Вы находитесь на странице: 1из 35
1. © Sonho Transdisciplinar 0 etragtir: Carag, osar separa bid tid Guns cob io went darn srs desconheer as Musas losin “ae Borg? OstrngeA mais rail marcia de ‘gue ne argent cose em searar heed as peers ‘ea gon tn eno urs. Fito “aa os oss mantndo por snl natural sit ma ae a” res coir pose once a ‘Sree ota, tm con concer fala Som concer paren, Pascal See verdadequea cis mas produtora de culture 0 soho capi de imaginar um mundo possivel mellior; e se pico do transdisciplin, dade do saber, o grande ‘Sentirento rete infeode elo sleno 6 ‘imlad, We problemas cada vez mais globais interdependenles | “Fills complenos), do ould, aperssténci dum modo de conhe- ‘mento ainda privilegiando os saberes discipinarizados, fragment dos, parcelados e.compartimentados,.O modo de pensainento 01 Sate cirnte anpmentado, onde pina empleo ie tificador, tomando como critério dé construc&o 0 ponto de vista (0 paradigma) de um ramo do saber autodeterminado ow disciplina, osm oe fe Laer fejecenfey,€etporabel ja patie Tenia dena nteligtnda bastante miope oucega ma medida em gue E accada« sptdio humana normal de religa.o conhec em prove dapat (ben nora de separ nectar ma iro Congresso Mun- alae Wansdisdplinardade etendendoesseconceitocomo,ala al opal e soil end repo ao SE, -“Mlanifesto no Apéndice), Pouco tempo depois (1997), realza-se na Sula, patrocinaco pela UNESCO e pelo Centre International de Recker- ‘chs et Etudes Transdisciplinaires, o famoso Congresso de Lucarno reu- *sculo 000), pois a atual se encontra ameacada pela auséncia de sen- “por sua recusa em compartihar.os conhecimentos. Donde a cessidade de'se reformé-la para que venha a promover a atitude -natutal do.espirito humano, que é de contexiuatizar e globalizar, vale se da busca de uma evolugso transdisciplinar para essa ins- itulg4o, busca do que existe entre, através além das dsciplinas, pois 0, expacoentie, através calém das dsciplinas nada tem de vazi6: Numa fa coletiva dinigida por Edgar Marin (Reltertes connaissances, 1999), ios centistas e educadores de diversas distpl sndo cone € concertarstuas competéncas¢ foinando consciéndia de que a. Ioeagao em pratica de uma visso. gio, Way @ fransnacional, exigindo ee ee -conclisto: ima vez que afilosofia néo deve mais ser entendlida como sumis-discnlin.no sentido especializado.e fechado do. termo, mas, amo, exercicio mesmo da rellexao sobre-iodos os problemas da cia e dos conhecimentos humans; e,uma vez que o pensa- da complexidade se apresenta como um modo de pensar os 08 Raturais, humanos e sociaisfazendo interagir uma mult plicidade de fatores também interdependentes, como um modo de _tecompor ima visSo da realidade suscetivel de relgar os saberes dis- Sneclessidade vital: ¢ um dos componentes fundamentals para'"salvar- =mios" a hilimanidade das forcas tertiveis & irracionais que desenca- deowrsem possuirascondigbesdecontrolé-las:Sea noch Gplinaridade j pode: iderada bem aceita empesq aay sRece ainda bastants fh "Seige meio cultural eprofssional de oigem fica meio periéoou { deyséem outros campos (errs estrangeiras) Apés ongaformesio, diante daseguinte situacho: deve)ndo somente atualizareapro- sis conecimentos em sua propia discipling, mas famiiari- =€ ZaFst com um novo campo de estudo a fim de dominé-lo e poder Melhor dialogar, Por sua vez, entre os docentés, formados em compe? tencias muito diferentes, encontram-se'os que so supostos poliva lentes (generalistas),historiadores,literatos e cientistas que poucd se encontram e raramente dialogam. Quando isso ocorre, € desejavel {que se possam comunicar a propésito de seus trabalhos e de sens rmeétodos, Mas a possbilidade de trocas efetivas implica a existencia, deum fundode cultura comum, especialmente nos dominios gm que ppretendem, sucessivamente e de modos distints, formar fovos pes- | aisadores, rete ‘Assistims hoje a um fantastico crescimento arboresceite deos-| © gésbabetes correspondenido a um verdadeito esfacelamento disper. sivo dos conhecimentos. Por exemplo, no caso das cgncias humana somos obrigados a feconhecer qué formant um vasto universo ¢ conhecimentos ao mesmo tempo rico, variado e desordenado: longe’ Ge corresponder & imagem limpida dé uma citneia unificads, somos tonirontados aum agrupamento” andrquico de pesquisas, de dados, de modelos, de hipéteses etc, as, disciplinas se revelando bastante indisciplinadas, Tudo se passa como sea seus conhecimehitos se apl- casse alei do desenvolvimento: a divisao do trabalho cientifico supde sum forte crescimentoe uma acelerada dispersio dos saberes. A ponto de cada disciplina encontrar-se subdividida em variados subdor nios formando uma infinidade de campos especializados mais.o1 ‘menos justapostos, impedindo uma prética de ensino e pesquisa sus- etivel de coiidizir of formados em diversas especialidades a traba- that em conjanto, numa perspectiva global abordando uma questio nna abrangéncia de suas dimens6es. A sociologia, por exemplo, subdi- viide-se em sociologia do trabalho, da familia, das organizagbes, da educagdo ete, Por sua vez, a economia se toma uma disciplina bas- tante “balcanizada": o especialista das financas Coteja 0 do desenvol- vimento, a economia do desenvolvimento formando um subcont rnente do saberem torno do qual se reagrupam especialistas por regio ou setor (agricola, industrial etc). O mesmo poderia serdito da peleologia, da lingBitien ou daa ciéncinecognitivas. Quando um pes- Guisador se’declara “socidlogo” ou “economista’, deveria precisar: soci6logo da familia, especilizado no estudo das novas formas de ‘patentesco ou microeconomista especalizado.no comério internacio- nal ou na bolsa de valores. Claro que € a partir dessas posigbes local zadas que se constroem pontos de vista mais globais, Evidenternente ‘que constitui uma ilusio pensar que basta por em contato cien|stes 9 _eiapinn erents paras ciara interdisciplinaridade, Além de Fetindispensivel a criagto de estruturas de pesquisa adequadas, & preciso que osintegrantesestejam conscientes de que é muito grande ‘gua capacidade de coabitar harmoniosamente sem interagirem. Neste “Sendo, estima eas relagdes pessoais podem consttuir verdadeires motores de aproximacio e dislogo (geralmente freado pelo uso de linguagens espectficas ou jargdes). Mas, tomada nela mesma, toda unidimensional ou especializata revela-se pobre e limitada. npls io lustraivos: Outros opensam come um ser cultura, dotado de linguagem, idéies, consdincia lberdade. O paradigité da simplfcagto nos obriga a fundira ralidadebiclogica ea cultural ou areduziruma’ outra, 0 Ortem biologicosendoestudado nos departamentos de biologi seu bro tratado comoum drgfo boldgico)enquantooculturalnos de jclas socials, Seu espiito (mind) passando & ser considerado uma tube una ealidadeestritamiente econdmica, Cooutto, outa tiple “mente psicoldgica, uma terceira furidanhentalmente sociol6gica, geo: srifica ete. Claro que todas essas categorias constitwem realidades, todo um mundo desimbolos, pai- sive pscologlahuinana, Donde a importincia de pri- ‘ilegiarmos e desenvolvermos, em tod fendmeno humnano-socal, a data consciéncia de sua inegivel maltidimensionalidade, Metodolo- ~_sicinente,éimprescindivel que se axtcelem econvirjamos pontosde vist objetivo e subjetivo, a expicagio e a compreensio, o rigor da demonstagto ea ate do diagnestin -Ogue podemos fazer quando reconhecemos que nossos conheci- ‘ritntos revelam uma tremenda.incapacisade de pensar 0 mundo te e emsuas partes? Ou quando, diante de sua extraordi- ndria complexidade, constatamos que nosso pensamento se encontra bastante preso ds cegueiras e miopias que caracterizam nossa atitude ites? Jno século XVII, o mateméticoe fil6sofo Blaise “Pascal davachos uma sébia orientagio ao formular a dialética do todo ‘vel local eo giobal, mas o de retroacio do global ao part ‘mesmo tempo que precisa contextualizar osingular,deve concretizar © global: relacioné-lo com suas partes. Outrora, 08 grandes espiritos da geometia aos trated ena ‘Tratavacse de eens no sésulo XIX saree ds onhesinent a Soistcacdo ¢ paraavang ef, pre romper a fronteira dos conhecimentos sobre espagos demasiado i ssteetos. As disciplinas se tornam fechadas« estangues, fonts de// cidme, gléxia, arroganca, poder e atitudes dogméticas. Disciplines novas nascem incessantemente, ortindas de novos concetos ou de inesperadas fusdes (alguns dentre nés somos anteriores & Informé tica, 8 Astrofisicae& Biologia molecular) (Ora, nmerosas descobertasaparecem nas fronteiras entre a8 dis- ciplinas, E novos conceitos nascem fora das “capelas” ou redomas cientificas,Sobretudo, as demandas da Sociedade & Ciéncia cada ve2 nas sf fla sobre questionamentes mult du tansdiciplar ‘Torna-se insuportével a clivazer dos conh _Ras demasiado especilizadas para podermos exercer critic eee vel legis al dos conhecimentos. _que produzimos e ensinamos. Donde os inumerdveis apelos &prodi= ‘cho € legitimacao de conhecimentos interdisciplinares permitindo uma abordagem mais inteligente das complexidades percebidas pe. las necessidades socais e pela urgéncia da agio. Esses apelos, pare «que as abordagens interdisciplinares se tornem efetivas no ensino,na pesquisa e nas atividades humanas se exprimem em duas grandes ‘cofrentes privilegiando: a) uma (de inspiracio analitic e holst), as ‘wansferénicias metodolégicas de uma disciplina a outra: tratase de ‘uma interdisciplinaridade apenas metodol6gica, ot sea, de wmacor- {enie de tipo "mult";b) a outra corrente, de ipo “trans”, pivilegia a Tegitimacdo sociocultural dos conhécimentos que permite produzir, Eniinigte praticarna acéo:trata-se de uma interdiseiplinaridade prio- ando a inteligbilidade sistémica (ndo a analitia), pois os conkec- Sentos.que permite produziz nio tem por objetivo a previsio certa, raga inteligiblidade empizicamente plausivel eculturalmente scei- == tivel: Embora lenha se arrefecido.um pouco oentusiasmo peloirter- disciplinary somos obrigados a récénhecer a permanente, fecundi- “dade das interacées entre as disciplinas. Como a possbilidade de dologia interdisciplinar parece meio contraditéria, a ae Tias/ mio Mlomento da aplicaciowde diferentes metodologias diserplina- ‘como resposta prética azum problema concreto..\/ stante de pesquisas mill, “ieee ransaiseiplinares;embora verhamise desabrochando maisnos discursos e nas convicgbes do que nos comportamentos. Este infe- zess¢ tem sido motivado por diversas razes, entre as quais as que se ~ vinicilam & andlise pedagogica ou aredefinigao de uina ndva politica dlucacional devenclo substituira tradicional. Hé mesmo.cs que qua- ificam aisatuaise-at jas Cognitivas-de~“novo:dominb.de cla lemticaceriamiente €iterdisciplina,mas cj expresszovon- = crea serd miltidisciplinar’ Potanto;« pesquisa, ém Ciéncias Cognitvas ser mul, no interdscipinarQ. P Chan gen). Paradoxalmente, nunca’ se recusacam tanto ede boe-fé as exigéncias propriaimente interdisci- plinares. Como se explica ese paradoxo? Antes de tudo, ito se deve ao-exponencial desenvolvimento da especializacSo, continuanéo a ividir-e x ubdlvidr io infinite o terit6rio ‘do saber para mielior lupéslo.e dominé-lo-quer-dizey-conhecé-lo-e sobre-ele exercer um ertamente, também, & nostalgia da-imagem securizanve ¢ ‘Spica de uma cignca iia ou wnifcada que talvez no volte aia Mas; sobretiids, a dificuldade que todosexperimentaros dé concliar spirta.¢ as abardagens interdisciplinares com os rigidos paradig- “has mietodolégicos adotados pelas diversas-disciplinas cantonadas, my guds bem -definidas fronteiras e atiministradas por Deparlenen- de manter ssas-20nas de influéncia eseu espaco de poder saber bastante terstorializado. Néo basta se cruzar ¢ se © enconttar para dislogar ¢ comunicar! preciso que-sela super _Gllvagem dos conhecimentos entre as disciplinas demasiato espesia- Tzaanspaia que Ge procure “Torqueas rons ein cesar dando orgem a ques = ag. Cada problema welvido suse .3 Mas 08 problemas novos sio'salutares: lancai desato: “Gplina ea obrigam a avancar num movimento perpétus = qual nag teria futuro, ; “ a rats, pratcamente no podemos contar ainda. com tdtions- ‘pancolares eo interdsciplinar, percurtos.obyigatovios¢ balzad Edo mn vstaaproducao deum efeito de sentido calculado.Ein ‘Geportida, ndo fltam estratégns: percursos a serem invenados ‘Hida que se manifesta a agio interdisciplinar; desvigs 8 S2%eH fomados para se contornar os obstéculos ou resolver certas dificuld ecaroa a verem solicitados junto s dscipinascuja important _jusjersité Rio delinindo estatuto das dsciplinas complements. eee nvergentes mas comandandoo percursometodo}6ico sus Cetivelde dar conta da unidade das abordagens, das leis e conclusbes Erndadas para que 0 paradigme da disjungio das éiscipins sea loapesiade pelo da conergnciaecnplementardde, rtase ef {Uiate de tik devanelo, confirma a historiadora das ‘citi 1. “Glengurs pols predsemos hoje "alundinaro sono de cigar os Thesngmespedurios pela Pace moderns sob igo de a = Tide A ste respelto,lembbremos o que nos ensinam os Wes monien: ais da usr da Unersidad ‘ho de sua crag (géculo XII, ela aparece como o simbolo de ume de valores transintido pelo lero encarreyely de, pelo ensine, precer~ ‘Yar essa heranca ¢ @ hegemonia do saber As diversas Universidades (@olonha, Paris, Oxford, Cambridge, Heidelberg), denominadas Uini- = peraasslentiarumcae scholarium (@brangendoa totalidade das.ciéncias, Ee dos docentes e discentes), dispensam e transmitem 0 ensino.das artes [= liberais representando os aspetos dominantes da Cultura: gregs | bia; D+ no momerit de seu apogen (séculos XVII eXD\), 0 modelo da ciéncia "esclatetida © romantica pouco a pouco substitui o modelo grego. Libertada do jugo e controle do cero, torna-seo simbolo do conc. mento emancipado doravante promovido por uma burguesi eslare- > ida Hé una reviravolta fundamental aciéncia deia de sera guardia édigo para se transformar em ctimplice da idéia de Progresso. 4 partir da crac das Universidade de Berlim (por Fichtee Hum: slat — 1809) e Londres (1828), que a ciéncia, tomando distaincias da Bite da filosofia,comeca seu procesto de fragmentacéo ecom: ppartimentagio numa série divergente de especialidades fechadas de- otinadas“disciplinasé) mm cet le Sexi acnio(séeulo X09, catcterivado pela marginalizacio socal -dia instituigSo universtétia, pela divisio extrema do ensino e' pela teespeilizaio da pesqutsa eds dips no ening, as virias stante na moda,-a interdiseiplinaridade se_ s meios mais privilegiados para se preen \pensamento cientifico mutilado por uma exagerada o.e para que possam ser abord des percebidas.« exigidas pela gi. Toda = tentati rma visam unificar em vao 0 conjunto dasatividades ‘via, jdsta exigencia de um pensamento global merece que nos inter- 7 deensino.¢ pesquisa, Ofato que Universidade nfo mais consegue «rogers sobre tua pertinéncia eseus impasses, Uma pesquisa reali _s fomecer uma imagem coerente eunitéia do sabernem desempenhar tocismente 0 papel -erlico-com 9 qual sonhou, noladamente a dos movimentos emancipatérios de 1968. Boa parte do fracasso ‘deseas tentativas de lvetacio ereforma se deve 20 enorme peso do ‘aparelho administrativo e burocrético, ap conservadorismo da por M.Dogan.e R. Fahre (Linnooation dans les sciences socials, Fe = 1991) nos mostra quea maioria das atuas inovagbes tedricas nas cen “clas sociais acontece nas margens hibridas dessas disciplinas, lugar “onde, através da transferéncia de métodos de uma disciplina a outra, ‘emengem 28 noonsdisciplinas. Ao recusarem o prinefpio de uma inter- disciplinaridade “agarra-tudo", déo um exemplo (entre outros): 0 = encontro recente entre biologia e antropologia abriu um campo ‘muito (Gril para varias descobertas sobre as origens das populacdes +humianas, sobre 0 exame dos caracteres sangitineos ou da distancia “Benética entre povos permitindo a descoberta de suas filiagbes, N&O resla davida de que permanece um desejo milico 0 sonho oito pro- jeto de se construir um saber unificado transcendendo as disciplinas €reunificando os saberes especializados num conhecimento géral ou global. Esta ambicéo que, nas ciéncias naturais, tomaria a forma de “uma nova filosofia da natureza, nas humano-sociais aparecetia como uma espécie de visio de conjunto sobre ohomem eeu destino social auscetivel de fornecer direttizes de acéo informada. Na prética, 0. importante € que as instituigdes de ensino cxiem lugares permanen- fesde tr et 1508 espedalistas” colocar > dadesdisciplinas,operadora de uma fntesepossivel do sabes ariel -dora dos diversos conhecimentos e promotora de uma imagem uni «--Sada do homem. & pela qualidade de seu ensino inter transis “iar que poclemosavaliararelevincia de suas pesquises, Ea insituiao melhor situada para delinirutnapllic der, mut- ou ransisiplinar = no nivel da pesquisa e do ensino, um dos metos de que dispse para jer asapprentement ils povder:lagaesaagrados do “poder do ou pelo taber” se -infienciam eespecalnapo, monopolizama avslacdo das pesiias _ovitama aibuiao de ere a0s diferentes departamentos, suscetivel de fornecer-Ihes a possibill= partelado e compartimentado. Em seu interior, muitos sto os intelec- F252 huais, professores ou pesquisadores que se encontram aprisionados | pela eategorizacio do pensamento em departamentos sem portas em janclas. Caro que nossa Universidade néo émaishoje umainsti- aigGo de classe no sentido em gize, na Idade Média era osimboto do curso clerical e até século XIX, do discurso burguts. No entanto, pesar de sua forte “democratizacfo", ainda é bastante ciémplice da Jordem dominante:-devido as circunstancias, continua a transmitit ~ unt saber que, geralmente cortado ‘da cultura e das exigéncias sociais, ‘fosinancce ainda bastante aislocrtico Vitima de suaimagem mica ( ‘de sua retorica defasada, vé-se dividida entre a preocupacio (que : "folna por objetividade) de avalizaro discurso das classes disigentes e Pg papel (que toma por neutralidade ou decteregio de independéncia) J) Ae garantica defesa de suas lberdades, corportvs ‘Aose snes / griarem em professores, pesquisadores e doutores, nda somenteesses Se “de pensamento. Olvidam-se também do que dizia Einstein: “O que s eSpTn tists deum homer com eu nto tatoo quel mas fle psa ecomoo pens". Submetemse facimente as malhas daburo= , Gada rotinera e esterlizante e 4 mania burocratizante da “pesqul Fite” eda” proetite" (mania de) desembocando em érdos ou steels aa *relat6rios” prestando conta as instancias financiadoras de “pesqui- sas" nfo pretendendo mais esclarecera escolha das regras da Cidade, posto terem-se tornado “neutras” ou “a-politicas” a partir do mo- mento em que se deixaram submeter & “Iogica da encomenda’. _-=) Divididos em departamentos eemlinhas de pesquisa por catego- £ Fiasecampos de estuclo, nossos intelectuais geralmente passam adia- Jogar apenas com seus pares mais préximos, os tinicos capazes de “entendersua linguagem ou jergio ede ajudar ase policiarem mutua- ‘mente contra os” desvios", os err0s" eas “heresias” dos“intrusos" ou ‘competidores propondo realizar pesquisas originals desviantes ou subversivas. Assim, as “bolhas" disciplinares se tornam comparti- _mentacdas eimpedem ocontato,a circulacio eo diélogo com as outras disciplinas, freando os movimentos interdisciplinares e resistindo &s ovas teorias provenientes do exterior. Os programas de pés-gra- ‘ago (mestrado e doutorado com suas rigidas éreas de concentra- #0" e “linhas de pesquisa"), sob o controle de um coordenador, a utela jrmada por colegas e mais ou menos teleco- mandados pelas diretrizes burocréticas das fontesfinanciadoras,tém impedido o exercicio livre do debate, da critica e autocritca eo surgi- mento de idéias inovadoras. Numa palavra, o exercicio do pensa- mento. Até mesmo o proprio sistema de recrutamento dos alunos e : pesquisadores € armacio de fl forma que nem sempre so seleciona- ‘dosos candidatos maisinteligentes, abertos,criativose com potencia- Hlidade para a. docéncia e a pesquisa, mas os que mais fécil e docil- mente se submetem aos “mestres” orientadores e se conformam | melhor aos modelos de pesquisa rotineira impostos pela instituigio e |freqiientemente ratficados pelo orientador. Como se former pensado- res em ambientes que nfo promovem a liberdade em relacio aos | poderes, nio incentivam a critica as idéias recebidas, a demolicaodas | alternativas simplistas e a valorizagéo da complexidade dos proble- | mas? Assim como muitos pregadores,nalinguagem de Weber,rotini- |zam‘a mensagem do profeta, 0s professores tendem a,rotinizat € [banalizaro discurso dos eriadores, especialmente fazendo dele desa- |parecer o elemento fundamental: 0 problema, tal como o pos. Nalin- |guagem do socislogo Bourdieu, os detentores de um “empital cientfi [espectfco” (repousando no reconhecimento dos pares) s80 mais ex- |postosa contestacio:"os pesqulsadores mis inonadores sf vilentamente _{combatidos por sua prépra institugho” (Les usages sociaux de la science, 1997), pois as inovacées cientificas 56 surgem rompendo com os pres- {-Supostosem vigor No poderios mais cetaramentalidede descre- { vendo o processo de perpetuagso da ciencia como uma expécie de { partenogénese: geraria a si mesma fora de toda intervengio do J fmundo social. O que muitas vezes se esquiece’ é qué a Universidade deveria constituiro simbolo da unido, pois deveriaser'um espago privi- Jegiado de encontro: entre pesquisadores,estidantes e docentes per- {Jencendo a viras culties, falando linguas diferentes e tabalhando “ein domfaios diversficados, mas complementares e convergentes. ‘Nao devria ser wsada como o lugar onde se gasta tanta energia em testinas tendo por resultado apenas desenvolver a exasperada eestérl de cides parcial destinada justficar outra forma de cegueiraa intelectual, Tornow-se famosa {Giatiga, 68) a f6rmula:"Pesquisadores que pesquisamn, encontramos; _pesquisadores que encontram, buscamos". O interessante a observar éque nossas universidades, sobretudo as gue desenvolvem pesquisase promovem cursos de pés-graduacio (getalmente as pablicas),chegaram ao citmulo de dividiro espago do conhecimento em éreas absolutamente afins endo podendo serinte- ligiveisindependentemente umas das outras (Sociologia e economia, antropologia e psicologia social ete). Chegaram mesmo a dividir {nternamente certos departamentos a fim cle melhor acomodar de- terminados profissionais de maneira autinoma (divisso de podtes), / impedindo totalmente um didlogo fecundo entre eles e a troce rec roca de experiéncias e inovacOes e repartindo os micropoder ‘Assim, o perisamento eo debate passam a ser substitufdos por teses ¢ teoras especificas de cada linha de pesquisa, no interior de cada érea de concentragio.ou de cada programa de pés-graduagéo. E 0s cursos se transformaram, no dizer de um ex-reitor em “esafandros contra 0 rmindo das idins eas iis do mundo; as ides exstentes ro mundi deixa- rae de inseminaropensamsento fechado dentro de cada departamento" (Cris- tsvam Buarque). O resultado é que, coma proliferacio das zonas de saber independentes, também se multiplicam as possbilidades de exer- {elo dos micrupederes. Bses depastamentos2eisolam da sociedade fe deixam de comunicar-se com o mundo real, onde as idéias tem ori- gem e a servico do qual deveriam estar orientadas. Sobretudo, dei- sam de prestar contas as famosas necessdaes sols. Por conseguinte, zna medida em que nossas universidades se departementalizaram, _abdicando de boa parte de sua capacidade de reletire compreender, ‘exercer um pensamento critico e promover qualquer revoluo inte- 24 2 ea lectual, transformaram-se em lo‘ais de subordinagio da criatividade e domesticagéo do pensamento, em entidades de treinamento dos {quie, no conformismo, contribuem para aumentar a eficiéncia do sis dominante, jogando no mercado profissionais, néo digo mal, preparados, que pouco ou nada pensam. E seus intelectuais, 20 invés de se entregarem 2 uma critica permanente dos abusos de “poder ou de autoridade, terminam por se submeter as engrenagens Durocraticas e por confundiras coisas da légica com a l6gica das coi sas, Melhor ainda: chegam mesmo a tomar por reais (na ordem das “coisas) as reformas realizadas apenas na ordem das palavras ou dos textos. & por isso que, no dominio’ da reflexio, progressivamente 0 ppensamento critico tem sido substitufdo pela hist6ria, pelo comenté- stipe pela interpretacao. Ora, a abordagem interdisciplinar p i interrogat 6 saber para que nao ocult $06.0 hor ‘essatarefa num confronto de Virias disciplinasa propésitooua partir =de-unr mesmo objeto. Ao criticar um tema de estudo, 0 especialista pe em questio sua disciplina e reconhece constituir ela um modo ‘original de compreender falar comprovadoa partir de uma reflexio sobre um objeto previamenteselecionado, Donde podtermos dizer: ~pFitica interdisciplinar permite ama juste apreciagéo da disciplina ~ basis nciade sua elatividnds b) da :a)datomadadeconsci; -descoberta de sua radical especficidade, ~~" Bé também parisso que ointerdisciplinar ainda provoca em mui- tosatitudes de medo e recusa, Porque, além de constituir wma inoon- ‘0, permite-nos tomar consciéncia do estado latnentvel de desagré- ga¢io de nosso atual sistema educativo. Ble sore, néo somente uma crise de contedidos: o que transmite? o que deve transinitx? segundo ceitérios?, mas uma crise dos programas e daquilo em vista de que ‘6 definidos. Ademais, passamos também por uma crise da relacdo ‘edlucativa: desmoronow o tipo tradicional da autoridade indiseutida, ‘mas tipos novos ainda no conseguiram.ser definidos, afirmados, ‘propagados ou adotados. O mais grave & que, muitas vezes nem 0s alunos nem os mestres conseguem mais se interessar pelo que se + piséanas insituigdes de ensino, a educagio mbitas vezes deixando de ser investida como propriamente formagio etransformando-se, para lores, num rotineizoe penos6 panha-pSo e, para os alunos, facionha obrigacéo indispensével para @ abtencéo de um loma tornando possivel um emprege futuro, vale dizer, num ipblematca,Nofundo,trata-se de obterum "canudo de papel per itindo se exercer um eventual trabalho profissional. Nao basta - {daptarmos nossa Universidade & Modernidade, Neo esquecer: nfo foi feita apenas para a Sociedade: “A Socedede, pana Escola, nfo a Escola para a, Sociedade" (Bachelard). Um exagero aptlivo ou integrativo conatiria vm atentado & sua miss > Humboldt jé nos alertava (niio do sé ga Scmagio ones dos saberes,dasidéias, dos valorese cultura. Sua missSo a de fornecer as bases de conhecimentos da ura. Quanto ao ensino profissional, deveria ser daalgada de Insti- aos especializados, Por isso, a Universidade precisa ser repensada 10 @ portadora de uma dimensio transsecular: € transmissora de 1 legado cultural (coletivo) da humanidade através dos tempos, apenas de uma nagio e de uma época histrica particular. Neste ido, também é transnacional. Se jé 6 transnacional e traiissecular, sé lhe resta assumir a responsabilidade de converter-se também em. © firansdiscipiner. [Nessas condigées, como nao temer 0 interdisciplinar? Sabemos «que todo novo incomoda, Porque questiona o jadquirido, oj inst- {uido, 0 @fixado e aceito. Se nfo questionar, nfo 6 novo, mas “novir “ dade’, de efeitodesodorintico, O eonservadorismo universtitio emu medo panico do novo que p6e em questio asestrutures men- © fais, as representagdes coletivas estabelecids,sidigs sobre o man- ia educagio, os deuseseaboa ordem das coisas’. Eaté compreen- vel essa resistencia a0 questionamento das instituigdes dadas. Af- “hal, seria o interdisciplinar algo sério? Podemos conhecer tudo? Nao q varia a um novo tipo de enciclopedismo jé bastante superado? fo conduiiriaa conheciaveitus getetalistas superficais, deaprovi- 10s de citérios de racionalidade e objetividade? O que se encontra efetivamente em jogo, no fundo,€certa conceppio do saber: todo esse modo dese conceber sua epurtisio € o processo de seu ensino. Porque | interdisciplinar aparece como tum prinefpio novo no processo de reformulagio e racionalizacio,néo s6 das disciplinas centiicas, mas das estruturas pedagégicas de seu ensino. Sem falarmos de um + aspeto“filosfico” fundamental: para além da complexidade das dis- Ciplinas queseinteragem, se complementameconvergem,interroga- ‘mos também os miiltiplos aspetos do ser humano. As disciplinassio para saber unificado o que os discursos eas praticas so para oujele to falante: 20 mesmo tempo produtor e produto desse saber. Nesta, penpecliva, & feflexio interdisciplinar nidu € win empreendimento simplesmente escolar: contribui direta edecisivamente para que pos- samos modelar a fisionomia do homem de amanhé, vivendo nam. mundo de incertezas, pois nao acredita mais no mito do progresso como necessidade histérica nem possui nenhum vetculo suscetivel de transporté-lo para um futuro radioso e feliz. Porque uma das coi- 95 importantes que devemos esperar de nosso sistema educativo é ‘uma formagdo que no seja mais um enclausuramento discipliner e um adestramento no pensamento analitico, mas uma capacitaciodo ser humano para a compreensio. Este fechamento em categarias qua- se-estanques (estabelecidas hd mais de século e meio) impregna pro- ‘fandamente os organismosde pesquisa eo ensino superior, condicio- nando e mediocrizando nossas mais brilhantes inteligencias. Mas, antes de prosseguir, algumas precis6es conceituais + Disciplina: como categoria organizacional no interior do conhect= mento cientifico, é um ramo autodeterminado do saber coincidirdo com uma “ciéncia ensinada’; trata-se de um conjunto especfico de conhecimentos possuindo suas caracteristicas préprias no campo do ensino, da formacio, dos métodos, das mecanismos e dos matetisis, numa palavra, do monodiseipinar;no saber cientifico, ela institu a divi- sfo e a especializacao do trabalho; suas fronteiras, sua Jinguagem € seus conceitos proprios tendem a isolé-la das demais disciplinas. Assim, oespirito monodisciplinar se converte num espitito de proprie- trio proibindo toda incursdo estrangeira em seu teritdrio, quer dizer, emsua parcela de saber e poder. Antes de tudo, 0 conceito de “disci- plina’ evoca um recorte pedagégico delimitando uma materia a ser ensinada. Masimplica uma significagiomaisampla queadocontetido pedagégico, uma disciplina podendo eagrupar varias matérias. En- quanto unidade metodoligicy,é a egra (tsciplin) do saber comum & ‘um conjunto de matérias reagrupadas com fins de ensino (discere, + Pesquisa interdisetplinar €a que se realiza nas frontetras e pontosde contato entre diversas ciéncias (por exemplo, entre psicanslise esodo- logia, entre psiquiatria e psicologia) podendo ser obra tanto de um individuo quanto de uma equipe. Geralmente culmina na producio, por fusio, de uma nova disciplina interdisciplinar (a biofisica). 4 uisa interdisciplinarnaose contenta em promoyera convergénciaea complementaridade de ‘para atingie um objetivo comuny bused utilizar esa colocagid’ em presenca para tentar obter “Gina sintese entre os métodos utlizadés, as leis formuldas eas aplica- propostas-No limite, dia que implica una Fentincs, senfo 20 ‘Gesejo de dominio pelo saber, pslo menos A manipslacio otalitiriado "dsciplina. £ desta forma que o saber se toma um fato hi 7 einterrogador, expondo-se como uma figura provisoriaoriun- Gado trabalho histérice da interpretacio, aoinvésdecongelar-se num ““eaquiema absoluto resullando da conquista do espirito dogmatico. Neste sentido, a pesquisa interdiscipinar pode se revelar um pode- os0 antidoto a ieurose ea anquilose que espreitamasinsituigbes de -Ghsino organizadas segundo um sigido modelo disciplinar ainda ape= |gado a ima logica analitica e da dissociagéo incapaz de e fenémenos da complexdade. a | Pesquisa multidisciplinar é a praticada por uma equipe de pesquise- idores pertencendo a ramos de saber ou a especialidades diferentes ‘pondo em relagzoosdiversos aspetos que podent revestira visi do trabalho para estudar o objeto de uma disciplina, rata-se de tia pes- _quisa podendo ser também interdiseiplinar. Mas nem toda pesquisa interdisciplinar é multidseiptinar.O rsco da pesquisa individdal € 0 de cairno auitodidatismo, Numa sociedade em que especializaca tornaa regra, um dos mellaresFemédios para se combatécla€a coc “jacdo ‘dos especialstas no trabalho de equipe. Evidentemente que Femtod trabalho de equipe é necessariamente, multi ow interdisc- pplinar Mas um agrupamento multdisciplinarjéconstitul uma equipe Eevendo (para fancionse) obedecer as regras do trabalho coletivo. ‘A cooperacéo permite descobertas que 0 pesquisador solitasio (mes- Glo especalizado na pesquisa interdisciplinar) aiicllmente pode al- ean ferfecandaczo. dos saberes 6 indispensavel, E no nos “Geqjuecamos de duas coisas a) cada vez mais as agéncias de fomento (governamentais ou privadas) destinam seus recursos as pesquisas rganizadas:a institucionalizagéo da pesquisa cientfica acarzeta qua- Se que auiomaticamente a formagio de grupos de trabalho; b) somen- tea equipe possibilita a divisto do trabalho, com todas as vantagens {que tal diviséo comporta, a maior delas sendo a chamada “produtivi- dade": a divisto do trabalho nos conduz quase necessariamente, num jono- A multidiseiplinar. determinale invuento, da equipe «+ Pesquisa transdisciplinar a quese afirma no nivel dos esquemas.cog- nitivos podendo atravessar as disciplinas e visando & criago de ur ‘Campo de conhecimentos onde seja possivel a exsténcia de um novo ‘paradigma ou de um novo modo de coexisténcia e dislogo entre 08 fildsofos e os cientistas, 0s esquemas nocionais devendo crculér da filosofia &s cidncias naturais e humanas, sem que haja nenhuma hie 39 zarquia entre esses diversos modios de problematizagéo e experimen tacio. Asnogbes mais fundamentaisimplicadas nesse ipo de pesquisa si as de cooperacio, articulacto, objeto e projeto comuns. No dizer do fisico Basarab Nicolescu (Dransdiseplinaité, Manifest, 1996), a pes- quisa transdlisciplinar, tendo como fonte a vontade de compreenss0 dos resultados mais gerais da ciéncis moderna, aparece como uma ecessiade histica de se promover uma reconciliacio entre osujeto e o objeto, entre o homem exterior eo interior, e de uma tentativa de recomposigéo dos diferentes fragmentos do conhecimento. Diferente- mente da pesquisa monodisciplinar, ela se interessa pela dinémica sgerada pela acio de varios niveis de Realidade nova disciplina, passe pelo conhecimento disciplinar e dele se ali- ‘menta, Ese, por sua vez, €iluminado de modo novo e fecundo pelo conhecimento transdiseiplina fundado em tres pllares: os niveis de realidad, a complexidadee a lgica do terceiro exclufdo (proposicées ‘ontradit6rias nao-podem ser simultaneamente verdadeiras). Creio {que esse novo paradigma a ser criado, tendo por objetivo utépico 2 = vampreenatedamiundepresente-embora econhecendoaindependéncia ds disciplinas, promove stia comunicacéo sem ter que recorrer @ nenhuma forma de redugio: por exemplo, do biol6gico ao fisico-qut ‘ico ou do antropol6gico ao bioldgico. Donde seu cardter enciclopé- , dice, no sentido grego de Enkyeles Paidéia pondo em ciclo (culo) | pedagagico todas as esteras do saber (dsciplinas) até entéo incomuni- | caveismediante ume articulagéo te6rica das atividades dos especialis- tas em tomo da tentativa de resolucéo de um problema comum. <2 | Tratase de um paradigma mais atento & legitimacio epistemolégica dos conhecimentos permitindo produzir, ensinar praticar,Define-se pela concepcio de representagies ricas dos contextos considerados sobre as quats podemos reciocinar de modo ao mesmo tempo enge- _nhosoe comunicivelcom o objetivo de laborer propostas paraaacio, procorando langar méo do, principal instrumento de que dispe 0 ~__-sspiito pata representar etaciocinar: a conjungio,a capacidade de sgn goer elbaae. fate “Observers que uma estratégia tansdisciplinar repousa, em Targa medida, em certas alternativas da visto disciplinar As discipli- nas constituidas representam um certo recorte de nossos conhect- rmentos jésolidainente enraizado na cultura e mareando profinds- te nosso sisterna educacional: a formaio, as profiss6es, ait tuigdes... Importa lembrer ainda que essa decupagem ‘disciplinar cocipa uma parte reduzida da histéra da cultura ocdental.A prolife. ragio das discipinas 6bastanterecente. Eas imitagbes dessa decupa- er “gem sho notérias. Indmeros sao os problemas que néo encontram | ~ "pais lager no interior de uma disciplina tomada isoladamente. Reve). jamn-e como um novo recorte do saber. A ecologa, a energia [Percurso a ser percorsido através dec hepa, pottanto, um espirito verda sds na, Na auséncia desse espiito, podemos nos contentar com apro: cs multidiscplinares por vezes conduzindo a colaboracbes i- © slentsciplnares(attizacéo, noma disciplina, de wm resultado ou de zm método fomnecido por outra). A interdisciplinaridade destoca o 2 opos “patingtla. devemos procedes por elapas:) procurar um recorte do ‘aber distinto do disciplinar: por problemas, por exemplo (hoje uma ;posicfo social); b) buscé-lo no interior da cultura — o recorte espontineo de vitias disciplinas conseguindo detectar um para- igma comum, neste caso, a universalidade desse paradigma leva a ‘um recorte transversal das disciplinas; portanto, a uma verdadeira hperdiscplina, Exerplos desses paradigmas: a simetria, osigno,allin- " gaagem,acrise,0 paradoxo,omodelo, oalgoritmo,osistema ea com~ plexidade. A seridtica, a linguistica ea informatica sao disciplinas do ey > signo, da linguagem, dos modelos matemsticos e, respectivamente,, do pensamento algoritmico. Essas discipinas possuem um inegével ‘aréter de universalidade: sio hiperdisciplinas atravessando as ou- | tras eimpondonovosrecortesno saber. Outra importante hiperdisci- ra “lina seria a jeoria geral dos sistemas: sua abordagem pretende ser. universal. “ eo ‘=~ lmporta também lembrar que o sistema capitalist cléssico, consi : derandoa ciéncia e seu ensino como tim mercado livre sobre o qual a oferta e a demand, a compra e a venda se conformarn a0 livre jogo do mezcado, cefendia e justitcava a necessidade de uma pesquisa & “de um ensino monodiseiplinaes pelas mesmas razses que o levaram & | defendereajustificar uma economia liberal, desprovida de organiza- «io coletiva dos negécios, posto que privlegiava a producéo eo con- | sumo individuais. A cénciaplanejada constituiiaa morte da ciéncia Porque s6 seria seletiva uma ciéncia especializada, fundada r petigho, nfo n cio. Ja o sistema capitalista ne a rir grandes unidades no mercado monopolista,oligopolista€ ‘Blobalizado, tein netessidade de uma ciéncia organizada e plane} esse mesmo dé incistia, da produgio edoconsumo. inter bem aceito até promovido, mas unicamente comourt itindo 0 aumento da produtividade ou a racionalizasio 70, na Franca, a interdisciplinaridade passou a fazer parte da filosofia do Estado. Foi introduzida na doutrina do Ministério da Educacio Nacional dizendo respeito a reforma das Universidades. Asforgas politicas e os grupos de pressio se reclamando de uma abor- dagem interdisciplinar ganharam uma inegével posicéo de forca sobre os que persistiam ignorando-a. Em certos casos, a prética dessa metodologia no ensino superior e as medidas que justificaram sua utlizacéo, vieram ajudar a Universidade a assum melhor suas fun- bes pedagégicas de ensinar, pesquisar e fazer avancar os conheci- ‘mentos, Chegou-se mesmo a criare universalizar, em todo o sistema ‘universitério, um novo diploma no final de dois anos d interdisciplinar: 0 DEUG (Diploma de Estudos Universi yale), bastante valorizado por enipresdeios desejosos de contrata: jo vvens culturalmente mais bem formados e mais flexiveis e adaptéveis, as inovacoes tecnocientifcas exigidas pelo novo mercado de traba- tho, Tomando por divisa, no mais liberdade, igualdade e frate-ni- dade, mas qualidade, competitividade e produtividade, o sisteme de ensinondo pode maisignorar que comecaaser elaborado um modelo doravante devendo repousar em trés postulades apresentando-se como verdades inquestionaveis: + aeconomia é um dominio separado governado porleis naturaise uni- versais sobrepondo-se acs governos particulares; + omercado constitu o meio étimo de organizar a produgSo e as trecas de maneira eficaz e eqhitavel nas sociedades democraticas; + a globalizagio exige a reducio das despesas estatals, notadamente no dominio des direitos sociais e em matéria de emprego e seguridade social (¥, Bourdieu), 7 Longe de nds a idéia de propor a busca de uma superdiseiplina formando uma espécie de metaciénciasuscetivel de ar conta da totali- dade e complexidade dos problemas, de englobar as disciplinas atuaise unificar todasas definigbes de nogGes. O “foco” de uma disci- a ‘lina, mesmo mega é totalmente impotente para ver, estudar eresb ‘yer os problemas em sua complexidadie. Mas creio ser ilus6ria a ati- tude pretendendo que uma abordagem interdisciplinar constituird tuma nova representagio do problema que seria muito mais ade- quada no absoluto, vale dizer, independentemente de todo critério particular ou contextuado. Por exemplo, nao é verdade que a pura associagéo de abordagens da biologia, da psicologia, da sociologia et. pode fornecer-nos uma “ciéncia’ interdisciplinar da satide que seria mais adequada, objetiva, englobante e universal, pois examinaria riais aspetos do probleme, Tal abordagem interdisciplinar néo cxia ‘uma espécie de supercitncia mais objetiva que as outras ou alas supe- rior. Simplesmente produz uma nova abordagem, um novo para- digma disciplinar: conjunto dos pressupostos, normas, valores, cren- as meétotios, instrumentos ce medida etc. definindo uma diseiplina Portanto, ao tentarmos criar uma superabordagem, simplesmente estamos recriando uma nova abordagem particular. E assim que nas- ti ecsamosabendonara ‘ave dlecureo capa de ranscender as disciplinas partic comsideré-lo como uma prétizn especifica tendo em vista encontrar, dolugbes para os problemas reals que nos afetam diretamente, Nesta etspectiva, o que sebusca€ produzir um discurso.e uma representa ho priticos e pertculares dizendo respeito aos problemas concretos Gile nos desafiam. Diante deles, confrontamos, fazemos interagir e convergir numa perspectiva concertada, os pontos de vista ou os dis- cautsos da sociologia, da medicina, da antropologia;da psicologia ete “objetivo nfo €0 de criar uma nova disciplina nem de elaborar um * discurso universal, mas o de tentar resolver umm aba ene ‘eto.em suas mapa dimensbes, gentes. Nest sentido, promovem todas as circunstincias permi- {indo o progresso das cigncias, mas quebrando osolamento disiphi- nar: a) pela circulagio dos conc cognitivos; b) pela sinergencia de novos esquemas co tipoteses explicaiva 6) pelos intexieréncias interiecundagoes efusdes ) pelaconstitnigto de concepsbes organizadoras permitindo se ariculaern dominios disciplinares num sistema te6tico comm etc. ios e esquemas “3 (Qual a grande diferenca entre as duas perspectivas? Ao preten- der congregar diferentes disciplinas num processo pretensamente neutro, objetivo e universal, a primeira dissimula e mascara as ques- toes propriamente politicas do projeto interdisciplinay: qual a disci- plina maisimportante,articuladora,integradora e dominadora? qual oespecialista que teréadiltima palaveae exerceré o poder? como ser tomada a deciséo?e por quem? Na segunda pérspectiva, 20contrério, ‘Ginterdisciplinar € concebidoe levado aefeito como uma prétios emi- nentemente politica, como uma negociacéo entre diferentes pontos de vista tendo por objetivo decidir uma representacéo considerada adequada em vista de uma acéo comum concertada, Sendo assim, no podemos utilizar mais critérios exteriores e puramente racionais, para escolher e dosar as diferentes disciplinas que vio se interagiz. ‘Tampouco para escolher os especialistas e determinar as regras do jogo. Neste dominio, aquilo de que mais temos necessidade nao é de instrumentos (cientificos ou nao), mas de cultura! Nas toma: HUE lig ublizam os Resmos crtérios nem os mesmos pressupostos Porque, ei lta instancia, essas decis6es néo decorrem tanto de conhecimentos, mas de opsées éticas e politcas. Isto é muito impor- tante para que o interdisciplinar nao se converta no instrumento de ‘um poder tecnocréticn fazendo as decisdes dependerem unicamente de negociagées entre experts, longe de qualquer debate democratico, Claro que, em seu sentido estrito, ointerdisciplinar consiste em utili zar of recursos de duas ou mais disciplinas para se constrair uma representacio adequada de uma stuacio. Mas atengso, quando pro- movemos a transferéncia de uma nogéo, de um conceito, de uma metodologia ou de determinada competéncia para outras discipli- ras, estamos falando de transversaliade; 86 haverd ipl Bat, privilogiando sua dependincia do contexto © anoumindo pri mado da inteligbilidade sistémica sobre a possibilidade analitica. Creio que hoje merece ser questionada, no seio do eaber cient fico, a velha dicotomia separando radicalmente as ciéncias naturais, deum lado, eas humanas, do outro. Sto elas distintas por seu objeto, seumétodo e seu rigor? Ou o esplrito interdisciplinar jé nao nos per. mite pensar em superar essa dicotomia aparentemente definitiva? Mas por que deveriamos ultrapassé-la? O sonho de uma unidade constituida nao seria apenas um impossivel desejo nostélgico? © Sobre que bases deve fundar-se essa possibilidade? Nao deveriamos eter aprendido com as vévias tentativas meio frustradas de interdisci- plinatidade levadasa efeitonasiltimas décadas? Muitas delas,visan- -generosas intencGes de princfpio. E culminaram em verdadeiros “passes epistemol6gicos ou em perigosas construgées ideologicas. A sociobiologia de Edward Wilson, por exemplo, prega que oaltruis- jo um comportamento geneticamente programado: 0 proteger 05 jembros de sua familia ou de seu grupo, 0 individuo garantiria a sto de seus préprios genes. Trata-se de uma disciplina “cien- com pretens6es transdisciplinares tendo por objetivo explicer, sn bases estritamente biol6gicas, os comportamentos sociais de to- dos os seres vivos, inclusive dos humanos, como se a humanidade esse ser organizada “cientificamente” a fim de obedecer ao inte- dos genes. A sociobiologia estaria em condigées de promover ‘radical fiscalismo biol6gico, de operar uma completa “reducio” fen6menos sociais em termosfisico-quimico-genéticos ede ar irrelevantes, do ponto de vista dec, a aiid propria FO dro ques progamas e aproximerto permite a emer [pcia de corinis noves bastante fecuos 0 caso da bogutmics€ a nearoblogi soo mts hstatives. Nenana no deveros iz relalivatoacentuada quantoa das antiges. Em outras palavras, va disciplina, ao invés de suprimir uma fronteira esubstitut-la por ‘Gma-zona franca, de livre circulagéo, instaura outro dominio autd- jo de saber, conseqientemente, de poder. O que implica o apare- sito de duas novas fonteias, std Com cada um dos dominos ignais. O caso da bioquimica é interessante. Na verdade, trata-se ima disciplina especfica, bastante alastada da quimica(pelacom- plexidade dos sistemas que trala)e da biologia animal (ndo se inte- _ essa pelo organismo vivo). Assim, se devernos levar a sério 0 termo © “aisciplina’, na medida em que define os limites deste ou daquele Saber, precisamos reconhecer: so justamente esses limites que Ihe " seonferem autonomia, Ihe dio identidade e constituem sua forsa. Sabemos que a colocagio em forma de determinacos saberes, numa sciplina tebrica, j4pressupse certa normalizagao das formas de pensamento. Depois de Newton, podemos'dizer que 0s fisicos ja eram exageradamente interdisciplinares: acreditavam que o méstre hhavia descoberto a chave do universo, bastando aplicar seus princi- plas a todos os dominios de conhecimento, No enttanto, os grandes ‘vangos da fisica consistiram em se libertar do paradigma newto- niano para se criar teorias e conceitos especificos (eletromagnetismo, relatividade, teoria quéntica etc). Claro que devemos lutar contra a exagerada dispersio do aber cientifico em especialidades totalmente independentese indiferentes umas s outras. Daf er talvez mais ade- quada anocio de“extradiscplinaridade” (no sentido de extraterritoria- dade) para responder ao legitimo desejo de romper com 0 isola- ‘mento miituo das disciplinas, Porque somos desafiados a criar verda- deiras zonas francas do pensamento: o encontro entre disciplinas diferentes deve ser concebido mais a maneira do confronto ou inter- ‘Ghribio que da simples fist6 Ou da mera complementaridade conver- gente. O que devemos esperar do contato entre duas disciplinas? Nak "una co"produg ‘menos utépica quanto um miituo confronto exigindo, no s6 a reniincia a todo fantesma de fusdo sincrética das ciéncias, mas 0 abandono do luto da propria uni- dade do saber. S6 um reconhecimento dos limites dos saberescientifi- ‘cos, de saa diversidade e alteridade nios permitirs, ndo apenas abolir cesses limites, mas assumiclos, atravessé-los e superé-los. Mas no haveria outra possibilidade de apresentar essa perspective? Creio. gue sim: Poderlamos resumi-la em duas palavras-chave inseparaveis e que ha muito vém fundando o valor dos saberes antigos e das obras ‘classics, mas que devem ser apreenciidas pelas ciéncias atuais:crtion cultura, Neste sentido, a verdadeira e livre atitude do filésofo con- siste em interrogar-se constantemente sobre seu saber, aceitando cenfrentar a incerteza Id onde 0 espitito dogmético acredita deter a verdade. Portanto, se 0 projeto interdisciplinar propriamente dito ppressupée uma interacéo das disciplinas, uma interpenetracéo ou interfecundagio indo desde. simples comunicagdo das idéias a inte- {gragio métua dos conceitos (contatos interdisciplinares), da episte- mologia, dos procedimentos, dos dados e da organizacao da pes- quisa; se pressupde a imprescindfvel complementaridade dos méto- dos, dos axiomas e das esiruturas sobre os quais se fundam as diversas disciplinas, claro que sew objetivo ut6pico s6 pode sera uni- dade do saber por abordagens transdisciplinares tornando possivel a criacdo de uma inteligibilidade das méltiplas interagées entre conhe- "mento e agio! Unidadé bastante problematica, em davida. Mas 3 {que parece constituir o ideal de todo saber pretendendo correspon: ‘ders edgEncias fundamentais do espiritohumano. Aosurgis nao 36 {foino 0 remédio para todos os males da ciéncla, mas como a grande Hiqueza e a possbilidade mesma de realizacéo da modernidade, 0 “ansdisciplinar deveria imporse como 0 sonho mesmo da humani- = {ide concretizando-se pela realizacio do princfpio de orguestragto dios conhecimentos,sua unidade devendo prevalecer sobre a simples B plusalidade. A este respeito, gostaria de citar um texto do poeta Paul Yaléry (1942), pois creio que pode lancar certas luzes erenovar nosso jlhar e nossa compreensio domodo como sio produzidos,legitima- istma consistent repe- iuncn aceite’ em explcagies. Ms sempre achei = como se trabalka rss mapa ox como o engeneivo trabalha naam ela”. O resto do contexto € o seguiinte: Para compreende, para fazer, devo compreender. Com certa tristeza, mas ainda com esperanga, somos obrigadosa jamentar: em nosso atual sistema educacional, 6 praticamente balbu- Giante ou inexistente a pritica interdisciplinay, nao 86 no campo do | _gsino, mas no da pesqust: difcilmente assume seu papel de coorde- B SHacio interna entre o inventério de suas disciplina su fncio de plinares,na reaidade, mulidisiplinares, de tipo metodol6gico, néo © pletendendo nem podendo ainda considerar sua legitimidade epis- ‘Smol6gica:coloeetoem presenca de varias disciplinas maisou menos justapostas, exigindo a andlise de um mesmo objeto, mas cada uma ‘vendendo sex peixe” sem que ain enviqqnecida plas demas ¢ sem Sue seja promovida uma convergéncia ou realizada uma concertagdo entre os diferentes pontos de vista. E estes encontros so muito mais “fruto daimaginacio criadora ecombinat6ria de alguns professores _ pesquisadores sabendo manejar conceitos e métodos diversos, dan- ip origem a imprevistas colaboracées e combinagées criativas que algo propriamente institutdo ow institacionalizado, Mesmo assim, Praticas de individuos abertos e curiosos, com o sentido da aventura, que néo témmedo de errare que, no dominio do pensamento,fazem da imprudéncia umn método, néo buscam nenhum porto seguro e se afirinam por um selene antiautortaismo e por um contundente ~atitidogmatismo pedagégicos. O autoritarismo e o do; 9s08.virus que atacam 08 edie a SB a des” que nos s20 impostas de modo autoritério e dogmstico. ie no doginatismo de um saber definitivo, transmitido autoritariamente e lo pela etiqueta “objetivo” ou pelo rétulo “verdadeiro” um fias de tima ciéncia ém estado de agonia. A este respeito, dome canso de lembrara adverténcia do bi6logo molecular Francois Jacob." Nao €somente oiteesse que leon oshiomens ase matarem. Também 1 €odogmatismo. Nadaé to perigaso quantoa certeza de ter razao, Nada causa |) tanta destruigdo quanto a obsessdo de uma verdade considerada como abso- | lula Tads os crimes de histori sao conseqiténcia de algure fanatismo. Teds 1s massacres fora realizados por virtude: em some da religita verdadeira, do racionalismotegitimo, da politica idénea, da ideologa justa; em sua, emt nome do combate contra verdade docttro, do comibate contra Sata” (1981), ~ Aprendi com 0 velho inestre Bachelard que um saber que néo se questiona constitui um obstéculo ao avanco dos saberes, pois uma aprendizagem bern-sucedida 56 pode ser uma mudanca de concep- ‘es, um processo complexo e freqtientemente desagradavel para 0 ‘educando, posto que cada modificagao ¢ percebida como uma amea- ‘sasuscetivel de alteraro sentido de suas experiéncias passadas,oer0 devendo ser integrado no cere mesmo do proceso de aprendiza- gem. A pretensa maturidade intelectual, orgulho de tantos sistemas de ensino, constitui apenas um obstéculo entre outros. A famosa cabecabem-teita, bem arrur 2 tabeca malfeita, fechada, produto de sém_Por isso, trata-se de uma cabeca malfeita pre ‘gando urgentemente ser refeita.: “une (Ble bien-faite, c'est ume tte ma-fite quia besoin d’étre refute”. B 0 interdiscipiinar, se néo possui outros méritos, ajuda a se refazer essas cabecas bem-feitas, quer dizer, mialfeitas, porque esté sempre buscando razies para mudar e se 43 serfigoar. Pois cukiva o desejo de enriquecmento por enfogues vos, 0 gosto pela combinacio das perspectivas ealimenta avon? age de ulrapesagem dos caminhos ja batidos ¢ dos saberes jé idos. Nao nascemos com cérebros” desocupados’ mas inacaba: ti nseetace eaescola pretendem ocupé-los pela instrugio, pelo nd e pela linguagem. Quando 0 cftico Montaigne declara que tos as sua orgenizacéo em funcio de eixos eee funda: (tis: Nao se trata de reduziro todo. seus componentes elemen- jem e se questionem, e nao se reduzam a esse papel ridiculo replinadores intelectuais, capatazes da inteigéncia ou simples de marketing psicopedagogico. Q professor pode jos.resulladee,contredizeni as concepcbes anteriores de gs rec re era oe Fo relativa- fa,uma deficiéncia do alunoa ser execrada ou diabolizada, Deve 3 tegrado nocerne mesmo do proceso de aprendizagem, 0 pro~7 oh ym que no cxesce, ndo estuda, 1 ‘paralisia intelectual ou de esclerose precoce. nua vilida a advertincia de Bachclard: "Fu ectudo. Pensar, nfo sn. Sb filsofs pensar antes de estudar”, Deveriam também aposens Sem taunts presen ligarse ¢ uma espécie de “inconsciente cientifico” cujos temas sexualizados " lembram os do inconsciente freudiano. $6 uma psicandlise dos co- ‘thecimentos objetivos leva o individuo a lbertarse dos «prior de Screncas ouverdades” anteriores: "Deiectaros obstdculas este: 49 Légicos & contribuir para se fundar os rudimentos de uma psicandise da raz" (0 interdisciplinar é um ideal muito dificil de ser atingido. Onde serealiza melhor € no terreno, quandy a suluygv de wu problema 0 Jimpoe e quando especialistas de dominios diferentes se retineme se ‘concertam para solucioné-lo, ou seja, para dar-lhe uma resposta pré- fica, A historia das ciéncias nos mostra a existéncia de cooperasdes {ue terminam por néo mais colocar problema, encorajando forma- ges verdadeiramente multidisciplinares. Assim, vimos serem cr das algumas disciplinas fronteirias:fisco-quimica,biofisca, bioqut- rica, psicofisiologia, sociobiologia, sociopsicologia etc. Em seguida, assistimos & constituigéo de campos de encontro unindo quimicos farmacblogos, etologistas e agronomos, l6gicoseinforméticos, enge- nheiros e economistas, médicos psicélogos, sem contar as miiltiplas aliangas implicando mateméticos chamados a colaborar com as de- ‘mais disciplinas. Falamos apénas em unides de pares. Mas poderia- ‘ms continuar-coni-as tlades-e os grupos mais amplos. Muitas das realizagGes mais espetaculares da cincia contemporanea constitiem © produto de colaboragées multidisciplinares bastante complexas ensemos nas pesquisas espaciais ou nas técnicas cirirgicas cada vez ‘mais corriqueiras, Estes é muitos outros exemplos devem ser levedos ‘em conta para nio ficarmos eternamente lamentando sobre a inaces- sibilidade do sonho interdistiplinar. Porque j serealiza efetivamente ‘em projetos concretos multidisciplinares, Neste particular, ébastante vvélidaa divisa: “construimos o caminho andando”, ortanto, precisa- ‘mos de coragem, paixdo e prazer para nos aventurar num caminho cujo ponto de chegada ignoramos, mas ousando cada vez maislancar mio de processos de trabalho em comum onde séo partilhadas nos- sas experiéncias e interrogacées. ‘Somos hoje obrigados a reconhecer: um dos milagres da diné- rica cientifica atual consist justamiente em assistirmos a essas con- vergéncias ao mesmo tempo que a explosio dos conhecimentos acar- rota uma acelerada fragmentagio das disciplinas. Nao resta did de que a maioria dos éxitos multidisciplinares encontra-se nos domi- rnios de aplicagéo, em favor dos problemas priticos. Nestes cases, 0 multidisciplinar ndo constitui um simples exercicio metaférico, mas juma combinacéo técnica bastante precisa. Nio nos esquecendo da ‘existéncia das outras disciplinas, tendo sempre algo anos dizer ares- ‘peito: Enfatizemos, a titulo de exemplo,o caso da psicologia: encon- 50 - ase partilhada entre a psicologia social, a da crianca’a psicanalitica, “ a cognitiva, a psicolinguistica, a psicopatologia etc. Para abordar os fi ene biologicos,simbélicos, patolégicos ou criativos da doenca " fmental, por exemplo, torna-se hoje indispensavel por em movimento = ag articulagdes entre numerosas disciplinas, inclusive, se elaborar, 8 > Seu respeito, uma verdadeira “engenharia” disciplinar. Se tomarmos -_ Gexemplodas doenas mentais, das condutas anti-sociais, dos distr 4 _ té mesmo de verdadeiros paradoxos biol6gicos e simbélicos, psico- " ogicosecriativos. Para abordé-los, torna-se indispensével nfios6 por em movimento as articulagées entre numerosas disciplines, mas con- ceber uma espécie de engenharia de varias ciéncias humanas. O.que é = verdadeiro dessas cigncias também se verifica nas ciéncias da vida ou 1a5 da matéria, onde os progressos da observacio e da experiéncia eslocam e renovam incessantemente o campo da pesquisa. Evoque- {9s apenas o inventério das ciéncias biol6gicas (fsiologia, Sociobio- loge, bioenergética, psicobiologia etc.) ou o das ciéncias fisicas(geofi- rior de seu ferrenho fechamento tradicional, o dominio da pesquisa “ge revelasse bastante mével, extremamente complexo e estranha- ‘concepeio de representagées rcas dos contextos considerados, “fnodelos eobre os quis possamos reciocinar de modo 0 mesmo * tempo engenhoso e comunicdvel a fim de melhorar projetos concre- - tos de acéo. Ademais,néo énada fécila elaboracéo de uma verdadeira tengenharia suscetivel de modificar em profundidade os dominios e 3s fronteizas de disciplinas apegadas ao velho espitito disciplinar de ¢ propriedade epistemol6gica. Isis dificuldades possuem profundas ~ talzes hist6ricas. Com o tempo, ampliou-se 0 foss0, ndo 86 entre as ‘ancias,a filosofia eas artes, mas entre as Giencias naturaiseashuma- nas. Esta oposicdo hisi6rica, mas também epistemoldgica, impon- ddo-se como um abismo aparentemente intransponivel, pode parecer ‘essencial a muitos, mas 6 artificial e nefasta a outros. Tem sua origem 4 ‘na classica distinglo que remonta a0 século XIX entre as Naturwissen= fen (Ciéncias da Natureza) e as Geisteswissenschafien (Ciéncias do. sphrito). Funda-se na idéia segundo a qual as ciéncias humanas 6€ 51 disinguem tadicalmente das naturais pela especificidade de seu objeto oespirito humano é pornatureza, distinto da matériainerte; ohomeméum ser de linguagem inscrito na histéria; seu estudo exige uma denarche mais de compreensio que de explicagio:“explcams os i mis competent os emanate) ningun jicem divide a importéncia dalinguagem e ¢ ‘orco-citural na espécie humana; tratacse de exp ‘splat fender (acontesinento politico, opgio de consumo etc.) a partir das inten- hese dos otivos dos atores implicados (M. Weber). Veremos que a Considnso do conceto de “compleridade” pete o ulteapess- mento dese tipo de alternativa. 77 ‘Messeré que isso justifice aclivagem radical entre os dois grandes terre too bem demazcados do saber? Claro que nao. Inclusive, porquesssriamos dificaltando aemergéncia de wm novo jamais ‘apaz,n80 6 de manter a referéncia universal sem ignorar a impor- {nei fondamental das culturas ou das sociedades particulares, mas ‘de convertersena Filosofia subjacente& democracia e de promovera renga pessoal rio Valor do ser htimano. Trata-se de um humanismo que opondo-se & doutrina subjacente és sociedades tradicionais, nao somente dafende um futuro mais digno para o ser humano, mas con- sagrao principio ce autonomia da pessoa e da comunidade sem se esquecerde que essa autonomia esti necessariamente ligada a mant- ten da dimensdo sociale de valores ultrapassanido’o individuo, Se ‘éverdade que esse novo humanistno leva 0 homem (moralmente) a liberarsedas crencasreligiosas como fontesde salvacio.eaconstruir seu futuro fundando-se apenas naé forcais humainas, nem par isso negaaeistincia de valores superiores a ele mesmo pelos quais pode {em algurs casos deve) sacrificar sua vida. ‘rata-se de um huma- rismogue,embora fundado nos direitos e na dignidade do homem, néoignoraasraizes tinicas eidénticas da diversiade humana: psico- 16g, histrca e cultural. Tampouco desconhece que a unidade con- ‘gma muliplicidade e vice-versa. A este respeito, chamemos a aten- sopaumproblemabastante inquietante: coma icelerada SBE “rant de odes ote espana ‘ea composta pri mente por disciplines Blos6ficas, por vezes hiséveas e teris, -fazendo parte, em doses variaveis, mas substanciais, dos programas dasciverssfaculdades. Ocupava um lugar bastante prvilegiado nas. 82 da a parte que outtora cabia & formagio ou cultura, eral. © siciplinas compéndo o conjunto das citncias humanaé (humnties Ee para os anglo-saxdes). Mas também desempenhava um papel rel ele cia ras propriamentecienticas notadamentebio- si rogressivamente reduaida,.em ef Coa, 2 simples transmissao de conhecimentos. Profssidndli-. avra de ordem passando asignificarreduzito, Sa. pret specializacéo necesséria a. le (da formagao, do formando, do formador), ; so >. especialista €alguém que tein © Claro que essa situacio varia de uma tradigio universitéria a [outta indlusive no interior de um-mesmo pals. Mas a tendéncia = geral. Um dos lamentéveis resultados: a ignorancia quase completa, a entistas propriamente ditos, das cgncias humanas e sociais, Ea flosofia e da literatura (e da musica). Lembremo-nos da adverten do velho Piaget valendo para todo cientista incl: "um psieslogo ela Holden j reconhecia: “Monde cresceo perigo cescetamsbérs 0 nfo. Eneontramo-nos nua Stuagio semelhante: esperemos imento do perigo se aca acompankar de outro, n&o tanto chances de salvagio, mas das condigdes de melhoria das elagbes “hiinanas.E levando-nos a compreender que a Universidade, além {éconstituira metifora do saber que fascina e seduz, também éameté- {are do poder que esse saher canfere (eujosimbolo € 0 diploma _shecimento social) Possuindo sua linguagem, seus rtose sua ret6- modo de exist, pois também é a Alma meter das ciéncias, O fecha: " grentodlsciplinare subdiseiplnar, queela ainda prevalece de modo “hegeménico, estende-se para além do ensino superior: est presente Ds na organizagio das sociedades sdbias e nos modos de comunicagio _ entific, quer se trate dos coldquios, encontros e congressos, das ~revistas ou obras especializadas. Chega mesmo a assimilar 0 aspeto. “fundamental de uma pesquisa aseu carter analiticoeredutor. Qual — 53 ‘coisa mais importante que devemés esperar de nosso sistema educa- — tivoy/Uima formacio que ndo seja um fechamento disciplinar e um F adestramento ao pensamento apenas aplicando recetas disdiptina- | res, mas criando projetos ricos de diversidade humana e tecendo 1 -pontos de vista e ordens de pensamento diferentes. Aquilo de que \, Sais predisamos hoje nfo é tanto de instrumentos (Geitfcos ou \-nao), mias dle cultura permitindo-fiosincentivar o8 estudantes, néo s6 | Sampliar o campo de seus conhecimentos, as a descobr-ios, com- [ preendé-tos e aprofundé-los sempre mais. - Enquanto prética coletiva, também é inexstente o interdscipli- ‘RaF em nossasuniversidades, O que é uma pena, Porque, entre outres vantagens,viria revelar a indissociabilidade entre ensna epesquisn, mostrar a fragildade da tradicional e dicotdmicadistingao entre a famosa “pesquisa pura’, bésica teGrica ou fandamental (PF) ea no renos renomada “pesquisa aplicads” (PA), Tlustremos a atitude in- terdisciplinar com a pesquise orienta (PO), que alguns chamam de desenvovimento, outros de problem-focused research ou fit- induced e- search pesquisa ao mesmo tempo erica eaplicada, Opde-se afanda= ‘mental porque responde diretamente as necessidades sociais,sendo claborada em funcio dessas necessidades e, em parte, € por elas comandada. E orienta em viride mesmo de sua concepgio stua-se entre o dominio da PF (onde prevalece a uusca do saber) e 0 da agio informada — PA (onde predominam 0 til 0 pritic eo eficaz). Bo processo da pesquisa que define seus objetivos ao mesmo tempo te6- sicos e préticos. Exemplo: o da pesquisa gerontolégica. A gerontolo- giase interessa ao mesmno tempo pore situagio por um proses, pelos individuos que envelhecem e pelo grupo ao qual pertencem. Exige oconcurso concertado ou convergente de: médicos, isiGlogose bidiogos para o estudio da senescéncia sien de psicélogos, psicana lstase psiquiatras para avaliar a transformacéo do estado mental, infelectal eafetiv com a idade; de socistogos para apreciar as rela- ‘ges com a sociedade e o lugar que ela reserva aos idosos; de demé- ¢grafos para medir « quantitaiva do fendmeno e as répercussGes do envelhecimento na estrutura da populagdo; de especialistas dos ser- ‘gos socinis, em contato com os casos concretos, para inventeriar € 5 iia an qaait0csaserem colocadas aos pessiusadorese paid ie: duzir seus pontos de vista em aco; de economistas para as andlises ‘lobais ou setorias; de especialistas das questes profissionais etc. "Alem de questionar os conhecimentos adquiridos (tidos por abje- siv0s) eosmétodos aplicados ede promovera indispensével unio do Giisino e da pesquisa, o emprego de abordagens interdisciplinares @ viria também transformaras universidades: de um lugar de transmis- = 30 ou reprodusgo de um saber pré-fabricado, num lugar onde se ~ produz coletiva criticamente um saber novo. Contrariamente ao sis- “tema cléssico de ensino, que se instala num espléndido isolamento ‘institu’ um saber pasteurizado ou asséptico, com um sistema hierér- quico mais ou menos monérquico, o sistema interdisciplinar, cujas ppriticas sio bem mais democréticas, viria superar o corte universi- “ dade/sociedade, universidade/vida, saber/realidade e nos mostrar ‘que no podemos confundir a razdo ocidental com a cultura tecno- ‘ientifica ou coma gestéo da eficécia (razao instrumental), convertida ‘em miero instrumento de poder Sem falarmos da instauracéo de uma {nova relagio entre educadores e educandos. Mas ¢ ilusdrio pensar que uma lei ow um conjunto de medidas administrativas possam colocar usm paradeiro a hébitos téo arraigados, a rotinas e estruturas ‘mentais {0 solidamente estabelecidas. Donde, mais uma vez, a ecessidade de se psicanalisar os educadores,néo somente para eles provocaruma verdadeira catarse intelectual, ou seja, uma purificagao ie seus preconceitos, de suas idéias.prontas e opinides admitidas, ‘mas para que reslituam & Razio seu papel emancipatério e conti- ‘nuem educando convenientemente seus espiritos, quer dizes, for- mando-os com método ¢ reformando-os incessantemente. E isto, para que possam ser criadas instituigdes dotadas de estruturas mais abertas e flexiveis capazes de absorver novos contetidos e de se inte- {grarem fungio dos verdadeiros problemas. E deadotarmétodos fun- dados, nfo tanto em titicas eestratégias de distribuigdo dos conheci- -imentos estocados, mas no exerccio de aptiddes intelectuais e de faculdades psicol6gicas voltadas para sua campreensfo e a pesquisa do © nidvo, Mas nada seré feito de seguroe duravel, nesse setor, se nfo esti vver fundado na desfo profunda e apaixonada de algunse numa série *, de experiéncias inovadoras concretas desempenhando o papel de catalisadores e nticleos de inovacéo. Aeeste respeito, o interdisciplinar constitui um fator de transfor- ‘macio (o trans indicandomudancas) capaz de restituir vida as nossas, 58 mais ou menos esclerosadas instituigées de ensino. Para tanto, mil obstéculos (epistemol6gicos, nstitucionais, psicossociol6gices, psico- logicos,culturais et.) precisariam ser ultrapassados. Por exemplo: a) aarrogancia, a pequenez e 0 egofsmo de alguns espiritos eminentes ‘ou desta ou daquela disciplina mais prestigiosa: esses fatores, combi- ‘nados com uma abordagem priméria das questées de territério, pre- judicam a pesquisa e impedem o progresso em direcio a uma inter- disciplinaridade mais fecunda; ademais, reforcam o desenvolvimen- tode cleros e burocracias disciplinares pouco capazes de enfrentar 0s problemas de complexidade; b) a situacio adquirida dos “mandari- natos” no ensino e na pesquisa, inclusive na administragio (onde os cargos nem sempre sio ocupados pelos mais capazes);c) 0 peso da rotina; d) a rigidez. das estraturas mentais;e) a inevitivel inveja dos conformismos e conservadorismos.em relagéo as idéias novas que seduzem (6dio fraterno}f) certo positivismo anacrénico que, presoa umensinobastant cdoginitico,encontra-se& mingua de fandamentagiot (alidadte esclérozada de un aprendi- zado apenas por acumulacio ou entesouramento; 0 enfeudamento das insttuig6es (epartamentalizacio sem portas nem janelas); h) 0 carreirismo buscado sem adevida competéncia;i)aauséncia de emu- laglo.s iniciativas corajosas ede critica dos saberes fragmentados ete. ‘Todavia, 0 intetaliseiplinar no pode ser praticado sem-o cumpri- ‘certas exigénciasessertiais. Por exemplo: a criagao de uma nova inteligéncia e de uma razAo aberta capazes de formar uma nova espécie de cientistas e educadores utilizando uma nova pedagogia, ‘usando pensar de outra forma, apesar de tudo e de todos, jamais aceitando instalar-se no repouso, no apego “morbido” adeterminada doutrina ou as suas préprias idéias etc. Numa palavra, 86 pode ser efetivamente praticddo por um ser humano dotado de um Ingenium (Vico) permitindo-the desenvolver todas as capacidades de compreen- der, Por isso, 0 candidato a ingressar nessa aventura deveria preen- cher, entre outros, os seguintes pré-requisitos: + tera coragem de, todo dia, fazera seguinte prece: "Fore nossa de cada dia nos dai hoje tera coragem de devolver sua razdo, sua fungéo tuxbulenta eagres- sivas ——-—s-tera coragem de, no dominio do pensamento, fazer da imprudéncia tum método; 86 EL cabit colocar quest6es (néo somente buscar respostas) e néo ousar B “pensar antes de estudar”; “Menisinadas"; ‘ ae ‘usar fazer experiéncias que nao sejam iluminadas pela razio; igs como anossa, precisamos tera coragem de opor-nosaelaedenos acinar: amaioria prefere repetir ojé estabelecido a ter que refletir; fp polemosacetar as cise ais como so; icamos de pé quando - sdo nos convida a nos sentarmos ea nos calarmos; nos opomos 20 20 incoerente, ao irracional e& imbeclidade, enfim, a tudo 0 Talc iio ¢ digro do Nomern, pots noo pensar € fet de suspsie", ~ "livida” ede "por que nor” Consttat um anacronsino proc b fateda Rezio uma reaidade incompleta jamais devendo repotser adigdo. E desta forma que se torna jovem e incisiva, passandoa = ‘e viver o principio segundo o qual nada 6 ixo para aquele que allemadamente pea soni, Porque nosso conhecimento deve apa~ “recer como a reforma de uma ilusio: no como retidao plena, mas ho retificagso continuada, Aceitar uma Razao abertaimplica admi- ‘consegue dialogar com o a-racional, o irracional e o supra-racional. =for sso, a transformagio de nossa sociedade € insepardvel do atsto- ltrapassamento da Razao. Quer dizer: a mentalidade interdiscipli- “nando somente nos ajuda a desmontar metodicamente ovelho ed- —_ dogmaticas e moralistas do mundo que alimentam os renas- es integrismos e fundamentalismos, mas constitui um fator dec |. §ivo para nos libertar do medo, inclusive do medo de nossos proprios st " nésa criatividade eo espirito de aventura (caracteristicas fundamen- tais de nosso projeto de auronomia: de nossa capacidade de dar-nos a ‘nésmesmos,em plena onsciéncia,nossas préprias leis). Permite-nos apresentar € ensinar as cindias de outra forma, como conguistas individuais ecoletivas audaciosas e aventurosas,o que faclita enor- rmemente a interiorizagio de suas demarches pelos alunos esa pr6- pria cratividade, e nao somente nas disciplinas cientificas * ctiatividade— este termo,raramenteassocado’s ciéncas ea seutensino, tornase a palavre-chave de toda incativa Historica e de foda pesquisa teérica. Assim, a refundacio de todo ensino ea dfusio das déndas ndo constituem somente uma exgénca orunda da necessdadehistcica de Gesabrochar as capacidades crindores pestoais na aprendizagem dos saberes, pois os saberes modernos tazem em sia exgéncia desse desa- brochament. Eis o sentido civiliza6ro do apelo langado por Pigpginee Stengers ao concluirem seu-famaso liv O i das certezasressliando a mportinia do papel da critividede nas cincias:"trnou-sessencil que cic. demecracininenien-soa.200n forma de dla Tata-se de uma tistvidade nfo devendo mascara dois fates a) as iéncas conetituem “empreendimentoscoletivos":b estiosubmetidasa exigencies ecitrios devendo constituiz par elas, verdadezosdesafos; aventura—néo somente oensino das cincas, mas todo ensina deve egrar as dimensdes profundamente humanas da criatvidace e da aventura, constitutivas da producio dos conhecimentos, Fist, sob pena de dematurare zeaidade, Todo ensino sem criatvidade eaven- tue porconsguins, semalegra pao torn mute dif apes de uma aprendizagem passivainicatva esperada na vica pro- Fsslonal e socal. Porque nso ea cultre sem jaiagao, No nos esquesamos: odo sentido pré-dado nos priva de nossa autonomia € nos cond heternonis: Una soledads verdedetamente at noma e democritica 6 uma sociedade suscetivel de por em quesiéo todo sentido pré-dado ede permits que oindividuo se afrmecomo Sujeito capaz de estabelecervinculos com o Outro e reconheceroque pertence orem de seu proprio deseo. Por conseguinte, tormardo-se livre paraaventurar-sena cago denovassigniicagSes¢permiiraos individuosa hberdede de crar para sua ide Gxentigo que pretender podem conferr-ihe, Messempre atentos para este fato: <6 cram um sentido para sua vida participando (como autores e receptores) das Sigifcagbesriadas por sua sodedade, “me “Betas essas consideragSes,indiquemos dutras pistas mais recen- {es do sonho inter. oa transdisciplinar Se denominarmos “ciéncias Jnysindes as que visam a solucéo dos problemas em sua globalidade ree, e de “cincisdisciplinares” as que visam & solcto dos pro {lems no contexto das disciplins, veremos que apenas as primei- {fs partem dos questées postas na existéncia cotiiana para cons- UF Pi fowno dla, umacopéce dela demcimaliadejuma represen © fac tedrien buscando seus elementos de saber em varias disciplinas fundo, trata-se de restauray, tanto na atvidade cienifica quanto pedtcas socials, modos de produgio de conhecimento por proj is contextualizados, néo apenas por objetosisolados. Poderiam ser = denominadas “noons ciéncias de engenharia’, entendidas mais como FS eneias de concergto para todos os cidadsos do que como ciéncias de # false apenas para engenheiros, Por conseguinte, séo as que mais {eguentemente se dispoem a realizar um trabalho, se nfo propria~ Jente interdisciplinar, pelo menos jé bastante multidisiplinar ¢ jotando um espirito que poderiamos reconhecer como transdisci- plinar E a aprendizagem dacapacidade deempreender abordagens feéricas interdisciplinares desse tipo merece estar no centro da for- inagio dos jovens no espiritocentfico,Talvez até mais que a rotineira transmissao do conteiido das disciplinas. Porque promove sua for- acio cultural geral(idés)levando-os a participarativamente da = cultura cientifica: ase tornarem cientificamente alfabetizados. Para que alguém se torne cientifica e tecnologicamente alfabetizado, nao bas- fam a posse de certos conhecimentos e o dominio de certastécnicas. ££ preciso que taisconhecimentose técnicassejam compreendidosem ligacao com outras nogées indispenséveis & abordagem dos proble- Tes concretos e artculados com a alfrbetizagio cultural. Deve ser { slguém capaz de construir um modelo interdisciplinar(ilha de raciona- lidade) suscetivel de esclarecer uma situacéo precisa etornainteligi- ‘fis a elagbes entre conhecimentoe agio:sabendo utilizar conhec- {nentos provenientes de vias disciplinas,teré condigbes de pensar, tnatare resolver certas questoes complexas e decidir de mo estaté- = geo coma e quando consulter os experts sem se tornar totalmente deles dependente 'Até hoje as pesquisas iterdiscipinares tém sido apresentadas como remédio ou panactia para muitos males da ciéncia, Noentanto, donsideradas ao mesmo tempo como um meio e um fim, elas apare- cet, sobretudo, coin uma argonizaglo concertada dos conhecimert- 50 tos, como uma espécie de orquestragio em que a unidade deve ampla- ‘mente primar sobre a pluralidade ea dispersdo. A unidade dos sabe- 2e3 € possivel, pois tem por objeto a busca de estruturas universais. Nilo é por acaso que, nas tltimas décadas, vem genhando muita importincia toda uma ideologia" sistémicntentando substituiro pro- {eto interdisciplinar de propor um novo tipo de organizagio e inte- ‘ragio dos conceitoscientifcos.Aebordagem sistémicase caracteriza pela importincia conferida as interagées reciprocas dos diversos aspetos da situacio. Supe que a situagéo possa ser adequadamente descrita como um sistema, Sua primeira ligéo € a de que o todo & smaior que a soma das partes: hé qualidades emergentes que nascem da organizagio de um todo e podem retroagir sobre as partes. Tra- tase de uma ideologia que, usando a inguagem da flosofia natural, cada vez mais vem tentando impor uma concepséo do mundo como tum organismo ordenadioe pensar ashierarquias dos niveis de organi- trices io: compreender o funcionamento do ser vivo é compreerider ua aufo-organizacio ativa, sua complex: Gade oxganizada e organizadora (Morin). E apreender a complexi- dade organizada e organizadora é dotar-se de novos raciocinios us- celtives de substitur a andlise pela conjungio e a reducio pelo iso- miotfismo, Porque o isomorfismo eo sistema dio lugar a numezosas Gescobertas em dominios que se ignoravam e criam, efetivamente, + ima interdisciplinaridade de fato. Iustra essa evoluclo apareci= ‘mento de novas disciplinas que jé seriam interdsciplinares:teoria sgeral dos sistemas, cibernética,informética teoria das decisses e dos jogos etc. Trata-se de discipfinas que diferem quanto a seus pressu- [postos bésicos, seus modelos, suas teorias malematicas e suas inten- 63. Mas estatiam todas de acordo para seafirmar como “ciéncias de sistemas” ou ‘modelos interdisciplinares” introduzindo-nos num ‘universe dos fendmencs organizadoe onde a organizagéo aria feta tendo em vista combatera desordem. Seus conceitos e modelos, deri- vvados das citnciasbiol6gicase do comportamentoseriam fundamen- talmente interdisciplinares e aplicaveis a distintes campos de pes- quisa. Duas foram suas tendéncias bésicas: + a mecanicisa, relacionada com as inovagbes teenolégicas,industrais esociais:astéenicas le controle, aautomasio,aaplicagéo de méquinas computadorizadas e sua utlizacio com nalidades industriais,eiitae ~ rese governamentais etc; teorie subjacente éa da cbernética: bts, computadoreseartefatos semelhantes; 60 ./aorganicista,concebendo 0 objeto do conhecimento como uma coisa FE orgnizada por detrs da qual deveriamos buscar princpios © leis Ey acerca organizaciointegridade,ontenemento das parse proces. Ecos, interacéo multivariavel etc; com isso, se criaria uma teoria geral of oa istemas de carsterinterdisciplinas langando as bases de um pen G eeto da organizago eafrmando, como lio sistimica, que hi mais rio todo que na soma das partes. Mais recentemente, um elemento novo veioalterar os rumos das juisasinterdisciplinares. Ganha cada vez mais adeptos acorrente ropondo-se a estudar o pensamento complexo que se apresenta como Eiipensemento animado por uma tensSo permanente entre aaspira- saber nfo fragmentado, néo-parcelar, ndo-estanque, no- 3 eo reconhecimento de seu inacabamento e de sua incomple- de: Ao.adotar uma concepgéo do conhecimento ndo resultando Ido ujeito consciente de siemestréde séumeio,edistintadaque jou a filosofia das Luzes, 0 pensamento complexo se revela "PACD 20 misterioso, ao religiso e ao mistico, postulando uma cmiliacéo.com a natureza e uma integracéo no Grande Todo. Par- da afirmacéo de Pascal segundo a qual "€impossfvelconhecer 0 so sem conhecer cada urna das partes, bens como conecer os parts sem oikezer 0 todo", os pensadores da complexidade, reconhecendo ser vel uma articulacao entre a ordem, a desordem ea organizacio, jerado eo acaso no conhecimento doreal E, sem comprometer 0. a 5 resgatar a parte de irredutivel e de subjetividade no estudo dos, menos ‘humanos. Cada vez: mais tomamos-consciéncia de que~ £0 podlemos nos resignar com o saber esfaceladonem isolar os obje- 5 de-estudo de seu contexto, de seus antecedentes e de seu devis sue a grande maioria dos objetos de estudo s6 consegue ser eendida por um pensamento realmerite multidimensional. Pe sinento este que, evidentemente, nao desqualifica nem anula 9s: ‘Contradigdes internas. Porque conseguimos tornar complementares. uitas das verdades que descobrimos como antagOnicas umas em. as outras, Seria um erro pretendermos reduzir pela for cias humanas diante de questses como estas: “constitui o espirito 0 puro produto do cérebro ou a expressdo de um principio transcen- dente”? “o pensamento & um produto da matéria ou depende do ‘mundo das ideias, escapando aos fenémenos fisicos”? Responder a cssas quest6es com um simples Sim ou um mero Néo significa fechar as portascompreensfo dos fendmenos complexos, tio complexes que nenhuma ciéncia ou disciplina tem condig6es de responder, anioser em nome de um obtuso reducionismo. Eporisso que hoje ganha cada vezmais destaque um conjunto de disciplinas dando-se por objeto de estudo sistemas e processas ¢ exi- gindo, em conseqiténcia, uma audaciosa prética interdisciplinar ilu- minada por um abrangente espirito transdiciplinas. Por exemplo, as exigéncias da biologia moderna ievam-nosa perceber que os sistemas biologicos téma seguinte particularidade: sio dotados de capacidade de auto-organizagSo, Edgar Morin, denomina esta auto-organizacio “ativa’, pois se transforma furtcionando (La méthode 2: la vie del vie, 1960) Assim, diante de uma Ciencia cada vez mais fazendo zeinar rétodos de verificagéo empirica e logica, de uma Razio recalcando ou eliminando mitos etrevas, precisamos tomar consciéncia da causa pprofunda do erro: “no esté no erro de fato (false percepeto) ow ne erro gio (incoeréncia), mas no modo de orgacizagio de nosso saber em sistema de déias". Aids, diante das grandes questées dizendo respeito a0 des- + tino do homem, do mundo e do cosmos, muitos s80 os cientistas que esto tentando construir pontes entre a ciéncia,a filosofia e areligiso. Fregiientemente se perguntam: como pensar os fenémenos naturais, Jnumanos e sociais onde attam miiltiplos fatores interdependentes? Como recompor uma visio da realidade suscetivel de rligar os sabe- res dispersos sem fundi-los numa hipotética sintese global? Como integrar a desordem, o incerto, 0 inesperado e o acaso no conheci- mento do real? Como aceitar a parte de irredutbilidade e de subjeti- vvidade no estudo dos fendmenos humanos, sem sacrificar as exige cas de rigor? Como superar as clivagens entre os modelos rivais Su- JeltcyObjeto, Natureza/Cultura, Individwo/Sociedade? Henn Atlan, outro teérico da auto-organizacio, parte em busca de um casamento ppossivel entre razao cientifica e pensamento mitico. E fisicos como Stefan Hawking ou Trinh Xuan Thuan evocam a presenga de Deus nas obras de divulgacéo. Séo convincentes as respostas dadas a tais problemas pela ciéncia cléssica? Ou no deveriamos buscar novos pparadigmas? A cosmologia moderna ea fisca das particulas levam o3 62 jentistas a emitix hipéteses sobre a natureza do real e as origens do. jergo nem sempre verificéveis, Seré que esbazramos nos confins = ciéncia? Nao alimentam os cientistas especulagées sobre olugardo jomem no costios? Onde terutiaa a ddncia e comeya a especlagto. vilhamento e se a ciéncia contemporanea esté em via de “reen- jatar” omundo, nem porisso devemosabdicar dosinstrumentos da 0 negar 08 resultados cientifcos, apesar das justas extrapola- ‘losoficas. {Nunca demais insistirmos na seguinte evidéncia: 0 atual em- eendimento cientifico conserva sua profunda e tradicional coerén- nos que a profecia apocaliptica dos que anunciam a derrocada da 40. ofim do saber objetivo (desmoronamento do ideal das Luzes: Jode uma Razio triunfante, portadora de progresso e emancipacéc). [Nao resta divvida ce que nossa humanidade esta em perigo. Masnéo ess0 de invencéo cientifica. $e néo podemos excluir a priori initivamente a possibilidade de fendmenos misteriosos,aparente- ritente inexplicdveis, ser4 que a atencéo exagerada que damos a esses fexdmenos hipotéticos nao oculta problemas mais urgentes? Por utzolado, se nao podemosnegar que ha possibilidadesinexploradas fe mundos desconhecidos a serem descobertos, tampouco devemos _sdctficaras explicagbesracionais em provelto das misticas oumiract- fosas, Donde, mais uma vez, a necessidade de nos indignay, quer Beizat (estemunhar ser indigna do ser humano toda forma de vida iS docialrefletindo o arcaico eo pré-Logico de nosse espécie: oindignado Ee alguém que, mesmo tendo perdido seus referencias tradicionais e 13 ideologias de substtuigéo, néo se deixa dominar pelo individua- Aismo exacerbado nem pelo fechamento em si; € alguém que erige a busca da felicidade como valor supremo e nio aceita que a ideologia ‘Go desabrochamento de sirepouse naidéia docada um porsua conta isco; & alguém que, situando-se no nivel do interesse coletivo, 6 lidade, mas em sua comunidade,em seu “viver-junto”,colocando-se sob a ameaga de nossa “sociedade da suspeita”: de onde voc® fala? | também nao é um privilegiado? quem lhe autoriza a falar em nome | de todos? Como a indignacéo é uma condicio prévia da acio, cabe- nosainda nos indignar para rejeitar a seducdo enganadora do pensa- mento mégico e reiterar a afirmacéo de Albert Camus: “Preisamos Jmaginar Stsifo feliz", pois “ndo existe punigho mais terrfvel que o trabalho indtile sem esperanga”. Aceste respeito, talvez devéssemos seguir 0 conselho de Anatole Abragam: "antes de ogar na lata de tixoa mectnica qidntica, verifiquemos pela ita vez os fusfeis". Nao sfo poucos os cientistas (notadamente (08"metafisicos” ox“misticos”) que vem tentandobuscareestabelecer ‘uma Nova Alianga entre o homem e o mundo. Ademais, vem defen- dendo a possibilidade de uma unificagio dos saberes fundada em sua organizagio-orquestracao cimentada pela idéia de uma real interagio ecomandada por uma nova ilosofia natural suscetivel de buscar estru- rarascuniversaiscunificadoras-Estao convencidos de que, apesar da ‘extrema especializacio a que chegaram as ciéncias nos dias de hoje, no podem abendonar seu sonho de perseguir uma unidade capaz de transcender a ideologia do esfacelamento e da dispersao bem como de superar toda forma de reducionismo e imperialismo disci- plinares. Estas tentativas neo-unificadoras se fazem acompanhar de projetos transtlsciplinares mais ou menos misticos de reconciliacto dos saberds. Prigogine e Stengers, por exemplo (La noweell alliance), concebem a transdisciplinaridade como uma espécie de regente de orquestra capaz de conferir unidade e harmonizar todos os saberes. Defendem, juntamente com outros pensadores (R. Thom, H. Altan, E.Morin, M, Cazenave,B. Nicolescu),algumasteses transcendendoa simples interdisciplinaridade e propondo a instauragio de um espi- rito ou dle um novo paradigma devendo impor-se como verdadeira- ‘mente transdisciplinare permitindo-nos uma nova representagio da = corganizacéo de nossos conhecimentos. Trata-se de se construtir uma ‘ransdisciptinaridade constituindo a versio moderna da visto sincré tien predominante na cultura da Antigiidade. Jé'somos capazes de formular quest6es transdisciplinares (os problemas complexos e glo- bbais da humanidade, aecologia, a energia, etc),mas ainda néo temos condigées de encontrar respostas ou solusées transdisciplinares. Por exemplo, a Associacéo para o Pensamento Complexo (APC), fun- ~daida por Edgar Morin (www:mexapc.org), tem por objetivo, néo 4 _goménte'pereeber conjuntamente o homem, seu meio e suas milli” las relagbes, elaborando um modo de pensar suscetivel de favorecer -miento, da formagio e da pesquisa, mas promover o pensamento -omplexo na educagio, na formaco,na economia, nas estratégias, no Ue tonhecimento do mundo e de si. Nao se preocupa apenas com as a priride um pensament Vciedo em simplifagbes mutants € P= Nos dias de hoje, a interdiscipinaridade se revela tio impotente para : fazer as disciplinas dialogarem, se comunicarem umas com as outras, “eonivergirem ese ‘concertarem” quanto a ONU para congregar econ. “trola as nagSesem vista de um objetivo comum entre elas: estabelecer rantir uma paz duradoura. Cada uma continue fazendo um ‘esfotgo enorme para tornar reconhecida sua soberania territorial no concerto das nagGes, Suas fronteiras se afrmam e confirmam sempre mais, ao invés de serem anuladas ou derrubadas. Por iso, talvex “devéssemos dar um passo adiante e postular a realizacio de um snho, do somente mult ou interdisciplinar, mas verdadeiramente ‘rasdsciplinar permitindo-nos conceber algumas cas e fecundas te- ‘presentacbes dos contextos considerados bern como alguns modelos bre os quais possamos raciocinar de modo engenhoso e comunicé- ela fim de elabsrarmos solugbes teoricamente concertadas para @ do humana, Aliés, nem se trata de um sonho no sentido de uma uto- : £5 pla irealizivel, Porque a ciéncia moderna jé surgiu (século XVI) e 3 Eesenvolveu adotando um esprtoe alguns procedimentas que poderia- ‘inos denominar transdisciplinures.Nasceu ese desenvolveuapostando snuma unidade de método e em alguns postaladosimplicitosem todas ‘as disciplinas: objetividade, eliminagio do problema do sujeito (res | togitais,utlizagio das mateméticas como linguagem e um modo de ‘explicagto comm, busea da formalzacao e de comprovacao empt- «rea ete: Descartes, etomando o sonho plat6nico, propos a instaura- Go de uma Mathesis universalis, vale dizer, de um método geral do -conhecimento segundo o qual “deve have alguma citncia eral crpaz de expan tudo que podzmos buscar dizendo espeitoaiordem ed medida”. Nos “ins de hoje, duss problemiticas se abrem & nossa rellexdo para a5 {gaais ainda nao temos respostassatisfatérias, apenas hipotéticas. De ‘qualquer modo, s6 podem ser respostastransdisciplinares ede ordem ‘loséfica: a) a problemética da wnidade do homem, pois € © mesmo - sFomem que reflete ésonha, busca esofre, produ equagbes cientificas 65 ce escreve poemas ou méisica;b) a da umidade dos conkecimentos: se um, sujeito humano é tinico em suas diversidades existenciais, deve ser ppensado o sujeito epistémico (que garante o conhecimento) como pura construsio ou deve responder a uma unidade do objets do conhecimento? Nio rest divda de que aciénia moderna jf surgi e se afiemoa seqeindotem paredigna que podemos denoninar fansite: Na verdade, sua fistria€atravesada por grandes niscacbes tansdise™ Plinarespromovidas por algansibios (Newton, Manvel Hnstin) flimentadas pela ieradiagfo defilosofiassubjacentes(empiriamo, po Stvismo, prapmatisno) ow de alguns imperisinos terion (att= xismo,feudisme). importante éque seus principio ransdscpine rs fundamentals (matematizagto formallagie)si0jusamente 09 gue permitiram desenvolver 0 fechamento displinar a unidade sempre fof pensada como algo demasiademente soso formal 2ado. So vonsegoiran fazer se comuricarem as iversasdimensbes do real tentando aboli-las. Quer dizer: unidimensionalizando esse real. O nove transdisdplinacdevetsfandarse no paradigms da comple {t,o nico caper de promaver um ipo de somumeasto sem Te Go, poisnasceaomese tempodo desenvolvimento doslitee das SincascontemporineasopersmertaconplesoSana porumten- Siopermanentctireaspirasioa um ster nfo fagmentad, nda camper read, ni refute reconnected ncomplte de oda concent” (Morn, Itoducion @ la pesde compet, 190) O pensamenta da complexidade se spresenta como win novo pert figra em curso de elaborato. Em todos os dominios da pesquisa, tralese apenas de “objetoscomplexo” ou de "sistemas comnpleoe” Isto nfo significa que hajo um acord defn, entre os centstas sobre anaturera dessa “complxidade’, De um ponto de vst eral esse nogio epotsa nadia fundamental segundo. qual am sstemna Srtculando clversos elementos cont’ um todo que & ciferente da toma de suas partes Enire as ferramentasintelctaisdestinads Cnientaros problemas complex, algunas nogSesjinossaobastnte fapuliares:interacho,retroagto (eine, euto-orgaizasto, eer séncia ecialgin. Do ponto de vata do metodo, precsamos ainda Eprender a importdnca de nto ais separnrmosracicalmente nosso alhar objetivo e nz olharsubjetve,explcago e compreenst, a demarche rigorosa da demonsragi e art do diagndstco, No aco dasciéncas hamanas,anogdo de complexidade se torna operon se nos permite abindonaro mito posivsta segundo o qual a“ exper 0" de um fendmeno impoe que devarnostraté-o eliminando sew Scontexto™ Pascal iia: "O contri de una ere no er, 65 * ipa verade contrérit”. Sisco Niels Bohr traduz a seu modo: "O con- Wade uma verdadetriviléum eesti, ras contro de waver ice, j permite que nos interroguemos de modo transdisciplinar sobre ng nodes de caos, acaso, complesidade, auto-organizacto etc. En- Euanto movimento interno de tansformacio das céncias, ese tans- 2 Gisciplinar se afirmaria como uma transyersalidade entre a ciéncia, EE osofia,o social politico e oexttico. Levar-nos-a ainda a abando- “har o velho ideal determinista e reducionista das ciéncias e nos langa- Sta no movimento de reinvensfo permanente da democracia, nos © fversos estAgios do campo social. E as ncias humnanas se sentiriam Sy Sitorizadasa cbandonar o incémodofatalismo ao qual se entem obri- Se uadas a ver o critério mesmo de sua cientificidade ea revelar a necessi- Gade de um saber global sobre o homem e a sociedade, Semelhante perspectiva abre o caminho a wana reglobalizato dos saberesfragmen- = :tados por uma filosofia capaz de apropriarse do que foi objetvad “fseu exterior (as positividades’).Trata-se de uma filosofia mais aberta As questdes poltcas, soins, ica ejuridicas. +0 filésofo roméntico alemdo Schelling, tentando combater 0 positi- sino nascente, publica suas lias para wma filosofia da natureza (1795) ionde define a “filosofia da natureza” como uma “ciéncia” capaz de 0 n abolira distingao entre Sujeito e Objeto e de anulara separacio entre Homem e Mundo, para ter acesso & pura e absoluta “produtividade” dda Natureza. Ademais, a) permitiria se restabelecer a alianga do ho- ‘mem com anatureza ese restaurar uma unidade perdida, desde osini- sios da ciéncia moderna, por culpa de Descartes; b) aboliria as separa ‘goes das diversas ciéncias entre 6, notadamentea distincia que separa ‘aciéncia da religiio e dasartes;c)enfim,levariaohomem areconhecer gue, sendo um “filho da Terra", precisa reconcliar-se com aNatureza, Donde sua critica a todas as formas dominantes do mecanicismo esua recusa a identificar matéria e extensio, Para ele, a Natureza constitué tum Todo se apresentando sob dois aspetas: 0 do mecanicisma (uma série regressiva de causas e efeitos) eo da inalidade (independéncia do, ‘mecanicismo). Ao reunir esses dois extremos, obterfamos a idéia de uma finalidade do Todo. A série das causas e dos efeitos seinterrompe. Obtém-se, em seu lugar, uma reciprocidade dos meios e dos fins. As partes 86 se realizam-no Todo. E-0 Todo néo se realiza sem as partes Nessa concepcéo, encontramos os motives e os temas da proposta da -Nooa Alianga de Prigogine e Stengers.O motivo essencial:recocilar 0 ‘omen coma natureza, O tema fundamental: auniio reencontradada flosofia e das ciéncias, reabrindo o caminho para umn reenartamento do mundo. A proposta é a de um nove paradigm, vale dizer, de um novo modelo para o pensamento Gentifico. No inicio da era moderna, ‘expressdo "filosofia natural” designava a presenca conjunta, no inte- ior de_um mesmo pensamento, da argumentacio filos6fica e do conhecimento cientifco. As flosofias da natureza, embota de cunho ‘materialist, constituiam uma espécie de "positiviemo” invertido sen- dochamado a alimentar certos entusiasmos confusamente religiosos. ANew Age atual faz apelo a uma nova filosofia natural "ciénca") de uno holista, [Nio se trata, em ambos os casos, de entregar 0 destino do homem a algum Absoluto no qual deveria fundirse? E a famosa questio do holismo nfo remete a outra bem mais profundat ade nossa reconciliago ‘com nossa propria finitude? A psicologia nos mostra: temos dificulda- desde aceitara impossibilidade de uma abordagem global, Nem sem- pre € facil aceitar que nascemos de uma mie e de um pai, que temos ‘uma fami, um pafs, uma cultura ou uma lingua; e que tudo isso 20 mesmo tempo nos limita enos permite viver nossa condiglo humana, ‘Também nao € facil admitirmos os limites de nossas abordagens: quando fazemos ciéncia, no fazemos poesia. As duas abordagens fazem sentido. Mas néo podemos concilié-las ao mesmo tempo. Em todo caso, as ciéncias nfo nos fornecem um saber absoluto ou holisa, ‘Mas tdo-somente mediagGes permitindo-nosorganizar omundo,des- or cobrir seu sentido e agir sobre ele. Porque sho, fundamentalinente, E imitadas. Bvidentemente que unidade que sebusca nfo éa que per- EF ‘mite dominios e modes de real disintos comporemn um “Todo fusio- : Brunelas recentemente organizaram um Coléquio Internacional para jpromover um esforco transdisciplnar reunindo, entre outros, fscos, Tnatematicos, psicdlogos e filésofos a fim de se interrogarem sobre “a possivel tnidade global do conhecimento (soba dir. de Michel il une unité dela connais- since, 2005),Unidade “diferenciada", pois deve serconstruida a partix Ea “expecifltade reconhecidn de ede una das discplins conoveades ert © loa seus objeto de estudo ds suas melodloginsprépias ed sua episte- logia particular”. Numa sociedade em mutagio acelerada como a Tosa onde ohomem perdu quase todos o seus referencias, todos dltam que a questdo da unidade precisa ser posta, notadamente BE porgue somos obrigados a enfrentar, de um lado, a ultra-especiali- E facto dos saberes, do outro, a desagregacso dos vinculos socias € E> politicos” em favor dos neotibalismos conduzindo a uma atomiza- i eho de nossos conhecimentos ¢ da identidade humana. Enquanto a ( dispersto ea especalizagfo dos saberes foram decisivas para a frag- © mentacio de nossos conhecimentos; enquanto as racionalidades filo- séfica e clentifica, a poesia e a experiéncia mistica parecem tio sepa- {radas em dominios iredutveise opostos, indispensével se torna a sstotracio de uma bordagem ransdisciplinar tentando eglobalizar 30s saberes e promover, néosomente uma unidade essencial do ser amano, mas do mundo onde vivemos. Last but not least, fagamos algumas observagbes inconclusivas: |L>Vivemos hoje numa sociedade depressiva ou estressada. Porque {individualista e fundada no medo, O modo como funciona pro- © duz muita inércia, A produtividade alucinante se orienta para a produgio de indimeros excluidos. Obedece a uma logica da mor- fe. Os Estados, as instituigbes e os homens politicos foram trans- formados em “servos” e promotores dos grandes conglomerados Ainanceiros, O “totalitarismo do mercado”, dirigido por um gru- ‘po pequeno deindividues e comandado pelo novo “BigBrother” ‘midiatico, exerce no mundo um dominio praticamente total, ‘Numerosossi0 0s que; levados pelaidéia de coesio, desejam que Ey politica econémica visando unificar 0 campo econémico por td um conjunto de medidas jurtdeo-poitca destnadas aabater tates os limi- 4es nessa umificng, todos os obsculos (na maori ligados ao Esta- o-nagia) a essa extensdo”(Contre-feux 2, 2001). NBO & em reacio @ esse novo estado do mundo ¢ seus desgastes que esldo renas- cendo as antigas totalidades mistico-religiosas? [Nio nos esquegamas de que muitos so 0s pensadored contem- ‘porineos que, formados no sistema do saber absoluto de Hegel, {erminaram porter que enfrentar 0 seguinte paradoxo: 0 Todo da Razio constitui também o triunfo da desraeso, E sentiram a necessidade dese explicar sobre suas razies de ainda aereditar na Razio.Temos queacreditar nela? Seria ainda valido seu niversa- Tismo reconhecendo que todos os individuos possuem os mes- 10s direitos, quaisquer que sejam seus atributos econdmicos, sociaise politicos? Nao estaria certo Adorno quando declarava: “0. Tado € 0 nto-verdadeiro"? Quer 0 Todo englobe Deus e o mundo, somente o mundo (cosmos) ow 6 universo (to pan), ow 56 a Nate * reza(ptysis) ofato € que, na verdade, $6 podemos produzir uma representacio globalizante lesando Seriamente 0 individ. S6 um sistema idealista pretende encerrar a realidade num Todo levando a destruigio doouteo”: em nome de um tiniversal a ser imposto, termina (a0 abolir toda diferenga) por reduzi-o-a0 “mesmo”, Depois de Hiroshima, dos horrores dos campos de concentragio eda loucura dos regimes tolalitérios,torna-se mu- to diffil aceitarmos pacificamente o império do Todo, como se devéssemos acreditar no triunfo absoluto da Razao.e que amoral seria regida por seus imperativos e pelas leis da Cincia. Porque toda pretensio de revelar a totalidade do sentido, de exprimir todo 0 exprimivel ede pensar todo o pensével seria obrigar-se 20 silencio e mergulhar numa "noite once todos os gatos séo par- dos", ndo havendo mais diferencas, pois tudo seria reduzido & tunidade. Nao foi por acaso que Hegel passou aser vistocomoum pensador da violencia e seu sistema como a antecipacéo intelec- tual dos totaitarismos... Numa sociedade tecrocratica, as dec- s0es politicasesociais sto tomadas pelos exper: os clentistas eus téenicos pretendem resolver os problemas sem que seja necesss- rio se negociar o que seré decidido. Tal sociedade, em nome dos “imperativos” teenocientiicosou domercado,negligenciaa ética ‘eapolitica:sé0.osconhecimentos cientifics (portanto,os“exper- tocratas") que determinam as politicas a serem seguidas (meios e fins) Este modelo, aceditando poder determinar as polticas, ‘gracas aos conhecimentos centificos, comete um “abuso de sa- refagamos um Todo, Mas j tentamot varias vezes reconstrutlo sem sucesso efetivo. Nos dias de hoje, ressungem por toda parte varias formas de fundamentalismos religiosos, nacionalismos <étnicosintegrismos e comunitarismos de todos os tipos, mais ou ‘menos fundados numa visto m{ston ou moralista do mundo. Nao estariamos retomando a époce tribal, das comunidades clnises, momento em que estévamnos socialmenteintegrads,inscrever do-nos num mito de origem fazendo descender todos os mem- bros do grupo de um ancestral comum e que estruturav, porum, ‘cédigo simbélico, os diferentes dominios da existencia (regras do casamento, da alimentacio, do puro e do impuro etc)? O termo “integragéo” foi sucedido pelos impérios organizads segundo ‘uma ordem hierarquizada cujos estratos (castss) reproduziam os graus do Cosmos ( soberania no topo, os guerreiros abaixoe a seu servigo, os que produzem lé embaixo) formando um Tede de onsttaintes des ementares. Ore, sabemos que a modernidade surgiu quando abandonou essas totalidadesreli- ETT Biosas € pvelsmoia autonomzagko progressiva dos individios ‘das instancias da vida social (0 econdmico,o politico eo sab). ‘Ao surgir,néo somente fomeceu fundamentos nfo soins aos ftos sociais, impondo a submisséo da sociedade a principios ou a _ valores que, neles mesmos, no sto sociais e formulow o principio staurandocrenga na rezioe nang racional, mas estabeleceu, no dizerde A. Touraine, o segundo principio fundador da moderni ‘ade: “oreaoheciment dos dreits do invita" (Ur nowcent para digme, 2005). A Revolucio francesa proclamou que todos 0s ho- ens sio livres e fguais numa sociedade desvinculada de seus, invélucrosmiticos, césmicose rligiosos. século XIXtentoures- taurara sociedade a partir de um desses elementos autonomiza- dos: 0 Todo-mercado do liberalismo econémico, 0 Todo-Estado do totalitarismo politico, 0 Todo-Razio do positivismo cientf- cista etc:Eo que é aatualglobalizagto, senso um Todo, um sistema fechado, controlado pelos fluxes de aliangas dos nancistase toc. nocratas, vale dizer, pela combinagio do iberalismo econémico (obretudo, financcize) ¢ de uma tcenocrecia que cle contrats pera estar a seu servigo (Banco Mundial, FMI)? Ainda segunda Touraine, “osquecantaram: mais forte gloria da gobalizagioquisersm impor a iti segundo a qual neniuam modo de regulagto social o pot fica de wa economia mundializada era mais posstvel nem desetvel, pois a economia sesituaua nur nfvel mundial, no existindo sutoridade capac de impor limites a essa atividade econtmica”.. Nao € por aczs0 ‘que Pierre Bourdieu nos mostra que a globalizacéo “designa wita a 18 ber’, conseqiientemente, de poder. Noé dias de hoje, 0 poder cada vez mais se vé apropriado por uma teocientoracatransdi- ciplinar supondo que, se reunirmos um ntimero suficiente de “experts’ de diferentes disciplinas, poderemos determinar, de maneira essencialmente racional ¢ objetiva, e sem nenhuma negociagéo democritica, a melhor politica a sex implementada e devendo por todos seracatad, porque cientifcamente fundada, Nesta perspectiva, para se construir uma ponte, por exemplo, ‘no faremos apelo apenas aos engenheiros, mas 203 soci6log0s,, meteorologistas, economistas, ambientalistas ete. rabalhando com afinco numa equipe multidisciptinar, mas com evidentes objetivas transdisciplinares, Claro que uma equipe desse tipo vai privilegiarcertavisboe ten- tar fundar um quase-paradigma tornando-a semelhante de um Xinico tecnocrata. Sea interdisciplinaridade pode corrigir certos dlefeitos da teenocracia, nem por isso modifica sua estrutura fun- damental. ilus6rio se fazer apelo a experts acreditando obter ‘una epost “Heute” para problemas socinis, Porque seus pon- tos de vista sio particulaes: quem os excolhe? por que motivos? com que objetivos? Ademais, o modo como se péem de acordo depende muito mais da légica de uma negociacio socivecon’- rica que de um quado de racionalidade bem definido, Neste caso, as decisoes nao séo toradas em fungio de um saber que dleterminaria tudo, de uma maneira neutra, mas em fancio de outros eritéios bem mais pragmticos e respondendo a interes sesprecisos. Aaparente neutralidade dos teenocratas provém do seguinte fat: as decisSes importantes sio tomadas quando se adota tal paradigma disiplinar ou talmodelointerdisciplinar. Ao adolé-las, aceitamos cegamente seus pressupostos, Assim, 0 mé- ico s pode ser tecnocrata quando utiliza as escolhas de valores « todos os pressupostos da medicina cientifica. Para abordar um, problema, os especialistas sSo obrigacos a reduzi-lo & maneira Como sua especialidade o considera, Bis sua forca esua fraqueza. ‘De qualquer modo, sua solucSo jamais seré neutre. Nas ditimas décadas, para fazer face aos efeitos perversos do desenvolvi- ‘mento tecnolégico, verse dando muita importincia a um ROVO rnitodo suscetvel de “geri © progresso": 0 Teonology Assessment (TA). Trata-se de um método por vezes tecnocratico, mas bastante engajado em agoes socials politias. Ao congregar abordagens. variadaseinterdisciplinares,tenta promover aarticulagao do téc- nico e do social. Opondo-se a teenocracia, pois ndo eré gute 05 cientistas e os técnicos tenham respostas para tudo, define-se 6 “vista da criagio e organizacio do futuro. como aaualiagfosiietal ea andliseestatégioa do desenvoWviniento tecnologico. Baseando-se numa ética de pesquisadores tentarido evidenciar as diversas possbilidades e bifurcagées eventuais desse desenvolvimento, considera como seu objetivo: fornecer ‘20s diversos grupos elementos suficientes para que odebate poli- tico, relativamente ao desenvolvimento tecnolégico, possa ser realizado numa certa racionalidade partilhada e segundo inegé- ‘veis prinefpios democréticos. As escolhas seriam abertas aos dife- rentes atores sociais, de forma que se tornariam possiveis as “negociagGes socials. Ao surgir como uma disciplina interdiscipli- « nat (nos anos 1960) ainda em fase pré-paradigmética, oTA.esta- ria consciente de suas dimens6eséticasesociopoliticas. Naoseria mais concebido como uma técnica neutra, Porque se converte cada vez mais na pesquisa de uma institucionalizacio dos deba- tes e das negociagées dos homens ent si e com o mundo, em Donde sermosobrigadosa reconhecer:o verdadero tops (gas) do transdisciplina’ ainda id existe em nenhum mapa must do Saber Porqe€ tm lugar totalmente pico na medida em que transcende todos s nosso conhecimentos. Por vezesatrasi- ciplinaridade aparece como oresuliadode um desejode ipo sen- {imental ou flos6lico, deolbgio ou soa, potico au esprtual, De fat, tendo como fonte paredoxal 0 sonho de compreensso dos resullados mais gerais das ciéncascontemporinesdaparece como a exigtncia de una nessa hitrian ndo 86 dx'econc- lagio entre oaujitoe o objeto, entre o homem exterior eo ho- mem interioy mas de uma tenlatva de recompesiio dos dife- Tents fragmentos de nossos atuais conhecimentes. & por isso aque as pesquisastransdiscplinares tendem a apoinrse nas dife- Tentesatividades,nfo.6 das cigncis, mas da art, da poesia, da filosoia, do pensamento simbelic e da Tradicto, No momento emque a explosio ea expecilizacio dos saberes parecem tet to- falmentefragmentado nosso conhecimento em que as raconali- dadesfiloséficne cents, a poesia ea experiéncia mistica pare iam estar iremediavelmente separadas e opostas, surge todo tum movimento de regiobalizagio ereuifcagto dos conhecimen- tos. No dizer de Cazenave e Nicolesa,longe de tenfarem cons- truirum sineretisno entre Cinciae Trad, esses saberesDas- cam pontos de vista apartrdos quais possamos tors inters- tivas expagos de pensamentosuscetiveis de revelarsuaunidade profunda, embors respeitando suas inegives diferengas. Claro ue" podem dsenbar muna visto nenovada da Natbreza em nooas n i | berdaesdeespirit,gracasaestudos transchistoricos, trans-religio- 0s au transculturais de novas coceltos como a transnacionalidade ou de roves priticas transpoliticas, ineugurando uma educagio, tema ecotogine una econonitatransiisciplinures", Porque v dest fio utpico da transdisciplinaridade & 0 de “produzir un civiliza- oem escala do planeta que, forte do dislog intercultural, sj capaz de strir-se a singulaidade de cada ure terenn do ser humana, indie dual e social que é,apesar de tudo, 0 desafio maior do conkacimento”. (Chom, ln science et a nature: regards transdisciplinaires, 1994). Bvidentemente que nossa intengs0, no término de nosso estudo, ‘lio foia de dar uma resposta essa questio tio complera quanto ‘da unidade possivel de nossos modos de conhecimento. Quise- ‘mos apenas abrir algumas perspectivas, a principal devendo ser forntulada assim seo sujeito humanose apresenta sempre como Ainico, apesar de suas diversidades existenciais, precisamos reco- mhecer que existe-pelo-menos-unm-sueto-epistémion capaz. de garantiro conhecimento. Masseria ele uma pura construcio? Ou -poderlamospensarqueexigeuma unidadedo objetodeconheci- mento? Questoes inirigantes © desafadoras. Mas as tespéstas hipotéticas que podemos dar-hes s6 podem ser, pelomnos por enquanto, mets-ou transdisciplinares e de ordem filoséfica. 5. Nao resta divida de que as pesquisas transdisciplinares vém a0 encontro de uma atitude bastante natural do espirito humano, que €a atitude de contertualizare gloalizay, vale dizer, insccever toda informacio ou todo conhecimiento em seu contextoeem seu conjunto. £ nesta perspectiva que Morin promoveu e digit as “Jornadas Teméticas” tendo por objetivo tentarintegrar as diver- «28 disciplinas do saber sobre o homem em quadros de pensa- -mento suscetfveis de correspondler aos grandes problerras que 0 espirito humano se poe nosdias de hoje. Eis como sintetiza os tra- balhos (publicados em Relir les connaissances, 1999) preduzidos por virios pesquisadores:“permiten:feoorecer aemergéncade novss humanidades a partir das duas poaridades complementares eo anta- nies: cultura cent acura hursanist, Estes instrumentos ‘permit reconhecero human em seus enratzamentos iscose bold os scbretudo, em suas relizagiesespirtuas; reconecer-e huriano ¢ reeonhecer no outro um ser kumano complexo; tortar-se apo asituar-se ‘em seu mundo, em sua tera, em sua histria, em sua sociedade. Estas nouns humanidades so indispensdveis d regeneragio da cultura humsa- nistaantiga: tal cultura tempor misso encorajr aaptidaoaproblemati- 2ur, apt a interrogar ea interroga-se, a apo a contextuaizar e, ‘inalmente, aconsciénca eo desjo de enfrentar o grande desafi da com- 7" plexidadelangndo pelo mundo atual, que € serdo das novos geragtes Por isso, néo € por acaso que a ciéncia atual tem algo de comur com os mitos. Claro que ndo os cria. Mas possui seus proprio mitos. O primeizo és erenga na compreensibilidade do mule Constituium mitoacrenca segundo qual o mundo é compreen sivel. Nao temos nenhuma garantia disso, Como empreend) ‘mento coletivo (social) ¢ em escala individual, acitncia sé pod. fundar-se na idéia de uma inteligibilidade absoluta e geral d mundo, vale dizer, num mito. Por sua vez, creio que o projet: filos6fico atual no consiste mais tanto em nos tornar mestres “2 spossuidores da natureza, mas em abrir-sea todas as luzes, visivei ou invisiveis. Exigimos mais luz a fim de conferir um sentido 20 sinais do céu e as manifestagdes da condigio humana. Contraria ‘mente ao ideal de permanéncia das coisas proclamado pelo Ecle sastes ("Nada hd de navo sobo Sol”), precisamos reconhecer que « ‘iniverso, desde a noite dos tempos, ndo cessa de estar repleto di ovidades: a evolugéo é césmica, universal, nfo poupando nen _S-mesmo 0 Sol. Portanto,o ideal clissico do equilibrio cede o haga =20 estado atual de desequilforio, fonte de toda cratividade. APENDICE: Manifesto da Transdisciplinaridade* Gescimento exponencial do saber, tomando impossvel todo iar global sobre o ser humano, ‘Considerando quesé uma inteligéncia dando conta da dimensio setisia dos confltos atuais poders fazer face & complexidade de ‘Considerando que aruptura entee um saber cada vez mais cums- "vo ¢ um ser interior empobrecido leva A escalada de um novo obs- rantismo com incaleuléveis conseqiéncias nos planos individual e BP sicda de esperanca e que o crescimento dos saberes pode conduit, Mbhgo prazo, a uma mutagéo comparvel & passagem dos homini- fos \ espécie humana, {Considerando o que precede, os partcipantes do Primeiro Con- <0 Mundial da Transdisciplinaridade, realizado no Convento da cp de Lago) regia por Barb Nilsen, gar Moin ea Ecce, a1 [Artigo 10:.Nao existe mais um lugar privilegiado de onde possa- ‘mos julgarasoutrasculturas. A demarche transdisciplinar émalti- cultural. Artigo 1: Toda tentativa de reduziroserhumanoauma definigioe de dissolvé-lo em estruturas formais € incompativel coma visio twansdisciplinar “Artigo 11: A verdadeira edlucagio no privilegia a abstragio no ‘onhecimento. Ensina acontextualizar,a concretizar ea globalizar. ‘A educacio transdisciplinarreavaliao papel da intuiglo, do imagi- nério, da sensibilidade e do corpo na transmnisséo dos conhec!- mentos, Attigo 2: O reconhecimento da existéncia ce diferentes niveis de realidade é inerente a atitude transdisciplinar. Toda tentativa de reduzi-laa um dnico nivel regido por uma inicaldgicandosesitua - no campo da transdisciplinaridade, Astigo 3: A transdisciplinaridade é complementar & abo:dagem,

Вам также может понравиться