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THOMAS KORONTAI

BRASIL Confederação

PUBLICADO EM MAIO DE 1993

Proposta de
Confederação
dos Estados Brasileiros

Prefácio de
Alexandre Garcia
Editora
Pinha

BRASIL CONFEDERAÇÃO é um trabalho que propõe a confederação de estados


brasileiros, dentro do princípio de modernidade administrativa, que caracteriza a
descentralização de poderes e atribuições e o fim do clientelismo político.
Além disso, esclarece os motivos pelos quais o Brasil chegou à caótica situação
atual. Informa também sobre os modelos de países como Estados Unidos e Suíça,
proporcionando, com comparações sobre a evolução político-administrativa dessas nações,
conclusões sobre o fracasso brasileiro, muito embora nosso país seja rico em potencialidades,
território e população, requisitos básicos para a constituição de uma grande nação..
BRASIL CONFEDERAÇÃO, propõe ainda, de forma comentada, as bases para
uma Nova Constituição, mais simples e de acordo com o verdadeiro princípio federativo de
atribuições de competências entre Municípios, Estados e União, nas esferas administrativa,
judiciária e tributária - a chamada subsidiaridade..

O termo “Confederação “ que dá título ao presente livro e encaminha a proposta sob o mesmo,
foi utilizado na época do seu lançamento e pelo MBC – Movimento Brsail Confederação. Com a
fundação do Partido Federalista, adotou-se o termo federalismo pelo fato de sua proposição
ser mais aceita no entendimento jurídico brasileiro e até por, de fato, não termos uma
federação de verdade.
Desta forma, considere-se o termo Confederação como Federação.
2 BRASIL CONFEDERAÇÃO

PREFÁCIO

UMA “PENSATA” SOBRE O BRASIL


Alexandre Garcia

Thomas Korontai é um jovem maduro que faz uma análise lúcida sobre os defeitos do
“carro Brasil” , neste BRASIL CONFEDERAÇÃO.. Numa época em que se volta a falar em
parlamentarismo, na verdade se acena com mais um diversionismo, para o povo, tal como
foram as diretas-já, a Nova República, a Constituinte, o Cruzado ... meras pinturas num carro
chamado Brasil, cujo motor está queimando óleo e cuja transmissão está roncando.
Este livro vai além da pintura do carro e mostra por que ele não funciona e por que é
igual às demais carroças que circulam por nossas estradas carroçáveis, dirigidas por
carroceiros que matam 80 mil brasileiros por ano.
Korontai escreveu para quem quiser entender a crise econômica, a crise social, a crise
política brasileira. Não é apenas a pregação da idéia da Confederação, mas um diagnóstico de
nossas doenças crônicas, enraizadas na cultura nacional.
Ele mostra que, já no século passado, o Brasil - vale dizer, os brasileiros - já tinha fama
de caloteiro na Europa.
Ele nos mostra que o centralismo, o extrativismo, a exploração - são velhos vícios que
nos acompanham desde Cabral - “et pour cause”. Os problemas de hoje não são nenhuma
novidade - eles sempre acompanharam todas as gerações de brasileiros. As elites sempre
trataram de retardar a modernização do País, temendo perder seus privilégios.
Em alguns pontos, Korontai escorrega na sua pureza e faz concessões como imaginar
que o senador de um estado deva fazer campanha nacional, ou achar que a malandragem é só
do trabalhador, ou dizer que o “país clama pela descentralização” - quando, lamentavelmente,
isso não chegou a 90% da população.
Por outro lado, ele é realista na análise de nossas mazelas, fazendo-nos raciocinar que
o mesmo homem que teve a coragem de sacrificar popularidade eleitoral, bloqueando os
cruzados de viúvas e aposentados, não teve peito para, na mesma penada que fez a
inconstitucional Medida Provisória, reduzir o tamanho do Estado e das folhas de pagamento
federais, que todo o povo paga. Também nos faz pensar com a atualização do ditado oriental
de que o sultão (ou marajá) que toma um ovo, faz com que seus guerreiros, em seguida, se
sintam encorajados a levar mil galinhas (dos ovos de ouro ?).
O livro termina com a proposta prática da confederação. Uma discussão oportuna, às
vésperas do início da revisão da velha Constituição de 1988.
BRASIL CONFEDERAÇÃO 3

ESTADOS CONFEDERADOS DO BRASIL


(Artigo publicado na imprensa
brasileira em 30/06/92)

BRASÍLIA - É mérito dos portugueses terem mantido a unidade territorial do império


brasileiro. Ao longo das fronteiras terrestres brasileiras, a América espanhola fragmentou-se
em vários países.
Uma desvantagem foi termos ficado com uma língua pouco conhecida do mundo, ao
passo que o espanhol é a segunda língua mais difundida no planeta, logo depois do inglês. A
sul-americana espanhola ficou com alguns países mais adiantados, como o Chile , a Argentina
e o Uruguai. É possível que se tivesse ficado una, como o Brasil, acabasse por ter regiões tão
distintas como têm hoje os países. A geografia, os habitantes originais, as misturas étnicas
posteriores tornaram os países de língua espanhola da América do Sul tão diferentes quanto
muitos estados brasileiros entre si. Por causa disso, no Brasil, tardiamente, algumas vozes
invocam diferenças que foram lembradas há mais de 150 anos, como é o caso do movimento
de criação da “República do Pampa” (que vai ser confundida com a Argentina, porque “pampa”
e “gaúcho” evocam a Argentina em qualquer lugar fora do Brasil).
Reclamam os gaúchos de que seu estado é esquecido pelo governo federal; reclamam
os nordestinos de que são “sugados” pelo Sul, e que viveriam melhor se independentes do
Brasil. Na verdade, só não reclama quem teria direito de reclamar: São Paulo, que gera
impostos e riquezas que são distribuídos pelo país todo.
Agora, no Paraná, na Câmara Júnior de Curitiba, surge um movimento capaz de calar
todos os demais: por que não dar a todos autonomia, mantendo a unidade nacional? É o
Movimento da Confederação do Brasil, coordenado pelo jovem empresário Thomas Korontai,
diretor nacional da Câmara Júnior do Brasil.
A confederação nada mais seria do que a realização das promessas não cumpridas da
Constituinte, com relação à descentralização do poder nacional, em benefício dos estados.
Muito pouco fez a Constituinte para corrigir o centralismo imposto pelo sistema militar.
Conseguiu tirar poderes do presidente e transferi-los ao Congresso, mas não teve habilidade
bastante para tirar poderes da União e transferi-los para os estados.
A idéia da confederação parte da simples constatação de que uma lei feita em Brasília
não consegue ser igualmente boa para o interior do Piauí e para o interior de São Paulo. É que
existem vários brasis, nestes 8 milhões e 500 mil quilômetros quadrados. Pode-se até falar a
mesma língua, ou quase, mas as condições econômicas e sociais, em todos os sentidos são
tão diferentes como se fôssemos comparar a Bolívia com o Chile.
O que propõe a idéia é dar autonomia para os estados fazerem suas leis - a pena de
morte pode valer para o Rio, mas não para Sergipe - e terem seus impostos para gozar de
autonomia administrativa e financeira. A União ficaria com a política externa, a emissão de
moeda, as Forças Armadas, o Impostos de Renda e a Suprema Corte. Não era isso que os
candidatos à Constituinte prometiam nos palanques ?
Alexandre Garcia

INTRODUÇÃO
4 BRASIL CONFEDERAÇÃO

BRASIL, UMA CONFEDERAÇÃO


“Aqueles que impedem as revoluções
pacíficas preparam as revoluções sangrentas”
(John F. Kennedy).

A MODERNA ADMINISTRAÇÃO E A VERDADEIRA DEMOCRACIA


Inflação, corrupção, desperdício, fraudes, pobreza, criminalidade, descaso, impunidade,
desgoverno, descontrole, descrédito nas instituições, indignação, desagregação social. Tudo o
que coloca em risco a unidade nacional.
Esta não é a melhor forma de começar um livro que, afinal não pretende ser uma história
de terror ou uma narração de uma tragédia.
O que vemos no Brasil, porém, não está muito longe deste quadro.
A pergunta: Por que o Brasil não dá certo, não é o que desejamos?
A resposta: Temos um modelo administrativo centralizado, consagrado na Constituição
Federal, caracterizado pelo que se pode chamar de “federalismo dominador”. Temos uma
estrutura administrativa gigantesca, burra, ineficiente e injusta para os habitantes de um
território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, com três fusos horários (quatro, a rigor) e
acentuadas diversidades regionais.
As causas: A concentração do poder remonta à época da dominação portuguesa,
chega ao reinado de D. João VI, passa pela Constituição de 1824, pelo Segundo Reinado,
adentra a República e chega aos dias de hoje, variando o centro do poder entre Rio de Janeiro
e São Paulo, fixando-se em Brasília e atingindo o auge após o golpe militar de 1964, que
reduziu a autonomia dos estados e transformou governadores e prefeitos em mendigos das
verbas federais.
Solução: A descentralização do poder, sua reorganização e transferência para os
estados e municípios, deixando para a União apenas aquelas tarefas de interesse comum
aos estados. À União é indispensável apenas que cuide da fabricação de moeda, comando e
manutenção das Forças Armadas, administração das relações exteriores, controle do sistema
financeiro e bancário, arbitragem dos conflitos entre os estados e outras atribuições
legitimamente aprovadas por um Congresso Nacional, constituído por representantes em
quantidade proporcional às populações de cada estado.
Precisamos reformar o Brasil, abrindo espaço para a verdadeira democracia através da
modernidade administrativa, financeira e judiciária, como nos exemplos que temos dos Estados
Unidos, Suíça, Espanha, Itália e outros países.
Corremos atualmente sérios riscos de explosão de revolta social e desobediência civil.
Não somos nós apenas a predizer mazelas para o futuro brasileiro. Apenas concordamos com
as declarações recentes de pessoas com visão da realidade como o senador paranaense José
Eduardo de Andrade Vieira, o ex-ministro Karlos Rischbieter, o cientista social Hélio Jaguaribe,
o jurista Ives Gandra da Silva Martins, dentre outros, com assertivas publicadas em importantes
órgãos da imprensa.. Foram, aliás, estas declarações que despertaram a atenção e a vontade
de fazer algo e empunhar explicitamente a bandeira da confederação.
“Precisamos enfrentar os fatos para escapar da fatalidade”, refletiu Roberto Campos
após chocante comentário de um jovem diplomata britânico que disse: “vocês brasileiros são
uma raça amorável. Pena que lhes falta factualidade”.
Este livro pretende ser uma contribuição ao Movimento Confederação do Brasil,
deflagrado em fins de 1991 pela Câmara Júnior Empresarial de Curitiba. Buscamos o debate
em torno dos verdadeiros fatos que “atravancam” o progresso de nossa Nação.
Poderemos conseguir as mudanças aqui propostas através da vontade do povo.
Esperamos que a classe política não fique surda a estes anseios, pois, se depender do nosso
esforço e de muitas outras pessoas que já enxergaram os verdadeiros fatos, faremos muito
barulho.
Coisas da democracia...
BRASIL CONFEDERAÇÃO 5

ESTE LIVRO COMEÇA EM QUALQUER DE SEUS CAPÍTULOS


O que propomos com este livro é a reforma do Brasil, que deve ser entendida sem
dirigismos, mas com as necessárias comparações, pois a opinião se forma com informação.
Deixo o leitor à vontade para iniciar a leitura e a análise dos fatos em qualquer dos capítulos
deste volume. Há pessoas que gostam de saber primeiro a resposta final, para depois buscar
as raízes da mesma. Outras preferem uma viagem pelos outros cantos para depois chegar à
estação.
Não importa a opção. Pretendemos aqui que todos os caminhos conduzam à realidade
dos fatos.
Para não tornar maçante a leitura, apresentamos, logo de início, os casos de países
onde o sistema confederativo, ou o seu conceito, deu certo e passamos também pelos que se
encontram em ebulição. Através das raízes históricas de cada um deles, chegaremos às
razões que nos levam a defender o sistema confederativo para o Brasil. Fazemos uma análise
simples de cada caso, uma narrativa sob o enfoque do desenho administrativo, o que facilita a
conclusão lógica e inequívoca das estratégias da construção histórica de cada país.
Precisamos também classificar o real significado das palavras Federação e
Confederação, pois ambas são, praticamente a mesma coisa, bastando observar o dicionário.
Foi redigido então um capítulo sobre isto.
Ao longo deste livro, será encontrado o termo “elite” (no singular ou plural) e, portanto,
deve-se explicar qual o conceito enfocado. Em todo e qualquer país, o comando é,
necessariamente, das elites e não poderia ser diferente.
As referências feitas são às elites oligárquicas que, maquiavelicamente, mantêm-se no
poder, direta ou indiretamente, praticando sempre uma política burra em relação ao país e a
elas próprias, na medida que há falta de desenvolvimento como um todo. Elas mantêm-se
formando o que mais se parece uma “republiqueta”.
Agora, prezado leitor, é só escolher o capítulo que lerá primeiro ...

CAPÍTULO 1

FEDERAÇÃO E CONFEDERAÇÃO
DEFINIÇÕES
Antes de discutirmos a proposta de instaurar uma confederação brasileira, vamos
discutir o real significado desta palavra e do termo federação, recorrendo ao mais famoso
dicionário brasileiro, o “Aurélio”, do filósofo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira - Editora Nova
Fronteira - 2ª Edição.
Federação: 1. União política entre Nações. 2. Associação, aliança.
Federalismo: Forma de governo pela qual vários estados se reúnem numa só nação,
sem perda de sua autonomia fora dos negócios de interesse comum.
Confederação: 1. Reunião de estados que, embora conservando a respectiva
autonomia, formam um só, reconhecendo um governo comum. 2. Liga, associação.
Como se pode observar, ambos os termos têm, praticamente, o mesmo significado, pois
tanto se pode fazer uma federação de nações como uma confederação de nações, ou também
uma confederação de estados ou províncias ou uma federação de estados ou províncias.
Temos alguns exemplos disso no mundo, como a confederação das 13 colônias
americanas após sua independência, em 1776, e a Confederação Suíça, a qual sobrevive até
hoje, misturando ambos os termos em sua constituição, de onde se poderia dizer que a
“confederação é federal”.
A mudança da confederação para a federação como ocorreu nos Estados Unidos, em
1789, foi, no nosso entendimento, um “arranjo de marketing”, acessório das mudanças da nova
constituição, que vinha para determinar atribuições administrativas em novo organograma
nacional. Nada mais que isso. A simples adoção de um verbete sem substância legislativa em
uma constituição não muda nada.
6 BRASIL CONFEDERAÇÃO

O fato de pleitearmos uma Confederação de Estados do Brasil não significa que


desejamos um divisionismo generalizado e sim a necessária autonomia administrava, judiciária
e financeira que possibilite a cada unidade confederada (ou federada, para quem preferir),
gerenciar seu próprio desenvolvimento, de acordo com suas peculiaridades, características e
potencialidades. A Confederação tem no seu bojo um apelo à diferenciação do sistema
administrativo brasileiro atual, um “federalismo dominador“ que fere o próprio conceito do real
federalismo. Seria um erro de comunicação propor a luta por algo que já temos em parte -
diríamos que uns dez por cento do valor conceitual do sistema federativo - causando uma
grande confusão na cabeça de cada brasileiro.
Confederação é, portanto, a palavra que significa, neste momento, descentralização e
mudança definitiva para uma nova e concreta realidade.

CAPÍTULO 2

A FÁBULA DOS PORCOS ASSADOS


“Certa vez, aconteceu um incêndio no bosque onde se encontravam alguns porcos.
Estes foram assados pelo incêndio. Os homens acostumados a comer carne crua,
experimentaram e os acharam deliciosos. Logo, toda vez que queriam comer porcos assados,
incendiavam um bosque ... até que descobriram um novo método.
Mas, o que eu quero contar é o que aconteceu quando tentaram mudar o SISTEMA para
implantar um novo. Fazia tempo que algumas coisas não iam bem: às vezes, os animais
ficavam queimados ou parcialmente crus; outras, de tal maneira queimados, que era
impossível utilizá-los. Como era um procedimento montado em grande escala, preocupava
muito a todos porque, se o SISTEMA falhava, as perdas ocasionadas eram igualmente
grandes. Milhões eram os que se alimentavam de carne assada e também muitos milhões
eram os que tinham ocupação nessa tarefa. Portanto, o SISTEMA simplesmente não devia
falhar. Mas, curiosamente, à medida que se fazia em maiores escalas, mais parecia falhar e
maiores perdas parecia causar.
Em razão das deficiências, aumentavam as queixas. Já era um clamor geral a
necessidade de reformar profundamente o SISTEMA.
Tanto assim que, todos os anos, realizavam-se congressos, seminários, conferências e
jornadas para achar a solução. Mas parece que não acertavam o melhoramento do
mecanismo, porque, no ano seguinte, repetiam-se os congressos, os seminários, as
conferências e as jornadas. E assim sempre.
As causas do fracasso do SISTEMA , segundo os especialistas, deviam se atribuir à
indisciplina dos porcos que não permaneciam onde deviam; ou à inconstante natureza do fogo,
tão difícil de controlar; ou às árvores excessivamente verdes; ou à umidade da terra; ou ao
serviço de informações meteorológicas, que não acertava o lugar, o momento e quantidade de
chuvas; ou ...
As causas eram, como se vê, difíceis de determinar porque, na verdade, o sistema para
assar porcos era muito complexo. Fora montada uma grande estrutura: uma grande
maquinaria com inúmeras variáveis fora institucionalizada. Havia indivíduos dedicados a
acender os incendiadores que, ao mesmo tempo, eram especialistas de setores (incendiadores
da zona norte, da zona oeste, etc; incendiadores noturnos, diurnos com especialização
matutina e vespertina; incendiadores de verão, de inverno, com disputa jurídica sobre o outono
e a primavera). Havia especialistas em vento: os anemotécnicos. Havia um diretor geral de
assamentos e alimentação assada; um diretor de técnicas ígneas (com seu conselho geral de
assessores); um administrador geral de florestação; uma comissão de treinamento profissional
em porcologia; um instituto superior de cultura e técnicas alimentícias (ISCUTA) e o BRODRIO
(Bureau Orientador de Reformas Igneooperativas).
O BRODRIO era tão grande que tinha inspetor de reformas para cada 7000 porcos,
aproximadamente. E era precisamente o BRODRIO que propiciava anualmente os congressos,
os semanários, as conferências e as jornadas. Mas isso só parecia servir para incrementar o
BRODRO em burocracia.
Tinha-se projetado e encontrava-se em pleno crescimento a formulação de novos
bosques e selvas, seguindo as últimas indicações técnicas (em regiões escolhidas, segundo
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determinadas orientações, onde os ventos não sopravam mais que três horas seguidas e onde
era reduzida a percentagem de umidade).
Havia milhões de pessoas trabalhando na preparação dos bosques que logo teriam que
ser incendiados. Havia especialistas na Europa e nos Estados Unidos, estudando a importação
de melhores madeiras, árvores e sementes e de melhores e mais potentes fogos; estudando
idéias operativas (por exemplo, como fazer buracos para que neles caíssem os porcos antes
do incêndio, mecanismos para deixá-los sair no momento oportuno, técnicos em sua
alimentação, etc..
Havia construções de estábulos para porcos; professores formadores de especialistas
na construção de estábulos para porcos; universidades que preparavam os professores
formadores de especialistas na construção de estábulos para porcos; investigadores que
forneciam o fruto do seu trabalho às universidades que preparavam os professores formadores
dos especialistas na construção de estábulos para porcos; fundações que apoiavam os
investigadores que davam o fruto do seu trabalho às universidades que preparavam os
professores dos especialistas na construção de estábulos para porcos, etc..
As soluções que os congressos sugeriam eram, por exemplo, aplicar triangularmente o
fogo após a Va-1 pela velocidade do vento sul; soltar os porcos 15 minutos antes que o fogo-
promédio da floresta alcançasse 47 graus; outros diziam que era necessário pôr grandes
ventiladores que serviam para orientar a direção do fogo e assim por diante. E não é preciso
falar que poucos especialistas estavam de acordo entre si e que cada um tinha investigações e
dados para provar suas afirmações.
Um dia, um incendiador categoria SO/DMNCH (isto é, um acendedor de bosques
especialista sudoeste, diurno, matutino com licenciatura em verão chuvoso) chamado João
Sentido-Comum, falou que o problema era muito fácil de resolver. Tudo consistia, segundo ele,
primeiramente em matar o porco escolhido, limpando e cortando adequadamente o animal e
colocando-o, posteriormente, numa jaula metálica ou armação sobre umas brasas, até que o
efeito do calor, e não das chamas, o assasse ao ponto.
Ciente, o Diretor Geral do Assamento mandou chamá-lo e perguntou que coisas
esquisitas andava falando por aí e depois de ouvi-lo, disse-lhe:
- O que o senhor fala está bem, mas somente na teoria. Não vai dar certo na prática.
Pior ainda, é impraticável. Vamos ver o que o senhor faria com os anemotécnicos, no caso de
se adaptar o que sugere?
- Não sei, respondeu João.
- Onde vai pôr os acendedores das diversas especialidades?
- Não sei.
- E os especialistas em sementes, em madeiras ? E os desenhistas de estábulos de 7
andares, com suas máquinas limpadoras e perfumadoras automáticas?
- Não sei.
- E os indivíduos que foram para o estrangeiro para se especializar durante anos e cuja
formação custou tanto ao país. Vou pô-los para limpar porquinhos?
- Não sei.
- E os que têm se especializado todos esses anos em participar de congressos,
seminários e jornadas para a Reforma e Melhoramentos do Sistema? Se o que você fala
resolve tudo, o que faço com eles?
- Não sei.
- O senhor percebe agora que a sua solução não é de que nós necessitamos? O senhor
acredita que, se tudo fosse tão simples, os nossos especialistas não teriam achado a solução
antes? Veja só! Que autores falam nisso? Que autoridade pode avaliar sua sugestão? O
senhor, por certo, imagina que eu não posso dizer aos engenheiros em anemotécnica que é
questão de pôr brasinhas sem chamas! O que faço com os bosques já preparados, ao ponto de
serem queimados, que somente possuem madeira apta para o fogo-em-conjunto, cujas árvores
não produzem frutos, cuja falta de folhas faz com que não prestem para dar sombra? O que
faço? Diga-me!
- Não sei.
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- O que faço com a Comissão Redatora de Programas Assados, com seus


Departamentos de Classificação e de Seleção de Porcos, com a Arquitetura Funcional de
Estábulos, Estatísticas, População, etc.?
- Não sei.
- Diga-me: O engenheiro em Porcopirotécnica, o Sr. J.C. da Figuração, não é uma
extraordinária personalidade científica?
- Sim, parece que sim.
- Bem, o simples fato de possuir valiosos e extraordinários engenheiros em
Porcopirotécnica indica que o sistema é bom. E o que faço com indivíduos tão valiosos?
- Não sei.
- Viu? O senhor tem que trazer solução para certos problemas, por exemplo, como fazer
melhores anemotécnicos, como conseguir mais rapidamente acendedores do oeste (que é
nossa maior dificuldade!); Como fazer estábulos de 8 andares ou mais, em lugar de somente 7,
como até agora. Tem que melhorar o que temos e não mudá-lo. Traga-me uma proposta para
que nossos bolsistas na Europa custem menos ou mostre-me como fazer uma boa revista para
a análise profunda do problema da Reforma do Assamento.. Isto é o que necessitamos. Isto é
o que o País necessita. Ao senhor falta-lhe sensatez, Sentido-Comum! Diga-me por exemplo,
o que faremos com o meu bom amigo (e parente), o presidente da Comissão para o Estudo de
Aproveitamento Integral dos Resíduos dos Ex-Bosques?
- Realmente, eu estou perplexo! falou João.
- Bem, agora que conhece bem o problema, não diga por aí que o senhor conserta tudo.
Agora o senhor vê que o problema é mais sério e não tão simples como o senhor imaginava.
Tanto os de baixo como os de fora dizem: “Eu conserto tudo”. Mas tem que estar dentro para
conhecer os problemas e saber das dificuldades. Agora, entre nós, recomendo-lhe que não
insista com sua idéia, porque isso poderia trazer problemas para o senhor no seu cargo. Não
por mim! Eu falo pelo seu próprio bem, porque o senhor sabe que pode encontrar outro
superior menos compreensivo. O senhor sabe como são às vezes, não é?
João Sentido-Comum, coitado, não falou um “A”. Sem despedir-se, meio assustado e
meio atordoado, com a sensação de estar caminhando de cabeça para baixo, saiu e nunca
mais ninguém o viu. Não se sabe para onde foi. Por isso é que falam que, nessas tarefas de
reforma de melhoria de sistema, falta o “Sentido-Comum”
(Artigo originalmente publicado em Juicio a La Escuela Cirigliano, Forcade Tilich Editorial Humanitas -
Buenos Aires, 1976).

COMENTANDO A FÁBULA DOS PORCOS ASSADOS


Depois de estranhar a colocação desta estória, podemos concluir que as pessoas
acabam por se acostumar aos absurdos com que convivem e, com maior freqüência, passam a
acreditar que não existem alternativas para aquilo que lhes é imposto.
A fábula dos porcos assados representa, de forma impressionante, o que se vive no
Brasil, que teima em retardar a evolução e busca “melhoramentos” para as suas
incongruências.
“É, o Brasil não tem jeito mesmo ...”, ouve-se. Nesta fábula podemos reconhecer os
elementos que compõem a confusão, as turvações, a falta de rumo e de planejamento, todos
coadjuvados pela ilógica, pela inadmissibilidade, pela incredibilidade sob o ponto de vista da
realidade mundial.
Para mudarmos o quadro brasileiro basta não seguirmos o caminho do Sr. João Sentido-
Comum. Aliás, o Brasil está cheio de pessoas assim, abafadas pelas ditaduras e pelo comando
das elites mal intencionadas, através das falácias mais comuns, que não são menos
habilidosas que aquelas descritas por Jeremy Benthan em seu livro, no ano de 1820. O famoso
autor inglês estudou por 50 anos os sofismas que sustentam os privilégios dos detentores do
poder e lastreou sua doutrina em apenas três palavras: PENSAR COM CLAREZA.
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CAPÍTULO 3

EXEMPLOS DE
DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICA
EUROPA - PODER DISTRIBUÍDO
Na Europa, encontramos muitos exemplos de descentralização administrativa, além da
Itália, Suíça, Espanha. A Alemanha, antes da reunificação, dividia-se em 18 estados e 14 mil
municípios, apesar de ser menor que o Estado de São Paulo em extensão territorial. A França
tem 97 departamentos e 36 mil comunidades.
Observa-se, nesses países, a descentralização do poder, dentro de um princípio básico
de competência, como a própria descentralização urbana, resultando em melhor qualidade de
vida.

ESPANHA
Catalunha e o país basco, por muitos anos, lutaram pela autodeterminação e a
conseguiram em 1978, dois anos após a morte do ditador Franco, quando a Espanha ganhou
uma nova Carta Magna. Todos os seus estados se tornaram autônomos e foram
democratizados por completo. A nova Constituição, de maneira inteligente. apaziguou os
ânimos de cada região através de um redesenho administrativo. Bascos e Catalões aprovaram
a proposta do novo governo. Através de referendum internos, os integrantes das milícias
depuseram as armas e disputaram as eleições. Restou um grupo de radicais que ainda
persiste em usar a violência para fazer valer direitos que deveriam ser discutidos
democraticamente. São os integrantes do ETA, grupo que luta pela independência do país
basco, cujas ações o mundo acompanha apreensivo. Os novos tempos os engolirão, cobrindo-
os com o manto da obsolescência. A nova estrutura da Espanha permitiu que o país
experimentasse dias de grande prosperidade econômica, depois da grave crise provocada pelo
centralismo da ditadura franquista.

ITÁLIA
São as províncias autônomas que fazem a força do país da pizza, da pasta, da Ferrari,
do design, da moda elegante, das canções apaixonadas e tantos outros símbolos nacionais.
Giusepe Garibaldi unificou a Itália após a 1ª Guerra Mundial, mas conservou-se alto grau
de independência para cada província, e os italianos encontraram seu modo de resolver os
conflitos internos. As diversidades são muitas, as raízes das etnias são milenares em regiões
dominadas por principados, ducados ou pelo poder direto dos papas. Os dialetos são dezenas,
dividindo a língua nacional, embora o italiano oficial seja o de Roma.
Há um caso de desejo de separação, no Tirol do Sul (região do Alto Ádige). Até 1918,
esta província pertenceu ao Império Austo-Húngaro e agora clama pela independência ou pela
reanexação à Áustria. A líder do movimento, Eva Klotz, afirma que é direito fundamental
humano escolher com quem deseja conviver em comunidade.
Mas, em geral, existe a satisfação de pertencer ao país da “bota”. Trento comemorou
800 anos de ininterrupta autodeterminação, no ano de 1991. Lombardia, Ticino, Grigiono e
dezenas de outras províncias são o resultado da formação de um país de diferenças
acentuadas, mas onde todos se sentem italianos.
Mas, a descentralização conseguida ainda não é suficiente. Desejam muitos italianos a
reforma política e tributária, para eliminar o clientelismo encastelado no parlamento em Roma.
Buscam os italianos, para isso, a federalização completa do país no seu mais amplo conceito.
EX-IUGOSLÁVIA
Já podemos chama-la de ex-Iuguslávia. É um caso de desagregação, por guerra civil
sangrenta, derivada do desejo de autodeterminação.
As raízes dos conflitos são muito mais profundas do que imaginamos nós do ocidente,
com pouca informação sobre a história daquela região da Europa. O jornalista Andrew Clark
acompanha, in loco, os mais espetaculares acontecimentos e explica que as repúblicas que
procuram separar-se da Iuguslávia, - Croácia, Eslovênia, Bósnia Herzegovina e Montenegro -
são nações que sempre estiveram ligadas a outras de algum modo. Participaram, inclusive, do
10 BRASIL CONFEDERAÇÃO

Império Austo-Húngaro. A Croácia é uma república de 4 milhões de pessoas e há 800 anos


não sabe o que é independência. A Eslovênia, desde a Idade Média, sempre fez parte de
algum Império e Montenegro, igualmente, não tem a menor experiência moderna de
autonomia. Mas, as batalhas que travam os sérvios, que defendem o status quo, não deixam
margem de dúvida: a autodeterminação é inexorável, tal como está previsto nas “megatrends”
do cientista social e político John Naisbitt.

A DES-UNIÃO SOVIÉTICA
“Há entre os Estados, como entre os indivíduos, diversidades de cultura, de
honestidade, de riqueza e de força. Mas, resultaria disso alguma diferença no que diz respeito
a seus direitos essenciais? A soberania é direito elementar dos Estados constituídos e
independentes. Ora, a soberania quer dizer igualdade. Na teoria como na prática, a soberania
é absoluta”. (Rui Barbosa)
A “federação soviética não existe mais. Sobrou apenas a prova de que o federalismo
dominador e totalitário não tem mais lugar em um mundo de tendências cada vez mais liberais.
O ser humano adquire a consciência de sua individualidade e busca o respeito perdido - ou
nunca gozado.
A União Soviética nunca foi na verdade uma federação, mas uma “amarração” forçada
de inúmeras etnias. A autodeterminação nacional, movida pela força das etnias, demanda
preliminarmente reconhecida como direito na Conferência de Versailles, reviveu depois de 70
anos.
Culturas nacionais, povos, países recuperaram os laços com suas origens, colocando
uma grande pedra sobre o stalinismo.
O fato é que não se pode segurar uma enchente que vem de todos os lados. A Cortina
de Ferro não agüentou, enferrujando rapidamente ao contato com as águas da liberdade e do
livre mercado, especialmente quando se estabeleceu a carestia. O Kremlin não poderia mais
conter a vontade dos “súditos” de adquirir calças jeans, videocassete, discos de rock, consumir
coca-cola e hambúrgueres e implodiu-se a estrutura que se considerava inexpugnável. Não
fosse a habilidade de Gorbachev em abrir as válvulas deste caldeirão de duas forças - o vácuo
das necessidades e a pressão pela liberdade - a contar de 1985, os conflitos que ocorrem
isoladamente, como na Iugoslávia, talvez fossem hoje generalizados na Ex-União Soviética.
Os mapas da Europa e Ásia foram redesenhados com o final da União Soviética. São 15
repúblicas que voltam às suas origens, resgatando cada uma suas raízes culturais, étnicas e
religiosas que preexistiam à Revolução de 1917. Mais que uma ideologia, morreu o exemplo de
um centralismo excessivo, contrário ao que está gravado nos próprios cromossomos do ser
humano. Provou-se que nada é impossível quando a população, de fato, quer mesmo o
desmonte espetacularmente rápido e inexorável da mais temida federação do planeta, depois
dos Estados Unidos. É como se nunca tivesse existido uma União Soviética - pensarão seus
ex-habitantes nos anos 2010 ou 2020.

CANADÁ ENFRENTA BUSCA DE


AUTONOMIA INTERNA
Transcorre o ano de 1992 e o Canadá enfrenta problemas políticos internos face à
busca de maior autonomia de uma de suas maiores províncias: Quebec. A notícia está na
revista Business Week, de 15 de abril/92. Na verdade, Quebec pode até separar-se do país.
A razão dessa busca de autonomia é o chamado “federalismo dominador” A semelhança
com o movimento separatista do Sul do Brasil é mera coincidência? O que deseja o povo de
Quebec é desenvolver seu próprio gerenciamento, através de um judiciário próprio e de
poderes para legislar sobre seus impostos. Há muitos anos, a província vem fazendo uma
série de reivindicações neste sentido. Sua população de 6,7 milhões de habitantes, dos quais
83% são franceses, prefere agora a separação política do país.
Na realidade, não deverá ocorrer uma guerra civil, como na Iuguslávia, pois os
articuladores do movimento pretendem apenas uma separação política, mantendo o uso do
dólar canadense como moeda e os mesmos passaportes. Pretende o menor impacto possível
na área econômica do país e da própria Quebec. Um plebiscito já foi feito em 1980, acusando
60% de votos contra e 40% a favor. As pesquisas mais recentes, porém, prevêem uma maioria
BRASIL CONFEDERAÇÃO 11

significativa de votos a favor. Entre as causas está o êxodo de cidadãos de origem inglesa para
outras regiões do Canadá, já contados em 200 mil pessoas.
Preocupa o comportamento das demais províncias, caso ocorra a separação de
Quebec, especialmente, daquelas que fazem fronteira com os Estados Unidos. Estas poderão
unir-se ao país vizinho. As províncias marítimas também terão problemas, pois sua economia é
mais fraca e há também as que poderão não aceitar a influência de Otawa.
Quebec vem trabalhando silenciosamente pela autonomia, assumindo, passo a passo, o
controle de seus negócios, inclusive da política econômica, dos programas sociais e culturais,
dentro de um determinado plano que objetiva formar uma nova nação - observa um diplomata
norte-americano lotado em Quebec. E a província tem cacife.
A Hidro-Quebec, companhia de eletricidade, detém ativos de US$ 34 bilhões e é a
sétima maior do mundo. A Bombardier constrói equipamentos de transporte e aviões, com
venda anuais de US$ 3 bilhões. Mantém ritmo de crescimento e tem planos de abranger todo
o mercado da América do Norte, Dentro em breve, Quebec produzirá 12% de todo alumínio do
mundo. A SNC Lavalin está faturando US$ 2,6 bilhões com a construção de um sistema
elevado de trânsito em Bangkoc. A Caisse Dépot e Placement administra fundos de pensão no
valor de US$ 31 bilhões, enquanto que a Mouvemant Desjardins é uma ampla instituição de
crédito com ativos de mais de 40 bilhões.
Mas, nem todo está perdido para o Canadá. Bastará o governo central aceitar as
reivindicações de maior autonomia e Quebec se manterá unida ao país. O primeiro ministro da
província, um federalista, acredita que Quebec estará em melhor situação se mantiver-se unida
ao Canadá e tenta aplacar o ânimo separatista, insistindo para que Otawa ceda poderes
substanciais aos quebequenses.
O Partido Liberal já fez uma lista de 22 questões sobre as quais a província deverá ter
jurisdição, dentre elas a cultura, a educação e o desenvolvimento regional.
Fixou também seis atribuições que permaneceriam com Otawa, dentre elas a defesa e a
política monetária. Ainda, segundo a proposta dos liberais, nove setores seriam partilhados
entre governo central e governo provincial. Dois exemplos seriam a tributação e a imigração.
Há um detalhe curioso: as propostas são de Quebec para Quebec. As demais províncias que
“se virem”.
O “federalismo dominador” saturou os canadenses e eles tomaram consciência do fato.
O procedimento lógico e civilizado, neste caso, é formular uma nova proposta administrativa do
tipo confederativo, uma federação avançada com base no modelo norte-americano. É a
melhor solução para o grave problema que os canadenses enfrentam, agravado pelas
divergências de língua, etnia de franceses e ingleses, além das dimensões territoriais. Para
abrigá-los em um mesmo país é preciso respeitar suas individualidades.
O Canadá nunca este tão próximo de uma divisão e qualquer que seja o resultado do
impasse, as repercussões já estão garantidas em todo continente.

CAPÍTULO 4

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA


“Cada homem e todos os grupos de homens na
Terra possuem o direito de se governarem”
(Thomas Jefferson - 1790)

OS ESTADOS UNIDOS E SUA AVANÇADA FEDERAÇÃO


Quando falamos em democracia e desenvolvimento econômico, logo volvemos nossa
mente para os Estados Unidos, o país da nova América que mais deu certo, além do Canadá.
Logicamente, os norte-americanos não estão livres dos problemas que afligem a
humanidade. Mas, eles formam o maior mercado consumidor do mundo. As cifras de sua
produção são medidas em dezenas de bilhões de dólares para cada setor de atividades, o que,
sem dúvida, gera oportunidades para muita gente, inclusive para os latinos e gente de outras
origens que não encontram dignas formas de vida em seus países em troca do seu trabalho e
procuram instalar-se no território americano. Se analisarmos friamente o contexto do
desemprego e o submundo existentes nos Estados Unidos, seguramente, veremos que suas
vítimas são basicamente as chamadas “minorias” integradas pelos negros (nem todos),
12 BRASIL CONFEDERAÇÃO

coreanos e latinos - estes últimos em grande massa - e que a causa não é a segregação
imposta pelo “sistema” a estas minorias, mas as características culturais que leva a atitudes
individuais de não adaptação às regras do jogo. Para se tornar um cidadão americano de
classe média, o indivíduo deve possuir certos padrões de instrução, determinadas atitudes,
certos modos de agir. Para se tornar um milionário self-made-man americano, serão outros
padrões a seguir. Pouco importará a cor da pele.
Quais as razões que fizeram este país dar certo e chegar à condição de economia nº 1
do planeta? Várias, sem dúvida. Uma delas é a formação anglo-saxônica que imprimiu ao povo
norte-americano alguns aspectos culturais próprios dos países situados no hemisfério norte.
O forte desejo de autodeterminação é outro desses aspectos. Embora a colonização
dos Estados Unidos tenha começado mais de 100 anos após a do Brasil, século e meio depois
da chegada de John Smith, em 1607, já se declarava a independência; com muito sangue. A
declaração, ocorrida em 4 de julho de 1776, exigiu a formação de um governo e no modelo
organizacional adotado reside outra razão do sucesso do país, a maior de todas, talvez.
A formação de um governo não poderia ter como orientação a falta de respeito à
individualidade, pois esse era um dos valores pelos quais os colonos haviam lutado. Há uma
filosofia política e organizacional bastante explícita no texto da “Declaração de Independência”.
Consideramos como auto-evidentes as verdades que afirmam “ser todos os homens criados
iguais e dotados pelo seu Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais estão a vida, a
liberdade e a busca da felicidade; que para garantir esses direitos são constituídos os governos
entre os homens, derivando sua força justa do consentimento dos governados; que sempre
que qualquer forma de governo se tornar destruidora destes fins, o povo terá o direito de alterá-
lo ou aboli-lo e de constituir um novo governo que tenha por alicerces esses princípios e
organizar o seu poder da forma que pareça a melhor maneira de conseguir sua segurança e
felicidade”.
A luta pela independência foi sustentada pelas 13 colônias, espalhadas do meio para o
leste americano, e a formação do novo governo implicava a aceitação em participar do mesmo,
assinando a Constituição como Estados autodeterminados, mas ligados à nação por interesses
comuns, o que representava a cessão de poderes específicos à União. Deu-se assim forma
legal aos ideais políticos manifestos na Declaração da Independência e chances para os
estados remediarem algumas de suas reivindicações nas constituições estaduais. Já em maio
de 1776, antes da Declaração, o Congresso havia aprovado uma resolução, aconselhando as
colônias a formarem novos governos “da melhor forma que encontrassem e que fosse
condizente com a segurança e a felicidade de seus cidadãos”.
A maioria das constituições estaduais americanas mostrava o impacto das idéias
liberais de então, pois não continha leis de exceções. A primeira foi a da Virgínia, que serviu
de modelo para as demais, contendo uma declaração de princípios que incluía a soberania
popular, a rotatividade de cargos, eleições livres e a enumeração de liberdades fundamentais
como fianças moderadas e punições humanas, a manutenção de uma milícia em lugar de um
exército permanente, julgamentos rápidos por meio de júri, liberdade de imprensa e
consciência, direito da maioria em formar ou alterar o governo, a proibição de mandados
judiciais generalizados. As demais constituições foram ampliadas com mais direitos, incluindo
a liberdade da palavra, de assembléia, de petição e igual proteção sob a lei.
Enquanto as 13 colônias se transformavam em estados, pioneiros começavam a formar
novas comunidades a oeste, atraídos pelas ricas terras do lado Pacífico, o que começou a
gerar problemas. Eram questões com os índios, brigas por terras, comércio de peles,
estabelecimento de localidades, implantação de governos regionais e disputa de terras no
oeste.

OS PROBLEMAS DA CONFEDERAÇÃO
Não foram solucionadas todas as questões nacionais com esse modelo. Vários estados,
dada sua autonomia, aprovaram resoluções que prejudicavam os outros, criando restrições ao
comércio interestadual. Em meio aos problemas da guerra da Independência, a Confederação,
amarrada frouxamente, não estabelecera que o governo nacional deveria possuir autoridade
específica para algumas questões, como a regulação do comércio, o lançamento de impostos
para fins nacionais, o controle das relações internacionais, a manutenção do exército e a
fabricação e controle da moeda. Havia nos Estados Unidos da América, inicialmente, uma
curiosa mistura de moedas nacionais e estadual que se depreciavam rapidamente.
BRASIL CONFEDERAÇÃO 13

Além disso, os efeitos da guerra se faziam sentir sobre os produtores, criando uma crise
econômica importante. As querelas judiciais de execução de dívidas contraídas pelos
produtores e fazendeiros se multiplicavam. Logo a população começou a agir com violência,
exigindo reformas legislativas que regulassem a questão. As disputas entre Maryland e
Virgínia sobre a navegação do rio Potomac levaram a uma conferência de cinco estados, em
1786. Estes foram convencidos por Alexander Hamilton - o qual, mais tarde, tornar-se-ia
presidente dos Estados Unidos - de que aquela questão era pouco relevante diante de tão
sérios problemas enfrentados pela nação. Hamilton conseguiu então articular todos os
Estados para a elaboração de cláusulas adicionais à Constituição, de modo a torná-la
adequada às exigências da União. Seguiram-se as eleições de representantes em todos os
estados, as quais abafaram a indignação do Congresso Nacional diante da formação de um
poder legislativo paralelo.
Algumas das mais notáveis figuras americanas de todos os tempos, dentre elas George
Washington, Benjamin Franklin (já com 81 anos de idade), James Wilson, James Madison, um
sapateiro que se tornou juiz chamado Roger Sherman e o próprio Hamilton, elaboraram e
assinaram, juntamente com os delegados estaduais, as mudanças na Constituição. Faltou
Jefferson, que se encontrava na França em missão oficial.
A convenção ficou na história, porque em lugar de criar alguns artigos de emenda
constitucional, na verdade redigiu uma nova Constituição, que buscou a reconciliação entre os
poderes locais e o governo central. Os poderes do governo federal foram cuidadosamente
delineados e ficaram para os estados as funções que não conflitassem com os da União.
Os convencionais basearam-se nos conceitos de Montesquieu sobre o equilíbrio de
poder na política. Estabeleceram-se três esferas de poder iguais e coordenadas: o poder
executivo, o legislativo e o judiciário, harmoniosamente equilibrados, de modo que nunca um
prevaleça sobre o outro. Os delegados dos estados trabalharam durante todo o verão de 1787
e formularam um projeto que incorporava, num breve documento, a organização do mais
complexo sistema de governo até então imaginado pelo homem: um governo supremo dentro
de uma esfera claramente definida e limitada. A “Décima Emenda”, em 1791 tornaria isto
claro: “os poderes não delegados aos Estados Unidos pela Constituição nem proibidos por ela
aos estados, são reservados aos estados ou ao povo, e a supremacia das leis federais é
limitada por aquilo que for feito conforme manda a Constituição”.
Ficou estabelecido que a União teria a responsabilidade de cunhar a moeda, criar
impostos, fazer empréstimos, fixar pesos e medidas, conceder patentes e copyrights,
estabelecer correio e construir estradas, além de manter o exército e a marinha e regular
comércio internacional e interestadual, entre outras. Ficaram a seu cargo as relações com os
índios, a naturalização de estrangeiros, o controle das terras públicas, a função de admitir
novos estados em absoluta igualdade. Adquiriu, portanto, poderes elásticos para o
planejamento nacional e para a organização das gerações posteriores. Também ficou clara a
situação geopolítica dos Estados Unidos no contexto mundial, no decorrer dos anos e até os
dias atuais.
Embora a constituição confederativa das colônias fosse substituída por uma constituição
federativa, o princípio básico do autogoverno - exceto nos negócios em comum dos estados -
ficou bem delineado.
Com a nova Constituição promulgada, o próprio Congresso ganhou foça ao se equiparar
com o poder executivo e o judiciário. Depois de dezesseis semanas de deliberações, no dia
17 de setembro de 1787, a nova Constituição, completa, foi assinada por todos os estados que
consentiram em ceder poderes à União e a nova ordem foi adotada, após ratificação das 13
colônias da Confederação, em 25 de junho de 1789.
Houve dificuldades para que todos os estados/colônias ratificassem, em assembléias
próprias, a Constituição Nacional, pois havia receio de que a União adquirisse poderes
excessivos e transformasse a Carta em instrumento de tirana e opressão, através de pesados
impostos. Para vencer esse medo - bastante justificado, diga-se de passagem - foi criada uma
Declaração de Direitos, encabeçada pelo estado de Massachussets, que a incluiu na própria
constituição estadual. A declaração foi logo adotada pelos estados indecisos e terminou sendo
incorporada à Carta Magna Federal e transformada em lei suprema do país.
Entre esses direitos consta a garantia aos cidadãos dos Estados Unidos a liberdade de
religião, de palavra, de imprensa, o direito de julgamento por júri, processos rápidos conforme a
lei do país e a proibição e mandados gerais. Repetiu-se, de certa forma, a Declaração de
Direitos da Constituição dos dias da independência.
14 BRASIL CONFEDERAÇÃO

Tudo definido e sacramentado, o Congresso da Confederação providenciou a primeira


eleição presidencial, marcada para 4 de março de 1789, sendo eleito George Washington e
iniciando-se aí uma nova forma de governo. Foi a partir deste momento que o país começou a
crescer vigorosamente.
As diversidades climáticas, de etnias, de solos, de culturas, ampliadas pelas grandes
distâncias de um país continental, somente puderam ser vencidas pelo modelo administrativo
adotado. Através dele, os americanos conseguiram harmonizar todas as desigualdades, sem
prejuízo de uns em relação aos outros. Obteve-se, ao longo de mais de duzentos anos de
história, um avanço contínuo da unidade nacional e do orgulho que os americanos sentem em
relação ao seu país.
Teci essas considerações históricas - embora não creia que sejam suficientes para que
se entenda todo o processo de formação de um paÍs que deu certo no que diz respeito ao
desenvolvimento e o colocou à frente das decisões mundiais. Os Estados Unidos influenciam
toda economia do planeta e podem impor sua vontade pela pujança e força de sua economia.
Não adianta nos queixarmos das influências dos americanos pois, se estivéssemos em
seu lugar, certamente, faríamos o mesmo, dentro do contexto geopolítico mundial.
Resta a nós, brasileiros, reconhecer com humildade que não fomos felizes no modelo
político escolhido e, numa atitude competente, mudarmos para o modelo que permitirá o real
aproveitamento das nossas riquezas.

CAPÍTULO 5

SUÍÇA - UMA “CONFEDERAÇÃO


FEDERATIVA”
“Interpretar a vontade do povo é, para nós,
toda a filosofia, toda a política.”
(Proudhon)

A Confederação Suíça é um exemplo de democracia e eficiente organização


administrativa. Sua referência evoca uma imagem de riqueza, limpeza, ordem, liberdade,
tranqüilidade política, segurança, renda per capita das mais altas do planeta e a
respeitabilidade nacional e internacional.
É um pequeno país com apenas 41.300 quilômetros quadrados, pouco mais que um
quinto da área do Estado do Paraná, e com população de 6,5 milhões de almas, menor que a
paranaense. É pobre em matérias primas, não tem costa marítima, mas sua importância
econômica é bem maior que seus recursos naturais. A população economicamente ativa de 3
milhões de pessoas provoca uma renda per capita na ordem de US$ 20 mil. Politicamente está
dividida em 26 estados membros, denominados cantões e semi-cantões, os quais conservam
grande parte de sua autonomia, da mesma forma que os 3.000 municípios, denominados
comunas.
A Suíça pode não ser um modelo administrativo para o Brasil, que, para copiá-lo ao pé
da letra, terminaria com 5.200 estados-membros. É, porém, uma demonstração de que o
sistema confederativo pode ser adaptado às características de qualquer país onde o povo ame
a liberdade.
A Constituição Suíça reconhece quatro línguas oficiais. O alemão, falado por 65% da
população, o francês (18%), o italiano (10%) e o rético ou romanche (1%). Os Alpes ocupam
60% da superfície.
Picos de até 4.000 metros de altura servem apenas para os alpinistas e para atrair
turistas, além dos profundos lagos. Em 30% do espaço concentram-se as atividades produtivas
sobre um planalto - o Platô.
Nestas condições, o país, nos últimos 150 anos, transitou de uma economia agrícola
para uma sociedade pós-industrial, graças a uma estrutura de poder, baseada na vontade da
população, na descentralização das decisões e em um governo central com atribuições
específicas, mas de interesse comum. Como os Estados Unidos, a confederação de estados
suíços passou por transformações importantes, especialmente em função de uma guerra civil,
ocorrida em 1847, do tipo revolucionário. Na época, não estavam definidos os poderes e
atribuições do governo central, o que o tornava flexível demais e colocava em risco a fraca
BRASIL CONFEDERAÇÃO 15

união dos estados-membros. Ao final da guerra, adotaram-se regras mais rígidas e definidas,
sem que se ferisse, no entanto, as liberdades individuais dos cidadãos e da livre empresa,
mantendo-se a confederação.
Em verdade, o início da confederação data de 1291, quando uniram-se em aliança três
nações: Uri, Shwyze e Uterwald - situadas no coração dos Alpes. Eram vias de comunicação
das mais importantes para a ligação Norte-Sul da Europa e despertavam a cobiça das
potências européias. A aliança foi a base da futura confederação, constituída de um pacto de
ajuda mútua. A data nacional da Suíça ainda é o 1º de agosto, dia em que se celebrou a
aliança de 1291. O juramento não pretendia, na época, criar um país, mas preservar a
autonomia tradicional das três regiões e os direitos dos camponeses livres.
Logo, outras regiões, como Lucena, Zurique e Berna também uniram-se ao pacto,
mantendo seus direitos e preservando-os até hoje, reconhecendo o princípio da igualdade
política das pequenas e grandes comunidades. No século XV, a Confederação Suíça já
contava com 13 estados independentes. Depois de fracassada tentativa de expansão, em
guerra com a Itália, em 1515, optou pela neutralidade armada, assinando pacto internacional
nesse sentido, em Viena, e assim é até hoje.
Afligiram-na problemas, como as divisões religiosas, que redundaram em guerras civis
entre os confederados em conseqüência da Reforma Protestante do século XVI, mas a aliança
não se rompeu. Ao contrário, tais encrencas até favoreceram a aliança, na medida que a
faculdade de assumir compromissos e respeitá-los se tornou uma característica essencial na
política suíça. O espírito de tolerância que passou a existir, após aqueles conflitos, atraiu mais
regiões para a confederação.
No início do século XIX, burgueses suíços proclamaram a República Helvética, um
estado nacional, baseado na centralização administrativa, com supressão da antiga
confederação de estruturas feudais e corporativas. Tiveram para este feito o apoio do exército
francês.
Mas logo Napoleão deu à Suíça sua antiga organização federalista. O longo caminho
percorrido pelos suíços não resultou, portanto, em uma nação unitária, mas em uma
associação de estados livremente unidos no respeito e solidariedade recíprocos, um país
criado pela vontade de seus habitantes. Comunidades de pequenas dimensões, de diferentes
graus de força econômica, tradições e culturas múltiplas coabitam num mesmo Estado.
Com o fim da guerra civil de 1847, os suíços decidiram-se por uma unidade econômica e
por um estado federativo mais estruturado, que reconhece a autoridade dos cantões e
municípios. O símbolo da estabilidade existente, desde então, é a Constituição, redigida em
1848, que conserva a quase totalidade dos artigos originais. Ficaram sendo atribuições do
governo central as relações exteriores, alfândega, fabricação da moeda, correios e
telecomunicações, o exército, a arbitragem dos conflitos internacionais, a garantia dos direitos
individuais e da livre empresa.
De outro lado, os cantões continuaram com sua soberania em matéria religiosa, política
e assistência pública.
O poder de legislar pertence à Confederação, mas a execução das leis é da alçada dos
cantões no Direito Civil e Penal, nos seguros sociais e nas leis de trânsito.
Há também setores nos quais a Confederação divide atribuições com os cantões, como
na legislação de impostos, construção de estradas, instrução pública (educação), formação
profissional e política cultural.
Na política, a estrutura é bastante complexa. O país é eminentemente parlamentarista,
com uma assembléia federal (parlamento) constituída de duas câmaras. Uma delas é o
Conselho nacional, formado por 200 membros, representantes dos cantões m números
proporcionais à população. Não é formado por políticos profissionais. Os deputados são
chamados de conselheiros nacionais, reunidos em bancadas e recebem uma indenização para
cada sessão a que comparecem. O presidente do Conselho é eleito anualmente. A outra
câmara é o Conselho de Estados ou Senado e é integrado por representantes de cada cantão.
O poder executivo cabe ao Conselho Nacional, um colégio formado por sete ministros
com direitos iguais. A cada ano se reúne a Câmara dos Deputados (Conselho Nacional) e o
Senado (Conselho dos Estados), formando uma Assembléia Federal, para eleger o presidente
da Confederação. Este assume tão somente a presidência das sessões de governo e certas
funções de representação. Interessante é a formação ideológica do Conselho Nacional
composto por uma fórmula fixa desde 1959: dois socialistas, dois radicais, dois democrata-
16 BRASIL CONFEDERAÇÃO

cristãos e um membro da União Democrática do Centro, que representa os camponeses,


artesãos e comerciantes. Esta mesma fórmula é adotada pela maioria dos cantões que
possuem seu próprio parlamento, assim como nas mais de 3.000 comunidades.
Cada membro do Conselho Nacional, como ministro, responde por um departamento.
A administração federal é comandada pelo chanceler da Confederação, cargo ocupado
por um alto funcionário eleito pelo parlamento. Ele participa dos trabalhos do Conselho com
voz consultiva, sendo secundado por dois vice-chanceleres.
Os sete departamentos, comandados pelos sete ministros, são os seguintes: Relações
Exteriores, Interior (seguros sociais, meio ambiente, estatísticas, educação. cultura, ciências,
escolas politécnicas federais, meteorologia, edifícios da administração pública), Justiça e
Política (legislação, polícias estrangeiras, ministério público, seguros, propriedade intelectual,
planejamento territorial, proteção civil), Militar (defesa do país), Finanças (finanças federais,
gestão do pessoal administrativo, impostos, alfândega, instituto dos álcoois, administração do
trigo, pesos e medidas, organização da administração), Economia Pública (comércio exterior,
indústria, artesanato, trabalho, agricultura, veterinária, observação da conjuntura, habitação) e,
por fim, o Departamento dos Transportes, Comunicação e Energia.
Há ainda um Tribunal Federal, a mais alta instância judiciária do país. Além de examinar
os recursos de Direito Público ou de Direito Administrativo, decide também litígios de Direito
Civil entre a Confederação e os cantões, sentenças em instância final, ações cíveis de
particulares contra a Confederação e ainda desempenha o papel de corte penal suprema.
A autonomia das comunas difere de lugar para lugar. Cada uma pode legislar inclusive
sobre questões tributárias, criar impostos sobre a renda, sobre o valor dos bens de pessoas
físicas ou jurídicas, caso considere necessário. A decisão, normalmente, ocorre nos
parlamentos locais ou, conforme o tamanho da cidade, através do “lansgemeinde”. Trata-se de
uma antiga tradição cultivada em muitos cantões para eleger representantes ou para votar atos
e dispositivos governamentais locais. Os cidadãos se reúnem em praça pública , a céu aberto,
e votam, levantando a mão.
O comando das cidades, na maioria dos casos, cabe a um colegiado eleito pelos
cidadãos. Os cargos são honoríficos ou têm uma compensação simbólica. A soberania, porém,
- vale deixar claro - não invade os setores de competência exclusiva da Confederação,
garantidos pela Constituição Federal.
Vale ressaltar, por último, que a participação dos cidadãos no processo de
desenvolvimento econômico da Suíça é muito ativa, especialmente, através do associativismo.
As associações e sindicatos têm muita influência política e são chamados a dar seu
parecer, juntamente com os cantões, sobre a preparação de projetos de leis importantes. Isso
se faz através de procedimentos de consulta e a tomada de posição das entidades é
determinante do processo legislativo.
Na Suíça existe uma unidade voluntária e inteligente que produziu uma das democracias
mais avançadas do mundo. O resultado é a estabilidade econômica e uma renda per capita
muita elevada, graças ao respeito à individualidade e ao controle constante das possíveis
tendências centralizadoras.

CAPÍTULO 6

BRASIL
RÁPIDAS CONSIDERAÇÕES
HISTÓRICAS SOB OUTRO PONTO
DE VISTA
“Mesmo os homens maus podem ser levados
pelo mercado a fazer o bem, enquanto que homens
bons podem ser induzidos pelo processo político a fazer o mal.”
(Arthur Selson)

Nosso país, descoberto em 1500, teve sua colonização iniciada somente trinta anos
após, quando os portugueses perceberam que a única maneira de proteger a propriedade
recém “adquirida” era colocar colonizadores em suas terras. Franceses e holandeses já
BRASIL CONFEDERAÇÃO 17

fustigavam as costas brasileiras atrás de riquezas naturais. De natureza predominantemente


extrativista, os portugueses viram-se obrigados a criar capitanias hereditárias, nas quais a
fixação de populações viria ocasionar a implantação de culturas de subsistência e outras
atividades produtivas. O território da colônia foi então dividido em 14 lotes, cedidos para os
donatários (governadores das capitanias) em regime de hereditariedade. Vieram para cá
bandidos e marginais que lotavam as cadeias de Portugal.
Os problemas para explorar a nova terra eram muito grandes para os portugueses. Eles
encontravam mais rentabilidade explorando a Índia, onde já havia uma produção organizada,
bastando impor a autoridade do rei D. João III para obter lucrativos negócios.
No Brasil era muito diferente. Nada existia senão índios, muitos deles ainda em estágio
da Idade da Pedra, e o calor e o desconforto da selva tropical. Embora tivesse enriquecido
com as descobertas e o comércio da era das viagens por mar, Portugal era um país pequeno e
sem estrutura para encarar grandes investimentos em recursos humanos e financeiros para
efetiva ocupação do território brasileiro.
A tentativa do sistema de capitanias foi o embrião da atual divisão dos estados
brasileiros, fracassando pelos motivos expostos e pela incapacidade dos donatários para
enfrentar os franceses e os holandeses que invadiam as terras ou os silvícolas, especialmente
ferozes antropófagos, que viviam ao norte. D.João III resolveu, então, implantar, em 1549, o
governo geral, embrião do governo central brasileiro, primeira estrutura oficial local a dar
unidade a regiões até então unidas apenas pela continuidade territorial e pela vinculação ao
mesmo colonizador.
Duas capitanias, no entanto, deram certo. São Vicente, fundada em 1530 por Martin
Afonso de Souza e comandada por João Ramalho e Brás Cubas e a de Pernambuco,
comandada por Duarte Coelho. Estes homens tinham visão de administradores e deram início
ao cultivo da cana-de-açúcar, que veio a ser bastante lucrativo quando a produção de açúcar
da Sicília decaiu e os europeus passaram a pagar bem pelo produto. Para ampliar a cultura da
cana os portugueses praticaram a importação de escravos africanos e efetuou-se assim uma
nova interferência na formação da cultura e da sociedade brasileira, dado que a população
negra trouxe raízes tribais de organização.
O Governo Geral implantado no Brasil significava o início da centralização total das
ações políticas em torno de uma única autoridade, a qual se reportava diretamente ao Rei de
Portugal. Ficavam ao seu titular subordinadas todas as tarefas administrativas, inclusive os
assuntos de justiça e da defesa interna e externa. O governador geral era assessorado por
muitos funcionários com atribuições específicas como o alcaide-mor (chefe da milícia), o
capitão-mor (encarregado da defesa do litoral), o ouvidor-geral (encarregado da justiça), o
provedor-mor (que fazia a administração dos negócios da fazenda).
As capitanias passaram a ser subordinadas ao Governo Geral e nas cidades foram
formadas câmaras municipais, presididas por um juiz nomeado pelo Rei e integradas pelos
vereadores, eleitos dentre os “homens bons” de cada lugar (plutocracia), incumbidos de votar
as medidas administrativas. A Igreja, face a sua estreita ligação com o Estado, passou a ter
papel fundamental, especialmente na catequização dos índios.
O chamado Ciclo da Cana-de-açúcar marcou a história do Brasil com o surgimento de
vilas e seu crescimento ao longo da costa, com a monocultura, o latifúndio, a escravidão, a
dependência ao mercado consumidor europeu, a concentração da renda em parte mínima da
população (europeus que vinham não como agricultores, mas como grandes senhores
latifundiários). A sociedade agrária daqueles tempos persiste até hoje na maior parte da região
nordeste do Brasil, onde as cidades são meros prolongamentos dos engenhos de açúcar, com
parca ou nenhuma autonomia econômica e total influência dos senhores das terras.
Formaram-se “ilhas” de prosperidade isoladas na imensidão territorial, graças à terra boa
e à mão-de-obra gratuita. Nessas “ilhas” fabricavam-se armas, roupas, carros-de-bois,
utensílios e florescia o regime patriarcal, com o dono de fazenda decidindo sobre a vida e a
morte de todos os demais, influenciando diretamente também as câmaras municipais, na
origem do coronelismo político. E somente os homens ricos podiam aspirar aos cargos
políticos.
Mesmo com tantos problemas para ocupar a já vasta imensidão verde, o Brasil cresceu
em extensão territorial, graças às Entradas e Bandeiras. Essas incursões ao território interior
tinham por objetivo travar conhecimento com as terras inexploradas dado que a colonização se
dava apenas próximo ao litoral. A partir da metade do século XVI, as Entradas chegaram à
18 BRASIL CONFEDERAÇÃO

Amazônia, sertão de Minas, Bahia e Sergipe, fazendo surgir notícias da existência de ouro e
pedras preciosas nas terras recém-vistas.
Formaram-se, então, as Bandeiras, que eram agrupamentos bem mais numerosos que
as Entradas, com a participação espontânea da população ansiosa por enriquecer. Pelas suas
dimensões e estrutura organizacional, foram chamados por alguns historiadores de “cidades
que se moviam”. Mas não eram custeadas pelo governo e sim por capitalistas. Desses fatos, a
importância é que deram início ao Ciclo do Ouro, que substituiu o da cana-de-açúcar e
triplicaram o território brasileiro. No tempo em que Portugal esteve unido à Espanha, os
bandeirantes não precisavam respeitar a linha do Tratado de Tordesilhas e deixaram inúmeras
povoações portuguesas do lado espanhol da América do Sul, como Cuiabá, Caetê, Vila Rica,
Diamantina, Vila Bela e muitas outras. Rompida a união Portugal/Espanha, os territórios
explorados pelos portugueses a eles ficaram pertencendo de fato e de direito do Uti possi detis
(“como possuis”; direito de posse de um território por um país, fundamentado na ocupação
efetiva e prolongada e independente de qualquer outro título). Devemos a vitória desse
argumento a Alexandre de Gusmão, que defendeu a posse das terras ocupadas pelo nosso
povo.
Vale lembrar, ainda, desse período da história do Brasil e da formação social, cultural e
política do Nordeste, o desenvolvimento dessa região por influência dos holandeses, que lá
estiveram instalados pela invasão de 1624 (na Bahia, primeira tentativa) e em 1630 em
Pernambuco, onde permaneceram até 1654. Pela administração de Maurício de Nassau, a
cidade de Recife chegou a ser o principal centro cultural da América do Sul, possuindo até um
observatório astronômico. Com a Insurreição Pernambucana, os holandeses foram
definitivamente expulsos do Brasil, mas suas obras, métodos de produção e influências
ficaram. Uma das mais importantes conseqüências foi, sem dúvida, o sentimento nativista,
criado juntamente com a guerra contra os franceses no Rio de Janeiro. Formava-se um
sentimento e unidade nacional.
O Brasil, a essa altura, já tinha 150 anos de história e os cidadãos nativos já eram mais
numerosos que os portugueses aqui instalados. Surgiam os sentimentos antilusitanos.
Sucederam-se alguns conflitos isolados como a Revolta do Maranhão e a Guerra dos
Emboabas, esta última ocasionando a criação das capitanias de São Paulo e de Minas Gerais,
separadas do Rio de Janeiro. Em outros lugares do Brasil ocorriam conflitos originados na luta
pelo poder.
Foi o caso da Guerra dos Mascates, entre Olinda e Recife, um caso de autofagia. Olinda
era a capital e Recife, com o progresso deixado pelos holandeses, ascendia à condição de vila,
adquirindo autonomia. Essa guerra chegou a alimentar tendências separatistas, como a
proposta da criação da República de Pernambuco, rapidamente abafada com a chegada de um
novo Governador Geral para a colônia.
Os holandeses que foram expulsos do Brasil transferiram a cana-de-açúcar para as
Antilhas e, graças a sua produtividade, ocuparam o mercado europeu de açúcar, provocando a
decadência da cultura canavieira brasileira. Portugal passou então a enfrentar novos
problemas econômicos. A impotência em administrar esse novo quadro, agravado pela
agressividade dos tradicionais inimigos europeus, fê-lo unir-se à Inglaterra, único país que lhe
era amistoso. Por um tratado, Portugal obrigou-se a comprar da Inglaterra o tecido, em troca da
venda de todo vinho produzido na Ilha da Madeira.
Evidentemente, os ingleses saíram lucrando, pois deles passou a ser também o
transporte dos produtos das colônias para a Europa, tirando de Portugal as chances de
equilibrar a economia. As descobertas de jazidas de ouro e pedras preciosas salvaram os
lusitanos de problemas maiores, até o final do século XVIII, graças a uma rígida fiscalização e
direção das minas, que rendiam o famoso “quinto”, um tributo sobre a exploração. Portugal
concentrava todo o poder, mas, face ao alto tributo, aumentava cada vez mais o contrabando.
Mas as descobertas de ouro no México e no Peru puseram em decadência o Ciclo do Ouro e
alimentaram o movimento de separação de Portugal. A Inconfidência Mineira - o registro
histórico precursor da liberdade - falhou e seus líderes foram executados, presos ou exilados e
o Brasil perdeu a chance de ser uma República como planejavam os inconfidentes. Pode-se
dizer que, pela primeira vez, perdemos o “bonde da história”.
O segundo “bonde perdido” foi a Conjuração dos Alfaiates (1798), movimento que tinha
quase tudo em comum com a Inconfidência Minera, inspirado que era nos acontecimentos
europeus de revolução por distribuição mais justa das riquezas e por democracia.
BRASIL CONFEDERAÇÃO 19

Em 1808, a família real muda-se para a colônia, fugindo das pressões de Napoleão, que
invadiu Portugal. Dez mil pessoas vieram junto com ela e iniciou-se uma nova fase da história
do Brasil.
Os dois países ibéricos, conhecidos como “imensos corpos com cabeça pequena”, em
alusão às grandes extensões territoriais de suas colônias, não acompanhavam a emergente
Revolução Industrial e ficavam cada vez mais dependentes da Inglaterra. Começava, por vias
transversas, uma dominação anglo-saxônica sobre as Américas, exceção feita aos Estados
Unidos, que já formavam uma república independente.
Podemos examinar essa nova fase sob três aspectos. O primeiro deles é de natureza
econômica. A abertura dos portos colocou o Brasil em condições de comercializar mais
amplamente e quebrou-se a proibição de instalar indústrias na colônia. Caíram duas grandes
barreiras que impediam o Brasil de crescer. Floresceram a indústria e o comércio e em 1812 já
tínhamos a primeira usina siderúrgica, em Congonhas de Campos, com supervisão técnica de
um especialista alemão. Foi criado o Banco do Brasil e, em 1815, a Casa da Moeda, que
alavancavam um desenvolvimento ainda maior.
O segundo aspecto é político-administrativo. Instalado no Rio de Janeiro, o governo real
criou todos os órgãos administrativos e pastas ministeriais que antes existiam apenas em
Lisboa. Em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves,
recebendo armas especiais que foram gravadas nos selos, bandeiras e moedas. Foi o fim de
fato do regime colonial e o Brasil já sobrepujava os próprios conquistadores. Afinal, a sede do
reino estava aqui.
O terceiro aspecto, cultural, é o surgimento das artes e das técnicas, estimuladas pela
criação de escolas de ensino superior, instalação da Imprensa Real e surgimento do primeiro
jornal brasileiro (Gazeta do Rio, em 1808), fundação da Biblioteca Real (1810), criação do
Horto Real, da Academia Real Militar e da Academia de Belas Artes.
Com esse novo quadro, ficou claro que não havia mais razões para o Brasil permanecer
unido a Portugal e em 1822 era declarada a Independência, por membros da própria casa real
portuguesa. O Brasil acompanhava o caminho de toda a América espanhola, que seguia
líderes libertadores como San Martin, Bolívar, Artigas e O’Higgins.
Uma coisa não pode ser esquecida nesta sinopse: a festejada independência do Brasil,
acompanhada do centralismo governamental, fez com que o desenvolvimento econômico,
social e cultural ocorresse com muito vigor no Rio de Janeiro, enquanto sentimentos
separatistas tornavam a manifestar-se ao Norte. Em 1817, as lideranças pernambucanas
encontraram apoio em Alagoas e Paraíba e também no estrangeiro (Estados Unidos e
Inglaterra), e, pelo sentimento da necessidade de autonomia, de autodeterminação, insurgiram-
se, querendo separar-se de Portugal e do Rio de Janeiro, imaginando implantar uma
República. A rebelião foi abafada pelas tropas reais e a maioria dos líderes revolucionários foi
executada.
Em Portugal também clamava-se por democracia nesta época. Quando, em 1816, a
dinastia portuguesa já havia recuperado a nação do domínio francês e inglês e morreu D. Maria
I, o Rei D. João VI viu-se obrigado a retornar a Portugal. Sua primeira missão seria enfrentar
uma revolta liberal em Lisboa e Porto, que visava estabelecer uma nova constituição. Eram os
liberais, no Brasil e em Portugal, sinal de que a monarquia estava no fim, como em vários
países europeus.
D. Pedro ficou no Brasil em lugar de seu pai, D. João VI, como Príncipe Regente, para
optar em seguida pela independência do seu quinhão e tornar-se dele o Imperador. Ele
manteve, porém, centralizado o poder. Uma das leis que decretou logo após o famoso “Dia do
Fico” (9 de janeiro de 1822) determinava a instalação, no Rio de Janeiro, do Conselho dos
Procuradores Gerais das Províncias, com a incumbência de aconselhar o Príncipe em todos os
assuntos de caráter relevante. Reservava-se, portanto, a esse conselho o poder de tomar
decisões sobre questões muitas vezes distantes, de províncias que sequer conhecia.
Meses depois, a 7 de setembro, contra as pressões que o Príncipe continuava
recebendo de Portugal para que retornasse e respondesse processo, foi declarada a
separação definitiva. O gesto não foi suficiente para garantir a união territorial. Existiam focos
de resistência em diversas províncias e D. Pedro obrigou-se a recrutar escravos, prisioneiros
(em troca de liberdade) e até de estrangeiros (ingleses e austríacos) para manter a
independência e evitar a desagregação nacional. Esses focos d resistência eram liderados por
governadores das províncias que se mantinham fiéis à Coroa e foram, sucessivamente,
derrotados pelas tropas do Império. Mas também surgiam diversos movimentos de cunho
20 BRASIL CONFEDERAÇÃO

essencialmente separatista, durante todo o reinado de D. Pedro I e até a metade do reinado de


D. Pedro II. Um dos exemplos foi a Confederação do Equador, em 1824, pelo qual desejavam
tornar-se independentes as províncias do Norte.
Se analisarmos esses movimentos com o que acontece hoje, quando nos deparamos
com ondas separatistas, não encontramos muitas diferenças. As revoltas que surgiram eram
fruto da busca da identidade e autonomia, que o governo central não dava. Era assim ao Norte
e Nordeste e também ao Sul. A Guerra dos Farrapos, por exemplo, originada com a
Proclamação da República de Piratini, no Rio Grande do Sul, não tinha de fato a intenção de
isolar-se do restante do país, mas sim, transformar o Brasil em uma República.
Era o exemplo dos países da Bacia do Prata, como o Uruguai, que se desmembrou do
Brasil após a guerra e acordo com a Argentina mediado pela Inglaterra, e assim que conseguiu
a liberdade adotou a forma republicana de governo, exemplo seguido pela Argentina e
Paraguai. Entendiam os gaúchos que a República de Piratini seria apenas um primeiro passo
para que as demais províncias a acompanhassem e formassem mais tarde uma República
Federativa. O projeto libertário, mais uma vez, foi sufocado.
Fica difícil imaginar o destino da nação se houvesse naquela época maior liberdade para
as províncias. Uma suposição é cada província prosperaria sem alimentar o desejo de
autonomia absoluta, mas com orgulho de pertencer a um país que acompanhava a vanguarda
do seu tempo, especialmente, na forma de governo.
Uma suposição apenas. A cultura brasileira estava marcada por trezentos anos de
dominação portuguesa, extrativista, escravagista e exploradora por excelência. É mais provável
que a unidade nacional conquistada e mantida pelos portugueses, por todas as formas, desse
lugar ao que aconteceu nas colônias espanholas, que se transformaram em inúmeros países.
O quadro de mudanças geopolíticas da época não estava definido ainda. Tudo era muito tênue
e a construção e manutenção de um país dependia de uma série de fatores diversos dos de
hoje.
No sul do Novo Continente era diferente também a formação histórica em relação ao
Norte. Os Estados Unidos da América sofreram uma dominação inglesa que não era apenas
extrativista, mas que, na colonização, visava aproveitar os recursos naturais e humanos como
se fosse uma “multi-fábrica”, cujos donos majoritários eram os de além mar, mas que
proporcionavam um desenvolvimento em todos os sentidos, com uma organização
horizontalizada. Surgiram daí os conceitos de organização que vigoraram com a declaração da
Independência e com a formação do novo país. No Brasil, ao contrário, o poder era totalmente
verticalizado e centralizado no Rei de Portugal e depois no Imperador e seu gabinete de
ministros.
A Constituição de 25 de março de 1824, a primeira que tivemos e que manteve a
estrutura vertical, procurava afastar o perigo de recolonização, implantando um governo de
cooperação entre o imperador e as classes dominantes, excluindo as classes socialmente
inferiores dos direitos políticos - coisa que nunca tiveram mesmo.
Essa exclusão, na prática, formaria, ao longo do tempo, a contumácia da elite em manter
o povo submisso, sem direito algum, com exceção de algumas garantias individuais, “um
grande avanço”, segundo alguns historiadores. A Constituição promovia também uma liberdade
econômica bastante ampla, o que beneficiou proprietários rurais, foreiros e rendeiros, face ao
valor agregado no comércio de seus produtos e graças ao domínio do mercado.
Em 1831, a 7 de abril, o Imperador D. Pedro I, abdicava em favor de seu filho D. Pedro
de Alcântara. Cedeu a muitas pressões contra seu autoritarismo e seu desrespeito constante à
Constituição que ele próprio outorgara à nação. Partiu para a terra mãe, onde morreu em 1834,
aos 36 anos de idade. D. Pedro I teria cometido diversos erros que revoltaram os súditos,
como, por exemplo, assumir uma dívida de dois milhões de esterlinos junto à Inglaterra, dívida
esta de responsabilidade de Portugal, resultante de empréstimos feitos pelos ingleses para -
pasmem - financiar as lutas armadas contra a Independência do Brasil. Aconteceu que o Brasil
não estava conseguindo o reconhecimento diplomático de sua independência por muitos
países, dado o Tratado da Santa Aliança, assinado pela França, Portugal e Áustria, visando a
recolonização das colônias recém-emancipadas na América do Sul. Somente os Estados
Unidos, em 1824, reconheciam o Brasil, até porque fora inspirador do movimento separatista
das demais colônias americanas e reconheciam a si próprios ao reconhecer os demais. Talvez
um pouco mais de paciência.
Mais importante que o mérito ou demérito de assumir tal dívida é o fato de o Brasil
“começar bem” sua nova vida, com uma dívida externa considerável, que o colocava em
BRASIL CONFEDERAÇÃO 21

posição de dependência aos ingleses. “Foi um coice na boca do estômago”, como escreveu
José Bonifácio, revoltado, a um amigo. Mas “consumatum est” - consumado está. D. Pedro I
também resolveu mandar armas e navios aos portugueses para o combate aos miguelistas,
que haviam tomado o poder e derrubado Dona Maria da Glória, sua filha. Houve também o
problema da província Cisplatina, na já referida formação do Uruguai, depois de indisposições
com franceses, americanos e argentinos.
Com a partida de D.Pedro I, o Brasil passou um período nas mãos de regentes
especiais, enquanto o príncipe herdeiro não atingia a maioridade para assumir o poder.
Cremos que foi nesse momento que nosso país perdeu pela terceira vez o “bonde da história”,
pois nada impedia que o Brasil se transformasse em República.
D. Pedro de Alcântara tinha apenas 4 anos de idade e fica a pergunta: por que se
manteve o status quo? Por quem? Durante o período da regência, passada de mão de acordo
com as encrencas políticas da época, firmaram-se dois partidos junto ao Parlamento: o
Conservador e o Liberal. Os liberais defendiam o federalismo, buscando dentro da União,
autonomia para as províncias para que pudessem gerenciar seu próprio desenvolvimento, a
exemplo do que acontecia nos Estados Unidos. Os conservadores queiram a manutenção do
poder centralizado. A bagunça política era generalizada, se observarmos o que dizem os livros
de história mais simples. Dizem eles que José Bonifácio de Andrada e Silva, anteriormente
revoltado contra os atos de D. Pedro I, organizou, juntamente com seus dois irmãos, um
partido, o Restaurador, que pretendia a volta do antigo monarca. Pelo visto, vem daquela
época o hábito de montar partidos em profusão e pular de um para outro como se troca de
camisa ... Sem mencionar os casuísmos.
Uma certa autonomia provincial houve em 1834, quando o Ato Adicional de 12 de agosto
alterou vários artigos da Constituição e transformou a Regência Trina em Regência Una.
Observe-se aqui a continuidade da cultura messiânica de buscar sempre um salvador da
pátria (que reserve os interesses das classes dominantes, naturalmente).
Como na salvação messiânica, face às desastradas gestões dos Regentes, os quais
alternavam-se no poder ao sabor dos dissabores da politicagem, era “necessário” fazer o
príncipe “crescer” mais rápido.
Após muita discussão sobre a antecipação de sua maioridade, D. Pedro II foi entronado
aos 15 anos de idade, com apoio de um colossal movimento popular, encabeçado pelo Clube
da Maioridade.
Logo tratou de nomear seu ministério e fortalecer o Parlamentarismo. Formou o
“Ministério dos Irmãos”, assim chamado porque era composto de quatro irmãos, recrutados
junto ao Clube da Maioridade. Não durou um ano e foi exonerado pelo Imperador.
O Segundo Reinado durou meio século e segundo os historiadores pode ser dividido em
quatro fases. A primeira vai de 1840 a 1849, tida como de adaptação e de consolidação do
poder central e da unidade política nacional, especialmente com o sufocamento das revoltas
internas. Foi criada a Presidência do Conselho de Ministros, que solidificou o Parlamentarismo
e possibilitou o alavancamento da segunda fase, tida como de grande progresso econômico,
intelectual e artístico, o apogeu do Império, assinalado entre 1853 e 1863.
A paz e o progresso, porém, não duraram muito tempo, pois veio uma terceira fase,
recheada de guerras, a do Paraguai e do Uruguai.
Com a quarta fase, iniciou-se a decadência do regime. A busca de mudanças fez
ressurgir muitas desavenças políticas, que minaram definitivamente a Monarquia e abriram
caminho para as idéias republicanas.
Entre os inúmeros problemas do Segundo Reinado, destaca-se o da escravatura.
Segundo historiadores - e estamos de pleno acordo - as indecisões e o retardamento dos fatos
impediram o progresso do país debutante. Na época (assim como ainda hoje), imperava o
pensamento gradualista, que beneficiou os grandes proprietários rurais, no caso da abolição da
escravatura. Com os escravos, eles tinham mão-de-obra aparentemente grátis e essa política
burra ocasionou uma verdadeira freada na história. O Brasil foi ficando para trás em relação ao
resto do mundo, especialmente dos Estados Unidos, que pelas dimensões similares é nosso
melhor termo de comparação no continente.
Essa postura fez com que o Brasil, em meio a uma série de leis e decretos sobre a
questão dos escravos - muitas vezes não cumpridas - já tivesse na Europa a imagem de um
país que somente cumpria promessas à força ou sob pressão. Após meio século de legislação
22 BRASIL CONFEDERAÇÃO

paliativa - da proibição do tráfico de africanos até a lei do Ventre Livre - em 1888, foi finalmente
assinada a Lei Áurea.
Juntando as peças que construíram mais de sessenta anos de reinado, podemos
concluir que sofremos um atraso substancial, devido às intrigas entre liberais e conservadores,
que tinham mais interesse no poder que na causa patriótica. A semelhança com os dias de
hoje é extraordinariamente grande, trocando apenas os temas. Foram líderes retardadores,
coadjuvados pelos escravocratas, latifundiários e pela nobreza nababesca, a quem interessava
retardar o mais possível o avanço natural das liberdades e convicções humanas em voga na
Europa e América do Norte. Por exemplo, assim como a questão escrava, a questão agrária
ficou “imexível”, mesmo com a Lei da Terra em vigor desde 1850, só que como “letra morta”.
Nos trezentos anos de poder centralizado em Portugal, seguidos de quase um século de
poder centralizado na família real no Rio de janeiro, formou-se um povo sem tradição de
participar na vida política nacional. A Constituição de 1824 só fornecia direitos políticos aos
abastados, deixando de fora o povo e esse, geração após geração, foi submisso - e por isto
pacífico - e até hoje aceita qualquer coisa de qualquer governo e carrega nas costas uma
política paternalista que tem como princípio “dar cinqüenta para tirar cem”.
Foi assim que o Brasil nasceu, chegando em 1889 à República, que poderia ter
acontecido cem anos antes, em 1789, com a Inconfidência Mineira, sufocada
maquiavelicamente, impondo-se medo ao povo através de exposição de restos mortais de
Tiradentes nos caminhos de Minas Gerais, declarando-se também infames seus filhos e netos,
dentre outras providências que não deixaram dúvidas do castigo a ser dado a quem ousasse
por uma pátria livre e organizada.
Durante a fase de decadência da Monarquia, uma forte crise econômica, piorada pelas
fugas de escravos, abriu campo para crises militares e religiosas e as idéias republicanas
ganharam força, principalmente em São Paulo no eixo da economia do país, dado que nesta
província a imigração de estrangeiros já substituía a mão-de-obra escrava. A proclamação da
República foi o primeiro golpe de estado experimentado pelo Brasil. Os militares derrubaram a
Monarquia e assumiram o poder provisoriamente com o Marechal Deodoro da Fonseca. Foi
montado um ministério e, em 21 de dezembro de 1889, foi convocada a primeira Assembléia
Constituinte da República. As primeiras eleições para governadores dos estados aconteceram
em 15 de setembro do ano seguinte, com ampla vitória dos republicanos. Muita confusão
política haveria de ocorrer antes de consolidar-se a República.
Em 1891, o Marechal Floriano Peixoto substituiu Deodoro, que renunciara. Dissolveu o
Congresso, suprimiu liberdades políticas, inaugurou a ditadura militar no Brasil. Deu início a
um período de violência contra as pessoas, de guerra civil e deportações. A Revolução
Federalista custou mais de dez mil vidas exterminadas por degolas, fuzilamentos ferozes,
repressão desvairada. Viu-se o que até no Império se desconhecia. Grupos de líderes
insatisfeitos lutaram pelo retorno da Monarquia e foram sufocados. Dá-se a este período o
nome de Consolidação da República, mas pode-se chamar de impedimento à volta da
Monarquia. E, a partir daí, sucederam-se no poder lideranças militares e depois as civis
apoiadas pelas classes dominantes. As revoltas eram mais disputadas pelo poder, pois os
presidentes o queriam com todas as prerrogativas, chocando-se com o conceito de uma
verdadeira república federalista, dotada de um Congresso Nacional forte. Até o ano de 1930,
sucederam-se nove presidentes, sempre apoiados por oligarquias. Observou-se pouco
crescimento econômico. Chama a atenção a construção de algumas ferrovias e estradas.
Destaca-se, porém, o crescimento territorial, com a anexação do Território do Acre, comprado
da Bolívia, o ganho do Amapá, em disputa com a Guiana Francesa e as disputas da Lagoa
Mirim com o Uruguai e das Missões, com a Argentina.
Em 1930, assume Getúlio Vargas, líder de um movimento que denunciava fraudes nas
eleições, depois de concorrer com Júlio Prestes, que contara a seu favor uma diferença de um
milhão de votos. Vargas assumiu o poder depondo Washington Luís, com o apoio de forças
militares. Iniciava-se o Estado Novo sem um programa de governo, mas com divisão entre
constitucionalistas e autoritários nacionalistas. Os primeiros eram liberais e os outros,
fomentados pelos tenentes das Forças Armadas, tinham idéias políticas não democráticas.
Apesar disso, o governo de Vargas resultou numa rápida industrialização - novidade para o
Brasil - criou leis trabalhistas, fortaleceu o Exército e modernizou a Marinha. Mas não houve
mudanças no que diz respeito ao chamado federalismo autêntico. Os liberais exigiam uma
constituição e eleições livres. Em São Paulo, formou-se a Revolução Constitucionalista, que
acabou se transformando em separatista e perdeu o apoio de Minas Gerais e Rio Grande do
BRASIL CONFEDERAÇÃO 23

Sul. Em 1934, Vargas viu-se obrigado a convocar uma Assembléia Constituinte e o resultado
foi uma carta federalista e presidencialista. Federalista em termos ...
O mundo lá fora sofria mudanças e evoluíam o Comunismo, o Fascismo, o Nazismo.
Fortaleceu-se, então, no Brasil, o Partido Comunista, enquanto Vargas flertava com nazistas e
fascistas. Os comunistas organizaram um movimento denominado ANL - Aliança Nacional
Libertadora, que, após revolta iniciada pela ala radical no Norte do país, provocou a decretação
de estado de sítio. O Congresso apoiara o presidente nesta decisão, mas negou-se quando
Vargas pediu sua prorrogação. Aproximavam-se as eleições e Vargas não poderia concorrer,
devido a impeditivo constitucional. Por essa e por outras razões, apelou para um novo golpe de
estado, em 10 de novembro de 1937, prometendo um plebiscito para daí a seis anos.
Mantinha-se no poder o Estado Novo, sem nenhuma ideologia política e sem nenhum
apoio partidário, mas respaldado na Forças Armadas e na Polícia. Se existia no país algum
princípio federalista, apagou-se neste tempo e o Brasil continuava na sua trajetória de
centralismo, apesar de possuir um território enorme e diferenças regionais que se acentuavam
sempre mais.
Logo, Vargas percebeu o declínio dos movimentos fascistas da Europa e que isto
poderia reduzir a sua força e afetar o seu comando. Decretou então uma vasta legislação
previdenciária, atraindo para si a simpatia dos operários e inaugurando o chamado
Trabalhismo. Os sindicatos também ganharam força e, para as funções de liderança, foram
colocados os “pelegos”, homens do governo instruídos para o controle dos trabalhadores.
Em 1945 foram convocadas eleições e o Brasil voltava ao regime democrático. No ano
seguinte já tínhamos uma Constituição, considerada a mais democrática de todas, apesar de o
PCB - Partido Comunista Brasileiro - ter seu registro cassado, por ser considerado
antidemocrático. O “federalismo” retorna à vida do país. Vargas se elege presidente em 1951,
candidato pelo PTB - Partido Trabalhista Brasileiro. Foi eleito pelo povo, mas não conseguiu
governar, com tantas intrigas que poluíram a cena nacional. Carlos Lacerda, seu maior
adversário político, sofreu um atentado militar. As Forças Armadas exigiram sua renúncia.
Vargas suicidou-se. Sucederam-no Café Filho e Carlos Luz, este destituído e substituído por
Nereu Ramos. Chegamos a Juscelino Kubitschek de Oliveira. Homem prático, marcou
presença na história com uma política de desenvolvimento espetacular, embora improvisada, e
por isso mesmo, sem continuidade no período de seu sucessor, Jânio Quadros. Com Jânio, o
personalismo fez prevalecer o centralismo. O país viu-se prejudicado por um governo que dava
combate à inflação e à corrupção com medidas austeras e por outro lado praticava atos
polêmicos como a condecoração a Che Guevara. Por este feito, Carlos Lacerda ocupou a cena
política nacional novamente e dirigiu ao presidente um ataque verbal pelo rádio, acusando
também o Ministro da Justiça, Pedroso Horta, de tentativa de golpe. Jânio colocou seu cargo à
disposição do Congresso, numa tentativa de fortalecimento próprio, mas foi surpreendido pela
decisão dos deputados, que, sem hesitação, aceitaram a renúncia. Assumiu o vice-presidente
João Goulart, mas com a condição imposta pelos militares de se instituir o Parlamentarismo. O
país viveu novos momentos sem plano de governo, enquanto Jango lutava pelo retorno ao
Presidencialismo, até que um plebiscito derrotou suas pretensões. Enquanto isso, a inflação
atingia índices jamais conhecidos e a dívida externa somava “estonteantes” três bilhões de
dólares. Jango, acusado pelos militares de incentivar as esquerdas e o comunismo, em 31 de
março de 1964 fugiu para o Uruguai, deixando vaga a presidência. Os militares tomaram o
poder no dia seguinte (ou nas primeiras horas de 1º de abril, como preferem alguns) e os
políticos tentaram transformar o fato em mais uma intervenção como as que haviam ocorrido
antes. Sem vice-presidente, assumiu o poder o presidente da Câmara dos Deputados, mas
este ato foi invalidado em 9 de abril, pela Junta Militar intitulada Supremo Comando
Revolucionário, que fez publicar o Ato Institucional nº 1, atribuindo-lhe poderes extraordinário,
como a supressão de direitos políticos de qualquer cidadão. O excesso de politicagem
praticado depois de Vargas inutilizou a oportunidade de descentralização do poder havida com
a Constituição de 1946 e até com alguns momentos de Parlamentarismo. Caímos no lado
contrário, com um Estado de Exceção, tudo novamente centralizado, líderes cassados e
caçados, opinião pública contida, assim como foi abafado o surgimento de novas lideranças. A
vida política no Brasil parou, morta pela própria insensatez.
Desnecessário discorrer sobre a escuridão política que o Brasil viveu por vinte anos,
cujo véu começou a ser desvendado a partir do governo do General Geisel e durante o período
do General Figueiredo, num processo um tanto parecido com a “enrolada” libertação dos
escravos. Foi um período de grande desenvolvimento econômico, no qual estacou-se a
construção da estrutura nacional de energia, comunicações e transporte, fruto de abundantes
24 BRASIL CONFEDERAÇÃO

financiamentos externos que se revelaram depois uma grande arapuca financeira internacional.
Ingenuamente, foram aceitas condições de financiamento que, com as crises do petróleo de
1973 e 1978 e os “choques dos juros” que as sucederam, serviram apenas para deixar o Brasil
endividado. Até hoje vivemos dias de “adaptação”, jamais consumada.
Esta análise histórica, sem maiores novidades, permite-nos observar que nosso país
viveu sempre sob o domínio do centralismo. O poder concentrado foi objeto de todas as
discórdias políticas, golpes de estado, administrações desastrosas ou incipientes,
concentração de renda, dissociamento do povo da vida política. Esta última é talvez a pior das
conseqüências. O brasileiro jamais se sentiu estimulado a agir livre em consciência e talento.
Sempre teve mais motivos para a revolta que para acreditar na construção de alguma coisa.
Os empreendimentos vitoriosos sempre foram privilégio de pessoas não comuns e não raro
protegidas pelas classes dominantes. Temos exceções na história recente, especialmente na
formação industrial, é verdade, porém elas apenas e ainda apontam mesmo é para as
vantagens da liberdade sobre a dominação.
Fica difícil saber se o Brasil, de fato, seria hoje um país de Primeiro Mundo, caso tivesse
sido colonizado por ingleses, holandeses, alemães, irlandeses, franceses. Talvez. Esses
povos teriam, com certeza, plantado aqui mais tradições de liberdade e de administração
descentralizada. Fica difícil também afirmar se o Brasil teria as atuais dimensões territoriais -
uma grande vantagem competitiva nos dias atuais - caso fossem adotadas, desde os tempos
da colônia, providências de democratização e horizontalização do poder.
Os interesses não convergiam naquela época para a transformação da Colônia em uma
grande nação, mas para interesses particulares que muito bem poderiam transbordar na
criação de uma série de republiquetas, comandadas por déspotas de pouco conhecimento e
muita sede de poder.
O fato é que o Brasil conseguiu, ao contrário das demais colônias sul-americanas,
manter uma unidade invejável, a quarta maior extensão territorial do planeta.
Tem minérios, biodiversidade, recursos hídricos, bilhões de hectares cultiváveis, seis mil
quilômetros de costa atlântica, ambiente estável, temperado ou tropical, fértil. Está faltando
apenas a educação para o povo, o resgate do seu orgulho e uma estrutura administrativa
adequada à melhor exploração das potencialidades regionais, a oportunidade para que os
brasileiros de cada unidade da federação/confederação mostrem o que sabem fazer para
progredir.
Mesmo sem possuirmos uma bola de cristal nem sermos donos da verdade, arriscamos
predizer que teremos sucesso se avançarmos para mudança modernizantes. Temos, para nos
manter unidos, quase 500 anos de consolidação territorial, uma identidade nacional rara no
mundo, uma cultura brasileira rica e variada. Podemos acompanhar as tendências mundiais
que já nos impulsionaram para a sociedade humana do século XXI, sem medo das mudanças
necessárias, mas fugindo, isto sim, da permanência do atual status quo.
Este é um ato de fé, muito maior que remover montanhas, mas infinitamente mais viável.

CAPÍTULO 7

NECESSIDADE DE UMA REFORMA


ESTRUTURAL
“Quousque tanden abutere patientia nostra?”
(Até quando abusareis da nossa paciência?)
perguntava Cícero a Catilina, em 63 a.C.
O Senador Roberto Campos citou em um artigo de jornal o que lhe teria dito um
diplomata inglês, em uma festa, sob a influência de algum líquido alcoólico: “vocês brasileiros
são muito amáveis, mas não têm factualidade”. O que o britânico quis dizer é que nós
brasileiros não nos atemos aos fatos, preocupando-nos apenas em analisar os efeitos.
Vamos então aos fatos - que são efeitos.
Passados 500 anos de história, o que temos hoje?
Temos um país com 145 milhões de pessoas, das quais uns 20%, talvez, vivam com
alguma dignidade. Apenas 3,5 milhões de pessoas são “convidadas” a pagar o imposto sobre
a renda. Não é difícil enxergar a realidade da miséria dura, nua e crua estampada diariamente
BRASIL CONFEDERAÇÃO 25

na mídia. Não é difícil perceber o empobrecimento contínuo, que envolve cada vez mais gente.
É impossível não enxergar a corrupção, a criminalidade, a injustiça, o desemprego, a falência
e o sucateamento das atividades industriais e da agricultura, o crescimento da economia
informal, do subemprego e da marginalidade. Crescem as atividades ilícitas como agiotagem,
picaretagem, jogo, tráfico de drogas, contrabando, prostituição. Temos 35 milhões de menores
abandonados, crianças sem chances de se tornarem cidadãos completos.
Avança o analfabetismo (e haja Ciacs), os aposentados são trapaceados pelo governo,
as favelas incham os centros urbanos, nas regiões de fome desenvolvem-se sub-raças,
verdadeiras Etiópias encravadas no país, multiplica-se o homem-gabiru. Institucionaliza-se a
“Lei de Gerson” (o negócio é levar vantagem em tudo, certo?) e clareia-se a descrença nas
instituições, desmorona a moral da sociedade, impõe-se o imediatismo e a necessidade de
sobrevivência apenas diária, que substitui o planejamento e a esperança. A descrença geral
desvaloriza a pátria, os políticos, as empresas, os produtos e serviços, os trabalhadores, as
pessoas, a justiça, enfim, o caos só não se converteu em convulsão social graças à própria
passividade do nosso povo, fato que chega a impressionar a gente de outros países.

FAÇA O QUE EU DIGO, MAS NÃO FAÇA O QUE EU FAÇO


A deturpação de tudo o que é correto vem, inclusive, do próprio governo, com suas
portarias, decretos, medidas provisórias muitas vezes inconstitucionais ou simplesmente
imorais. Nos ensina um velho ditado oriental: “a tirania e a injustiça começam por coisas muito
pequenas. Se o sultão comer o fruto do jardim de um de seus súditos, os escravos por trás
dele levarão a árvore toda. Se ele tomar de alguém um ovo, seus guerreiros tomarão mil
galinhas”.
Como pode o governo pregar a moral e prometer cadeia para os sonegadores se seus
próprios responsáveis fazem o que querem quando querem? “Quem quiser a restituição do
“empréstimo compulsório” que entre na justiça” declaram os funcionários do governo, sem
revelarem suas identidades, aos repórteres de jornais financeiros, pois eles sabem que dos 5
ou 6 milhões de lesados, apenas uns 10 mil ingressarão na justiça para exigir o direito. O resto
é lucro.
Lucro para quê? Para sustentar uma extraordinária máquina pública que acumula, entre
União, estados e municípios, 8 milhões de funcionários diretos, 36% da força de trabalho com
carteira assinada (22 milhões no país). O gigantismo estatal chegou a proporções tais que já
não é mais possível, nem Cristo mostrando o “caminho das pedras”, encontrar qualquer coisa
que se procure nos labirintos dos prédios públicos espalhados por todo o país. “Se a natureza
tivesse tantas leis quantas possui o Estado, nem Deus poderia governá-la”- afirmava L.
Bourne. Imagina-se então o Brasil ...

O PARADOXO DAS RIQUEZAS


A descrição completa dos escândalos e barbaridades exigiriam hercúleo esforço para
escrever um livro negro do tamanho da Bíblia. Paradoxalmente, temos um território de 8,5
milhões de quilômetros quadrados - quarto do mundo em extensão - rico em minérios,
biodiversidade, sol, chuva, clima tropical, rios, mais de 6 mil quilômetros de costa com
plataforma marítima e lindas praias, flora e fauna variadíssimas, solo fértil ... tudo isto sem
maremotos, vulcões , furacões (por enquanto), terremotos e ouras manifestações violentas da
natureza, salvo algumas enchentes e tempestades, ou estiagens que podem ser enfrentadas
com técnicas já bastante conhecidas. O que passa então?

A POLÍTICA DA POLITICAGEM
Diz uma anedota que enquanto Deus fazia a criação do mundo, tudo que havia de
melhor ou de mais bonito colocava em um determinado lugar chamado Brasil. O anjo Gabriel o
acompanhava apreensivo e perguntava se isto não seria uma tremenda injustiça. Deus então
respondeu-lhe: “- Fique calmo. Logo colocarei ali os partidos políticos”. E assim foi. Boris
Marschalov comentou: ”O Congresso Nacional é bem estranho. Alguém se levanta, fala e não
diz nada. Ninguém presta atenção e então todo mundo discorda”. Basta ligar a televisão para
ver como este fato se repete com freqüência. Acontece que o Congresso Nacional sofre de
dois males básicos. O primeiro vem da estranha proporcionalidade de representação popular,
pela qual um deputado do Acre vale mais que um deputado de São Paulo. O segundo é sua
26 BRASIL CONFEDERAÇÃO

dedicação a inúmeros projetos que não atendem aos anseios da nação e sim de alguns
“ansiosos”. Salvo as honrosas exceções de parlamentares que procuram trabalhar seriamente,
a função política é vista como um projeto de realização pessoal e não como um serviço
prestado à nação. Para eleger-se - para cargos federais, estaduais ou municipais - o político
não expõe sua ideologia e suas metas de trabalho, mas distribui dentaduras para eleitores e
cargos públicos para os cabos eleitorais, e busca o financiamento de quem detém o poder
econômico, para retribuir depois com favores. Com cinismo se diz que para cultivar belas
rosas é necessário algum esterco. Falta porém o adubo certo para que haja vontade de
trabalhar. Milhares de projetos de leis, alguns deles já devidamente fossilizados nas gavetas,
esperam pela sua análise e a Constituição aguarda pela sua regulamentação. Não é muito
trabalho para o Congresso?

O POÇO SEM FUNDO


Para alimentar a máquina pública - Executivo e Legislativo - só se pensa em aumentar
os impostos, taxas e contribuições, não importando se existe efeito cascata, bitributação, tri,
quadri, quintuplicação tributária. Essa perversidade e voracidade fiscal empurra a empresa
para a sonegação, gera focos de inflação e causa diversos outros problemas brilhantemente
analisados por Friedman e Keynes em seus estudos.

LIÇÕES QUE NÃO FORAM APRENDIDAS


O Plano Cruzado editado em 1986 deixou bem clara a visão de que a produção nacional
não atende a demanda. Bastou que 19 milhões de pessoas tivessem uma valorização
repentina nos seus rendimentos e em curtíssimo espaço de tempo a figura do ágio e do
mercado paralelo entrava em ação. Lição nº 1: a inflação brasileira tem como um de seus
componentes o forte desequilíbrio entre a demanda e a produção.
Com a reidexação da economia as vendas a prazo forçaram o repasse da inflação futura
e dos custos financeiros bancários para os preços. Lição nº 2: empresário não constitui
empresa para tomar prejuízo e sempre encontra meios de contornar artifícios que afrontam as
leis do mercado.
Para complicar o quadro, a carga tributária vem aumentando, consideravelmente, junto
com o próprio custo de vida, em compasso inversamente proporcional à renda da população.
Mais custos são, portanto, repassados para os preços dos produtos, dado o despreparo dos
empresários, que na sua grande maioria não sabem o que é uma planilha de custos, ou não
usam critérios adequados de formação de preços ao sabor dos índices oficiais de inflação.
Lição nº 3: não se reduz um desequilíbrio econômico aumentando-o, pois, os empresários não
montam empresas para tomar prejuízo e a economia tem limites para suportar a carga
tributária. O mercado também ...
Para frear a inflação, “geniais” economistas com passagens por Harvard, Oxford e
outras universidades americanas, aplicaram suas teses de mestrado no campo brasileiro.
Acreditaram que diminuindo a demanda, as vendas também diminuiriam e “logicamente” os
preços cairiam, fazendo com que a inflação baixasse, gerando o “efeito inercial inverso”,
coadjuvado pelos fatores psicológicos do mercado. Para reprimir a demanda tiveram que
reprimir a renda e distanciar o consumidor da compra através da prática de juros
estratosféricos aplicados em duas pontas: no crédito e na poupança. Em lugar dos efeitos
previstos chegamos à “estagflação” - inflação com estagnação. Lição nº 4: não existe outra lei
para o mercado senão a do próprio mercado, mesmo que distorcida como um quadro de
Picasso.
A inflação continuou a subir. Como, se as vendas caíram? Simples: se você produz
1.000 fogões, sua estrutura de custos está calculada para 1.000 fogões. Se a produção
aumentar, dentro de um certo limite, o custo unitário cairá, mas, seu lucro aumentará. Mas, se
a produção cair, o efeito é inverso. O custo aumenta e o lucro cai. Elementar. Porém, vivemos
sucessivas ondas de consumo e recessão provocadas pelos “pacotes” de medidas econômicas
e os empresários ajustam a produção de tal forma que seus custos são repassados tanto na
alta como na baixa produtividade, fazendo com que os preços subam mesmo quando as
vendas caem, especialmente nos setores oligopolizados, monopolizados e cartelizados tanto
pela iniciativa privada quanto pelas estatais. Lição nº 5: as interferências na economia com
objetivo de provocar recessão são ineficientes nos setores econômicos sem concorrência e
BRASIL CONFEDERAÇÃO 27

transformam as leis de mercado naqueles onde existe competição no condenável capitalismo


selvagem.
(Nota: O conceito de demanda neste trabalho significa o potencial de consumo do
mercado brasileiro, considerando principalmente as necessidades básicas da população e, em
segundo plano, o aumento do consumo gerado por aumento de renda na classe média).
Os preços chegaram a ter no seu bojo custos tributários, financeiros e prevenção contra
inflação futura, em muito mais de 100% sobre os custos. As taxas de juros ultrapassaram o
ponto admissível da remuneração do capital e se tornaram rendimento puro não tributável. Os
índices de inflação chegaram rapidamente a 50%, 60% ao mês e finalmente a 90%, quando um
novo choque econômico, diferente e mais duro, foi decretado: o confisco dos depósitos
bancários.
O golpe teve efeito durante algum tempo, para, logo depois, as águas da inflação
suplantarem mais uma vez as barreiras erguidas por decreto. O novo mandatário da nação
entrou então com um novo discurso, jogando a culpa de tudo nos empresários: “os carros
nacionais são carroças motorizadas e o empresário é o vilão da inflação, o incompetente”. Foi,
então, lançada a nova política industrial e de comércio exterior e o Programa Brasileiro de
Qualidade e Competitividade, iniciando uma progressiva abertura do mercado brasileiro para
os produtos estrangeiros, com vistas a produzir a concorrência neutralizadora dos abusos dos
oligopólios e cartéis, e com vistas à elevação da produtividade industrial e comercial. Medidas
necessárias e modernizantes, porém ...
O acusador foi também acusado de gigantismo, ineficiência, lentidão e de extraordinário
custo para a nação, mas não se moveu para calar a boca dos acusadores. Deixar em
disponibilidade uns 50 mil funcionários públicos, tirando-lhes o trabalho mas continuando a dar-
lhes metade dos salários, foi, sem dúvida, um ato inconstitucional. E demagógico. Bastou uma
batalha judicial para que o governo se obrigasse a reintegrá-los na “posse” dos seus direitos.
Pergunta-se: por que o governo não cometeu uma grande inconstitucionalidade, reformando
toda a máquina pública e o sistema tributário, enquanto possuía grande popularidade e o voto
de confiança até dos seus adversários políticos? Perdeu-se mais um bonde da história. A
opção foi pela paliatividade, que ajudou a desgastar a credibilidade nos atos que antes
pareciam ser os únicos remédios para fazer este país “retornar ao caminho do
desenvolvimento”. A inflação tornou a crescer e todos aqueles males que compõe a “Bíblia
Negra”, referida anteriormente, continuam aumentando. Lição nº 6: o Estado que não
consegue libertar-se de sua burocracia por alguma medida violenta é condenado a perecer. “O
cérebro e todos os órgãos da burocracia estão podres. Somente seu estômago funciona bem”,
conforme disse Bismark.
(N.A. - em lugar de “medida violenta” pode-se ler “medida drástica”).

MATANDO A EMPRESA NACIONAL


A progressiva abertura do mercado brasileiro para a realidade internacional sem que
haja uma reforma tributária e da administração pública fará com que as empresas nacionais
não tenham como competir. Os produtos estrangeiros em geral não carregam o fardo tributário
como os brasileiros e quando são distribuídos internacionalmente são produzidos em grande
escala e com qualidade superior, mediante técnicas que não chegaram até aqui, dado o
isolamento vivido até agora.
Não podemos tratar as empresas brasileiras como vilãs por não produzirem com
qualidade e preço competitivos internacionalmente, porquanto seguiram apenas as “regras do
jogo” vigentes até agora, baseado no modelo da substituição das importações com apoio das
barreiras alfandegárias, muito embora certo número de empresários tenha vivido uma relação
incestuosa com o governo neste jogo. As reservas de mercado conjugavam (e ainda não
acabaram) interesses para recolher seus impostos, com os interesses dos empresários em
manter-se restritos a sua estreita visão de mercado, autocondenando-se à obsolescência.
O quadro muda mais por pressões estrangeiras, em resposta ao que acontece no
mundo - a globalização da economia - e o governo não tem outra saída senão abrir a
economia. Mas, fazer esta abertura mantendo o fardo tributário sobre os produtos brasileiros é
desonestidade. É desmontar grande parte do setor produtivo (as fábricas de jeans,
eletrodomésticos, caminhões que estão fechando), na tentativa teimosa de manter a máquina
pública inteira, intocável, “imexível”. Isto é política de desenvolvimento?
28 BRASIL CONFEDERAÇÃO

Não cremos que seja possível desenvolver um país provocando o fechamento de suas
fábricas, esvaziando as lojas e deixando gente sem emprego. O que conseguiremos,
persistindo nesse rumo, é transformar o Brasil no maior país de muambeiros do mundo, pois
está ficando mais rendoso comercializar importados e contrabandeados, vender cachorro-
quente nas esquinas e abrir bancas de jornais do que ser engenheiro, advogado, médico,
técnico de alguma coisa ou empresário.
Para que não se perca do rumo é importante lembrar que a empresa é o meio de gerar
riquezas, desenvolvimento econômico e bem-estar social em qualquer nação cujo fim de
existência seja o cidadão. Cabe ao cidadão sustentar o Estado, para que este atenda algumas
de suas necessidades básicas. Fazer o que se faz com a empresa brasileira, sobrecarregando-
a de obrigações e interferindo no seu “habitat”, o mercado, para em seguida jogá-la na fogueira
da concorrência internacional, é o mesmo que cortar as asas de um passarinho criado na
gaiola, soltá-lo na floresta e dizer-lhe “- vire-se, seja competente”.

O ÊXODO RURAL PODERÁ AUMENTAR -


AI DE NÓS!
O que está reproduzido adiante é um dos artigos sobre a Confederação publicados em
jornais de Curitiba e quiçá em algum outro jornal brasileiro. Trata-se de um dos temas de
momento e que ainda é bastante pertinente com o atual sistema: o inchaço urbano provocado
pelo êxodo interiorano.
Lei a conclua:
“Quando o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - divulgou, há poucos
dias, o resultado do Censo Demográfico Brasileiro, realizado em 1991, ficaram algumas
constatações interessantes, mas a que mais me assuntou foi a da diminuição das populações
de centenas (ou milhares) de cidades do interior deste Brasil varonil. Esta diminuição,
transformada no famoso êxodo demográfico que incha os grandes centros urbanos (que cada
vez ficam maiores), já era de conhecimento de todos nós; entretanto, com os dados oficiais do
Instituto, importantes modificações irão ocorrer, tanto no quadro político - alteração do
quociente e proporcionalidade eleitoral, fazendo com que diversos políticos percam seu
emprego - como, principalmente, na distribuição de verbas do chamado Fundo de Participação
dos Municípios.
O mais agravante, sem dúvida alguma, é a diminuição - ainda maior - das receitas dos
municípios já enfraquecidos, que não conseguem fazer investimentos em infra-estrutura e
demais equipamentos sociais que poderiam, em primeira análise, colaborar com a retenção da
população no campo. Sem dinheiro, poderão desaparecer do mapa inúmero municípios,
provocando o aumento do volume de migração interna rumo aos grandes centros, com
conseqüências que todos já sabemos: a favelização, o aumento da criminalidade e da própria
densidade demográfica de uma população que forma uma nova sociedade: a sub-raça.
O que fazer? Bem, se estamos sob as regras vigentes na Constituição Brasileira, que
comanda todas as demais constituições, estaduais e municipais, resta-nos mudá-la. Mas não
basta apenas tentar resolver este problema com ou sem arranjos políticos como de costume
neste país, mas de realmente conseguirmos mudar mais essa conseqüência de um modelo
totalmente centralizado, como é o sistema administrativo brasileiro.
É aí que se pode reiterar o tema que já está sendo discutido: mais autonomia aos
estados brasileiros. Para conseguirmos isso é preciso criar um movimento nacional (o que já
está sendo feito aqui em Curitiba, palco das Diretas Já em 1984), para que consigamos isto
através de um modelo denominado Confederação dos Estados do Brasil.
O sistema confederativo propicia a descentralização de quase todo o poder que está
hoje em Brasília, diferente do centralismo que adota fórmulas que devem servir,
“democraticamente”, para todos os estados, não importando as suas diversidades,
características, clima, meio ambiente, necessidades, potencialidades e, principalmente, não se
importando com o verdadeiro desejo de cada população. Isto é mais que maquiavélico, é
“burriavélico”. (Se o Magri pode inventar termos, por que eu não?).
Dar poder e responsabilidade aos estados propiciará, sem dúvida alguma, uma maior
democratização das instituições, conseguindo-se maior participação popular na construção de
uma nação forte e unida, transformando em progresso e bem-estar social as imensas riquezas
brasileiras, hoje desperdiças pela má gestão e mal cuidado, pelo roubo tipificado nas evasões
ao estrangeiro, concentração latifundiária, etc., etc.. Pergunta-se então, já que continuaremos
BRASIL CONFEDERAÇÃO 29

com a nossa luta, escrevendo, falando, debatendo, fazendo: “a quem interessa a


desagregação do Brasil ?”.
(Publicado no jornal Indústria & Comércio do Paraná, em 10.02.92).

CONFEDERAÇÃO UMA PROPOSTA DE REFORMA


Para que deixemos de ser esse estranho “mix” de 1º e 4º mundo (muito mais de 4º),
precisamos nos preocupar com os fatos e com a realidade dos mesmos, com desapego às
fórmulas existentes. Precisamos convergir para a exigência uníssona da verdadeira vontade
expressa democraticamente: a descentralização do poder, através da reforma do Estado, com
a reforma da Constituição, transformando o Brasil em uma Confederação.
Esta é uma proposta de reforma do nosso modelo básico republicano e capitalista.
Trata-se da troca de um modelo contrário à moderna técnica administrativa, buscando também
a verdadeira democracia participativa. Sem sangue, sem choques violentos, afetando tão
somente os interesses de quem se locupleta com o atual estado das coisas.

O PAÍS CLAMA POR DESCENTRALIZAÇÃO


Mesmo sem aperceber-se da possibilidade de mudar para o modelo administrativo da
Confederação, o Brasil clama por descentralização, através de manifestações setorizadas.
Dirigentes de estatais, prefeitos, políticos manifestam-se sobre os grandes problemas
nacionais e propõem soluções descentralizadoras. Rebelam-se contra velhas leis e decretos
lavrados pela forma das oligarquias, das elites de um tempo que já passou. Mas é difícil mudar
procedimentos através de um Congresso entupido de projetos de toda espécie e mais
preocupado em dividir o bolo imenso do poder concentrado em Brasília. O país está
emperrado.
Em entrevista concedida ao Jornal Indústria e Comércio (Curitiba, 9 de janeiro de 1992)
o então Secretário Nacional de Energia, Armando Araújo, declarou que o modelo energético
brasileiro, dependente da Eletrobrás, está ultrapassado, necessitando uma reforma estrutural
no sentido de transferir para os estados a gerência e administração regionalizada. O editorial
do periódico enfatizou a imperiosidade de um modelo diferente, “que considere as
particularidades das várias regiões brasileiras, adaptado à “problemática” de cada estado, a fim
de evitar as distorções e injustiças acarretadas pela centralização excessiva”.
Vários deputados federais, quando em discussão sobre o reajuste do salário mínimo em
fevereiro desse mesmo ano, questionaram a unificação do valor dessa referência.
Prefeitos reunidos no 36º Congresso Estadual de Municípios de São Paulo escreveram a
Carta de Serra Negra, expressando preocupação diante das ameaças da União de não
repassar as verbas do Fundo de Participação dos Municípios, em razão da inadimplência
destes em relação à Previdência. O Regime Jurídico Único Estatutário provoca enormes
encargos previdenciários, cuja arrecadação é centralizada na União.
Em palavras simples, a União recolhe dinheiro dos municípios e para devolvê-lo exige
mais dinheiro. Pior que isso somente a “política do chapéu na mão” que há poucos anos levava
os prefeitos em romaria à Brasília, na qualidade de verdadeiros pedintes. Atualmente só vão à
Brasília os prefeitos “amigos do rei”, que têm alguma chance de receber dinheiro para suas
obras.
Diz a Carta de Serra Negra: “os novos caminhos para os municípios não passam pelo
paternalismo assistencialista, mas deve fortalecer o exercício da cidadania por meio da
descentralização e da participação nos processos decisórios”.

O MOMENTO HISTÓRICO CHEGOU


Em meio às ondas separatistas que grassam pela nação, vivas manifestações de
protesto e indignação contra os efeitos do centralismo, acredito que o momento histórico da
modernização administrativa chegou. Esta certeza, consubstanciada nas exposições feitas ao
longo deste trabalho, apoiam-se em dois aspectos fundamentais: o presente e, mais uma vez,
o passado.
No presente, situação econômica, social, moral e política do Brasil geram sentimentos
fortes de desagregação e despertam aspirações separatistas, especialmente nos estados do
30 BRASIL CONFEDERAÇÃO

Sul, que alegam evasão de rendas de sua produção sem o devido e justo retorno da parte do
órgão centralizador, o governo federal. Alegações incontestáveis. Propostas ingênuas, mas
que podem se tornar sérias.
As aspirações separatistas encontram adeptos em dezenas de municípios, onde se
formam comitês e houve até quem proclamasse, simbolicamente, a “República dos Pampas”,
com carteira de identidade civil, Carta Magna, bandeira e vários outros símbolos. Querem os
“pampeiros” (ou pampistas) livrar-se do “peso” do governo centralizado de Brasília e da
exploração imposta pelos políticos nordestinos que comandam o Congresso Nacional. Estão
repletos de razão, mas o caminho não é separar.
É preciso ter uma visão mais ampla dos fatos. Seria uma tolice separar pedaços de um
país já unificado, quando as nações procuram exatamente o contrário. Europa, Ásia, América
do Norte, Cone Sul e agora também a América Central (México, Venezuela e Colômbia estão
formando o “Grupo de los Três”) tratam de formar blocos. Seria um grave erro de estratégia
política e econômica, em vista da reorganização geopolítica internacional do momento e a
necessidade de ampliar escalas, gerando uma conjuntura internacional que deverá vigorar por
um tempo indeterminado. Nesta virada de milênio “um estado ou um país não fazem verão
sozinho”, especialmente se levarmos em conta a regra da complementariedade econômica, a
qual não apenas torna o Brasil necessário para si mesmo, mas gera uma interdependência
impressionante entre as nações.
Uma Carta que permita maior liberdade aos estados brasileiros, para que estes
desenvolvam suas potencialidades dentro de suas características, propiciará a utilização
vantajosa da regra da completariedade. Em outras palavras, a união econômica fortalecerá a
nação brasileira e cada estado membro em particular, mediante uma nova ordem interna.
Separar seria abandonar a hegemonia no mercado latino-americano e o domínio das
nossas empresas sobre o próprio mercado brasileiro, o maior da América do Sul. Um estado
perderia o acesso às riquezas biológicas e minerais que existem em outro estado. Será que os
separatistas do Sul manteriam a motivação de seu movimento caso fosse anunciada a
descoberta da maior jazida de petróleo do mundo no Nordeste? Para quem prefere não
raciocinar sobre hipótese, basta lembrar que o Norte e o Nordeste possuem de fato as maiores
jazidas de diversos minerais, bastando tão-somente um gerenciamento profissional para que
haja o perfeito aproveitamento dessas riquezas por todos nós brasileiros.
Como elemento que sela as exposições feitas, pode-se mencionar a consciência da
nacionalidade brasileira, presente em todos os cantos do país de forma inconteste.
No passado encontramos as reflexões e ações de Rui Barbosa, um dos mais
respeitados juristas de toda a história brasileira, o “Águia de Haia”. Tais reflexões influenciaram
a Constituinte de 1890, formada logo após a implantação do regime republicano de 15 de
novembro de 1889. No nascimento da nossa República ele defendeu uma forma mais
centralizada de governo, antes de evoluir para uma federação mais avançada, descentralizada
e democrática de governo.
O Brasil vinha da construção de uma unidade nacional que fez desenvolver apenas
alguns poucos centros econômicos, assumindo sua geografia humana de forma diferente da
norte americana. Pesavam circunstâncias culturais provenientes de nossos exploradores. Não
se sabe ao certo o que aconteceria à unidade nacional se naquela época a República optasse
pelo modelo norte-americano de estados quase independentes. Na opinião de Rui Barbosa o
resultado não seria bom. Em um de seus mais inflamados discursos no Congresso e no
Senado procurou transmitir essa preocupação, afirmando que para se adotar o sistema
federativo dos Estados Unidos, conforme defendiam muitos constituintes da época, seria
necessário possuir uma história que servisse de base para o modelo. Na colonização e no
Brasil Império não houve a preocupação em descentralizar, ficando a maioria das províncias
afastadas dos acontecimentos. Desejava, então, o eminente jurista, que a União fortalecesse
os estados numa primeira etapa, para depois haver a descentralização, na qual acreditava.
“Assentemos a União sobre o granito indestrutível e depois será a oportunidade de organizar
autonomia dos estados com os recursos aproveitáveis para a sua vida individual” - disse aos
constituintes.
Acontece, porém, que as oligarquias, contra as quais Rui Barbosa sempre lutou,
conduziram a República para um resultado que o desiludiu totalmente. Já na entrada do
século, em 1900, ele clamava por uma reforma constitucional. Lamentava ele que o sistema
federativo, mal interpretado e mal ajustado na Carta Magna, proporcio
BRASIL CONFEDERAÇÃO 31

nava o fortalecimento das velhas oligarquias estaduais, surgindo a tiranização pelos


governadores, algo pior do que presenciava no tempo do Império e tratava de combater. o Não
era saudade dos tempos monarquistas, como querem os defensores da restauração
monárquica no Brasil, mas desilusão diante de barbaridades ocasionadas pelo modelo
republicano distorcido.
Depois de 100 anos de República, tendo a nação brasileira passado por várias etapas
de sedimentação, chegou o momento de realizar o plano de Rui Barbosa. O momento chegou.
Hoje temos a base geo-econômica necessária. A grande maioria dos estados brasileiros está
apta a gerir seus próprios assuntos. Aqueles que não atingiram totalmente essa condição,
diante da necessidade saberão caminhar com as próprias pernas.
Passado e presente unem-se, portanto, apontando para a nova dimensão que o Brasil
requer, depois de tantas etapas de sofrimento vencidas. O Brasil requer respeito à
individualidade, inteligência na exploração de seus recursos localizados, democracia para a
efetiva participação regionalizada. São estes ingredientes que farão a química alimentar de
uma nação forte, justa e coerente com o modo de viver dos seres humanos no século XXI. O
governo democrático é “do povo, pelo povo e para o povo”, dizia Abraham Lincoln. Podemos
complementar: “perto do povo”.

CAPÍTULO 8

PROPOSTA PARA O BRASIL


CONFEDERADO À MODA DA CASA
(ARRUMADA)
“Os políticos que dizem que o povo não pode
receber a liberdade antes que saiba usá-la, me lembra
aquele sujeito que decidiu não entrar na água até que soubesse nadar.”
(Thomas Babington Macaulay)

Cessada a causa, cessa o efeito, nos ensina a filosofia aristotélica. Se não sabemos
hoje como governar um Brasil formado pela união de estados dotados de autonomia
administrativa, financeira e judiciária é por falta de costume. Temos vícios culturais originados
na tradição de centralismo e que atingem todas as profissões e todas as áreas, desde o setor
privado até o setor público, da escola à aposentadoria. Não é possível mudar tudo isto num
passe de mágica, numa “canetada”, mas não há outro modo que não seja interromper o
modelo centralizador e causador de tantas carências nacionais. É o excesso de centralismo
que retira da sociedade o poder de iniciativa ao longo das gerações, desde o Brasil Colônia,
passando pelo Império chegando aos dias de hoje.
Dentro de uma filosofia extremamente paternalista, acreditam muitos que o povo
brasileiro não tem condições de autogerir-se. E citam a eterna miséria do Nordeste (uma
miséria que é de fato relativa, como é relativa a riqueza do Sul) como “prova” do que afirmam.
Nosso “Rei Pelé”, admirado e amado, chegou a manifestar-se contra o direito voto para o cargo
máximo da ação, o Presidente da República, alegando que “povo que não sabe escovar os
dentes não sabe votar”. Mais tarde, percebendo a grande asneira que disse, arrependeu-se.
Abraham Lincoln nos ensinou: “Não podes ajudar os homens de maneira permanente se
fizeres por eles aquilo que eles devem fazer por si próprios”. Se o Governo Federal sempre
quis “desenvolver” o Norte e o Nordeste a partir dos gabinetes de Brasília é porque sempre
andou na contramão do próprio senso humano. Mas, com certeza, esteve sempre na estrada
de mão-única dos favorecimentos, do tráfico de influências e das verbas altamente
comissionadas. Se o governo conseguiu desenvolver no Nordeste e no Norte algo que não
teria se desenvolvido sem ajuda, foi o poder das velhas oligarquias paternalistas e arcaicas. A
ajuda ao Nordeste somente sustenta politicamente uma certa casta de políticos, impedindo a
renovação democrática.
Eliminando-se o centralismo, todas as demais causas do atraso irão desaparecer ou
enfraquecer e as próximas gerações, com certeza encontrarão um modelo organizacional
estruturado para a plena participação cívica e individual, pois as iniciativas particulares terão
efeito dentro de uma nova linha de pensamento coletivo.
32 BRASIL CONFEDERAÇÃO

Passamos a seguir ao “esqueleto” de um modelo político-administrativo de atribuições


dos estados confederados e da União. Comecemos pelo que mais nos preocupa no dia-a-
dia: o dinheiro.

MOEDA
Atribuição exclusiva da União para fabricá-la e controlá-la. Neste ponto a Confederação
não muda. O que deve mudar, com o tempo, é a menor velocidade das rotativas da Casa da
Moeda, à medida que a União tiver menos necessidade de emitir papel-moeda e títulos de
dívida pública para financiar a maquina estatal, quando desmontada. Assim acontecendo, a
economia terá mais estabilidade e nossa “fábrica” de dinheiro poderá prestar serviços para
outros países, como acontecia antes.

CÂMBIO
Atribuição exclusiva do mercado. Somente uma economia estável pode dar estabilidade à
moeda nacional e fortalecê-la. A maioria dos países, inclusive na América Latina, adota o
câmbio livre. Além disso é um contra-senso manter o câmbio não oficial como contravenção e
anunciar suas cotações todos os dias, ou de hora em hora, pelos meios e comunicação. O que
faz falta à nação são mecanismos que evitem a “lavagem” de dinheiro proveniente do crime, da
contravenção, da sonegação. Neste ponto, Estados e União devem, em comum acordo, criar
mecanismos de coibição. Não se pode simplesmente ignorar o que se passa à vista de todos e
contribuir para a degradação moral da sociedade. Guardar dólares e outras moedas
estrangeiras é um ato de proteção contra a corrosão inflacionária da moeda nacional, mas é ao
mesmo tempo uma contravenção. Entre a cruz e a espada o cidadão opta pelo que lhe causará
menos dissabores e assim alimenta-se o descrédito nas instituições nacionais, cujo efeito
moral é desastroso para uma sociedade.

SISTEMA FINANCEIRO
Deve ser coordenado pela União através do Banco Central, autônomo. O controle deve,
porém, ter caráter mais ético e os poderes regulador e coercitivo devem ser aplicados apenas
para hamonizar o mercado e mantê-lo democrático. Isto se aplica às instituições bancárias e
financeiras em geral, com as devidas reformas. As bolsas devem ser reguladas através da
CVM - Comissão de Valores Mobiliários e supervisão do Banco Central.

A QUESTÃO DOS IMPOSTOS


UNIÃO
Cabe à União o imposto sobre a renda de pessoas físicas, os impostos reguladores
sobre importações e exportações e o imposto sobre a propriedade rural improdutiva (alto e
progressivo).
O imposto sobre a renda de pessoas físicas deve atingir a todos, porém com alíquotas
baixas que não estimulem a sonegação. Temos uma população economicamente ativa (PA) de
50 milhões de pesoas e apenas 3,5 milhões pagam IR, sendo uma distorção e uma
discriminação, tanto para os que ganham mais e são penalizados por isso, quanto para os
menos favorecidos, que se sentem cidadãos de segunda classe. Os contribuintes do IR
compreendem cerca de 7% da PEA, enquanto que em países sérios e normais, pelo menos
80% contribuem.
Evidentemente, a máquina pública federal gigantesca, que hoje consome cerca de US$
1 bilhão por ano, deverá ser desmontada e “enxugada”, no modelo confederativo. Não haverá
então a necessidade de tantos impostos, tanto dinheiro, títulos de dívida pública.

ESTADOS
Aos estados cabe o imposto sobre o preço final das mercadorias ao consumidor, um
segundo imposto sobre a propriedade rural improdutiva, o imposto sobre a propriedade de
veículos (atual IPVA) e a contribuição previdenciária e de pecúlio, exceção feita quando
existirem os seguros, pecúlios e previdência privada.
O imposto sobre o preço final das mercadorias substitui o atual ICMS e o IPI, dentre
outros, evitando o efeito cascata no planilhamento dos custos de cada item que compõe um
BRASIL CONFEDERAÇÃO 33

produto. Tal imposto, retido pelo comerciante ou pelo industrial, deve ser recolhido aos cofres
públicos em no máximo 10 dias, através de conta bancária. As alíquotas devem ser baixas,
compatíveis com a realidade da concorrência de produtos estrangeiros (Mercosul, Europa,
EUA, Ásia, etc). O Brasil pode tornar-se o novo “tigre latino-americano”.
Naturalmente, será necessária uma hamonização de alíquotas nas negociações
interestaduais de serviços e mercadorias, algo que pode ser discutido em fórum como o atual
“CONFAZ”.
O Imposto sobre a propriedade rural improdutiva, em duplicidade, justifica-se pelo duplo
prejuízo que causa, ao estado e ao país, a terra parada e a reforma agrária de discurso. É
preciso, no entanto, tomar cuidado para que não se torne um duplo motivo para arrasar as
reservas florestais e outros recursos da biosfera. Florestas podem ser consideradas áreas
produtivas.
Quanto a contribuição previdenciária e pecúlio, devem ser pagas por empregados e
empregadores, cabendo a maior parcela ao empregado. Podem ser abertas a qualquer
pessoa, mesmo sem carteira de trabalho assinada, mediante contrato de adesão e pagamento
de carnê mensal.
O imposto sobre a propriedade de veículos destina-se à construção e conservação de
estradas (dinheiro carimbado).
A má gestão administrativa do governo de algum estado poderá ocasionar, conforme o
caso, intervenção federal ou, antes disso, “impeachment” por moção popular.

MUNICÍPIOS
Cabe ao município o imposto sobre serviços de qualquer natureza, o imposto sobre a
propriedade territorial urbana (IPTU), o imposto sobre a transmissão de bens imóveis inter-
vivos ou outros impostos cedidos em plebiscito, tendo em vista o plano diretor da cidade.
A tese da Confederação não exclui o municipalismo, pelo contrário, podendo inclusive
cada estado fazer sua própria política municipalista, delegando maiores ou menores poderes
às instâncias locais.
Nada impedirá que os estados repassem verbas aos municípios mais carentes, visando
seu fortalecimento econômico e a distribuição populacional. A qualidade de vida nos pequenos
centros é a melhor política para desinchar os grandes centros. O ideal, porém, é haver o
máximo de descentralização administrativa também dentro dos estados, desconcentrando
recursos e, por conseqüência, poder decisório. O sistema confederativo requer a sabedoria de
dosar os recursos dos estados e dos municípios, deixando grande margem para a criatividade
local.
Requer melhor estudo a divisão mais intensa do território nacional em estados e
municípios. A França tem 36 mil comunidades e a Suíça mais de 3 mil, sendo Genebra uma
cidade com cerca de 300 mil habitantes apenas. Assim, a qualidade de vida aumenta
consideravelmente. O Brasil, com sua imensidão tem apenas 4.900 municípios e, quando são
criados novos, não raro cometem-se erros, emancipando-se distritos que ora condenam a
cidade a que estavam ligados, ora condenam-se a si mesmos por falta de condições de
sobrevivência. Surgem assim mais e mais instrumentos e manipulação política.

IMPOSTO ÚNICO - UM COMENTÁRIO


Está em debate nacional a proposta do imposto único, cobrado sobre o imposto
bancário. É uma proposta essencialmente centralizadora. Qual a relação entre o movimento
financeiro e a agregação de um valor de cada estado ou município? É a mesma em todos os
lugares de um país? Com um sistema de compensação automática que divide as cotas de
cada estado e de cada município

no próprio banco arrecadador serão flagrantemente prejudicados os estados e municípios de


menor movimento financeiro. Atualmente São Paulo gera sozinho 40% do PIB brasileiro,
enquanto que estados como Acre, Amapá, Piauí e outros não terão chances de arrecadação
direta e terão que recorrer ao governo central. E então começará tudo de novo ...
Não podemos fugir da verdade inexorável: soluções únicas para um país de 8,5 milhões
de quilômetros quadrados e tantas diversidades regionais são um contra-senso.
34 BRASIL CONFEDERAÇÃO

PODER JUDICIÁRIO
Existem crimes federais, estaduais e municipais e um novo Código Penal Brasileiro
deverá determiná-los. Caberá as estados formularem seus Códigos Penais, respeitando
sempre o que diz a Constituição no tocante às garantias individuais. Deverá haver margem
para que cada estado decida-se pela pena de morte, trabalhos forçados ou reclusão pura e
simples dos criminosos, a critério da sua população.
Tribunais municipais de julgamento rápido serão instituídos e terão juízes eleitos pelo
povo. Tribunais estaduais terão como atribuição julgar crimes de âmbito estadual, com júri
popular. A União manterá uma Corte Suprema, que decidirá sobre questões de abrangência
nacional e aquelas relacionadas com o poder público nacional ou estadual, inclusive o
impedimento do presidente (impeachment), em caso de regime presidencialista, ou atos lesivos
ao patrimônio nacional por crimes de corrupção ou de atentado.
Preocupação maior que homogeneizar usos, costumes e cabeças de um país inteiro
deve ser a evolução e o enriquecimento cultural. Deve-se permitir que a sociedade evolua em
seus preceitos morais, a exemplo do que ocorre no mundo. É a humanidade que não deseja
mais a proliferação de armas, de regimes de força como o comunismo, explosões nucleares,
destruição do meio ambiente e assim por diante. As atitudes dos governo dos países são
reflexos da sociedade mundial. Basta observar a história e as tendências para o futuro.

EDUCAÇÃO
A proposta é de criação de um Código Nacional de Educação, ficando a tarefa de aplicá-
lo aos estados e municípios. O Código preverá apenas algumas diretrizes básicas para ajuste
dos interesses comuns. Serão mantidas as universidades federais em quantidade de uma para
cada estado e serão determinados no Código a quantidade mínima de universidades gratuitas
para cada estado e o Curriculum mínimo para cada ano letivo.

SAÚDE
Cabe aos estados e municípios gerenciar as contribuições arrecadadas para tal fim e
prover o atendimento das necessidades. Quanto mais municipalizado o atendimento, melhor.
Deve existir um Código Nacional de Saúde para ditar algumas diretrizes básicas
referentes a epidemias e endemias. Chega de intermediações de verbas e desvios. Caberá a
um simples Departamento Nacional de Saúde a regulamentação da vigilância sanitária, da
produção de drogas, medicamentos, alimentos, cosméticos e domissanitários e sua
normatização. Aos estados e municípios é delegada aplicação das normais nacionais, cada
qual com atribuições em determinadas áreas.

MEIO AMBIENTE
Não é sensato unificar a legislação sobre meio ambiente da diversidade ecológica
nacional. É possível, no entanto, estabelecer um Código Nacional de Meio Ambiente
sintonizado com as diretrizes fixadas nos acordos internacionais, cabendo o cumprimento das
normas aos estados. A estes competirá agregar as normas de seus governos que considerem
importantes e necessárias em função das características regionais. Estados poderão fazer
acordos entre si para solucionar questões em comum com a preservação do Pantanal, do
Cerrado, da Mata Atlântica, dos estuários e assim por diante. Poderão ser definidos crimes
ecológicos nacionais e estaduais, com as respectivas punições, variando das multas à prisão.
A participação dos municípios na preservação ambiental brasileira também é necessária,
podendo cada estado estabelecer sua política nesse sentido, através da delegação ou da
cooperação.

AMAZÔNIA
É um caso à parte na questão ambiental brasileira, dado o interesse internacional que
incide sobre a maior e talvez a mais importante reserva de recursos naturais do mundo. É um
caso de planejamento estratégico de interesse de todos os estados-membros da União, a ser
atribuído aos representantes estaduais no Congresso, aos governadores e ao governo federal.
Os meios de preservar a Amazônia e manter sob controle os interesses nacionais e
BRASIL CONFEDERAÇÃO 35

internacionais que incidem sobre ela devem ser estudados com muita seriedade. Lá
concentram-se as riquezas que provavelmente até os estrangeiros (que sabem da Amazônia
mais que nós brasileiros) desconhecem.
Talvez seja mais interessante transformar o Amazonas em Território Federal. Sem
dúvida, um tema polêmico, mas por que não discuti-lo?

ESTRANGEIROS
A política externa caberá exclusivamente à União, com a possibilidade dos estados
serem chamados a opinar. Caberá à União exclusivamente a autorização para permanência de
estrangeiros no país, assim como a emissão de passaportes.

QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL
Caberá à União, através da delegação de poderes aos órgãos de classe, a
normatização, certificados e homologação das profissões. É mais ou menos o que já temos
hoje.
TRÂNSITO
Caberá à União formular o Código Nacional de Trânsito em comum acordo com os
estados, mas aos estados e municípios caberá aplicar a legislação de trânsito.
Não há necessidade de uma Polícia Rodoviária Federal. Poderá haver, no entanto, uma
Polícia Rodoviária Estadual encarregada da guarda das rodovias e uma Guarda Municipal,
responsável pelas vias urbanas. As multas urbanas são cobradas pelo município e as
rodoviárias pelo estado.
A Polícia Estadual atuará também nas rodovias federais, assim chamadas apenas por
questão de planejamento nacional e fluxo estratégico.

ESTRADAS
É interessante a existência de um macro planejamento e uma integração nacional
através dos transportes. A União pode se encarregar da formulação de planos rodoviários,
ferroviários, hidroviários e aeroviários, sempre em consenso com os estados. A construção de
estradas e sua conservação é, porém, assunto que pode estar apenas na alçada dos estados,
para a inciativa pública ou para concessões à inciativa privada. É de interesse de cada estado
possuir uma boa malha viária, peça fundamental de infra-estrutura e de política de
desenvolvimento econômico. É também um bom indicador da qualidade dos governos e da
orientação de suas prioridades, além do fator de emulação interestadual para o progresso
nacional.

FERROVIAS
Nas últimas décadas os governos nacionais foram responsáveis pela adoção apenas do
modelo rodoviário de integração nacional. Foi um verdadeiro crime hediondo contra a nação.
As poucas ferrovias que existem não se integram, pois têm bitolas diferentes nos trilhos e na
cabeça dos dirigentes ferroviários em cada lugar. O monopólio estimulou o corporativismo e se
transformou na melhor prova brasileira de que o centralismo é contraproducente. Os lucros da
administração regional de estados, como o Paraná, são transferidos para cobertura dos déficits
crônicos das administrações regionais do Nordeste e para os prejuízos institucionais o
transporte urbano do Rio de Janeiro. Por que viabilizar economicamente uma ferrovia carioca
ou nordestina se há uma ferrovia no Sul que paga os prejuízos? Como resultado, as safras de
soja do oeste do Paraná continuam sendo transportadas em caminhões, tornando quase mais
caro o transporte dos grãos para exportação que a produção no campo, pois não há com que
expandir a malha ferroviária no estado.
Trens modernos e rápidos, com todo tipo de serviços a bordo, poderiam cruzar o país
transportando passageiros, cargas e encomendas a custos reduzidos. Isto é possível mediante
maior flexibilidade institucional para o setor ferroviário. A construção e operação de linhas de
ferro podem ser atribuições da União, dos estados e da iniciativa privada ao mesmo tempo.
Um Código Nacional de Transportes pode fixar as regras do convívio. O mesmo se aplica às
hidrovias e às linhas aéreas, sendo que estas já caminham nesse sentido.
36 BRASIL CONFEDERAÇÃO

TELECOMUNICAÇÕES
Fala-se muito em privatização do sistema e, sem dúvida nenhuma, é mais fácil para um
governo gerenciar as concessões do que administrar grandes empresas paraestatais. É
necessário, porém, um Código Nacional de Telecomunicações que harmonize as relações e
estimule intercâmbio das companhias estaduais e municipais. É um setor bastante organizado
em nível internacional e que não apresenta maiores dificuldades de gerenciamento. Não é
necessária a existência de uma Telebrás ou qualquer outra empresa estatal para isto. Apenas
uma coordenadoria ou secretaria que faça cumprir as disposições do Código.

CORREIOS
É difícil vislumbrar a privatização total de serviços desta natureza e até mesmo sua
estadualização, dada a necessidade de compensar nas tarifas os custos das entregas em
lugares longínquos ou de baixo tráfego.. O que pode ser pensado, todavia, é a autonomia do
sistema de correios e formas de controlar seu gerenciamento. A maioria dos países os
mantém sob o controle governamental.
A crítica que se faz atualmente refere-se ao constante aumento das tarifas e a qualidade
dos serviços prestados ela ECT. A carta é o meio mais simples, barato e singelo de
comunicação e é direito dos mais sagrados ao cidadão que recolhe impostos para sustentar o
governo da nação. Esse direito não pode ser cerceado pelas tarifas altas. Uma sugestão é o
subsídio da União à entrega das cartas, como forma de estímulo à intercomunicação através
do meio barato e estimulador do domínio da linguagem escrita. É preciso separar na área
pública o conceito de gestão empresarial eficiente com fins de lucro ou pelo menos sem
prejuízos e a gestão eficiente voltada ao social, compreendendo-se que o cidadão sustenta o
estado para que este o atenda em coletividade.

ENERGIA ELÉTRICA
Este setor pode ser perfeitamente estadualizado, mediante normas comuns previstas em
um Código Nacional de Energia, harmônico em nível interestadual no âmbito da América do
Sul. Cada estado pode determinar ou não sua privatização. Este é outro grande fator
estratégico para o desenvolvimento industrial e passível de tornar-se motivo de competição
interestadual, aproveitando-se também, como renda adicional, os excedentes de energia.

ENERGIA NUCLEAR
Competência da União. Sem maiores comentários. Mas a iniciativa privada deve ser
chamada a participar dos projetos, ações e pesquisas, como acontece nos países
desenvolvidos.

SEGUROS
Falta no Brasil credibilidade e profissionalização neste setor. Há muito a desenvolver no
sentido de baixar prêmios e melhorar serviços. É um setor vital para a economia que poderá
ficar sob a competência da União, para coordenar a iniciativa privada através de um Código
Nacional de Seguros. Nos Estados Unidos e na Europa há seguros para tudo e todas as
pessoas são subscritoras de um ou outro tipo de cobertura, pois sabem que, se acontecer
alguma coisa, o seguro será pago antes para ser discutido depois. Até mesmo no setor da
saúde é assim, pois todo e qualquer acidente ou emergência é prontamente atendido para que
depois seja solicitado o cartão e seguro para a cobertura das despesas. Por que não é assim
também no Brasil?
Aqui é comum a pessoa precisar entrar na justiça para receber o que lhe é de direito.

INFORMÁTICA
Uma legislação nacional deve referir-se aos aspectos éticos. Deve haver grande
liberdade de ação, para que haja de fato desenvolvimento. Cabe aos estados e à União apenas
o incentivo à equalização da tecnologia nacional com a estrangeira, financiando projetos
privados, quando for o caso. A União poderá interferir apenas exigindo a comunicação dos
projetos de “hardware” e “software” para fins estatísticos.
BRASIL CONFEDERAÇÃO 37

PROPAGANDA COMERCIAL
Já temos o Conar e funciona muito bem. Cabe à sociedade interferir, caso se sinta
agredida moralmente.

PLANEJAMENTO URBANO
Competência exclusiva de cada cidade, sem interferência da União ou do estado.

TURISMO
Liberdade total para que cada cidade ou estado se promova interna ou externamente
para fins de atração de turistas e de divisas da chamada “industria sem chaminés”. A única
interferência da União diz respeito a concessão de vistos de entrada de estrangeiros no país. E
só.
DESPORTO
Competência dos estados e municípios, subsidiariamente e de acordo com o
planejamento e vontade de cada região. A União poderá incentivar o desporto nacional, mas
não interferirá nas entidades nacionais que coordenar o futebol, o voleibol, os esportes
olímpicos e assim por diante.

CULTURA
Não cabe ao governo interferir no desenvolvimento cultural de um povo e principalmente
nas culturas regionais. O incentivo às artes poderá ser bem recebido.

LEGISLAÇÃO NACIONAL
Caberá à União, através de Congresso Nacional, votar leis como a de Propriedade
Industrial, Registro Comercial e Concordata dentre outras que já existem e são sempre
interesse comum a todos os estados. Nesta categoria se encaixam também Pesos e Medidas,
Normatização Técnica, coordenação das Estatísticas. No caso do Registro Comercial a
competência já é dos estados e o que falta é a modernização, do que já vem ocorrendo.
Atividades específicas como estas podem ser realizadas sem a criação de estruturas
administrativas federais. Há sempre alternativa de os estados atuarem em conjunto, apenas
com supervisão federal.

POLÍCIA
Uma Polícia Federal é necessária para tratar de determinado tipo de casos. As polícias
estaduais e municipais cuidarão do resto. Não há necessidade de Polícia Militar. A polícia
deveria, isto sim, absorver muito do treinamento militar, inclusive ordem unida e disciplina.
Fica aqui registrada a proposta de ações futuras no sentido de concentrar as forças
policiais, ao invés de dividi-las em corporações que muitas vezes têm conflitos entre si. Fica
também a proposta de eleições para os chefes de polícia de cada cidade e chefes distritais

nos grandes centros, com objetivo de exigir efetiva competência para manutenção do cargo ou
para aspirar posições superiores.

LEGISLAÇÃO ELEITORAL
Uma total reforma é necessária, visando restabelecer a proporcionalidade e verdadeira
representatividade democrática dentro do Congresso Nacional.
Quanto ao processo eleitoral nos estados e municípios pode ser implantado o voto
distrital. No que diz respeito aos deputados federais, devem receber votos em todo o estado
que representarão. Em relação a senadores, idem, mas apenas um por estado. Poderão até
fazer campanha em nível nacional, em razão de atribuições especiais. O Brasil é muito grande
para isto, motivo que nos leva à proposta da Confederação, mas esta é uma questão a ser
estudada, pois o senador deve ter a visão voltada para os macroproblemas nacionais e para a
área internacional.
38 BRASIL CONFEDERAÇÃO

Para facilitar e possibilitar uma campanha deste porte, inclusive a de presidente se for o
caso, a União financiará cada candidato (senador e presidente), com verbas e acesso à TV
como ocorre em quase todos os países. As doações deverão ser permitidas tanto por pessoas
físicas como jurídicas, pois este é o verdadeiro espírito participativo com a transparência que
se faz necessária. As doações de grandes somas, acima de um determinado valor, deverão ser
divulgadas e se for descoberta alguma composição com vistas a desviar a concentração de
dações por uma só entidade ou pessoa a um determinado candidato ou partido, esta atitude
deverá ser punida. A participação é necessária como se frisa acima, e ressalta-se a
importância de transparência desses atos. A nível de estados e municípios os procedimentos
poderão ser os mesmos, ficando, entretanto, a critério de cada unidade confederada. A lei
eleitora, nacional deve fixar regras gerais que deixem bem claras as disposições legais
mínimas, objetivando tão-somente igualdade de oportunidade e conceito de uniformidade
nacional, preservando-se a plena democracia e representatividade.

REGISTRO CIVIL

Caberá aos municípios, mas a legislação ou um simples dispositivo constitucional


garantirá o registro de nascimento gratuito. Nenhuma criança deve sair da maternidade ou
hospital sem estar devidamente registrada. No Brasil há 10 milhões de pessoas que não
existem legalmente, por não possuírem certidão de nascimento. Um absurdo. Cobrar multa
dos pais que não fizeram o registro no prazo legal é outro disparate em país como o nosso.
Caberá às associações de moradores e outras entidades civis orientar as pessoas em situação
irregular e distanciadas dos direitos do cidadão, conduzindo-as aos cartórios, nas prefeituras,
para o registro.
Outro aspecto é com relação aos cartórios de registro e tabeliães.. Esta é uma atividade
que não pode ser privatizada, especialmente mediante privilégio. O registro de documentos é
obrigação do estado e não podem ser cobradas taxas e honorários abusivos, como acontece
hoje. São pagos impostos para isto também. Os empregados dos cartórios devem passar por
exames públicos estaduais. Caso o estado não tenha condições de manter os espaços físicos
poderá buscar soluções conjuntas com os municípios. Uma reforma total deste sistema é
necessária para que retorne ao estado uma atribuição e obrigação moral junto aos cidadãos: a
fé pública.

LEIS TRABALHISTAS
Também aqui é necessária uma reforma total. O paternalismo brasileiro não encontra
comparação no primeiro mundo em termos de proteção ao trabalhador. Aplicar “direitos
trabalhistas” rigorosos em um país que caminha do terceiro para o quarto mundo e que precisa
de trabalho, mais que qualquer coisa, produz o desornamento da relação capital-trabalho. O
que se assiste no Brasil é o estímulo ao conflito entre capital e trabalho, quando deveria ocorrer
justamente o contrário. A parceria é necessária, pois um não existe sem o outro A
jurisprudência do “na dúvida o benefício é do trabalhador”, que grassa na justiça trabalhista
nacional, é a malandragem que gera a desconfiança do empregador e estimula a
desqualificação do empregado. Salvo os honrosos exemplos, que graças à Deus nos salvam
do caos final.
A sobrecarga de obrigações trabalhistas recai sobre as empresas e leva ao emprego
sem registro e à sonegação e acaba prejudicando o próprio trabalhador, que ao invés do seu
pagamento em dinheiro, para que possa governar sua vida, recebe quase metade do salário
real em benefícios administrados pela União, de valor e destinos duvidosos.
Cada estado deve ter sua lei trabalhista de acordo com suas peculiaridades. Os estados
mais criativos e equilibrados serão copiados pelos demais estados, com o tempo. Cada estado
buscará preservar aqui o que é justo, como a compensação pela insalubridade, as normas de
segurança, a profissionalização das pessoas, o salário mínimo para adultos e para aprendizes
menores de 16 anos.
Salário bom é resultado de profissionalização, assim como bom produto tem sempre sua
aceitação no mercado e devida remuneração. A última palavra em termos de salário deve ser
sempre a do mercado.
O salário-desemprego fará parte do sistema previdenciário de cada estado. Assim será
mais controlável, rápido e fácil.
BRASIL CONFEDERAÇÃO 39

SINDICALISMO
Deve ser livre a organização de sindicatos e sem exclusividades territoriais de cada
estado, podendo haver, quando muito, um código de ética para limitar abusos.
A greve é um direito inalienável do trabalhador, porém, quando atingir setores tidos
como essenciais, ou as repartições públicas, deve acarretar a responsabilidade civil e penal,
como forma de coibir a mercantilização e politização descontrolada da organização sindical. Só
haverá sensibilidade dos governos em qualquer nível em relação aos interesses de seus
servidores (estes sem direito a greve) mediante a negociação e o próprio fluxo de “ida e vinda”
dos profissionais desse setor, de acordo com as regras invisíveis do mercado - a oferta e a
procura. Estabilidade estatutária, portanto, jamais! É uma agressão à nossa inteligência e
discriminação inconstitucionalizada.

HABITAÇÃO E SANEAMENTO
Competência dos estados e municípios. Devem ser criados meios que possibilitem a
formação de fundos para estas obras, tais como cooperativas de crédito e outros sistemas,
inclusive através do sistema financeiro convencional.
A descentralização é fundamental, mas requer muitos estudos ainda. E cada estado
encontrará suas próprias soluções.
AGRICULTURA
Um Departamento Nacional de Agricultura terá como responsabilidade coordenar, em
conjunto com os estados, o plantio das principais culturas. Há necessidade de constante
planejamento e orientação, para que se fortaleça o agricultor nacional, evitando-se as quebras
que ocorrem, especialmente no segmento dos pequenos proprietários rurais, depois da
colheita, na hora de acertar as contas com os bancos. O planejamento agrário deve visar a
exploração inteligente das terras produtivas.
Para evitar quedas desastrosas dos preços quando ocorrem supersafras, o primeiro
remédio é o planejamento do plantio, sobre o qual o Departamento Nacional de Agricultura
poderá influir através da colaboração dos governos estaduais e das cooperativas. Mas, como
os resultados agrícolas são em grande margem imprevisíveis, há necessidade de um sistema
nacional de estoques reguladores e de garantia da comercialização. Não cabe à União ou aos
estados participar da comercialização ou da estocagem, mas tão-somente negociar com a
iniciativa privada e seus representantes os mecanismos de regulação. As cooperativas de
crédito agrícola devem ser liberadas e regulamentadas, para que financiem a produção,
adquiram os estoques e sejam devidamente capitalizadas para cobrir as eventuais quebras. A
União controla, com ajuda dos estados. A iniciativa privada opina e executa. Urge aproximar,
de forma definitiva, as operações de bolsa de mercadorias e instrumentos com “hedge”
agrícolas (commodities) como é feito em muitos países, até mesmo no Japão (há mais de 300
anos), que tem pouquíssima atividade neste setor. Todo mundo ganha. Oportunidades iguais
não podem ser compreendidas como resultados iguais. É importante colocar as leis do
mercado a serviço da agricultura e não contra ela. O coletivo dos interessados encerra
sabedoria suficiente para obter tal façanha.
Com relação à política agrária, a proposta inicial é dar a competência aos estados e
municípios, que são os maiores interessados em fixar o homem no campo e obter das terras
disponíveis a melhor produtividade.

DÍVIDA EXTERNA E INTERNA


A dívida externa é proveniente dos mais diversos setores da vida nacional: empresas
privadas, estatais, governos municipais, estaduais e União. Caberá a esta prosseguir nas
negociações com os credores internacionais (governos e bancos). A União é avalista de muitas
operações, como aqueles empréstimos tomados pela “Portaria 63”.
Cabe à União, entretanto, determinar quem são os verdadeiros devedores - se é que tal
tarefa é exeqüível - e repassar a eles os ônus da dívida, na proporção de suas “quotas” . Cada
devedor assumirá a responsabilidade pela sua arte, no valor e nos prazos e também os
eventuais descontos ou reescalonamentos que a União puder conseguir junto aos credores.
40 BRASIL CONFEDERAÇÃO

Da mesma forma deve ser o procedimento com relação aos créditos que porventura
existam. E todos devem honrar, sem paternalismo ou assistencialismo barato, os
compromissos assumidos anteriormente, inclusive a própria União.
As privatizações devem continuar e até mesmo ser aceleradas para dar fôlego à tarefa
de equilibrar as finanças públicas, como a dívida interna, onde os problemas também são
grandes. Municípios e, talvez, alguns estados devem à União verdadeiras fortunas
impagáveis. Se o Brasil pretende recomeçar sua história, dentro de um novo patamar de
equilíbrio, também deve “limpar as teias de aranha” e analisar caso a caso, com vistas ao
saneamento financeiro geral, em todas as instâncias.
Não será recomendável, portanto, orientar-se pela estrita visão de caixa, mas levar em
consideração uma política de desenvolvimento. Cobrar dívidas previdenciárias, arruinando as
finanças de um município, por exemplo, pode ser um acerto contábil, mas será um erro
estratégico. Para se consertar as coisas é preciso usar de bom-senso.

QUANDO A INTERVENÇÃO É NECESSÁRIA


A união de uma nação se mantém com a ordem constitucional e moral, mantida em
todos os recantos da mesma. Dessa forma, tendo em vista o nível de liberdade e autonomia
alcançado pelos estados, torna-se imprescindível a existência de um dispositivo legal
constitucional que permita a intervenção federal nos estados em que seja necessária tal
atitude.
Isto visa evitar o comando indiscriminado de “coronéis” e grupos de interesse que
possam vir formar redutos feudais, prejudicando não somente a própria população local, mas
também a Nação, na medida em que tais situações podem ser comparadas a verdadeiros
cancros da democracia.
A intervenção pode ser solicitada por um número “x” de parlamentares estaduais ou até
mesmo pelo próprio governador do Estado ou ainda pela população, com um número de
assinaturas encaminhadas ao Departamento ou Secretário da Justiça.
Devemos sempre lembrar de Winston Churchill que disse: “A Democracia não se impõe,
se aprende”. Com esse ensinamento conseguiremos possibilitar que tal imperativo se cumpra
neste país.
A denúncia poderá ser também levantada por outros estados ou ainda pelo próprio
Congresso Nacional, motivando a abertura de inquéritos pertinentes.

A QUESTÃO DOS ESTADOS MAIS POBRES


“Nós acreditamos que o grande tesouro da terra está no ser humano:, diz um dos artigos
da Carta de Princípios da Câmara Júnior Internacional. Basta dar a chance para que o ser
humano busque seu desenvolvimento através de seus próprios caminhos e poderemos
observar verdadeiras transformações acontecerem. “Dar o peixe em vez de uma vara de
pescar” é o maior erro que se pode cometer, compelindo o ser humano ao comodismo e
parasitismo. Fala-se muito dos nordestinos acerca de seu potencial e vontade de trabalhar;
entretanto, esquece-se de que milhares de emigrantes e fugitivos das secas (resultado da má
administração e gerência da região) estão em São Paulo e Rio de janeiro, produzindo
progresso. Deve-se lembrar de que a “indústria da seca” é um cancro real mantida por grupos
de famílias típicas do coronelismo feudal e político naquela região.
Mas as coisas estão mudando também naquela área, na medida em que alguns
governadores atuais fazem boas administrações, fazendo dos recursos naturais as riquezas e
o progresso dentro de suas próprias peculiaridades. Imagine-se o que poderiam fazer os
estados do Norte/Nordeste com maior liberdade de ação e sem o paternalismo assistencialista,
com claros interesses escusos, provenientes do governo através dos “lobbies” e clientelismo
políticos.
Entretanto, o governo federal terá participação ativa no desenvolvimento dos estados
com menos recursos, através da troca de informações, financiamentos autorizados pelo
Congresso Nacional (explicações logo a seguir) e fomento tecnológico.
Sem dúvida, será a Nação voltada para o desenvolvimento das demais regiões
brasileiras, sem prejuízo, entretanto, como ocorre hoje, das demais.
Opcionalmente, esses estados, bem gerenciados e com um bom plano de ação interno,
poderão lançar títulos de investimentos - ações - junto a iniciativa privada, buscando recursos
BRASIL CONFEDERAÇÃO 41

para o seu próprio desenvolvimento. Aliás, existem tantas formas para atrair recursos para
regiões de interesse que certamente não será este um problema para os estados mais pobres,
mas, sem dúvida nenhuma, um leque de soluções e oportunidades.

POLÍTICA MACRONACIONAL
O Plano de Ação de Desenvolvimento Nacional, como citado, visa nada mais do que
uma visão de conjunto das forças representativas da sociedade brasileira (políticas,
empresariais, sindicais e associativa) acerca das ações de interesse comum. As questões da
energia, das ferrovias, da economia, da dívida externa e interna, da harmonização tributária
interestadual, das relações exteriores e demais políticas serão discutidas em foro de interesse
comum; ou seja, tais questões não devem influir diretamente na autonomia dos estados e
municípios. Só podem ser aprovadas em seu conteúdo na medida em que houver consenso e
forem ratificadas pelos estados, não como hoje, cujas determinações vindas do Planalto
simplesmente desrespeitam os interesses estaduais, prejudicando seu povo e gerando as
insatisfações.
Política macronacional é, portanto, ação conjunta, com discussão nacional, sem invasão
regional.

TRANSIÇÃO DO MODELO ATUAL PARA A CONFEDERAÇÃO


Depois de tudo que foi dito e visto, surge a pergunta: Como fazer as mudanças?
Existe diferença entre reforma e revolução. No atual momento, consideradas as
circunstâncias, a maturidade política nacional, as experiências diversas que o Brasil já
acumulou nas tentativas de mudança, e considerando ainda que a população espera por
mudanças bastante profundas, rápidas, imediatas e, está disposta a fazer sacrifícios - exceto
derramamento de sangue - para ver o país finalmente saneado politicamente, a melhor
alternativa é uma reforma, isenta do gradualismo paliativo e enganoso tantas vezes utilizado
para dar tempo às manobras de acomodação dos velhos interesses.
O primeiro passo é demarcar limites constitucionais para a nova ordem, deixando claras
as novas atribuições da União, dos estados e dos municípios. Os princípios básicos dessa
demarcação devem seguir naturalmente o princípio da autonomia dos estados e municípios.
Com a aprovação da nova Carta Magna, todo o cabedal de leis, decretos e portarias
deixa de ter validade à medida que os estados e municípios forem reformulando suas
constituições e criando suas novas leis.
Uma medida recomendável é fixar um prazo de 12 ou 18 meses para entrar em vigor a
nova Constituição, tempo suficiente para a elaboração das constituições e leis estaduais e
municipais e algumas novas leis nacionais que forem necessárias.
Aquelas leis atuais de abrangência nacional como o Código de Propriedade Industrial,
Registro do Comércio, Defesa do Consumidor, Lei de Falências e outros que não conflitarem
com a nova ordem poderão continuar em vigor por um tempo determinado nas disposições
transitórias da Constituição, de modo a haver um tempo maior para as mudanças que forem
necessárias.
Certamente haverá muito trabalho a fazer no período de transição, devendo ser
constituídas comissões técnicas, que elaborarão o texto das novas leis dentro do modelo
político administrativo novo. Uma medida prudente é estabelecer previamente uma listagem de
todos os assuntos a tratar nas mudanças constitucionais, fixando-se uma estratégia e um
cronograma para os trabalhos. Outra medida é preparar previamente material contendo todas
as definições, para que todos quantos compuserem as comissões técnicas possam se
entender e “falar a mesma linguagem”. Caso contrário poderemos ter uma bela Torre de Babel
em lugar de uma constituinte.
É recomendável ainda que os textos não sejam redigidos unicamente pelos políticos,
mas principalmente por gente do ramo em cada assunto e com assessoria de juristas, para que
estes indiquem a forma redacional adequada. Aos políticos cabe principalmente a parte formal
nas Casas de Leis, o papel de catalisadores de todo o processo, principalmente a negociação
entre as diversas correntes de pensamento existentes no país.
Sairá tudo certo na primeira vez? Certamente não. Poderão ser cometidos diversos
erros, mas para aprender como se faz democracia é preciso exercitá-la em todos os sentidos e
em todas suas formas de expressão. Não há outro caminho para a evolução da sociedade que
42 BRASIL CONFEDERAÇÃO

não seja através da participação ativa e intensa. Para aprender a nadar é preciso entrar na
água.
Espero que o leitor não estranhe o fato de este livro não conter todos os detalhes de
como implantar uma reforma confederativa no Brasil.
A Confederação é um sistema baseado nos princípios da liberdade e da
descentralização. É, portanto, o consenso de idéias em torno de uma linha mestra. Pode-se
confiar no bom senso dos brasileiros em geral e quanto maior a abertura para a participação
popular e dos líderes de todas as tendências, maiores serão as possibilidades de acerto.

PARA RESOLVER O BRASIL NO ATACADO


“No Brasil o estado desejável, aceitável, justo, moderno e racional está no campo das
utopias. O poder público preocupa-se apenas em conhecer e defender suas prerrogativas e
não tem a intenção de permitir que a sociedade faça o mesmo.
Enquanto isso, evoluem crises moral, institucional, política, cultural, econômica e social.
O estado é visivelmente incompetente para gerenciar seus recursos humanos e incapaz de
tornar-se menor, para ocupar apenas seus espaços mais nobres.
A solução do corolário de crises está primeiramente na instituição de um estado
racionalmente organizado, simplificado, essencialmente servidor. A descentralização é um
paradigma de modernidade administrativa que precisamos mais cedo ou mais tarde utilizar em
nosso governo. O princípio da subsidiaridade é outro e, por incrível que pareça, foi usado pelos
norte-americanos há 200 anos, enquanto que é para nós brasileiros um avanço a realizar.
A solução do corolário de crises passa pela concretização do modelo confederativo na
verdadeira acepção da palavra, que dá no mesmo. O conceito do estado mínimo requer a
presença do governo apenas naquelas funções nas quais a iniciativa privada não tem, por sua
natureza, condições de suprir a sociedade, e complementa-se com a transferência das
competências para os estados e para os municípios.
Não precisamos ir longe para encontrar boas idéias. Aqui em Curitiba mesmo temos um
movimento iniciado pela Câmara Júnior Empresarial, com vistas à implantação do modelo
confederativo no Brasil. Com fé e esperança estes jovens acabarão conseguindo seu intento
de melhorar o país, cortando os males do centralismo pela raiz, pois eles não sabem que isto é
“impossível”.
Quando se fala em reformar as instituições brasileiras os detentores do poder fixam-se
em idéias como a reforma superficial da Constituição. Ora, como fiz com muita propriedade o
senador Roberto Campos, a Constituição Brasileira como está é um dicionário de utopias e
regulamentação minuciosa do efêmero. Como ele, estou inclinado a afirmar também que a
melhor constituição do mundo é aquela que não existe, a inglesa. A segunda é a americana,
velha, com mais de 200 anos; a terceira é a japonesa, escrita pelos inimigos; a quarta é a
alemã, escrita sob o domínio de ocupação de forças militares.
Se a solução de modernidade exige uma regulamentação simples, eficiente e duradoura,
é hora de evoluirmos na consciência dos valores da vida organizada em sociedade. A
sociedade consciente e organizada deve precipitar o debate, para que haja rapidez na
elaboração de um novo perfil político institucional para nosso país. Estamos em tempo de
esquecer, momentaneamente, as picuinhas dos interesses do varejo e enfrentar as tarefas de
reorganização nacional por atacado.
CPIs para apurar denúncias de corrupção e de imoralidade de toda ordem, debates
sobre crise econômica e social, holocausto da Previdência Social e outros cafajestismos que
rolam por aí, tudo isto é varejo e as soluções pretendidas não ameaçam as estruturas deste
poder arcaico, ambicioso, corrupto, degradador dos valores humanos e materiais. Por isso, o
debate mais profundo é recusado pelos detentores do poder. Jogar no atacado pode balançar
as estruturas miseráveis que sustentam este país”.
Werner Egon Schrappe é presidente da FACIP - Federação das Associações Comerciais e Industriais do Paraná.
BRASIL CONFEDERAÇÃO 43

CAPÍTULO 10

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das rápidas mudanças que ocorrem no planeta, especialmente de 1989 em
diante, o Brasil não pode ficar para trás, à margem do processo. É preciso redimensionar
nossa postura no contexto geopolítico mundial sob pena de não oportunizarmo-nos nas novas
dimensões que se avizinham, com o limiar do terceiro milênio.
Você, caro leitor, quer que o Brasil continue sendo “terceiro mundo”? Quer que sejamos
colônia? Persistindo a atual desorganização e a falta de rumo certamente não passaremos
disso. Já perdemos muito tempo. Tivemos atrasos consideráveis em desenvolvimento,
marginalizando nosso povo, impedindo seu amadurecimento político a tal ponto que está
praticamente perdido o sentido de cidadania, o conceito de nação e de pátria. Nossos jovens
sonham mudar-se para outros países. Pagamos impostos e damos risadas quando as charges
nos jornais e TVs brincam com os escândalos, a roubalheira, a corrupção.
Votamos sem convicção, elegendo para grandes cargos públicos pessoas que não
conhecemos de fato, apenas porque fazem belas campanhas publicitárias. Não nos
candidatamos aos cargos eletivos pensando em contribuir para a melhoria qualitativa da classe
política, por muitas razões, que vão desde a descrença no sistema até a “preservação da
própria imagem”.
Os brasileiros não acostumaram a valorizar-se, a ter orgulho de sua identidade. Ora se
autopenalizam, ora tentam reinventar a roda. Mas é um povo extremamente criativo e
resistente, pronto para enfrentar o trabalho e para fazer sacrifícios que acredita ser
necessários. Os Planos Cruzado e Collor I demonstram isso.
Pelo bem do país, conformou-se até com o saque de poupança individual.
É também um povo amante da paz e que almeja esse ideal para toda a humanidade.
O Senador da República, Marco Maciel, apontou com clareza um outro aspecto cultural:
“o povo brasileiro é solidário mas não é associativo”. A falta de associativismo e de participação
efetiva nos assuntos de interesse comum está na origem da tão estranha desunião política que
cultivamos. As esferas de decisão estão muito distantes. Sempre estiveram distantes do povo.
Se as colocássemos mais próximas com certeza o exercício da cidadania se tornaria mais
atrativo.
Precisamos inverter o ciclo histórico dos 500 anos de centralismo, destruindo alguns
vetores que nos arrastam para a condição de 4º mundo.
Temos oportunidade para resgatar o princípio da cidadania, refletindo sobre o modelo
administrativo existente e imaginando alternativas, tomando posição, assumindo compromissos
e procurando influenciar nas decisões que afetam a vida de cada um.
A proposta da descentralização administrativa, do modelo confederativo, pode ser a
bandeira até mesmo dos integrantes das oligarquias, que comandam os corredores palacianos
e os empresários que sempre ganharam no conluio incestuoso com o governo. Elevar o nível
de vida da nação como um todo através de um modelo de governo mais inteligente interessa a
todos, inclusive às grandes empresas, que na verdade não são tão grandes assim, perto das
corporações internacionais, bem como às próprias oligarquias.

BENEFÍCIOS PRÁTICOS
Analisando-se todo o contexto do novo modelo administrativo que se propõe, fica fácil
perceber, mesmo subjetivamente, os benefícios obtidos para a Nação e para o cidadão.
Mas vale a pena citar alguns:

PREÇOS/INFLAÇÃO
Com a reforma do modelo administrativo, altera-se o sistema tributário, ocorrendo uma
importante queda nos preços, já que os 59 impostos, taxas e tributos incidem de forma direta e
indireta, em “cascata e correnteza” nos custos dos produtos e serviços. Com isso
44 BRASIL CONFEDERAÇÃO

a inflação cairá desde que haja prosseguimento da abertura de mercado aos produtos
estrangeiros, regulando, portanto, o equilíbrio entre demanda e oferta.

MAIS TRABALHOS/SALÁRIOS
Com o reaquecimento da economia, haverá, como reflexo imediato, a geração de
empregos e aumento dos salários, fruto da mesma lei que rege o mercado como um todo: a
oferta e a procura.

MAIS JUSTIÇA
Com a simplificação do judiciário, que terá instâncias locais e estaduais como
balizadoras da justiça comum, os procedimentos terão maior agilidade e correção. A justiça
deve ser certa e não pode tardar para ser justa.

DISTRIBUIÇÃO DA RENDA
Com os impostos ficando dentro dos estados e municípios, sobrarão mais recursos para
o desenvolvimento e aplicação em educação, saúde, habitação, justiça, crédito para indústria e
comércio, saneamento e tudo que seja necessário para o bem-estar coletivo. Acaba-se com os
passeios das verbas, intermediações, PCs, clientelismo político e tantas outras mazelas
provocadas pelo centralismo crônico vivido pelo Brasil.
FIM DO ÊXODO
Com a distribuição de renda melhorada e dependendo dos planejamentos macros
estaduais de desenvolvimento e investimentos, poderá buscar-se o fortalecimento dos
municípios interioranos, incentivando-se a fixação do homem nestes, evitando o inchaço
urbano nos grandes centros, diminuindo com isso a criminalidade e o favelamento, reflexos do
quadro atual.

COMPETITIVIDADE
Com a queda dos preços, graças à reforma tributária, originária da reforma do modelo
administrativo do país, os produtos nacionais poderão competir em iguais condições com os
estrangeiros, mesmo tendo que buscar o aprimoramento tecnológico que os diferencia. O
reaquecimento da economia e a confiança na perenidade das regras propiciará investimento do
capital privado no desenvolvimento de novos produtos, gerando tecnologias, empregos e
riquezas. O Brasil se tornará, então, o mais novo “tigre” mundial, ou, para quem preferir, uma
“onça”...
DEMOCRACIA PLENA
Só se pratica democracia com a soberania do povo pelo povo. Será o fim da excessiva
interferência da União em quase tudo que diz respeito aos municípios e estados, os quais não
mais dependerão do clientelismo. Com isso, o governo ficará junto do povo e não mais a 3.000
km ou mais, encastelado em Brasília. Haverá mais controle e transparência, menos corrupção
e mais decência. Haverá real participação do povo nas decisões que lhe digam respeito. É a
democracia que todos queremos, na mais pura essência.

CONCLUSÃO
Lideranças sindicais de todas as cores políticas, profissionais, estudantes, enfim, todos
podem e devem refletir e agir no sentido das mudanças urgentes. Não ha outro caminho senão
a modernização da democracia brasileira através do modelo administrativo adequado a um
país de 8 milhões e 500 mil quilômetros quadrados. E já!
“São os homens que fazem a história e não a história que faz os homens. Quando falta
liderança a sociedade permanece imóvel. O progresso acontece quando líderes de coragem e
habilidade aproveitam a oportunidade para colocar as coisas em marcha na boa direção”- disse
Harry Truman.
Aqueles que têm uma visão prática e patriótica e se sentem na responsabilidade de
deixar para os seus descendentes um país de oportunidades iguais, sérias, honestas, devem
agir neste momento para liderar seus próprios grupos de influência. Assim gera-se um efeito
multiplicador que fará o movimento das massas, unindo a soli
BRASIL CONFEDERAÇÃO 45

dariedade com a ação da coletividade. Assim serão influenciados todos os pontos da pirâmide
social brasileira, levando a nação a uma visão moderna da organização interna, da vida e da
democracia plena e real.
Cada brasileiro deve lembrar do seguinte ensinamento: “temos todos nós, por ação ou
omissão, estímulo ou incompreensão, responsabilidade dos fatos da história”. (Teotônio Vilela)

JUNTOS, FAREMOS DO BRASIL O


PAÍS QUE QUEREMOS TER!

DADOS BIBLIOGRÁFICOS

A Arte da Política, de Mansur Challita - Publicação da Associação Cultural Internacional Kalil


Gibran - Distribuidora Record.
Panorama da História dos Estados Unidos - Publicação do Departamento Cultural da
Embaixada dos EUA (Dr. Wood Gray, da George Washington University e Dr. Hofstadler, da
Columbia University, N.Y.).
Os 800 anos do Principado de Trento - Casa Editrice - Trento/Itália, Vol 5.
Jornal Indústria e Comércio do Paraná - edições de 26.09.91/01.10.91/
14.02.92/20.04.92/10.01.91.
Jornal Gazeta do Povo - artigo Roberto Campos - 10.02.92.
O Teorema de Jaguaribe/Editorial “Isto é Senhor”, de 11.12.91.
Folhas de Informação sobre a Suíça, da Fundação Suíça de Cultura (Consulado Suíço).
Gazeta Mercantil (sobre Canadá), de 15.04.92.
O Advogado Rui Barbosa, de Rubens Nogueira - Livraria Editora Cátedra, 1979 - 3ª edição.

O AUTOR (brifieng atualizado -2001)

Thomas Korontai é empresário, atuando em diversas atividades, dentre as quais, dirige


sua empresa Komarca Escritório de Propriedade Industrial - Marcas e Patentes.
Fundador e presidente da APPI - Associação Paranaense da Propriedade Industrial.
Foi membro do Rotary Club Cidade Ecológica de Curitiba.
Fundador e presidente da Câmara Júnior Empresarial de Curitiba.
Fundador e presidente do Movimento Brasil Confederação (MBC ).
Fundador e ex-diretor financeiro da Câmara Latino Americana do Paraná.
Membro do Conselho de Jovens Empreendedores da Associação Comercial do Paraná
e da Arbitac - Câmara de Arbitragem Comercial da mesma entidade, na qualidade de árbitro.
Foi colunista semanal por 5 anos no Jornal Indústria & Comércio.
Autor de centenas de artigos publicados em jornais e revistas de diversos lugares do
país. Autor dos livros É Coisa de Maluco...? (1998) e Cara Nova Para o Brasil – Uma Nova
Constituição para uma nova Federação - a ser lançado em breve.
Lançou e coordenou por 6 anos o Movimento Nacional pela Confederação do Brasil, e
fundou o Partido Federalista do qual é o atual presidente nacional. É também fundador e
Coordenador de Projetos do IEF – Instituto de Estudos Federalistas.

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