SERVIDOR PÚBLICO. CÔMPUTO DE TEMPO DE SERVIÇO PRESTADO NO REGIME CELETISTA EM CONDIÇÕES ESPECIAIS. ATIVIDADE INSALUBRE. PERÍODO ANTERIOR À LEI N. 8.112/90: POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. REPERCUSSÃO GERAL DA QUESTÃO CONSTITUCIONAL: DESNECESSIDADE. INTIMAÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO ANTERIOR A 3.5.2007. RECURSO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO.
Relatório
1. Recurso extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III,
alínea a, da Constituição da República contra o seguinte julgado do Tribunal Regional Federal da 5ª Região:
“CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR
CELETISTA ANTES DO ADVENTO DA LEI N. 8.112/90. POSSIBILIDADE DE CONTAGEM DE TEMPO DE SERVIÇO EXERCIDO EM CONDIÇÕES ESPECIAIS. DECRETOS NS. 53.831/64 E 83.080/79. Servidor que se encontrava sob a égide do regime celetista quando passou a vigorar a Lei n. 8.112/90, tem o direito adquirido à averbação do tempo de serviço prestado em condições penosas, na forma da legislação anterior. Inaplicação do disposto no art. 96, I da Lei n. 8.213/91, porquanto o período de conversão pretendido é anterior a conversão do regime. Remessa oficial improvida” (fl. 77). 2. A Recorrente alega que teria sido contrariado o art. 40, § 1º, da Constituição da República.
Argumenta que “a contagem do tempo de serviço prestado sob condições
insalubres, na proporção prevista no Decreto-lei n. 1.873/81 e nos Decretos ns. 53.831/64 e 83.080/79, nos termos do art. 186, § 2º, da Lei n. 8.112/90, somente será possível quando regulamentado o art. 40, § 4º, da Constituição Federal, portanto, não se há de falar que o autor seja detentor do direito de ver incorporado ao seu patrimônio jurídico o tempo prestado sob condições insalubres, tendo em vista que o referido dispositivo constitucional ainda não foi regulamentado” (fl. 95).
Apreciada a matéria trazida na espécie, DECIDO.
3. Razão jurídica não assiste à Recorrente.
4. Inicialmente, quanto à preliminar de repercussão geral, é de se
anotar que a Recorrente foi intimada do acórdão recorrido antes de 3.5.2007, o que dispensa a demonstração da repercussão geral da questão constitucional em capítulo especial do recurso extraordinário, nos termos do que decidido pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal no Agravo de Instrumento 664.567- QO, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence.
5. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido
de que o servidor público ex-celetista tem direito adquirido à contagem especial do tempo de serviço prestado sob condições insalubres, no período anterior à instituição do regime jurídico único.
Confiram-se, a propósito, os seguintes julgados:
“Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. Servidor
público estadual. Contagem especial do tempo de serviço prestado sob condições insalubres, no período anterior à instituição de regime jurídico único. Regime da Previdência Social. Contagem recíproca. Direito reconhecido. Precedentes. 3. Agravo regimental a que se nega provimento” (RE 408.338-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJe 28.11.2008).
“AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO. SERVIDOR PÚBLICO. TEMPO DE SERVIÇO. CONTAGEM. 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal fixou-se no sentido de que o servidor público, ex-celetista, tem direito à contagem especial de tempo de serviço prestado em condições penosas e insalubres, em período anterior à vigência da Lei n. 8.112/90. Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento” (RE 457.144-AgR, Rel. Min. Eros Grau, Segunda Turma, DJe 14.3.2008).
“1. Servidor público: direito adquirido à contagem especial de
tempo de serviço prestado em condições insalubres, vinculado ao regime geral da previdência, antes de sua transformação em estatutário, para fins de aposentadoria: o cômputo do tempo de serviço e os seus efeitos jurídicos regem-se pela lei vigente quando da sua prestação: incidência, mutatis mutandis, da Súmula 359. 2. O servidor público tem direito à emissão pelo INSS de certidão de tempo de serviço prestado como celetista sob condições de insalubridade, periculosidade e penosidade, com os acréscimos previstos na legislação previdenciária. 3. A autarquia não tem legitimidade para opor resistência à emissão da certidão com fundamento na alegada impossibilidade de sua utilização para a aposentadoria estatutária; requerida esta, apenas a entidade à qual incumba deferi-la é que poderia se opor à sua concessão. 4. Agravo regimental: desprovimento: ausência de prequestionamento do art. 40, III, b, da Constituição Federal (Súmulas 282 e 356), que, ademais, é impertinente ao caso” (RE 463.299-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJe 17.8.2007).
6. Dessa orientação jurisprudencial não divergiu o julgado recorrido.
7. Pelo exposto, nego seguimento ao recurso extraordinário (art. 557, caput, do Código de Processo Civil e art. 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).