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ENSINO COLETIVO DE MÚSICA POR MEIO DA

PERCUSSÃO: RELATO DE EXPERIÊNCIAS EM SALA


DE AULA
Paulo Salmaci
Universidade Estadual de Campinas
salmaci@gmail.com

Resumo: ​O presente artigo tem por objetivo relatar o comportamento e a


desenvoltura de crianças em aulas coletivas de percussão, participando
de atividades musicais executadas dentro de sala de aula e registradas
por meio de gravações de vídeo. Os objetos de observação são alunos de
turmas de aulas coletivas ministradas pelo próprio autor deste texto, o
educador musical Paulo Salmaci, dentro da organização social e cultural
Projeto Guri. Para o estudo serão utilizadas publicações de autores que
pesquisam os trabalhos de Jean Piaget.

Palavras chave: Educação Musical. Desenvolvimento humano. Ensino


coletivo. Percussão.

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Ensino coletivo de música por meio da percussão

INTRODUÇÃO

O ensino coletivo de música é algo que no Brasil tem conquistado cada vez mais

espaço, tanto no ambiente escolar tradicional de escolas públicas e privadas, quanto

nas organizações que promovem ações sociais.

Um dos exemplos de organizações é o Projeto Guri, que hoje conta com cerca

de 340 unidades espalhadas pelo estado de São Paulo e atende a aproximadamente

60.000 alunos em contra turno escolar. O trabalho realizado tem caráter sócio cultural,

tem a música como ferramenta para desenvolvimento social e é oferecido

gratuitamente à população, atendendo crianças e adolescentes de 8 a 18 anos de

idade.

As aulas oferecidas são divididas em 3 níveis chamados de turmas, sendo eles:

turma A (iniciante), turma B (intermediária) e turma C (avançada), sendo que as turmas

A e B possuem carga horária semanal de duas horas, dividida em dois dias e a turma C

possui quatro horas semanais, também dividida em 2 dias.

Serão analisadas 3 atividades aplicadas em aula, com alunos da turma iniciante

e com idades entre 8 e 11 anos, que de acordo com Piaget se encontram no

estágio/estádio operatório concreto, ou seja, estão em um momento intermediário de

desenvolvimento relacionado ao pensamento e à forma de enxergar o mundo. Não por

um acaso, a faixa etária atendida pelo Projeto Guri está em consonância com as

teorias de Piaget, pois a partir do estágio operatório a criança adquire estruturas

cognitivas diferenciadas, possibilitando novas formas de pensamento e capacidades de

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entendimento musical que possibilitam um estudo mais eficiente de instrumentos

musicais.

ATIVIDADE 1: MANUTENÇÃO DE PULSO E DECLAMAÇÃO DO NOME

O exercício foi realizado com a turma A, que frequenta o curso de percussão há

3 meses e contou com a participação de 9 crianças, com idades entre 8 e 11 anos.

Nesta atividade os alunos foram orientados a formar uma roda junto com o

educador e sincronizar os passos sem sair do lugar, para posteriormente declamar

seus nomes seguindo algumas regras.

A ação de produzir o som com os pés em sincronia com o grupo já era uma

atividade que a turma tinha feito algumas vezes, porém não era algo que eles

executassem com facilidade ainda naquele momento, pois foi necessário dar dicas

para alinhar os que estavam fora do pulso e aguardar uma sincronização suficiente

para a realização da atividade.

Enquanto mantinham o pulso, foi solicitado aos alunos que declamassem seus

nomes em cinco maneiras/etapas diferentes como indicado a seguir:

1. Por imitação. A exemplo do educador, que falou seu próprio nome alinhando as

sílabas com as passadas, porém sem solicitar verbalmente essa separação

silábica para os alunos.

2. Com solicitação de sincronização das sílabas com os passos, mas sem

explicação morfológica dos nomes.

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3. Com solicitação de sincronização das sílabas com os passos, após uma breve

explicação da separação silábica do nome de cada criança da roda.

4. Com o acréscimo de 3 palmas após a declamação, ritmadas ao pulso.

5. Com a declamação do nome de outra pessoa da roda, que deveria continuar.

Na primeira etapa os alunos falaram seus nomes sem associar as sonoridades

das sílabas com as batidas dos pés, sendo que nenhum deles demonstrou perceber a

intenção do educador em separar as sílabas do nome em função do pulso. No entanto

alguns iniciaram a palavra junto com a pisada e a declamaram ao seu modo. Assim foi

notado que eles mantiveram o foco em elementos de forma dividida, ou seja, não

perceberam a simultaneidade das ações.

Na segunda etapa, com uma demonstração mais clara relacionando o

movimento com as sílabas, a maioria deles conseguiu associar a divisão da palavra

com os pés, alterando um pouco o andamento, enquanto que alguns apesar de

alinharem seus passos às sílabas, o fizeram perdendo totalmente a atenção da

pulsação do grupo, retomando este após a declamação.

Após essa etapa foi feita uma pausa na movimentação para explicação sobre a

divisão das sílabas e os alunos foram questionados a respeito do número de sílabas de

seus próprios nomes, o que possibilitou uma relação mais clara entre os movimentos e

as sílabas. A sincronia entre os movimentos e palavras melhorou, porém em grande

parte da turma o pulso ainda se perdeu, sendo retomado logo após a declamação. Isso

reforça o que foi observado por Piaget em suas experiências sobre conservação e que

segundo Serafine (1975, apud Caregnato 2015, p. 18), em suas pesquisas piagetianas

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adaptadas à conservação de pulso, diz que crianças entre os cinco e sete anos se

encontram em estádios intermediários de desenvolvimento relacionado a conservação.

Na quarta etapa foi indicado que os alunos imitassem o som de 3 palmas

coletivas e ritmadas após a declamação, porém sem explicações formais a respeito da

relação entre as mãos e os pés. Essa ação foi facilmente executada pela maioria dos

alunos que memorizaram a sonoridade das palmas ao invés de estabelecer uma

relação métrica. Apesar desse elemento ter sido inserido por um acaso pelo educador

naquele momento, os alunos já haviam realizado tarefas similares utilizando as mãos e

os pés.

Na quinta etapa foi sugerida uma ação de improviso que consistiu em cada

participante falar o nome de outro na roda, que deveria também executar essa ação na

sequência. Essa etapa, apesar de conter um número maior de tarefas, mostrou

aumento do padrão de qualidade de execução com relação às etapas anteriores, afinal

o pulso estava mais firme e a pronúncia dos nomes estava mais clara, intensa e

sincronizada com o movimento dos pés. Isso mostra uma consonância com as

pesquisas de Kebach (2003, apud Caregnato, 2015, p. 26), que por meio de testes

clínicos constatou que crianças com média de 9,5 anos de idade já possuem

capacidade de distinguir e executar um ritmo mantendo uma pulsação em paralelo.

ATIVIDADE 2: LEITURA MNEMÔNICA E DESLOCAMENTO ESPACIAL

A atividade foi realizada com 6 crianças, também da turma A, com idades entre

8 e 9 anos e envolveu leitura musical, memorização e deslocamento do corpo. Esse

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exercício já havia sido praticado em sala de aula, porém a cada dia foi escrita uma

frase rítmica diferente. As partes constituintes foram aplicadas separadamente à turma

ao longo de 3 meses, evoluindo na complexidade de elementos e sobreposições

destes até atingir o formato atual.

Para o registro em vídeo, a primeira ação proposta aos alunos foi decifrar o

código musical de quatro tempos escrito na lousa composto de duas colcheias, duas

colcheias, uma semínima e uma pausa de semínima, sem pauta. Após algum aluno

reconhecer e executar o som resultante da escrita, os outros alunos deveriam fazer o

mesmo, agora podendo utilizar o processo de imitação.

Com a sonoridade memorizada, os alunos deveriam tocar o ritmo uma vez em

cada praticável de estudo e repetí-lo no praticável vizinho, de forma a percorrer a roda

montada com praticáveis, em sentido anti-horário até chegarem em suas posições

iniciais. Ao final deveriam dar um grito juntos no tempo 1 após o último ritmo,

sinalizando o término da atividade.

Um dos objetivos desse exercício é a prática da leitura musical. Para facilitar o

entendimento e aprendizado dos códigos musicais escritos, foi utilizada uma técnica

mnemônica baseada no uso de palavras para lembrar a sonoridade de grupos rítmicos.

Tal procedimento consiste em relacionar o número de sílabas com o número de notas

de um grupo rítmico dentro de um tempo. Desse modo, cada palavra vai representar

um grupo rítmico, formando a princípio subdivisões rítmicas. A utilização desse

procedimento de palavras é uma técnica que traz resultados rapidamente e de acordo

com CAREGNATO (2011) é eficiente para leitura musical de crianças abaixo dos 8

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anos de idade, pois sintetiza um grande número de informações, sendo que somente

por volta dessa idade a criança consegue entender a escrita musical de forma métrica.

Também sob um outro ponto de vista, a utilização da fala para o melhor entendimento

do registro gráfico é defendida por Beyer (1988, apud CAREGNATO, 2015, p.21)

quando esta afirma que a exploração vocal deve ser explorada antes da leitura e da

escrita.

Um segundo objetivo é utilizar a movimentação do corpo para entendimento de

pulsação, pois além de o movimento corporal fazer as crianças entenderem melhor a

questão rítmica (BUNDCHEN, 2005, apud CAREGNATO, 2015, p. 31), elas são

obrigadas a seguirem uma velocidade de troca dos praticáveis para não atropelarem

quem está à frente ao mesmo tempo em que não são atropeladas por quem vem atrás.

A questão da movimentação em conjunto também traz um caráter lúdico,

assemelhando-se a brincadeiras que as crianças gostam de fazer, utilizando o corpo e

explorando o espaço. Isso ajuda a prender a atenção, mas é necessário ter outros

jogos musicais, pois a repetição por várias aulas na tentativa de se chegar a uma boa

execução pode facilmente deixá-las entediadas, o que de acordo com KEBACH (2008),

deve-se evitar.

ATIVIDADE 3: CONVENÇÕES E MANUTENÇÃO DE RITMO

ACOMPANHANDO UMA MELODIA

A atividade foi realizada com 5 crianças, também da turma A, com idades entre

8 e 9 anos e consistiu em os alunos acompanharem com instrumentos a melodia da

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música “O Pastorzinho”, cantada pelo educador. Essa atividade já havia sido aplicada

antes e ensaiada nas aulas anteriores.

A música foi dividida em 3 partes, sendo que na primeira as crianças deveriam

tocar convenções que seguiam o mesmo ritmo dos finais das frases da melodia. Essa

parte foi executada com facilidade. Na segunda parte as crianças deveriam

acompanhar a melodia tocando um ritmo de capoeira bastante treinado nas aulas

anteriores, constituído de duas sonoridades: a grave e a aguda. Das 5 crianças, 3

mantiveram o ritmo de maneira contínua, segurando o pulso e respeitando as duas

sonoridades, uma inverteu o grave com o agudo e uma outra não conseguiu tocar o

ritmo proposto pois acabava imitando o ritmo da melodia. A terceira parte foi apenas a

repetição da primeira.

A percepção da melodia foi clara quando o foco dos alunos foi tocar ritmo igual

ao da melodia na primeira parte, pois todos eles acertaram todas as frases. Na

segunda parte foi um pouco mais difícil quando tiveram que manter um ritmo específico

ao mesmo tempo em que ouviam a melodia cantada. Essa atividade que envolveu a

melodia gerou uma ação de maior qualidade sonora realizada pelos alunos do que as

outras duas atividades que tiveram um fio condutor apenas rítmico. BLACKING (1990,

apud KEBACH, 2013, p. 21) acredita que a habilidade de fazer música depende de

uma compreensão dos acontecimentos à nossa volta e do que se compreende como

música.

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A noção de forma também foi algo que os alunos demonstraram perceber, pois

todos realizaram as mudanças entre a parte de acentuação convencionada e a de ritmo

próprio constante.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao se deparar com algo novo, os alunos tiveram certa dificuldade de

compreensão, mas isso foi sendo superado ao longo da prática. Ao mesmo tempo as

atividades que já haviam sido experimentadas em outras aulas foram executadas mais

facilmente.

A percepção da simultaneidade também não se mostrou como algo devidamente

acomodado a um primeiro momento para as atividades apresentadas, pois foi

necessário explicar verbalmente e separadamente elementos que ocorriam em

paralelo, ao invés de apenas esperar a imitação ou entendimento. Mas se mostrou

presente no decorrer do treinamento.

É interessante notar que a idade é fator importante no que diz respeito a

desenvolvimento cognitivo e que essas crianças já possuem as estruturas

responsáveis para o relacionamento com o objeto musical, de acordo com o esperado

para a faixa etária. Já é possível trabalhar qualidades sonoras como andamento,

intensidade, timbre e altura, com a orientação visual do educador no papel de regente.

Apesar do contexto social e cultural das crianças aqui observadas ser bem

diferente das analisadas por outros pesquisadores, é possível perceber elementos em

comum com os relatados nas publicações de referência. O número pequeno de alunos

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também não foi obstáculo para se encontrar consonâncias com as etapas de

desenvolvimento descritas pelos estudiosos piagetianos aqui estudados.

Referências

CAREGNATO, Caroline. Estratégia métrica versus estratégia mnemônica:


posições contrastantes ou complementares no ensino de ritmo? In: ​Revista da Abem,​
Porto Alegre, v.19, p.76-88, 2011.

__________.A compreensão musical da criança: o desenvolvimento da


simultaneidade em música a partir da obra de Piaget. Manaus, AM: UEA Edições,
2015.

KEBACH, Patrícia Fernanda Carmem. ​A construção do conhecimento musical:


um estudo através do método clínico. 194f. Dissertação (Mestrado em Educação) -
Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2003.

__________. Expressão musical na educação infantil. 1.ed. - Porto Alegre, RS :


Mediação, 2013.

Sites

SALMACI, Paulo. Manutenção de pulso e declamação do nome. 2019, (4m53s).


Disponível em: < ​https://www.youtube.com/watch?v=3iudoH-7OKM​>.

__________. Leitura mnemônica e deslocamento espacial. 2019, (1m06s).


Disponível em: <​https://www.youtube.com/watch?v=MtsY3dpmCxk​>.

__________. Convenções e manutenção de ritmo acompanhando uma melodia.


2019, (1m08s). Disponível em: <​https://www.youtube.com/watch?v=Q0DVjLYMWRo​>.

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