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A BIBLIOTECA OUERJ é composta por diversos volumes
em diferentes áreas temáticas. Representa o trabalho de Pesqui-
sa, Magistério, Consultoria, Extensão e Auditoria de inúmeros pro-
fissionais de diversas instituições nacionais e extra-nacionais.
O objetivo da biblioteca é ser útil como instrumentação e base epis-
temológica dos Graduandos, Pós-graduandos e profissionais das
áreas pertinentes aos temas publicados. Por ser um material didá-
tico público poderá ter uso público especialmente para treinamen-
to, formação acadêmica e extensionista de alunos e profissionais.
Evidentemente que cada caso da BIBLIOTECA OUERJ deve ser en-
6
carado dentro de um contexto a que foi inicialmente proposto. Especial-
mente deve-se levar em conta as limitações vigentes do estado d’arte, das
circunstancias e da finalidade inicial a que foi proposta. As derivações
e extrapolações podem ser adotadas desde que não se deixe de vislum-
brar sempre, estes limites de escopo inicial que norteou estes trabalhos.
Nós do OUERJ, agradecemos especialmente aos autores, a todos
os profissionais que compõem os Conselhos Editoriais, Executivos e
Consultivo do OUERJ. Agradecimento especial a REDE SIRIUS e a Pro
Reitoria de Extensão e Cultura da UERJ que possibilita esta publicação.
Diretoria do OUERJ
SUMÁRIO
O QUE SÃO
HEPATITES VIRAIS?
Entende-se por hepatite são bem conhecidas e distin-
os quadros que apresentam uma tas, quanto à etiologia, epide-
alteração difusa no parênquima miologia, evolução, prognóstico
hepático, caracterizadas por uma e profilaxia (KOONIN & DOL-
lesão necroinflamatória dos he- JA, 1993; ZANOTTO et al, 1996).
patócitos, de gravidade variável. O conceito de hepatites
Mesmo apresentando variações virais, que é conhecido desde a
importantes de incidência e pre- época de Hipocrates, só foi estu-
valência, de acordo com a região dado mais cientificamente após
geográfica, as hepatites virais re- os casos ocorridos posterior-
presentam um problema sanitário mente a Segunda Guerra Mun- 9
da maior relevância, em pratica- dial, mais precisamente após a
mente todos os países do mundo. vacinação de trabalhadores do
Agrupadas, muitas vezes, como estaleiro de Bremen (Alemanha)
doença única, em razão da si- contra a varíola (vacina prepa-
milaridade de suas manifesta- rada com linfa humana). Dos
ções clínicas, as hepatites virais trabalhadores vacinados, 15%
são doenças distintas causa- se tornaram ictéricos, sendo evi-
das por diversos vírus que tem dente a associação desta enfer-
o DNA ou RNA como seu ma- midade a um agente de transmis-
terial genético, envelopados e são parenteral (LURMAN, 1885).
não envelopados, com diferen- No inicio do século XX, fo-
tes características funcionais ram relatados surtos de hepa-
e estruturais. Essas entidades tite de “período de longa incu-
bação” (50 a 180 dias), os quais rais da Organização Mundial
foram observados em muitos de Saúde (OMS) e é utilizada
países e foram associados às ate hoje (KRUGMAN, 1989).
transfusões de sangue, ao uso de Embora novos vírus te-
medicação injetável com serin- nham sido isolados e, em al-
gas e agulhas não esterilizadas gum momento, associados as
e a administração de vacina, como hepatites (Huang et al. 2000;
por exemplo, o surto de hepatite/ Hinrichsen et al. 2002) tem-se
icterícia ocorrido entre os milita- como certa, a existência de cinco
res que foram vacinados contra a tipos de hepatites virais de im-
10 febre amarela durante a Segun- portância médica (Tabela 1).
da Guerra Mundial. MacCallum, O vírus da hepatite B foi o pri-
em 1947, designou os termos meiro deles a ser identificado
“vírus da hepatite A” (HAV) e (1970), seguido pelo vírus da he-
“vírus da hepatite B” (HBV) patite A (FEINSTONE et al, 1973),
referindo-se aos supostos vírus da hepatite D (HDV) (RI-
agentes etiológicos das hepa- ZZETO et al, 1977), vírus da he-
tites de período de curta incu- patite E (BALAYAN et al, 1983) e
bação ou infecciosa (18 a 37 vírus da hepatite C (CHOO et al,
dias) e de período de longa in 1989). Outros agentes foram
cubação ou soro-homologa (50 identificados em indivíduos com
a 180 dias), respectivamente. hepatite pós-transfusional não
Esta terminologia foi adotada A-E, porém uma relação cau-
pelo comitê das hepatites vi- sal entre infecção por estes ví-
rus e hepatopatias ainda não pode ser confirmada. Dentre eles, des-
tacam-se o vírus da hepatite G (HGV) (SIMONS et al, 1995), vírus
TT (TTV) (NISHIZAWA et al, 1997) e SEN-V (TANAKA et al, 2001).
11
HEPATITE A
O vírus da hepatite A vem ocorrendo com frequencia.
(HAV) é distribuído mundialmen- Além das pessoas expostas a sur-
te, devido às mudanças epide- tos, e que ingerem água e alimen-
miológicas e os diferentes perfis tos contaminados, pessoas que
de endemicidade a doença é um viajam para áreas endemicas e
problema de saúde pública. Em- homens que fazem sexo com ho-
bora as vias de transmissão se- mens, usuários de drogas e profis-
jam bem compreendidas e exiti- sionais que trabalham com crian-
rem vacinas eficazes e seguras, a ças podem estar em risco se não
epidemiologia esta mudando nos tiverem imunidade contra o HAV.
países com endemicidade inter- O quadro clínico é bem conheci- 17
mediária, onde vem ocorrendo da, na maioria das vezes a doença
um aumento de pessoas sucetí- é autolimitada, mas casos de he-
veis a doença e consequentemen- patite A fulminatante vem sendo
te o aumento no número de sur- descritos na literatura. No esta-
tos. Os focos da doença podem do do Rio de Janeiro, assim como
ser dificeis de serem controlados, nos países em deselvolvimento,
principalmente, devido a casos a prevalência da hepatite A esta
assintomáticos que podem ocor- relacionada com o perfil socio-e-
rer entre as crianças menores conomico da população e com as
de 5 anos de idade. Atualmente, condições de saneamento básico.
a hepatite A esta se deslocando EPIDEMIOLOGIA
para as idades mais avançadas e A epidemiologia da hepati-
casos em adultos e adolescentes te A está intimamente relaciona-
da ao nível de desenvolvimento e saneamento básico, um padrão
econômico, ao grau de saneamen- epidemiológico oposto é verifi-
to básico e as condições de higie- cado, consequentemente existe
ne. Portanto, uma relação inversa um grande número de indivíduos
é encontrada entre o nível socio- suscetíveis, pois a infecção pelo
econômico e a prevalência de an- HAV é totalmente ausente até a
ticorpos anti-HAV. Estes fatores terceira década de vida. Nestes
levam a diferentes padrões epide- países as barreiras ambientais
miológicos de hepatite A. Em po- impedem o contato com o vírus
pulações onde as condições sani- na infância. Na Europa, observa-
18 tárias são inadequadas ou mesmo -se que a prevalência de anticor-
inexistentes, a maioria das crian- pos contra o HAV é baixa em todas
ças se infecta nos primeiros anos as faixas etárias, consequente-
de vida e desenvolve a forma as- mente, há um aumento de casos
sintomática da doença, de manei- clínicos e de casos fatais da do-
ra que, acima dos 10 anos, a po- ença, pois a infecção atinge mais
pulação quase toda já é imune ao a idade adulta, onde a doença se
vírus. Este padrão hiperendêmico desenvolve de forma sintomáti-
é verificado nos países em desen- ca. Em países com economia em
volvimento da Ásia, da África e em transição, como em alguns países
certos locais da América Latina. em desenvolvimento, aonde as
Por outro lado, quando se condições de saneamento bási-
trata de países bem desenvolvi- co e de higiene vêm melhorando
dos, com alto padrão de higiene nas últimas décadas, encontra-
-se um padrão epidemiológico disso, o Brasil apresenta regiões
de endemicidade intermediária. com diferentes padrões de en-
Nestes locais, vem ocor- demicidade. A região com maior
rendo a redução na prevalência soroprevalência para anticorpos
de anti-HAV entre crianças e em anti-HAV em indivíduos com me-
adultos jovens e consequente- nos de 20 anos é a do Norte com
mente o deslocamento da infec- 58,3%, seguido do Centro Oeste
ção pelo HAV para faixas etárias com 54,1%, Nordeste 53,1% e
mais elevadas. Segundo dados do Distrito Federal com 41,6%. Todas
inquérito nacional conduzido em essas regiões foram consideradas
27 capitais das cinco macrorregi- de endemicidade intermediária. 19
ões do Brasil, a prevalência global Já a região Sul apresenta a me-
para a infecção pelo HAV (anti- nor soroprevalência com 30,8%,
-HAV) foi de 39,5% em indivíduos seguido da região Sudeste com
com idade inferior a 20 anos no 32,5%. Estas regiões são consi-
país. O percentual de crianças ex- deradas de baixa endemicidade.
postas ao HAV na faixa etária de 5 Como resultado, uma par-
a 9 foi de 27,0% e de 44,1% para cela cada vez maior da nossa po-
o grupo de 10 a 19 anos. Esses pulação adulta permanece susce-
resultados apontam para o au- tível ao HAV, levando à ocorrência
mento da exposição com a idade de surtos e casos esporádicos,
e colocam o conjunto das capitais uma vez que o vírus não foi eli-
do Brasil como região de inter- minado do ambiente. Sendo as-
mediária endemicidade. Apesar sim, a infecção pelo HAV conti-
nua sendo a forma mais comum codificante presente na extremi-
dentre as hepatites virais agudas. dade 5’ (5’NC), com cerca de 735
nucleotídeos, corresponde a 10%
ESTRUTURA VIRAL do genoma e está covalentemen-
O HAV pertence a fa- te ligada à proteína viral VPg; que
mília Picornaviridae e é o tem importante papel na iniciação
único membro do gênero da tradução e atua como sítio de
Hepatovirus. A partícula viral entrada do ribossoma; 2) uma re-
tem formato icosaédrico, não é gião de leitura aberta que codifica
envelopada e mede aproximada- proteínas estruturais (componen-
20 mente 27 a 32 nm de diâmetro. tes do capsídeo) e não estruturais
As partículas são bastante está- (proteínas importantes para re-
veis no ambiente, especialmente plicação e síntese de novas partí-
quando associadas com matéria culas virais) e 3) uma pequena re-
orgânica, apresentando um ele- gião não codificante presente na
vado grau de resistência a pH extremidade 3’ com cerca de 63
baixos e temperatura elevadas, nucleotídeos a qual é pós-trans-
estas características facilitam a cricionalmente poliadenilada.
transmissão por via fecal-oral e A tradução da região de leitura
água e alimentos contaminado. aberta do genoma do HAV produz
uma poliproteína com cerca de
GENOMA VIRAL 2.225 a 2.227 aminoácidos, a qual
O genoma é dividido em leva à produção de precursores
três regiões: 1) uma região não proteicos denominados P1, P2 e P3.
A região P1 é processada em prote- iniciação do processo de replica-
ínas estruturais VP1, VP2, VP3, e a ção do genoma viral, a proteína
proteína viral VP4, que é essencial 3C é a protease responsável pela
para a formação da partícula viral. clivagem das proteínas, e a pro-
A clivagem das regiões P2 e P3 teína 3D tem a função de RNA
leva à produção de proteínas não polimerase dependente de RNA.
estruturais que estão envolvidas
com o processo de replicação vi-
ral, desenvolvendo funções na
síntese do RNA viral e na etapa de
montagem do virion. Através da 21
clivagem da região P2 são obtidas
as proteínas 2A, que está associa-
da com a morfogênese do nucle-
ocapsídeo, 2B, que está envolvida
com o aumento da permeabilida-
de das membranas celulares e 2C,
envolvida na replicação do geno-
ma viral. A P3 é clivada em qua-
tro proteínas não estruturais, 3A,
3B, 3C e 3D. A proteína 3A é alta-
mente hidrofóbica e tem função
de ancorar as proteínas 3B e 3C.
A proteína 3B é responsável pela
22
Higiene
Como o vírus da hepatite A é transmitida de pessoa para pessoa
por via fecal-oral, bons hábitos de higiene como lavar as mãos após
ir ao banheiro e antes de preparar os alimentos é fundamental para
a prevenção, além de condições sanitárias favoráveis. As pessoas que
viajam para áreas endêmicas devem evitar a exposição à hepatite A,
evitando a ingestão de alimentos mal lavados e água não filtrada.
40
Vacinação
Atualmente existem vacinas atenuadas e inativadas para hepa-
tite A. A vacina atenuada é utilizada na China. As vacinas que são mais
utilizadas e licenciadas na maioria dos países é a inativada. Essas vaci-
nas contêm partículas virais que são produzidas em cultura de células,
purificadas e inativadas com formalina, e adsorvido a um adjuvante de
hidróxido de alumínio. Devido ao lento crescimento do vírus e o bai-
xo titulo em cultura celular a vacina tem um preço elevado. Contudo,
o HAV apresenta apenas um sorotipo, as vacinas inativadas são alta-
mente imunogênicas e protegem contra a infecção. Geralmente a va-
cina é administrada em duas ou três doses dependendo do fabricante.
Os países desenvolvidos recomendam a vacinação contra
hepatite A para as pessoas com maior risco de adquirir a doença,
incluindo os viajantes para re- suscetíveis aumentou considera-
giões de alta endemicidade de velmente nas últimas décadas,
hepatite A, os usuários de dro- existe uma grande discussão
gas ilícitas, pessoas que estão sobre a implementação da vaci-
em maior risco de desenvolver na no calendário infantil devido
a doença fulminante, tais como ao alto custo da vacina, mas es-
pessoas com infecção crônica de tudos tem mostrado que a imu-
HCV. Contudo, nos últimos anos, nização universal impacta favo-
alguns países como Estados ravelmente e que e o ônus com
Unidos adotaram a imunização a doença é maior que os benefí-
universal de crianças e os casos cios da vacina. Na Argentina ape- 41
diminuíram em mais de 95%. nas uma dose foi administrada
Da mesma forma, em Israel, um na vacinação universal, as taxas
país de endemicidade interme- de soroconversão foram satisfa-
diária para o HAV, após a política tórios e esta estratégia pode ser
de vacinação do HAV, foi obser- utilizada em países onde houve
vado em todo o país a diminui- uma transição de alta para bai-
ção na incidência de hepatite xa endemicidade nas últimas
A e nas taxas de casos agudos, décadas e onde o vírus ainda é
graves e fulminante. Nos países encontrado no meio ambiente.
de endemicidade intermediaria No Brasil, a vacina está
onde as condições socioeconô- disponível na rede particular e
micas e sanitárias estão melho- recentemente foi aprovado a in-
rando e o número de indivíduos corporação da vacinada da he-
patite A na rotina nacional do
programa de imunização do sis-
tema único de saúde (SUS). As-
sim como ocorreu nos outros pa-
íses que já adotaram a vacina no
calendário de vacinação infantil
futuramente espera-se uma re-
dução dos casos esporádicos de
hepatite A e nos surtos epidê-
micos. Nos países com alta
42 endemicidade a vacinação não
é recomendada, pois a maioria
da população teve contato com
o vírus na infância e adquiriram
imunidade. Como mencionado
acima, as recomendações para a
vacinação estão diretamente re-
lacionadas a prevalência e inci-
dência da hepatite A; e as mudan-
ças na epidemiologia da doença
pode alterar a perspectiva de fu-
turo sobre a imunização em paí-
ses onde o saneamento está pas-
sando por uma rápida melhora.
PREVENÇÃO DOS Quando um caso clinico é confir-
CASOS SECUNDÁRIOS mado, o caso índice e seus fami-
DE HEPATITE liares devem receber orientação
verbal e escrita sobre a impor-
Caso confirmado tância de lavar as mãos após usar
É o caso que corresponde o banheiro e antes de preparar
à definição de caso clínico (pa- alimentos. É importante que to-
ciente com doença aguda com dos os membros da família prati-
um início discreto dos sintomas quem os hábitos de higiene, pois
e icterícia ou níveis elevados de alguns podem já ter adquirido
aminotransferases) e é confir- a hepatite A e estar excretando 43
mado laboratorialmente (anti- o vírus da hepatite A nas fezes.
corpos anti-HAV IgM reagente). Indivíduos cuja higiene pesso-
al é inadequada (por exemplo,
Caso provável crianças ou pessoas com graves
Pessoa assintomática ou dificuldades de aprendizagem)
com sintomas discretos e que devem ser vigiados para garantir
tem uma relação epidemiológi- que eles lavam as mãos correta-
ca com a pessoa com resultados mente após a defecação. Objetos
laboratoriais confirmados de como copos, talheres, pratos,
hepatite A ou esteve exposta a mamadeira, chupeta devem ser
surto ou alimentos e água con- utilizados apenas pelo doente.
taminada durante os 15-50 dias A pessoa com hepatite A deve
antes de início dos sintomas. ser dispensada do trabalho, da
escola ou creche para evitar a rendo o surto da hepatite A.
disseminação do vírus e surtos
entre os indivíduos suscetíveis.
Uma avaliação deve ser
realizada para tentar identifi-
car a possível fonte de infecção;
por exemplo, história de viagem
à país endêmico ou história de
contato com um caso conhecido
de hepatite A durante o período
44 de incubação, ingestão de água
ou alimento contaminado. Se
nenhuma fonte evidente de in-
fecção for identificada, e o caso
índice frequenta um ambiente
de acolhimento de crianças de
pré-escola ou na escola primá-
ria, a infecção pode ter sido ad-
quirida de uma criança infectada
assintomática. Nestas circuns-
tâncias, podem ser necessárias
medidas de saúde pública no
ambiente onde há suspeita do
foco da infecção onde esta ocor-
PROFILAXIA PRÉ-EXPOSIÇÃO
• A vacinação da hepatite A pré-exposição oferece proteção con-
tra a infecção pelo vírus da hepatite A (HAV). É recomendado para
pessoas que estão em maior risco de infecção e para qualquer pessoa
que pretenda obter imunidade.
• Pessoas que buscam proteção imunológica, mas são alérgicas
aos componentes da vacina devem receber Ig. A administração deve
ser repetida se a proteção é necessária para períodos superiores a
5 meses. Para as pessoas que necessitam de repetidas doses de Ig, o
rastreio do seu estado imunológico é útil para evitar doses desneces-
sárias de Ig.
45
A PROFILAXIA PÓS-EXPOSIÇÃO
• Nas pessoas que tenham sido expostas ao HAV e que não te-
nham sido previamente vacinados deve ser administrada uma dose
de Ig (0.02ml/kg) dentro de duas semanas após a exposição. Pessoas
que receberam uma dose de vacina contra hepatite A pelo menos 2
semanas antes da exposição HAV não precisam receber Ig.
• A vacinação em massa pós - exposição para conter a propagação
de HAV em surtos tem se mostrado eficaz para bloquear a expansão
do surto epidêmico.
• A sorologia de triagem de contatos de pessoas infectadas para
anti-HAV, antes de serem dadas Ig não é recomendada porque a tria-
gem pode atrasar a sua administração.
HEPATITE A onde o poder aquisitivo é maior
NO RIO DE JANEIRO a prevalência é menor. Contudo,
No Rio de Janeiro casos de com as melhorias no saneamen-
hepatite A ocorrem com frequ- to básico, mesmo nas popula-
ência, principalmente durante o ções menos favorecidas encon-
verão, onde as pessoas tem mais tra-se um número elevado de
contato com águas contamina- crianças e jovens sem imunida-
das, observa-se a ocorrência de de prévia ao HAV. Como descrito
surtos intradomiciliares, em cre- anteriormente, a hepatite A é au-
ches, escolas e em comunidades to-limitada e em crianças meno-
46 fechadas. Assim como tem sido res de 5 anos geralmente ocorre
observado no Brasil, o Rio de de forma assintomática; com a
Janeiro vive uma mudança do mudança no perfil epidemioló-
perfil epidemiológico da hepa- gico de alta para médio-baixa
tite A e os casos estão se deslo- endemicidade a doença ocorre
camento para faixas etárias mais em adolescentes e jovens-adul-
elevadas. Como a prevalência da tos onde a maioria dos casos é
doença esta relacionada com os sintomático. Devido ao aumen-
padrões econômicos e de sanea- to de casos agudos também tem
mento básico, é comum observar sido observado casos de hepati-
no Rio de Janeiro padrões de en- te A fulminante no Rio de Janeiro
demicidade diferentes de acordo (<1%). No Rio de Janeiro ocorre
com a população estudada, ge- a cocirculação dos genótipos IA
ralmente nos bairros e cidades e IB, os dois genótipos são en-
contrados no meio ambiente e em e 19 apenas 32,5% das crianças
surtos epidêmicos; contudo, nos e jovens tinham anticorpos anti-
casos esporádicos da doença a -HAV total. De acordo com o Siste-
maioria dos pacientes se infectam ma de notificação de agravos (SI-
com HAV do genótipo IA. Os casos NAN), entre os casos confirmados
de hepatite fulminante podem de hepatite A de 2007 a 2012 na
estar relacionados ao genótipo região sudeste, 34,9% ocorreram
IA ou IB, mostrando que a gravi- no Rio de Janeiro. Com a imple-
dade da doença não esta associa- mentação da vacina no calendá-
da ao genótipo do vírus e sim as rio infantil espera-se que o núme-
características do hospedeiro. ro de casos notificados diminua. 47
Para fins de vigilância epi-
demiológica são considerados
dados confirmados de hepatite A,
os casos notificados de indivídu-
os com anti-HAV IgM confirmado
ou que preencham as condições
de caso suspeito e ou que tenham
vinculo epidemiológico com
caso confirmado de hepatite A.
Em estudo de base popula-
cional foi encontrada uma baixa
prevalência nas capitais da região
Sudeste, entre indivíduos de cinco
48 CAPÍTULO 2
HEPATITE B
A hepatite B é a mais pe- velaram que este “antígeno Aus-
rigosa das hepatites e uma das trália” era relativamente raro na
principais doenças do mundo. Os população da America do Norte e
portadores da hepatite B podem no oeste europeu, porém era pre-
desenvolver doenças hepáticas valente em algumas regiões afri-
graves tais como a cirrose e carci- canas e asiáticas e entre pacien-
noma hepatocelular. O vírus pro- tes com leucemia, síndrome de
voca hepatite aguda em um terço Down e hepatite aguda (BLUM-
dos atingidos, e um em cada mil BERG et al, 1967; BAYER et al,
infectados pode ser vítima de he- 1968). Em 1968 foi estabelecida a
patite fulminante. Em 10% dos correlação entre o antígeno Aus- 49
casos a doença torna-se crôni- trália (agora designado antígeno
ca, sendo esta situação mais fre- de superfície do vírus da hepatite
quente em homens (WHO, 2014). B ou HBsAg) e a infecção pelo ví-
Ao examinar milhares de rus da hepatite B (PRINCE, 1968;
amostras de soro de diferentes OKOCHI & MURAKAMI, 1968).
áreas geográficas do mundo foi Posteriormente, a purificação
observado que uma amostra de do vírus da Hepatite B (HBV)
soro de um aborígene da Austrá- foi realizada a partir do soro de
lia continha um antígeno que re- portadores do HBsAg e a par-
agia especificamente com um an- tícula completa (vírion) foi de-
ticorpo presente no soro de um tectada por microscopia ele-
paciente hemofílico dos Estados trônica (DANE et al, 1970).
Unidos. Estudos posteriores re- O HBV pertence à família
Hepadnaviridae, a qual compreen- Estes portadores crônicos ser-
de um pequeno numero de vírus vem como fonte de infecção para
que compartilham varias caracte- outros indivíduos (WHO, 2014).
rísticas em comum, tais como: o A infecção pelo HBV exibe altas
tamanho, ultraestrutura do vírion, prevalências para o HBsAg (8% a
organização genômica e um me- 15%) no Sudeste asiático, China,
canismo particular de replicação Filipinas, África, bacia amazôni-
do DNA viral. A separação dessa ca e Oriente Médio. Prevalência
família é dada em dois gêneros: intermediaria (2-7%) é observa-
Orthohepadnavirus e Avihepadi- da no leste europeu, Ásia central,
50 navirus; este último representan- Japão, Israel e ex-União Soviética,
do os vírus que infectam as aves enquanto que prevalências baixas
(patos, garças, gansos e cegonhas) (<2%) são encontradas na Amé-
e no primeiro, estão incluídos os rica do Norte, Europa Ocidental,
vírus que infectam os mamíferos Austrália e sul da América Latina
(seres humanos, esquilos, mar- (MARGOLIS et al, 1991).
motas e primatas não-humanos)
(KIDD- LJUNGGREN et al, 2002).
Epidemiologia da infecção
De acordo com a Organi-
zação Mundial de Saúde (OMS)
aproximadamente 240 milhões
de pessoas estão cronicamente
infectadas pelo HBV no mundo.
51
GENÓTIPOS DO HBV
OKAMOTO e colaboradores
(1988) sugeriram que os subtipos
poderiam ser um tipo de classifi- MUTAÇÕES NO
cação das diferentes linhagens do GENOMA DO HBV
A substituição de nucle- O HBV é principalmente
otídeos pode ter importantes encontrado no sangue de indi-
conseqüências na patogênese, víduos infectados. A carga viral
na imunoprofilaxia, na resistên- pode ser maior que dez bilhões
cia aos fármacos e na persistên- de vírions/mililitro de sangue em
cia vírica (NORDER et al, 1992). portadores com sorologia positiva
A taxa de mutação do HBV para o HBeAg. Além disso, o HBV
foi estimada ser entre 1,4 e 3,2 pode ser detectado em outros
x 10-5 substituições/sitio/ano. fluidos corporais, como na urina,
Esta taxa de mutação é mais saliva, fluido nasofaringeano, sê-
62 alta do que a que normalmen- men e fluido menstrual (ALTER
te acontece nos vírus de DNA e et al, 1977; DAVISON et al, 1987).
é mais próxima a certos vírus de A transmissão do HBV ocor-
RNA (OKAMOTO et al, 1987b). re pela exposição vertical, através
A taxa de substituições in da relação sexual, pela exposição
vivo depende de vários fatores. ao sangue ou derivados, pelo trans-
Alguns deles são relativos ao HBV plante de órgão ou tecidos e atra-
(genoma compacto e replicação vés de seringas compartilhadas
por transcrição reversa), alguns ao pelos usuários de drogas intrave-
seu hospedeiro (resposta imune) e nosas (BEASLEY & HWANG, 1987).
outros aos tratamentos antivirais
(KIDD-LJUNGGREN et al, 2002). QUADRO CLÍNICO
A hepatite B pode variar
TRANSMISSÃO desde uma doença aguda autoli-
mitada, até uma forma grave como anorexia e mal-estar geral. Nesta
a hepatite fulminante. Pode, ainda, fase, os doentes podem sentir do-
apresentar um curso crônico com res abdominais difusas, náuseas,
evolução para cirrose hepática intolerância a vários alimentos,
ou, como acontece com os porta- desconforto abdominal e vômitos.
dores sadios, cursará como pato- O aparecimento de icterícia, com
logia com baixíssima ou mesmo colúria e hipocolia fecal (período
nenhuma agressão ao hepatócito. ictérico), ocorre em somente 20%
Cerca de 90-95% dos pacientes dos doentes, sendo a hepatite B
adultos infectados evoluem para uma doença assintomática no res-
a cura, e menos de 1% dos indiví- tante dos casos. Quando aparece a 63
duos desenvolvem uma hepatite icterícia, os sintomas gerais, como
fulminante. Entretanto, crianças febre e mialgias, diminuem de in-
infectadas através de transmissão tensidade. Neste momento se ele-
vertical, apresentam mais de 90% varão os níveis séricos das bilir-
de chance de se tornarem portado- rubinas, principalmente da fração
res crônicos (ALBERTI et al, 1983). direta. As transaminases estarão
O período de incubação da muito elevadas no soro, expres-
hepatite B é de 50-180 dias, com sando a ocorrência de lesões he-
média de 75 dias. Após este tem- patocíticas. Este quadro ictérico
po inicia-se o chamado período costuma durar cerca de 20 dias ou
prodrômico (pre-ictérico), que mais, e pode, às vezes, provocar
dura vários dias e se caracteriza pruridos cutâneos. O período de
pelo aparecimento de fraqueza, convalescência dura, em media, de
20 a 30 dias (MCINTYRE, 1990). (HOLLINGER & LIANG, 2001). No
Brasil, a vacina contra hepatite B
PREVENÇÃO E foi implementada em 1992. A mes-
TRATAMENTO ma faz parte do calendário infantil
A prevenção da hepatite B de imunizações do Ministério da
visa reduzir os casos de hepatite, Saúde e está disponibilizada nos
tanto aguda quanto crônica e, con- postos de saúde para pessoas até
seqüentemente, as complicações 37 anos e a indivíduos sob espe-
desencadeadas pelo agravamento cial risco em qualquer faixa etária.
desta infecção. Estes fatores de- Os objetivos do tratamento
64 pendem da seleção e controle de de pacientes infectados pelo HBV
doadores de sangue, sêmen, teci- são: reduzir o nível de viremia e
dos e da educação da população a melhora da disfunção hepática.
em relação às formas de trans- Atualmente existem dois tipos de
missão, através de programas de tratamento para a infecção pelo
conscientização e treinamento de HBV: interferon e os antivirais.
profissionais de saúde. O modo Pelo fato do HBV não codificar
mais eficaz de prevenir a hepatite sua própria protease ou integrase
B e através das vacinas, incluindo (como no HIV) e que o seu meca-
programas de vacinação que en- nismo primário é precariamen-
globam crianças e adolescentes em te entendido, a polimerase viral
todo mundo, além de adultos que torna-se o alvo mais importante
constituam uma população sob no desenvolvimento de terapias
especial risco para esta infecção anti-HBV. A polimerase do HBV
é essencial para a replicação vi- difícil para muitos pacientes. Além
ral e o bloqueio de sua atividade do mais, em muitos pacientes
irá interromper a replicação viral ocorre uma lesão hepática aguda
completamente (LEE et al, 2002). durante o uso do medicamento,
freqüentemente, um pouco antes
Interferon ou durante a diminuição do HBe-
Por muitos anos, a admi- Ag (GANEM & PRINCE, 2004).
nistração do Interferon α (IFN-
α) foi o principal instrumento da
terapia. Cerca de 30% dos pa-
cientes que toleraram esse regi- 65
me tiveram a perda do HBeAg, o
desenvolvimento de anticorpos
anti-HBe e o declínio dos níveis Análogos de
séricos das enzimas hepáticas. Nucleosídeos/
Com a soroconversão para anti- Nucleotídeos
-HBe e a normalização dos níveis Na década de 90, a tera-
de ALT a melhora é bem suce- pia contra o HBV teve um gran-
dida depois que a terapia é des- de impacto pelo sucesso das
continuada (WONG et al, 1993). drogas que bloqueiam direta-
No entanto, os efeitos cola- mente a replicação viral. Todas
terais causados pelo tratamento as drogas desenvolvidas até o
com IFN- α (febre, mialgias, trom- momento são análogos de nu-
bocitopenia e depressão) o torna cleotídeo/nucleosídeo que atu-
am na transciptase reversa viral. almente na maioria dos pacien-
tes durante a monoterapia com
Lamivudina lamivudina e que a emergência
A lamivudina (3TC) foi o da resistência é acelerada pelos
primeiro análogo de nucleotídeo altos níveis de replicação viral.
com eficácia contra o HBV, sendo
muito utilizada também contra a Adefovir
infecção causada pelo HIV. Essa Demonstrou boa eficácia
droga pode inibir a atividade RNA contra HBV em pacientes HBe-
e DNA dependente da DNA poli- Ag positivos, com uma redução
66 merase do HBV (BESSESEN et al, média dos níveis séricos do HBV
1999). Atualmente a emergên- DNA. A freqüência de sorocon-
cia da resistência a lamivudina já versão para HBeAg é intensa e há
e bem reconhecida, sendo elas: uma melhora histológica no fíga-
rtV173L, rtL180M e rtM204V/I do (MARCELLIN et al, 2003). A
(BOTTECCHIA et al. 2007). BE- eficiência de inibição de replica-
NHAMOU e colaboradores (1999) ção não só dos mutantes do HBV
encontraram ruptura de viremia resistentes a lamivudina in vitro
relacionada aos “mutantes que es- e in vivo é boa. Foram identifica-
capam” no motivo YMDD em 53% das cepas mutantes, entretanto,
dos pacientes após dois anos de a taxa de desenvolvimento de re-
tratamento. Esse es- sistência é baixa. Após um trata-
tudo indica que esses tipos de mento prolongado, a mutação rt-
mutantes irão ocorrer eventu- N236T foi isolada (ANGUS et al,
2003). Em pacientes infectados que selecionam as mutações rtM-
com o genótipo A2 do HBV e que 250V+rtI169T e II) rtL180M+rt-
possuem o polimorfismo na po- M204V que selecionam as muta-
sição rtL217R, a eficácia do ade- ções rtrtT184+rtS202, as quais
fovir é diminuída Adefovir pos- foram observadas em pacientes
sui uma atividade de resgate em que passaram a utilizar o enteca-
pacientes previamente tratados vir como droga de resgate (XU &
com lamivudina e que possuem CHEN, 2006). Sendo assim, o en-
mutações de resistência a lamivu- tecavir é uma boa opção apenas
dina (BOTTECCHIA et al, 2008b). para pacientes nunca tratados.
Tenofovir 67
Entecavir Possui uma atuação similar
Entecavir é um análogo de tanto em pacientes co-infectados
nucleotídeo deoxyguanina, que (HBV/HIV) quanto em pacientes
inibe a replicação do HBV de 65- mono infectados pelo HBV. O tra-
1.600 vezes a mais que a lamivu- tamento com tenofovir leva a uma
dina (LEVINE et al, 2002). As mu- diminuição da carga viral em 4-6
tações de resistência ao entecavir log, e de 30-100% dos pacientes
só se desenvolvem em cepas que tiveram o HBV DNA indetectável
contenham mutações pré-existen- por PCR a partir da 24a semana de
tes de resistência a lamivudina. As tratamento (WONG & LOK, 2006).
mutações relacionadas ao enteca- AMINI-BAVIL-OLYAEE e co-
vir são divididas em dois grupos: laboradores (2009) descreveram
I) rtV173L+rtL180M+rtM204V que a mutação rtA194T causa re-
sistência ao tenofovir. Essa mu- recombinante que, produzida a
tação é difícil de ser selecionada, partir da técnica de DNA recom-
fazendo com que o tenofovir de- binante para a expressão do HB-
monstre excelentes resultados no sAg em leveduras, tem demons-
tratamento da hepatite B crônica trado uma boa imunogenicidade
e seja o medicamente de primei- contra o HBV. O esquema vacinal
ra escolha para tratar pacientes indicado é de três doses nos me-
previamente tratados ou não. ses 0, 1 e 6 via intramuscular. A
VACINAÇÃO detecção de títulos de anticorpos
A vacina para hepatite B é anti-HBs ≥10UI/L, aparecendo
68 composta principalmente pela de um a dois meses após a última
proteína S do envelope viral e dose, confere imunidade contra o
tem mostrado eficácia, seguran- HBV. Predisposição genética, in-
ça e proteção a todos os subtipos divíduos do sexo masculino, taba-
conhecidos do HBV. A primeira gismo, obesidade, idade superior
vacina foi licenciada no inicio da a 40 anos, tratamento hemodialí-
década de 80 e era produzida tico, infecções pelo HIV e HCV são
a partir de plasma humano de alguns dos fatores que tem sido
portadores crônicos do HBsAg atribuído a uma não-resposta va-
(SZMUNESS et al, 1980). A pos- cinal (ASSAD & FRANCIS, 2000).
sibilidade de transmissão de ou-
tros agentes infecciosos também
transportados pelo sangue moti-
vou o desenvolvimento da vacina
69
CAPÍTULO 3
70
HEPATITE C
ESTRUTURA VIRAL nea e à recepção de derivados
Na década de 70, com o de- do sangue (ALTER et al, 1982).
senvolvimento dos testes soroló- Em 1989, o principal
gicos para a detecção de marca- agente etiológico das hepatites
dores da infecção pelos vírus das NANB foi descrito por Choo e co-
hepatites A e B (HAV e HBV), fo- laboradores (1989) a partir do
ram observados vários casos de isolamento de vários clones de
hepatite por transmissão sanguí- cDNA por meio de hibridações
nea que não eram causadas pelo que se justapunham, utilizando
HAV e HBV (FEINSTONE et al, estudos de clonagem e sequen-
1975) e, assim estabeleceu-se o ciamento genético. Este agen- 71
conceito de hepatite não-A, não-B te foi definido como o vírus da
(NANB). Foi observado que pelo hepatite C (HCV) e classificado
menos 10% das transfusões san- dentro do gênero Hepacivirus,
guíneas resultavam em hepatite na família Flaviviridae (CHOO
NANB (AACH et al, 1991), cau- et al, 1991; SIMMONDS, 2004).
sando dano hepático persistente A partícula viral tem diâmetro
e evoluindo em pelo menos 20% aproximado de 70nm (HE et al,
dos casos para cirrose hepática 1987; SIMMONDS, 2004), estru-
nas infecções crônicas. Além dis- tura tridimensional análoga à
so, uma parcela dos casos ocorria dos Flavivírus e simetria icosaé-
esporadicamente na comunida- drica, com espículas de 6-8 nm
de e não estava associada neces- em sua superfície (PRINCE et al,
sariamente à transfusão sanguí- 1996). As partículas virais apre-
sentam elevada heterogeneidade SENBERG et al, 2001). O envelope
bioquímica pela sua associação lipídico contém duas glicopro-
com anticorpos ou lipoproteí- teínas principais incorporadas a
nas (ROINGEARD et al, 2004). sua estrutura, proteína do enve-
Os vírions podem circular na lope 1 (E1) e 2 (E2) (DRUMMER
corrente sanguínea comple- et al., 2004; VIEYRES et al, 2014).
xados às lipoproteínas de bai- O genoma é constituído por
xa densidade, às imunoglo- uma única fase de leitura aberta
bulinas, ou como partículas (ORF – open reading frame), que
livres (LINDENBACH, 2013). codifica uma poliproteína de cer-
72 ca de 3000 aminoácidos (3010
GENOMA VIRAL – 3033 aa) e durante e após a
O HCV possui estrutura tradução, sofre uma série de cli-
genômica composta por uma vagens por proteases virais e do
fita simples de RNA de polari- hospedeiro produzindo proteínas
dade positiva com aproxima- estruturais (E1, E2 e core) e não
damente 9.400 nucleotídeos estruturais (p7, NS2, NS3, NS4A,
(CHOO et al, 1991; LI et al, 1995). NS4B, NS5A e NS5B) (CHOO et
A análise estrutural do vírus re- al,1991) (Figura 1). Além disso, é
velou que o material genético é flanqueado por duas regiões não
envolto por um nucleocapsideo, traduzidas (RNT): a extremidade
composto principalmente por 5’, que é a mais conservada do ge-
proteínas do core, e ainda protegi- noma viral e contém o sitio inter-
do por um envelope lipídico (RO- no de entrada ribossomal (IRES
– internal ribossome entry site) e a extremidade 3’ que apresenta a
cauda poli-U, critica no início da replicação viral (CHOO et al, 1991).
A poliproteína precursora é clivada em diversas proteínas individuais
mediante a ação de proteases virais e celulares. O segmento amino
terminal da fase de leitura aberta é processado pela peptidase sinal do
hospedeiro para então produzir a proteína do nucleocapsídeo (core),
duas glicoproteínas do envelope (E1 e E2), representando 25% do
genoma localizado na porção aminoterminal. Os 75% restantes co-
difica as proteínas não estruturais p7, NS2, NS3, NS4A, NS4B, NS5A
e NS5B as quais sofrem ação das proteases virais (LOHMANN, 2013).
73
HEPATITE DELTA
O vírus da hepatite D ou inibitório sobre a síntese dos an-
Delta (HDV), descoberto em 1977 tígenos virais do HBV durante a
por Rizzetto e colaboradores é superinfecção, particularmente
reconhecido como o mais pato- sobre o HBsAg e o HBcAg (RIZ-
gênico e infeccioso entre os ví- ZETTO et al, 1977), além de ser
rus hepatotrópicos (PONZETTO o responsável pela exacerbação e
et al, 1987; FONSECA, 1993). Ele agravamento da doença hepática
possui um antígeno denomina- em indivíduos infectados pela he-
do delta (HDAg), que é o compo- patite B (RIZZETTO et al, 1980).
nente interno de uma partícula O HDV está classifica-
virus-like, composta por uma do como a espécie protótipo 101
pequena molécula de RNA e pelo do gênero Deltavirus que, até
HDAg, envoltos pelo antígeno de o momento, é um gênero sepa-
superfície do HBV (HBsAg). Já rado, não sendo classificado ta-
que o HBsAg é essencial para a xonomicamente em nenhuma
entrada nos hepatócitos e disper- família de vírus (ICTV, 2012).
são célula-célula, o HDV só pode
infectar portadores crônicos do EPIDEMIOLOGIA DA
HBV (superinfecção) ou coinfec- INFECÇÃO
tar indivíduos simultaneamente A infecção pelo HDV re-
com o HBV (coinfecção) (RIZZET- presenta um grave problema de
TO et al, 1991). O HDV possui um saúde pública principalmente
poder notável de dominância e em áreas endêmicas para o HBV,
supressão, apresentando efeito estimando-se que aproximada-
mente 18 milhões de pessoas no portadores do HBV. Uma possível
mundo estejam infectadas pelo explicação para o observado seria
HDV (Figura 1). Ser portador crô- 1) o HDV ainda não está difundido
nico da hepatite B é principal fa- nessa população, ou 2) essa popu-
tor epidemiológico, o que poder lação é resistente á infecção pelo
ser observado nas populações HDV (CHEN et al, 1992). Já em
nativas da Amazônia brasileira países com baixa prevalência de
(BENSABATH et al, 1987; FON- infecção pelo HBV, a infecção pelo
SECA et al, 1988; FONSECA et al, HDV ocorre principalmente os
1994; BRAGA et al, 2001), peru- grupos mais suscetíveis (RIZZET-
102 ana (CASEY et al, 1996), vene- TO et al, 1977; FONSECA, 1993).
zuelana (HADLER et al, 1983) e, Estudos europeus mostraram
em determinadas áreas da África uma prevalência maior do que
(LESBORDES et al, 1986). O fato 20% nos indivíduos HBsAg po-
de ser HBsAg positivo também se sitivos. Com um maior conheci-
aplica como fator epidemiológico mento sobre o vírus delta e seu
aos grupos susceptíveis de infec- modo de transmissão, houve a
ção para hepatite B, como os toxi- implementação de medidas pre-
cômanos, os hemodializados e os ventivas como o uso de seringas,
politransfundidos (RIZZETTO et agulhas e material médico des-
al, 1977; FONSECA, 1993). Curio- cartáveis, além da introdução
samente na Ásia a incidência para dos programas de vacinação para
o HDV é baixa, independente de HBV, o que diminuiu signifi-
possuir uma alta prevalência de cativamente a incidência para
cerca de 5 a 10% (GAETA et al, 2000).
Entretanto, estudos demonstram que os imigrantes se-
riam um reservatório residual de HDV no sul da Europa (RI-
ZZETTO & CIANCIO, 2012). Nos Estados Unidos, os usuários
de drogas são uma grande reocupação (KUCIRKA et al, 2010).
103
3,2%
108 3,2%
8,8%
5,7%
110
PREVENÇÃO E
CONTROLE
Uma vez que a infecção
do HDV é relacionada ao HBV,
as estratégias de prevenção são
as mesmas: vacinação para a
hepatite B e a profilaxia pós-
-exposição (HSIEH et al, 2006).
Vacinas profiláticas contra o HDV
ainda estão sendo estudadas. A he-
117
118
CAPÍTULO 5
HEPATITE E
No início da década de patite E, doença causada pelo ví-
80, testes sorológicos desenvol- rus E da hepatite (HEV), classifi-
vidos para o vírus da hepatite A, cação adotada após os referidos
confirmaram a existência de um estudos, foi reconhecida como
novo vírus de transmissão enté- endêmica ou epidêmica em paí-
rica até então desconhecido, as- ses da África, da Ásia e no México
sociado à ocorrência de um surto (PURCELL & EMERSON, 2001).
ocorrido em Nova Déli, Índia, em Em 1997, a descoberta da
1955 (WONG et al, 1980; BRA- circulação do HEV em suínos,
DLEY, 1990). Àquela época, os contribuiu para uma revisão so-
testes realizados demonstraram bre a epidemiologia da hepatite E, 119
que os indivíduos acometidos no visto que, casos autóctones foram
surto, causado por um problema descritos em regiões previamente
de contaminação do abasteci- consideradas livres da circulação
mento de água potável, já eram do HEV (MENG et al,1997). Ao
imunes ao vírus da hepatite A, já longo dos últimos anos, diferen-
bem caracterizado desde 1973. tes espécies foram descritas como
O agente associado à hepatite possíveis reservatórios do HEV, di-
entérica não-A não-B, denomi- namizando a discussão sobre as-
nação adotada desde então, foi pectos epidemiológicos, patogê-
posteriormente caracterizado nicos e clínicos sobre este agente,
através de estudos de caracteri- hoje considerado como único den-
zação morfológica e molecular tre os principais vírus causado-
(REYES, 1990; TAM, 1991). A he- res de hepatite, cuja transmissão
além de entérica pode ser zoonó- coletas seriadas das fezes para ob-
tica (MENG, 2013). Outras formas servação em microscopia e infec-
menos freqüentes de transmis- ção experimental em macacos do
são envolvem a via parenteral e gênero cynomolgus (WONG et al,
a transmissão vertical (KHUROO 1980; BRADLEY, 1990). O HEV foi
et al, 2004; PATRA et al, 2007). caracterizado a partir da detecção
A OMS estima dos 20 mi- de partículas semelhantes a vírus
lhões de casos de hepatite E (VLPs) por imunoeletromicrosco-
anuais, 56000 resultam em óbi- pia (IEM) (BALAYAN et al, 1983).
tos relacionados à complica- O Dr. Balayan já havia sido previa-
120 ções da doença (WHO, 2014). mente exposto ao HAV não apre-
sentou resposta sorológica para
CLASSIFICAÇÃO este vírus nem para o vírus da he-
E MORFOLOGIA patite B (HBV), mas desenvolveu
Em 1983, durante um surto anticorpos para VLPs recupera-
de hepatite entérica não-A não- dos de suas fezes. Inicialmente, o
-B ocorrido próximo a Moscow, o HEV foi classificado na família Ca-
Dr. Balayan realizou o transporte liciviridae devido às semelhanças
de amostras a serem investiga- morfológicas compartilhadas com
das através da autoinfecção por outros membros dessa família. No
ingestão de amostras de fezes de entanto, em 2004, após extensas
pacientes. Nas semanas subse- avaliações de dados obtidos após
qüentes, ele desenvolveu um qua- a caracterização de diferentes
dro agudo de hepatite e realizou genomas, o comitê internacional
de taxonomia viral (ICTV) deter- tos cis regulatórios envolvidos na
minou a criação do gênero he- replicação do genoma viral, na
pevirus e da família Hepeviridae tradução e encapsidação, como
para reclassificação de isolados observado em outros vírus com
do HEV (FAUQUET et al, 2005). genoma constituído de RNA. T
Análises de difração em rês fases abertas de leitura
raio-X demonstraram que o VHE (ORFs), descontínuas e parcial-
apresenta uma partícula não en- mente sobrepostas, organizadas
velopada e esférica, com aproxi- na ordem 5´- ORF1-ORF3-ORF2
madamente 32-34 nm de diâme- -3´ compõem o genoma ((MENG
tro e uma superfície indefinida et al,1997; AHMAD, 2011). A 121
com leves depressões (YAMASHI- ORF1 compõe a maior unidade
TA et al, 2009). O genoma do HEV codificante, é localizada na ex-
consiste de uma fita simples de tremidade 5´ e possui aproxima-
RNA de polaridade positiva com damente 5000 nucleotídeos. As
a presença de cap (7-metilguano- proteínas codificadas estão en-
sina) e de uma cauda poli-A, com volvidas no processo replicativo
aproximadamente 7200 nucleo- do genoma viral como a metil-
tídeos (nt). O genoma viral pos- transferase, uma protease seme-
sui duas regiões não-codificantes lhante à papaína, a helicase e a
(NC) nas extremidades 5´ e 3´, que RNA polimerase RNA dependente
são altamente conservadas e pos- (KOONIN et al, 1992; AGRAWAL
suem 35 e 68-75 nt, respectiva- et al, 2001). Alguns domínios ho-
mente. Estas regiões são elemen- mólogos a outros vírus RNA de
polaridade oriundos de plantas pos (REYES, 1990; MUSHAHWAR
e animais foram identificados na et al, 1996; AHMAD, 2011). Essa
ORF1 (PUDUPAKAM et al, 2011). região é alvo para o desenvolvi-
Uma região não codificante hi- mento de uma vacina, além de
pervariável da ORF1 apresenta codificar outros epítopos secun-
uma diversidade genética signifi- dários na região central da pro-
cativa e pode estar envolvida na teína. A ORF3 codifica para uma
eficiência da replicação do HEV. fosfoproteína capaz de se associar
As diferenças entre geno- ao citoesqueleto da célula, possi-
mas observadas para os variados velmente servindo como sítio de
122 isolados estão concentradas nes- ancoragem (OKAMOTO, 2007).
ta região de hipervariabilidade Além disso, essa proteína pode
(HUANG et al, 2004). A ORF2 co- estar envolvida na interação com
difica uma proteína de 660 ami- a proteína fosfatase quinase ati-
noácidos, única estrutural que vada por mitogênese e outras qui-
compõe o capsídeo viral, e con- nases extracelulares promovendo
têm uma seqüência sinal típica a sobrevivência celular através da
próxima à região 5´ terminal, se- ativação da cascata de sinaliza-
guida de uma região com cargas ção intracelular (KORKAYA et al,
altamente básicas do genoma vi- 2001; NAGASHIMA et al, 2011).
ral. Esta região está envolvida na Apesar de apenas um so-
encapsidação do transcrito genô- rotipo ter sido proposto a va-
mico. A ORF2 é altamente imu- riabilidade entre os isolados do
nogênica e possui diversos epito- VHE é diversa (PURCELL, 1994;
OKAMOTO, 2007). Estes agru- Venezuela e Uruguay e em peque-
pam-se em pelo menos quatro nos surtos em Cuba (ECHEVARRÍA
genótipos principais. As classi- et al, 2013; MIRAZO et al, 2014).
ficações são baseadas na análi- O genótipo 2 possui uma
se de seqüências completas e/ amostra protótipo provenien-
ou parciais (ORF1 e ORF2) (ZA- te de um surto ocorrido no Mé-
NETTI et al, 1999; SCHLAUDER xico em 1986, e outras prove-
& MUSHAHWAR 2001; LU et al, nientes do continente africano
2006). De acordo com a classifi- (Chad e Nigéria) que foram ca-
cação atual, os quatros principais racterizadas nos últimos anos.
genótipos são subdivididos em O genótipo 3, foi determi- 123
subtipos definidos em reconstru- nado quando em 1997, um grupo
ções filogenéticas (LU et al, 2006). dos EUA fez a primeira descrição
O genótipo 1 é subdividido de um isolado do HEV em suínos
em cinco subtipos; 1a-e, o genó- (MENG et al,1997). Este isolado
tipo 2 em dois subtipos; 2a-b, o demonstrou estar relacionado a
genótipo 3 em dez subtipos; 3a-j, casos autóctones de hepatite E
e o genótipo 4 em sete subtipos; aguda nos EUA. Estudos subse-
4a-g. No genótipo 1 estão agrupa- qüentes realizados em áreas não
dos isolados da Ásia e da África endêmicas levaram a caracteri-
associados à ocorrência endêmica zação de outros isolados suínos
e epidêmica da hepatite E nessas e humanos relacionados à uma
regiões. Recentemente, foi iden- mesma região geográfica e tam-
tificado em casos esporádicos na bém classificados nesse genótipo.
O genótipo 4, o mais recen- cionados (HEV -like), e o aumento
te caracterizado, também inclui de novos genótipos ou genogru-
isolados suínos e de casos huma- pos em potencial, tem levantado
nos autóctones, porém com circu- discussão acerca do atual siste-
lação mais restrita à países orien- ma de classificação do gênero
tais do Leste da Ásia e da Europa Hepevirus (OLIVEIRA-FILHO
central (HAKZE-VAN et al, 2011). et al, 2013; SMITH et al, 2013).
A hipótese sobre a trans-
missão zoonótica deste vírus le- ASPECTOS CLÍNICOS
vou a uma série de investigações A hepatite E pode desenvol-
124 da circulação em outras espécies. ver desde quadros assintomáticos
Até 2010, além do HEV suíno, o até quadros de hepatite fulminan-
vírus foi identificado também em te (AGGARWAL, 2011). Em regi-
javalis, cervos e aves. Recente- ões endêmicas, onde circulam os
mente, outros vírus relacionados, genótipos 1 e 2, a taxa de mortali-
denominados HEV -like, foram dade varia de 0,5 a 4%. A maioria
identificados em ratos, coelhos, dos casos é de quadros assinto-
ferrets, visons, raposas, morce- máticos ou associados à hepatite
gos e alces, além de um agente aguda auto-limitada. Nessas regi-
distante relacionado isolado de ões, a taxa de ataque é maior en-
amostras de salmonídeos (MENG, tre jovens e adultos (médias de 30
2011; KUMAR et al, 2013). anos) (KUMAR et al, 2007), sendo
O crescente número de se- um dado peculiar considerando o
qüências do HEV ou de vírus rela- perfil epidemiológico padrão para
doenças de transmissão fecal-oral Em regiões de baixa ende-
em áreas endêmicas. Após um pe- micidade, a maior ocorrência de
ríodo de incubação de 2 a 8 sema- casos se dá entre faixas etárias
nas, o sintomas são observados mais avançadas e indivíduos do
em torno de 20% dos casos e po- sexo masculino. É possível que
dem incluir uma fase prodrômi- este padrão epidemiológico este-
ca com anorexia, hepatomegalia, ja associado à hábitos de consu-
febre, fraqueza e vômito segui- mo (ex: embutidos; carne mal-co-
da de sintomas clássicos como zida) (PAVIO & MANSUY, 2010).
icterícia, acolia fecal e colúria. Embora a hepatite E seja
Além dos sintomas, o au- uma doença aguda, alguns casos 125
mento dos níveis de enzimas he- de persistência do vírus (casos
páticas como bilirrubina, alani- crônicos) vêm sendo descritos
na aminotransferase e aspartase nos últimos anos como associados
aminotransferase é característico à pacientes submetidos ao trata-
da fase aguda da doença (ZHU et al, mento de imunosupressão para
2010; REIN et al, 2012). Durante transplante e também indivíduos
as epidemias quando circulam os imunocomprometidos pela infec-
genótipos 1 e 2, foi observada uma ção do HIV ou por apresentar dis-
taxa de 25% de mortalidade entre túrbios como linfoma ou leucemia
mulheres no terceiro trimestre de (LE COUTRE et al, 2009; SCHLOS-
gestação, associada desenvolvi- SER et al, 2012; KOENECKE et al,
mento de quadros fulminantes da 2012). À exceção desses casos,
hepatite (TANIGUCHI et al, 2009). apenas um caso foi descrito rela-
tando um indivíduo imunocom- período prolongado também po-
petente com hepatite E arrastada dem contribuir para esta manu-
por um ano. Outras complicações tenção (TEO, 2007). A transmis-
como pancreatite e desordens são pessoa-a-pessoa e vertical não
neurológicas também já foram é comum, mas os riscos de infec-
observadas para casos agudos e ção pelo HEV e a mortalidade de
crônicos (DALTON et al, 2008). crianças nascidas de mães infecta-
das pelo HEV é alta (AGGAEWAL &
TRANSMISSÃO NAIK, 1992; TESHALE et al, 2010)
O principal modo de trans- Tendo em vista o curto pe-
126 missão durante os surtos de he- ríodo da fase virêmica da infec-
patite E é a via entérica, em par- ção, admite-se que a probabili-
ticular pela ingestão de água dade de transmissão parenteral
contaminada. Os indivíduos que seja baixa. A ocorrência de trans-
eliminam vírus entericamente missão do HEV por transfusão
durante a fase aguda da doença, de sangue em áreas endêmicas
sintomáticos ou não, são prova- foi demonstrada em receptores
velmente aqueles que mais con- infectados a partir de doadores
tribuem para a manutenção do com infecção subclínica e viremia
vírus no ambiente, com a quanti- (KHUROO et al, 2004; GOTANDA
dade de vírus excretada chegando et al, 2007; TAKEDA et al, 2010).
a 108 cópias de genoma por mi- A transmissão do HEV tem
ligrama de fezes. Indivíduos que sido relatada como associada a
eliminam HEV nas fezes por um veiculação hídrica em grandes
e pequenas epidemias. A co-in- 2010). O HEV permanece infec-
fecção com o vírus da hepatite A cioso mesmo quando submetido a
(HAV) também tem sido relatada temperaturas até 60°C, o que su-
(PURCELL, 1994). As epidemias gere a transmissão pelo consumo
estão associadas aos genótipos 1 de alimentos crus ou mal cozidos
e 2 do HEV. No entanto, o HEV já (YUGO & Meng, 2013). Uma série
foi identificado em amostras de de 29 casos esporádicos de hepa-
esgoto e de água do mar países in- tite E aguda, descritos no Japão,
dustrializados, sendo o genótipo identificou nove pacientes com
3, o principal, podendo ter uma história recente de consumo de
papel significante na transmissão porções de fígado de suíno grelha- 127
entre humanos (CLEMENTE-CA- do (YAZAKI et al, 2003). A pesqui-
SARES et al, 2003; ISHIDA et al, sa pelo HEV-RNA em fígados de
2012; MASCLAUX et al, 2013). A suínos comercializados em mer-
viabilidade do HEV no ambien- cearias próximas às residências
te e em esgoto ainda é desco- dos respectivos pacientes revelou
nhecida (YUGO & Meng, 2013). algumas amostras eram positivas
Atualmente, a hepatite E é para presença do genoma do HEV.
considerada uma doença zoonóti- Um estudo realizado posterior-
ca e transmitida a partir de reser- mente demonstrou que pacien-
vatórios animais, principalmente tes diagnosticados com hepatite
suínos. Nesses casos, a transmis- E possuíam histórico recente de
são está associada aos genótipos consumo de porções de fígado cru
3 e 4 do HEV (TEI et al, 2003; TEO, ou mal cozido de suíno, e metade
destes pacientes também haviam C, CADRANEL et al, 2007).
consumido porções de intesti- Um surto de icterícia em
no de suíno (MIZUO et al, 2005). Cruzeiro foi descrito, durante o
Nos EUA, amostras de fígado qual 33 passageiros estavam in-
de suíno para consumo foram po- fectados pelo HEV. Neste estudo
sitivos para presença do genoma de caso-controle verificou-se que
do vírus. Um estudo experimental o consumo de bivalves era o fa-
demonstrou ainda que as partícu- tor de risco significativo (SAID et
las permaneciam infecciosas sob al, 2009). Moluscos bivalves vêm
aquelas condições de armazena- sendo associados à transmissão
128 mento (FEAGINS et al, 2007). No de vírus entéricos como os ade-
Japão, casos esporádicos de he- novírus, rotavírus, norovírus e ví-
patite E, e casos provenientes de rus da hepatite A (RIGOTTO et al,
surtos foram descritos como as- 2005; SINCERO et al, 2006). Em
sociados à ingestão de carnes de países com boa disponibilidade
javalis e de cervos cruas ou mal de saneamento básico, o papel do
cozidas. (TAMADA et al, 2004). ambiente como fator contribuinte
A transmissão zoonótica a partir para transmissão e manutenção
de contato direto com animais da endemicidade do HEV ainda
também já foi descrita. Fazendei- é pouco esclarecido, ao contrá-
ros, veterinários, e funcionários rio das regiões endêmicas, onde
que manipulem diretamente os esta forma de transmissão já é
animais representam grupos de bem caracterizada e reconhecida
risco (MENG et al, 2002; RENOU (IPPAGUNTA et al, 2007). Estudos
desenvolvidos na Espanha e na crição de novas espécies reser-
Holanda demonstraram a corre- vatórias, revelando um potencial
lação entre amostras de origem problema para saúde pública.
humana, suína e ambiental para
a mesma região geográfica (CLE- EPIDEMIOLOGIA DA
MENTE-CASARES et al, 2009; RU- HEPATITE E NO MUNDO
TJES et al, 2009). Na Espanha, um A hepatite E sempre foi con-
estudo prospectivo demonstrou siderada endêmica ou hiperen-
o impacto das melhorias sani- dêmica em países da Ásia como
tárias na circulação de HAV em Índia e China. A ocorrência da do-
regiões onde programas de vaci- ença está associada à transmissão 129
nação foram estabelecidos desde fecal-oral somente e humanos e
o ano de 1999. No entanto, estas em sua maioria associada ao ge-
medidas não influenciaram a cir- nótipo 1 do HEV. No México, em
culação do HEV, cuja proporção 1986, a partir de um grande sur-
de detecção permaneceu cons- to envolvendo 26 mil indivíduos,
tante nos últimos anos, o que o genótipo 2 foi caracterizado
pode sugerir a sua manutenção classificando o país como endê-
em reservatórios animais (RO- mico. No entanto, o genótipo 2
DRIGUEZ-MANZANO et al, 2010). foi somente observado em casos
O risco de transmissão autóctones em alguns países da
zoonótica do HEV é hoje exten- África ocidental após algumas dé-
sivamente estudado, com a des- cadas (Lu et al, 2006; TEO, 2010).
Em regiões consideradas patite E envolvem viajantes para
não endêmicas, a hepatite E não regiões endêmicas, associados ao
era investigada visto que casos genótipo 1, e casos autóctones, as-
relacionados não eram diagnos- sociados à transmissão zoonótica
ticados. Estudos de soropreva- dos genótipos 3 e 4. A maioria dos
lência realizados demonstraram casos associados à transmissão
que nessas regiões a prevalência zoonótica do VHE são por consu-
de anticorpos contra o VHE era mo de carne crua ou mal cozida de
maior do que se previa para esse suínos, javalis e cervos (COLSON
cenário epidemiológico. Assim, et al, 2010; BERTO et al, 2013).
130 algumas hipóteses surgiram, den- As soroprevalências em áre-
tre elas, a possibilidade de um ví- as endêmicas pode variar de 25 à
rus relacionado estar circulando, 40%, durante epidemias e nas regi-
desvios relacionados à sensibi- ões não endêmicas pode variar de
lidade dos testes desenvolvidos 1 à 4%, podendo chegar até 29%,
para áreas endêmicas, ou mesmo dependendo do estudo realizado
a possibilidade de manutenção do (MUSHAHWAR, 2008; TEO 2009).
vírus em reservatórios animais. A identificação de novos
Esta última foi demonstrada pela reservatórios animais do HEV
primeira vez em 1997 com a ca- está contribuindo para dinami-
racterização do VHE suíno (MENG zação da epidemiologia do vírus
et al, 1997). Portanto, em regiões que tende a ser atualizada ao lon-
consideradas não endêmicas, re- go dos próximos anos (MENG,
latos de casos esporádicos de he- 2000, IZOPET et al, 2012).
131
EPIDEMIOLOGIA DA relatados entre mulheres grávi-
HEPATITE E NAS das na América Latina. A infecção
AMÉRICAS E NO BRASIL pode ser subclínica quando o in-
A primeira evidência de in- divíduo é exposto a pequenos inó-
fecção pelo HEV na América do culos do vírus, permanecendo as-
Sul foi registrada na Venezuela sim não identificado. No entanto,
em 1994 (PUJOL et al, 1994). As esse tipo de infecção pode induzir
diferentes prevalências observa- imunidade parcial, com viremia
das nos estudos de soroprevalên- e eliminação do vírus nas fezes
cia realizados refletem a diversi- (PURDY & KHUDYAKOV, 2011).
132 dade de metodologias utilizadas Surtos da infecção pelo
incluindo diferenças para os crité- HEV foram relatados no México
rios de amostragem (BENDALL et em 1986, no entanto, a preva-
al, 2010). A maioria das prevalên- lência observada para este país
cias observadas para populações não é significantemente supe-
urbanas ou rurais variaram de rior a outros países da América
1% a 10%. Os sintomas da infec- Latina (VELAZQUEZ et al, 1990).
ção aguda pelo HEV não podem Estudos de caracterização
ser distinguidos de outras for- molecular identificaram o único
mas de hepatites virais. A infec- protótipo do genótipo 2ª, porém
ção pelo genótipo 1 do HEV pode estudos subseqüentes demons-
ser grave durante a gravidez, mas traram a circulação do genótipo 3
casos de hepatite fulminante em em 2009. Surtos e casos esporádi-
mulheres grávidas nunca foram cos foram descritos em Cuba. Em
alguns casos, a infecção estava casos autóctones foram associa-
associada a infecção pelo HAV e dos ao genótipo 3 (LOPES DOS
em outros casos foi identificado SANTOS et al, 2010a; MUNNE
o genótipo 1 (MONTALVO et al, et al, 2011; MIRAZO et al, 2011)
2005). Portanto, os genótipos 1, 2 No Brasil, alguns estudos
e 3 podem circular em populações de soroprevalência demonstra-
do México e da região do Caribe. ram a evidência de anticorpos
Recentemente, um estudo anti-HEV em diferentes grupos
realizado na Venezula, confir- populacionais como em minei-
mou a co-circulação dos genóti- ros na Bacia Amazônica (6,1%)
pos 1 e 3 em pacientes positivos (PANG et al, 1995). Em São Paulo, 133
para anti-HEV IgM, em pacientes pacientes submetidos à hemodiá-
menores de 20 anos, também in- lise apresentaram prevalência de
fectados pelo HAV (MONTALVO 4,9% de anti-HEV (FOCACCIA et
et al, 2008). Outros al, 1995). Prevalências de 2% en-
países da América do sul, in- tre doadores de sangue e de 29%
cluindo Argentina, Brasil, Chile, dos casos de hepatite viral aguda
Peru e Uruguay, diagnosticaram foram observadas em Salvador,
pacientes com hepatite E aguda Bahia (PARANA et al, 1999). No
através da detecção de anti-HEV Laboratório de Referência Nacio-
IgM e/ou detecção de HEV RNA. nal para Hepatites Virais / Fio-
Apenas na Argentina, o genóti- cruz / RJ (CRNHV), entre janeiro
po 1 foi identificado em casos de 1994 e dezembro de 1996,
importados. Nos outros países, foram diagnosticados 147 casos
de hepatite viral aguda não A-C, em suínos no Brasil (PAIVA et
com prevalência de anti-HEV de al, 2007). Em seguida, outros
2,1% (TRINTA et al, 2001). No estudos realizados em animais
Rio de Janeiro, foi observada pre- do Rio de Janeiro, Mato Grosso,
valência de 2,4% para anti-HEV Pará e Londrina, demonstraram
na comunidade de Manguinhos a circulação do genótipo 3 nes-
(SANTOS et al, 2002). Estudos sas populações (SANTOS et al,
realizados com usuários de dro- 2009; DE SOUZA et al, 2012).
gas não-injetáveis e injetáveis, As amostras foram classi-
também deste estado, revelaram ficadas entre protótipos de ou-
134 prevalências de 6,5% e 11,8%, tras regiões não-endêmicas onde
respectivamente (TRINTA et al, amostras de casos humanos fo-
2001). Em Londrina, o marcador ram descritas como relaciona-
anti-HEV IgM foi detectado con- das a amostras circulantes em
comitantemente em quatro pa- suínos para uma mesma região
cientes com hepatite A e em um geográfica. No Rio de Janeiro, o
paciente com hepatite aguda não mesmo grupo realizou uma in-
A-C sugerindo a hepatite E como vestigação com 64 amostras de
etiologia provável de alguns ca- soro de casos agudos de hepati-
sos de coinfecção ou de casos não te não A-C atendidos no núcleo
esclarecidos (LYRA et al, 2005). de hepatites virais do Instituto
Um estudo realizado em Oswaldo Cruz, Fiocruz. Dentre
São Paulo demonstrou pela pri- as amostras, foi identificado um
meira vez a circulação do HEV paciente que apresentou soro-
conversão (anti-HEV IgM) e vi- com outros estudos de soro-
remia, sendo a amostra deste epidemiológicos e moleculares.
paciente também classificada no
genótipo 3 (LOPES DOS SANTOS DIAGNÓSTICO
et al, 2010a). Na análise filoge- O diagnóstico de HEV é
nética, esta amostra demonstrou baseado na detecção de anticor-
estar relacionada a amostras de pos específicos (IgM e IgG), mas
suínos. Esta foi a primeira vez a sensibilidade e especificidade
em que se comprovou um caso dos diferentes testes comerciais
agudo de hepatite E no Brasil disponíveis não são otimizadas.
e sua associação com amostras Técnicas de amplificação do ge- 135
de suínos pode sugerir a trans- noma (HEV RNA) também po-
missão zoonótica deste vírus no dem ser utilizadas como diag-
país. Recentemente, foi descrito nóstico. Esta abordagem pode
um caso de hepatite E crônica identificar casos agudos, além
em uma criança transplantada de confirmar resultados soro-
que apresentava aumento recor- lógicos. Diversos ensaios com
rente dos níveis de enzimas he- essa abordagem foram descri-
páticas e rejeição celular aguda tos para detecção do HEV RNA
(PASSOS-CASTILHO et al, 2014). em amostras de soro, plasma
Apesar do dados cres- ou amostras fecais: reação em
centes, a epidemiologia da he- cadeia da polimerase precedida
patite E no Brasil ainda possui por transcrição reversa (RT-P-
lacunas a serem preenchidas CR), nested-PCR; PCR em tempo
real, e amplificação isotérmica. por 2 semanas após o início dos
Os diferentes protocolos incluem sintomas e o anti-HEV IgG é de-
ensaios genéricos estabelecidos tectável logo após o aparecimen-
para a detecção dos genótipos tos do anti-HEV IgM. O anti-HEV
1-4. Embora, atualmente, haja IgG pode permanecer por até 14
mais dados sobre a epidemiolo- anos após a infecção. Os testes
gia e patogênese do HEV, alguns comerciais apresentam uma va-
fluxogramas de diagnóstico fo- riabilidade significativa em ter-
ram propostos e o critério de pa- mos de sensibilidade e especi-
dronização ainda é crítico. Ain- ficidade, o que pode justificar a
136 da não é existente um consenso discrepância entre os estudos de
sobre as melhores metodologias soroprevalência. A freqüência de
para pesquisas sorológicas e resultados falso positivos de tes-
diagnósticas de infecção aguda. tes para detecção de IgM pode al-
A partir de dados obtidos cançar 2,5% e isso se deve ao fato
de casos agudos esporádicos e de de que as metodologias de diag-
surtos, é sabido que o anti-HEV nóstico serem baseadas em antí-
IgM é detectável 4 dias após o genos genótipo específicos. Ape-
aparecimento dos sintomas e sar da variabilidade genética que
permanece por até 5 meses. No leva a modificações importantes
entanto, reações positivas ro- em sítios antigênicos, os 4 genó-
bustas são raras após 3 meses. tipos compartilham domínios de
Em média, 90% dos pacientes reação cruzada na proteína cons-
possui anti-HEV IgM detectável tituinte do capsídeo (ORF2). Em
geral, os testes incluem antígenos como Epstein-Barr (EBV) e Cito-
ou peptídeos imunodominantes megalovírus (CMV). O diagnós-
das regiões da ORF2 e ORF3 para tico de infecção aguda pelo HEV
detecção de imunoglubulinas de utilizando testes comerciais em
diferentes classes. Recentemen- casos de pacientes imunocom-
te, os testes desenvolvidos são prometidos pela infecção pelo
baseados na expressão da prote- HIV, quadros de linfoma ou leu-
ína da ORF2 em sistemas recom- cemia, e também doadores de ór-
binantes como de baculovirus gãos, deve ser avaliado de forma
ou Escherichia coli. Embora essa criteriosa considerando que nes-
abordagem tenha aprimorado a ses pacientes a soroconversão 137
sensibilidade, a especificidade pode ser tardia ou mesmo au-
ainda precisa ser avaliada espe- sente. Alguns estudos demons-
cialmente considerando aqueles traram que testes para detecção
testes utilizados em regiões de de IgM apresentaram maior sen-
baixa endemicidade, onde a fre- sibilidade e especificidade com-
qüência de resultados IgM falso parados a testes voltados para
positivos é maior. Além das in- detecção IgG nesses grupos. En-
consistências observadas para tretanto, a detecção molecular de
sensibilidade e especificidade HEV RNA ainda é essencial para o
dos diferentes testes, a reativi- diagnóstico de um quadro agudo.
dade cruzada dos testes para De um modo geral, a utili-
detecção do IgM foi observada zação de técnicas para detecção
para outros vírus hepatotrópicos de HEV RNA como marcador de
infecção aguda ainda é um tema ção dos 4 genótipos conhecidos
de discussão considerando a va- já foram descritas, mas também
riabilidade no desempenho dos apresentam grande variabilida-
diferentes testes sorológicos. de, em especial, as técnicas não
No entanto, a sensibilidade para comerciais (“in-house”). Esse
detecção do RNA viral depen- fato se dá especialmente porque
de de fatores como o momento os protocolos não são padroni-
da coleta (estágio da infecção), zados considerando as diferen-
transporte e armazenamento da tes regiões do genoma utilizadas
amostra. A infecção pelo HEV para o rastreamento. R e c e n -
138 não pode então ser excluída caso temente, a organização mundial
o genoma não seja detectado. A de saúde desenvolveu um estudo
detecção do HEV RNA em amos- para seleção de padrões interna-
tras biológicas é o padrão-ouro cionais a serem utilizados em en-
para confirmação de casos agu- saios moleculares para detecção
dos de hepatite E, uma vez que, do HEV RNA. Após a seleção de
as técnicas de detecção de ácido alguns candidatos, estes foram
nucléico podem de forma acura- utilizados para validação de kits
da identificar uma infecção cor- comerciais desenvolvidos para
rente. No entanto, o custo dessas detecção de HEV RNA. Os padrões
técnicas restringe sua aplicação foram selecionados por repre-
em uma rotina laboratorial de sentarem a maioria dos subtipos
diagnóstico. Técnicas com dife- do genótipo 3 circulantes em pa-
rentes abordagens para detec- íses industrializados. No entanto,
também nesse caso, a variabili- e evitar a necessidade de trans-
dade observada para a sensibili- plante (PÉRON et al, 2011). Atu-
dade entre esses ensaios, realça a almente, o transplante de fígado
necessidade da padronização de é a única opção de tratamento
metodologias genótipo específi- validado para pacientes com
cas e o desenvolvimento de pro- falência hepática fulminante.
tocolos capazes de detectar todos Medidas profiláticas para
os genótipos existentes do HEV. se evitar a infecção pelo HEV, es-
pecialmente em grupos de risco
PREVENÇÃO E como mulheres grávidas, indi-
CONTROLE víduos imunocomprometidos, e 139
A hepatite E é uma doen- indivíduos transplantados, estão
ça aguda auto-limitada em pa- sendo desenvolvidas. Até o mo-
cientes imunocompetentes. Em mento, dois tipos de vacinas re-
pacientes imunocomprometidos combinantes estão em desenvol-
ou com outras hepatopatias as- vimento e em testes. A primeira
sociadas, a infecção pelo HEV desenvolvida pela GlaxoSmithKli-
pode levar ao desenvolvimento ne (Brentford, UK) e o Instituto
do quadro de hepatite fulminan- de Pesquisas do Exército Walter
te ou falência hepática. Nesses Reed (Washington, DC, USA) foi
casos, o tratamento com ribavi- testada no Nepal demonstrando
rina por um curto período de- bons níveis de eficácia e seguran-
monstrou colaborar para recu- ça após a administração de 3 do-
peração completa do paciente ses. No entanto, essa vacina teve
sua produção suspensa (SHRES-
THA et al, 2007). A segunda va-
cina, conhecida como HEV 239,
foi licenciada na China em 2011
e está aprovada para adminis-
tração em grupos de alto risco
e será disponibilizada para paí-
ses endêmicos (ZHU et al, 2010).
As duas vacinas são baseadas
no genótipo 1, e desta forma se-
140 riam eficazes para prevenir a in-
fecção em mulheres grávidas e
viajantes para áreas endêmicas.
A prevenção para outros genóti-
pos circulantes em regiões não
endêmicas ainda é questionável.
O desenvolvimento de vaci-
nas voltadas para outros genóti-
pos, em especial o genótipo 3, deve
ser considerada pois pode preve-
nir a infecção crônica pelo HEV.
141
142 CAPÍTULO 6
DIAGNÓSTICO DAS
HEPATITES VIRAIS
ASPECTOS GERAIS convencionais para isolamen-
DO DIAGNÓSTICO DAS to como outros agentes virais,
HEPATITES VIRAIS como por exemplo os adeno-
O diagnóstico das hepati- vírus respiratórios em células
tes de uma forma geral é inicial- Hep2 (Human epithelial type
mente sorológico por métodos 2), e por isso este tipo diagnós-
imunoenzimáticos onde ocorre tico para fins de pesquisa não
a detecção de antígenos virais ou é aplicado para estes vírus. Ao
de anticorpos produzidos con- contrário, o vírus da hepatite A
tra estes antígenos; isso quando (HAV) pode ser cultivado em li-
se trata do diagnóstico voltado nhagem celular continua FRhK- 143
para dizer ao paciente se ocor- 4 (fetal rhesus monkey kidney),
re infecção ou não por um dos produzindo inclusive efeito ci-
agentes virais hepáticos (Hepati- topático-CPE (citopatic effect).
tes A, B, C e Delta). Uma excessão Os métodos moleculares
ocorre para o vírus da hepatite C tais como a reação de PCR (poly-
(HCV); no qual para confirmação merase chain reaction) qualitati-
do resultado sorológico inicial é vo ou quantitativo (PCR em tem-
necessário realizar-se também a po real), é aplicado para todas
detecção do ácido nucléico viral. as hepatites virais e têm um pa-
As partículas virais relati- pel importante, principalmente
vas às hepatites causadas pelos para a epidemiologia molecular
vírus B, C e Delta não podem ser desses vírus que está bastante
cultivadas em culturas de células relacionada a diversos aspec-
tos e também de grande impor- cula do vírus da hepatite B (HBV)
tância para o perfil da infecção foi identificada por Dane, em
em um determinado portador 1970, a microscopia foi aplicada
do vírus. Também é importante para nesta identificação, a par-
para definição de conduta me- tir de preparações purificadas
dicamentosa ou terapêutica/an- do plasma humano. No entanto,
tiviral. Há hepatites virais que com a introdução da vacina con-
não apresentam métodos soro- tra o HBV, recombinante e ampla-
lógicos de fácil aquisição, prin- mente utilizada, soros contendo
cipalmente em postos de saúde as partículas do HBV completas
144 públicos, tais como a hepatite ou incompletas, tornaram-se ra-
E, que é detectada no sangue do ros, reflexo de um bom controle
paciente, exclusivamente atra- da infecção e cobertura vacinal.
vés da pesquisa do ácido ribo- Finalmente, é importan-
nucléico viral (RNA viral), como te ressaltar no diagnóstico das
o método de detecção inicial. hepatites virais, a importância
A microscopia eletrônica dos marcadores bioquímicos, os
pode ser aplicada com bastan- quais indicam o estado das fun-
te dificuldade em preparações ções hepatáticas e contribuem
purificadas dos virus hepáticos para o bom entendimento dos
citados, e por isso praticamente resultados virus-específicos la-
só em teoria é detectado por esta boratoriais. Como marcadores
ferramenta, principalmente com bioquímicos temos principal-
relação ao HCV. Quando a parti- mente as transaminases (AST e
ALT), bilirrubinas e enzimas ca- servada, de altas temperaturas.
naliculares (fostatase alcalina, Para as principais hepati-
gama glutamil transpeptidases. tes virais (A, B, C e Delta) o prin-
cipal espécime viral é o soro ou
ESPÉCIME VIRAL plasma. No entanto o sangue
A detecção de qualquer total pode ser enviado ao labo-
agente viral causador de uma vi- ratório que realizará a detecção
rose está na dependência da qua- e lá será realizado os procedi-
lidade, quantidade e do momen- mentos específicos de preparo
to em que é realizada a coleta da da amostra. Neste caso, para san-
amostra a ser testada. A preser- gue total não é necessário man- 145
vação da amostra é fundamental ter a amostras no gelo, desde
devido a necessidade de manter- que seja enviada ao laboratório
-se a estabilidade das partículas em um prazo de um dia. Em tes-
virais compostas dos antígenos tes sorológicos de detecção de
e do material genético viral. An- antígenos/anticorpos o volume
ticorpos específicos produzidos da amostra é muito importante,
em específicos momentos da in- pois muita vezes é necessária a
fecção viral, como proteínas que re-testagem, e porque geralmen-
são, desnaturam na presença de te são utilizados volumes em
altas temperaturas, impedindo torno de 100 a 200L para cada
a devida detecção. Por isso toda teste sorológico a ser realizado.
amostra viral a ser conduzida Para a detecção dos genomas
ao laboratório deverá ser pre- virais por métodos molecula-
res, um mesmo volume utilizado desoxiribonucléico (DNA). Para
para um único teste sorológico espécimes de soro, os tubos não
pode ser utilizado para em torno devem conter nenhum anticoa-
de 10 amplificações moleculares gulante e, neste caso, são tubos
(por exemplo por PCR). Os tubos de tampa vermelha ou dourada.
de coleta para sangue total ne-
cessitam de anticoagulante. Os MÉTODOS
mais utilizados são aqueles con- SOROLÓGICOS
tendo EDTA (ethylenediaminete- Vamos considerar como
traacetic acid), identificados com método sorológico principal-
146 tubos com tampa roxa. Os tubos mente os ensaios imunoenzi-
de tampa verde contendo hepari- máticos ELISA (enzyme linked
na ou aqueles contendo solução immunosorbent assay). No en-
de citrato de dextrose (acid citra- tanto, também podem ser uti-
te dextrose), de tampa amarela lizados os testes rápidos que
também podem ser utilizados. têm como base a imunocro-
É importante ressaltar que matografia (também conheci-
alguns anticoagulantes não são da pelo termo em ingles lateral
recomendados para a coleta com flow) e testes como o RIBA (re-
o objetivo de detecção molecular combinant immunoblot assay).
por PCR, como é o caso da hepa- A hepatite causada pelo
rina, a qual inibe a enzima Taq HAV apresenta aspectos clínicos
DNA polimerase de realizar a po- que irão comungar com algumas
limerização da cadeia de ácido infecções hepáticas, inclusive as
que ocorrem com menor frequ- geno do HBV, o antígeno de su-
ência como a causada pelo cito- perfície do virus da hepatite B
megalovirus (CMV), por isso, o (hepatitis B surface antigen-HB-
sangue total na primeira semana sAg). A presença deste antígeno
do aparecimento dos sintomas significa que houve infecção e
clínicos, deverá ser coletado e sua permanência deverá ser ve-
submetido ao ensaio imunoen- rificada nos próximos seis me-
zimático para detecção de IgM ses porque o prognóstico para
(imunoglobulina M) para con- a forma crônica da infecção está
firmar uma infecção recente. condicionada a presença deste
Caso o teste seja negativo, a pre- marcador por mais de seis meses 147
sença de imunoglobulinas to- no sangue do paciente. O marca-
tais deverá ser investigada. A dor anti-HBs pode ser fruto de
positividade para imunoglobu- uma resposta vacinal e por isso
linas totais anti-HAV permane- é necessário verificar-se a pre-
cerá pelos próximos 7 a 10 dias. sença de um terceiro marcador,
A sorologia da infecção o anticorpo contra a proteína do
pelo HBV é de extrema impor- core do HBV, chamado de anti-
tância para definir o curso da in- -HBc (hepatitis B core antibody).
fecção (aguda ou crônica). Vários Neste caso, os testes do tipo ELI-
marcadores são considerados SA, detectam anticorpos totais.
para a interpretação. O primeiro O anti-HBc é produzido
marcador, bastante importante quando o paciente têm contato
é a detecção do principal antí- com as partículas virais comple-
tas de 42nm, uma vez que são regiões codificantes para a sín-
produzidos contra a proteína tese das proteínas do HBsAg e
do cerne viral HBcAg (hepati- do HBcAg/HBeAg que resultam
tis C core antigen). Outros dois em antígenos e anticorpos, ou
marcadores têm também gran- ausências de produção de HBe-
de importância: HBeAg (hepa- Ag e anti-HBe, que confundem
titis B “e“ antigen) e o corres- a interpretação. Os vírus mu-
pondente anticorpo anti-HBe. tantes HBsAg são chamados de
O HBeAg é produzido so- mutantes de escape e são pro-
mente quando está havendo re- blemáticos para o diagnóstico.
148 plicação ativa do vírus, uma vez A hepatite B é uma doença
que a produção desse antígeno séria que acomete a população
é a partir da mesma região co- mundial e pode levar o indivíduo
dificante para a síntese da pro- a morte. É uma doença sexual-
teina do cerne viral (HBcAg), a mente transmissível, mas tam-
qual utiliza um alternativo có- bém pode ser disseminada pelo
don de iniciação. O anti-HBe tem sangue contaminado e por isso
portanto similar interpretação. foi necessário o desenvolvimen-
Cada um dos marcadores cita- to de métodos rápidos que detec-
dos aparecem em um determi- tam o HBsAg em somente uma
nado momento da infecção, no gota de sangue. Um exemplo é o
entanto este “modelo” não pode teste rápido que tem como base
ser considerado um padrão, a fixação do anti-HBs em um pa-
porque existem mutações nas pel de filtro (cromatografia de
papel) que pode reagir quando também é necessário que seja re-
na presença do HBsAg contido alizada a testagem pelo método
na gota de sangue a ser testada. molecular caso haja positividade
A detecção do HCV soro- de uma determinada amostra.
logicamente, é somente um mé- Neste caso somente a detecção
todo inicial de triagem, uma vez do RNA do HCV, para atestar que
que a detecção molecular é con- um determinado paciente está
firmatória e os ensaios imunoen- infectado. Em casos que ocorre
zimáticos não apresentam espe- um resultado negativo para uma
cificidade de 100%. Para triagem determinada amostra no ELISA,
é utilizado o ELISA para detectar porem a mesma amostra apre- 149
anticorpos no soro do pacientes sentou resultado positivo para o
com suspeita de infecção pelo RIBA e negativo para a detecção
HCV, e que são específicos para a de RNA do HCV; o significado des-
proteina do cerne e proteinas não sa situação é que o paciente em
estruturais NS3, NS4 e NS5 do questão foi infectado pelo HCV,
HCV. Adicionalmente a testagem mas de alguma forma conseguiu
para a presença de anticorpos resolver a infecção pelo HCV.
no soro pode ser realizada utili- Finalmente falando da so-
zando o método RIBA, o qual, da rologia para hepatite Delta (Del-
mesma forma irá detectar, assim ta hepatitis-HDV), é importante
como o ELISA, anticorpos para lembrar que estes vírus utilizam
antígenos virais. O método RIBA a proteína do HBsAg do HBV
não é um método confirmatório e como proteína de envelope e
sendo assim, toda amostra HB-
sAg positiva, originária de áreas
endêmicas para a infecção pela
hepatite Delta deveria também
ser testadas para os marcado-
res sorológicos Anti-HD IgM e
HDAg. O marcador Anti-HD IgM
pode apresentar títulos baixos e
tardiamente durante a infecção,
por isso, o método sorológico
150 deve ser complementado com o
método molecular (detecção de
RNA do HDV) e com o método
ELISA para detecção do HDAg.
MÉTODOS (HCV); entre outras aplicações.
MOLECULARES Por isso é uma técnica tão im-
O PCR atualmente é o mé- portante. No entanto esta técni-
todo molecular mais amplamen- ca nem sempre está disponível
te utilizado para detecção de ge- para toda a rede laboratorial
nomas das hepatites virais que pública e muitas vezes, nem tão
estamos tratando. Atualmente é pouco para as privadas. A téc-
um método relativamente aces- nica de sequenciamento nucle-
sível e bem mais barato do que otídico é complexa no que diz
10 anos atrás. O sequenciamen- respeito a análise pós reação.
to nucleotídico, que corresponde A tabela a seguir apre- 151
a sequenciar regiões específicos senta os métodos moleculares
ou todo o genoma viral, fornece mais utilizados para as princi-
importantes informações: 1.Pre- pais viroses hepáticas que estão
sença de mutações que confe- sendo discutidas neste capítulo.
rem resistência a uma séria de
antivirais utilizados, principal-
mente para controlar a infec-
ção pelo HBV e/ou controlar/
eliminar a infecção pelo HCV;
2. Fundamental para determinar
genótipos circulantes; 3.Definir
susceptibilidade a determina-
dos medicamentos moduladores
152
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