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EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA ___ VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PIAUÍ
burla à norma constitucional constante do art. 167, inciso X, da CF ”.( Trechos dos Re-
latórios, auditores TCU).
I – DO CABIMENTO DA AÇÃO
A Lei n.º 8.429/92 regulamenta tanto o citado dispositivo, como o art. 15, V, ambos
da Constituição Federal, disciplinando os atos de improbidade administrativa praticados por qualquer
agente público.
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A Lei n.º 8.429/92, art. 17, caput, deu legitimidade ativa para o Ministério Público promover a Ação Civil
de Improbidade Administrativa. E, mais especificamente, a Lei Complementar n.º 75/93, Lei Orgânica do
Ministério Público da União, atribui, ao Ministério Público Federal, a propositura de ações que tenham por
objeto a probidade administrativa (art. 6.º, XIV, f).
III- SINOPSE FÁTICA
A Caixa Econômica Federal (CEF) firmou contrato de empréstimo com o Governo do Estado do Piauí,
por intermédio do Governador do Estado Wellington Dias (Contrato de Financiamento nº 0482405-71), no
valor de R$ 600.000.000,00 ( seiscentos milhões de reais). O convênio se deu por meio do Programa de
Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento- FINISA, que tem o objetivo de facilitar e ampliar a
concessão de crédito para as áreas de saneamento, energia, transporte e logística.
Do montante, o Estado recebeu uma primeira parcela no valor de R$ 307.904.923,84 (trezentos e sete
milhões, novecentos e quatro mil, novecentos e vinte e três reais e oitenta e quatro centavos) na data de
09/08/2017, à conta de nº 482.405-6, agência 0029 e operação 006. Em tal negócio jurídico mencionado foi
devidamente previsto no seu instrumento do contrato de financiamento, que tais recursos são de
utilização vinculada, ou seja, não cabe ao mutuário decidir sobre destinação diversa do pactuado e que os
referidos recursos financeiros deveriam ser movimentados na conta específica ali prevista.
Ocorre que o Tribunal de Contas do Estado do Piauí, apurou, por meio do Relatório de Auditoria
(025611/2017), em anexo, ratificadas pelos auditores do Tribunal de Contas da União(TC010.4441/2018-20)
também em anexo, graves irregularidades consubstanciadas a seguir descritas, em resumo :
Constatou os auditores que entre os dias 11/08/2017 e 26/10/2017, foram retirados R$ 270.600.000,00
(duzentos e setenta milhões e seiscentos mil reais) da conta vinculada ao empréstimo FINISA, de nº
482.405-6, operação 006, agência 0029, para a Conta Única do Tesouro Estadual de nº 7267-2 da agência
3791-5 do Banco do Brasil, extrato abaixo, valores esses que foram utilizados para finalidades outras que
não as preestabelecidas no contrato, configurando absoluto descumprimento à cláusula trigésima primeira
do Contrato de Empréstimo, referente à comprovação da aplicação dos recursos.
O Controle Externo Estadual apurou ainda que, para fins de justificar os gastos com recursos oriundos
da supracitada operação de crédito, a Secretaria de Fazenda do Estado do Piauí procedeu a anulação de
diversos empenhos liquidados e pagos nas fontes 100 (Recursos do Tesouro Estadual) e 117 (Recursos de
Operação de Crédito Externa), permitindo que diversas Unidades Gestoras realizassem o reempenho de tais
despesas na fonte 116 (Recursos de Operação de Crédito Interna).
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O modus operandi dos agentes públicos assim foi descrito no Relatório de Auditoria
Concomitante do TCE/PI, bem como no Relatório de auditores da Secex/PI , da seguinte forma:
“ Inicialmente foi solicitado junto à Caixa Econômica Federal, por meio do ofício DFAE/TCE nº
04/2017 (peça 04), o extrato de movimentação bancária da conta corrente vinculada aos recursos do
empréstimo FINISA, de nº 482.405-6, operação 006, agência 0029 Conselheiro Saraiva.
A seguir, a relação das transferências realizadas da conta vinculada ao empréstimo para a
Conta Única:
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Constatou-se que foi creditado nessa conta, no dia 09 de agosto de 2017, o valor de R$ 307.904.923,84
(trezentos e sete milhões, novecentos e quatro mil, novecentos e vinte e três reais e oitenta e quatro
centavos), referentes a liberação da primeira parcela do citado empréstimo.
Ainda por meio do referido extrato, enviado ao TCE/PI pelo ofício CEF nº 184/2017 (peça 04), foram
constatadas transferências eletrônicas (TED ś ) nas mesmas datas e valores de ingresso de recursos na Conta
Única do Tesouro Estadual, de nº 7267-2, da agência 3791-5 do Banco do Brasil.
Diante de tal fato, foi solicitado junto à Caixa Econômica Federal, pormeio do ofício DFAE/TCE nº 01/2018,
detalhamento da conta-corrente vinculada ao empréstimo, constando informações acerca das contas de
destinação dos recursos.
O citado detalhamento da movimentação bancária foi enviado ao TCE/PI através do ofício CEF nº 18/2018
(peça 05), no qual foram constatadas as transferências de recursos vinculados à operação de crédito para a
Conta Única do Tesouro Estadual,extrato acima, o que caracterizou o descumprimento da cláusula trigésima
primeira do Contrato de Empréstimo, referente à comprovação da aplicação dos recursos:
(...)
A vedação à transferência de recursos oriundos de Operação de Crédito à Conta Única do Estado tem por
finalidade impedir o desvirtuamento da finalidade dos créditos adquiridos, sobretudo porque, encontrando-se
os recursos do financiamento na mesma conta que os demais recursos do Tesouro Estadual, resta
impossibilitado o controle quanto ao cumprimento do disposto no art. 35 da Lei de Responsabilidade Fiscal,
consubstanciado na vedação da utilização daqueles créditos para o pagamento de despesas alheias ao objeto
do empréstimo, tais como despesas correntes, o que implica, ademais, em violação ao art. 167, X, da
Constituição Federal.
(...)
Os ditames do contrato aliados com a jurisprudência pátria têm por objetivo possibilitar uma efetiva ação
de controle. Alguns documentos exigidos na prestação de contas como “extrato bancário” e “conciliação
bancária” estão intrinsecamente relacionados com essa exigência. Uma comparação do extrato com os
pagamentos efetuados quando da execução do objeto pactuado permite-se o pleno conhecimento sobre a boa
e regular aplicação dos recursos públicos, facilitando o controle externo e social da Administração Pública.
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Além disso, permite mensurar os recursos obtidos por meio de aplicações financeiras, que devem,
necessariamente, reverter na execução do ajuste, ou serem restituídos ao órgão repassador.
Todavia, tal controle torna-se inviável com a conduta de transferência de recursos de conta vinculada para
a conta do Tesouro.
Destarte, a indigitada movimentação em conta diversa, onde valores de outras origens transitam, traz,
além do desrespeito à norma legal, um enorme prejuízo à transparência na execução do empréstimo.
Não há justificativas técnicas para a operação de transferência dos recursos para a Conta Única, de forma
que caberia ao Estado, com vistas à funcionalidade do objeto da operação de crédito, dotar o órgão executor
de meios transparentes para a movimentação dos recursos.
Se existe uma conta específica para o Estado administrar os recurso repassados pela Caixa Econômica
Federal, exclusivamente para despesas de capital (investimentos de infraestrutura), não há razão de se
transferir os ingressos para outra conta.
No momento em que os valores são migrados para uma conta de natureza geral, perde-se a capacidade de
controle e de aferição do nexo causal da utilização dos recursos, restando inviável verificar se sua utilização
atende à finalidade do ajuste.
Nesse sentido, todas as retiradas de recursos das contas vinculadas, que não estejam associadas com
despesas pertinentes ao objeto, deverão ser consideradas indevidas e compor débito a ser recolhido ao
Erário.’’
Com efeito, é pujante observar que são convergentes as conclusões dos auditores federais do TCU e
estaduais do TCE/PI.
Esse artifício contábil configura, pois, uma maquiagem da real situação financeira de caixa do estado,
pois constitui o indevido uso de recursos destinados, por força de norma constitucional, exclusivamente ao
financiamento de determinadas despesas de capital para despesas de qualquer natureza.’’
Desse modo impera que esse juízo a quo enverede supra atenção ao fato de que, da análise dos docu-
mentos apresentados, revela-se inconteste que o Estado do Piauí, através do Chefe maior do Executivo Es-
tadual, atual governador, tem-se servido deste ilusionismo orçamentário ao longo de vários anos - o que já é
grave, se torna gravíssimo diante da conduta recalcitrante - mesmo após advertências dos órgãos de cont-
role ( TCU/TCE), recomendação do MPF, condenação pelo TCU (Acórdão TCU 2269/2005; Acórdão TCU
307/2009), decisão judicial proibindo tal prática (desde 25 de novembro de 2011 havia decisão judicial repri-
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mindo a prática da conduta delituosa- vide Processo 21318-19.2011.4.01.4000 /TRF 1ª Região)- e, por derradei-
ro, condenação pela por essa própria Justiça Federal ( Proc 4410-47.2012.4.01.4000/ 1ª Vara);
Todas condutas acima, por idênticas práticas de repassar recursos federais vinculados, recebidos por
transferências voluntárias, convênios, contrato repasse e ,agora, via empréstimos, para a Conta Única do
Estado, descumprindo desde o topo da pirâmide normativo constitucional brasileira, a CRFB/88, passando
pela LRF, e, por fim, os instrumentos contratuais de cada uma dessas operações, cujas cláusulas proibitivas
são expressas e de fácil percepção, até mesmo para os mais leigos, quiçá para gestores da res pública.
Ressalte-se que não obstante o contrato de empréstimo objeto da presente ação tenha natureza
distinta de convênio ou contrato de repasse, alberga as mesmas obrigações no que concerne a aplicação
dos recursos em finalidade específica e necessidade de manutenção dos valores em conta vinculada, in
verbis:
CLÁUSULA TRIGÉSIMA PRIMEIRA - COMPROVAÇÃO DE APLICAÇÃO DE RECURSOS
31.1 A sistemática a ser adotada para efeitos de comprovação da aplicação do
FINANCIAMENTO obedecerá, no mínimo, ao que segue:
(…)
VIII. A fim de manter a transparência na utilização dos recursos, o MUTUÁRIO se
compromete a efetuar o pagamento aos fornecedores, com utilização dos recursos
obtidos deste contrato, por meio dos recursos liberados na CONTA VINCULADA.”
(grifou-se)
Ressaltam os auditores federais nesse ponto: “Registre-se que o atual Governador do Estado, Sr.
Wellington Dias, é reincidente na indevida prática de transferência de recursos federais de sua conta específica
para a conta única do estado (cf. processo TC 010.096/2008-0), o que aumenta a gravidade de sua conduta
atual. Apesar de, no mencionado feito, ter sido retirada em sede recursal a multa a ele aplicada, manteve-se o
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caráter irregular da transferência para a conta única, em situação análoga à atual (lá se tratava de recursos de
convênio)”.
“ Em suas alegações de defesa junto ao TCE/PI , o Sr. Wellington Dias ressaltou o aspecto atinente à ex-
clusão da multa a ele aplicada, mas não enfrentou, no caso concreto, a norma contratual que proíbe a saída
dos recursos da conta bancária vinculada para outras contas” .( Sobreleva esmiuçar que, neste ponto, o
juízo deve-se atentar para a clarividência da ilicitude até mesmo para o próprio demandado, bem como seu
assentemento quanto à este aspecto, em que pese, posteriormente, descumprí-la, o que urge por repri-
mendas enérgicas).
Desse modo, do conjunto fático e probatório até aqui produzido, resta , portanto incontroverso a
prática da violação às leis e normas contratuais que regem a matéria, bem como aos princípios da
Administração Pública, no que concerne a aplicação irregular dos recursos financeiros na conta única,
subsumindo-se os atos dos reqeridos , ao previsto nos artigos 10 e 11 da Lei nº 8.429/92, com reprimendas
anexas ao art. 12, incisos II e III, da multicitado diploma normativo.
“Nos termos do contrato que rege o indigitado ajuste, observa-se que a operação de crédito FINISA foi
contratada exclusivamente para despesas de capital, relativas a obras estruturantes, de mobilidade urbana e
de infraestrutura rodoviária em diversos municípios do Estado. Tais obras seriam geridas por quatro unidades
gestoras, quais sejam o Departamento de Estradas de Rodagem do Piauí (DER-PI), Secretaria de Estado da
Infraestrutura (SEINFRA), Secretaria de Estado dos Transportes (SETRANS) e o Instituto de Desenvolvimento
do Piauí (IDEPI).
No entanto, verificando no sistema SIAFE-PI os empenhos emitidos na fonte 116000600, referente ao
detalhamento dos recursos do empréstimo FINISA, foram constatados empenhos emitidos em 16 (dezesseis)
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unidades gestoras, sendo a maioria desses empenhos emitidos no final do exercício de 2017, mais precisamente
entre os dias 14 e 31 de dezembro.
Em continuidade aos trabalhos de fiscalização, no cotejo mais detalhado do sistema SIAFE no que tange a
execução orçamentária e financeira das citadas Unidades Gestoras, chegou-se a seguinte constatação: os
empenhos emitidos no mês de dezembro de 2017 eram referentes a despesas já realizadas e concluídas
anteriormente, originalmente através das fontes100 (Recursos do Tesouro Estadual) e 117 (Recursos de
Operações de Crédito Externa), mas que foram ilegalmente anuladas e reempenhadas na fonte 116 (Recursos
de Operações de Crédito Interna).
Constatou-se, ainda que, grande parte delas eram oriundas de obrigações anteriores à liberação dos
recursos do FINISA. Tal fato ocasionaria uma burla à prestação de contas junto à Instituição Financeira e
consequentemente uma irregular liberação da segunda parcela da operação de crédito no valor de R$
292.095.076,16 (duzentos e noventa e dois milhões, noventa e cinco mil, setenta e seis reais e dezesseis
centavos).
Esses empenhos foram indevidamente anulados por se tratarem de despesas já realizadas, constatando-
se ainda que tais anulações foram efetuadas no âmbito da Secretaria de Fazenda do Estado do Piauí,
registrado como usuário do sistema SIAFE para realização dessas anulações o diretor da UNIGED – Unidade
de Gestão da Dívida Pública do Estado, Mauro Gomes de Lima, ocupante do cargo efetivo de Analista do
Tesouro Estadual.
A anulação dos empenhos no Sistema SIAFE fundamentou-se na Resolução nº 06/2017, da Comissão de
Gestão Financeira e Gestão por Resultados (CGFR), que tem como presidente o Sr. RAFAEL FONTELES, a
qual sequer possuía eficácia necessária para produção de efeitos, já que não havia sido publicada no Diário
Oficial do Estado.
Ademais, o decreto nº 17.404/2017, de 06 de outubro de 2017, que trata das anulações de empenhos não
liquidados ao final do exercício, e que traz a autorização da CGFR para o reempenho de casos excepcionais,
trata apenas de anulações de empenhos não liquidados e reempenhados na mesma fonte de recursos, o
que não ocorreu no cômputo dessas despesas indevidamente contabilizadas com recursos da operação de
crédito FINISA, pois tratou-se de despesas originalmente realizadas com recursos do Tesouro Estadual e
ainda recursos obtidos junto ao Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) nas
modalidades DPL II e SWAP-IPF.”
tal, subsistia a possibilidade de seu direcionamento a quaisquer despesas correntes, prática expressamente
vedada pelos termos contratuais, que corretamente acompanham as proibições impostas pelo art. 35, § 1º, in -
ciso I, da LC 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) e art. 167, inciso X, da Constituição Federal
Alocação contábil pelo Estado do Piauí de recursos do contrato de financiamento em despesas pretéritas
ao repasse de sua primeira parcela, sendo que a maior parte dessas despesas já tinha sido paga com recursos
de outras fontes (ordinários estaduais ou de empréstimos internacionais), de forma que os correspondentes
recursos financeiros do financiamento abrangidos por esse artifício foram, em consequência, efetivamente usa -
dos para o pagamento de despesas de qualquer natureza, inclusive correntes, fora, pois, do escopo contrat-
ual, vinculado a determinadas despesas de capital, além do que inexiste previsão contratual e legal para tal
procedimento contábil.
O Estado do Piauí, por meio de artifício contábil por ele denominado de ‘reversão de fontes de recursos’,
procedeu à ‘aplicação’ (fictícia, óbvio) de grande parte dos recursos da primeira parcela do contrato de em -
préstimo em despesas que já tinham sido realizadas e pagas por outras fontes (00-tesouro estadual; e 17-op-
erações de crédito externas) antes do repasse dessa parcela, em 9/8/2017 (a maioria, aliás, antes mesmo da
própria celebração desse contrato, em 27/6/2017) (cf. itens 2.2 e 2.3 do Relatório de Auditoria do TCE/PI, de
13/3/2018, na peça 1, p. 68-97).
A propósito, em planilha encaminhada pelo TCE/PI, juntada ao presente feito em 23/4/2018 (peça 9, acom -
panhada de item não digitalizável inserido no sistema e-TCU: arquivo Planilha FINISA - TCU.xls), consta que
cerca de 80 % dos recursos da primeira parcela do empréstimo foi ‘aplicado’ pelo Estado em despesas cujos
empenhos são anteriores à liberação dessa parcela.
EM TERMOS MAIS JURÍDICOS: no momento da realização das mencionadas despesas pretéritas, o con-
trato de financiamento em pauta era apenas um evento futuro e incerto, que não havia ainda ingressado no
mundo jurídico e, uma vez celebrado, não pode, por falta de previsão legal e em suas próprias cláusulas, mod-
ificar os atos jurídicos perfeitos consubstanciados em despesas já realizadas e pagas anteriormente por outras
fontes, de modo a se aceitar a ficção jurídico-contábil de que os recursos do empréstimo sejam considerados
aplicados, retroativamente, em tais despesas, e, com isso, possibilitar que os recursos financeiros correspon-
dentes sejam usados livremente em despesas correntes, em flagrante burla à norma constitucional constante
do art. 167, inciso X, da CF.
Então, a mencionada alocação contábil retroativa de despesas violou, no caso, o contrato e o princípio
da legalidade ( diga-se, por oportuno, que já se trata de segunda violação ao mesmo princípio. A primeira
materializou-se no bojo de transferências para a Conta Única). De fato, não há norma contratual que permita
a ‘aplicação’ retroativa dos recursos do empréstimo em despesas já realizadas com outras fontes de recursos.
E, se houvesse (e deveria ser expressa nesse sentido), poderia até ser questionada a sua legalidade/constitu-
cionalidade.
Assim, de acordo com a Cláusula Primeira, item 1.1, do termo do contrato, os recursos do empréstimo po-
dem ser aplicados em despesas classificadas como investimentos no Plano de Investimentos do Estado do Piauí
referente ao período de 2017 e 2018. É ÓBVIO que os recursos deverão ser aplicados em despesas ainda não in-
corridas, sendo absurda a interpretação que veja nessa cláusula a permissão implícita da aplicação dos recur -
sos em despesas já realizadas e pagas.
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NO PLANO JURÍDICO, como já visto, essa alocação contábil dos recursos do contrato de financiamento em
despesas pretéritas não tem previsão contratual ou legal.
NO PLANO FÁTICO, também é insustentável a conduta do Governo do Estado do Piauí, pois essa alocação
contábil (que exigiu uma ‘reversão de fontes de recursos’ na sua contabilidade orçamentária) foi UM MERO
ARTIFÍCIO PARA USAR OS RECURSOS FINANCEIROS INDEVIDAMENTE TRANSFERIDOS PARA A CONTA ÚNICA
ESTADUAL EM DESPESAS DE QUALQUER NATUREZA, E NÃO NAS VINCULADAS PELO CONTRATO DE FINAN-
CIAMENTO!!! ( conduta recalcitrante que urge por reprimenda impetuosa, vez que o patrimônio público está
se esfacelando com a perda da capacidade de controle externo e interno)”.
As considerações fatícas e jurídicas acima feitas pelos auditores colocam por terra portanto as justifica -
tivas apresentadas pela Caixa Econômica Federal, alteração contratual e no plano de investimento , para
anuir com a prestação de contas parcial da primeira parcela, vez que as mesmas não encontram amparo
contratual e legal, conforme demonstrado.Ressalte-se por conseguinte o pagamento a despesas realizadas
são nulas de pleno direito pois realizadas sem respaldo jurídico, a serem aprofundadas ainda outras respon-
sabilidades na TCE (tomada de conta especial) e PF(Polícia Federal) diante das informações de superfatura -
mentos e outros.
Prosseguem os auditores, nesse tópico: “O Governo do Estado do Piauí e a Caixa já tinham plena ciência
desde a celebração do Contrato de Financiamento 0482405-71, em 27/6/2017, da proibição de alocação de recur -
sos contratuais em despesas pretéritas ao contrato, uma vez que, no âmbito do procedimento administrativo
pré-contratual, essa questão foi objeto de controvérsia e, então, foi retirada do termo contratual celebrado a
cláusula permissiva do reembolso de despesas pretéritas, constante de minuta do contrato , em consonância
com dúvida quanto à legalidade dessa cláusula permissiva levantada na Nota Técnica da Secretaria do Tesouro
Nacional (STN), de 10/4/2017), ilegalidade essa confirmada pelo Parecer da Procuradoria-Geral da Fazenda Na-
cional (PGFN), de 4/7/2017.”
Denota-se, portanto, que toda e qualquer alegação de não conhecimento da ilicitude deve ser
rechaçada, pois o contexto fático-jurídico é irretocável, com repulsa de todas os poderes e órgãos da
República com pertinência na matéria (Judiciário, Ministério Público Federal, Tribunal de Contas da União e
Tribunal de Contas do Piauí), à exceção, é claro, do executivo que persevera nesta subversão.
Noutras palavras, utiliza-se dos recursos de convênios/contratos de repasse/termos de compromisso/
repasses diretos, e agora contrato de empréstimo para fazer frente às despesas estaduais, desvinculadas
das finalidades legais e contratuais, o que já ensejou outras ações judiciais, inclusive por improbidade ad-
ministrativa, com condenção do atual Governador, como mencionado anteriormente, o que denota uma
maior reprovabilidade de sua conduta ante a demonstração patente de menoscabo para com os orgãos de
controle.Nesse sentido:
Hely Lopes Meirelles assim trata o tema desvio de finalidade:
Há, pois, evidente desvio de finalidade nos atos praticados pelos requeridos. A
próposito do desvio de poder, Celso Antonio Bandeira de Mello, citando André de Laubadère,afirma
que:
Acrescenta, ainda, que ocorre desvio de finalidade quando o agente público, "
manejando também uma competência que em abstrato possui, busca atender uma finalidade pública que,
entretanto, não é aquela própria, específica, da competência utilizada” (Idem, Ibidem,p. 59).
Não basta, portanto, que o ato se destine a atender ao interesse público; ele
tem que atender ao fim definido pela lei – a um interesse público específico.
In casu, os requeridos aplicaram as verbas públicas em dissonância ao previsto nas normas legais
e contratuais mediante prévio conhecimento de sua proibição, pois como se disse, o Sr. Governador foi
signatário do próprio contrato de empréstimo que motivou a presente ação. Nesse sentido, atuou
contra o princípio da legalidade.
“ Consigne-se, desde logo, o caráter protelatório do pedido de prorrogação de prazo feito pelo
governador estadual em 26/07/2018 e indevidamente aceito pela Caixa, tendo em vista que o governador o
baseou em argumento que não tem qualquer procedência: existência de eventual dúvida quanto ao acate
das '' despesas pretéritas''.
Elucida-se: O Governo do Estado do Piauí e a Caixa já tinham plena ciência, desde a celebração do
Contrato de Financiamento 0482405-71, em 27/06/2017, da proibição de alocação de recursos em
despesas pretéritas ao contrato, vez que, em momento pré-contratual, foi amplamente debatida e
retirada a cláusula permissiva do reembolso pretérito, pois ilegal, fator ratificado por Nota Técnica da
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Percebe-se patente ardil em querer acobertar com dubiedade situação hialina, cristalina,
clarividente. E o mais alarmante, para acoitar, com o repudiável véu da impunidade, uma conduta
sabidamente ilícita.
No feito em liça, é salutar gizar – para ceifar todo e qualquer equívoco- a conduta específica
de cada um dos demandados, segundo os relatórios técnicos:
Rafael Tajra Fonteles ( Secretário de Fazenda do Estado do Piauí)- gestor da execução finan-
ceira do Estado, responsável direto e imediato pela realização das transferências de recursos vinculados
à conta específica para a Conta Única do Tesouro Estadual, ludibriando o controle externo, em patente
subversão à transparência dos recursos públicos manejados.
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Mauro Gomes de Lima ( Diretor da Unidade de Gestão da Dívida Pública), servidor da SEFAZ-
PI, responsável diretamente pelo cancelamento indevido de despesas empenhadas, liquidadas e pagas
em outras Fontes (100 e 117) para reempenho na Fonte 116- Operação de Crédito Interna.
V- DO DIREITO
Resta, ainda, tergiversado, o Art. 10, caput,VI, uma vez que, ativa e dolosamente, e
contrariando a lei e demais regulamentações da matéria, os demandados efetivaram a anulação dos
empenhos de despesas já realizadas, causando prejuízo ao erário e desenvolvimento do Estado,
conforme auditores estaduais.
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No caso do contrato em tela, portanto, resta claro a prática, pelo requerido, de atos de
improbidade administrativa, dispostos no art. 10, caput, inciso VI, e art. 11, caput e I, da Lei nº 8.429/92,
senão vejamos:
Ora Exa., antes de adentrar ao suprassumo jurídico, o ponto de vista lógico-razoável requer
que recursos de um empréstimo, máxime envolvendo valores públicos de financiamento, sejam
destinados à despesas futuras, ou seja, posteriores ao contrato, simples assim!
Não bastasse, só se justificaria, juridicamente, na melhor das hipóteses, e ainda sim ilegal,
caso houvesse cláusula permissiva expressa. Isto porque, trata-se de situação excepcional, que
transcende o princípio republicano, em sua vertente accountability, e, portanto, deve ser interpretada
restritivamente, com meandros pré estabelecidos. É bem verdade por outro lado, que esta disposição
de fato não existe, no caso em apreço, fator reconhecido pelo próprio relator.
Para ceifar pensamento contrário, já está ostensivo nesta peça processual, mas não é
demasiado reforçar: Na fase pré-contratual foi retirada, com conhecimento indubitável das partes
contratantes, a cláusula contratual que autorizava o reembolso de despesas pretérias e mesmo após
este fato, foram pagas despesas anteriores ao contrato com recursos dele advindos.
Quanto ao argumento do suposto normativo existente na Caixa que poderia amparar tal
conduta não resiste aos mais comezinhos conhecimentos jurídicos pois tal ato normativo não pode
contrariar lei , nem tem o condão de revogar o negócio juridico em comento , o Contrato, estabelecido
entre as partes envolvidas que não previa tal ato . A prevalecer tal tese se teria duas regras, dois
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tratamentos, para o mesmo Contrato, uma para a primeira parcela e outra para a segunda , uma em
que se pode fazer despesas pretérias, contrariando a lógica e outros não, o que levaria a um absurdo
jurídico. Ademais, ainda que se permitisse as despesas entre a carta cosulta e a assinatura do contrato,
por tal normativo, in casu, várias delas não se tem nem a data de sua realização e ainda com natureza
diversa da prevista no contrato, como atestado pelos auditores.
Não há, portanto, qualquer fator que possa confundir o Estado. Em verdade, o que se
observa são disposições de conduta hialinas que foram deliberadamente desrespeitadas. Ressoa
blasfêmia forense tentar obscurecer disposições simples e precisas com o finto de acobertar condutas
reprováveis do ponto de vista lógico, contratual e jurídico, salvo melhor juízo.
Assim, em que pese decisão do Órgão de Controle Externo (TCU) anuindo a liberação da
parcela remanescente, posteriormente à medida cautelar com conteúdo contraposto, ou seja,
suspendendo a disponibilidade dos recursos, face à magnitude do ilícito e de fundados e reforçados
indícios de desvio dos recursos, o juízo a quo não resta vinculado, de sorte a perquerir, in casu, a
decisum mais adequada, proporcional e necessária, lastreando-se nos dogmas da República e do Estado
Democrático de Direito, máxime a titularidade difusa do patrimônio público.
CONTAS PELO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. ART. 21, INC. II, DA LEI Nº
8.429/92. NÃO VINCULAÇÃO FRENTE AO PODER JUDICIÁRIO. POSSIBILIDADE
DE IMPUGNAÇÃO VIA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO (ARTS. 267, INCS. I e VI e 295, INC. I E PAR. ÚNICO,
INCS. I e III, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL). INOVAÇÃO EM SEDE DE
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. 1. O Controle exercido pelo Tribunal de
Contas, não é jurisdicional, por isso que não há qualquer vinculação da
decisão proferida pelo órgão de controle e a possibilidade de ser o ato
impugnado em sede de ação de improbidade administrativa, sujeita ao
controle do Poder Judiciário, consoante expressa previsão do art. 21, inc. II,
da Lei nº 8.429/92. Precedentes: REsp 285305/DF, Primeira Turma, julgado
em 20/11/2007, DJ 13/12/2007 p. 323; REsp 880662/MG, Segunda Turma,
julgado em 15/02/2007, DJ 01/03/2007 p. 255; REsp 1038762/RJ, Segunda
Turma, julgado em 18/08/2009, DJe 31/08/2009. 2. Deveras, a atividade do
Tribunal de Contas da União denominada de Controle Externo, que auxilia
o Congresso Nacional na fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial da União e das entidades da administração
direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade,
aplicação das subvenções e renúncia de receitas, é revestida de caráter
opinativo, razão pela qual não vincula a atuação do sujeito ativo da ação
civil de improbidade administrativa.
A presente demanda visa a obter a condenação dos demandados às sanções da Lei nº 8.429/92 e
ao cumprimento de obrigação de fazer e não fazer.
Há, portanto, cumulação de pedidos, na forma do art. 327 do Código de Processo Civil. 1
1Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos,
ainda que entre eles não haja conexão. § 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação que: I -
os pedidos sejam compatíveis entre si ; II - seja competente para conhecer deles o mesmo
juízo; III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.
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Embora a Lei nº 8.429/92 preveja a notificação para manifestação por escrito antes do recebi-
mento da petição inicial, não há óbice para processamento conjunto dos pedidos, na medida em que o
demandado poderá ser citado para todos eles no mesmo momento, com a apresentação de uma peça
de defesa una, realizando-se, em seguida, a instrução e o julgamento simultâneos. Com efeito, os atos
que subsidiam os pedidos são os mesmos, gerando responsabilidade civil para o passado e obrigação de
fazer e não fazer para o presente e o futuro.
Importante destacar que a Lei nº 8.429/92 (LIA), em conjunto com a Lei nº 7.347/85 (ACP), a Lei n°
4.717/65 (Ação Popular), a Lei nº 12.016/2009 (MS Coletivo) e a Lei nº 8078/90 (CDC), compõem um mi-
crossistema de tutela dos interesses transindividuais, interpenetrando-se e subsidiando-se.
2 Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de
fazer ou não fazer.
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É consensus omnium a cumulação de pedidos em ações civis públicas, inclusive em ações de im-
probidade administrativa, sendo amplamente admitida pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme
demonstram os seguintes precedentes:
É de se ressaltar a percuciente lição do Ministro Relator Castro Meira no Resp 944295 SP,
quando da análise da temática in voga, verbis:
Melhor sorte também não merece o recurso do particular. Sem dúvida há le-
gitimidade e interesse jurídico do Ministério Público para ajuizar ações civis
públicas por ato de improbidade administrativa em qualquer de suas modali-
dades enriquecimento ilícito, dano ao erário ou atentado aos princípios da Ad-
ministração Pública, e não apenas quando tenha havido dano ao erário, bem
como também é pacífico o entendimento pela possibilidade de ajuizamento
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de ação civil pública que vise aplicar as sanções da Lei de Improbidade Ad-
ministrativa, não havendo qualquer equívoco em face da existência de pedi-
dos cumulados.
Como clarividente alhures, ante a transgressão dos gestores públicos, foram expedidas, em
situações semelhantes, - eufemisticamente exarando, para não dizer idênticas- recomendações pelo
Ministério Público Federal, proferida decisão judicial com mandamento proibitório (desde 2011),
condenação pelo TCU e pela Justiça Federal de 1º grau e, ainda assim, o Estado do Piauí, por meio de
seus representantes legais inquinados ao polo passivo desta inicial, insistem permanecer em situação
afrontosa ao direito, o que reclama a adoção de tutela de urgência, nos termos da Lei de Ação Civil
Pública ( art.12, da Lei nº 7.347/85), da Lei de Ação Popular ( art.5º, §4º, da Lei nº 4.717/65) e do Novo
Código de Processo Civil ( art. 300, da Lei nº 13.105/2015).
No caso em tela, todos os requisitos exigidos pela lei processual para o deferimento da tutela
de urgência encontram-se reunidos.
O fumus boni juris3 salta aos olhos pela simples análise do acervo probatório que instrui a
presente ação, a demonstrar a reiterada e generalizada utilização de recursos de aplicação vinculada em
finalidade diversa, por meio de mescla orçamentária na Conta Única do Estado, na qual transitam
3Conforme ensina Fredie Didier Jr., é possível reconhecer a existência de três características essenciais na tutela pro -
visória, quais sejam: a) sumariedade da cognição; b) precariedade; e c) inaptidão para a formação de coisa julgada
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão,
precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela / Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria
de Oliveira – 10. ed. – Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015. p. 568.
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disponibilidades financeiras de diversas espécies, fator, de per si, suficiente para impedir a atuação dos
órgãos de controle externo, em verdadeira valsa orçamentária que tergiversa o Decreto Estadual n º
17.404/2017 , art. 167, X, da Constituição Federal, art. 35, §1º, I, da LRF E art. 31 do Contrato. Em arremate,
se não bastasse o já aludido, ratifica-nos a anulação irregular de empenhos referentes a despesas já
realizadas, em afronta à Lei 4.320/1964.
O periculum in mora, perigo de dano, de igual sorte, é facilmente percebido, na medida em que a
maleabilidade indevida dos valores do empréstimo impedem a aferição de sua aplicação nas finalidades
estritamente exigidas e constantes no contrato, assinado de próprio punho pelos demandados. Pensar
em sentido contrário, é chancelar a teratológica possibilidade de que o Estado do Piauí, através de seus
representantes, continue a manejar os valores de forma absolutamente discricionária, subvertendo
parêmias básicas do ordenamento jurídico brasileiro: legalidade, impessoalidade, moralidade, eficiência
e publicidade, insculpidas no art. 37, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil.
Outrossim, não é demais frisar que a situação posta viola, frontalmente, a '' Regra de Ouro'' do
Direito Financeiro: vedação de utilização dos recursos de empréstimos para custear despesas correntes,
expressa no art. 167, inciso III, da CF/88 e art.2º, §3º, da Lei Complementar nº 101/2000 ( Lei de
Responsabilidade Fiscal). Isto posto porque, a alocação contábil pelo Estado do Piauí de recursos do
contrato de financiamento em despesas pretéritas ao repasse de sua primeira parcela, sendo que a
maior parte dessas despesas já tinha sido paga com recursos de outras fontes (ordinários estaduais ou
de empréstimos internacionais), é prova cabal de que os recursos foram, em consequência,
efetivamente usados para o pagamento de despesas de qualquer natureza, inclusive correntes.
Necessária se faz a urgência em o Poder Judiciário avocar seu poder-dever geral de tutela e
obstar renitente e execrável obstinação em transgredir mandamentos legais de elevada envergadura
constitucional, porquanto há sérios e graves riscos de dilapidação patrimonial por parte dos
demandados.
Nesta toada, é importante relembrar que o Superior Tribunal de Justiça, sob sistemática de
recursos repetitivos, fixou entendimento de que medidas liminares em ação civil pública por
improbidade administrativa, dada a necessidade de resguardo máximo do interesse público, dispensam
a efetiva comprovação de dilapidação patrimonial, encontrando-se o periculum in mora implícito no
comando do art. 7º da Lei de Improbidade Administrativa.
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Com efeito, para a garantia da efetividade da prestação jurisdicional, os arts. 11 da Lei nº.
7.347/85, c/c art.84, CDC e art.461, CPC, prevêem a aplicabilidade de multa diária, que tem finalidade
coercitiva ao adimplemento da obrigação. A propósito:
Desse modo, conforme as previsões dos arts. 11 e 12, §2º, da Lei de Ação Civil Pública, e
art. 461 do Código de Processo Civil, revela-se cabível, em nome da decisum e da relevância do tema
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discutido, a fixação de multa pessoal aos Agentes Públicos responsáveis pela condução da máquina, em
caso de descumprimento dos mandamentos cautelares ao final subscritos.
“II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens
ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta
circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de
cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do
dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios
ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de
cinco anos;
c) uma vez recebida a exordial, que seja determinada a citação dos Requeridos nos
endereços mencionados no preâmbulo, para, querendo, oferecer contestação,
sob pena de revelia e confissão.
Protesta o MPF, ainda, pela produção de provas por todos os meios admitidos em
direito, especialmente a prova documental, testemunhal e pericial.
ROL DE TESTEMUNHAS
Domingos Sávio de Menezes Araújo
Auditor do TCU- Secex/PI