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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO PIAUÍ

EXMO. SR. DR. JUIZ FEDERAL DA ___ VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PIAUÍ

Distribuição p dependência Proc.1000682-68.2018.4.01.4000

“ Nesse contexto fático-jurídico, totalmente desfavorável ao Governo do Estado do Pi-


auí, pode-se concluir que os recursos financeiros do contrato de financiamento com a
Caixa foram deliberadamente transferidos para a conta única estadual para cobrir
desequilíbrios de caixa das finanças estaduais, como uma tentativa de regularizar a si-
tuação, mediante prática vedada pelo contrato, pela LRF e pela Constituição Federal”.

“Registre-se que o atual Governador do Estado, Sr. Wellington Dias, é reincidente na


indevida prática de transferência de recursos federais de sua conta específica para a
conta única do estado (cf. processo TC 010.096/2008-0), o que aumenta a gravidade de
sua conduta atual. Apesar de, no mencionado feito, ter sido retirada em sede recursal
a multa a ele aplicada, manteve-se o caráter irregular da transferência para a conta
única, em situação análoga à atual (lá se tratava de recursos de convênio)”.

“ A propósito, em planilha encaminhada pelo TCE/PI, juntada ao presente feito em


23/4/2018 (peça 9, acompanhada de item não digitalizável inserido no sistema e-TCU:
arquivo Planilha FINISA - TCU.xls), consta que cerca de 80 % dos recursos da primeira
parcela do empréstimo foi ‘aplicado’ pelo Estado em despesas cujos empenhos são
anteriores à liberação dessa parcela. EM TERMOS MAIS JURÍDICOS: no momento da
realização das mencionadas despesas pretéritas, o contrato de financiamento em
pauta era apenas um evento futuro e incerto, que não havia ainda ingressado no
mundo jurídico e, uma vez celebrado, não pode, por falta de previsão legal e em suas
próprias cláusulas, modificar os atos jurídicos perfeitos consubstanciados em de-
spesas já realizadas e pagas anteriormente por outras fontes, de modo a se aceitar a
ficção jurídico-contábil de que os recursos do empréstimo sejam considerados aplica-
dos, retroativamente, em tais despesas, e, com isso, possibilitar que os recursos finan-
ceiros correspondentes sejam usados livremente em despesas correntes, em flagrante
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burla à norma constitucional constante do art. 167, inciso X, da CF ”.( Trechos dos Re-
latórios, auditores TCU).

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio de seu representante legal


infra-assinado, vem, perante Vossa Excelência, com fulcro nos arts. 129, inciso III, da Constituição
Federal, art. 6º, VII, "a" e “d”, da Lei Complementar nº 75/93, bem como na Lei nº 8.429/92 (LIA), que
dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício
de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional, propor
a presente.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA CONDENATÓRIA POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, COM


PRECEITO MANDAMENTAL EM TUTELA DE URGÊNCIA, CONSISTENTE NA IMPOSIÇÃO DE FAZER E
NÃO FAZER

em face de JOSÉ WELLINGTON BARROSO DE ARAÚJO DIAS, brasileiro,inscrito no CPF sob o nº


182.556.633-04, Governador do Estado do Piauí, com endereço à Av. Antonino Freire, 1450 – Centro
(Sul), Teresina, CEP 64000-040 (Palácio de Karnak),RAFAEL TAJRA FONTELES, inscrito no CPF sob o
número 992.368.423-72, Secretário de Fazenda do Estado do Piauí, com endereço na Av. Maranhão, 180
– Centro(Sul), Teresina/PI, CEP 64001-010 (Secretaria de Fazenda do Estado do Piauí) e MAURO GOMES
DE LIMA, inscrito no CPF nº 880.094.083-87, Diretor da Unidade de Gestão de Dívida Pública da
Secretaria de Fazenda do Estado do Piauí, com endereço na Rua Coronel Osvaldo Duarte, 5189, apto.
303, bloco Ambar, Santa Isabel, Teresina/PI, CEP 64053-080, para o que passa à exposição
circunstanciada dos fatos e dos fundamentos da presente ação.

I – DO CABIMENTO DA AÇÃO

A repressão de condutas que constituam atos de improbidade administrativa está


prevista na vigente Constituição da República (art. 37, §4º). Do mesmo modo, a Carta Magna incumbe ao
Ministério Público a legitimidade para promover a ação civil com escopo de punir os agentes por atos
que importem em improbidade administrativa.
Os atos de improbidade administrativa estão previstos nos artigos 9º e seguintes
da Lei n.º 8.429/92, com a disciplina pormenorizada da atuação do Ministério Público para dar
cumprimento àquele mandamento constitucional e ao previsto na Lei Complementar n.º 75/93.

A Lei n.º 8.429/92 regulamenta tanto o citado dispositivo, como o art. 15, V, ambos
da Constituição Federal, disciplinando os atos de improbidade administrativa praticados por qualquer
agente público.
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II– DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A Lei n.º 8.429/92, art. 17, caput, deu legitimidade ativa para o Ministério Público promover a Ação Civil
de Improbidade Administrativa. E, mais especificamente, a Lei Complementar n.º 75/93, Lei Orgânica do
Ministério Público da União, atribui, ao Ministério Público Federal, a propositura de ações que tenham por
objeto a probidade administrativa (art. 6.º, XIV, f).
III- SINOPSE FÁTICA

A Caixa Econômica Federal (CEF) firmou contrato de empréstimo com o Governo do Estado do Piauí,
por intermédio do Governador do Estado Wellington Dias (Contrato de Financiamento nº 0482405-71), no
valor de R$ 600.000.000,00 ( seiscentos milhões de reais). O convênio se deu por meio do Programa de
Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento- FINISA, que tem o objetivo de facilitar e ampliar a
concessão de crédito para as áreas de saneamento, energia, transporte e logística.

Do montante, o Estado recebeu uma primeira parcela no valor de R$ 307.904.923,84 (trezentos e sete
milhões, novecentos e quatro mil, novecentos e vinte e três reais e oitenta e quatro centavos) na data de
09/08/2017, à conta de nº 482.405-6, agência 0029 e operação 006. Em tal negócio jurídico mencionado foi
devidamente previsto no seu instrumento do contrato de financiamento, que tais recursos são de
utilização vinculada, ou seja, não cabe ao mutuário decidir sobre destinação diversa do pactuado e que os
referidos recursos financeiros deveriam ser movimentados na conta específica ali prevista.

Ocorre que o Tribunal de Contas do Estado do Piauí, apurou, por meio do Relatório de Auditoria
(025611/2017), em anexo, ratificadas pelos auditores do Tribunal de Contas da União(TC010.4441/2018-20)
também em anexo, graves irregularidades consubstanciadas a seguir descritas, em resumo :

1- Tranferências irregulares para Conta Única do Tesouro Estadual;


2- - Desvio de finalidade na aplicação de recursos públicos.

Constatou os auditores que entre os dias 11/08/2017 e 26/10/2017, foram retirados R$ 270.600.000,00
(duzentos e setenta milhões e seiscentos mil reais) da conta vinculada ao empréstimo FINISA, de nº
482.405-6, operação 006, agência 0029, para a Conta Única do Tesouro Estadual de nº 7267-2 da agência
3791-5 do Banco do Brasil, extrato abaixo, valores esses que foram utilizados para finalidades outras que
não as preestabelecidas no contrato, configurando absoluto descumprimento à cláusula trigésima primeira
do Contrato de Empréstimo, referente à comprovação da aplicação dos recursos.

O Controle Externo Estadual apurou ainda que, para fins de justificar os gastos com recursos oriundos
da supracitada operação de crédito, a Secretaria de Fazenda do Estado do Piauí procedeu a anulação de
diversos empenhos liquidados e pagos nas fontes 100 (Recursos do Tesouro Estadual) e 117 (Recursos de
Operação de Crédito Externa), permitindo que diversas Unidades Gestoras realizassem o reempenho de tais
despesas na fonte 116 (Recursos de Operação de Crédito Interna).
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Segundo consta do relatório do TCE/PI o Governo chegou a cancelar empenhos no valor


de R$ 188.560.117,31 (cento e oitenta e oito milhões, quinhentos e sessenta mil, cento e dezessete reais e
trinta e um centavos), de obras já realizadas com outras fontes de financiamento e posterior reempenho
com os recursos do FINISA, em flagrante fraude à prestação de contas.

O modus operandi dos agentes públicos assim foi descrito no Relatório de Auditoria
Concomitante do TCE/PI, bem como no Relatório de auditores da Secex/PI , da seguinte forma:

1. Quanto a transferência irregular para a conta única do Estado do Piauí.

“ Inicialmente foi solicitado junto à Caixa Econômica Federal, por meio do ofício DFAE/TCE nº
04/2017 (peça 04), o extrato de movimentação bancária da conta corrente vinculada aos recursos do
empréstimo FINISA, de nº 482.405-6, operação 006, agência 0029 Conselheiro Saraiva.
A seguir, a relação das transferências realizadas da conta vinculada ao empréstimo para a
Conta Única:
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Constatou-se que foi creditado nessa conta, no dia 09 de agosto de 2017, o valor de R$ 307.904.923,84
(trezentos e sete milhões, novecentos e quatro mil, novecentos e vinte e três reais e oitenta e quatro
centavos), referentes a liberação da primeira parcela do citado empréstimo.
Ainda por meio do referido extrato, enviado ao TCE/PI pelo ofício CEF nº 184/2017 (peça 04), foram
constatadas transferências eletrônicas (TED ś ) nas mesmas datas e valores de ingresso de recursos na Conta
Única do Tesouro Estadual, de nº 7267-2, da agência 3791-5 do Banco do Brasil.
Diante de tal fato, foi solicitado junto à Caixa Econômica Federal, pormeio do ofício DFAE/TCE nº 01/2018,
detalhamento da conta-corrente vinculada ao empréstimo, constando informações acerca das contas de
destinação dos recursos.
O citado detalhamento da movimentação bancária foi enviado ao TCE/PI através do ofício CEF nº 18/2018
(peça 05), no qual foram constatadas as transferências de recursos vinculados à operação de crédito para a
Conta Única do Tesouro Estadual,extrato acima, o que caracterizou o descumprimento da cláusula trigésima
primeira do Contrato de Empréstimo, referente à comprovação da aplicação dos recursos:

31.1 – A sistemática a ser adotada para efeitos de comprovação da aplicação do


Financiamento obedecerá, no mínimo, ao que segue:

(...)

VIII – A fim de manter a transparência na utilização dos recursos, o Mutuário se


compromete a efetuar o pagamento aos fornecedores, com utilização dos recursos
obtidos deste contrato, por meio dos recursos liberados na Conta Vinculada.

A vedação à transferência de recursos oriundos de Operação de Crédito à Conta Única do Estado tem por
finalidade impedir o desvirtuamento da finalidade dos créditos adquiridos, sobretudo porque, encontrando-se
os recursos do financiamento na mesma conta que os demais recursos do Tesouro Estadual, resta
impossibilitado o controle quanto ao cumprimento do disposto no art. 35 da Lei de Responsabilidade Fiscal,
consubstanciado na vedação da utilização daqueles créditos para o pagamento de despesas alheias ao objeto
do empréstimo, tais como despesas correntes, o que implica, ademais, em violação ao art. 167, X, da
Constituição Federal.
(...)

Os ditames do contrato aliados com a jurisprudência pátria têm por objetivo possibilitar uma efetiva ação
de controle. Alguns documentos exigidos na prestação de contas como “extrato bancário” e “conciliação
bancária” estão intrinsecamente relacionados com essa exigência. Uma comparação do extrato com os
pagamentos efetuados quando da execução do objeto pactuado permite-se o pleno conhecimento sobre a boa
e regular aplicação dos recursos públicos, facilitando o controle externo e social da Administração Pública.
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Além disso, permite mensurar os recursos obtidos por meio de aplicações financeiras, que devem,
necessariamente, reverter na execução do ajuste, ou serem restituídos ao órgão repassador.

Todavia, tal controle torna-se inviável com a conduta de transferência de recursos de conta vinculada para
a conta do Tesouro.

Destarte, a indigitada movimentação em conta diversa, onde valores de outras origens transitam, traz,
além do desrespeito à norma legal, um enorme prejuízo à transparência na execução do empréstimo.

Não há justificativas técnicas para a operação de transferência dos recursos para a Conta Única, de forma
que caberia ao Estado, com vistas à funcionalidade do objeto da operação de crédito, dotar o órgão executor
de meios transparentes para a movimentação dos recursos.

Se existe uma conta específica para o Estado administrar os recurso repassados pela Caixa Econômica
Federal, exclusivamente para despesas de capital (investimentos de infraestrutura), não há razão de se
transferir os ingressos para outra conta.

No momento em que os valores são migrados para uma conta de natureza geral, perde-se a capacidade de
controle e de aferição do nexo causal da utilização dos recursos, restando inviável verificar se sua utilização
atende à finalidade do ajuste.

Nesse sentido, todas as retiradas de recursos das contas vinculadas, que não estejam associadas com
despesas pertinentes ao objeto, deverão ser consideradas indevidas e compor débito a ser recolhido ao
Erário.’’

Com efeito, é pujante observar que são convergentes as conclusões dos auditores federais do TCU e
estaduais do TCE/PI.

Nesse contexto fático-jurídico, prosseguem os auditores: “totalmente desfavorável ao Governo do Es-


tado do Piauí, pode-se concluir que os recursos financeiros do contrato de financiamento com a Caixa foram
deliberadamente transferidos para a conta única estadual para cobrir desequilíbrios de caixa das finanças
estaduais, como uma tentativa de regularizar a situação, mediante prática vedada pelo contrato, pela LRF e
pela Constituição Federal.

Esse artifício contábil configura, pois, uma maquiagem da real situação financeira de caixa do estado,
pois constitui o indevido uso de recursos destinados, por força de norma constitucional, exclusivamente ao
financiamento de determinadas despesas de capital para despesas de qualquer natureza.’’

Desse modo impera que esse juízo a quo enverede supra atenção ao fato de que, da análise dos docu-
mentos apresentados, revela-se inconteste que o Estado do Piauí, através do Chefe maior do Executivo Es-
tadual, atual governador, tem-se servido deste ilusionismo orçamentário ao longo de vários anos - o que já é
grave, se torna gravíssimo diante da conduta recalcitrante - mesmo após advertências dos órgãos de cont-
role ( TCU/TCE), recomendação do MPF, condenação pelo TCU (Acórdão TCU 2269/2005; Acórdão TCU
307/2009), decisão judicial proibindo tal prática (desde 25 de novembro de 2011 havia decisão judicial repri-
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mindo a prática da conduta delituosa- vide Processo 21318-19.2011.4.01.4000 /TRF 1ª Região)- e, por derradei-
ro, condenação pela por essa própria Justiça Federal ( Proc 4410-47.2012.4.01.4000/ 1ª Vara);

Todas condutas acima, por idênticas práticas de repassar recursos federais vinculados, recebidos por
transferências voluntárias, convênios, contrato repasse e ,agora, via empréstimos, para a Conta Única do
Estado, descumprindo desde o topo da pirâmide normativo constitucional brasileira, a CRFB/88, passando
pela LRF, e, por fim, os instrumentos contratuais de cada uma dessas operações, cujas cláusulas proibitivas
são expressas e de fácil percepção, até mesmo para os mais leigos, quiçá para gestores da res pública.

Ressalte-se que não obstante o contrato de empréstimo objeto da presente ação tenha natureza
distinta de convênio ou contrato de repasse, alberga as mesmas obrigações no que concerne a aplicação
dos recursos em finalidade específica e necessidade de manutenção dos valores em conta vinculada, in
verbis:
CLÁUSULA TRIGÉSIMA PRIMEIRA - COMPROVAÇÃO DE APLICAÇÃO DE RECURSOS
31.1 A sistemática a ser adotada para efeitos de comprovação da aplicação do
FINANCIAMENTO obedecerá, no mínimo, ao que segue:
(…)
VIII. A fim de manter a transparência na utilização dos recursos, o MUTUÁRIO se
compromete a efetuar o pagamento aos fornecedores, com utilização dos recursos
obtidos deste contrato, por meio dos recursos liberados na CONTA VINCULADA.”
(grifou-se)

No presente caso, ainda restou comprovado o descumprimento à Instrução Normativa nº 07/2017


do TCE/PI que preconiza em seu art. 56:

“A aplicação dos recursos oriundos de operações de crédito realizadas pelos


órgãos e entidades estaduais deverá ocorrer em conta bancária específica
vinculada a cada empréstimo, vedada a transferência de recursos destapara
outras contas arrecadatórias do Estado, inclusive a Conta Única do Tesouro
Estadual.”

Ressaltam os auditores federais nesse ponto: “Registre-se que o atual Governador do Estado, Sr.
Wellington Dias, é reincidente na indevida prática de transferência de recursos federais de sua conta específica
para a conta única do estado (cf. processo TC 010.096/2008-0), o que aumenta a gravidade de sua conduta
atual. Apesar de, no mencionado feito, ter sido retirada em sede recursal a multa a ele aplicada, manteve-se o
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caráter irregular da transferência para a conta única, em situação análoga à atual (lá se tratava de recursos de
convênio)”.
“ Em suas alegações de defesa junto ao TCE/PI , o Sr. Wellington Dias ressaltou o aspecto atinente à ex-
clusão da multa a ele aplicada, mas não enfrentou, no caso concreto, a norma contratual que proíbe a saída
dos recursos da conta bancária vinculada para outras contas” .( Sobreleva esmiuçar que, neste ponto, o
juízo deve-se atentar para a clarividência da ilicitude até mesmo para o próprio demandado, bem como seu
assentemento quanto à este aspecto, em que pese, posteriormente, descumprí-la, o que urge por repri-
mendas enérgicas).

In casu, portanto, os requeridos aplicaram as verbas públicas em dissonância ao previsto nas


normas legais e contratuais mediante prévio conhecimento de sua proibição, pois como se disse, o Sr.
Governador foi signatário do próprio contrato de empréstimo que motivou a presente ação. Nesse sentido,
feriu de morte o princípio da legalidade e amordaçou a moralidade e transparência administrativas, de
forma contumaz o que é mais ignominioso.
Celso Antônio Bandeira de Melo, festejado e saudoso administrativista, ao abordar o
comportamento do administrador público, reporta-se aos princípios constitucionais da legalidade e da
moralidade administrativas, expressando-se assim:

"... o princípio da legalidade é o da completa submissão da Administração às leis. Esta


deve tão somente obedecê-las, cumpri-las, pô-las em prática. Daí que a atividade de todos
os seus agentes,só pode ser a de dóceis, reverentes, obsequiosos cumpridores das
disposições gerais fixadas […] ''

Desse modo, do conjunto fático e probatório até aqui produzido, resta , portanto incontroverso a
prática da violação às leis e normas contratuais que regem a matéria, bem como aos princípios da
Administração Pública, no que concerne a aplicação irregular dos recursos financeiros na conta única,
subsumindo-se os atos dos reqeridos , ao previsto nos artigos 10 e 11 da Lei nº 8.429/92, com reprimendas
anexas ao art. 12, incisos II e III, da multicitado diploma normativo.

2. Quanto ao desvio de finalidade.

Nesse aspecto, os auditores nos dois níveis, foram, também, categóricos:

“Nos termos do contrato que rege o indigitado ajuste, observa-se que a operação de crédito FINISA foi
contratada exclusivamente para despesas de capital, relativas a obras estruturantes, de mobilidade urbana e
de infraestrutura rodoviária em diversos municípios do Estado. Tais obras seriam geridas por quatro unidades
gestoras, quais sejam o Departamento de Estradas de Rodagem do Piauí (DER-PI), Secretaria de Estado da
Infraestrutura (SEINFRA), Secretaria de Estado dos Transportes (SETRANS) e o Instituto de Desenvolvimento
do Piauí (IDEPI).
No entanto, verificando no sistema SIAFE-PI os empenhos emitidos na fonte 116000600, referente ao
detalhamento dos recursos do empréstimo FINISA, foram constatados empenhos emitidos em 16 (dezesseis)
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unidades gestoras, sendo a maioria desses empenhos emitidos no final do exercício de 2017, mais precisamente
entre os dias 14 e 31 de dezembro.
Em continuidade aos trabalhos de fiscalização, no cotejo mais detalhado do sistema SIAFE no que tange a
execução orçamentária e financeira das citadas Unidades Gestoras, chegou-se a seguinte constatação: os
empenhos emitidos no mês de dezembro de 2017 eram referentes a despesas já realizadas e concluídas
anteriormente, originalmente através das fontes100 (Recursos do Tesouro Estadual) e 117 (Recursos de
Operações de Crédito Externa), mas que foram ilegalmente anuladas e reempenhadas na fonte 116 (Recursos
de Operações de Crédito Interna).
Constatou-se, ainda que, grande parte delas eram oriundas de obrigações anteriores à liberação dos
recursos do FINISA. Tal fato ocasionaria uma burla à prestação de contas junto à Instituição Financeira e
consequentemente uma irregular liberação da segunda parcela da operação de crédito no valor de R$
292.095.076,16 (duzentos e noventa e dois milhões, noventa e cinco mil, setenta e seis reais e dezesseis
centavos).
Esses empenhos foram indevidamente anulados por se tratarem de despesas já realizadas, constatando-
se ainda que tais anulações foram efetuadas no âmbito da Secretaria de Fazenda do Estado do Piauí,
registrado como usuário do sistema SIAFE para realização dessas anulações o diretor da UNIGED – Unidade
de Gestão da Dívida Pública do Estado, Mauro Gomes de Lima, ocupante do cargo efetivo de Analista do
Tesouro Estadual.
A anulação dos empenhos no Sistema SIAFE fundamentou-se na Resolução nº 06/2017, da Comissão de
Gestão Financeira e Gestão por Resultados (CGFR), que tem como presidente o Sr. RAFAEL FONTELES, a
qual sequer possuía eficácia necessária para produção de efeitos, já que não havia sido publicada no Diário
Oficial do Estado.
Ademais, o decreto nº 17.404/2017, de 06 de outubro de 2017, que trata das anulações de empenhos não
liquidados ao final do exercício, e que traz a autorização da CGFR para o reempenho de casos excepcionais,
trata apenas de anulações de empenhos não liquidados e reempenhados na mesma fonte de recursos, o
que não ocorreu no cômputo dessas despesas indevidamente contabilizadas com recursos da operação de
crédito FINISA, pois tratou-se de despesas originalmente realizadas com recursos do Tesouro Estadual e
ainda recursos obtidos junto ao Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) nas
modalidades DPL II e SWAP-IPF.”

2.1. Uso indevido dos recursos para pagamento de despesas pretéritas

Consigne-se, por oportuno, Exa.,que perscrutada e minuciosa análise da imponente manifestação da


SECEX/PI, órgão com elevada envergadura cognitiva na matéria, e do próprio TCU, demonstram a gravi-
dade e patente ilicitude das condutas verificadas na execução do Contrato de Financiamento nº 0482405-71,
de 27/06/2017. Revelam os auditores nesse tópico:
“ No mínimo, carecia de amparo contratual a aplicação dos recursos em gastos pretéritos. E mais, con-
siderando que a alteração contábil não garantiria a real alocação dos valores financiados em despesas de capi -
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tal, subsistia a possibilidade de seu direcionamento a quaisquer despesas correntes, prática expressamente
vedada pelos termos contratuais, que corretamente acompanham as proibições impostas pelo art. 35, § 1º, in -
ciso I, da LC 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) e art. 167, inciso X, da Constituição Federal
Alocação contábil pelo Estado do Piauí de recursos do contrato de financiamento em despesas pretéritas
ao repasse de sua primeira parcela, sendo que a maior parte dessas despesas já tinha sido paga com recursos
de outras fontes (ordinários estaduais ou de empréstimos internacionais), de forma que os correspondentes
recursos financeiros do financiamento abrangidos por esse artifício foram, em consequência, efetivamente usa -
dos para o pagamento de despesas de qualquer natureza, inclusive correntes, fora, pois, do escopo contrat-
ual, vinculado a determinadas despesas de capital, além do que inexiste previsão contratual e legal para tal
procedimento contábil.
O Estado do Piauí, por meio de artifício contábil por ele denominado de ‘reversão de fontes de recursos’,
procedeu à ‘aplicação’ (fictícia, óbvio) de grande parte dos recursos da primeira parcela do contrato de em -
préstimo em despesas que já tinham sido realizadas e pagas por outras fontes (00-tesouro estadual; e 17-op-
erações de crédito externas) antes do repasse dessa parcela, em 9/8/2017 (a maioria, aliás, antes mesmo da
própria celebração desse contrato, em 27/6/2017) (cf. itens 2.2 e 2.3 do Relatório de Auditoria do TCE/PI, de
13/3/2018, na peça 1, p. 68-97).
A propósito, em planilha encaminhada pelo TCE/PI, juntada ao presente feito em 23/4/2018 (peça 9, acom -
panhada de item não digitalizável inserido no sistema e-TCU: arquivo Planilha FINISA - TCU.xls), consta que
cerca de 80 % dos recursos da primeira parcela do empréstimo foi ‘aplicado’ pelo Estado em despesas cujos
empenhos são anteriores à liberação dessa parcela.
EM TERMOS MAIS JURÍDICOS: no momento da realização das mencionadas despesas pretéritas, o con-
trato de financiamento em pauta era apenas um evento futuro e incerto, que não havia ainda ingressado no
mundo jurídico e, uma vez celebrado, não pode, por falta de previsão legal e em suas próprias cláusulas, mod-
ificar os atos jurídicos perfeitos consubstanciados em despesas já realizadas e pagas anteriormente por outras
fontes, de modo a se aceitar a ficção jurídico-contábil de que os recursos do empréstimo sejam considerados
aplicados, retroativamente, em tais despesas, e, com isso, possibilitar que os recursos financeiros correspon-
dentes sejam usados livremente em despesas correntes, em flagrante burla à norma constitucional constante
do art. 167, inciso X, da CF.
Então, a mencionada alocação contábil retroativa de despesas violou, no caso, o contrato e o princípio
da legalidade ( diga-se, por oportuno, que já se trata de segunda violação ao mesmo princípio. A primeira
materializou-se no bojo de transferências para a Conta Única). De fato, não há norma contratual que permita
a ‘aplicação’ retroativa dos recursos do empréstimo em despesas já realizadas com outras fontes de recursos.
E, se houvesse (e deveria ser expressa nesse sentido), poderia até ser questionada a sua legalidade/constitu-
cionalidade.
Assim, de acordo com a Cláusula Primeira, item 1.1, do termo do contrato, os recursos do empréstimo po-
dem ser aplicados em despesas classificadas como investimentos no Plano de Investimentos do Estado do Piauí
referente ao período de 2017 e 2018. É ÓBVIO que os recursos deverão ser aplicados em despesas ainda não in-
corridas, sendo absurda a interpretação que veja nessa cláusula a permissão implícita da aplicação dos recur -
sos em despesas já realizadas e pagas.
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NO PLANO JURÍDICO, como já visto, essa alocação contábil dos recursos do contrato de financiamento em
despesas pretéritas não tem previsão contratual ou legal.
NO PLANO FÁTICO, também é insustentável a conduta do Governo do Estado do Piauí, pois essa alocação
contábil (que exigiu uma ‘reversão de fontes de recursos’ na sua contabilidade orçamentária) foi UM MERO
ARTIFÍCIO PARA USAR OS RECURSOS FINANCEIROS INDEVIDAMENTE TRANSFERIDOS PARA A CONTA ÚNICA
ESTADUAL EM DESPESAS DE QUALQUER NATUREZA, E NÃO NAS VINCULADAS PELO CONTRATO DE FINAN-
CIAMENTO!!! ( conduta recalcitrante que urge por reprimenda impetuosa, vez que o patrimônio público está
se esfacelando com a perda da capacidade de controle externo e interno)”.
As considerações fatícas e jurídicas acima feitas pelos auditores colocam por terra portanto as justifica -
tivas apresentadas pela Caixa Econômica Federal, alteração contratual e no plano de investimento , para
anuir com a prestação de contas parcial da primeira parcela, vez que as mesmas não encontram amparo
contratual e legal, conforme demonstrado.Ressalte-se por conseguinte o pagamento a despesas realizadas
são nulas de pleno direito pois realizadas sem respaldo jurídico, a serem aprofundadas ainda outras respon-
sabilidades na TCE (tomada de conta especial) e PF(Polícia Federal) diante das informações de superfatura -
mentos e outros.
Prosseguem os auditores, nesse tópico: “O Governo do Estado do Piauí e a Caixa já tinham plena ciência
desde a celebração do Contrato de Financiamento 0482405-71, em 27/6/2017, da proibição de alocação de recur -
sos contratuais em despesas pretéritas ao contrato, uma vez que, no âmbito do procedimento administrativo
pré-contratual, essa questão foi objeto de controvérsia e, então, foi retirada do termo contratual celebrado a
cláusula permissiva do reembolso de despesas pretéritas, constante de minuta do contrato , em consonância
com dúvida quanto à legalidade dessa cláusula permissiva levantada na Nota Técnica da Secretaria do Tesouro
Nacional (STN), de 10/4/2017), ilegalidade essa confirmada pelo Parecer da Procuradoria-Geral da Fazenda Na-
cional (PGFN), de 4/7/2017.”
Denota-se, portanto, que toda e qualquer alegação de não conhecimento da ilicitude deve ser
rechaçada, pois o contexto fático-jurídico é irretocável, com repulsa de todas os poderes e órgãos da
República com pertinência na matéria (Judiciário, Ministério Público Federal, Tribunal de Contas da União e
Tribunal de Contas do Piauí), à exceção, é claro, do executivo que persevera nesta subversão.
Noutras palavras, utiliza-se dos recursos de convênios/contratos de repasse/termos de compromisso/
repasses diretos, e agora contrato de empréstimo para fazer frente às despesas estaduais, desvinculadas
das finalidades legais e contratuais, o que já ensejou outras ações judiciais, inclusive por improbidade ad-
ministrativa, com condenção do atual Governador, como mencionado anteriormente, o que denota uma
maior reprovabilidade de sua conduta ante a demonstração patente de menoscabo para com os orgãos de
controle.Nesse sentido:
Hely Lopes Meirelles assim trata o tema desvio de finalidade:

“(...) os fins da Administração consubstanciam-se na defesa do interesse público,


assim entendidas aquelas aspirações ou vantagens licitamente almejadas por
toda a comunidade administrada, ou por uma parte expressiva de seus membros.
O ato ou contrato administrativo realizado sem interesse público configura desvio
de finalidade”.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO PIAUÍ

Há, pois, evidente desvio de finalidade nos atos praticados pelos requeridos. A
próposito do desvio de poder, Celso Antonio Bandeira de Mello, citando André de Laubadère,afirma
que:

“Há desvio de poder quando uma autoridade administrativa cumpre um ato de


sua competência, mas em vista de fim diverso daquele para o qual o ato poderia
legalmente ser cumprido” (In Discricionariedade e controle jurisdicional. 2 ed.
São Paulo: Malheiros, 2003, p. 56).

Acrescenta, ainda, que ocorre desvio de finalidade quando o agente público, "
manejando também uma competência que em abstrato possui, busca atender uma finalidade pública que,
entretanto, não é aquela própria, específica, da competência utilizada” (Idem, Ibidem,p. 59).

Não basta, portanto, que o ato se destine a atender ao interesse público; ele
tem que atender ao fim definido pela lei – a um interesse público específico.

In casu, os requeridos aplicaram as verbas públicas em dissonância ao previsto nas normas legais
e contratuais mediante prévio conhecimento de sua proibição, pois como se disse, o Sr. Governador foi
signatário do próprio contrato de empréstimo que motivou a presente ação. Nesse sentido, atuou
contra o princípio da legalidade.

Assim,resta demonstrado, do conjunto fático, de forma incontestável, a ilegalidade dos atos


praticados pelos requeridos também quanto ao desvio de finalidade, em corolário de subversão às leis
e normas contratuais que regem a matéria, e, outrossim, aos princípios da moralidade e impessoalidade
que conduzem a Administração Pública, restando subsumido os atos do Sr. José Wellington Barroso de
Araújo Dias, Rafael Tajra Fonteles e Mauro Gomes de Lima, ao previsto nos artigos 10 e 11 da Lei nº
8.429, de 2 de junho de 1992.

A valer, é salutar gizar e ressaltar o que é por demais grave e preocupante, em


robustecimento argumentativo, a suspeição levantada no comportamento dos agentes da Caixa
Econômica Federal pelos auditores durante a execução do referido contrato. A essa conclusão se chega
por inferência imediata da análise acurada de auditoria realizada pela Secex/PI na referida empresa
pública federal. Segundo os auditores federais ao longo dos seus relatórios, verbis:

“ Consigne-se, desde logo, o caráter protelatório do pedido de prorrogação de prazo feito pelo
governador estadual em 26/07/2018 e indevidamente aceito pela Caixa, tendo em vista que o governador o
baseou em argumento que não tem qualquer procedência: existência de eventual dúvida quanto ao acate
das '' despesas pretéritas''.

Elucida-se: O Governo do Estado do Piauí e a Caixa já tinham plena ciência, desde a celebração do
Contrato de Financiamento 0482405-71, em 27/06/2017, da proibição de alocação de recursos em
despesas pretéritas ao contrato, vez que, em momento pré-contratual, foi amplamente debatida e
retirada a cláusula permissiva do reembolso pretérito, pois ilegal, fator ratificado por Nota Técnica da
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PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO PIAUÍ

Secretaria do Tesouro Nacional (STN), de 10/04/2017 e Parecer da Procuradoria-Geral da Fazenda


Nacional (PGFN), de 04/07/2017.

Percebe-se patente ardil em querer acobertar com dubiedade situação hialina, cristalina,
clarividente. E o mais alarmante, para acoitar, com o repudiável véu da impunidade, uma conduta
sabidamente ilícita.

Por conseguinte,continuam os auditores, “a Caixa, por meio de sua Superintendência Regional no


Piauí, fez uma interpretação do contrato que não se coaduna com a própria literalidade do texto
contratual, bem assim com as normas de hierarquia superior, previstas na LRF e na CF, pois enxergou uma
norma permissiva da transferência dos recursos do contrato de financiamento de sua conta vinculada para
a conta única do estado.”

“Tal interpretação da Caixa, ademais, inviabiliza o estabelecimento do nexo de causalidade entre os


recursos e as despesas, de finalidade vinculada.” “A determinação à caixa ora alvitada é necessária em
decorrência da protelação sem justa causa do cumprimento de deliberaçao cautelar do TCU. Nesse
apartado, poderão também ser levantadas as responsabilidades pessoais dos agentes públicos
envolvidos, tendo em vista o conjunto total de fatos( a ser finalizado com a conclusão da Caixa acerca da
prestação de contas apresentada pelo Governo do Estado e adoção das medidas contratuais previstas) e a
verificação de eventual continuidade de práticas irregulares, o que agravaria sobremaneira a situação
jurídica do correspondente responsável.”

A propósito de tais fatos requisitou-se no ãmbito criminal, Inquérito policial para


aprofundamento da conduta dos agentes públicos da Caixa e do Estado ,sem foro , bem como sobre
sobrepreços e faturamentos pagos com recursos até então liberados constatados pelos auditores
estaduais no bojo de seu relátorio (TC-025611-2017, em anexo).

IV- DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONDUTAS

No feito em liça, é salutar gizar – para ceifar todo e qualquer equívoco- a conduta específica
de cada um dos demandados, segundo os relatórios técnicos:

José Wellington Barroso de Araújo Dias ( Governador do Estado do Piauí)- na qualidade de


chefe do Executivo e gestor maior do Estado, descumpriu cláusula contratual ao autorizar, determinar,
chancelar, consentir e/ou articular transferências ilegais de recursos vinculados à conta específica para a
Conta Única do Tesouro Estadual, ludibriando o controle externo, em patente subversão à transparên-
cia dos recursos públicos manejados.

Rafael Tajra Fonteles ( Secretário de Fazenda do Estado do Piauí)- gestor da execução finan-
ceira do Estado, responsável direto e imediato pela realização das transferências de recursos vinculados
à conta específica para a Conta Única do Tesouro Estadual, ludibriando o controle externo, em patente
subversão à transparência dos recursos públicos manejados.
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PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO PIAUÍ

Mauro Gomes de Lima ( Diretor da Unidade de Gestão da Dívida Pública), servidor da SEFAZ-
PI, responsável diretamente pelo cancelamento indevido de despesas empenhadas, liquidadas e pagas
em outras Fontes (100 e 117) para reempenho na Fonte 116- Operação de Crédito Interna.

Deveras, os agentes retrocitados são os protagonistas, direta e indiretamente, do modus


operandi pois praticaram os atos e emitiram as ordens, acompanhando todo o desenrolar do manejo de
recursos, desde o termo a quo contratual, galgando pelo gerenciamento ao adentrar às contas do Es-
tado, até, ao fim e ao cabo, à aplicação aos fins colimados.

A percuciente lição doutrinária de Émerson Garcia e Rogério Pacheco Alves ( ''Improbidade


Administrativa'', fl. 173, Ed. Lumen Juris), ratifica, de maneira cirúrgica, a responsabilidade dos requeri -
dos, até mesmo indiretamente, por via reflexa, quiçá, nessa situação, em que os atos são voluntários e
emitidos pelos próprios agentes públicos inquinados ao polo passivo:
'' A atividade dos subordinados informa e viabiliza a atividade dos superiores, e a competência destes engloba a
competência daqueles, o que permite aos superiores hierárquicos revogar ou anular os atos de seus subordinados a
bem do serviço, apresentando-se como verdadeiros fiscais natos da juridicidade dos atos administrativos.O descum-
primento do dever de fiscalizar acarretará a responsabilidade do agente .”

V- DO DIREITO

Tais constatações colacionadas a partir do Relatório do TCE e Secex/PI, demonstram a intencional


conduta dos demandados no sentido de burlar a transparência e controle das verbas liberadas por meio
do Contrato de Financiamento nº 0482.405.71. Tal conduta é de desrespeito aos ditames estabelecidos
na legislação vigente e enseja a capitulação na LIA, especificamente no Art. 11, caput, no que diz
respeito aos princípios da legalidade, honestidade, eficiência, lealdade às instituições,publicidade e
moralidade administrativa, uma vez que a conduta é expressamente vedada pela Lei de
Responsabilidade Fiscal, pelo próprio intrumento contratual, assinado pelo Sr. Wellington Dias, o qual,
inclusive já fora advertido por fatos semelhantes nos autos do Inquérito Civil Público nº
1.27.000.002310/2011-21, bem como pelo do Tribunal de Contas da União no processo TC010.096/2008-0.

Resta, ainda, tergiversado, o Art. 10, caput,VI, uma vez que, ativa e dolosamente, e
contrariando a lei e demais regulamentações da matéria, os demandados efetivaram a anulação dos
empenhos de despesas já realizadas, causando prejuízo ao erário e desenvolvimento do Estado,
conforme auditores estaduais.
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É de todo relevante apropinquar: Com a perda da capacidade de controle, decorrente da


indigitada movimentação de valores públicos, todas as retiradas de recursos das contas vinculadas
devem compor débito a ser recolhido ao Erário.

No caso do contrato em tela, portanto, resta claro a prática, pelo requerido, de atos de
improbidade administrativa, dispostos no art. 10, caput, inciso VI, e art. 11, caput e I, da Lei nº 8.429/92,
senão vejamos:

"Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao


erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda
patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos
bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e
notadamente:" (...)
(…)

VI - realizar operação financeira sem observância das normas legais e


regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea
(...)
"Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os
princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os
deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições, e notadamente:" (...)
" I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso
daquele previsto, na regra de competência; "
(grifos acrescidos)

Enquanto não utilizados, os recursos conveniados/contratados devem ser aplicados


em cadernetas de poupança ou em fundos de aplicação financeira, não havendo, pois, possibilidade de
transferência para outras contas do convenente/contratado. Nesse sentido:

Lei Complementar 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal):

Art. 35. É vedada a realização de operação de crédito entre um ente da Federa-


ção, diretamente ou por intermédio de fundo, autarquia, fundação ou empresa estatal dependente, e
outro, inclusive suas entidades da administração indireta, ainda que sob a forma de novação,
refinanciamento ou postergação de dívida contraída anteriormente.
§ 1o Excetuam-se da vedação a que se refere o caput as operações entre institui-
ção financeira estatal e outro ente da Federação, inclusive suas entidades da administração indireta, que
não se destinem a:
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I - financiar, direta ou indiretamente, despesas correntes.

VI- DA INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS

O TCU através do Acordão 2490/18, acolheu parcialmente a Representação que denunciara


os fatos aqui narrrados. Em relação ao primeiro aspecto, reconheceu a irregularidade da transferência
irregular dos recursos financeiros para a Conta Única, fato que restou incontroverso pelo
reconhecimento dos próprios requeridos (Item 7 do voto do relator, doc anexo).

Já em relação ao desvio de finalidade dos recursos destinados originalmente às


despesas de capital para pagamento de despesas pretéritas, decidiu a Corte de Contas: aceitar a
irregularidade, em caráter excepcional, sob os frágeis argumentos , com a vênia devida , primeiro sob
o fundamento de que não havia previsão contratual expressa proibindo ; segundo ,havia normativo na
Caixa que previa tal conduta e que poderia confundir o Estado Contratante.

Ora Exa., antes de adentrar ao suprassumo jurídico, o ponto de vista lógico-razoável requer
que recursos de um empréstimo, máxime envolvendo valores públicos de financiamento, sejam
destinados à despesas futuras, ou seja, posteriores ao contrato, simples assim!

Não bastasse, só se justificaria, juridicamente, na melhor das hipóteses, e ainda sim ilegal,
caso houvesse cláusula permissiva expressa. Isto porque, trata-se de situação excepcional, que
transcende o princípio republicano, em sua vertente accountability, e, portanto, deve ser interpretada
restritivamente, com meandros pré estabelecidos. É bem verdade por outro lado, que esta disposição
de fato não existe, no caso em apreço, fator reconhecido pelo próprio relator.

Para ceifar pensamento contrário, já está ostensivo nesta peça processual, mas não é
demasiado reforçar: Na fase pré-contratual foi retirada, com conhecimento indubitável das partes
contratantes, a cláusula contratual que autorizava o reembolso de despesas pretérias e mesmo após
este fato, foram pagas despesas anteriores ao contrato com recursos dele advindos.

Quanto ao argumento do suposto normativo existente na Caixa que poderia amparar tal
conduta não resiste aos mais comezinhos conhecimentos jurídicos pois tal ato normativo não pode
contrariar lei , nem tem o condão de revogar o negócio juridico em comento , o Contrato, estabelecido
entre as partes envolvidas que não previa tal ato . A prevalecer tal tese se teria duas regras, dois
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tratamentos, para o mesmo Contrato, uma para a primeira parcela e outra para a segunda , uma em
que se pode fazer despesas pretérias, contrariando a lógica e outros não, o que levaria a um absurdo
jurídico. Ademais, ainda que se permitisse as despesas entre a carta cosulta e a assinatura do contrato,
por tal normativo, in casu, várias delas não se tem nem a data de sua realização e ainda com natureza
diversa da prevista no contrato, como atestado pelos auditores.

Não há, portanto, qualquer fator que possa confundir o Estado. Em verdade, o que se
observa são disposições de conduta hialinas que foram deliberadamente desrespeitadas. Ressoa
blasfêmia forense tentar obscurecer disposições simples e precisas com o finto de acobertar condutas
reprováveis do ponto de vista lógico, contratual e jurídico, salvo melhor juízo.

Na enseada do exposto, relavante o mantra sempre repetido em doutrina e jurisprudência:


as instâncias civil, administrativa e penal, ressalvadas hipóteses excepcionais de negativa de autoria e
inexistência do fato, são independentes.

Assim, em que pese decisão do Órgão de Controle Externo (TCU) anuindo a liberação da
parcela remanescente, posteriormente à medida cautelar com conteúdo contraposto, ou seja,
suspendendo a disponibilidade dos recursos, face à magnitude do ilícito e de fundados e reforçados
indícios de desvio dos recursos, o juízo a quo não resta vinculado, de sorte a perquerir, in casu, a
decisum mais adequada, proporcional e necessária, lastreando-se nos dogmas da República e do Estado
Democrático de Direito, máxime a titularidade difusa do patrimônio público.

Subsidia-nos a mens legis ( Lei 8.429/92) e a jurisprudência pátria, in verbis:

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas


previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de
improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas
isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato

Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe

I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo quanto à


pena de ressarcimento
II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle interno ou
pelo Tribunal ou Conselho de Contas

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE IMPROBIDADE.


RECEBIMENTO DA INICIAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. APROVAÇÃO DAS
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CONTAS PELO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. ART. 21, INC. II, DA LEI Nº
8.429/92. NÃO VINCULAÇÃO FRENTE AO PODER JUDICIÁRIO. POSSIBILIDADE
DE IMPUGNAÇÃO VIA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. FALTA DE
PREQUESTIONAMENTO (ARTS. 267, INCS. I e VI e 295, INC. I E PAR. ÚNICO,
INCS. I e III, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL). INOVAÇÃO EM SEDE DE
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. 1. O Controle exercido pelo Tribunal de
Contas, não é jurisdicional, por isso que não há qualquer vinculação da
decisão proferida pelo órgão de controle e a possibilidade de ser o ato
impugnado em sede de ação de improbidade administrativa, sujeita ao
controle do Poder Judiciário, consoante expressa previsão do art. 21, inc. II,
da Lei nº 8.429/92. Precedentes: REsp 285305/DF, Primeira Turma, julgado
em 20/11/2007, DJ 13/12/2007 p. 323; REsp 880662/MG, Segunda Turma,
julgado em 15/02/2007, DJ 01/03/2007 p. 255; REsp 1038762/RJ, Segunda
Turma, julgado em 18/08/2009, DJe 31/08/2009. 2. Deveras, a atividade do
Tribunal de Contas da União denominada de Controle Externo, que auxilia
o Congresso Nacional na fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial da União e das entidades da administração
direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade,
aplicação das subvenções e renúncia de receitas, é revestida de caráter
opinativo, razão pela qual não vincula a atuação do sujeito ativo da ação
civil de improbidade administrativa.

A natureza do Tribunal de Contas de órgão de controle auxiliar do Poder


Legislativo, decorre que sua atividade é meramente fiscalizadora e suas
decisões têm caráter técnico-administrativo, não encerrando atividade
judicante, o que resulta na impossibilidade de suas decisões produzirem
coisa julgada e, por consequência não vincula a atuação do Poder
Judiciário, sendo passíveis de revisão por este Poder, máxime em face
do Princípio Constitucional da Inafastabilidade do Controle Jurisdicional,
à luz do art. 5º, inc. XXXV, da CF/88.

VI- DA CUMULAÇÃO DE PEDIDOS

A presente demanda visa a obter a condenação dos demandados às sanções da Lei nº 8.429/92 e
ao cumprimento de obrigação de fazer e não fazer.

Há, portanto, cumulação de pedidos, na forma do art. 327 do Código de Processo Civil. 1

1Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos,
ainda que entre eles não haja conexão. § 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação que: I -
os pedidos sejam compatíveis entre si ; II - seja competente para conhecer deles o mesmo
juízo; III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.
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Embora a Lei nº 8.429/92 preveja a notificação para manifestação por escrito antes do recebi-
mento da petição inicial, não há óbice para processamento conjunto dos pedidos, na medida em que o
demandado poderá ser citado para todos eles no mesmo momento, com a apresentação de uma peça
de defesa una, realizando-se, em seguida, a instrução e o julgamento simultâneos. Com efeito, os atos
que subsidiam os pedidos são os mesmos, gerando responsabilidade civil para o passado e obrigação de
fazer e não fazer para o presente e o futuro.

Importante destacar que a Lei nº 8.429/92 (LIA), em conjunto com a Lei nº 7.347/85 (ACP), a Lei n°
4.717/65 (Ação Popular), a Lei nº 12.016/2009 (MS Coletivo) e a Lei nº 8078/90 (CDC), compõem um mi-
crossistema de tutela dos interesses transindividuais, interpenetrando-se e subsidiando-se.

A lição doutrinária de Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves (Improbidade Administrativa,


Lumen Juris, p. 528-530) é convergente neste sentido:

Em resumo: por ser a defesa do patrimônio público, objeto da lei de


improbidade, um interesse difuso, incidirá a técnica de tutela previs-
ta na lei n.º 7.437/85, sendo de menor importância a definição do 'no-
men iuris' da ação como também o próprio procedimento a ser ado-
tado, que, atualmente, é o previsto no art. 17 da lei n.º 8.429/92, com
a redação dada pelas Medidas Provisórias n.º 2.088 e 2.225.
Mancuso, partindo de uma peculiaridade da tutela dos interesses di-
fusos, propõe a existência de um “(...) regime integrado de mútua
complementariedade entre as diversas ações exercitáveis na jurisdi-
ção coletiva: a ação civil pública 'recepcionou' a ação popular, ao in-
vocá-la expressamente no caput do art. 1º da Lei 7.347/85; a parte
processual do CDC (título III da lei 8.078/90) é de se aplicar, no que for
cabível, à ação civil pública (art. 21 da lei 7.437/85); outras ações po-
dem ser exercidas no trato de matéria integrante do universo coleti-
vo (arts. 83 e 90 do CDC); finalmente, 'fechando o circuito', o CPC apa-
rece como fonte subsidiária (CDC, art. 90; lei 7.347/85, art. 19; LAP,
art. 22).”
Como visto, é cabível o manejo da ação civil pública no campo da
improbidade, incidindo as regras processuais previstas na lei n.º
7347/85 'por ser a tutela do patrimônio público um interesse difuso',
constatação que serve de polo metodológico à solução de intricadas
questões processuais no campo do que ora nos ocupamos.2 Sem pre-
juízo, evidentemente, da aplicação das regras processuais contidas
na própria lei n.º 8.429/92 que, a nosso juízo, em momento algum

2 Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de
fazer ou não fazer.
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põem em choque com a normativa contida na lei da ação civil públi-


ca.
Mais ainda: considerando-se o 'regime integrado de mútua comple-
mentariedade' a que alude o jurista acima referido, e, também, que
no sistema brasileiro a ação popular igualmente se volta – e sempre
se voltou – à tutela do patrimônio público e da moralidade adminis-
trativa (art. 5º, LXXIII, da Constituição Federal), tudo recomenda a
aplicação supletiva das regras processuais contidas na lei n.º
4.717/65, conclusão que se vê reforçada pelo próprio art. 17, § 3º, da
lei de improbidade, com a redação dada pela lei n.º 9.366/96. Consi-
deramos possível, assim, a incidência não só do § 3º do art. 6º da lei
da ação popular, como também do § 4º do mesmo dispositivo; do
art. 7 º, I, b, e III ('modus in rebus'); do art. 9º ('modus in rebus'); dos
arts. 14 e 17, o que será devidamente analisado nos capítulos seguin-
tes.

É consensus omnium a cumulação de pedidos em ações civis públicas, inclusive em ações de im-
probidade administrativa, sendo amplamente admitida pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme
demonstram os seguintes precedentes:

SÚMULA N. 7 DO STJ. PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS N.282 E N. 356/STF. LEI


N. 8.437/92. OITIVA PRÉVIA DO ENTE PÚBLICO QUE NÃO FAZ PARTE DO POLO
PASSIVO. DESNECESSIDADE. ELEMENTO SUBJETIVO. DOLO CARACTERIZADO. VI-
OLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE. PRECEDENTES. REVISÃO DA
DOSIMETRIA DAS PENAS. IMPOSSIBILIDADE REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA. SÚMULA N. 7/STJ. [...]
2. A jurisprudência desta Corte firmou entendimento no sentido de que "é
cabível a propositura de ação civil pública que tenha como fundamento a
prática de ato de improbidade administrativa, tendo em vista a natureza di-
fusa do interesse tutelado. Também mostra-se lícita a cumulação de pedidos
de natureza condenatória, declaratória e constitutiva nesta ação, porque sus-
tentada nas disposições da Lei n. 8.429/92"
3. A cumulação de pedidos em ação civil pública calcada na Lei de Impro-
bidade é adotada no ordenamento jurídico, nos termos assentados por esta
Corte, verbis: 1. O Ministério Público é parte legítima para ajuizar ação civil
pública que vise aplicar as sanções previstas na Lei de Improbidade Administra-
tiva. 2. A ação civil pública é meio processual adequado para buscar a respon-
sabilização do agente público nos termos da Lei de Improbidade Administra-
tiva, sendo também possível a cumulação de pedidos. 3. O recurso especial in-
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terposto antes do julgamento dos embargos infringentes é intempestivo.


(REsp 757.595/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA). Precedente.

“PROCESSO CIVIL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MIN-


ISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE. CUMULAÇÃO DE PEDIDOS. (...) 2. A ação civil
pública é meio processual adequado para buscar a responsabilização do
agente público nos termos da Lei de Improbidade Administrativa, sendo tam-
bém possível a cumulação de pedidos. (...).” (STJ - REsp 944295 / SP – Segunda
Turma – Relator: Ministro CASTRO MEIRA – Publicação: 18/09/2007).

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE AD-


MINISTRATIVA. COMPATIBILIDADE DAS AÇÕES.
1. É Cabível a propositura de ação civil pública que tenha como fundamento a
prática de atyo de improbidade administrativa, tendo em vista a natureza di-
fusa do interesse tutelado. Também mostra-se lícita a cumulação de pedidos
de natureza condenatória, declaratória e constitutiva nesta ação, porque sus-
tentada nas disposições da Lei 8.429/92.
2. Recurso Especial conhecido parcialmente e improvido ( Resp 516190/MA
Min. João Otávio de Noronha, DJ 26.03.2007

É de se ressaltar a percuciente lição do Ministro Relator Castro Meira no Resp 944295 SP,
quando da análise da temática in voga, verbis:

Melhor sorte também não merece o recurso do particular. Sem dúvida há le-
gitimidade e interesse jurídico do Ministério Público para ajuizar ações civis
públicas por ato de improbidade administrativa em qualquer de suas modali-
dades enriquecimento ilícito, dano ao erário ou atentado aos princípios da Ad-
ministração Pública, e não apenas quando tenha havido dano ao erário, bem
como também é pacífico o entendimento pela possibilidade de ajuizamento
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de ação civil pública que vise aplicar as sanções da Lei de Improbidade Ad-
ministrativa, não havendo qualquer equívoco em face da existência de pedi-
dos cumulados.

Diante da possibilidade de veicular pretensões diversas em um mesmo processo, todas


fundadas no mesmo substrato fático, os princípios da economia processual e da eficiência impõem a
racionalização da atividade estatal, de forma a evitar a instauração de dois ou mais procedimentos, com
complexas e onerosas atividades em cada um deles, quando se pode obter todo o resultado útil em ape-
nas um.

VI- DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA EM CARÁTER LIMINAR – OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO


FAZER

Como clarividente alhures, ante a transgressão dos gestores públicos, foram expedidas, em
situações semelhantes, - eufemisticamente exarando, para não dizer idênticas- recomendações pelo
Ministério Público Federal, proferida decisão judicial com mandamento proibitório (desde 2011),
condenação pelo TCU e pela Justiça Federal de 1º grau e, ainda assim, o Estado do Piauí, por meio de
seus representantes legais inquinados ao polo passivo desta inicial, insistem permanecer em situação
afrontosa ao direito, o que reclama a adoção de tutela de urgência, nos termos da Lei de Ação Civil
Pública ( art.12, da Lei nº 7.347/85), da Lei de Ação Popular ( art.5º, §4º, da Lei nº 4.717/65) e do Novo
Código de Processo Civil ( art. 300, da Lei nº 13.105/2015).

No caso em tela, todos os requisitos exigidos pela lei processual para o deferimento da tutela
de urgência encontram-se reunidos.

O fumus boni juris3 salta aos olhos pela simples análise do acervo probatório que instrui a
presente ação, a demonstrar a reiterada e generalizada utilização de recursos de aplicação vinculada em
finalidade diversa, por meio de mescla orçamentária na Conta Única do Estado, na qual transitam

3Conforme ensina Fredie Didier Jr., é possível reconhecer a existência de três características essenciais na tutela pro -
visória, quais sejam: a) sumariedade da cognição; b) precariedade; e c) inaptidão para a formação de coisa julgada

DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão,
precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela / Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria
de Oliveira – 10. ed. – Salvador: Ed. Jus Podivm, 2015. p. 568.
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disponibilidades financeiras de diversas espécies, fator, de per si, suficiente para impedir a atuação dos
órgãos de controle externo, em verdadeira valsa orçamentária que tergiversa o Decreto Estadual n º
17.404/2017 , art. 167, X, da Constituição Federal, art. 35, §1º, I, da LRF E art. 31 do Contrato. Em arremate,
se não bastasse o já aludido, ratifica-nos a anulação irregular de empenhos referentes a despesas já
realizadas, em afronta à Lei 4.320/1964.

O periculum in mora, perigo de dano, de igual sorte, é facilmente percebido, na medida em que a
maleabilidade indevida dos valores do empréstimo impedem a aferição de sua aplicação nas finalidades
estritamente exigidas e constantes no contrato, assinado de próprio punho pelos demandados. Pensar
em sentido contrário, é chancelar a teratológica possibilidade de que o Estado do Piauí, através de seus
representantes, continue a manejar os valores de forma absolutamente discricionária, subvertendo
parêmias básicas do ordenamento jurídico brasileiro: legalidade, impessoalidade, moralidade, eficiência
e publicidade, insculpidas no art. 37, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil.

Outrossim, não é demais frisar que a situação posta viola, frontalmente, a '' Regra de Ouro'' do
Direito Financeiro: vedação de utilização dos recursos de empréstimos para custear despesas correntes,
expressa no art. 167, inciso III, da CF/88 e art.2º, §3º, da Lei Complementar nº 101/2000 ( Lei de
Responsabilidade Fiscal). Isto posto porque, a alocação contábil pelo Estado do Piauí de recursos do
contrato de financiamento em despesas pretéritas ao repasse de sua primeira parcela, sendo que a
maior parte dessas despesas já tinha sido paga com recursos de outras fontes (ordinários estaduais ou
de empréstimos internacionais), é prova cabal de que os recursos foram, em consequência,
efetivamente usados para o pagamento de despesas de qualquer natureza, inclusive correntes.

Necessária se faz a urgência em o Poder Judiciário avocar seu poder-dever geral de tutela e
obstar renitente e execrável obstinação em transgredir mandamentos legais de elevada envergadura
constitucional, porquanto há sérios e graves riscos de dilapidação patrimonial por parte dos
demandados.

Nesta toada, é importante relembrar que o Superior Tribunal de Justiça, sob sistemática de
recursos repetitivos, fixou entendimento de que medidas liminares em ação civil pública por
improbidade administrativa, dada a necessidade de resguardo máximo do interesse público, dispensam
a efetiva comprovação de dilapidação patrimonial, encontrando-se o periculum in mora implícito no
comando do art. 7º da Lei de Improbidade Administrativa.
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Entendimento que, analogicamente, é absolutamente aplicável ao caso sub judice, principalmene


porque envolve um reforço ainda maior de resguardo patrimonial, frente ao elevado valor da transação
financeira, com recursos tipicamente públicos. Ora bem, quem pode o mais, pode o menos. Se há
chancela para decretar indisponibilidade, com mais razão pode-se suspender operação financeira
gravemente alheia aos ditames legais.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. ART. 7º DA


LEI 8.429/1992. VIOLAÇÃO CONFIGURADA. PERICULUM IN MORA
PRESUMIDO. 1. Trata-se, originariamente, de Ação que visa ao
reconhecimento de improbidade administrativa por irregularidade na
prestação de contas referentes ao repasse de recursos financeiros de
verbas destinadas a custear transporte escolar e merenda (PNAE E PNATE),
com prejuízo de aproximadamente R$ 500 mil (valores de outubro de
2009). A indisponibilidade de bens foi indeferida na origem, por ausência de
periculum in mora. 2. Assente na Segunda Turma do STJ o entendimento
de que a decretação de indisponibilidade dos bens não está condicionada
à comprovação de dilapidação efetiva ou iminente de patrimônio,
porquanto visa, justamente, a evitar dilapidação patrimonial. Posição
contrária tornaria difícil, e muitas vezes inócua, a efetivação da Medida
Cautelar em foco. O PERICULUM IN MORA É CONSIDERADO IMPLÍCITO.
Precedentes: Edcl no REsp 1.211.986/MT, Segunda Turma, Rel. Ministro
Herman Benjamin, DJe 9.6.2011; REsp 1319515/ES, Rel. Ministro Napoleão
Nunes Maia Filho, Rel. p/ Acórdão Ministro Mauro Campbell Marques,
Primeira Seção, DJe 21/09/2012; REsp 1.205.119/MT, Segunda Turma, Relator
Ministro Mauro Campbell Marques, Dje 28.10.2010; REsp 1.203.133/MT,
Segunda Turma, Rel. Ministro Castro Meira, DJe 28.10.2010; REsp
1.161.631/PR, Segunda Turma, Rel. Ministro Humberto Martins, DJe
24.8.2010; REsp 1.177.290/MT, Segunda Turma, Relator Ministro Herman
Benjamin, Dje 1.7.2010; REsp 1.177.128/MT, Segunda Turma, Relator Ministro
Herman Benjamin, Dje 16.9.2010; REsp 1.134.638/MT, Segunda Turma,
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Relator Ministra Eliana Calmon, Dje 23.11.2009. 3. Recurso Especial provido


para conceder a medida de indisponibilidade de bens. (REsp 1343371 AM
2012/0189961-5, relator Ministro Herman Benjamin)

No tocante à concessão de antecipação de tutela contra o Poder Público, o Supremo Tribunal


Federal já se posicionou sobre a sua aplicabilidade, inclusive com a utilização astreintes. Vejamos:

“TUTELA ANTECIPATÓRIA - POSSIBILIDADE, EM REGRA, DE SUA OUTORGA


CONTRA O PODER PÚBLICO, RESSALVADAS AS LIMITAÇÕES PREVISTAS NO
ART. 1º DA LEI Nº 9.494/97 - VEROSSIMILHANÇA DA PRETENSÃO DE DIREITO MA-
TERIAL - OCORRÊNCIA DE SITUAÇÃO CONFIGURADORA DO "PERICULUM IN
MORA" - ATENDIMENTO, NA ESPÉCIE, DOS PRESSUPOSTOS LEGAIS (CPC, ART.
273, INCISOS I E II) - CONSEQÜENTE DEFERIMENTO, NO CASO, DA ANTECIPAÇÃO
DOS EFEITOS DA TUTELA JURISDICIONAL - LEGITIMIDADE JURÍDICA DA UTILIZA-
ÇÃO DAS "ASTREINTES" CONTRA O PODER PÚBLICO - DOUTRINA - JU-
RISPRUDÊNCIA - DECISÃO REFERENDADA EM MAIOR EXTENSÃO – TUTELA AN-
TECIPATÓRIA INTEGRALMENTE DEFERIDA. POSSIBILIDADE JURÍDICO-PROCES-
SUAL DE OUTORGA, CONTRA O PODER PÚBLICO, DE TUTELA ANTECIPATÓRIA. -
O ordenamento positivo brasileiro não impede, em regra, a outorga de ante-
cipação dos efeitos da tutela jurisdicional contra o Poder Público, uma vez
atendidos os pressupostos legais fixados no art. 273, I e II do CPC, na redação
dada pela Lei nº 8.952/94, ressalvadas, no entanto, as situações de pré-ex-
clusão referidas, taxativamente, no art. 1º da Lei nº 9.494/97, cuja validade
constitucional foi integralmente confirmada, pelo Supremo Tribunal Federal,
no julgamento da ADC 4/DF, Rel. p/ o acórdão Min. CELSO DE MELLO. Existên-
cia, no caso, de decisão do Supremo Tribunal Federal que reconheceu, em fa-
vor do menor impúbere, o direito em seu nome vindicado. Ocorrência, ainda,
de situação configuradora de "periculum in mora" (preservação das necessi-
dades vitais básicas do menor em referência). LEGITIMIDADE JURÍDICA DA IM-
POSIÇÃO, AO PODER PÚBLICO, DAS "ASTREINTES". - Inexiste obstáculo ju-
rídico-processual à utilização, contra entidades de direito público, da multa
cominatória prevista no § 5º do art. 461 do CPC. A "astreinte" - que se reveste
de função coercitiva - tem por finalidade específica compelir, legitimamente,
o devedor, mesmo que se cuide do Poder Público, a cumprir o preceito. Dout-
rina. Jurisprudência. (RE 495740 TAR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Se-
gunda Turma, julgado em 02/06/2009, DJe-152 DIVULG 13-08-2009 PUBLIC 14-
08-2009 EMENT VOL-02369-07 PP-01452 RTJ VOL-00214- PP-00526 RT v. 98, n.
889, 2009, p. 186-193 RSJADV out., 2009, p. 56-59)”.
Na vertente em tela, notadamente cabível a antecipação de tutela, porquanto não incide
qualquer vedação elencada no art.1º da Lei 9.494/97.

VII. DA FIXAÇÃO DE MULTA COMO MEDIDA COERCITIVA


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Com efeito, para a garantia da efetividade da prestação jurisdicional, os arts. 11 da Lei nº.
7.347/85, c/c art.84, CDC e art.461, CPC, prevêem a aplicabilidade de multa diária, que tem finalidade
coercitiva ao adimplemento da obrigação. A propósito:

“PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SENTENÇA CONDE-


NATÓRIA. MULTA DIÁRIA (ASTREINTE). CABIMENTO. TUTELA ADEQUADA E
EFETIVA DOS INTERESSES DIFUSOS. AUSÊNCIA DE INGERÊNCIA DO PODER JU-
DICIÁRIO NAS FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS. (...) A finalidade precípua da
Ação Civil Pública é obter a tutela adequada e efetiva dos interesses metaindi-
viduais, devendo ser assegurada, na medida do possível, a preservação e a
reparação do bem lesado.8. Um dos instrumentos legais para induzir o
cumprimento de obrigações de fazer e de não fazer é a fixação de astreintes
na sentença (art. 461 do CPC, art. 84 do CDC e art. 11 da Lei 7.347/1985).9. O
Poder Judiciário está autorizado a fixar astreintes para assegurar o cumpri-
mento de sua própria decisão, sem prejuízo da atuação dos órgãos adminis-
trativos competentes no exercício do poder de polícia ambiental, razão pela
qual não há falar em indevida ingerência judicial nas funções da Adminis-
tração Pública.10. Diferem, substancial e finalisticamente, a multa coercitiva
judicial (astreintes) e a multa administrativa, bem como outras medidas que
possam ser utilizadas pelo Administrador no exercício de seu poder de polícia.
Primeiro, porque as astreintes não apresentam natureza punitiva (= índole
retrospectiva), mas tão-só persuasiva (= índole prospectiva); segundo,
porque visam a garantir a autoridade e a eficácia da propria decisão judicial,
em nada afetando ou empobrecendo os poderes inerentes à Administração
Pública. 11. Os valores correspondentes à astreinte, por óbvio, somente
poderão ser executados se a Petrobras deixar de atender às obrigações im
postas na sentença.12. Recurso Especial provido.(REsp 947.555/MG, Rel. Min-
istro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/08/2009, DJe
27/04/2011)”.

Para manter a integridade da ordem jurídica e do próprio sistema democrático, sem a


qual restará violada a segurança nas relações jurídicas e haverá o rompimento com o próprio sistema
republicano ( art. 1º, da CRFB/88), ante as obstinadas aventuras financeiras do Governo do Estado,
representado pelos aqui demandados, necessário se faz que o Juízo estabeleça um esgotamento das
medidas de acordo com a razoabilidade. Exemplificando: Estabelece-se um prazo sob pena de multa;
posteriormente aplica-se a multa pessoal aos gestores e à Caixa Econômica Federal (STJ, 2ª Turma, ED
no REsp 847.975/RS, rel. Min. Castro Meira, j. em 24.10.2006, DJ 08.11.2006, pg.179).

Desse modo, conforme as previsões dos arts. 11 e 12, §2º, da Lei de Ação Civil Pública, e
art. 461 do Código de Processo Civil, revela-se cabível, em nome da decisum e da relevância do tema
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discutido, a fixação de multa pessoal aos Agentes Públicos responsáveis pela condução da máquina, em
caso de descumprimento dos mandamentos cautelares ao final subscritos.

VII – DAS SANÇÕES

Constatada a prática de atos de improbidade pelos requeridos, devem incidir as normas


legais de apenação das condutas ímprobas, como decorrência lógica do comando constitucional (art.
37, § 4.º), a saber contido na lei n.º 8.429/92:

“Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas,


previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de
improbidade sujeito às seguintes cominações:” (...)

“II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens
ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta
circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de
cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do
dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios
ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de
cinco anos;

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda


da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos,
pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração
percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
sócio majoritário, pelo prazo de três anos.”

VIII - DOS PEDIDOS

Em conclusão, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL:

a) a concessão liminar de tutela de urgência, inaudita altera parte, para:

i) que os demandados ABSTENHAM-SE imediatamente de transferir os


recursos oriundos do Contrato de Empréstimo nº 04822405-71, para conta
única do tesouro Estadual, devolvendo os valores já repassados que
porventura ainda estejam ali depositados para a conta vinculada do
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Empréstimo ou seja, mantê-los em contas específicas destinadas no


instrumento negocial, sob pena multa.

ii) Que os requeridos se abstenham de fazer pagamentos pretéritos em


descordo com o estabelecido no mencionado contrato e com finalidade
diversa da prevista, sob pena de multa .

IiiI Seja oficiado e determinado ao TCE o envio da cópia integral da


documentação que instrui o Relatório Concomitante no bojo do
proc.025611/2017, bem como da análise da prestação de contas final do
Contrato04882405-71, tão logo seja concluído , nos termos do Art.438 CP.

b) a notificação dos Requeridos para se manifestarem por escrito, no prazo de 15


dias, e que, após tal prazo, em juízo de admissibilidade, seja recebida a presente
demanda, seja intimado ainda a União, para querendo integrar a lide, dando-se
prosseguimento regular ao feito, nos termos do art. 17 caput, § 7º e 9º, da Lei n.º
8.429/92;

c) uma vez recebida a exordial, que seja determinada a citação dos Requeridos nos
endereços mencionados no preâmbulo, para, querendo, oferecer contestação,
sob pena de revelia e confissão.

d) ao final da instrução, sejam confirmadas as tutelas provisórias de urgência


acima requeridas e julgada procedente o pedido objeto da presente ação pra
condenar os Requeridos nas sanções previstas no artigo 12, II e III, da Lei de
Improbidade Administrativa, bem como ao pagamento das despesas processuais;

e) a condenação, em caso de descumprimento das obrigações contidas em


decisão sumária, com fulcro no art. 11, da Lei nº 7.347/85 c/c art.461, da Lei
13.105/2015, em multa diária (astreintes) , a ser fixada pelo prudente arbítrio de
Vossa Excelência.
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Protesta o MPF, ainda, pela produção de provas por todos os meios admitidos em
direito, especialmente a prova documental, testemunhal e pericial.

Dá-se à causa, o valor de R$ 270.600.000,00 ( duzentos e setenta milhões e


seiscentos mil reais)

Termos em que pede deferimento.

Teresina, 04 de Setembro de 2019

KELSTON PINHEIRO LAGES


Procurador da República

ROL DE TESTEMUNHAS
Domingos Sávio de Menezes Araújo
Auditor do TCU- Secex/PI

Frederico Moreira Mastrella de Araújo


Auditor do TCU- Secex/PI

Enrico Ramos de Moura Maggi


Auditor de Controle Externo TCE/PI
97.628-8

Ítalo Gabriel Almeida Rocha


Auditor de Controle Externo TCE/PI
98.109-5

Marcos Vinícius Luz


Auditor de Controle Externo TCE/PI
97.854-X

Sylvio Júlio Alves Parente


Auditor de Controle Externo TCE/PI
98.274-1
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROCURADORIA DA REPÚBLICA NO ESTADO DO PIAUÍ

Leonardo Cesar Santos Chaves


Auditor de Controle Externo TCE/PI
Chefe da III Divisão

Bruno Camargo de Holanda Cavalcanti


Auditor de Controle Externo TCE/PI
Diretor da DFENG

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