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BRASIL Confederação
Proposta de
Confederação
dos Estados Brasileiros
Prefácio de
Alexandre Garcia
Editora
Pinha
O termo “Confederação “ que dá título ao presente livro e encaminha a proposta sob o mesmo,
foi utilizado na época do seu lançamento e pelo MBC – Movimento Brsail Confederação. Com a
fundação do Partido Federalista, adotou-se o termo federalismo pelo fato de sua proposição
ser mais aceita no entendimento jurídico brasileiro e até por, de fato, não termos uma
federação de verdade.
Desta forma, considere-se o termo Confederação como Federação.
2 BRASIL CONFEDERAÇÃO
PREFÁCIO
Thomas Korontai é um jovem maduro que faz uma análise lúcida sobre os defeitos do
“carro Brasil” , neste BRASIL CONFEDERAÇÃO.. Numa época em que se volta a falar em
parlamentarismo, na verdade se acena com mais um diversionismo, para o povo, tal como
foram as diretas-já, a Nova República, a Constituinte, o Cruzado ... meras pinturas num carro
chamado Brasil, cujo motor está queimando óleo e cuja transmissão está roncando.
Este livro vai além da pintura do carro e mostra por que ele não funciona e por que é
igual às demais carroças que circulam por nossas estradas carroçáveis, dirigidas por
carroceiros que matam 80 mil brasileiros por ano.
Korontai escreveu para quem quiser entender a crise econômica, a crise social, a crise
política brasileira. Não é apenas a pregação da idéia da Confederação, mas um diagnóstico de
nossas doenças crônicas, enraizadas na cultura nacional.
Ele mostra que, já no século passado, o Brasil - vale dizer, os brasileiros - já tinha fama
de caloteiro na Europa.
Ele nos mostra que o centralismo, o extrativismo, a exploração - são velhos vícios que
nos acompanham desde Cabral - “et pour cause”. Os problemas de hoje não são nenhuma
novidade - eles sempre acompanharam todas as gerações de brasileiros. As elites sempre
trataram de retardar a modernização do País, temendo perder seus privilégios.
Em alguns pontos, Korontai escorrega na sua pureza e faz concessões como imaginar
que o senador de um estado deva fazer campanha nacional, ou achar que a malandragem é só
do trabalhador, ou dizer que o “país clama pela descentralização” - quando, lamentavelmente,
isso não chegou a 90% da população.
Por outro lado, ele é realista na análise de nossas mazelas, fazendo-nos raciocinar que
o mesmo homem que teve a coragem de sacrificar popularidade eleitoral, bloqueando os
cruzados de viúvas e aposentados, não teve peito para, na mesma penada que fez a
inconstitucional Medida Provisória, reduzir o tamanho do Estado e das folhas de pagamento
federais, que todo o povo paga. Também nos faz pensar com a atualização do ditado oriental
de que o sultão (ou marajá) que toma um ovo, faz com que seus guerreiros, em seguida, se
sintam encorajados a levar mil galinhas (dos ovos de ouro ?).
O livro termina com a proposta prática da confederação. Uma discussão oportuna, às
vésperas do início da revisão da velha Constituição de 1988.
BRASIL CONFEDERAÇÃO 3
INTRODUÇÃO
4 BRASIL CONFEDERAÇÃO
CAPÍTULO 1
FEDERAÇÃO E CONFEDERAÇÃO
DEFINIÇÕES
Antes de discutirmos a proposta de instaurar uma confederação brasileira, vamos
discutir o real significado desta palavra e do termo federação, recorrendo ao mais famoso
dicionário brasileiro, o “Aurélio”, do filósofo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira - Editora Nova
Fronteira - 2ª Edição.
Federação: 1. União política entre Nações. 2. Associação, aliança.
Federalismo: Forma de governo pela qual vários estados se reúnem numa só nação,
sem perda de sua autonomia fora dos negócios de interesse comum.
Confederação: 1. Reunião de estados que, embora conservando a respectiva
autonomia, formam um só, reconhecendo um governo comum. 2. Liga, associação.
Como se pode observar, ambos os termos têm, praticamente, o mesmo significado, pois
tanto se pode fazer uma federação de nações como uma confederação de nações, ou também
uma confederação de estados ou províncias ou uma federação de estados ou províncias.
Temos alguns exemplos disso no mundo, como a confederação das 13 colônias
americanas após sua independência, em 1776, e a Confederação Suíça, a qual sobrevive até
hoje, misturando ambos os termos em sua constituição, de onde se poderia dizer que a
“confederação é federal”.
A mudança da confederação para a federação como ocorreu nos Estados Unidos, em
1789, foi, no nosso entendimento, um “arranjo de marketing”, acessório das mudanças da nova
constituição, que vinha para determinar atribuições administrativas em novo organograma
nacional. Nada mais que isso. A simples adoção de um verbete sem substância legislativa em
uma constituição não muda nada.
6 BRASIL CONFEDERAÇÃO
CAPÍTULO 2
determinadas orientações, onde os ventos não sopravam mais que três horas seguidas e onde
era reduzida a percentagem de umidade).
Havia milhões de pessoas trabalhando na preparação dos bosques que logo teriam que
ser incendiados. Havia especialistas na Europa e nos Estados Unidos, estudando a importação
de melhores madeiras, árvores e sementes e de melhores e mais potentes fogos; estudando
idéias operativas (por exemplo, como fazer buracos para que neles caíssem os porcos antes
do incêndio, mecanismos para deixá-los sair no momento oportuno, técnicos em sua
alimentação, etc..
Havia construções de estábulos para porcos; professores formadores de especialistas
na construção de estábulos para porcos; universidades que preparavam os professores
formadores de especialistas na construção de estábulos para porcos; investigadores que
forneciam o fruto do seu trabalho às universidades que preparavam os professores formadores
dos especialistas na construção de estábulos para porcos; fundações que apoiavam os
investigadores que davam o fruto do seu trabalho às universidades que preparavam os
professores dos especialistas na construção de estábulos para porcos, etc..
As soluções que os congressos sugeriam eram, por exemplo, aplicar triangularmente o
fogo após a Va-1 pela velocidade do vento sul; soltar os porcos 15 minutos antes que o fogo-
promédio da floresta alcançasse 47 graus; outros diziam que era necessário pôr grandes
ventiladores que serviam para orientar a direção do fogo e assim por diante. E não é preciso
falar que poucos especialistas estavam de acordo entre si e que cada um tinha investigações e
dados para provar suas afirmações.
Um dia, um incendiador categoria SO/DMNCH (isto é, um acendedor de bosques
especialista sudoeste, diurno, matutino com licenciatura em verão chuvoso) chamado João
Sentido-Comum, falou que o problema era muito fácil de resolver. Tudo consistia, segundo ele,
primeiramente em matar o porco escolhido, limpando e cortando adequadamente o animal e
colocando-o, posteriormente, numa jaula metálica ou armação sobre umas brasas, até que o
efeito do calor, e não das chamas, o assasse ao ponto.
Ciente, o Diretor Geral do Assamento mandou chamá-lo e perguntou que coisas
esquisitas andava falando por aí e depois de ouvi-lo, disse-lhe:
- O que o senhor fala está bem, mas somente na teoria. Não vai dar certo na prática.
Pior ainda, é impraticável. Vamos ver o que o senhor faria com os anemotécnicos, no caso de
se adaptar o que sugere?
- Não sei, respondeu João.
- Onde vai pôr os acendedores das diversas especialidades?
- Não sei.
- E os especialistas em sementes, em madeiras ? E os desenhistas de estábulos de 7
andares, com suas máquinas limpadoras e perfumadoras automáticas?
- Não sei.
- E os indivíduos que foram para o estrangeiro para se especializar durante anos e cuja
formação custou tanto ao país. Vou pô-los para limpar porquinhos?
- Não sei.
- E os que têm se especializado todos esses anos em participar de congressos,
seminários e jornadas para a Reforma e Melhoramentos do Sistema? Se o que você fala
resolve tudo, o que faço com eles?
- Não sei.
- O senhor percebe agora que a sua solução não é de que nós necessitamos? O senhor
acredita que, se tudo fosse tão simples, os nossos especialistas não teriam achado a solução
antes? Veja só! Que autores falam nisso? Que autoridade pode avaliar sua sugestão? O
senhor, por certo, imagina que eu não posso dizer aos engenheiros em anemotécnica que é
questão de pôr brasinhas sem chamas! O que faço com os bosques já preparados, ao ponto de
serem queimados, que somente possuem madeira apta para o fogo-em-conjunto, cujas árvores
não produzem frutos, cuja falta de folhas faz com que não prestem para dar sombra? O que
faço? Diga-me!
- Não sei.
8 BRASIL CONFEDERAÇÃO
CAPÍTULO 3
EXEMPLOS DE
DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICA
EUROPA - PODER DISTRIBUÍDO
Na Europa, encontramos muitos exemplos de descentralização administrativa, além da
Itália, Suíça, Espanha. A Alemanha, antes da reunificação, dividia-se em 18 estados e 14 mil
municípios, apesar de ser menor que o Estado de São Paulo em extensão territorial. A França
tem 97 departamentos e 36 mil comunidades.
Observa-se, nesses países, a descentralização do poder, dentro de um princípio básico
de competência, como a própria descentralização urbana, resultando em melhor qualidade de
vida.
ESPANHA
Catalunha e o país basco, por muitos anos, lutaram pela autodeterminação e a
conseguiram em 1978, dois anos após a morte do ditador Franco, quando a Espanha ganhou
uma nova Carta Magna. Todos os seus estados se tornaram autônomos e foram
democratizados por completo. A nova Constituição, de maneira inteligente. apaziguou os
ânimos de cada região através de um redesenho administrativo. Bascos e Catalões aprovaram
a proposta do novo governo. Através de referendum internos, os integrantes das milícias
depuseram as armas e disputaram as eleições. Restou um grupo de radicais que ainda
persiste em usar a violência para fazer valer direitos que deveriam ser discutidos
democraticamente. São os integrantes do ETA, grupo que luta pela independência do país
basco, cujas ações o mundo acompanha apreensivo. Os novos tempos os engolirão, cobrindo-
os com o manto da obsolescência. A nova estrutura da Espanha permitiu que o país
experimentasse dias de grande prosperidade econômica, depois da grave crise provocada pelo
centralismo da ditadura franquista.
ITÁLIA
São as províncias autônomas que fazem a força do país da pizza, da pasta, da Ferrari,
do design, da moda elegante, das canções apaixonadas e tantos outros símbolos nacionais.
Giusepe Garibaldi unificou a Itália após a 1ª Guerra Mundial, mas conservou-se alto grau
de independência para cada província, e os italianos encontraram seu modo de resolver os
conflitos internos. As diversidades são muitas, as raízes das etnias são milenares em regiões
dominadas por principados, ducados ou pelo poder direto dos papas. Os dialetos são dezenas,
dividindo a língua nacional, embora o italiano oficial seja o de Roma.
Há um caso de desejo de separação, no Tirol do Sul (região do Alto Ádige). Até 1918,
esta província pertenceu ao Império Austo-Húngaro e agora clama pela independência ou pela
reanexação à Áustria. A líder do movimento, Eva Klotz, afirma que é direito fundamental
humano escolher com quem deseja conviver em comunidade.
Mas, em geral, existe a satisfação de pertencer ao país da “bota”. Trento comemorou
800 anos de ininterrupta autodeterminação, no ano de 1991. Lombardia, Ticino, Grigiono e
dezenas de outras províncias são o resultado da formação de um país de diferenças
acentuadas, mas onde todos se sentem italianos.
Mas, a descentralização conseguida ainda não é suficiente. Desejam muitos italianos a
reforma política e tributária, para eliminar o clientelismo encastelado no parlamento em Roma.
Buscam os italianos, para isso, a federalização completa do país no seu mais amplo conceito.
EX-IUGOSLÁVIA
Já podemos chama-la de ex-Iuguslávia. É um caso de desagregação, por guerra civil
sangrenta, derivada do desejo de autodeterminação.
As raízes dos conflitos são muito mais profundas do que imaginamos nós do ocidente,
com pouca informação sobre a história daquela região da Europa. O jornalista Andrew Clark
acompanha, in loco, os mais espetaculares acontecimentos e explica que as repúblicas que
procuram separar-se da Iuguslávia, - Croácia, Eslovênia, Bósnia Herzegovina e Montenegro -
são nações que sempre estiveram ligadas a outras de algum modo. Participaram, inclusive, do
10 BRASIL CONFEDERAÇÃO
A DES-UNIÃO SOVIÉTICA
“Há entre os Estados, como entre os indivíduos, diversidades de cultura, de
honestidade, de riqueza e de força. Mas, resultaria disso alguma diferença no que diz respeito
a seus direitos essenciais? A soberania é direito elementar dos Estados constituídos e
independentes. Ora, a soberania quer dizer igualdade. Na teoria como na prática, a soberania
é absoluta”. (Rui Barbosa)
A “federação soviética não existe mais. Sobrou apenas a prova de que o federalismo
dominador e totalitário não tem mais lugar em um mundo de tendências cada vez mais liberais.
O ser humano adquire a consciência de sua individualidade e busca o respeito perdido - ou
nunca gozado.
A União Soviética nunca foi na verdade uma federação, mas uma “amarração” forçada
de inúmeras etnias. A autodeterminação nacional, movida pela força das etnias, demanda
preliminarmente reconhecida como direito na Conferência de Versailles, reviveu depois de 70
anos.
Culturas nacionais, povos, países recuperaram os laços com suas origens, colocando
uma grande pedra sobre o stalinismo.
O fato é que não se pode segurar uma enchente que vem de todos os lados. A Cortina
de Ferro não agüentou, enferrujando rapidamente ao contato com as águas da liberdade e do
livre mercado, especialmente quando se estabeleceu a carestia. O Kremlin não poderia mais
conter a vontade dos “súditos” de adquirir calças jeans, videocassete, discos de rock, consumir
coca-cola e hambúrgueres e implodiu-se a estrutura que se considerava inexpugnável. Não
fosse a habilidade de Gorbachev em abrir as válvulas deste caldeirão de duas forças - o vácuo
das necessidades e a pressão pela liberdade - a contar de 1985, os conflitos que ocorrem
isoladamente, como na Iugoslávia, talvez fossem hoje generalizados na Ex-União Soviética.
Os mapas da Europa e Ásia foram redesenhados com o final da União Soviética. São 15
repúblicas que voltam às suas origens, resgatando cada uma suas raízes culturais, étnicas e
religiosas que preexistiam à Revolução de 1917. Mais que uma ideologia, morreu o exemplo de
um centralismo excessivo, contrário ao que está gravado nos próprios cromossomos do ser
humano. Provou-se que nada é impossível quando a população, de fato, quer mesmo o
desmonte espetacularmente rápido e inexorável da mais temida federação do planeta, depois
dos Estados Unidos. É como se nunca tivesse existido uma União Soviética - pensarão seus
ex-habitantes nos anos 2010 ou 2020.
significativa de votos a favor. Entre as causas está o êxodo de cidadãos de origem inglesa para
outras regiões do Canadá, já contados em 200 mil pessoas.
Preocupa o comportamento das demais províncias, caso ocorra a separação de
Quebec, especialmente, daquelas que fazem fronteira com os Estados Unidos. Estas poderão
unir-se ao país vizinho. As províncias marítimas também terão problemas, pois sua economia é
mais fraca e há também as que poderão não aceitar a influência de Otawa.
Quebec vem trabalhando silenciosamente pela autonomia, assumindo, passo a passo, o
controle de seus negócios, inclusive da política econômica, dos programas sociais e culturais,
dentro de um determinado plano que objetiva formar uma nova nação - observa um diplomata
norte-americano lotado em Quebec. E a província tem cacife.
A Hidro-Quebec, companhia de eletricidade, detém ativos de US$ 34 bilhões e é a
sétima maior do mundo. A Bombardier constrói equipamentos de transporte e aviões, com
venda anuais de US$ 3 bilhões. Mantém ritmo de crescimento e tem planos de abranger todo
o mercado da América do Norte, Dentro em breve, Quebec produzirá 12% de todo alumínio do
mundo. A SNC Lavalin está faturando US$ 2,6 bilhões com a construção de um sistema
elevado de trânsito em Bangkoc. A Caisse Dépot e Placement administra fundos de pensão no
valor de US$ 31 bilhões, enquanto que a Mouvemant Desjardins é uma ampla instituição de
crédito com ativos de mais de 40 bilhões.
Mas, nem todo está perdido para o Canadá. Bastará o governo central aceitar as
reivindicações de maior autonomia e Quebec se manterá unida ao país. O primeiro ministro da
província, um federalista, acredita que Quebec estará em melhor situação se mantiver-se unida
ao Canadá e tenta aplacar o ânimo separatista, insistindo para que Otawa ceda poderes
substanciais aos quebequenses.
O Partido Liberal já fez uma lista de 22 questões sobre as quais a província deverá ter
jurisdição, dentre elas a cultura, a educação e o desenvolvimento regional.
Fixou também seis atribuições que permaneceriam com Otawa, dentre elas a defesa e a
política monetária. Ainda, segundo a proposta dos liberais, nove setores seriam partilhados
entre governo central e governo provincial. Dois exemplos seriam a tributação e a imigração.
Há um detalhe curioso: as propostas são de Quebec para Quebec. As demais províncias que
“se virem”.
O “federalismo dominador” saturou os canadenses e eles tomaram consciência do fato.
O procedimento lógico e civilizado, neste caso, é formular uma nova proposta administrativa do
tipo confederativo, uma federação avançada com base no modelo norte-americano. É a
melhor solução para o grave problema que os canadenses enfrentam, agravado pelas
divergências de língua, etnia de franceses e ingleses, além das dimensões territoriais. Para
abrigá-los em um mesmo país é preciso respeitar suas individualidades.
O Canadá nunca este tão próximo de uma divisão e qualquer que seja o resultado do
impasse, as repercussões já estão garantidas em todo continente.
CAPÍTULO 4
coreanos e latinos - estes últimos em grande massa - e que a causa não é a segregação
imposta pelo “sistema” a estas minorias, mas as características culturais que leva a atitudes
individuais de não adaptação às regras do jogo. Para se tornar um cidadão americano de
classe média, o indivíduo deve possuir certos padrões de instrução, determinadas atitudes,
certos modos de agir. Para se tornar um milionário self-made-man americano, serão outros
padrões a seguir. Pouco importará a cor da pele.
Quais as razões que fizeram este país dar certo e chegar à condição de economia nº 1
do planeta? Várias, sem dúvida. Uma delas é a formação anglo-saxônica que imprimiu ao povo
norte-americano alguns aspectos culturais próprios dos países situados no hemisfério norte.
O forte desejo de autodeterminação é outro desses aspectos. Embora a colonização
dos Estados Unidos tenha começado mais de 100 anos após a do Brasil, século e meio depois
da chegada de John Smith, em 1607, já se declarava a independência; com muito sangue. A
declaração, ocorrida em 4 de julho de 1776, exigiu a formação de um governo e no modelo
organizacional adotado reside outra razão do sucesso do país, a maior de todas, talvez.
A formação de um governo não poderia ter como orientação a falta de respeito à
individualidade, pois esse era um dos valores pelos quais os colonos haviam lutado. Há uma
filosofia política e organizacional bastante explícita no texto da “Declaração de Independência”.
Consideramos como auto-evidentes as verdades que afirmam “ser todos os homens criados
iguais e dotados pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais estão a vida, a
liberdade e a busca da felicidade; que para garantir esses direitos são constituídos os governos
entre os homens, derivando sua força justa do consentimento dos governados; que sempre
que qualquer forma de governo se tornar destruidora destes fins, o povo terá o direito de alterá-
lo ou aboli-lo e de constituir um novo governo que tenha por alicerces esses princípios e
organizar o seu poder da forma que pareça a melhor maneira de conseguir sua segurança e
felicidade”.
A luta pela independência foi sustentada pelas 13 colônias, espalhadas do meio para o
leste americano, e a formação do novo governo implicava a aceitação em participar do mesmo,
assinando a Constituição como Estados autodeterminados, mas ligados à nação por interesses
comuns, o que representava a cessão de poderes específicos à União. Deu-se assim forma
legal aos ideais políticos manifestos na Declaração da Independência e chances para os
estados remediarem algumas de suas reivindicações nas constituições estaduais. Já em maio
de 1776, antes da Declaração, o Congresso havia aprovado uma resolução, aconselhando as
colônias a formarem novos governos “da melhor forma que encontrassem e que fosse
condizente com a segurança e a felicidade de seus cidadãos”.
A maioria das constituições estaduais americanas mostrava o impacto das idéias
liberais de então, pois não continha leis de exceções. A primeira foi a da Virgínia, que serviu
de modelo para as demais, contendo uma declaração de princípios que incluía a soberania
popular, a rotatividade de cargos, eleições livres e a enumeração de liberdades fundamentais
como fianças moderadas e punições humanas, a manutenção de uma milícia em lugar de um
exército permanente, julgamentos rápidos por meio de júri, liberdade de imprensa e
consciência, direito da maioria em formar ou alterar o governo, a proibição de mandados
judiciais generalizados. As demais constituições foram ampliadas com mais direitos, incluindo
a liberdade da palavra, de assembléia, de petição e igual proteção sob a lei.
Enquanto as 13 colônias se transformavam em estados, pioneiros começavam a formar
novas comunidades a oeste, atraídos pelas ricas terras do lado Pacífico, o que começou a
gerar problemas. Eram questões com os índios, brigas por terras, comércio de peles,
estabelecimento de localidades, implantação de governos regionais e disputa de terras no
oeste.
OS PROBLEMAS DA CONFEDERAÇÃO
Não foram solucionadas todas as questões nacionais com esse modelo. Vários estados,
dada sua autonomia, aprovaram resoluções que prejudicavam os outros, criando restrições ao
comércio interestadual. Em meio aos problemas da guerra da Independência, a Confederação,
amarrada frouxamente, não estabelecera que o governo nacional deveria possuir autoridade
específica para algumas questões, como a regulação do comércio, o lançamento de impostos
para fins nacionais, o controle das relações internacionais, a manutenção do exército e a
fabricação e controle da moeda. Havia nos Estados Unidos da América, inicialmente, uma
curiosa mistura de moedas nacionais e estadual que se depreciavam rapidamente.
BRASIL CONFEDERAÇÃO 13
Além disso, os efeitos da guerra se faziam sentir sobre os produtores, criando uma crise
econômica importante. As querelas judiciais de execução de dívidas contraídas pelos
produtores e fazendeiros se multiplicavam. Logo a população começou a agir com violência,
exigindo reformas legislativas que regulassem a questão. As disputas entre Maryland e
Virgínia sobre a navegação do rio Potomac levaram a uma conferência de cinco estados, em
1786. Estes foram convencidos por Alexander Hamilton - o qual, mais tarde, tornar-se-ia
presidente dos Estados Unidos - de que aquela questão era pouco relevante diante de tão
sérios problemas enfrentados pela nação. Hamilton conseguiu então articular todos os
Estados para a elaboração de cláusulas adicionais à Constituição, de modo a torná-la
adequada às exigências da União. Seguiram-se as eleições de representantes em todos os
estados, as quais abafaram a indignação do Congresso Nacional diante da formação de um
poder legislativo paralelo.
Algumas das mais notáveis figuras americanas de todos os tempos, dentre elas George
Washington, Benjamin Franklin (já com 81 anos de idade), James Wilson, James Madison, um
sapateiro que se tornou juiz chamado Roger Sherman e o próprio Hamilton, elaboraram e
assinaram, juntamente com os delegados estaduais, as mudanças na Constituição. Faltou
Jefferson, que se encontrava na França em missão oficial.
A convenção ficou na história, porque em lugar de criar alguns artigos de emenda
constitucional, na verdade redigiu uma nova Constituição, que buscou a reconciliação entre os
poderes locais e o governo central. Os poderes do governo federal foram cuidadosamente
delineados e ficaram para os estados as funções que não conflitassem com os da União.
Os convencionais basearam-se nos conceitos de Montesquieu sobre o equilíbrio de
poder na política. Estabeleceram-se três esferas de poder iguais e coordenadas: o poder
executivo, o legislativo e o judiciário, harmoniosamente equilibrados, de modo que nunca um
prevaleça sobre o outro. Os delegados dos estados trabalharam durante todo o verão de 1787
e formularam um projeto que incorporava, num breve documento, a organização do mais
complexo sistema de governo até então imaginado pelo homem: um governo supremo dentro
de uma esfera claramente definida e limitada. A “Décima Emenda”, em 1791 tornaria isto
claro: “os poderes não delegados aos Estados Unidos pela Constituição nem proibidos por ela
aos estados, são reservados aos estados ou ao povo, e a supremacia das leis federais é
limitada por aquilo que for feito conforme manda a Constituição”.
Ficou estabelecido que a União teria a responsabilidade de cunhar a moeda, criar
impostos, fazer empréstimos, fixar pesos e medidas, conceder patentes e copyrights,
estabelecer correio e construir estradas, além de manter o exército e a marinha e regular
comércio internacional e interestadual, entre outras. Ficaram a seu cargo as relações com os
índios, a naturalização de estrangeiros, o controle das terras públicas, a função de admitir
novos estados em absoluta igualdade. Adquiriu, portanto, poderes elásticos para o
planejamento nacional e para a organização das gerações posteriores. Também ficou clara a
situação geopolítica dos Estados Unidos no contexto mundial, no decorrer dos anos e até os
dias atuais.
Embora a constituição confederativa das colônias fosse substituída por uma constituição
federativa, o princípio básico do autogoverno - exceto nos negócios em comum dos estados -
ficou bem delineado.
Com a nova Constituição promulgada, o próprio Congresso ganhou foça ao se equiparar
com o poder executivo e o judiciário. Depois de dezesseis semanas de deliberações, no dia
17 de setembro de 1787, a nova Constituição, completa, foi assinada por todos os estados que
consentiram em ceder poderes à União e a nova ordem foi adotada, após ratificação das 13
colônias da Confederação, em 25 de junho de 1789.
Houve dificuldades para que todos os estados/colônias ratificassem, em assembléias
próprias, a Constituição Nacional, pois havia receio de que a União adquirisse poderes
excessivos e transformasse a Carta em instrumento de tirana e opressão, através de pesados
impostos. Para vencer esse medo - bastante justificado, diga-se de passagem - foi criada uma
Declaração de Direitos, encabeçada pelo estado de Massachussets, que a incluiu na própria
constituição estadual. A declaração foi logo adotada pelos estados indecisos e terminou sendo
incorporada à Carta Magna Federal e transformada em lei suprema do país.
Entre esses direitos consta a garantia aos cidadãos dos Estados Unidos a liberdade de
religião, de palavra, de imprensa, o direito de julgamento por júri, processos rápidos conforme a
lei do país e a proibição e mandados gerais. Repetiu-se, de certa forma, a Declaração de
Direitos da Constituição dos dias da independência.
14 BRASIL CONFEDERAÇÃO
CAPÍTULO 5
união dos estados-membros. Ao final da guerra, adotaram-se regras mais rígidas e definidas,
sem que se ferisse, no entanto, as liberdades individuais dos cidadãos e da livre empresa,
mantendo-se a confederação.
Em verdade, o início da confederação data de 1291, quando uniram-se em aliança três
nações: Uri, Shwyze e Uterwald - situadas no coração dos Alpes. Eram vias de comunicação
das mais importantes para a ligação Norte-Sul da Europa e despertavam a cobiça das
potências européias. A aliança foi a base da futura confederação, constituída de um pacto de
ajuda mútua. A data nacional da Suíça ainda é o 1º de agosto, dia em que se celebrou a
aliança de 1291. O juramento não pretendia, na época, criar um país, mas preservar a
autonomia tradicional das três regiões e os direitos dos camponeses livres.
Logo, outras regiões, como Lucena, Zurique e Berna também uniram-se ao pacto,
mantendo seus direitos e preservando-os até hoje, reconhecendo o princípio da igualdade
política das pequenas e grandes comunidades. No século XV, a Confederação Suíça já
contava com 13 estados independentes. Depois de fracassada tentativa de expansão, em
guerra com a Itália, em 1515, optou pela neutralidade armada, assinando pacto internacional
nesse sentido, em Viena, e assim é até hoje.
Afligiram-na problemas, como as divisões religiosas, que redundaram em guerras civis
entre os confederados em conseqüência da Reforma Protestante do século XVI, mas a aliança
não se rompeu. Ao contrário, tais encrencas até favoreceram a aliança, na medida que a
faculdade de assumir compromissos e respeitá-los se tornou uma característica essencial na
política suíça. O espírito de tolerância que passou a existir, após aqueles conflitos, atraiu mais
regiões para a confederação.
No início do século XIX, burgueses suíços proclamaram a República Helvética, um
estado nacional, baseado na centralização administrativa, com supressão da antiga
confederação de estruturas feudais e corporativas. Tiveram para este feito o apoio do exército
francês.
Mas logo Napoleão deu à Suíça sua antiga organização federalista. O longo caminho
percorrido pelos suíços não resultou, portanto, em uma nação unitária, mas em uma
associação de estados livremente unidos no respeito e solidariedade recíprocos, um país
criado pela vontade de seus habitantes. Comunidades de pequenas dimensões, de diferentes
graus de força econômica, tradições e culturas múltiplas coabitam num mesmo Estado.
Com o fim da guerra civil de 1847, os suíços decidiram-se por uma unidade econômica e
por um estado federativo mais estruturado, que reconhece a autoridade dos cantões e
municípios. O símbolo da estabilidade existente, desde então, é a Constituição, redigida em
1848, que conserva a quase totalidade dos artigos originais. Ficaram sendo atribuições do
governo central as relações exteriores, alfândega, fabricação da moeda, correios e
telecomunicações, o exército, a arbitragem dos conflitos internacionais, a garantia dos direitos
individuais e da livre empresa.
De outro lado, os cantões continuaram com sua soberania em matéria religiosa, política
e assistência pública.
O poder de legislar pertence à Confederação, mas a execução das leis é da alçada dos
cantões no Direito Civil e Penal, nos seguros sociais e nas leis de trânsito.
Há também setores nos quais a Confederação divide atribuições com os cantões, como
na legislação de impostos, construção de estradas, instrução pública (educação), formação
profissional e política cultural.
Na política, a estrutura é bastante complexa. O país é eminentemente parlamentarista,
com uma assembléia federal (parlamento) constituída de duas câmaras. Uma delas é o
Conselho nacional, formado por 200 membros, representantes dos cantões m números
proporcionais à população. Não é formado por políticos profissionais. Os deputados são
chamados de conselheiros nacionais, reunidos em bancadas e recebem uma indenização para
cada sessão a que comparecem. O presidente do Conselho é eleito anualmente. A outra
câmara é o Conselho de Estados ou Senado e é integrado por representantes de cada cantão.
O poder executivo cabe ao Conselho Nacional, um colégio formado por sete ministros
com direitos iguais. A cada ano se reúne a Câmara dos Deputados (Conselho Nacional) e o
Senado (Conselho dos Estados), formando uma Assembléia Federal, para eleger o presidente
da Confederação. Este assume tão somente a presidência das sessões de governo e certas
funções de representação. Interessante é a formação ideológica do Conselho Nacional
composto por uma fórmula fixa desde 1959: dois socialistas, dois radicais, dois democrata-
16 BRASIL CONFEDERAÇÃO
CAPÍTULO 6
BRASIL
RÁPIDAS CONSIDERAÇÕES
HISTÓRICAS SOB OUTRO PONTO
DE VISTA
“Mesmo os homens maus podem ser levados
pelo mercado a fazer o bem, enquanto que homens
bons podem ser induzidos pelo processo político a fazer o mal.”
(Arthur Selson)
Nosso país, descoberto em 1500, teve sua colonização iniciada somente trinta anos
após, quando os portugueses perceberam que a única maneira de proteger a propriedade
recém “adquirida” era colocar colonizadores em suas terras. Franceses e holandeses já
BRASIL CONFEDERAÇÃO 17
Amazônia, sertão de Minas, Bahia e Sergipe, fazendo surgir notícias da existência de ouro e
pedras preciosas nas terras recém-vistas.
Formaram-se, então, as Bandeiras, que eram agrupamentos bem mais numerosos que
as Entradas, com a participação espontânea da população ansiosa por enriquecer. Pelas suas
dimensões e estrutura organizacional, foram chamados por alguns historiadores de “cidades
que se moviam”. Mas não eram custeadas pelo governo e sim por capitalistas. Desses fatos, a
importância é que deram início ao Ciclo do Ouro, que substituiu o da cana-de-açúcar e
triplicaram o território brasileiro. No tempo em que Portugal esteve unido à Espanha, os
bandeirantes não precisavam respeitar a linha do Tratado de Tordesilhas e deixaram inúmeras
povoações portuguesas do lado espanhol da América do Sul, como Cuiabá, Caetê, Vila Rica,
Diamantina, Vila Bela e muitas outras. Rompida a união Portugal/Espanha, os territórios
explorados pelos portugueses a eles ficaram pertencendo de fato e de direito do Uti possi detis
(“como possuis”; direito de posse de um território por um país, fundamentado na ocupação
efetiva e prolongada e independente de qualquer outro título). Devemos a vitória desse
argumento a Alexandre de Gusmão, que defendeu a posse das terras ocupadas pelo nosso
povo.
Vale lembrar, ainda, desse período da história do Brasil e da formação social, cultural e
política do Nordeste, o desenvolvimento dessa região por influência dos holandeses, que lá
estiveram instalados pela invasão de 1624 (na Bahia, primeira tentativa) e em 1630 em
Pernambuco, onde permaneceram até 1654. Pela administração de Maurício de Nassau, a
cidade de Recife chegou a ser o principal centro cultural da América do Sul, possuindo até um
observatório astronômico. Com a Insurreição Pernambucana, os holandeses foram
definitivamente expulsos do Brasil, mas suas obras, métodos de produção e influências
ficaram. Uma das mais importantes conseqüências foi, sem dúvida, o sentimento nativista,
criado juntamente com a guerra contra os franceses no Rio de Janeiro. Formava-se um
sentimento e unidade nacional.
O Brasil, a essa altura, já tinha 150 anos de história e os cidadãos nativos já eram mais
numerosos que os portugueses aqui instalados. Surgiam os sentimentos antilusitanos.
Sucederam-se alguns conflitos isolados como a Revolta do Maranhão e a Guerra dos
Emboabas, esta última ocasionando a criação das capitanias de São Paulo e de Minas Gerais,
separadas do Rio de Janeiro. Em outros lugares do Brasil ocorriam conflitos originados na luta
pelo poder.
Foi o caso da Guerra dos Mascates, entre Olinda e Recife, um caso de autofagia. Olinda
era a capital e Recife, com o progresso deixado pelos holandeses, ascendia à condição de vila,
adquirindo autonomia. Essa guerra chegou a alimentar tendências separatistas, como a
proposta da criação da República de Pernambuco, rapidamente abafada com a chegada de um
novo Governador Geral para a colônia.
Os holandeses que foram expulsos do Brasil transferiram a cana-de-açúcar para as
Antilhas e, graças a sua produtividade, ocuparam o mercado europeu de açúcar, provocando a
decadência da cultura canavieira brasileira. Portugal passou então a enfrentar novos
problemas econômicos. A impotência em administrar esse novo quadro, agravado pela
agressividade dos tradicionais inimigos europeus, fê-lo unir-se à Inglaterra, único país que lhe
era amistoso. Por um tratado, Portugal obrigou-se a comprar da Inglaterra o tecido, em troca da
venda de todo vinho produzido na Ilha da Madeira.
Evidentemente, os ingleses saíram lucrando, pois deles passou a ser também o
transporte dos produtos das colônias para a Europa, tirando de Portugal as chances de
equilibrar a economia. As descobertas de jazidas de ouro e pedras preciosas salvaram os
lusitanos de problemas maiores, até o final do século XVIII, graças a uma rígida fiscalização e
direção das minas, que rendiam o famoso “quinto”, um tributo sobre a exploração. Portugal
concentrava todo o poder, mas, face ao alto tributo, aumentava cada vez mais o contrabando.
Mas as descobertas de ouro no México e no Peru puseram em decadência o Ciclo do Ouro e
alimentaram o movimento de separação de Portugal. A Inconfidência Mineira - o registro
histórico precursor da liberdade - falhou e seus líderes foram executados, presos ou exilados e
o Brasil perdeu a chance de ser uma República como planejavam os inconfidentes. Pode-se
dizer que, pela primeira vez, perdemos o “bonde da história”.
O segundo “bonde perdido” foi a Conjuração dos Alfaiates (1798), movimento que tinha
quase tudo em comum com a Inconfidência Minera, inspirado que era nos acontecimentos
europeus de revolução por distribuição mais justa das riquezas e por democracia.
BRASIL CONFEDERAÇÃO 19
Em 1808, a família real muda-se para a colônia, fugindo das pressões de Napoleão, que
invadiu Portugal. Dez mil pessoas vieram junto com ela e iniciou-se uma nova fase da história
do Brasil.
Os dois países ibéricos, conhecidos como “imensos corpos com cabeça pequena”, em
alusão às grandes extensões territoriais de suas colônias, não acompanhavam a emergente
Revolução Industrial e ficavam cada vez mais dependentes da Inglaterra. Começava, por vias
transversas, uma dominação anglo-saxônica sobre as Américas, exceção feita aos Estados
Unidos, que já formavam uma república independente.
Podemos examinar essa nova fase sob três aspectos. O primeiro deles é de natureza
econômica. A abertura dos portos colocou o Brasil em condições de comercializar mais
amplamente e quebrou-se a proibição de instalar indústrias na colônia. Caíram duas grandes
barreiras que impediam o Brasil de crescer. Floresceram a indústria e o comércio e em 1812 já
tínhamos a primeira usina siderúrgica, em Congonhas de Campos, com supervisão técnica de
um especialista alemão. Foi criado o Banco do Brasil e, em 1815, a Casa da Moeda, que
alavancavam um desenvolvimento ainda maior.
O segundo aspecto é político-administrativo. Instalado no Rio de Janeiro, o governo real
criou todos os órgãos administrativos e pastas ministeriais que antes existiam apenas em
Lisboa. Em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves,
recebendo armas especiais que foram gravadas nos selos, bandeiras e moedas. Foi o fim de
fato do regime colonial e o Brasil já sobrepujava os próprios conquistadores. Afinal, a sede do
reino estava aqui.
O terceiro aspecto, cultural, é o surgimento das artes e das técnicas, estimuladas pela
criação de escolas de ensino superior, instalação da Imprensa Real e surgimento do primeiro
jornal brasileiro (Gazeta do Rio, em 1808), fundação da Biblioteca Real (1810), criação do
Horto Real, da Academia Real Militar e da Academia de Belas Artes.
Com esse novo quadro, ficou claro que não havia mais razões para o Brasil permanecer
unido a Portugal e em 1822 era declarada a Independência, por membros da própria casa real
portuguesa. O Brasil acompanhava o caminho de toda a América espanhola, que seguia
líderes libertadores como San Martin, Bolívar, Artigas e O’Higgins.
Uma coisa não pode ser esquecida nesta sinopse: a festejada independência do Brasil,
acompanhada do centralismo governamental, fez com que o desenvolvimento econômico,
social e cultural ocorresse com muito vigor no Rio de Janeiro, enquanto sentimentos
separatistas tornavam a manifestar-se ao Norte. Em 1817, as lideranças pernambucanas
encontraram apoio em Alagoas e Paraíba e também no estrangeiro (Estados Unidos e
Inglaterra), e, pelo sentimento da necessidade de autonomia, de autodeterminação, insurgiram-
se, querendo separar-se de Portugal e do Rio de Janeiro, imaginando implantar uma
República. A rebelião foi abafada pelas tropas reais e a maioria dos líderes revolucionários foi
executada.
Em Portugal também clamava-se por democracia nesta época. Quando, em 1816, a
dinastia portuguesa já havia recuperado a nação do domínio francês e inglês e morreu D. Maria
I, o Rei D. João VI viu-se obrigado a retornar a Portugal. Sua primeira missão seria enfrentar
uma revolta liberal em Lisboa e Porto, que visava estabelecer uma nova constituição. Eram os
liberais, no Brasil e em Portugal, sinal de que a monarquia estava no fim, como em vários
países europeus.
D. Pedro ficou no Brasil em lugar de seu pai, D. João VI, como Príncipe Regente, para
optar em seguida pela independência do seu quinhão e tornar-se dele o Imperador. Ele
manteve, porém, centralizado o poder. Uma das leis que decretou logo após o famoso “Dia do
Fico” (9 de janeiro de 1822) determinava a instalação, no Rio de Janeiro, do Conselho dos
Procuradores Gerais das Províncias, com a incumbência de aconselhar o Príncipe em todos os
assuntos de caráter relevante. Reservava-se, portanto, a esse conselho o poder de tomar
decisões sobre questões muitas vezes distantes, de províncias que sequer conhecia.
Meses depois, a 7 de setembro, contra as pressões que o Príncipe continuava
recebendo de Portugal para que retornasse e respondesse processo, foi declarada a
separação definitiva. O gesto não foi suficiente para garantir a união territorial. Existiam focos
de resistência em diversas províncias e D. Pedro obrigou-se a recrutar escravos, prisioneiros
(em troca de liberdade) e até de estrangeiros (ingleses e austríacos) para manter a
independência e evitar a desagregação nacional. Esses focos d resistência eram liderados por
governadores das províncias que se mantinham fiéis à Coroa e foram, sucessivamente,
derrotados pelas tropas do Império. Mas também surgiam diversos movimentos de cunho
20 BRASIL CONFEDERAÇÃO
posição de dependência aos ingleses. “Foi um coice na boca do estômago”, como escreveu
José Bonifácio, revoltado, a um amigo. Mas “consumatum est” - consumado está. D. Pedro I
também resolveu mandar armas e navios aos portugueses para o combate aos miguelistas,
que haviam tomado o poder e derrubado Dona Maria da Glória, sua filha. Houve também o
problema da província Cisplatina, na já referida formação do Uruguai, depois de indisposições
com franceses, americanos e argentinos.
Com a partida de D.Pedro I, o Brasil passou um período nas mãos de regentes
especiais, enquanto o príncipe herdeiro não atingia a maioridade para assumir o poder.
Cremos que foi nesse momento que nosso país perdeu pela terceira vez o “bonde da história”,
pois nada impedia que o Brasil se transformasse em República.
D. Pedro de Alcântara tinha apenas 4 anos de idade e fica a pergunta: por que se
manteve o status quo? Por quem? Durante o período da regência, passada de mão de acordo
com as encrencas políticas da época, firmaram-se dois partidos junto ao Parlamento: o
Conservador e o Liberal. Os liberais defendiam o federalismo, buscando dentro da União,
autonomia para as províncias para que pudessem gerenciar seu próprio desenvolvimento, a
exemplo do que acontecia nos Estados Unidos. Os conservadores queiram a manutenção do
poder centralizado. A bagunça política era generalizada, se observarmos o que dizem os livros
de história mais simples. Dizem eles que José Bonifácio de Andrada e Silva, anteriormente
revoltado contra os atos de D. Pedro I, organizou, juntamente com seus dois irmãos, um
partido, o Restaurador, que pretendia a volta do antigo monarca. Pelo visto, vem daquela
época o hábito de montar partidos em profusão e pular de um para outro como se troca de
camisa ... Sem mencionar os casuísmos.
Uma certa autonomia provincial houve em 1834, quando o Ato Adicional de 12 de agosto
alterou vários artigos da Constituição e transformou a Regência Trina em Regência Una.
Observe-se aqui a continuidade da cultura messiânica de buscar sempre um salvador da
pátria (que reserve os interesses das classes dominantes, naturalmente).
Como na salvação messiânica, face às desastradas gestões dos Regentes, os quais
alternavam-se no poder ao sabor dos dissabores da politicagem, era “necessário” fazer o
príncipe “crescer” mais rápido.
Após muita discussão sobre a antecipação de sua maioridade, D. Pedro II foi entronado
aos 15 anos de idade, com apoio de um colossal movimento popular, encabeçado pelo Clube
da Maioridade.
Logo tratou de nomear seu ministério e fortalecer o Parlamentarismo. Formou o
“Ministério dos Irmãos”, assim chamado porque era composto de quatro irmãos, recrutados
junto ao Clube da Maioridade. Não durou um ano e foi exonerado pelo Imperador.
O Segundo Reinado durou meio século e segundo os historiadores pode ser dividido em
quatro fases. A primeira vai de 1840 a 1849, tida como de adaptação e de consolidação do
poder central e da unidade política nacional, especialmente com o sufocamento das revoltas
internas. Foi criada a Presidência do Conselho de Ministros, que solidificou o Parlamentarismo
e possibilitou o alavancamento da segunda fase, tida como de grande progresso econômico,
intelectual e artístico, o apogeu do Império, assinalado entre 1853 e 1863.
A paz e o progresso, porém, não duraram muito tempo, pois veio uma terceira fase,
recheada de guerras, a do Paraguai e do Uruguai.
Com a quarta fase, iniciou-se a decadência do regime. A busca de mudanças fez
ressurgir muitas desavenças políticas, que minaram definitivamente a Monarquia e abriram
caminho para as idéias republicanas.
Entre os inúmeros problemas do Segundo Reinado, destaca-se o da escravatura.
Segundo historiadores - e estamos de pleno acordo - as indecisões e o retardamento dos fatos
impediram o progresso do país debutante. Na época (assim como ainda hoje), imperava o
pensamento gradualista, que beneficiou os grandes proprietários rurais, no caso da abolição da
escravatura. Com os escravos, eles tinham mão-de-obra aparentemente grátis e essa política
burra ocasionou uma verdadeira freada na história. O Brasil foi ficando para trás em relação ao
resto do mundo, especialmente dos Estados Unidos, que pelas dimensões similares é nosso
melhor termo de comparação no continente.
Essa postura fez com que o Brasil, em meio a uma série de leis e decretos sobre a
questão dos escravos - muitas vezes não cumpridas - já tivesse na Europa a imagem de um
país que somente cumpria promessas à força ou sob pressão. Após meio século de legislação
22 BRASIL CONFEDERAÇÃO
paliativa - da proibição do tráfico de africanos até a lei do Ventre Livre - em 1888, foi finalmente
assinada a Lei Áurea.
Juntando as peças que construíram mais de sessenta anos de reinado, podemos
concluir que sofremos um atraso substancial, devido às intrigas entre liberais e conservadores,
que tinham mais interesse no poder que na causa patriótica. A semelhança com os dias de
hoje é extraordinariamente grande, trocando apenas os temas. Foram líderes retardadores,
coadjuvados pelos escravocratas, latifundiários e pela nobreza nababesca, a quem interessava
retardar o mais possível o avanço natural das liberdades e convicções humanas em voga na
Europa e América do Norte. Por exemplo, assim como a questão escrava, a questão agrária
ficou “imexível”, mesmo com a Lei da Terra em vigor desde 1850, só que como “letra morta”.
Nos trezentos anos de poder centralizado em Portugal, seguidos de quase um século de
poder centralizado na família real no Rio de janeiro, formou-se um povo sem tradição de
participar na vida política nacional. A Constituição de 1824 só fornecia direitos políticos aos
abastados, deixando de fora o povo e esse, geração após geração, foi submisso - e por isto
pacífico - e até hoje aceita qualquer coisa de qualquer governo e carrega nas costas uma
política paternalista que tem como princípio “dar cinqüenta para tirar cem”.
Foi assim que o Brasil nasceu, chegando em 1889 à República, que poderia ter
acontecido cem anos antes, em 1789, com a Inconfidência Mineira, sufocada
maquiavelicamente, impondo-se medo ao povo através de exposição de restos mortais de
Tiradentes nos caminhos de Minas Gerais, declarando-se também infames seus filhos e netos,
dentre outras providências que não deixaram dúvidas do castigo a ser dado a quem ousasse
por uma pátria livre e organizada.
Durante a fase de decadência da Monarquia, uma forte crise econômica, piorada pelas
fugas de escravos, abriu campo para crises militares e religiosas e as idéias republicanas
ganharam força, principalmente em São Paulo no eixo da economia do país, dado que nesta
província a imigração de estrangeiros já substituía a mão-de-obra escrava. A proclamação da
República foi o primeiro golpe de estado experimentado pelo Brasil. Os militares derrubaram a
Monarquia e assumiram o poder provisoriamente com o Marechal Deodoro da Fonseca. Foi
montado um ministério e, em 21 de dezembro de 1889, foi convocada a primeira Assembléia
Constituinte da República. As primeiras eleições para governadores dos estados aconteceram
em 15 de setembro do ano seguinte, com ampla vitória dos republicanos. Muita confusão
política haveria de ocorrer antes de consolidar-se a República.
Em 1891, o Marechal Floriano Peixoto substituiu Deodoro, que renunciara. Dissolveu o
Congresso, suprimiu liberdades políticas, inaugurou a ditadura militar no Brasil. Deu início a
um período de violência contra as pessoas, de guerra civil e deportações. A Revolução
Federalista custou mais de dez mil vidas exterminadas por degolas, fuzilamentos ferozes,
repressão desvairada. Viu-se o que até no Império se desconhecia. Grupos de líderes
insatisfeitos lutaram pelo retorno da Monarquia e foram sufocados. Dá-se a este período o
nome de Consolidação da República, mas pode-se chamar de impedimento à volta da
Monarquia. E, a partir daí, sucederam-se no poder lideranças militares e depois as civis
apoiadas pelas classes dominantes. As revoltas eram mais disputadas pelo poder, pois os
presidentes o queriam com todas as prerrogativas, chocando-se com o conceito de uma
verdadeira república federalista, dotada de um Congresso Nacional forte. Até o ano de 1930,
sucederam-se nove presidentes, sempre apoiados por oligarquias. Observou-se pouco
crescimento econômico. Chama a atenção a construção de algumas ferrovias e estradas.
Destaca-se, porém, o crescimento territorial, com a anexação do Território do Acre, comprado
da Bolívia, o ganho do Amapá, em disputa com a Guiana Francesa e as disputas da Lagoa
Mirim com o Uruguai e das Missões, com a Argentina.
Em 1930, assume Getúlio Vargas, líder de um movimento que denunciava fraudes nas
eleições, depois de concorrer com Júlio Prestes, que contara a seu favor uma diferença de um
milhão de votos. Vargas assumiu o poder depondo Washington Luís, com o apoio de forças
militares. Iniciava-se o Estado Novo sem um programa de governo, mas com divisão entre
constitucionalistas e autoritários nacionalistas. Os primeiros eram liberais e os outros,
fomentados pelos tenentes das Forças Armadas, tinham idéias políticas não democráticas.
Apesar disso, o governo de Vargas resultou numa rápida industrialização - novidade para o
Brasil - criou leis trabalhistas, fortaleceu o Exército e modernizou a Marinha. Mas não houve
mudanças no que diz respeito ao chamado federalismo autêntico. Os liberais exigiam uma
constituição e eleições livres. Em São Paulo, formou-se a Revolução Constitucionalista, que
acabou se transformando em separatista e perdeu o apoio de Minas Gerais e Rio Grande do
BRASIL CONFEDERAÇÃO 23
Sul. Em 1934, Vargas viu-se obrigado a convocar uma Assembléia Constituinte e o resultado
foi uma carta federalista e presidencialista. Federalista em termos ...
O mundo lá fora sofria mudanças e evoluíam o Comunismo, o Fascismo, o Nazismo.
Fortaleceu-se, então, no Brasil, o Partido Comunista, enquanto Vargas flertava com nazistas e
fascistas. Os comunistas organizaram um movimento denominado ANL - Aliança Nacional
Libertadora, que, após revolta iniciada pela ala radical no Norte do país, provocou a decretação
de estado de sítio. O Congresso apoiara o presidente nesta decisão, mas negou-se quando
Vargas pediu sua prorrogação. Aproximavam-se as eleições e Vargas não poderia concorrer,
devido a impeditivo constitucional. Por essa e por outras razões, apelou para um novo golpe de
estado, em 10 de novembro de 1937, prometendo um plebiscito para daí a seis anos.
Mantinha-se no poder o Estado Novo, sem nenhuma ideologia política e sem nenhum
apoio partidário, mas respaldado na Forças Armadas e na Polícia. Se existia no país algum
princípio federalista, apagou-se neste tempo e o Brasil continuava na sua trajetória de
centralismo, apesar de possuir um território enorme e diferenças regionais que se acentuavam
sempre mais.
Logo, Vargas percebeu o declínio dos movimentos fascistas da Europa e que isto
poderia reduzir a sua força e afetar o seu comando. Decretou então uma vasta legislação
previdenciária, atraindo para si a simpatia dos operários e inaugurando o chamado
Trabalhismo. Os sindicatos também ganharam força e, para as funções de liderança, foram
colocados os “pelegos”, homens do governo instruídos para o controle dos trabalhadores.
Em 1945 foram convocadas eleições e o Brasil voltava ao regime democrático. No ano
seguinte já tínhamos uma Constituição, considerada a mais democrática de todas, apesar de o
PCB - Partido Comunista Brasileiro - ter seu registro cassado, por ser considerado
antidemocrático. O “federalismo” retorna à vida do país. Vargas se elege presidente em 1951,
candidato pelo PTB - Partido Trabalhista Brasileiro. Foi eleito pelo povo, mas não conseguiu
governar, com tantas intrigas que poluíram a cena nacional. Carlos Lacerda, seu maior
adversário político, sofreu um atentado militar. As Forças Armadas exigiram sua renúncia.
Vargas suicidou-se. Sucederam-no Café Filho e Carlos Luz, este destituído e substituído por
Nereu Ramos. Chegamos a Juscelino Kubitschek de Oliveira. Homem prático, marcou
presença na história com uma política de desenvolvimento espetacular, embora improvisada, e
por isso mesmo, sem continuidade no período de seu sucessor, Jânio Quadros. Com Jânio, o
personalismo fez prevalecer o centralismo. O país viu-se prejudicado por um governo que dava
combate à inflação e à corrupção com medidas austeras e por outro lado praticava atos
polêmicos como a condecoração a Che Guevara. Por este feito, Carlos Lacerda ocupou a cena
política nacional novamente e dirigiu ao presidente um ataque verbal pelo rádio, acusando
também o Ministro da Justiça, Pedroso Horta, de tentativa de golpe. Jânio colocou seu cargo à
disposição do Congresso, numa tentativa de fortalecimento próprio, mas foi surpreendido pela
decisão dos deputados, que, sem hesitação, aceitaram a renúncia. Assumiu o vice-presidente
João Goulart, mas com a condição imposta pelos militares de se instituir o Parlamentarismo. O
país viveu novos momentos sem plano de governo, enquanto Jango lutava pelo retorno ao
Presidencialismo, até que um plebiscito derrotou suas pretensões. Enquanto isso, a inflação
atingia índices jamais conhecidos e a dívida externa somava “estonteantes” três bilhões de
dólares. Jango, acusado pelos militares de incentivar as esquerdas e o comunismo, em 31 de
março de 1964 fugiu para o Uruguai, deixando vaga a presidência. Os militares tomaram o
poder no dia seguinte (ou nas primeiras horas de 1º de abril, como preferem alguns) e os
políticos tentaram transformar o fato em mais uma intervenção como as que haviam ocorrido
antes. Sem vice-presidente, assumiu o poder o presidente da Câmara dos Deputados, mas
este ato foi invalidado em 9 de abril, pela Junta Militar intitulada Supremo Comando
Revolucionário, que fez publicar o Ato Institucional nº 1, atribuindo-lhe poderes extraordinário,
como a supressão de direitos políticos de qualquer cidadão. O excesso de politicagem
praticado depois de Vargas inutilizou a oportunidade de descentralização do poder havida com
a Constituição de 1946 e até com alguns momentos de Parlamentarismo. Caímos no lado
contrário, com um Estado de Exceção, tudo novamente centralizado, líderes cassados e
caçados, opinião pública contida, assim como foi abafado o surgimento de novas lideranças. A
vida política no Brasil parou, morta pela própria insensatez.
Desnecessário discorrer sobre a escuridão política que o Brasil viveu por vinte anos,
cujo véu começou a ser desvendado a partir do governo do General Geisel e durante o período
do General Figueiredo, num processo um tanto parecido com a “enrolada” libertação dos
escravos. Foi um período de grande desenvolvimento econômico, no qual estacou-se a
construção da estrutura nacional de energia, comunicações e transporte, fruto de abundantes
24 BRASIL CONFEDERAÇÃO
financiamentos externos que se revelaram depois uma grande arapuca financeira internacional.
Ingenuamente, foram aceitas condições de financiamento que, com as crises do petróleo de
1973 e 1978 e os “choques dos juros” que as sucederam, serviram apenas para deixar o Brasil
endividado. Até hoje vivemos dias de “adaptação”, jamais consumada.
Esta análise histórica, sem maiores novidades, permite-nos observar que nosso país
viveu sempre sob o domínio do centralismo. O poder concentrado foi objeto de todas as
discórdias políticas, golpes de estado, administrações desastrosas ou incipientes,
concentração de renda, dissociamento do povo da vida política. Esta última é talvez a pior das
conseqüências. O brasileiro jamais se sentiu estimulado a agir livre em consciência e talento.
Sempre teve mais motivos para a revolta que para acreditar na construção de alguma coisa.
Os empreendimentos vitoriosos sempre foram privilégio de pessoas não comuns e não raro
protegidas pelas classes dominantes. Temos exceções na história recente, especialmente na
formação industrial, é verdade, porém elas apenas e ainda apontam mesmo é para as
vantagens da liberdade sobre a dominação.
Fica difícil saber se o Brasil, de fato, seria hoje um país de Primeiro Mundo, caso tivesse
sido colonizado por ingleses, holandeses, alemães, irlandeses, franceses. Talvez. Esses
povos teriam, com certeza, plantado aqui mais tradições de liberdade e de administração
descentralizada. Fica difícil também afirmar se o Brasil teria as atuais dimensões territoriais -
uma grande vantagem competitiva nos dias atuais - caso fossem adotadas, desde os tempos
da colônia, providências de democratização e horizontalização do poder.
Os interesses não convergiam naquela época para a transformação da Colônia em uma
grande nação, mas para interesses particulares que muito bem poderiam transbordar na
criação de uma série de republiquetas, comandadas por déspotas de pouco conhecimento e
muita sede de poder.
O fato é que o Brasil conseguiu, ao contrário das demais colônias sul-americanas,
manter uma unidade invejável, a quarta maior extensão territorial do planeta.
Tem minérios, biodiversidade, recursos hídricos, bilhões de hectares cultiváveis, seis mil
quilômetros de costa atlântica, ambiente estável, temperado ou tropical, fértil. Está faltando
apenas a educação para o povo, o resgate do seu orgulho e uma estrutura administrativa
adequada à melhor exploração das potencialidades regionais, a oportunidade para que os
brasileiros de cada unidade da federação/confederação mostrem o que sabem fazer para
progredir.
Mesmo sem possuirmos uma bola de cristal nem sermos donos da verdade, arriscamos
predizer que teremos sucesso se avançarmos para mudança modernizantes. Temos, para nos
manter unidos, quase 500 anos de consolidação territorial, uma identidade nacional rara no
mundo, uma cultura brasileira rica e variada. Podemos acompanhar as tendências mundiais
que já nos impulsionaram para a sociedade humana do século XXI, sem medo das mudanças
necessárias, mas fugindo, isto sim, da permanência do atual status quo.
Este é um ato de fé, muito maior que remover montanhas, mas infinitamente mais viável.
CAPÍTULO 7
na mídia. Não é difícil perceber o empobrecimento contínuo, que envolve cada vez mais gente.
É impossível não enxergar a corrupção, a criminalidade, a injustiça, o desemprego, a falência
e o sucateamento das atividades industriais e da agricultura, o crescimento da economia
informal, do subemprego e da marginalidade. Crescem as atividades ilícitas como agiotagem,
picaretagem, jogo, tráfico de drogas, contrabando, prostituição. Temos 35 milhões de menores
abandonados, crianças sem chances de se tornarem cidadãos completos.
Avança o analfabetismo (e haja Ciacs), os aposentados são trapaceados pelo governo,
as favelas incham os centros urbanos, nas regiões de fome desenvolvem-se sub-raças,
verdadeiras Etiópias encravadas no país, multiplica-se o homem-gabiru. Institucionaliza-se a
“Lei de Gerson” (o negócio é levar vantagem em tudo, certo?) e clareia-se a descrença nas
instituições, desmorona a moral da sociedade, impõe-se o imediatismo e a necessidade de
sobrevivência apenas diária, que substitui o planejamento e a esperança. A descrença geral
desvaloriza a pátria, os políticos, as empresas, os produtos e serviços, os trabalhadores, as
pessoas, a justiça, enfim, o caos só não se converteu em convulsão social graças à própria
passividade do nosso povo, fato que chega a impressionar a gente de outros países.
A POLÍTICA DA POLITICAGEM
Diz uma anedota que enquanto Deus fazia a criação do mundo, tudo que havia de
melhor ou de mais bonito colocava em um determinado lugar chamado Brasil. O anjo Gabriel o
acompanhava apreensivo e perguntava se isto não seria uma tremenda injustiça. Deus então
respondeu-lhe: “- Fique calmo. Logo colocarei ali os partidos políticos”. E assim foi. Boris
Marschalov comentou: ”O Congresso Nacional é bem estranho. Alguém se levanta, fala e não
diz nada. Ninguém presta atenção e então todo mundo discorda”. Basta ligar a televisão para
ver como este fato se repete com freqüência. Acontece que o Congresso Nacional sofre de
dois males básicos. O primeiro vem da estranha proporcionalidade de representação popular,
pela qual um deputado do Acre vale mais que um deputado de São Paulo. O segundo é sua
26 BRASIL CONFEDERAÇÃO
dedicação a inúmeros projetos que não atendem aos anseios da nação e sim de alguns
“ansiosos”. Salvo as honrosas exceções de parlamentares que procuram trabalhar seriamente,
a função política é vista como um projeto de realização pessoal e não como um serviço
prestado à nação. Para eleger-se - para cargos federais, estaduais ou municipais - o político
não expõe sua ideologia e suas metas de trabalho, mas distribui dentaduras para eleitores e
cargos públicos para os cabos eleitorais, e busca o financiamento de quem detém o poder
econômico, para retribuir depois com favores. Com cinismo se diz que para cultivar belas
rosas é necessário algum esterco. Falta porém o adubo certo para que haja vontade de
trabalhar. Milhares de projetos de leis, alguns deles já devidamente fossilizados nas gavetas,
esperam pela sua análise e a Constituição aguarda pela sua regulamentação. Não é muito
trabalho para o Congresso?
Não cremos que seja possível desenvolver um país provocando o fechamento de suas
fábricas, esvaziando as lojas e deixando gente sem emprego. O que conseguiremos,
persistindo nesse rumo, é transformar o Brasil no maior país de muambeiros do mundo, pois
está ficando mais rendoso comercializar importados e contrabandeados, vender cachorro-
quente nas esquinas e abrir bancas de jornais do que ser engenheiro, advogado, médico,
técnico de alguma coisa ou empresário.
Para que não se perca do rumo é importante lembrar que a empresa é o meio de gerar
riquezas, desenvolvimento econômico e bem-estar social em qualquer nação cujo fim de
existência seja o cidadão. Cabe ao cidadão sustentar o Estado, para que este atenda algumas
de suas necessidades básicas. Fazer o que se faz com a empresa brasileira, sobrecarregando-
a de obrigações e interferindo no seu “habitat”, o mercado, para em seguida jogá-la na fogueira
da concorrência internacional, é o mesmo que cortar as asas de um passarinho criado na
gaiola, soltá-lo na floresta e dizer-lhe “- vire-se, seja competente”.
Sul, que alegam evasão de rendas de sua produção sem o devido e justo retorno da parte do
órgão centralizador, o governo federal. Alegações incontestáveis. Propostas ingênuas, mas
que podem se tornar sérias.
As aspirações separatistas encontram adeptos em dezenas de municípios, onde se
formam comitês e houve até quem proclamasse, simbolicamente, a “República dos Pampas”,
com carteira de identidade civil, Carta Magna, bandeira e vários outros símbolos. Querem os
“pampeiros” (ou pampistas) livrar-se do “peso” do governo centralizado de Brasília e da
exploração imposta pelos políticos nordestinos que comandam o Congresso Nacional. Estão
repletos de razão, mas o caminho não é separar.
É preciso ter uma visão mais ampla dos fatos. Seria uma tolice separar pedaços de um
país já unificado, quando as nações procuram exatamente o contrário. Europa, Ásia, América
do Norte, Cone Sul e agora também a América Central (México, Venezuela e Colômbia estão
formando o “Grupo de los Três”) tratam de formar blocos. Seria um grave erro de estratégia
política e econômica, em vista da reorganização geopolítica internacional do momento e a
necessidade de ampliar escalas, gerando uma conjuntura internacional que deverá vigorar por
um tempo indeterminado. Nesta virada de milênio “um estado ou um país não fazem verão
sozinho”, especialmente se levarmos em conta a regra da complementariedade econômica, a
qual não apenas torna o Brasil necessário para si mesmo, mas gera uma interdependência
impressionante entre as nações.
Uma Carta que permita maior liberdade aos estados brasileiros, para que estes
desenvolvam suas potencialidades dentro de suas características, propiciará a utilização
vantajosa da regra da completariedade. Em outras palavras, a união econômica fortalecerá a
nação brasileira e cada estado membro em particular, mediante uma nova ordem interna.
Separar seria abandonar a hegemonia no mercado latino-americano e o domínio das
nossas empresas sobre o próprio mercado brasileiro, o maior da América do Sul. Um estado
perderia o acesso às riquezas biológicas e minerais que existem em outro estado. Será que os
separatistas do Sul manteriam a motivação de seu movimento caso fosse anunciada a
descoberta da maior jazida de petróleo do mundo no Nordeste? Para quem prefere não
raciocinar sobre hipótese, basta lembrar que o Norte e o Nordeste possuem de fato as maiores
jazidas de diversos minerais, bastando tão-somente um gerenciamento profissional para que
haja o perfeito aproveitamento dessas riquezas por todos nós brasileiros.
Como elemento que sela as exposições feitas, pode-se mencionar a consciência da
nacionalidade brasileira, presente em todos os cantos do país de forma inconteste.
No passado encontramos as reflexões e ações de Rui Barbosa, um dos mais
respeitados juristas de toda a história brasileira, o “Águia de Haia”. Tais reflexões influenciaram
a Constituinte de 1890, formada logo após a implantação do regime republicano de 15 de
novembro de 1889. No nascimento da nossa República ele defendeu uma forma mais
centralizada de governo, antes de evoluir para uma federação mais avançada, descentralizada
e democrática de governo.
O Brasil vinha da construção de uma unidade nacional que fez desenvolver apenas
alguns poucos centros econômicos, assumindo sua geografia humana de forma diferente da
norte americana. Pesavam circunstâncias culturais provenientes de nossos exploradores. Não
se sabe ao certo o que aconteceria à unidade nacional se naquela época a República optasse
pelo modelo norte-americano de estados quase independentes. Na opinião de Rui Barbosa o
resultado não seria bom. Em um de seus mais inflamados discursos no Congresso e no
Senado procurou transmitir essa preocupação, afirmando que para se adotar o sistema
federativo dos Estados Unidos, conforme defendiam muitos constituintes da época, seria
necessário possuir uma história que servisse de base para o modelo. Na colonização e no
Brasil Império não houve a preocupação em descentralizar, ficando a maioria das províncias
afastadas dos acontecimentos. Desejava, então, o eminente jurista, que a União fortalecesse
os estados numa primeira etapa, para depois haver a descentralização, na qual acreditava.
“Assentemos a União sobre o granito indestrutível e depois será a oportunidade de organizar
autonomia dos estados com os recursos aproveitáveis para a sua vida individual” - disse aos
constituintes.
Acontece, porém, que as oligarquias, contra as quais Rui Barbosa sempre lutou,
conduziram a República para um resultado que o desiludiu totalmente. Já na entrada do
século, em 1900, ele clamava por uma reforma constitucional. Lamentava ele que o sistema
federativo, mal interpretado e mal ajustado na Carta Magna, proporcio
BRASIL CONFEDERAÇÃO 31
CAPÍTULO 8
Cessada a causa, cessa o efeito, nos ensina a filosofia aristotélica. Se não sabemos
hoje como governar um Brasil formado pela união de estados dotados de autonomia
administrativa, financeira e judiciária é por falta de costume. Temos vícios culturais originados
na tradição de centralismo e que atingem todas as profissões e todas as áreas, desde o setor
privado até o setor público, da escola à aposentadoria. Não é possível mudar tudo isto num
passe de mágica, numa “canetada”, mas não há outro modo que não seja interromper o
modelo centralizador e causador de tantas carências nacionais. É o excesso de centralismo
que retira da sociedade o poder de iniciativa ao longo das gerações, desde o Brasil Colônia,
passando pelo Império chegando aos dias de hoje.
Dentro de uma filosofia extremamente paternalista, acreditam muitos que o povo
brasileiro não tem condições de autogerir-se. E citam a eterna miséria do Nordeste (uma
miséria que é de fato relativa, como é relativa a riqueza do Sul) como “prova” do que afirmam.
Nosso “Rei Pelé”, admirado e amado, chegou a manifestar-se contra o direito voto para o cargo
máximo da ação, o Presidente da República, alegando que “povo que não sabe escovar os
dentes não sabe votar”. Mais tarde, percebendo a grande asneira que disse, arrependeu-se.
Abraham Lincoln nos ensinou: “Não podes ajudar os homens de maneira permanente se
fizeres por eles aquilo que eles devem fazer por si próprios”. Se o Governo Federal sempre
quis “desenvolver” o Norte e o Nordeste a partir dos gabinetes de Brasília é porque sempre
andou na contramão do próprio senso humano. Mas, com certeza, esteve sempre na estrada
de mão-única dos favorecimentos, do tráfico de influências e das verbas altamente
comissionadas. Se o governo conseguiu desenvolver no Nordeste e no Norte algo que não
teria se desenvolvido sem ajuda, foi o poder das velhas oligarquias paternalistas e arcaicas. A
ajuda ao Nordeste somente sustenta politicamente uma certa casta de políticos, impedindo a
renovação democrática.
Eliminando-se o centralismo, todas as demais causas do atraso irão desaparecer ou
enfraquecer e as próximas gerações, com certeza encontrarão um modelo organizacional
estruturado para a plena participação cívica e individual, pois as iniciativas particulares terão
efeito dentro de uma nova linha de pensamento coletivo.
32 BRASIL CONFEDERAÇÃO
MOEDA
Atribuição exclusiva da União para fabricá-la e controlá-la. Neste ponto a Confederação
não muda. O que deve mudar, com o tempo, é a menor velocidade das rotativas da Casa da
Moeda, à medida que a União tiver menos necessidade de emitir papel-moeda e títulos de
dívida pública para financiar a maquina estatal, quando desmontada. Assim acontecendo, a
economia terá mais estabilidade e nossa “fábrica” de dinheiro poderá prestar serviços para
outros países, como acontecia antes.
CÂMBIO
Atribuição exclusiva do mercado. Somente uma economia estável pode dar estabilidade à
moeda nacional e fortalecê-la. A maioria dos países, inclusive na América Latina, adota o
câmbio livre. Além disso é um contra-senso manter o câmbio não oficial como contravenção e
anunciar suas cotações todos os dias, ou de hora em hora, pelos meios e comunicação. O que
faz falta à nação são mecanismos que evitem a “lavagem” de dinheiro proveniente do crime, da
contravenção, da sonegação. Neste ponto, Estados e União devem, em comum acordo, criar
mecanismos de coibição. Não se pode simplesmente ignorar o que se passa à vista de todos e
contribuir para a degradação moral da sociedade. Guardar dólares e outras moedas
estrangeiras é um ato de proteção contra a corrosão inflacionária da moeda nacional, mas é ao
mesmo tempo uma contravenção. Entre a cruz e a espada o cidadão opta pelo que lhe causará
menos dissabores e assim alimenta-se o descrédito nas instituições nacionais, cujo efeito
moral é desastroso para uma sociedade.
SISTEMA FINANCEIRO
Deve ser coordenado pela União através do Banco Central, autônomo. O controle deve,
porém, ter caráter mais ético e os poderes regulador e coercitivo devem ser aplicados apenas
para hamonizar o mercado e mantê-lo democrático. Isto se aplica às instituições bancárias e
financeiras em geral, com as devidas reformas. As bolsas devem ser reguladas através da
CVM - Comissão de Valores Mobiliários e supervisão do Banco Central.
ESTADOS
Aos estados cabe o imposto sobre o preço final das mercadorias ao consumidor, um
segundo imposto sobre a propriedade rural improdutiva, o imposto sobre a propriedade de
veículos (atual IPVA) e a contribuição previdenciária e de pecúlio, exceção feita quando
existirem os seguros, pecúlios e previdência privada.
O imposto sobre o preço final das mercadorias substitui o atual ICMS e o IPI, dentre
outros, evitando o efeito cascata no planilhamento dos custos de cada item que compõe um
BRASIL CONFEDERAÇÃO 33
produto. Tal imposto, retido pelo comerciante ou pelo industrial, deve ser recolhido aos cofres
públicos em no máximo 10 dias, através de conta bancária. As alíquotas devem ser baixas,
compatíveis com a realidade da concorrência de produtos estrangeiros (Mercosul, Europa,
EUA, Ásia, etc). O Brasil pode tornar-se o novo “tigre latino-americano”.
Naturalmente, será necessária uma hamonização de alíquotas nas negociações
interestaduais de serviços e mercadorias, algo que pode ser discutido em fórum como o atual
“CONFAZ”.
O Imposto sobre a propriedade rural improdutiva, em duplicidade, justifica-se pelo duplo
prejuízo que causa, ao estado e ao país, a terra parada e a reforma agrária de discurso. É
preciso, no entanto, tomar cuidado para que não se torne um duplo motivo para arrasar as
reservas florestais e outros recursos da biosfera. Florestas podem ser consideradas áreas
produtivas.
Quanto a contribuição previdenciária e pecúlio, devem ser pagas por empregados e
empregadores, cabendo a maior parcela ao empregado. Podem ser abertas a qualquer
pessoa, mesmo sem carteira de trabalho assinada, mediante contrato de adesão e pagamento
de carnê mensal.
O imposto sobre a propriedade de veículos destina-se à construção e conservação de
estradas (dinheiro carimbado).
A má gestão administrativa do governo de algum estado poderá ocasionar, conforme o
caso, intervenção federal ou, antes disso, “impeachment” por moção popular.
MUNICÍPIOS
Cabe ao município o imposto sobre serviços de qualquer natureza, o imposto sobre a
propriedade territorial urbana (IPTU), o imposto sobre a transmissão de bens imóveis inter-
vivos ou outros impostos cedidos em plebiscito, tendo em vista o plano diretor da cidade.
A tese da Confederação não exclui o municipalismo, pelo contrário, podendo inclusive
cada estado fazer sua própria política municipalista, delegando maiores ou menores poderes
às instâncias locais.
Nada impedirá que os estados repassem verbas aos municípios mais carentes, visando
seu fortalecimento econômico e a distribuição populacional. A qualidade de vida nos pequenos
centros é a melhor política para desinchar os grandes centros. O ideal, porém, é haver o
máximo de descentralização administrativa também dentro dos estados, desconcentrando
recursos e, por conseqüência, poder decisório. O sistema confederativo requer a sabedoria de
dosar os recursos dos estados e dos municípios, deixando grande margem para a criatividade
local.
Requer melhor estudo a divisão mais intensa do território nacional em estados e
municípios. A França tem 36 mil comunidades e a Suíça mais de 3 mil, sendo Genebra uma
cidade com cerca de 300 mil habitantes apenas. Assim, a qualidade de vida aumenta
consideravelmente. O Brasil, com sua imensidão tem apenas 4.900 municípios e, quando são
criados novos, não raro cometem-se erros, emancipando-se distritos que ora condenam a
cidade a que estavam ligados, ora condenam-se a si mesmos por falta de condições de
sobrevivência. Surgem assim mais e mais instrumentos e manipulação política.
PODER JUDICIÁRIO
Existem crimes federais, estaduais e municipais e um novo Código Penal Brasileiro
deverá determiná-los. Caberá as estados formularem seus Códigos Penais, respeitando
sempre o que diz a Constituição no tocante às garantias individuais. Deverá haver margem
para que cada estado decida-se pela pena de morte, trabalhos forçados ou reclusão pura e
simples dos criminosos, a critério da sua população.
Tribunais municipais de julgamento rápido serão instituídos e terão juízes eleitos pelo
povo. Tribunais estaduais terão como atribuição julgar crimes de âmbito estadual, com júri
popular. A União manterá uma Corte Suprema, que decidirá sobre questões de abrangência
nacional e aquelas relacionadas com o poder público nacional ou estadual, inclusive o
impedimento do presidente (impeachment), em caso de regime presidencialista, ou atos lesivos
ao patrimônio nacional por crimes de corrupção ou de atentado.
Preocupação maior que homogeneizar usos, costumes e cabeças de um país inteiro
deve ser a evolução e o enriquecimento cultural. Deve-se permitir que a sociedade evolua em
seus preceitos morais, a exemplo do que ocorre no mundo. É a humanidade que não deseja
mais a proliferação de armas, de regimes de força como o comunismo, explosões nucleares,
destruição do meio ambiente e assim por diante. As atitudes dos governo dos países são
reflexos da sociedade mundial. Basta observar a história e as tendências para o futuro.
EDUCAÇÃO
A proposta é de criação de um Código Nacional de Educação, ficando a tarefa de aplicá-
lo aos estados e municípios. O Código preverá apenas algumas diretrizes básicas para ajuste
dos interesses comuns. Serão mantidas as universidades federais em quantidade de uma para
cada estado e serão determinados no Código a quantidade mínima de universidades gratuitas
para cada estado e o Curriculum mínimo para cada ano letivo.
SAÚDE
Cabe aos estados e municípios gerenciar as contribuições arrecadadas para tal fim e
prover o atendimento das necessidades. Quanto mais municipalizado o atendimento, melhor.
Deve existir um Código Nacional de Saúde para ditar algumas diretrizes básicas
referentes a epidemias e endemias. Chega de intermediações de verbas e desvios. Caberá a
um simples Departamento Nacional de Saúde a regulamentação da vigilância sanitária, da
produção de drogas, medicamentos, alimentos, cosméticos e domissanitários e sua
normatização. Aos estados e municípios é delegada aplicação das normais nacionais, cada
qual com atribuições em determinadas áreas.
MEIO AMBIENTE
Não é sensato unificar a legislação sobre meio ambiente da diversidade ecológica
nacional. É possível, no entanto, estabelecer um Código Nacional de Meio Ambiente
sintonizado com as diretrizes fixadas nos acordos internacionais, cabendo o cumprimento das
normas aos estados. A estes competirá agregar as normas de seus governos que considerem
importantes e necessárias em função das características regionais. Estados poderão fazer
acordos entre si para solucionar questões em comum com a preservação do Pantanal, do
Cerrado, da Mata Atlântica, dos estuários e assim por diante. Poderão ser definidos crimes
ecológicos nacionais e estaduais, com as respectivas punições, variando das multas à prisão.
A participação dos municípios na preservação ambiental brasileira também é necessária,
podendo cada estado estabelecer sua política nesse sentido, através da delegação ou da
cooperação.
AMAZÔNIA
É um caso à parte na questão ambiental brasileira, dado o interesse internacional que
incide sobre a maior e talvez a mais importante reserva de recursos naturais do mundo. É um
caso de planejamento estratégico de interesse de todos os estados-membros da União, a ser
atribuído aos representantes estaduais no Congresso, aos governadores e ao governo federal.
Os meios de preservar a Amazônia e manter sob controle os interesses nacionais e
BRASIL CONFEDERAÇÃO 35
internacionais que incidem sobre ela devem ser estudados com muita seriedade. Lá
concentram-se as riquezas que provavelmente até os estrangeiros (que sabem da Amazônia
mais que nós brasileiros) desconhecem.
Talvez seja mais interessante transformar o Amazonas em Território Federal. Sem
dúvida, um tema polêmico, mas por que não discuti-lo?
ESTRANGEIROS
A política externa caberá exclusivamente à União, com a possibilidade dos estados
serem chamados a opinar. Caberá à União exclusivamente a autorização para permanência de
estrangeiros no país, assim como a emissão de passaportes.
QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL
Caberá à União, através da delegação de poderes aos órgãos de classe, a
normatização, certificados e homologação das profissões. É mais ou menos o que já temos
hoje.
TRÂNSITO
Caberá à União formular o Código Nacional de Trânsito em comum acordo com os
estados, mas aos estados e municípios caberá aplicar a legislação de trânsito.
Não há necessidade de uma Polícia Rodoviária Federal. Poderá haver, no entanto, uma
Polícia Rodoviária Estadual encarregada da guarda das rodovias e uma Guarda Municipal,
responsável pelas vias urbanas. As multas urbanas são cobradas pelo município e as
rodoviárias pelo estado.
A Polícia Estadual atuará também nas rodovias federais, assim chamadas apenas por
questão de planejamento nacional e fluxo estratégico.
ESTRADAS
É interessante a existência de um macro planejamento e uma integração nacional
através dos transportes. A União pode se encarregar da formulação de planos rodoviários,
ferroviários, hidroviários e aeroviários, sempre em consenso com os estados. A construção de
estradas e sua conservação é, porém, assunto que pode estar apenas na alçada dos estados,
para a inciativa pública ou para concessões à inciativa privada. É de interesse de cada estado
possuir uma boa malha viária, peça fundamental de infra-estrutura e de política de
desenvolvimento econômico. É também um bom indicador da qualidade dos governos e da
orientação de suas prioridades, além do fator de emulação interestadual para o progresso
nacional.
FERROVIAS
Nas últimas décadas os governos nacionais foram responsáveis pela adoção apenas do
modelo rodoviário de integração nacional. Foi um verdadeiro crime hediondo contra a nação.
As poucas ferrovias que existem não se integram, pois têm bitolas diferentes nos trilhos e na
cabeça dos dirigentes ferroviários em cada lugar. O monopólio estimulou o corporativismo e se
transformou na melhor prova brasileira de que o centralismo é contraproducente. Os lucros da
administração regional de estados, como o Paraná, são transferidos para cobertura dos déficits
crônicos das administrações regionais do Nordeste e para os prejuízos institucionais o
transporte urbano do Rio de Janeiro. Por que viabilizar economicamente uma ferrovia carioca
ou nordestina se há uma ferrovia no Sul que paga os prejuízos? Como resultado, as safras de
soja do oeste do Paraná continuam sendo transportadas em caminhões, tornando quase mais
caro o transporte dos grãos para exportação que a produção no campo, pois não há com que
expandir a malha ferroviária no estado.
Trens modernos e rápidos, com todo tipo de serviços a bordo, poderiam cruzar o país
transportando passageiros, cargas e encomendas a custos reduzidos. Isto é possível mediante
maior flexibilidade institucional para o setor ferroviário. A construção e operação de linhas de
ferro podem ser atribuições da União, dos estados e da iniciativa privada ao mesmo tempo.
Um Código Nacional de Transportes pode fixar as regras do convívio. O mesmo se aplica às
hidrovias e às linhas aéreas, sendo que estas já caminham nesse sentido.
36 BRASIL CONFEDERAÇÃO
TELECOMUNICAÇÕES
Fala-se muito em privatização do sistema e, sem dúvida nenhuma, é mais fácil para um
governo gerenciar as concessões do que administrar grandes empresas paraestatais. É
necessário, porém, um Código Nacional de Telecomunicações que harmonize as relações e
estimule intercâmbio das companhias estaduais e municipais. É um setor bastante organizado
em nível internacional e que não apresenta maiores dificuldades de gerenciamento. Não é
necessária a existência de uma Telebrás ou qualquer outra empresa estatal para isto. Apenas
uma coordenadoria ou secretaria que faça cumprir as disposições do Código.
CORREIOS
É difícil vislumbrar a privatização total de serviços desta natureza e até mesmo sua
estadualização, dada a necessidade de compensar nas tarifas os custos das entregas em
lugares longínquos ou de baixo tráfego.. O que pode ser pensado, todavia, é a autonomia do
sistema de correios e formas de controlar seu gerenciamento. A maioria dos países os
mantém sob o controle governamental.
A crítica que se faz atualmente refere-se ao constante aumento das tarifas e a qualidade
dos serviços prestados ela ECT. A carta é o meio mais simples, barato e singelo de
comunicação e é direito dos mais sagrados ao cidadão que recolhe impostos para sustentar o
governo da nação. Esse direito não pode ser cerceado pelas tarifas altas. Uma sugestão é o
subsídio da União à entrega das cartas, como forma de estímulo à intercomunicação através
do meio barato e estimulador do domínio da linguagem escrita. É preciso separar na área
pública o conceito de gestão empresarial eficiente com fins de lucro ou pelo menos sem
prejuízos e a gestão eficiente voltada ao social, compreendendo-se que o cidadão sustenta o
estado para que este o atenda em coletividade.
ENERGIA ELÉTRICA
Este setor pode ser perfeitamente estadualizado, mediante normas comuns previstas em
um Código Nacional de Energia, harmônico em nível interestadual no âmbito da América do
Sul. Cada estado pode determinar ou não sua privatização. Este é outro grande fator
estratégico para o desenvolvimento industrial e passível de tornar-se motivo de competição
interestadual, aproveitando-se também, como renda adicional, os excedentes de energia.
ENERGIA NUCLEAR
Competência da União. Sem maiores comentários. Mas a iniciativa privada deve ser
chamada a participar dos projetos, ações e pesquisas, como acontece nos países
desenvolvidos.
SEGUROS
Falta no Brasil credibilidade e profissionalização neste setor. Há muito a desenvolver no
sentido de baixar prêmios e melhorar serviços. É um setor vital para a economia que poderá
ficar sob a competência da União, para coordenar a iniciativa privada através de um Código
Nacional de Seguros. Nos Estados Unidos e na Europa há seguros para tudo e todas as
pessoas são subscritoras de um ou outro tipo de cobertura, pois sabem que, se acontecer
alguma coisa, o seguro será pago antes para ser discutido depois. Até mesmo no setor da
saúde é assim, pois todo e qualquer acidente ou emergência é prontamente atendido para que
depois seja solicitado o cartão e seguro para a cobertura das despesas. Por que não é assim
também no Brasil?
Aqui é comum a pessoa precisar entrar na justiça para receber o que lhe é de direito.
INFORMÁTICA
Uma legislação nacional deve referir-se aos aspectos éticos. Deve haver grande
liberdade de ação, para que haja de fato desenvolvimento. Cabe aos estados e à União apenas
o incentivo à equalização da tecnologia nacional com a estrangeira, financiando projetos
privados, quando for o caso. A União poderá interferir apenas exigindo a comunicação dos
projetos de “hardware” e “software” para fins estatísticos.
BRASIL CONFEDERAÇÃO 37
PROPAGANDA COMERCIAL
Já temos o Conar e funciona muito bem. Cabe à sociedade interferir, caso se sinta
agredida moralmente.
PLANEJAMENTO URBANO
Competência exclusiva de cada cidade, sem interferência da União ou do estado.
TURISMO
Liberdade total para que cada cidade ou estado se promova interna ou externamente
para fins de atração de turistas e de divisas da chamada “industria sem chaminés”. A única
interferência da União diz respeito a concessão de vistos de entrada de estrangeiros no país. E
só.
DESPORTO
Competência dos estados e municípios, subsidiariamente e de acordo com o
planejamento e vontade de cada região. A União poderá incentivar o desporto nacional, mas
não interferirá nas entidades nacionais que coordenar o futebol, o voleibol, os esportes
olímpicos e assim por diante.
CULTURA
Não cabe ao governo interferir no desenvolvimento cultural de um povo e principalmente
nas culturas regionais. O incentivo às artes poderá ser bem recebido.
LEGISLAÇÃO NACIONAL
Caberá à União, através de Congresso Nacional, votar leis como a de Propriedade
Industrial, Registro Comercial e Concordata dentre outras que já existem e são sempre
interesse comum a todos os estados. Nesta categoria se encaixam também Pesos e Medidas,
Normatização Técnica, coordenação das Estatísticas. No caso do Registro Comercial a
competência já é dos estados e o que falta é a modernização, do que já vem ocorrendo.
Atividades específicas como estas podem ser realizadas sem a criação de estruturas
administrativas federais. Há sempre alternativa de os estados atuarem em conjunto, apenas
com supervisão federal.
POLÍCIA
Uma Polícia Federal é necessária para tratar de determinado tipo de casos. As polícias
estaduais e municipais cuidarão do resto. Não há necessidade de Polícia Militar. A polícia
deveria, isto sim, absorver muito do treinamento militar, inclusive ordem unida e disciplina.
Fica aqui registrada a proposta de ações futuras no sentido de concentrar as forças
policiais, ao invés de dividi-las em corporações que muitas vezes têm conflitos entre si. Fica
também a proposta de eleições para os chefes de polícia de cada cidade e chefes distritais
nos grandes centros, com objetivo de exigir efetiva competência para manutenção do cargo ou
para aspirar posições superiores.
LEGISLAÇÃO ELEITORAL
Uma total reforma é necessária, visando restabelecer a proporcionalidade e verdadeira
representatividade democrática dentro do Congresso Nacional.
Quanto ao processo eleitoral nos estados e municípios pode ser implantado o voto
distrital. No que diz respeito aos deputados federais, devem receber votos em todo o estado
que representarão. Em relação a senadores, idem, mas apenas um por estado. Poderão até
fazer campanha em nível nacional, em razão de atribuições especiais. O Brasil é muito grande
para isto, motivo que nos leva à proposta da Confederação, mas esta é uma questão a ser
estudada, pois o senador deve ter a visão voltada para os macroproblemas nacionais e para a
área internacional.
38 BRASIL CONFEDERAÇÃO
Para facilitar e possibilitar uma campanha deste porte, inclusive a de presidente se for o
caso, a União financiará cada candidato (senador e presidente), com verbas e acesso à TV
como ocorre em quase todos os países. As doações deverão ser permitidas tanto por pessoas
físicas como jurídicas, pois este é o verdadeiro espírito participativo com a transparência que
se faz necessária. As doações de grandes somas, acima de um determinado valor, deverão ser
divulgadas e se for descoberta alguma composição com vistas a desviar a concentração de
dações por uma só entidade ou pessoa a um determinado candidato ou partido, esta atitude
deverá ser punida. A participação é necessária como se frisa acima, e ressalta-se a
importância de transparência desses atos. A nível de estados e municípios os procedimentos
poderão ser os mesmos, ficando, entretanto, a critério de cada unidade confederada. A lei
eleitora, nacional deve fixar regras gerais que deixem bem claras as disposições legais
mínimas, objetivando tão-somente igualdade de oportunidade e conceito de uniformidade
nacional, preservando-se a plena democracia e representatividade.
REGISTRO CIVIL
LEIS TRABALHISTAS
Também aqui é necessária uma reforma total. O paternalismo brasileiro não encontra
comparação no primeiro mundo em termos de proteção ao trabalhador. Aplicar “direitos
trabalhistas” rigorosos em um país que caminha do terceiro para o quarto mundo e que precisa
de trabalho, mais que qualquer coisa, produz o desornamento da relação capital-trabalho. O
que se assiste no Brasil é o estímulo ao conflito entre capital e trabalho, quando deveria ocorrer
justamente o contrário. A parceria é necessária, pois um não existe sem o outro A
jurisprudência do “na dúvida o benefício é do trabalhador”, que grassa na justiça trabalhista
nacional, é a malandragem que gera a desconfiança do empregador e estimula a
desqualificação do empregado. Salvo os honrosos exemplos, que graças à Deus nos salvam
do caos final.
A sobrecarga de obrigações trabalhistas recai sobre as empresas e leva ao emprego
sem registro e à sonegação e acaba prejudicando o próprio trabalhador, que ao invés do seu
pagamento em dinheiro, para que possa governar sua vida, recebe quase metade do salário
real em benefícios administrados pela União, de valor e destinos duvidosos.
Cada estado deve ter sua lei trabalhista de acordo com suas peculiaridades. Os estados
mais criativos e equilibrados serão copiados pelos demais estados, com o tempo. Cada estado
buscará preservar aqui o que é justo, como a compensação pela insalubridade, as normas de
segurança, a profissionalização das pessoas, o salário mínimo para adultos e para aprendizes
menores de 16 anos.
Salário bom é resultado de profissionalização, assim como bom produto tem sempre sua
aceitação no mercado e devida remuneração. A última palavra em termos de salário deve ser
sempre a do mercado.
O salário-desemprego fará parte do sistema previdenciário de cada estado. Assim será
mais controlável, rápido e fácil.
BRASIL CONFEDERAÇÃO 39
SINDICALISMO
Deve ser livre a organização de sindicatos e sem exclusividades territoriais de cada
estado, podendo haver, quando muito, um código de ética para limitar abusos.
A greve é um direito inalienável do trabalhador, porém, quando atingir setores tidos
como essenciais, ou as repartições públicas, deve acarretar a responsabilidade civil e penal,
como forma de coibir a mercantilização e politização descontrolada da organização sindical. Só
haverá sensibilidade dos governos em qualquer nível em relação aos interesses de seus
servidores (estes sem direito a greve) mediante a negociação e o próprio fluxo de “ida e vinda”
dos profissionais desse setor, de acordo com as regras invisíveis do mercado - a oferta e a
procura. Estabilidade estatutária, portanto, jamais! É uma agressão à nossa inteligência e
discriminação inconstitucionalizada.
HABITAÇÃO E SANEAMENTO
Competência dos estados e municípios. Devem ser criados meios que possibilitem a
formação de fundos para estas obras, tais como cooperativas de crédito e outros sistemas,
inclusive através do sistema financeiro convencional.
A descentralização é fundamental, mas requer muitos estudos ainda. E cada estado
encontrará suas próprias soluções.
AGRICULTURA
Um Departamento Nacional de Agricultura terá como responsabilidade coordenar, em
conjunto com os estados, o plantio das principais culturas. Há necessidade de constante
planejamento e orientação, para que se fortaleça o agricultor nacional, evitando-se as quebras
que ocorrem, especialmente no segmento dos pequenos proprietários rurais, depois da
colheita, na hora de acertar as contas com os bancos. O planejamento agrário deve visar a
exploração inteligente das terras produtivas.
Para evitar quedas desastrosas dos preços quando ocorrem supersafras, o primeiro
remédio é o planejamento do plantio, sobre o qual o Departamento Nacional de Agricultura
poderá influir através da colaboração dos governos estaduais e das cooperativas. Mas, como
os resultados agrícolas são em grande margem imprevisíveis, há necessidade de um sistema
nacional de estoques reguladores e de garantia da comercialização. Não cabe à União ou aos
estados participar da comercialização ou da estocagem, mas tão-somente negociar com a
iniciativa privada e seus representantes os mecanismos de regulação. As cooperativas de
crédito agrícola devem ser liberadas e regulamentadas, para que financiem a produção,
adquiram os estoques e sejam devidamente capitalizadas para cobrir as eventuais quebras. A
União controla, com ajuda dos estados. A iniciativa privada opina e executa. Urge aproximar,
de forma definitiva, as operações de bolsa de mercadorias e instrumentos com “hedge”
agrícolas (commodities) como é feito em muitos países, até mesmo no Japão (há mais de 300
anos), que tem pouquíssima atividade neste setor. Todo mundo ganha. Oportunidades iguais
não podem ser compreendidas como resultados iguais. É importante colocar as leis do
mercado a serviço da agricultura e não contra ela. O coletivo dos interessados encerra
sabedoria suficiente para obter tal façanha.
Com relação à política agrária, a proposta inicial é dar a competência aos estados e
municípios, que são os maiores interessados em fixar o homem no campo e obter das terras
disponíveis a melhor produtividade.
Da mesma forma deve ser o procedimento com relação aos créditos que porventura
existam. E todos devem honrar, sem paternalismo ou assistencialismo barato, os
compromissos assumidos anteriormente, inclusive a própria União.
As privatizações devem continuar e até mesmo ser aceleradas para dar fôlego à tarefa
de equilibrar as finanças públicas, como a dívida interna, onde os problemas também são
grandes. Municípios e, talvez, alguns estados devem à União verdadeiras fortunas
impagáveis. Se o Brasil pretende recomeçar sua história, dentro de um novo patamar de
equilíbrio, também deve “limpar as teias de aranha” e analisar caso a caso, com vistas ao
saneamento financeiro geral, em todas as instâncias.
Não será recomendável, portanto, orientar-se pela estrita visão de caixa, mas levar em
consideração uma política de desenvolvimento. Cobrar dívidas previdenciárias, arruinando as
finanças de um município, por exemplo, pode ser um acerto contábil, mas será um erro
estratégico. Para se consertar as coisas é preciso usar de bom-senso.
para o seu próprio desenvolvimento. Aliás, existem tantas formas para atrair recursos para
regiões de interesse que certamente não será este um problema para os estados mais pobres,
mas, sem dúvida nenhuma, um leque de soluções e oportunidades.
POLÍTICA MACRONACIONAL
O Plano de Ação de Desenvolvimento Nacional, como citado, visa nada mais do que
uma visão de conjunto das forças representativas da sociedade brasileira (políticas,
empresariais, sindicais e associativa) acerca das ações de interesse comum. As questões da
energia, das ferrovias, da economia, da dívida externa e interna, da harmonização tributária
interestadual, das relações exteriores e demais políticas serão discutidas em foro de interesse
comum; ou seja, tais questões não devem influir diretamente na autonomia dos estados e
municípios. Só podem ser aprovadas em seu conteúdo na medida em que houver consenso e
forem ratificadas pelos estados, não como hoje, cujas determinações vindas do Planalto
simplesmente desrespeitam os interesses estaduais, prejudicando seu povo e gerando as
insatisfações.
Política macronacional é, portanto, ação conjunta, com discussão nacional, sem invasão
regional.
não seja através da participação ativa e intensa. Para aprender a nadar é preciso entrar na
água.
Espero que o leitor não estranhe o fato de este livro não conter todos os detalhes de
como implantar uma reforma confederativa no Brasil.
A Confederação é um sistema baseado nos princípios da liberdade e da
descentralização. É, portanto, o consenso de idéias em torno de uma linha mestra. Pode-se
confiar no bom senso dos brasileiros em geral e quanto maior a abertura para a participação
popular e dos líderes de todas as tendências, maiores serão as possibilidades de acerto.
CAPÍTULO 10
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das rápidas mudanças que ocorrem no planeta, especialmente de 1989 em
diante, o Brasil não pode ficar para trás, à margem do processo. É preciso redimensionar
nossa postura no contexto geopolítico mundial sob pena de não oportunizarmo-nos nas novas
dimensões que se avizinham, com o limiar do terceiro milênio.
Você, caro leitor, quer que o Brasil continue sendo “terceiro mundo”? Quer que sejamos
colônia? Persistindo a atual desorganização e a falta de rumo certamente não passaremos
disso. Já perdemos muito tempo. Tivemos atrasos consideráveis em desenvolvimento,
marginalizando nosso povo, impedindo seu amadurecimento político a tal ponto que está
praticamente perdido o sentido de cidadania, o conceito de nação e de pátria. Nossos jovens
sonham mudar-se para outros países. Pagamos impostos e damos risadas quando as charges
nos jornais e TVs brincam com os escândalos, a roubalheira, a corrupção.
Votamos sem convicção, elegendo para grandes cargos públicos pessoas que não
conhecemos de fato, apenas porque fazem belas campanhas publicitárias. Não nos
candidatamos aos cargos eletivos pensando em contribuir para a melhoria qualitativa da classe
política, por muitas razões, que vão desde a descrença no sistema até a “preservação da
própria imagem”.
Os brasileiros não acostumaram a valorizar-se, a ter orgulho de sua identidade. Ora se
autopenalizam, ora tentam reinventar a roda. Mas é um povo extremamente criativo e
resistente, pronto para enfrentar o trabalho e para fazer sacrifícios que acredita ser
necessários. Os Planos Cruzado e Collor I demonstram isso.
Pelo bem do país, conformou-se até com o saque de poupança individual.
É também um povo amante da paz e que almeja esse ideal para toda a humanidade.
O Senador da República, Marco Maciel, apontou com clareza um outro aspecto cultural:
“o povo brasileiro é solidário mas não é associativo”. A falta de associativismo e de participação
efetiva nos assuntos de interesse comum está na origem da tão estranha desunião política que
cultivamos. As esferas de decisão estão muito distantes. Sempre estiveram distantes do povo.
Se as colocássemos mais próximas com certeza o exercício da cidadania se tornaria mais
atrativo.
Precisamos inverter o ciclo histórico dos 500 anos de centralismo, destruindo alguns
vetores que nos arrastam para a condição de 4º mundo.
Temos oportunidade para resgatar o princípio da cidadania, refletindo sobre o modelo
administrativo existente e imaginando alternativas, tomando posição, assumindo compromissos
e procurando influenciar nas decisões que afetam a vida de cada um.
A proposta da descentralização administrativa, do modelo confederativo, pode ser a
bandeira até mesmo dos integrantes das oligarquias, que comandam os corredores palacianos
e os empresários que sempre ganharam no conluio incestuoso com o governo. Elevar o nível
de vida da nação como um todo através de um modelo de governo mais inteligente interessa a
todos, inclusive às grandes empresas, que na verdade não são tão grandes assim, perto das
corporações internacionais, bem como às próprias oligarquias.
BENEFÍCIOS PRÁTICOS
Analisando-se todo o contexto do novo modelo administrativo que se propõe, fica fácil
perceber, mesmo subjetivamente, os benefícios obtidos para a Nação e para o cidadão.
Mas vale a pena citar alguns:
PREÇOS/INFLAÇÃO
Com a reforma do modelo administrativo, altera-se o sistema tributário, ocorrendo uma
importante queda nos preços, já que os 59 impostos, taxas e tributos incidem de forma direta e
indireta, em “cascata e correnteza” nos custos dos produtos e serviços. Com isso
44 BRASIL CONFEDERAÇÃO
a inflação cairá desde que haja prosseguimento da abertura de mercado aos produtos
estrangeiros, regulando, portanto, o equilíbrio entre demanda e oferta.
MAIS TRABALHOS/SALÁRIOS
Com o reaquecimento da economia, haverá, como reflexo imediato, a geração de
empregos e aumento dos salários, fruto da mesma lei que rege o mercado como um todo: a
oferta e a procura.
MAIS JUSTIÇA
Com a simplificação do judiciário, que terá instâncias locais e estaduais como
balizadoras da justiça comum, os procedimentos terão maior agilidade e correção. A justiça
deve ser certa e não pode tardar para ser justa.
DISTRIBUIÇÃO DA RENDA
Com os impostos ficando dentro dos estados e municípios, sobrarão mais recursos para
o desenvolvimento e aplicação em educação, saúde, habitação, justiça, crédito para indústria e
comércio, saneamento e tudo que seja necessário para o bem-estar coletivo. Acaba-se com os
passeios das verbas, intermediações, PCs, clientelismo político e tantas outras mazelas
provocadas pelo centralismo crônico vivido pelo Brasil.
FIM DO ÊXODO
Com a distribuição de renda melhorada e dependendo dos planejamentos macros
estaduais de desenvolvimento e investimentos, poderá buscar-se o fortalecimento dos
municípios interioranos, incentivando-se a fixação do homem nestes, evitando o inchaço
urbano nos grandes centros, diminuindo com isso a criminalidade e o favelamento, reflexos do
quadro atual.
COMPETITIVIDADE
Com a queda dos preços, graças à reforma tributária, originária da reforma do modelo
administrativo do país, os produtos nacionais poderão competir em iguais condições com os
estrangeiros, mesmo tendo que buscar o aprimoramento tecnológico que os diferencia. O
reaquecimento da economia e a confiança na perenidade das regras propiciará investimento do
capital privado no desenvolvimento de novos produtos, gerando tecnologias, empregos e
riquezas. O Brasil se tornará, então, o mais novo “tigre” mundial, ou, para quem preferir, uma
“onça”...
DEMOCRACIA PLENA
Só se pratica democracia com a soberania do povo pelo povo. Será o fim da excessiva
interferência da União em quase tudo que diz respeito aos municípios e estados, os quais não
mais dependerão do clientelismo. Com isso, o governo ficará junto do povo e não mais a 3.000
km ou mais, encastelado em Brasília. Haverá mais controle e transparência, menos corrupção
e mais decência. Haverá real participação do povo nas decisões que lhe digam respeito. É a
democracia que todos queremos, na mais pura essência.
CONCLUSÃO
Lideranças sindicais de todas as cores políticas, profissionais, estudantes, enfim, todos
podem e devem refletir e agir no sentido das mudanças urgentes. Não ha outro caminho senão
a modernização da democracia brasileira através do modelo administrativo adequado a um
país de 8 milhões e 500 mil quilômetros quadrados. E já!
“São os homens que fazem a história e não a história que faz os homens. Quando falta
liderança a sociedade permanece imóvel. O progresso acontece quando líderes de coragem e
habilidade aproveitam a oportunidade para colocar as coisas em marcha na boa direção”- disse
Harry Truman.
Aqueles que têm uma visão prática e patriótica e se sentem na responsabilidade de
deixar para os seus descendentes um país de oportunidades iguais, sérias, honestas, devem
agir neste momento para liderar seus próprios grupos de influência. Assim gera-se um efeito
multiplicador que fará o movimento das massas, unindo a soli
BRASIL CONFEDERAÇÃO 45
dariedade com a ação da coletividade. Assim serão influenciados todos os pontos da pirâmide
social brasileira, levando a nação a uma visão moderna da organização interna, da vida e da
democracia plena e real.
Cada brasileiro deve lembrar do seguinte ensinamento: “temos todos nós, por ação ou
omissão, estímulo ou incompreensão, responsabilidade dos fatos da história”. (Teotônio Vilela)
DADOS BIBLIOGRÁFICOS