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[MONNERAT, Fábio Victor da Fonte. Introdução ao estudo do Direito Processual Civil.


ed. São Paulo: Saraiva, 2018, capítulo 1: Noções Introdutórias].
Historicamente, duas realidades acompanham o ser humano nos diversos estágios do
desenvolvimento social, cultural e econômico: a primeira delas, a que o homem vive em
sociedade; e a segunda, na verdade uma consequência da primeira, que a vida em sociedade
deve ser regulada por meio de normas disciplinadoras de condutas.
O Direito surge, portanto, como um complexo de normas de conduta, de caráter
obrigatório voltado a disciplinar a vida em sociedade. É nesse sentido que deve ser entendida a
máxima “onde está o homem está a sociedade e onde está a sociedade está o Direito”.
As funções do Direito escapam ao objeto desta Introdução, sendo certo que as disposições
normativas que o integram voltam-se a, entre outras coisas, estabelecer, de maneira geral e
abstrata, as normas de condutas a serem seguidas pelos indivíduos integrantes de determinada
sociedade, objetivando, com isso, esclarecer, nortear e orientar a conduta destes sujeitos.
Estes desideratos são alcançados pela descrição de condutas em um plano geral e abstrato
e pela respectiva valoração destas, por meio da classificação da conduta descrita como proibida,
permitida ou obrigatória.
Assim, temos três grandes grupos de normas integrantes do Direito voltadas a disciplinar
a vida em sociedade, a saber: a) normas proibitivas de determinadas condutas; b) normas que
geram a obrigatoriedade de outras espécies de conduta; bem como c) normas simplesmente
permissivas de outra gama de comportamentos.
Podemos tomar como exemplos do primeiro grupo (normas proibitivas) as normas que
estabelecem a proibição de veiculação de propaganda enganosa por parte de uma empresa
anunciante, de emissão de gases poluidores da atmosfera por uma indústria ou a proibição de
realização de construções sem a observância de determinados parâmetros de segurança.
O segundo grupo (normas obrigatórias) poderia ser exemplificado com as normas que
estabelecem o dever do causador de determinado dano de indenizar aquele que sofreu o
prejuízo, ou simplesmente a obrigação daquele que contrair o empréstimo saldar a dívida.
O terceiro conjunto de normas de condutas, as que estabelecem faculdades, ou
permissões, poderia ser exemplificado com as normas que estabelecem amplamente o direito
de ir e vir, a liberdade de expressão e a liberdade religiosa, ou os direitos e possibilidades de
uso e fruição que possui o proprietário de determinada coisa.
Não se quer aqui reduzir o Direito a um simples conjunto de normas com estruturas
simples, em que há sempre a previsão de uma conduta, seguida de uma valoração, proibitiva,
permitida ou obrigatória, até porque, conforme se verá adiante, muito do fenômeno jurídico
hoje está consagrado em princípios jurídicos, normas com estruturas mais abertas e que, por
possuírem alto grau de generalidade e abstração, podem ser realizados gradativamente, a
depender das condições fáticas e jurídicas.
Fato é que, quer através de normas com estrutura de regras, quer naquelas com estrutura
de princípios, o Direito se volta a orientar a vida em sociedade, regulando, nesta medida, as
condutas humanas, a situação dos bens jurídicos e as relações entre as pessoas.
Esta necessidade se coloca, entre outros motivos, em função de um dos pilares das
ciências econômicas, segundo o qual, as necessidades humanas são infinitas, ao passo que os
meios de satisfação destas necessidades são, por definição, escassos.
Por “meios de satisfação destas necessidades” devem ser entendidos o consumo de bens
ou de serviços voltados à satisfação de uma necessidade. De maneira bastante simples, podemos
pensar o Direito como um conjunto de normas voltado a resolver este conflito que surge entre
as necessidades infinitas e as formas de satisfação, por definição, finitas, estabelecendo quais
interesses serão protegidos pelo Direito e, por exclusão, aqueles que não terão proteção jurídica.
Nesse contexto, surge o conceito de interesse juridicamente protegido, assim entendido,
a proteção pelo Direito do interesse de determinado sujeito que pode, com o apoio das normas
jurídicas, impor seu interesse em detrimento dos demais.
Assim, ao regular a propriedade, por exemplo, o Direito nada mais faz do que proteger o
interesse de determinado sujeito, o proprietário, em detrimento dos demais, “elegendo” o
interesse daquele identificado como proprietário em usar, fruir ou dispor da coisa como
juridicamente protegido, excluindo a possibilidade de uso, fruição ou disposição por parte de
qualquer outro que não seja identificado como proprietário ou por este autorizado a satisfazer
seus interesses.
É o Direito, portanto, que, por meio de regras jurídicas, identifica as formas de aquisição
da propriedade de modo a identificar aquele que terá seu interesse protegido, além de
estabelecer que interesses decorrem desta proteção, ou deste status jurídico.
Da mesma forma, ao regular a compra e venda, a aposentadoria ou a tributação, o Direito
nada mais faz do que traçar condições para que o sujeito se coloque em uma posição jurídica
tal que o permita satisfazer seu interesse e exigir inclusive que a conduta de outro (ou outros
sujeitos) seja voltada à satisfação deste interesse.
Assim, ao estabelecer os conceitos de comprador e vendedor e estabelecer a relação entre
estes dois sujeitos, o Direito passa a proteger o interesse do vendedor em receber o preço e o
do comprador em receber a coisa nas condições acordadas.
Da mesma forma, ao estabelecer as condições para a aposentadoria (idade, tempo de
contribuição, etc.) o Direito estabelece quem passa a ter condições de exigir o pagamento do
benefício previdenciário, sem deixar obviamente de identificar quem deve satisfazer esta
pretensão, isto é, subordinar-se a este interesse.
Por fim, apenas para ilustrar o terceiro exemplo suscitado, temos a situação do Direito
Tributário, na qual identifica-se determinada situação como geradora da obrigação de recolher
aos cofres públicos determinado valor a título de tributo, por exemplo, por parte daquele que
auferir renda, que deve, em função de uma norma jurídica (tributária), recolher imposto de
renda.
Neste contexto, a norma jurídica tributária nada mais faz do que identificar os elementos
de uma obrigação de um sujeito, o contribuinte, que praticou o fato gerador previsto na norma
e que, por isso, deve satisfazer o interesse de outro sujeito em receber o tributo previsto em lei,
no caso, a Fazenda Pública.
É de se notar, em todos os exemplos, a natureza bilateral das relações jurídicas, em que é
sempre possível identificar um sujeito como detentor de uma pretensão juridicamente protegida
e, de outro lado, outro sujeito que deve satisfazer tal pretensão, ou seja, subordinar-se ao
interesse alheio sempre que este for juridicamente protegido.
Em suma, a situação dos bens jurídicos e as relações entre as pessoas são definidas pelas
normas jurídicas, que devem definir os sujeitos detentores de interesses juridicamente
protegidos, a extensão e o objeto desta proteção e, de outro lado, o(s) sujeito(s) que deve(m) se
subordinar e satisfazer esta pretensão.
Obviamente, toda esta estrutura jurídico-normativa voltada a regular a situação das
pessoas e das coisas só faz sentido se o Direito tiver de ser obrigatoriamente observado.
Em outras palavras, as normas jurídicas, para que sejam capazes de cumprirem seu papel,
devem possuir autoridade suficiente para que possam se fazer observar de maneira impositiva,
pois pouco eficiente seria o Direito se, simplesmente, previsse uma conduta como obrigatória
ou proibida, mas não pudesse se valer de meios coercitivos para fazer observar seus comandos
normativos.
Ademais, a desobediência aos comandos jurídicos também é uma realidade social que
não pode ser ignorada pelo Direito que, em função disso, passa a regular também esta situação,
prevendo, ao lado das condutas obrigatórias, proibidas ou permitidas, as consequências
negativas que deve sofrer aquele que descumprir a norma jurídica.
Às consequências jurídicas que devem experimentar aqueles que descumprirem os
comandos normativos, dá-se o nome de sanção.
Em resumo, o caráter impositivo do Direito, somado à previsão normativa das sanções,
faz com que os comandos jurídicos, uma vez estabelecidos na norma: a) sejam observados; ou
b) devam se fazer observar, à força se necessário.
Assim, ou os comandos jurídicos são obedecidos pelos membros de uma sociedade,
especialmente por aquele que deve se subordinar a um interesse alheio, ou a situação se torna
litigiosa.
A situação de litígio, portanto, surge quando a pretensão de um sujeito que, apoiado no
Direito, entende ter um interesse juridicamente protegido, ao invés de ser satisfeita pelo sujeito
tido pelo primeiro como obrigado, encontra, por parte deste, uma resistência.
Neste contexto, é fundamental a identificação do conceito de lide formulado pelo
processualista italiano Francesco Carnelutti, para quem a lide é “um conflito de interesse
qualificado por uma pretensão resistida”.
Tal resistência pode surgir por diversas razões, como a diversidade de entendimento
acerca da norma jurídica aplicável a determinada relação jurídica por parte dos sujeitos nela
envolvidos, por divergências na interpretação e na definição do sentido desta norma, ou mesmo
pelo simples desejo, declarado ou implicitamente demonstrado, de uma das partes em não
cumprir seus deveres jurídicos em relação a outrem.
Fato é que, por qualquer que seja o motivo, uma vez caracterizada a situação litigiosa que
contraponha o interesse de dois ou mais sujeitos de direito, surge uma necessidade social e
jurídica de solucionar-se a lide, determinando, de maneira definitiva, qual das partes tem razão.
Em outras palavras, uma vez caracterizada uma lide, passa a ser um problema jurídico
sua resolução, assim entendida a definição do destino do bem jurídico, por meio da satisfação
da pretensão inicialmente resistida, ou da legitimação da resistência.
A forma mais primitiva de resolução da lide é pelo uso da força por uma das partes
envolvidas no litígio sobre a outra, a denominada autodefesa, justiça privada ou autotutela.
Entretanto, a autotutela, modernamente, não é admitida pelo Direito, nem poderia ser,
pois não garante a vitória da parte cujo interesse é juridicamente protegido, mas sim a vitória
da parte que tem mais força.
Por esse motivo, o Direito, via de regra, veda a autotutela estabelecendo ser um fato ilícito
e, inclusive, caracterizador de crime fazer justiça com as próprias mãos, ainda que legítimo o
Direito (art. 345 do Código Penal).
Ao vedar a via da autotutela como alternativa para a resolução do litígio, o Estado passa
a admitir apenas métodos de solução consensuais, como acordos e transações, a seguir
estudados, concentrando em si o poder de impor a solução do litígio não solucionado pelo
consenso.
Portanto, a partir da vedação da autotutela pelo Direito, decorrem algumas consequências
fundamentais, quais sejam:
a) a concentração do Poder de resolver todos os conflitos de interesses nas mãos do
Estado;
b) o dever do Estado de resolver todos os conflitos de interesse que lhe sejam
apresentados;
c) o direito do cidadão que se encontre em situação litigiosa de exigir do Estado sua
solução;
d) o direito dos demais sujeitos do conflito, especialmente daquele(s) que exerce(m) a
resistência, de apresentarem as razões desta resistência ou, em outras palavras,
apresentarem, perante o Estado, sua defesa;
e) a necessidade de um conjunto de normas voltadas a disciplinar a forma com que o
Estado resolverá a lide com a participação dos sujeitos litigantes.
Ao poder/dever do Estado de resolver todos os conflitos de interesses que lhes sejam
apresentados (‘a’ e ‘b’) dá-se o nome de jurisdição.
Já o direito do cidadão de exigir do Estado a prestação jurisdicional (‘c’) é o direito de
ação, isto é, o direito de acionar o Estado e exigir deste a solução do conflito por meio do
exercício da jurisdição.
O Estado, por sua vez, para que possa solucionar a lide, declarando quem tem razão, deve
ouvir não apenas aquele que exerce a pretensão (o autor da ação), mas também aquele que
oferece a resistência.
O direito à ampla defesa perante o Estado (‘d’), bem como o direito de participação de
ambas as partes na solução do litígio, constitui, ao lado da ação e da jurisdição, um dos objetos
centrais do Direito Processual Civil.
Nesse contexto, o processo (‘e’) nada mais é do que o método pelo qual o Estado, no
exercício do Poder Jurisdicional, resolverá a lide, com a participação dos sujeitos litigantes, isto
é, o complexo de normas voltado a disciplinar os direitos de ação e de defesa perante o Estado-
juiz, que deve atuar, nesta condição, na resolução da lide sempre que provocado.
Jurisdição, ação, defesa e processo são os pontos centrais do Direito Processual Civil.

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