 Pe 1.5-7; Gl 5.22,23). A Bíblia nos ensina tantas coisas
preciosas a respeito de Deus, da vida presente e da vida eterna. Na verdade, as Escrituras não
contêm toda a vontade de Deus, mas toda a vontade de Deus que quis que soubéssemos está
contido na Bíblia. (Dt. 29.29; Jo 21.25).6
5
MACARTHUR, Jr., John F. & Mack , Wayne A. Introdução ao Aconselhamento Bíblico. São Paulo -
SP: Hagnos, 2004. p. 87.
6
MACK, Wayne. A utilidade das Escrituras no Aconselhamento. Fé para hoje. São José dos Campos,
SP, ano 2004, n. 24, p. 16-19.
47
Por isso, o conselheiro precisa estar comprometido com a suficiência das Escrituras para
resolver e compreender todas as dificuldades não-físicas, relacionadas ao pecado, que
afetam o próprio indivíduo e seu relacionamento com Deus, com ele mesmo e com o
próximo.
Tomemos como exemplo algumas passagens. O Salmo 19:7-1 enfatiza a suficiência das
Escrituras em duas maneiras:
1) Restaura a alma v. 7.
2) Torna os simples em pessoas sábias v. 7.
3) Alegra o coração v. 8.
4) Ilumina os olhos v. 8.
5) Produz o temor do Senhor em nós v. 9.
6) traz gozo para a vida v. 10.
7) Concede direção, proteção e recompensa v. 11.
Esse é um ponto muito importante no estudo do nosso tema. As Escrituras nos ensinam
que a igreja local deve ser o instrumento usado por Deus para ajudar as pessoas. Dessa
forma a igreja precisa ter pessoas aptas para realizar o aconselhamento bíblico. (Gl 6.1,2;
Cl 3.16; 1 Ts 5.14,15).
O conselheiro cristão deve ser o primeiro a ter a experiência de ser transformado pela
Escritura Sagrada e de estar sendo moldado, segundo “a mente de Cristo” (1 Coríntios
2.16).
A Escritura é a fonte de toda verdade. Paulo escrevendo a Timóteo diz: "Toda a Escritura
é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a
instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para
toda boa obra." (3.15-16).
Não podemos esquecer de que à luz da Escritura Sagrada, a Queda afetou todo ser humano
(Ef 2.1-12). Em razão disso, nossos relacionamentos foram afetados, nossas motivações.
Nosso coração se tornou corrupto. "Porque do coração procedem os maus pensamentos,
mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias." (Mateus 15.19).
Boa parte dos problemas que enfrentamos na vida são meras consequências do nosso
distanciamento de Deus.
O aconselhamento secular falha por não depender de Deus e por confiar na sabedoria e
força humanas para alcançar seu objetivo. No aconselhamento bíblico é diferente. A
oração é parte da solução dos problemas do aconselhado. Na oração revelamos nossa total
dependência de Deus para alcançar as mudanças desejadas. (Cl 4.2; I Tes 5.17)
Às vezes o aconselhado abre o seu coração contando pecados secretos. Por vezes
podemos até ficar chocados com aquilo que ouvimos. No entanto, precisamos respeitar e
saber que o aconselhado é uma pessoa, criada à imagem de Deus, valiosa aos olhos do
Senhor, que no momento passa por uma crise e veio lhe pedir ajuda. Não a condene. Não
49
dê uma de “amigos de Jó”. Respeite sua confissão e seu desabafo. Aspereza e falta de
humildade minam a bondade, que é essencial para um tratamento correto do irmão faltoso.
Isto não significa aceitar um comportamento errado. É respeitar a pessoa que está
querendo ajuda como pessoa. Paulo em Gálatas 6.1, nos ensina que devemos corrigir com
espírito de brandura, humildade e amor. E lembre-se de que todos nós precisamos de
aconselhamento porque somos também frágeis e propensos a cair.
Abrir o coração com alguém não é nada fácil. Muitas vezes é um desnudar da alma, e isso
pode ser doloroso para a pessoa. O que um conselheiro ouve deve morrer com ele. Ele
não deve passar adiante aquilo que ele ouve em um ambiente de orientação espiritual,
nem mesmo para outras pessoas interessadas no assunto.
O conselheiro deve saber que comentar com outras pessoas, sem a devida autorização do
aconselhado, o que lhe foi dito em confiança acabará com a relação conselheiro-
aconselhado. Se isso acontecer, você terá traído quem confiou em você. Poucas coisas
são tão ruins para um conselheiro que ser conhecido como fofoqueiro, como alguém que
passa para frente coisas que ouviu em confidência. Lemos em Provérbios 11.13 “O que
anda mexericando descobre [revela] o segredo, mas o fiel de espírito o encobre”. Em
Provérbios 20:19 lemos que “O mexeriqueiro trai a confiança; portanto, evita o que muito
abre os seus lábios”.
Conclusão e aplicação:
AULA 11
O MINISTÉRIO DE VISITAÇÃO DO PASTOR
Conteúdo
Introdução
A prática de fazer visitas aos membros da igreja em seus lares está caindo em desuso.
Podem existir várias razões para isso. Dentre elas, podemos mencionar pelo menos
três: 1ª.) Em razão da vida extremamente dinâmica e agitada da cidade, as pessoas
estão sempre no “corre-corre”, sem tempo para receber pessoas em suas casas; 2ª.) A
falta de interesse dos próprios membros por preferirem viver a vida cristã na
clandestinidade, não permitindo assim, a “intromissão” pastoral; e 3º.) em terceiro lugar,
penso que devemos concordar com Jim Elliff o qual afirmou que “o cuidado com as
almas nas igrejas ortodoxas está em um estado deplorável (e geralmente aumentando)
porque os pastores estão falhando em amar”.8
Além destas razões, outro problema que constatamos é que, mesmo aquelas igrejas
que ainda valorizam a visitação, nem sempre a faz de maneira eficaz e com o propósito
bíblico. A visita para muitos, limita-se a uma conversa informal sobre muitos assuntos,
na maioria das vezes, sem um propósito claro ou objetivo bíblico definido.9
É preciso resgatar a prática da visitação nos lares, bem como corrigir estas distorções.
A visitação é essencial à saúde da igreja. Por isso é importante resgatar esta
compreensão, e todos nós, principalmente, os que estão em posição de liderança na
8
ELLIFF, Jim, A Cura de Almas, in: Armstrong, John. O Ministério Pastoral Segundo a Bíblia. SP: Editora
Cultura Cristã. 2007. p.152
9
SITTEMA, John. Coração de Pastor – Resgatando a Responsabilidade Pastoral do Presbítero. São
Paulo, SP: Ed. Cultura Cristã. 2004 p. 198
51
igreja, devemos assumir que a visitação aos membros da igreja é indispensável, caso
queiramos a saúde e o crescimento da igreja.
Dirigindo-se aos irmãos da igreja em Éfeso, Paulo diz: “Vocês sabem que não deixei de
pregar-lhes nada que fosse proveitoso, mas ensinei-lhes tudo publicamente e de casa
em casa” (At 20:20). Vemos aqui que a preocupação de Paulo era que o Evangelho
fosse ensinado, não apenas publicamente no templo, mas também, de maneira
reservada, de casa em casa.
Ao comentar esta passagem, Calvino diz que Paulo estabeleceu um modelo para o
ministério da Palavra ao ensinar que o ministro não deveria deixar de admoestar tanto
“publicamente” quanto de “casa em casa”:
Como fica claro nas palavras de Calvino, a visitação por parte da liderança da igreja era
um meio de suplementar a pregação pública. Tinha como objetivo o “cuidado do rebanho
muito mais de perto”. Novamente, diz ele: “Não é suficiente que, do púlpito, um pastor
ensine todas as pessoas conjuntamente, pois ele não acrescenta instrução particular de
acordo com a necessidade e com as circunstâncias específicas de cada caso”.11
Calvino desenvolveu seu pastorado dispensando grande cuidado à visitação dos
enfermos12, e Ronald Wallace nos lembra que Calvino prescreveu em suas Ordenanças
Eclesiásticas, que “ninguém deveria permanecer três dias inteiros confinado à sua cama
sem cuidar para que o ministro seja notificado e quando qualquer pessoa desejar que o
ministro vá à sua casa, deve cuidar de chamá-lo numa hora conveniente para a visita”.13
Esta visão do reformador estava amparada por sua compreensão do ensino da Escritura
sobre este assunto. Vários termos na Bíblia mostram que o ministério de visitação é
para encorajar os desanimados (I Tes 5:11,14), fortalecer os fracos (Gl 6:1), repreender
os desatentos (2 Tm 3:16,17), instruir na sã doutrina (2 Tm 4.2), etc.
10
WALLACE, Ronald. Calvino, Genebra e a Reforma. Editora Cultura Cristã. São Paulo, SP: 2004. p.
147
11
CALVIN, John. Calvin´s Commentaries – The Epistles Of Paul – The Apostle To The Romans And To
The Thessalonians. Grand Rapids, Michigan: Eerdmans Publishins Company. p. 345
12
LESSA, Vicente Tenudo. Calvino -1509-1564 – Sua Vida e a Sua Obra. São Paulo, SP: Casa Editora
Presbiteriana. p. 119
13
Wallace. Op Cit., p. 148
52
14
GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. SP: Edições Vida Nova. 1989. p. 262
15
Rev. Richard Baxter, conhecido pastor reformado, viveu na Inglaterra durante o século XVII (1615 -
1691). Ele trabalhou muito para reformar a Igreja da Inglaterra, sendo muitas vezes preso por isso. Dentre
os seus livros mais importantes estão: Manual Pastoral de Discipulado - o clássico O Pastor Reformado
(Editora Cultura Cristã).
16
MARRA, Cláudio. A Igreja Discipuladora. SP: Cultura Cristã. 2007. p. 89
17
BAXTER, Richard. O Pastor Aprovado, SP: PES. 1989. p. 109
53
em trabalhar para curar almas, analisa este texto de João 10 e mostra a importância da
intimidade que deve existir entre pastor e rebanho:
Jesus, o Bom Pastor, o pastor-modelo, “conhece” suas ovelhas e
as ovelhas o “conhecem”. Se um pastor quiser ser semelhante a
Cristo em seu pastorado, ele deve fazer esforços para conhecer
as ovelhas e permitir que as ovelhas o conheçam. Em outras
palavras, o pastorado não é somente a boa administração das
ovelhas ou o aumento do número de ovelhas ou simplesmente o
ensino das ovelhas. Ele está intrinsecamente ligado ao
conhecimento íntimo das ovelhas. Um homem não consegue –
não pode – pastorear ovelhas sem conhecê-las.18
Se levarmos à sério esta orientação, seremos convencidos de que pela visitação,
podemos conhecer melhor os membros da igreja. E é exatamente este caminho, ou
seja, a intimidade, que Jim Elliff nos aponta como um valioso instrumento para
viabilizarmos este conhecimento entre pastor e ovelhas. Segundo ele,
Deve haver algum planejamento, na maioria das situações, para
garantir que cada uma das ovelhas conheça e seja conhecida pelo
pastor. Esse planejamento pode incluir vários aspectos, mas
deve, pelo menos, incluir uma das mais notáveis características
dos pastores – a hospitalidade (1Tm 3.2). É um curso de ação
razoável que os pastores tenham membros em sua casa com
freqüência. Se é impossível um mostrar hospitalidade àqueles que
estão sob seus cuidados por certo tempo, então não há pastores
suficientes para as ovelhas ou há amor insuficiente no coração do
pastor.19
Richard Baxter desenvolveu um forte e importante trabalho no campo da visitação nos
lares. Ele via a importância da pregação pública, mas também defendia a instrução
particular como um meio eficaz e excelente para o fortalecimento das famílias. Cláudio
Marra acompanha este mesmo raciocínio ao escrever sobre este aspecto na vida deste
notável pregador, disse:
Segundo Baxter, “Você se tornará familiar com todo o seu povo
uma vez que tenha tido oportunidade de conversar com ele em
particular e individualmente. ... a própria familiaridade tende a
suscitar a afeição que abre os ouvidos das pessoas para mais
ensino”. Melhor conhecimento do rebanho promoverá melhor
relacionamento e compreensão, banindo o preconceito. “Quando
os conhecemos melhor, eles se sentem mais encorajados a nos
revelar as suas dúvidas, a buscar soluções para elas e a sentir-se
à vontade conosco de todos os modos.”20
2) Consolar: Uma terceira razão para realizarmos o ministério de visitação é que,
através deste ministério, podemos consolar os membros da nossa comunidade.
Muitas pessoas da igreja enfrentam sérios problemas. Dificuldades financeiras,
18
ELLIFF, Jim, A Cura de Almas, in: Armstrong, John. O Ministério Pastoral Segundo a Bíblia. SP: Editora
Cultura Cristã. 2007. p.158
19
ELLIFF, Jim, A Cura de Alma. p. 159
20
MARRA, Cláudio. A Igreja Discipuladora. p. 96
54
3) Aconselhar: Uma quarta razão para visitarmos nossos crentes é que, pela
visitação, podemos aconselhá-los (Cl 1:28; 3:16; Rm 15:14; I Ts 5:12). O termo
“admoestar”, que aparece nestas passagens, refere-se à atividade de
“aconselhar”; “curar almas”; “orientar espiritualmente”.
21
CF. FERREIRA, Wilson Castro. Calvino: Vida, Influência e Teologia. Campinas, SP: LPC. 1985. p.
153.
22
SITTEMA, John. Op Cit., p.226
23
Eu acrescento a esta observação de Sittema, que, o pastor, precisa demonstrar amor e compaixão para
com a pessoa visitada. Embora os pecados precisam ser confrontados e resolvidos, só haverá um resultado
positivo, eficaz, caso a pessoa visitada perceba que o pastor realmente está preocupado com sua vida cristã
(Lc 7.13) (cf. MACK, Wayne. Introdução ao Aconselhamento Bíblico. Hagnos. 2004. p. 208).
55
e) Ao final, faça um breve resumo da sua visita: Não deixe nada pendente.
Ao final, certifique-se de que saibam o que você entendeu. Isso evita
problemas futuros, e ajuda em muito na solução daqueles que existem.
5) Proteger: Finalmente, é preciso dizer que o rebanho, não pode ser deixado ao
acaso. Pela visitação, podemos proteger as ovelhas (Atos 20:20). No contexto desta
passagem de Atos 20, escrita para os líderes da igreja de Éfeso, o apóstolo discorre
sobre a tarefa pastoral. Paulo diz que um pastor amoroso e cuidadoso com seu rebanho,
toma medidas para protegê-lo dos “lobos”, dos predadores espirituais.24 A intenção dos
“lobos vorazes” (At 20.28-31) era a de “arrastar os discípulos atrás deles” (v.30)
Não apenas em Éfeso, mas ainda hoje, quem vive numa grande cidade enfrenta
diversos “lobos vorazes”, tais como misticismo, sincretismo, secularismo, pragmatismo,
relativismo, etc.25 E como disse Pedro, “Satanás anda ao derredor... procurando alguém
para devorar” (1.5.8). Como líderes da igreja, não podemos descuidar-nos e permitir
que nossas ovelhas, mais desatentas, venham a se tornar alvos destes inimigos
modernos.
Novamente, faço uso da influência de Richard Baxter em visitar as famílias de sua igreja.
Ele escreve:
Passamos as segundas-feiras, desde cedo de manhã até
quase o cair da noite, envolvendo 15 ou 16 famílias, toda
semana, nesta obra de catequese. Com dois assistentes
percorremos completamente a congregação, que tem
cerca de 800 famílias, e ensinamos cada família durante o
ano26
Calvino, à semelhança de Baxter, adverte: “não consideramos nosso cargo como algo
dentro de limites tão estreitos como se, quando o sermão estiver terminado,
pudéssemos descansar como se nossa tarefa tivesse terminada” 27
Ricardo Agreste citando Eugene Peterson deixa muito clara a ideia de que o pastor não
deve limitar seu pastorado apenas aos domingos:
24
SITTEMA, John. Op Cit., pp. 61-92.
25
Na parte Dois, seção Um do seu livro Coração de Pastor, John Sittema desenvolve cinco perigos que
rondam a vida do rebanho. Ele chama a estes cinco perigos de “Os Dentes do Lobo”. (confira: SITTEMA,
John.Coração de Pastor. Resgatando a Responsabilidade Pastoral do Presbítero. São Paulo, SP: Ed.
Cultura Cristã. 2004. pp. 61-92)
26
BAXTER, Richard. O Pastor Aprovado. São Paulo, SP: Ed PES. 1989 p.18.
27
Wallace, Op Cit., p 147
56
IV. O QUE FAZER DURANTE A VISITA: Para uma boa visita, o pastor ou líder deve
adotar a seguinte postura:
1. Transparente: Procure ser uma pessoa acessível. Aproveite para falar de você,
de sua família e do seu testemunho de fé. Mas cuidado para não ser o centro da
conversa, esquecendo-se assim das razões que o levaram a visitar aquela
família.30
2. Bom ouvinte: Ouça com atenção a pessoa visitada. Em provérbios 18.15 lemos:
“o coração do sábio adquire o conhecimento, e o ouvido dos sábios procura o
saber”. Procure ouvir compreendendo o que a outra pessoa deseja transmitir,
valorizando a sua fala, seus sentimentos, sua experiência de vida. É importante
que o visitador esteja pronto para ouvir. Assim, ficará mais fácil entender as
necessidades e as carências manifestadas.
28
http://www.editorasepal.com.br/sepal/jornal/out_dez2001/pastorear.htm ( capturado em 22/03/04 )
29
SITTEMA, John. Op Cit., p. 222
30
Idem, p. 223
57
hesitação, etc. O pastor ou líder quem estiver realizando a visita deve ter
sensibilidade para observar e analisar a presença destes elementos durante a
visita e assim poder, de maneira mais efetiva, intervir para ajudar a pessoa
visitada.
Após a visita, faz-se necessário oferecer um acompanhamento. Não basta apenas fazer
a visita e limitar a dar alguns conselhos. É preciso acompanhar a família ou pessoa
visitada durante algum tempo, até que se consiga vê-la superando sua dificuldade.
Para ajudá-lo neste acompanhamento, podemos dar duas pequenas dicas:
1ª.) Sugerimos que se faça anotações da visita realizada. Anote o que foi conversado
(se não for possível fazer estas anotações no momento da visita, faça-as imediatamente
depois para não cair no esquecimento). Anote principalmente aquilo que você precisará
dar mais atenção e uma possível avaliação posterior.32
2ª.) Sugerimos que retorne a visita: Após alguns dias, você deve conferir as anotações
feitas e voltar a visitar aquela família. Ou na impossibilidade de visitá-la, fazer-lhe um
contato telefônico. Esta medida revela que você se importa com ela (Fl 1.8). Este retorno
é muito importante, pois nos dará a oportunidade de rever os pontos anteriores, dúvidas,
os passos que foram dados e o progresso feito por parte da pessoa visitada (lembre-se
de Efésios 4.11,12).33
VI. PREMISSAS DA VISITAÇÃO
1. O pastor ou quem visita é um instrumento nas mãos de Deus, e como tal deve
estar pronto para o serviço que glorifique ao Senhor.
31
Idem, p. 225
32
Baxter ao visitar as famílias da sua igreja, fazia anotações com a finalidade de continuar a instrução de
maneira sistemática. (Cf. O Pastor aprovado, p. 18,28)
33
SITTEMA, John. Op Cit., pp. 223, 224
58
Fazendo uso de I Co 10.13b, Adams entende que o conselheiro pode dar esperanças
ao aconselhado (no caso, a pessoa visitada) com base na promessa divina. E que o
papel do conselheiro é entender o problema do aconselhado e buscar respostas na
Escritura para ajudá-lo.35
Nosso compromisso é com a verdade que está contida na Escritura Sagrada. Rev.
George A. Canêlhas, que acumula uma larga experiência pastoral, inclusive neste
ministério de visitação, nos dá um conselho valioso:
Seja sábio e coerente quando os problemas exigem um
estudo mais profundo e um tempo maior para se chegar a
uma conclusão. Não tente resolver tudo na primeira visita
e, também, não tenha vergonha de dizer que não sabe
responder.36
6. O pastor precisa tomar cuidado para não ditar o que a pessoa precisa fazer, mas
deve ajudá-la a conduzir sua própria avaliação e decisão.
3. Momentos de Crise: São muitas as situações de crise que alguém possa estar
enfrentando – crise financeira, crise no casamento, crise existencial, crise no
relacionamento com filhos, crise de solidão, crise sentimental, crise de fé, etc.
34
ADAMS, Jay. O Manual do Conselheiro Cristão, Editora Fiel. 2000. p. 35
35
ADMS. Op Cit., p. 35 (veja a nota 6)
36
CANÊLHAS, George Alberto. Apostila de poimênica utilizada no curso do JMC. p. 20
37
BAXTER, Richard. Manual Pastoral de Discipulado. SP: Cultura Cristã. 2008. p.77
59
Mas, existe aquela dor para a qual não há remédio para o alívio imediato. Dentre elas,
temos a dor de quem está vivendo a perda de alguém querido. É uma dor movida por
sentimentos de tristeza, de medo, de abandono, de fragilidade e insegurança. Ao visitar
uma pessoa ou família enlutada, precisamos agir com carinho, compreensão e
compaixão (Mc 3.1-5; João 11.33-35; At 20.31; 2 Co 2.4).
É o momento em que junto com a dor também está o sentimento de culpa pela perda.
Não é momento de críticas ou censura, mas de palavras de consolo e paz. A Palavra
de Deus traz conforto na lembrança de que o Senhor está no controle de todas as coisas
e de que nossas vidas estão em suas mãos.
Wayne A. Mack, escrevendo sobre nosso relacionamento de ajuda ao aconselhado, nos
dá algumas dicas em como podemos desenvolver uma compaixão genuína para com
as pessoas. São quatro dicas:
6. Pessoas afastadas da igreja: Tem sido muito comum algumas pessoas, por
razões diversas40, afastarem-se da igreja. Todos nós conhecemos, pelo menos,
38
MACK, Wayne. Introdução ao Aconselhamento Bíblico. SP: Editora Hagnos. 2004. p.208-209
39
BAXTER, Richard. O Pastor Aprovado. p.110
40
Segundo uma pesquisa registrada na Revista Enfoque, estima-se que “59% das pessoas decidiram
abandonar a casa de Deus por causa da mudança de situação de vida (transferência de cidade, divórcio,
nascimento de filhos, morte na família etc.). O desencantamento com os membros e pastores foi apontado
por 37% dos entrevistados. A pesquisa também revelou que 19% estavam ocupados demais para participar
60
É bem verdade que há pessoas que se afastam da igreja porque nunca chegaram a se
converter. Aceitaram a religião e não a pessoa do Redentor (I João 2.19). Mas há
aqueles que receberam a Cristo pela fé, são de fato convertidos, mas por “causa das
tentações de Satanás e do mundo, pelo predomínio da corrupção restante neles e pela
negligência dos meios de sua preservação”,42 acabaram caindo e se afastando da igreja
(MT. 26.70-74; II SM 12.9,13; Sl 51. 8-12; Ap 2.4).
O profeta Ezequiel escreveu sobre o cuidado que Deus tem com seu rebanho: “Eu
mesmo apascentarei as minhas ovelhas e as farei repousar, diz o Senhor Deus. A
perdida buscarei, a desgarrada tornarei a trazer, a quebrada ligarei e a enferma
fortalecerei...” (Ez. 34.15,16).
Através da prática da visitação, podemos imitar o exemplo do Senhor. Podemos “buscar
a perdida” (evangelizar), mas também, “trazer a desgarrada”. O pastor e presbíteros
precisam “sair da sala do conselho” e, a exemplo de Jesus, irem atrás das ovelhas
desviadas. "Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma
delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu, até
encontrá-la?" - Lucas 15:4.
Com relação a este caso para se visitar alguém, vale à pena ressaltar a observação feita
pelo Rev. George Canêlhas:
Tome cuidado com as pessoas que querem lhe fazer de
"babá". Geralmente essas pessoas são carentes e acham
que você está à disposição delas. As pessoas têm que se
das atividades da igreja; já 17% disseram que as responsabilidades da casa e família contribuíram para o
afastamento. O comportamento dos próprios membros representou 17% dos ouvidos. E outros 12%
revelaram dificuldades de envolvimento como maior empecilho.” (extraído:
http://www.fmgospel.com.br/noticia.php?id=1765&situacao=1765, capturado em 21.06.2010)
41
NETO, Sinfrônio J.; JARDIM, Daria Tiyoko. A Reconquista. SP: Editora Vida. 2001. p.21
42
Confissão de Fé de Westminster. Cap. XVII, 3 – Sobre a Perseverança dos Santos.
61
1. Chegue com atitude agradável, e crendo que Deus pode agir graciosamente na
vida da pessoa ou família a ser visitada.
2. Preste atenção no contexto do local e da família para conhecer as circunstâncias
que envolvem as pessoas a serem visitadas.
3. Faça uma apresentação sua e das pessoas que o acompanham e seja claro
quanto ao verdadeiro propósito de sua visita. Evite ir sozinho, especialmente
quando for visitar uma pessoa do sexo oposto. O conselho do Rev. George
quanto a esta questão é o seguinte:
2. NA RESIDÊNCIA:
1. Lembre-se de que você é convidado na casa de outra pessoa. Mostre-se de
maneira amiga e agradável. Cl 4.6
2. Seja paciente para ouvir a todos, em especial as pessoas enfermas e seus
familiares.
43
CANELHAS, George A. apostila de poimênica. P. 20
44
CANELHAS, George Alberto. Apostila de Poimênica. p.20
62
3. Focalize-se na pessoa para quem a visita foi dirigida, mas sempre demonstrando
interesse para com todos os presentes. Tiago 1.19
4. Mantenha a preocupação em conduzir a conversa visando atingir o propósito de
sua visita.
3. NO HOSPITAL
1. Procure estar informado: É muito importante que você tenha informações da
situação do paciente. Se ele operou do estômago, não leve alimentos. Se ele
operou da vista, não leve uma palavra-cruzada. Se ele está com dores de
cabeça, fale pouco e fale baixo.
2. Procure ser breve em sua visita: Evite tornar a sua visita cansativa para o
paciente. Lembre-se que você está visitando um doente e não fazendo uma
festa. Visitas que demorem mais de 30 minutos são desaconselhadas. Lembre-
se que o paciente está hospitalizado e precisa descansar. Alguns pacientes no
pós-cirúrgico dormem muito, várias vezes por dia. Isso pode acontecer em razão
da medicação ou porque o corpo ainda está se recuperando.
3. Cuidado com as histórias: Não fale sobre suas próprias doenças do passado
e não fique contando histórias de quando seu tio fez uma cirurgia e morreu, ou
da vizinha de um conhecido seu que, após uma cirurgia na garganta, nunca mais
voltou a falar. Com certeza a pessoa visitada não está interessada em ouvir
estas histórias de tragédias. Ao contrário, fale ao enfermo sobre a segurança do
amor e cuidado divinos.
4. Não faça diagnósticos médicos: Lembre-se que você não é o médico: Não
tente dizer o que o paciente deveria ou não deveria fazer ou tomar. Não interessa
se você teve experiência semelhante ou não, pois cada caso é um caso, e só o
médico pode saber o que fazer.
7. Não prometa que Deus irá curá-lo. Em sua sabedoria, Deus algumas vezes
permite que a doença continue.45
Conclusão e aplicação: O que foi dito até aqui teve como objetivo dar alguma
orientação sobre este aspecto tão importante da vida eclesiástica, mas esquecido e
negligenciado por boa parte da nossa liderança. A título de aplicação, quero dar cinco
45
COLLINS, Gary R. Aconselhamento Cristão. SP: Vida Nova. 1984. p.336
63
1º) Comece a ensinar este assunto em sua igreja. Mostre a base bíblica e as razões
para a visitação nos lares. Todos os membros precisam ter conhecimento dos benefícios
da visitação para a vida da igreja.
2º.) Forme um grupo de visitação. Além dos pastores, presbíteros, diáconos e líderes,
deve haver outros irmãos interessados em fazer parte de um ministério de visitação.
Distribua entre os membros da igreja um questionário, o qual deve ser preenchido pelos
interessados.
3º) Ofereça um curso de visitação aos interessados. Existem pessoas que querem se
envolver, mas por timidez ou falta de preparo, não se dispõem.
4º) Deixe em algum lugar de fácil acesso e visualização, uma caixinha onde a
membresia da igreja vai poder depositar ali seus pedidos, sugestões e indicações de
pessoas a serem visitadas.
5º.) Publique no boletim da igreja os nomes das famílias ou pessoas que estão sendo
visitadas, bem como os nomes das equipes que estão fazendo as visitas. Isto encoraja
outros a se envolverem.
Esperamos que estas orientações e sugestões sirvam para despertar pessoas e líderes
para dar inicio ou retomar aquilo que estava sendo esquecido. Tenha sempre em mente
e no coração, que visitar as pessoas trará um enorme benefício para nossas igrejas.
Bibliografia consultada
ADAMS Jay E., A Theology of Christian Conseling – More than redemption. Grand
Rapids: Zondervan Publishing Co., 1995.
CALVIN, John. Calvin´s Commentaries – The Epistles Of Paul – The Apostle To The Romans And
To The Thessalonians. Grand Rapids, Michigan: Eerdmans Publishins Company.
ELLIFF, Jim, A Cura de Almas, in: Armstrong, John. O Ministério Pastoral Segundo a Bíblia. SP:
Editora Cultura Cristã. 2007.
FERREIRA, Wilson Castro. Calvino: Vida, Influência e Teologia. Campinas, SP: LPC. 1985.
64
GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. SP: Edições Vida Nova. 1989.
LESSA, Vicente Tenudo. Calvino -1509-1564 – Sua Vida e a Sua Obra. São Paulo, SP: Casa
Editora Presbiteriana.
NETO, Sinfrônio J.; JARDIM, Daria Tiyoko. A Reconquista. SP: Editora Vida. 2001. p.21
Wallace, Ronald. Calvino, Genebra e a Reforma. Editora Cultura Cristã. São Paulo, SP: 2004.
Sites:
http://www.fmgospel.com.br/noticia.php?id=1765&situacao=1765
http://www.editorasepal.com.br/sepal/jornal/out_dez2001/pastorear.htm
AULA 12
POR QUE PASTORES NECESSITAM DE APOIO
PASTORAL?
A Secretaria Nacional de Apoio Pastoral da Igreja Presbiteriana do Brasil, IPB, foi criada
por ocasião da Reunião Extraordinária do SC-E/IPB em 1999, na cidade de Recife, PE.
Aquela decisão também contemplava a criação de secretarias prebiteriais de apoio
pastoral que se encarregariam de “pastorear situações de crise com fundamentação
bíblica, teológica e pastoral”.[1] Desde então, essas secretarias se empenham no cuidado
com os obreiros da denominação a fim de que o ministério seja desempenhado “segundo
Deus quer” (1Pe 5.2).
Todavia, a tarefa de “pastorear pastores” pertence a toda denominação e não apenas
àquele que recebeu o cargo de secretário para essa função. Estudiosos têm demonstrado
que os pastores são, dentre as ovelhas de Cristo, os menos pastoreados no rebanho. O
problema é que as pressões pragmáticas em prol do crescimento da igreja, do aumento da
arrecadação, da exigência por uma comunidade vibrante e as demandas por visitas e
aconselhamentos constantes acabam resultando em desgastes físicos, emocionais,
relacionais e até espirituais desses líderes. Além do mais, as famílias dos pastores
geralmente sofrem os “efeitos colaterais” do ministério, pois o desgaste do pastor acaba
sendo sentido primeiramente por seus familiares e a família do ministro ainda é alvo de
expectativas e demandas que intensificam algumas situações de estresse. Infelizmente,
ademais, os pastores e suas famílias nem sempre recebem o cuidado devido por parte da
igreja.
ser considerados particurlarmente, pois eles possuem nuances próprias de sua natureza.
Dessa forma, os cinco tópicos relacionados abaixo têm o propósito de descrever a
condição real e comum da cultura pastoral em relação à sua necessidade de pastoreio.
poderão deixar de alimentar expectativas que são irreais e, algumas vezes, até
pecaminosas a respeito do ministério pastoral.
De fato, homens de Deus continuam sendo homens! Nessa condição humana, certamente
pastores precisam de cuidado, ainda que muitos deles não reconheçam isso!
depois, ajudar a igreja a compreender essa verdade. Como ovelhas, tanto os pastores como
seus familiares também carecem de pastoreio.
Como cidadão do céu e também do mundo terreno, pastores são sujeitos às aflições e
distrações comuns ao mesmo. Dessa maneira, eles necessitam de pastoreio tanto para
serem confortados, quando aflitos, como para serem confrontados, quando se portarem
69
como amigos do mundo. O processo de santificação do pastor não será completo nesse
mundo e os efeitos da queda afetam o contexto em que o ministro vive e a maneira como
ele responde a esse habitat.
4. Porque servos de Deus são, muitas vezes, tratados como empregados de homens
Pastores são servos. Aliás, o significado da palavra grega traduzida para o português como
“ministro” é servo ou assistente. Ademais, o termo “servo” é um dos mais importantes e
proeminentes nas Escrituras em referência àqueles que desempenham a liderança sobre o
povo de Deus (cf. 1Co 3.5). O próprio Senhor Jesus se apresentou como aquele que veio
para servir e não para ser servido (cf. Mc 10.45). Portanto, a liderança servidora de Jesus
se torna o padrão para todos aqueles que servem como ministros sobre o rebanho de
Cristo.
O exemplo e o ensino de Cristo indicam quais são as características cruciais de servo que
o pastor deve expressar para representar corretamente o Mestre em meio ao rebanho. Na
cerimônia do lava-pés, em João 13, o Senhor deixa claro que a eficácia do ministro não
deve ser avaliada pelo número de pessoas que ele controla, mas pelas pessoas a quem ele
serve. O líder servo é aquele que está disposto a se humilhar para ensinar outros o caminho
bíblico da expressão do amor fraternal. Além do mais, o próprio Jesus ensina que o servo
está disposto a oferecer sua pronta ajuda aos outros perguntando: “que queres que eu te
faça”? (cf. Mc 10.51). Em outras palavras, um servo deseja sempre ser um instrumento
de bênção para outros. Por último, Jesus ensina que o servo é aquele que diz de si mesmo:
“sou servo inútil, porque apenas fiz o que devia fazer” (cf. Lc 17.10). Dessa maneira, o
Senhor ensinou que o segredo da eficiência do servo é mortificar e crucificar seu próprio
ego! Conquanto difícil, o ministério do pastor como servo exige que ele siga o exemplo
e os ensinamentos do Supremo Pastor.
Todavia, um dos grandes problemas da missão do pastor como servo é o fato de que ele
serve a Deus servindo a igreja. É importante lembrar que a igreja não consiste de pessoas
plenamente santificadas, mas de pecadores redimidos em processo de trasformação.
Nesse contexto, não é raro que muitos membros dessa igreja, bem como outros líderes do
rebanho (co-presbíteros e diáconos), olhem para o ministro não como um “servo”, mas
como um “empregado”. Isso se torna mais fácil ainda pelo fato de que, como líder
docente, o pastor geralmente recebe honorários da igreja. Como geralmente aqueles que
pagam pela realização do trabalho se acham no direito de agirem como patrões dos que
recebem para executá-lo, a prática empresarial mundana acaba substituindo o preceito
70
bíblico e alguns pastores sofrem por isso. Há pastores que são vigiados, mal remunerados
e humilhados. Isso afeta não apenas o ministro; sua família também é atingida.
Devido a alguns tratamentos injustos da igreja aos seus pastores, bem como de conflitos
de liderança envolvendo os mesmos, os ministros precisam de ajuda. Conforme o sábio
bíblico, “o coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz secar os ossos” (Pv
17.22). O ânimo de alguns pastores se encontra quase totalmente seco e por isso eles
necessitam de conselhos e orientações (cf. Pv 15.22). Ademais, eles também necessitam
ser exortados quando falham à fim de que caiam em arrependimento.
Uma maneira muito factível do pregador receber diariamente as boas-novas sobre Jesus
é pregando-as para si mesmo. A frase “pregar o evangelho para si mesmo” pode ser
recente,[3] mas sua dinâmica é tão antiga quanto o Salmo 42. Nesse salmo, o escritor
exorta a sua alma a não se deixar dominar pelo abatimento, mas esperar em Deus (cf. Sl
71
Até o momento foram analisados cinco tópicos que explicam a razão pela qual pastores
necessitam de ajuda. Nenhum ministro pode se dizer acima dessas condições ou imune a
essa carência. Portanto, a melhor pergunta talvez não seja em relação à importância de
pastores serem ajudados, mas qual o melhor modus operandi para se prestar essa ajuda.
Como já foi mencionado acima, nesse processo, toda a igreja e especialmente os
secretários de apoio pastoral devem estar envolvidos.
– Valdeci Santos
[2] TRIPP, D. Paul. Vocação perigosa: Os tremendos desafios do ministério pastoral. São
Paulo: Cultura Cristã, 2014. p. 27-29.
[3] Supostamente atribuída a Jerry Bridges, ela provém dos conselhos sábios de Jack
Miller ao escritor que lhe disse: “Pregue o evangelho a si mesmo cada dia”. BRIDGES,
Jerry. The discipline of grace. Carol Stream, IL: NavPress, 2006. p. 8
73
Considere os motivos
Antes de tudo, é imperativo ouvir bem. Não aceite os fatos imediatamente, mas
faça perguntas — ouvi e entendi a crítica de modo exato e correto? Ouvi o
verdadeiro problema ou apenas um sintoma de algo mais profundo? Ira não
solucionada, depressão, mudanças nas situações da vida, frustração nos
relacionamentos, inveja, expectativas arruinadas e insatisfação com a obra da
igreja podem levar ao criticismo. Então, pergunte a si mesmo: “A pessoa que está
me criticando tem um motivo justo que tem como alvo o aprimoramento de meu
ministério, ou essa crítica é apenas uma indicação de algo mais?” Por exemplo,
aquele que critica se alegra em achar falhas nos outros, porque isso, de algum
modo, o faz sentir-se superior? Entender o motivo das pessoas o ajudará a reagir
e enfrentar melhor a crítica. Como regra geral, dê àquele que o critica o benefício
da dúvida, admitindo que o motivo dele é puro, a menos que você tenha
evidências convincentes do contrário.
Considere a fonte
Embora você deva encarar com seriedade toda crítica, pergunte também a si
mesmo: “Quem está me criticando — um oficial da igreja, um crente maduro, um
bebê na fé, um incrédulo, uma pessoa altamente crítica ou um membro
negligente da igreja? James Taylor escreveu: “Aqueles que criticam são
geralmente os que não se envolvem, que ficam à margem e se mostram surdos
a todos os apelos de serviço para a igreja”.3 A crítica proveniente desse tipo de
75
No entanto, tenha cuidado para não reagir com excesso às reclamações que são
levantadas por alguns e têm pouco significado para eles. Existe uma diferença
entre uma reclamação da parte de três pessoas em uma igreja de quinze
membros e uma reclamação de três pessoas em uma igreja de mil membros. Em
igrejas grandes, uma mudança realizada por alguns membros provocará mais
reação do que satisfação nas pessoas. Em resumo, devemos atentar
primeiramente à qualidade da reclamação, mas, às vezes, o número de pessoas
que reclamam também merece que sejam feitas mudanças, que de outro modo,
seriam inconseqüentes.
Considere o contexto
O ambiente físico, o momento e a situação que geraram a crítica podem nos
ajudar a determinar se ela é proveitosa. Como regra geral, não reaja à crítica por,
pelo menos, 24 horas, dando a si mesmo tempo para orar, filtrar seus
sentimentos, superar a mágoa e consultar outros cuja sabedoria você respeita.
Lembre-se: você é mais conhecido por suas reações do que por suas ações (Pv
16.32). Impor apressadamente soluções para os problemas pode tornar pior a
situação. Algumas situações se renderão apenas ao toque curativo do tempo. A
verdade tem uma maneira de vindicar a si mesma no tempo oportuno. Lucas
21.19 afirma: “É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma”.
76
Considere a si mesmo
As críticas são, freqüentemente, dons de Deus para nos protegerem de
tendências auto-satisfatórias e autodestrutivas. O Espírito Santo usa nossas
críticas para nos guardar de justificarmos, protegermos e exaltarmos a nós
mesmos. Embora as pessoas exagerem em suas críticas e raramente estejam
corretas no todo, elas estão certas em parte.
Ache alguém que possa tornar-se responsável por você e o ajude a monitorar
suas reações. Busque a sabedoria e a coragem necessárias para penetrar o
isolamento de seu ego. Não tenha medo de dizer: “Eu estava errado; você me
perdoa?”
Considere o conteúdo
Você pode aprender muito a respeito de si mesmo ao ouvir críticas. Seja grato
por elas. Alguns de nossos melhores amigos são aqueles que discordam de nós,
com amor, sinceridade e inteligência. “Leais são as feridas feitas pelo que ama”
(Pv 27.6). A crítica proveitosa é um bom remédio.
continue seu ministério. Se as críticas não oferecem nada construtivo, seja cortês
e educado; e siga em frente.
Nunca se torne irado nem autodefensor, mas ofereça a outra face, como Jesus
aconselhou. Se a sua consciência é pura, uma explicação simples e clara pode ser
proveitosa em certos casos, embora o silêncio respeitoso seja freqüentemente
mais apropriado e eficaz (Mc 14.61). A qualquer custo, esforce-se para não
justificar a si mesmo; seus amigos não precisam disso, e seus inimigos
provavelmente não acreditarão em sua justificativa. Recuse-se a descer ao nível
da crítica negativa; não retribua o mal com o mal. Lute as batalhas de Deus, não
as suas próprias, e você descobrirá que Ele lutará as suas batalhas. Não lhe
compete retribuir. Romanos 12.19 declara: “Não vos vingueis a vós mesmos,
amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança;
eu é que retribuirei, diz o Senhor”.
Não aceite com seriedade qualquer sussurro. Não se desvie para a controvérsia
infrutífera, nem gaste suas energias tentando apaziguar ou persuadir críticas
implacáveis que nutrem a animosidade. Lembre: “O irmão ofendido resiste mais
que uma fortaleza; suas contendas são ferrolhos de um castelo” (Pv 18.19). Por
que estou sendo mal entendido? Os meus sermões, atitudes, temas favoritos e
características pessoais se combinam, de alguma maneira, para transmitir uma
mensagem confusa? Estou apenas falando de modo indireto sobre aquilo que
deveria expressar com clareza ou ignoro certos problemas que deveriam ser
abordados? Com freqüência, as críticas que você recebe estão, em parte, corretas
em uma ou mais dessas áreas. Pelo menos, elas lhe ensinarão paciência, o
tornarão mais semelhante a Cristo e o guardarão do orgulho. Podem salvá-lo de
você mesmo, levando-o a grande dependência de Deus.
Não importando os resultados que as críticas produzam, uma vez que você tenha
lidado corretamente com elas e feito as mudanças necessárias, não permita que
elas infeccionem e prejudiquem sua alma. Desenvolva a atitude de Eleanor
Roosevelt, que disse: “As críticas causam poucas conseqüências em mim, a menos
que pense haver um verdadeiro motivo para elas ou algo que eu tenha de fazer”.
De qualquer maneira, aborde as críticas de modo rápido e eficaz; e esqueça-as.
Depois, dedique-se à sua obra. Não esqueça que o pessimismo se desenvolve
quando abrigamos a recordação e a mágoa das críticas, permitindo-lhes que
infeccionem o nosso íntimo.
78
Considere as Escrituras
Alguns pastores são extremamente delicados e, por isso, não podem suportar o
criticismo sem sucumbir. Eles precisam desenvolver emoções mais fortes. Outros
pastores se mostram tão enrijecidos pelos conflitos do ministério, que seu
coração, como alguém disse, é como o couro de um rinoceronte. Eles precisam
desenvolver um coração brando de criança. Na verdade, precisamos de ambas
essas coisas. Precisamos cultivar um coração de criança em relação ao criticismo
bíblico e do couro de rinoceronte em relação ao criticismo satânico. A
combinação é possível, não em nossa força, mas somente pela graça de Deus
moldando nosso coração, por intermédio de sua Palavra.
Precisamos memorizar e meditar textos como Efésios 6.10: “Quanto ao mais, sede
fortalecidos no Senhor e na força do seu poder”; bem como Romanos 12.10:
“Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal”; e Romanos 8.28:
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Não esqueçamos que
Deus não comete erros. Olhe mais para Ele como a causa primária e não olhe
para causas secundárias. Creia em Jesus, quando Ele disse: “O que eu faço não o
sabes agora; compreendê-lo-ás depois” (Jo 13.7). Devemos ler e meditar esses
textos diariamente, permitindo que eles permeiem nossa mente e alma, de modo
que fiquemos convencidos de que os propósitos de nosso Senhor prevalecerão
sempre, até nas mais intensa perseguição. Satanás não é senhor sobre Cristo; pelo
contrário, Cristo é Senhor sobre Satanás e usará até o criticismo satânico para
cumprir seus propósitos sábios. Aceite, portanto, todos os lidares providenciais
de Cristo em relação a você como procedentes dEle mesmo, permitindo que
esses lidares conformem-no à imagem de Cristo. Somente à medida que as
Escrituras nos conformam à imagem de Cristo, achamos o equilíbrio correto de
ternura forte com vigor compassivo, em face ao criticismo.
Considere a Cristo
Acima de tudo, olhe para Jesus quando você se deparar com intenso criticismo.
Hebreus 12.3 adverte: “Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou
tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo”. Pedro falou com mais
detalhes: “Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os
seus passos, o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca;
pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não
fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1 Pe 2.21-23). Se
Cristo que era perfeito e não tinha nenhuma culpa foi cuspido, zombado,
rejeitado e crucificado, o que mais podemos esperar, nós que somos pastores
79
Se temos a Cristo, que, sendo inocente, sofreu por nós infinitamente mais do que
sofreremos por Ele, temos mais do que necessitamos para enfrentar qualquer
provação (1 Co 10.13; 2 co 4.7-12). Beba profundamente do amor de Cristo,
deleite-se no Deus trino; assim, você vencerá o pessimismo e será capaz de amar
aquele que o critica (Sl 37.1-4).
Considere a fidelidade de Cristo. Ele não foi fiel no passado, conduzindo-o através
de cada período de criticismo? Ele não é maior do que qualquer obstáculo
presente? Em vez de focalizar-se no seu crítico que parece ter tanto poder,
focalize-se no grande poder de Cristo e em sua fidelidade eterna como seu
Intercessor e Advogado à direita do Pai (Hb 7.25). Confie em Cristo mais uma vez;
Ele não o desapontará.
Considere o amor
Ame aquele que o critica. Por amor a Cristo, torne-se mais familiarizado com
aqueles que o criticam. Você não pode amar alguém, se não o conhece. Procure
entendê-los. Dê-lhes certeza de que você quer aprender deles e que deseja ser
um ferro que afia outro ferro. Agradeça-lhes porque o criticaram de maneira
direta.
Ore com aquele que o critica. Se ele o visita, sempre comece a visita com oração
e peça-lhe que a termine com uma oração, a menos que ele ainda esteja
ressentido no final da visita. (Se for uma mulher ou uma criança, você deve fazer
a oração de encerramento da visita.) Tenha cuidado para orar a Deus e não contra
a pessoa que o critica. Ande a segunda milha, pedindo ao Senhor que o perdoe
e o ajude a mudar em qualquer área que precise de perdão e mudança. Seja tão
específico quanto possível. Ore com integridade e humildade.
Depois, ore por ele em particular. É difícil manter ressentimento por uma pessoa
em favor de quem oramos. O Senhor libertou Jó de seus graves sentimentos
contra seus amigos judiciosos, quando Jó orou por eles. Orar por aqueles que o
difamam produz paz na mente e liberdade da maioria das tristezas que
acompanham o criticismo.
81
Por último, lance fora qualquer coisa que inibe o amor; como Pedro escreveu:
“Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de
toda sorte de maledicências” (1 Pe 2.1). Mostre bondade e atenção. Considero
muito importante aquilo que alguém me disse há algum tempo: “A melhor
maneira de conseguir atenção de nosso pastor é tornar-se um inimigo dele”.
Há outro lado benéfico para você também. Você descobrirá que, ao servir
amavelmente àquele que o critica, em vez de retaliar com ressentimentos, suas
mágoas curarão rapidamente. Se aquele que o critica rejeita suas tentativas de
servi-lo, procure servir a outros — console os necessitados, levante os caídos e
ampare os fracos. Isto será uma terapia excelente para você.
Você percebe: Lincoln acreditava que estava certo e que, a longo prazo, suas
políticas venceriam os críticos e unificariam a nação. Como pastores, podemos
hesitar facilmente sob a pressão de membros que fazem muito barulho, quando
sabemos que estamos certos. Para obtermos paz temporária com um pequeno
grupo de membros descontentes, somos propensos a abandonar nossa visão
bíblica de longo prazo que resplandece em nossa igreja e ministério, como uma
82
lua cheia. Não faça isso. Não se deixe intimidar por críticas e pelos críticos. Não
permita que algumas críticas o force a seguir os moldes delas, de modo que você
tenha uma vida tímida e hesitante, não fazendo nada, não dizendo nada e (o que
é pior) não sendo nada. Não desanime, nem desista.
Considere a eternidade
No outro lado do Jordão, nosso fiel Salvador nos aguarda. Ele nunca permitirá
que afundemos. Ele nos ama, embora saiba tudo a nosso respeito. E nos levará
para que estejamos para sempre onde Ele está. Limpará de nossos olhos toda
lágrima e se mostrará como um amigo mais chegado que um irmão. Todos os
erros serão corrigidos. Todas as injustiças serão julgadas. Todas as críticas
passarão. Todo o mal ficará fora do céu, e ali haverá todo o bem.
No céu, haverá perfeita unidade. Teremos comunhão com os anjos eleitos e com
os santos de todas as épocas, em absoluta perfeição. Não haverá denominações,
divisões, discordâncias, mal-entendidos, argumentos teológicos, ignorância. Não
haverá a menor diferença entre os santos. Lutero e Calvino concordarão
plenamente em todos os pontos de doutrina. Seremos um, assim como Cristo é
com o Pai, e o Pai, com Ele. Nossos irmãos críticos nos aceitarão, e nós, a eles.
Haverá uma unidade completa, perfeita, visível e íntima.
veremos plenamente que todas as críticas, as quais Deus nos chamou a suportar,
neste mundo, eram apenas aflições leves, quando comparadas com o peso da
glória que nos aguarda. Terceira, no céu seremos mais do que recompensados
por toda aflição que suportarmos na terra por amor de nosso melhor e mais
perfeito Amigo, Jesus Cristo.
Oh! feliz o dia em que esta mortalidade vestirá a imortalidade e esta corrupção,
a incorrupção, e estaremos para sempre com o Senhor! Permitamos que todo o
criticismo que nosso soberano Deus, em sua infinita sabedoria, nos chama a
suportar, nesta vida, nos torne mais saudosos da terra de Beulá, onde não há
criticismo e o Cordeiro é toda a sua glória. Ali,
Somos embaixadores do Rei dos reis e temos a promessa de que sua Palavra não
retornará para Ele vazia (Is 55.10-11). Cristo é nosso intercessor à direita do Pai; e
o Espírito Santo é o Advogado em nosso coração. Deus não permitirá criticismo
além da graça que Ele nos dá, para suportá-lo (1 Co 10.13). Todas as críticas, assim
como outras dificuldades, cooperarão, eventualmente, para o nosso bem (Rm
8.28).
Acabe com sua murmuração mundana. Conte suas bênçãos. Persevere no bom
combate da fé. Você tem as melhores garantias nesse combate — as promessas
84
Notas:
1. Sparks, James. Potshots at the preacher. Nashville: Abingdon, 1977. p. 9.
2. Stanley, Andy. Visioneering. Sisters, Ore.: Multnomah, 1999. p. 141, ss.
3. Taylor, James. Pastors under pressure: conflicts on the outside, conflicts within.
Epsey, Surrey: Day One, 2001. p. 30.
4. Powlison, David. Does the Shoe Fit? Journal of Biblical Counseling, Gleanside, v.
20, n. 3, p. 4, spring 2002.
85
A EXPERIÊNCIA MINISTERIAL:
Como você lida com as críticas que recebe? Você já observou a maneira
como você reage às críticas recebidas?
Você ama pessoas? Gosta de estar perto delas? Tem prazer em atendê-
las em suas necessidades?
Você tem uma perspectiva clara de onde Deus quer que você conduza
o seu rebanho? Como é o seu relacionamento com as pessoas com
quem compartilha a liderança da igreja?
Você tem uma vida devocional regular, ou seja, gastar tempo pessoal
em oração e estudo da Palavra de Deus?
Você sabe quando dizer “sim” e quando dizer “não” para as pessoas?
Valdeci Santos